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O «Liber Fidei» e a expressão de fé dos seus protocolos

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Academic year: 2021

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1. Q u a n d o R o l a n d Barthes, pelos anos 70, distinguiu e m narratologia entre scriptible e lisible, não só c h a m o u a atenção para determinados procedimentos retóricos da discursividade, c o m o t a m b é m abriu caminho para o denominado readíng oriented critiásm que desembocou nas estéticas de recepção privilegiadoras da perspectiva do fruidor do texto, propensas e e m seu limite, ora para a leitura vincadamente ortodoxa de u m a hermenêutica comentarial, ora para a desregrada misreading ou mal-entendimento voluntário1.

A primeira vista, este separar de águas barthesiano parece reportar-se exclusivamente à literatura e m acepção restrita, de forma a deverem considerar-se igualmente intransvasáveis de tal área quer os ensinamentos da retórica quer as normas narratológicas. E m verdade, p o r é m , tratar-se-ia de uma conclusão apressada, p o r q u e e m qualquer d o m í n i o da escrita essa destrinça acontece, não obstante o diversificado relacionamento entre destinadores e destinatários de u m a textualização, de acordo c o m os m o d o s e géneros e m que esta essencialmente se integra.

Assim, ao m o d o narrativo c o m o categoria meta-histórica ou abstracta pertencem, sem dúvida, géneros e subgéneros que p o r se actualizarem à margem da ficcionalidade e dos m u n d o s posssíveis, n e m p o r isso se construíram o u c o n s t r o e m n o a l h e a m e n t o de processos retóricos característicos cujo objectivo, para além da textura comunicacional directa e óbvia, intenta a persuasão e a aceitação de factos e eventos nela impli-cados, sem abertura a misreadings desvirtuadoras de uma rigorosa aproximação

1 Cfr. A R M A N D O PLEBE e P I E T R O E M A N U E L E , Manual de retórica [trad. de

Manuale di retórica, R o m a , Bari, Laterza e Figli, 1988], São Paulo, Livraria Martins Fontes

Editora, 1992, pp.163-167.

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hermenêutica. Estão neste caso as ciências históricas e toda a parafrenália heurística que lhes subjaz.

Q u e r dizer q u e t a m b é m os cartulários, c o m o seu acervo de privilégios, doações, contratos de compra e venda, escambos, prazos, testamentos ou outros actos, não dispensam a sua retórica formularial, c o m destaque para os exarados dentro de certa solenidade, fosse ela devida aos bens ou propriedades e m questão, fosse ao gabarito das personagens intervenientes activas o u passivas. P o r isso j á o seiscentista Mabillon lhes assinalava u m a estrutura tripartida e m protocolo, texto e escatocolo, na qual outras partes m e n o r e s se inserem e não interessa aqui nomear. E m terminologia m o d e r n a , está e m j o g o u m a macro-estrutura textual subdividida e m micro-estruturas macro e microproposicionais sequencialmente encadeadas e visando surtir efeitos concretos, isto é, c o m validade n o m u n d o real.

2 . C o n s o a n t e o decorrente da epígrafe inicial, não se pretende aqui senão u m breve excurso sobre o teor dos protocolos c o m que abre a quase totalidade documental do célebre cartulário português que «pertenceu ao Cabido da Sé de Braga e passou para a Biblioteca e Arquivo Distrital da mesma cidade»2. Naqueles, e p o n d o de lado a intitulatio ou subscrição, a direcção o u inscriptio e a saudação ou salutatio , estuda-se tão somente a invocação, sem embargo de aspectos corraborativos advindos da arenga preambular, sobretudo q u a n d o eventualmente interligada àquela, e até das cláusulas sancionatórias, ambas da segunda parte ou texto, mas aqui não tratados.

