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O Koumys

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(1)

a D^oncrm^rs

s.»

DISSERTAÇÃO INAUGURAL

PARA ACTO GRANDE

SEGUIDA DENDVE

APRESENTADA Á

ESCOLA MEDICO -CIRÚRGICA DO PORTO

E D E F E N D I D A E M J U L H O D E 1 8 7 6 SOB A PRESIDÊNCIA DO EXC.™0 SNB.

POR

^Lrtfyur ferreira de Macedo

TVPOGRAPHIA DE ANTONIO JOSÉ DA SlLVA

Rua do Calvário n.° 36

1 8 7 6

(2)

<?

J&»

(Regulamento da Eschola de 23 d'abril de 1840, art. 155.»)

(3)

ESCOLA

MEDICO-D I R E C T O R

O ILLM." E EXM.° S M . CONSELHEIRO, HANOEL MARIA DA COSTA LEITE S E C R E T A R I O

0 ILL

m0

E W r SR. 1MÏ0EL DE JESUS AMTUHES LEMOS

CORPO CATHEDRATIOO

LENTES CATHEORATIGOS

i.a Cadeira — Anatomia os ILL.™0" E EXC^0" SNRS.

descriptiva e geral. João Pereira Dias Lebre. 2.' Cadeira —

Physiolo-gia Dr. José Carlos Lopes Junior. 3." Cadeira—Historia

na-tural dos medica-mentos. Materia

me-dica João Xavier de Oliveira Barros. 4.." Cadeira — Pathologia

externa e

therapeu-tica externa . . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5." Cadeira — Medicina

operatória . . . Pedro Augusto Dias. 6.* Cadeira—Partos

mo-léstias das mulheres de parto e dos

re-cem-nascidos. . . Dr. Agostinho Antonio do Souto. 7." Cadeira — Pathologia

interna—Therapeu-tica interna . . . José d'Andrade Gramaxo. 8." Cadeira—Clinica

me-dica Antonio d'Oliveira Monteiro. 9." Cadeira — Clinica

ci-rúrgica Eduardo Pereira Pimenta. 10.* Cadeira — Anatomia

pathologica . . . Manoel de Jesus Antunes Lemos.

II.' Cadeira — Medicina

legal,hygiene priva-da e publica e

toxi-cologia geral. . . Dr. José F. Ayres de Gouveia Osório. Curso de pathologia geral

semeiologia e

his-toria medica. . . Illidio Ayres Pereira do Valle. Pharmacia Felix da Fonseca Moura.

(4)

[ Dr. José Pereira Reis. Secção medica. . . J Dr. Francisco Velloso da Cruz.

( Visconde de Macedo Pinto í Antonio Bernardino d'Almeida. Secção cirúrgica . . j Luiz Pereira da Fonseca.

{ Conselheiro Manoel M. da Costa Leite.

LENTES SUBSTITUTOS

_ , ,. j Manoel Rodrigues da Silva Pinto. Secção medica. . . j A n t Q n i o d'A s e 8 v e d o M a i a

e ç I Augusto Henrique d'Almeida Brandão.

LENTE DEMONSTRADOR

(5)

*Ã.

O J S X T O

!ÏP*AJ)SS

Ehl qui peut surpasser le courage d'un père? Quel soin peut s'égaler aux doux soins d'une mere.

DELILE (LES TROIS RÉGltES) ■

Off

v auctor.

(6)

0 EXC.mo SNR.

^Lntonio Joaquim de Moraes "Caldas

LENTE B i 4. CADEIRA Dl ESCHtlLA MEDIC0-C1RDRG1CA DO PORTO

Voilà le vrai mérite. Il parle avec candeur;

L'envie est à ses pieds, la paix est dans son coeur. ;

(VOLTAIRE)

Off.

(7)

r~

Á SUA FAMÍLIA

%m sens mmtm

&

^los seus condiscípulos

m M% imago.

Off.

O AUCTOR.

~<^Ȕ

(8)

DOS

law mã$ú$nU#

plutónio Martins Pereira

E

(9)

MTKODUCGÂO

Dura lex, sed lex.

Obdecemos á lei. Se voluntária ou involuntaria-mente pouco importa.

A qualidade da moeda não sei se será da mais expurgada de liga, mas também não pôde ser outra. Quando lançamos os olhos para o fim da nossa carreira e vimos que uma these era o único tributo aceitável para ser medico-cirurgião e clinico, precor-remos os modos de a conseguir, a infinidade de ma-térias primas com que a poderíamos elaborar e levar a effeito; e n'esse trabalho, mais do que uma vez, vi-mos e analysavi-mos as contingências e meios emprega-dos para a terminação de mais que uma illustre car-reira.