E suficientemente conhecida a praxe da entrada notarial invocatória. Condensada primeiramente n o «chrismon» e depois traduzindo-se e m fraseados mínimos de três palavras, acaba p o r preencher toda a linha ou muitas linhas. N o entanto, «após u m período de evolução e de formação, o chrismon c o m o invocação retoma a forma primitiva e o seu uso n o séc. XII, para vir a decair na expressão gráfica e emprego, até aos meados do séc. X I V , na Península»3. Q u a n t o à invocação verbal, vigente através de séculos manteve-se durante mais t e m p o , m e s m o quando os diplomas trocam a sua redacção e m favor da língua portuguesa, ainda que na formulação simplificada de «Em n o m e de Deus, amen», c o m o , p o r

2 Cfr. Líber Fidei Sanetae Bracarensis Ecdesiae, edição crítica p o r P. A V E L I N O D E J E S U S D A C O S T A , Braga, J u n t a Distrital, 1965, I, pp. VII. O 2o t o m o saiu em 1978 e

o 3o e m 1990.

3 Cfr. A N T Ó N I O C R U Z , Paleografia portuguesa, Porto, Cadernos Portucale, 1987, pp. 155-156.

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exemplo, se vê n o doe. 766 do LiberFidá, datado de 1415, ou n o doe. 33 de 1419, coligido e m Propriedades e rendas do Cabido, entre muitos outros do Arquivo Distrital de Braga4.

C o m efeito, da cerca de duas dúzias de variantes invocacionais, In Dei nomine é indubitavelmente a de altíssima preferência tabeliónica, e m contraste c o m o sintagma sinónimo e de significantes idênticos, mas colocados na o r d e m directa, de sabor mais vernáculo que latino — In nomine Dei. Logo a seguir, a escala de presenças cabe a In Christi nomine ca. In nomine Domini nostri Ihesu Christi, assim c o m o àquelas q u e apelam para a protecção à Santíssima Trindade, seja através da fórmula breve In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti, seja da semanticamente u m tanto mais explícita — In nomine Sanctae5 et individuae Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti, quer u m a quer outra rematadas c o m Amen ou sem ele. Bastante rara a similar a esta última, que se fica pela primeira parte sem aludir a cada u m a das Pessoas divinas. Raríssimo o m o n o v o c á b u l o Christus ou Sub Christi nomine e p o u c o menos as invocações In nomine Domini etpii; In Christi nominepii et misericordiosissimi; In Dei nomine et individuae Sanctae Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti; In nomine summi Dei, Patris et Filii et Spiritus Sancti; In nomine Patris et individuae Trinitatis; de m e n o r raridade In nomine Domini.

A roda de três dezenas de invocações são bastante longas6, iniciando--se p o r Dominis invictissimis ac triumphatoribus, epítetos dirigidos a S. Salvador, a Nossa Senhora, aos Santos e mártires, de q u e aqui ou além citam alguns nomes, c o m o S . J o ã o Baptista, S. M a r t i n h o , S.to A n t o n i n o , S.a Esperata, S. Genésio; aos apóstolos, sobretudo Pedro, Paulo, André, Bartolomeu; aos anjos, especialmente S. Miguel.

P o r falar e m Nossa Senhora, é de realçar que e m 39 textos, na linha da lídima tradição cristã c u j o t e s t e m u n h o se veio a compendiar n o "aeiparthenos" do chamado símbolo de Sto. Epifânio (séc. IV) e o latim da carta do Sínodo de Milão (390) ao Papa Sirício explicitou e m "virginitas

4 Cfr. Uber Fidei, III, p. 192, e P. A V E L I N O D E J E S U S D A C O S T A , O Bispo D.

Pedro e a organização da diocese de Braga , II, Universidade de C o i m b r a , 1959, p. 478.

5 Para m e l h o r apreensão geral restituímos aqui o ditongo d o genitivo feminino dos temas da primeira declinação, que os medievais m o n o t o n g a v a m na palatal de abertura média aberta, - e.

6 U m a , c o m o exemplo: «Domnis [ou Dominis] invictissimis ac triumphatoribus sanctisque martiribus ac gloriosissimorum m a r t i r u m Sancti Salvatoris et Sanctae Mariae Semper Virginis, Sancti Michaeli Arcangeli, S a n c t o r u m A p o s t o l o r u m Petri et Pauli, Sancti Antonini et illos sanctos qui ibi sunt reconditos in cenovio Vimaranes, cuius baselica fundata esse dignoscitur» (Líber Fidei, doe. 63).

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ante partum, in partu et post p a r t u m " , - se proclama tão repetidamente em Braga a doutrina da «Santae Mariae Semper Virginis» (26 does.) ou da «Beatae Mariae Semper Virginis» (13), devendo acrescentar-se que em mais 17 se declara a virgindade da M ã e de Deus e m termos c o m o «Almae Virginis Mariae», «Sanctae Mariae Virginis»,« gloriosissimae Matris Virginis»; p o r sua vez, o dogma da Assunção7, que o Santo Padre Pio XII viria a proclamar e m 1950, aparece c o m o verdade cristã aceite nos does. 121 e 620, dois apógrafos do m e s m o original exarado, e m 11 de Agosto de 1082, n o n o m e de Miguel Foijaz, doador de bens à Sé de Braga, sob confirmação do bispo D . Pedro.

Alguns liturgistas costumam avultar, n o rito da cidade dos Arcebispos, três características, quais a de ser trinitário, cristológico e sobretudo mariano, c o m certas raízes na liturgia romano-hispânica e na tradição antipriscilianista8. O que atrás se regista não desmente estas asserções, antes parece corroborá-las. N o respeitante à Virgem Santíssima há ainda algo que desconcerta: é que n o Baio-Ferrado9, cartulário do Mosteiro de Grijó (sécs. X I - X I I I ) , dos seus 314 diplomas n e m u m sequer recorda a M ã e de

7 C f r . Missal de Mateus, introd., leitura e notas de J O A Q U I M O . B R A G A N Ç A , Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1975. Neste precioso códice doséc. XII, n a p . 484 desta erudita edição, a missa de 15 de Agosto tem esta antífona, antes d o Evangelho: «Assumpta est Maria in caelum: gaudent angeli et conlaudantes benedicunt D o m i n u m » . O r a os does. d o LiberFidei, e m 1082, já dizem o m e s m o , n o essencial: «Sancta Maria Mater D o m i n i quae assunta est in caelo» (doe. 121); «Sancta Maria Mater D o m i n i quae assumpta est in caelo» (doe. 620).

P o r seu lado, A. LUIS V A Z , e m A Missa em Braga - Passado, presente, futuro, ed. de "Presença e Diálogo", 1986, p. 65, diz-nos textualmente: «Quando se recorreu à Tradição para demonstrar que a Igreja admitira desde m u i t o cedo a Assunção de Nossa Senhora na Liturgia, vieram buscar o apoio d o asserto à colecta da missa bracarense da Assunção. Apesar de introduzida pelo Papa Sérgio I (687-701), R o m a , depois da sua morte, escusara-se a manter uma oração c o m o a de Braga, tão expressiva e categórica n o tocante à Assunção». 8 Cfr. A. LUÍS V A Z , A Missa em Braga - Passado, presente, futuro, cit. na nt. 7, pp. 18 e 65; id., Liturgia bracarense, das primitivas da Igreja, Braga, ed. de "Presença e Diálogo", p. 62; id., A Liturgia bracarense fez este Portugal que somos , Braga, ed. Aspa, p. 92; id., Missa de

Braga segundo o Vaticano II e Normas posteriores, I - Do Advento à Epifania, Braga, ed. "Presença

e Diálogo", 1993, pp. 27-33.

A propósito de Prisciliano, bispo de Avila, e d o priscilianismo na Península, vd. A L B I N O D E A L M E I D A M A T O S , Hinos do temporal hispânico até à invasão muçulmana, estudo histórico-crítico, Coimbra, Faculdade de Letras, 1977, passin e bibliografia citada.