(10)

Sentados ainda nos bancos escolares, com o es-pirito preoccupado por milhares d'assumptos e deve-res, planeamos um trabalho.

Pensamos desde logo, que qualquer que fosse, de. veria ser necessariamente immature, pois que em tão p ouço tempo impossível era chegar á maturação; mas, meditado um assumpto, cabia logo, porque leve obstá-culo lhe tinha servido de barreira invencível: a esse suecedia um e outro e outro até que nos vimos for-çados á escolha d'uni pela velha verdade, de que o tempo corre.

Lembramos-nos, porém, do «ATm est utile quod

facimws »

Estava o nosso espirito preplexo, quando se< ten-tava experimentar nas aulas de clinica medica um no-vo preparado: o Koumys ; e, sendo levados a estudar slpraa cousa a seu respeito, confessamol-o, ficamos maravilhados, senão estupefactos, que entre nós não fosse melhor conhecido e mais praticado, tão fácil, quanto racional meio therapeutico em certos estados aiorbiflos.

i Dissemos para comnosco : tornar um pouco

co-fihecido, incitar o desejo de experimentar e avaliar os eííeiíos e resultados do Koumys, seria obra profícua e fie 'Utilidade: perdôe-se-nos, que não nos, lembráva-mos, qm d'aqai a pouco o pó do fundo d'uma estan-te e a iíieho da traça estan-terá feito justiça ao nosso tra-è&ibo.

Korra, mas vegete, viva ao menos o bastante jísra conseguir o seu fim primeiro, a terminação da

iossa carreira escolástica.

(11)

- 19 —

é um plagiato; se uma nu outra vez diverge a manei-ra de dizer, ou tem sabor alheio, indica simplesmente a origem, onde fomos beber, o que não poderia mos sa-ber ou inventar; mostra unicamente que foi pouco o tempo da sua incubação. DizBoiíeau,. art poétique: tj

Une these excellente où tout marche et.se suit ; N'est pas de ces travaux qu'un caprice produit ; Il faut du temps, des soins et cet pénible ouvrage, Jamais d'un écolier ne fut l'apprentissage.

* * *

Concorrer d'algum modo para o allivio da huma-nidade, trabalhar na caridosa empreza de consolar, é o nosso fim. Se o obulo é pequeno, se ceitil em vez de dobrão, o sacrifício é o mesmo; não pôde o pobre de sciencia e intelligence pagar mais. Dou o que pude haver e conseguir; os ricos e opulentos de saber que continuem a obra.

Divido o meu estudo em trez capítulos.

O primeiro comprehenderá : historia, preparação, propriedades physicas, différentes espécies de Koumys e sua constituição chimica.

O segundo conterá a sua acção physiologica, the-rapeuticae modo d'applicaçâo do Koumys;

O terceiro, emfiin, breves considerações sobre as nossas observações e conclusões.

Os escriptos, que mais e muito nos auxiliaram na urdidura d'esté trabalho foram os seguintos:

Sabowski-Makarow — Du Koumys et de son rôle

(12)

Jagielski — Brit. med. Journal. 21 de fevereiro e

7 de março de 1874.

Labadie-Lagrave — Du Koumys et de ses

appli-cations thérapeutiques. Gazette Hebdomadaire n.05 36

e 38. 1874.

Karell — Cure de lait. Archives générales de

mé-decine. Paris. 1866.

E. Landowski — Du Koumys et de son rôle

thé-rapeutique. Journal de thérapeutique de Gubler. 25 de julho de 1874.

(13)

CAPITULO I

Historia, preparação, propriedades physicaa, différentes espécies de Koumys e sua

composição chimica I

Parte histórica

«L'histoire c'est le miroir magi-que ou nous voyons les plus gran-des conquêtes de l'esprit et le plus beaux rayons de la science.

(A. THIERS.)

A historia do Koumys divide-se em dous perío-dos. O primeiro tem origem na mais alta antiguidade e refere-se ao seu emprego, como alimento, nos po* vos guerreiros e bárbaros; o segundo, o período scientifico, data da sua adopção como agente thera-peutico, do conhecimento e estudo das suas proprie^ dades physicas e chimicas.

Nos steppes da Russia, vivem hoje alguns povoa , de raça mongolica, de constituição athletica, de tho* rax amplo e bem desenvolvido, olhos negros, cabel* los côr d'azeviche, dentes sãos e brancos, habitando tendas chamadas «.kibitkas» e nutrindo-se quasi ex-clusivamente de carne de carneiro, cavallo e de Kou*

(14)

São estes povos os Kirghizes, Baschkirs, Tárta-ros etc.

A historia e etymologia da palavra Koumys está ligada á historia politica d'estes povos.

.Nas provindas limitrophes de Kaschgar e Kho-ten, hoje pequena Bukharia e Tibet, viviam em tem-pos immemoriaes os Goumans ou Romanes, hordas guerreiras, que nas suas correrias á conquista do mundo civilisado, chegaram ás regiões situadas entre os mares Caspio e.Negro, estabelecendo-se nas mar-gens do rio Kouma

Em 1218, os então poderosos Tártaros invadem e vencem essas tribus, que legam aos vencedores os seus costumes e entre elles o uso do Koumys. São esses, hoje pequenos povos, sempre em movimento e o mais dás vezes privados d'alimentaçao, restos dos armipo-'tentes Tártaros, destruídos pelo poder dos séculos, mas

conservando ainda a sua religião, lingua e costumes, que mais fazem uso d'essa bebida, tão cheia de pro-priedades nutritivas e excitantes; e é devido a essas mesmas propriedades, que o seu uso se tem espalha-do, ''è 'hoje a Russia, a França, a Inglaterra, a Europa etafim, appláude a introducção de mais esse agente therapeutico.

Ruliruquiz, enviado de S. Luiz á Tartaria, é o primeiro que em 1243 nos faz uma descripção circum-stanciada da bebida, que elle chama cosmos; mas an-tes d'elle, Jean du Plan de Carpin e Benoit de Polo-gne, enviados do papa IV aos ainda muito poderosos 'Tártaros, já tinham mencionado o leite d'egua como

um dos principaes meios d'alimentaçao d'estes povos. Marco Polo depois das suas viagens, diz-nos :

(15)

— 23 —

«Et quant viennent à mangier, ils prennent d» «la chair grasse et oignent la bouche a cel Dieu et à «sa femme et à ses fils; et puis prennent dou brod «et l'espannent de hors la porte de sa maison. El «quand il ot ce fait, ils dient que lor Dieu et lor mas* «née ont en leur part. Après se ils menjuent et boi-«vent, car sachiés qu'il boivent, lat de jument. Mes «si voz dit qu'il la beut en tel meinère k'ele semble «vin blance et est bonne à boire et l'appellent

cke-«mius.»

Depois d'esté resumo sobre o primeiro período doKoumys, segue-se o período scienlifico ou medico. John Grieve, medico inglez do exercito russo, á o primeiro que em 1788 nos dá uma descripção scien-tifica do Koumys e das suas applicações medicas, » lastima que apezar das tendências do século para a* investigações philosophicas e das relações scientiâcas tão bem estabelecidas, seja tão pouco conhecida subs-tancia de tanta valia.

E' na Russia e na Allemanha, e ultimamente era França e Inglaterra, onde mais se tem escripto a res-peito d'esté preparado, e a importância e auctoridads dos que escreveram, chama a attenção e leva-nos a mostrar, citando esses auctores, que o Koumys já tem a sua pagina na historia medica estrangeira.

Entre as diversas opiniões de medicos russos a allemães a respeito do Koumys, citaremos as seguin-tes :

O dr. Maydell, medico inspector d'Orloff, attrí-bue-Ihe resultados ultrapassando toda a esperança ;

Ucke considera-o como especifico das doenças do apparelho respiratório ;

(16)

Clomerikoff assim o considera também e com tanta mais convicção, porque o experimentou com

ex-cellente resultado em si mesmo n'uma affecção

chro-nica dos pulmões ;

Postnikoff dá-lhe propriedades de cicatrisação das ciavernas_ pulmonares ;

Palùbiensky, Stahlberg, observou melhoras na phtysica com diminuição dos phenomenos locaes;

Bogoiâwlenski, em 100 phlysicos, assignala 15 cu-ras, 70 melhocu-ras, 10 resultados nullos e 5 mortos;

"Karell enlhusiasma-se deante dos effeitos maravi-lhosos e curas admiráveis.

,! Na França é de 1874, que data a verdadeira

im-portação e emprego d'esta substancia, e as numerosas observações, feitas pelos clínicos mais notáveis, nos diversos hospitaes, vem confirmar, o que Schnepp, em 1866, dizia a respeito dos maravilhosos resultados colhidos na sua pratica civil.

O dr. Landowski é o que em França mais tem trabalhado para a adopção d:este medicamento, e a sua

excellente memoria publicada no Jornal de Therapeu. tica de Gubler é uma prova de quanto elle se inte-ressa pelo seu estudo.