9 Cfr. Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XI- XlIIsiècles) , introd. et notes de R O B E R T D U R A N D , Paris, Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

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Deus sob qualquer prerrogativa. A grande maioria começa p o r In Dei nomine, menos p o r In Christi nomine ou In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti, c o m pequenos acrescentos a esta última fórmula, n o geral, p o r q u e eventualmente há adições extensas, embora não tão frequentes c o m o n o Liber Fidei. E m Documentos de D. Sancho I, Io. volume, o n d e se compilam 239 textos10, somente n o que traz o n° 174 e a data de 1208 se p o d e ler— In Dei nomine et Virginis Mariae, p r o p e n d e n d o avultado n ú m e r o para In Dei nomine, menos para In nomine Domini nostri Ihesu Christi ou In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti.

Seleccionaram-se acima as frases simples de índole consagratória o u suplicativa à Santíssima Trindade, deparáveis n o Liber Fidei. Essas, p o r é m , não nos mostram a riqueza toda da doutrina q u e t e s t e m u n h a m e inculcam nos desenvolvimentos apostos: «Deus único e verdadeiro»; «Pai ingénito, Filho unigénito, Espírito vivificador»; «cuja h o n r a e glória, reino e p o d e r permanece pelos tempos sem fim»11; «Trindade indivisa que sempre será pelos séculos dos séculos»; «cuja indivisa majestade e única deidade permanece pelos séculos»; «na qual cremos interiormente e p o r palavras confessamos ser o Pai ingénito, o Filho gerado, e o Espírito Santo proceder de ambos, e ter-se apenas o Filho feito h o m e m p o r intemédio da Virgem Maria, ao vir ao m u n d o para salvação dos h o m e n s sem jamais abandonar o seio do Pai e do Espírito Santo»; «Espírito Santo q u e de ambas as Pessoas procede e c o m elas é o único e o m e s m o D e u s na Trindade perfeita»12.

10 Cfr. R U I D E A Z E V E D O , P. A V E L I N O D E J E S U S D A C O S T A , M A R C E L I N O R O D R I G U E S P E R E I R A , Documentos de D. Sancho I (1174- 1211), Universidade de Coimbra, 1979, pp. 265-266.

11 Cfr. Uber Fidei, doe. 114: «In n o m i n e Patris et Filii et Spiritus Sancti, qui est in Trinitate unus et veras Deus».

Ibid., doc. 141: «In D e i omnipotentis n o m i n e , Patris ingeniti, Filii unigeniti ac

Spiritus almi».

Ibid., doc. 160: «In n o m i n e Sanctae et individuae Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus

Sancti cuius h o n o r et gloria, r e g n u m et i m p e r i u m m a n e t per infinita têmpora». 12 Cfr. ibid., doc. 159: In n o m i n e Patris et Filii et Spiritus Sancti, Trinitatis indivisae quae n u n q u a m est finienda per cuncta saecula saeculorum, amen».

Ibid., doc. 211: «In n o m i n e Sanctae et individuae Trinitatis, Patris videlicet et Filii et

Spiritus Sancti, q u o r u m indivisa maiestas et una deitas p e r infinita saeculorum saecula, amen».

Ibid., doc. 221: «In n o m i n e Patris et individuae Trinitatis, Patris videlicet Filii

simulque Spiritus Sancti q u o corde credimus et ore proferimus. Credimus Patrem ingenitum, Filium genitum, Spiritum Sanctum ab u t r o q u e p r o c e d e n t e m , Filium solum

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Refere-se, entretanto, q u e as invocações à Santíssima Trindade, simples ou complexas, apresentam-se a cada passo mistas, n o sentido de incluírem t a m b é m a Virgem Maria, de resto sempre presente, c o m o já se viu, nas mais extensas, introduzidas p o r «Domnis invictissimis ac triumphatoribus», estereótipo atrás citado. O m e s m o se diga das crísticas, que ora n o m e i a m apenas Jesus, ora Jesus e Nossa Senhora, duas associações de especial significado religioso e eclesial13 que n o Liber Fidei despertam incontestável atenção, sobretudo e m face do silêncio, neste particular, das duas fontes que nos serviram contrastadamente de amostragem. D e facto, nas veias da Igreja bracarense, d e v e m correr, desde tempos afastados, certas plaquetas próprias sobre cuja origem e justificação c o n t i n u a m a ter a palavra decisória os liturgistas interessados nas peculiaridades rituais de Braga.