A estas observações podem-se juntar as de Udy;

publicadas no «Bulletin General de Thérapeutique» ; e as de Labadie-Lagrave na «Gazette Hebdomadaire» ese e stas ainda não bastassem, poderíamos citar

innume-ras memorias e theses, todas concernentes a mostrar a proflcuidade do emprego d'esta substancia.

• As experiências de Chauffard em Necker, de Gu-bler em Beaujon, Gueneau deMussy, no Hotel-Dieu, Des-nos e Dujardin Beaumetz, na Pitié, e Siredey, em

(17)

La-— 25 La-—

riboisière viriam, se ainda restasse duvida, claramen-te demonstrar, que o Koumys claramen-tem uma historia toda

gloriosa nos fastos da medicina estrangeira. Entre nós a historia scientifica do Koumys é bem curta, e até bera pouco lisonjeira para clínicos, aliás de tanto nome e sciencia como os estrangeiros.

O seu emprego clinico, se assim se pôde chamar, data apenas dum anno, sendo desconhecido até en-tão. As experiências não tem sido devidamente segui-das e o jornalismo medico tem ficado silencioso a res-peito da sua utilidade ou ineffkacia.

Salvamos o caso de elle não ter conhecimento d'esté agente therapeutico.

(18)

Preparação

O Koumys é o leite d'egoa fermentado e para a sua preparação os Tártaros observam minuciosas pre-cauções.

Vejamos a minuciosa descripção que Guillaume de Rubruck em 1253 nos faz de sua preparação e qualidades :

«De cibis et victualibus oerum noveritis, quod «indifférentes comedunt omnia morticinia sua, et in-«ter tot pecora et armenta non potest esse quin multa «animalia moriantur, Tamen in aestate, quandiu durât «eis cosmos, hoc est lac equinum, non curant alio cibo»; e depois diz:

«Ipsum cosmos, hoc est lac jumentinum', fit hoc «modo:

(19)

— 27 —

«Extendunt cordam longam super terrain ad duos «palos flxos in terra, et ad illam cordam iigant circa «horam tertiam puilos equarum, quas volunt munge-«re. Tunc estant matres juxta puilos suos et permit-«tunt se pacifice ranngi, et si aliqua est nimis indo-«mita, tunc accipit unus homo pullum, et supponit «ei permittens parvum sugere, tunc retrahit ilium et «emunctor lactis succedit. Congregata ergo magna «mullitudine lactis, quod est ita dulce sient vaccinum, «dum est recens, fundunt illud in magnum utrem sive «butellum et incipiunt illud concutere cum ligno ad «hoc aplato, quod grossum est inferius sicut caput «hominis et caratum subtus, et quam cito concutiunt «illud incipil bulire sicut vinun novum, et acescere «vel fermenlari, et excutiunt illu donee extrahant bu-«tirum. Tunc gustant illud, est quando et temperate «pungilivum, libunt. Pungit enim super linguam sicut «vinum asperum bibitur, ei post quam homo cessât «bibere relinquit saporem super linguam lactis ami-«gdalini et multum reddit interiora hominis jocunda «et etiam inebriat debilia capita; et multam etiam provocat urinam.»

Podemos pois dizer, que o processo mais seguido entre os Kirghises, Baschkirs e os Tártaros é o se-guinte:

Escolhidas egoas não muito velhas e reunidas, o mais das vezes pela manhã, eia recuos, são separadas tie seus filhos e ordenadas uma ou mais vezes por dia, chegando entre os Baschkirs asel-o quatro vezes. Obtéem assim grande quantidade d'um leite branco-azuladô muito análogo ao da mulher.

(20)

es-tacões e alimentação e é attendendo a esta circums-tancia, que os Tártaros alimentam de preferencia as éguas com uma herva particular chamada karvill, que para elles tem a propriedade de tornar o leite mais abundante e saboroso.

Lançado este leite em vasos de pau de tilia ou em odres de gargalo estreito (saba ou toursouk), fei-tos de pelle de cavallo, não curtida, mas secca, defu-mada e besuntada de manteiga, submette-se á fermen-tação, tendo sido lançado previamente velho koumys,

kora, que serve de fermento.

Ao gargalo esta fixa uma vara, que serve para mexer constantemente o liquido, por espaço de três dias, a uma temperatura de 18° a 20° R.

M. Lesseps refere-nos o modo como entre os Ya coukes se conserva este leite em quasi movimento continuo:

«Dans un coin de la yourta est à demeure un «baquet de cuir. Chaque jour on y verse du lait de «jument qu'on agit avec un baton pareil à celui qui «sert à battre le beurre.

«Tous ceux qui entrent, les femmes surtout, ne «manquent jamais, avant de vaquer à d'outrés tra-«veaux, de battre ce lait pendant quelques minutes ; «de la provient cette boisson aigrelette et cependant «agréable qu'un nomme «Koumouiss.» Veut-on la faire «davantage fermenter, elle devient un breuvage des «plus capiteux».

A falta e alto preço do leite de egoa, em paizes como a França, levou a estudar a substituição d'esté leite por um outro ; e o dr. Chalubinski, professor da Universidade de Varsóvia, provou por experiências

(21)

cli-— 29 cli-—

nicas e analyse chimica, que o koumys proveniente do leite de vacca é tão efficaz, como o que provém do leite d'egoa. O dr. Schenepp, depois de uma série de tentativas, chegou a obtel-o pela mistura do leite de jumenta, como uma terça parte do seu volume de leite de vacca, provocando a fermentação com o fer-mento de cerveja. É assim que actualmente é prepa-rado em Pariz. Attendendo ao pouco assucar do leite

de vacca tem-se tentado obter maior riqueza saccari-na, por um methodo especial d'alimentaçâo, methodo de M. Kuhne.

Como são trez as espécies de leite, que mais nos importa conhecer para a preparação do Koumys, apre-sentamos o seguinte quadro d'analyse quantitiva, de-vido ao director da fabricação do Koumys em Paris, o distincto chimico M. Kokasinski.

(22)

Composição de trez espécies de leite servindo para a

preparação do Koumys

DENSIDADE .

ÉGUA JUMENTA VACCA

"1034,2 DENSIDADE . 1036,5 1035,7 VACCA "1034,2 l.a classe 1036,5 VACCA "1034,2 Agua 892,890 902,477 847,558 Cliloru.de potassium . 1,622 1.573 1,369 « » sodium. 0,408 0,380 0,243 Sulphato de soda. . 0,062 ' 0,052 0,073 Carbonato » » . 0,094 0,083 0,108 » » cal . 0,066 0,069 0,074 Phosphato de soda 0,298 0,315 0,460 » » cal . 2,954 2,635 2,686 » » magne-sia. 0,572 0,554 2,632 » » ferro 0,038 0,047 0,063 2.a classe Lactato de soda . 0,685 0.505 0,430 Hippurato de soda. 0,017 0,006 0,000 Urea 0,000 0.000 0,004 Lactose . . . . 71,642 60,891 52,243 Manteiga . . . . 11,662 12,157 40,281 3.a classe Albumina e caseina 15,869 19,014 51,073 (Lacto-proteina. 1,121 1000,000 i a j a 1000,000 2,703

1

1000,000 1,121 i a j a 1000,000 1000,000 Da analyse d'esté quadro resaltam immediatamen-te as differenças, que ha na composição dos différen-tes leidifféren-tes e as condições mais ou menos favoráveis de cada um para uma prolongada e boa fermentação.

(23)

— S l

-Sem nos alongarmos em considerações, vemos, que o leite de vacca menos rico em assucar, occupa o pri-meiro Jogar como alimento completo pela sua abun-d anciã em saes, manteiga e caseína.

O leite d'egoa,mais rico cm lactose, assegura me-lhor e mais demorada fermentação; e assimilhando-se pelas soas propriedades physicas ao leite de jumenta, este abunda mais em caseima e manteiga, e é menos repugnante pela menor quantidade d'acido hippurico. Aqui, no Porto, a pliarmacia do hospital de Santo Antonio apresentou para uso do mesmo hospital uma bebida com o nome de Koumys; mas que mais tarde soubemos não passar o mais das vezes d'uma cerveja de leite, pois que consistia na juncção de fermento de cerveja ao soro de leite.

Por insofficiencia de fermentação, má qualidade da materia prima ou accessories, falta de perícia ou cuidado, o Koumys preparado hoje n'aquella pliarma-cia, não era o Koumys preparado amanhã, d'aqui pro-vinha a desconfiança do assistente e do doente, a re-pugnância para a sua ingestão, as queixas, etc.

Hoje tracta-se de estudar o meio mais fácil de preparar o Koumys, e já algumas experiências tem sido feitas em França, no hospital Beaujon, em presen-ça de Gubier para mostrar, que 40 a 45 grammas do extracto de Koumys bem dissolvido por movimento constante em um litro de leite de vacca bastam para no fim de 48 horas se obter excellente Koumys.