3 . E m «Exploração de u m a literatura», de Danielle Régnier-Bohler1 4, estudo integrado n o 2o t o m o de História da vida privada, que se ocupa da Idade Média, depara-se c o m diversas alíneas temáticas tratadas c o m mestria. Entre outras, o h o m e m solitário, os lugares simbólicos c o m o a torre, o vergel; a sociabilidade, o campo familiar, os exílios, os irmãos e o poder, o corpo e suas representações, o indivíduo, a escrita c o m o emer-gência do eu, memórias e crónicas, a palavra interior, a leitura dos sinais que ajudam ao r e c o n h e c i m e n t o , à identificação, ao retrato.

E certo que a autora entendeu literatura n u m sentido restrito, porque doutra forma poderia perguntar-se se os cartulários não lidam, de algum m o d o , c o m crónicas e memórias; se a palavra interior não se complementaria admiravelmente c o m a palavra exterior que os pergaminhos perpetuaram; se n u m a doação, n u m testamento, nesses contratos enfim que os medievos nos legaram não há emergência do eu; se a par da representação do corpo

carnem de Virgine suscepisse et in m u n d o pro salute h o m i n u m venisse de Patris sinu, de Spiritu Sancto n u n q u a m recessisse».

Ibid., doe. 381: «In n o m i n e Sanctae Trinitatis, Patris et Filii et Spiritus Sancti ab

utroque procedentis qui unus idemque Deus permanet in Trinitate perfecta».

13 Cfr. Liber Fidei, doe. 778: «In nomine Patris et Filii et Spiritus Sancti et Beatae Mariae Semper Virginis»; «In n o m i n e domini nostri Ihesu Christi et in honore Sanctae Mariae semper Virginis cuius baselica fundata est in civitate metropolis Bracarae» (doe. 491).

14 Cfr. História da vida privada — Da Europa Feudal ao Renascimento, sob a direcção de PHILIPPE A R I È S e G E O R G E S D U B Y , Lisboa, Edições Afrontamento, 1990, pp. 313-392.

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seria porventura descabida a do espírito ou cultura espiritual; se d u m diploma de últimas vontades, e m face da m o r t e ou m e s m o à distância dela, não emergem verdadeiros retratos do h o m e m e da m u l h e r epocais, apesar do q u e de convencional ou i n d i v i d u a l m e n t e incaracterizador tais documentos c o n t e n h a m .

Evidentemente que, se ao contrário de nos havermos confinado à invocação protocolar, tivéssemos alargado a análise às arengas dos textos notariais, às sanções impostas a possíveis infringidores dos convénios e disposições, às cláusulas pias testamentárias e à própria repartição da herança pelos beneficiários, isso enriqueceria de legitimação múltipla o título deste trabalho. C o n t u d o , o valor h e r m e n ê u t i c o resultante do fragmento invocatório escolhido, tão eloquente e polimórfico, é inegável quanto a u m t e m p o longo e m que o teocentrismo outorgava sentido às crenças, aos costumes, aos ideais, às vicisitudes da existência, fossem as alegrias, o trabalho, o sofrimento, a morte.

Apesar de haver u m notável c o n j u n t o de obras c o m abordagens afins, por graça e saber de mestres da ciência histórica e m novos moldes, c o m o Jacques Le Goff, Georges D u b y , Philippe Ariès, Edgar M o r i n , para só lembrar estrangeiros, talvez falte ainda u m a que se debruce globalmente sobre certos reflexos captáveis, nos nossos cartulários, n o q u e respeita à vida individual e social segundo ópticas que transcendem as perspectivas do homo belluatus, o tal homo roboticus, e m vésperas do terceiro milénio, perdido no scriptible e m grau n e u t r o p o r carência de u m «suplemento de alma» para o lisible humanisticamente integrador.

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