O procesos para obter este extra cto è o se-guinte: depois de desembaraçar bem o Koumys, abundante em fermento alcoólico, da maior parte da sua caseína, submette-se ao vacuo d'um apparelho

(24)

especial e concentrando-se a uma baixa temperatura, para não haver alteração dos fermentos, junta-se-lhes alcool distillado do velho Koumys e lactose. Obtem-se assim um preparado ligeiramente xaroposo, de côr branca esverdeada e opaca, que se denomina «extracto

(25)

Ill

Propriedades physicas

O Koumys é um líquido lactescente, de côr bran-co-perola, de cheiro característico, semelhante ao do soro de leite e de sabor ligeiramente acido, deixando depois de ingerido uma sensação agradável e refrige-rante na garganta.

O acido carbónico, que contém torna-o espu-moso, o que lhe valeu o nome de champagne de leite.

Deixado em repouso, o liquido divide-se em três camadas ; a superior esbranquiçada é formada por corpos gordos em suspensão, e constitue mais tarde o velho Koumys; a media de côr esverdeada, semi-trans-parente é composta em grande parte pelo sôro, e a inferior é caseosa.

Estas são as propriedades descriptas por todos auctores.

(26)

O Koumys empregado nas nossas enfermarias, e que tivemos occasião de provar por mais que uma vez, não possuía o conjuncto d'estas propriedades, o que nos leva á seguinte conclusão, ou as descripções são falsas ou o Koumys o era.

Em quanto ao dividir-se em três camadas e ser espumoso aconteceu isso algumas vezes, chegando até a ser em algumas excessiva a quantidade de acido car-bónico, mas outras vezes nada disto se clava.

Fazemos estas considerações, porque mais tarde terão de entrar em linha de conta nos effeitos por nós apreciado.

Pela propriedade espumante e gazoza, o Koumys deverá ser conservado em garrafas hermeticamente rolhadas; e de grande utilidade seria que as rolhas fossem munidas de torneiras, que permittissem a sa-hida do liquido, sem que houvesse grande perda de acido carbónico ; e mui principalmente adoptar esta medida em estabelecimentos, onde o desleixo e a in-cúria dos empregados são proverbiaes, como acontece no hospital de Santo Antonio.

A garrafa dever-se-ha deitar de modo que o li-quido banhe a rolha e guardal-a em logar fresco, por que a 28° R. a fermentação cessa.

(27)

IV

Différentes espécies de Koumys

'Compoáição cfyimica

Segundo o grau de fermentação, assim se diz que 0 Koumys é novo ou velho ; mas entre estes dois es-tados ha um intermédio, que os clínicos designam por n.° 2, chamando ao novo n.° 1 e ao velho n.° 3.

Em therapeulica emprega-se commummente o n.° 1 e 2 porque o n.° 3 fortemente alcoolisado é, quasi que exclusivamente, empregado nos paizes, em que é considerado como bebida de prazer pela embriaguez quasi rápida, mas passageira, que produz.

Passamos a mostrar a composição chimica d'esté preparado nos seus dois primeiros graus de fermenta-ção e para isso servir-nos-hemos da analyse feita pelo dr. Kokosinski, por ter já sido d'elle a tabeliã por nós apresentada da différente composição dos diversos lei-tes, servindo para a preparação do Koumys.

(28)

Pelo estudo comparativo das duas tabeliãs, vere-mos immediatamente que durante a fermentação se desenvolveram novas substancias, havendo por con-seguinte notável mudança na sua composição chimica.

O Koumys, em virtude da fermentação, contém trez elementos novos, (os quaes, como agentes tliera-peuticos, gosam um notável papel), alcool, acido lá-ctico e carbónico : os dois primeiros no estado de la-ctato d'alcool e o segundo em liberdade. Além disto temos que os saes, a não ser os carbonatos, nada mudaram; os corpos gordos transformaram-se e a lactose desdobrou-se debaixo da influencia da fermen-tação alcoólica.

(29)

— 37 —

Composição do komiiys Edward (media de 42 analyses)

N.° 1 N.° 2 l .a CLASSE Agua l .a CLASSE Agua 888,010 886,363 Acido carbónico . . . 6,603 13,982 Chlororeto de potassium . . 1,435 • 1,435 i » de sodium . . 0,289 0,289 Sulphato de soda. . . . 0,067 0,067 Phosphato de soda . . . 0,410 0,410 » de cal dos os sos. 2,670 2,670 i » de magnesia . . 0,601 0,601 | » de ferro . . . 0,062 0,062 1 2.a CLASSE Lactato de soda . . 0,661 0,661 » de cal 0,225 0,225 » de urea 0,006 0,006 Lactose . 38,952 23,065 Alcool. . 22,530 30,310 Acido láctico . 7,021 8,872 » succinico 0,273 0,368 » propionico 0,015 0,022 Glycerina. 1,427 1,909 Corpos gordos . 8,517 8,501 3 .a CLASSE Caseina e albumina . 18,310 18,290 Lacto-proteina . 1,916 1,892 1000,000 1000,000

(30)

Acção physiologica e therapeutica, modo da applicação do Koumys

«Il n'est pas de moyen qui «releve autant les forces et «qui augmente ausi rapidement

«l'embonpoint.»

(Fonssagrives: Thérapeutique de la phtisie pulmonaire).

Si la thérapeutique ne peu pas attaquer le mal dans sa sur-ce, elle peut du moin en atté-nuer les effects, en traitant sur

les organes qui sonffrent.

(BECQUEBEL.)

I

O Koumys, pertencendo ao grupo dos hyperste-nisantes, levanta e fortifica os órgãos, eleva tempora-riamente a temperatura, torna o pulso um pouco mais frequente, mais cheio, exalta a sensibilidade, excita a motilidade, augmenta a contractilidade muscular, des-perta a vitalidade no organismo, preparando-o para a lueta e resistência contra determinados estados mór-bidos.

(31)

— 39 —

Respiratório, anti-desassimilador, agente de fá-cil combustão, combate, como os alcoólicos, por subs, tituição compensadora, os desperdícios orgânicos ; e pelos phosphatos calcareos, caseína e manteiga, ser-ve á plasminação, obrando como tónico analeptico.

Como muitas aguas mineraes, o Koumys, abun-dante em phosphato alcalino de cal, de soda, chloro-reto de soda e potassa, carbonato de soda, etc., for-nece aos elementos anatómicos e aos humores os ma-teriaes necessários á sua constituição ou repara as per-das deviper-das á desassimilação.

A quantidade e natureza dos saes, muito simi-Ihante, a que entra na constituição do plasma sanguí-neo, serve não só para favorecer a absorpção, como para combater muitos estados mórbidos, auxiliando a transformação cretecea dos tubérculos, contrabalançan-do a eleminação em excesso d'estes mesmos produ-ctos em certas doenças, moderando os suores, dimi-nuindo os phenomenos dyspeoticos, etc.

As matérias gordas, analepticas histogenicas, dan-do ao organismo elementos de fácil assimilação, con. tribuindo o mais das vezes d'um modo directo como materiaes para a constituição dos tecidos elementares e nomeadamente do tecido adiposo, cooperando para a producção da urea e obrando como moderadores das combustões intra-organicas, exercem sobre os

orga-nismos uma acção reparadora e duradoura.

Vejamos, quaes os effeitos physiologicos dos três novos elementos desenvolvidos pela fermentaçãe.

A mistura do leite de vacca e jumenta consti-tuindo um novo leite, abundante em assucar, possue todos os materiaes necessários para a frmenlação

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coolica, que apesar de não ser rigorosamente unifor-me, pela presença cie matérias ricas em azote, pôde ser expressa pela equação seguinte, equação confir-mada pelos analyses quantitativas do Koumys.

3C«H2S -f H202 = 6C,2H1!01! =

Lactose Galactose

= 2C6H606 -f 10C4He08 -f 10CO!

Acido láctico Alcool Acido carbónico

Temos pois : acido láctico, alcool e acido carbó-nico.

O alcool, actuando sobre o tubo digestivo, desperta, as contracções do estômago, augmenta a secreção do sueco gástrico e pancreatico, dissolve as gorduras, favorecendo a sua emulsão e sendo rapidamente absor-vido elemina-se, moderando a nutrição, diminuindo a urea e abaixando a temperatura.

O acido láctico, acido principal do sueco gástrico adjuvante da digestão estomacal, tem a seu cargo o auxiliar a dyalisação das albuminóides.

O acido carbónico activa as secreções do estôma-go e intestinos, obrando como anesthesico da mucosa estomacal e como estimulante dos vasos capillares e nervos vaso-motores, exercendo sobre o systema ner-voso geral uma acção sedativa.

O Koumys è pois além d'um alimento completo, um medicamento ; pois que não só modifica as func-ções, obrando sobre os elementos anatómicos e hu-mores ; mas coopera para a nutrição, fornecendo

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ele-_ 41 —

mentos á assimilação ou regulando e moderando a desassimilação.

Ás propriedades e effeitos citados junta-se mais o estado de fermentação, o qual parece gosar um dos mais importantes papeis no acto da assimilação.

Assim vemos, que os fermentos gerados nos meios interiores do individuo gosam d'alta importância nas metamorphoses, que os alimentos e medicamentos sol-frem antes de se tornarem assimiláveis; e as acções chamadas catalyticas ou acções de contacto, presidem ao maior numero de transformações primarias, que dão origem aos elementos anatómicos.

Attendendo á parte, que os fermentos, diastase pepsina, acido láctico, nephrozymase, etc., tomam nos phenomenos dynamicos e adynamicos da economia, incluindo a acção mórbida d'outros elementos, não po-deremos concluir que a extrema facilidade da assimi-lação do Koumys seja devida ao seu estado de fermen-íação?

Schnepp considera o koumys como um fermento, como uma organisação virtual, potencia animada e ani-madora, obrando principalmente sobre os elementos do tecido connectivo.

Temos pois, resumindo, que o Koumys actua pe-los saes idênticos aos do serum do sangue, pelas ma. terias albuminóides, pelo acido láctico e carbónico e ainda pela fermentação permanente, que parece presi-dir á sua absorpção presi-directa e rápida.

Acção sob o tubo digestivo— Depois da in-gestão do Koumys sente-se uma sensação agradável e refrigerante na pharyngé, acalmando temporariamente a sede para pouco depois a augmentar,devido isto talvez

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á maior abundância das outras secreções. Chegado ao estômago, disperta uma ligeira sensação de calor, como a resultante da ingestão de uma pequena quantidade de alcool, e em algumas pessoas produz verdadeiras nauseas e pezo d'estomago, que desapparecem ou pela eructação, dando logar á sabida d'uma certa quanti-dade d'acido carbónico, ou mesmo pelo estabelecimen-to da estabelecimen-tolerância, que o mais das vezes se dá em pou-cos dias.

O Koumys n.° I pôde nos primeiros dias produ-zir leve diarrhea, que ou desapparece ou se combate pelo uso do Koumys n.° 2. Este phenomeno é excep-cional, e o que se vè mais das vezes, é a constipação, tornando-se as dejecções raras, duras e pouco abun-dantes. As digestões tornam-se mais fáceis; o appetite augmenta consideravelmente, excepto se abusarmos do seu uso, porque então dá-se o phenomeno contra-rio, o que tem fácil explicação attendendo á sua

cons-tituição.

Acção sobre a circulação — O pulso accele-rate de 10 a 15 pulsações por minuto, mas isto tem-porariamente, depois torna-se mais amplo e forte. A temperatura eleva-se um pouco debaixo da influencia complexa dos princípios componentes activos, estando comtudo este phenomeno dependente não só do habi-to, mas da fermentação e quantidade do Koumys in-gerido.

A face ganha còr e mais vida, quer devido á maior riqueza do sangue em bœtnatoglobulina e fibri-na, quer á acção estimulante do Koumys sobre a cir-culação capillar.

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Kou-— 43 Kou-—

rays, compara a acção d'esta substancia sobre o san-gue a uma transfusão.

Acção sobre as excreções e secreções —

A diureze augmenta devido já á quantidade d'agua, que este preparado contém, já aos principios lácteos.

Esta propriedade é desde muito tempo conhecida, mes-mo entre os povos da Russia.

A urina clara e de reacção acida, augmenta em densidade devido á maior eleminação dos saes uricos.

O suor diminue, se a quantidade do liquido inge-rido não é em excesso; porque n'este caso augmenta dando togar muitas vezes á erupção d'uma espécie de urticaria.

O Koumys exerce uma acção notável nas pessoas, que amamentam; torna o seu leite mais abundante e mais rico em glóbulos gordurosos.

Acção sobre o systema nervoso — Em al-gumas pessoas delicadas o Koumys pôde, depois da in-gestão, produzir uma ligeira embriaguez, devida á ac-ção combinada do alcool e acido carbónico. A este es-tado succède um somno calmo, socegado, reparador, não produzindo pezo de cabeça, nem fadiga, mas um bem estar geral.

De todas estas acções a mais notável, e que se pôde chamar resultante, é o augmento de gordura e de pezo do individuo. Pode-se dizer constante, e cer-ta, porque só muito excepcionalmente falta.

No capitulo seguinte fazemos menção d'um caso apreciado por nós, para não estar aqui a enumerar milhares d'elles observados e presenciados por todos os clínicos, que teem feito uzo regular e methodico d'esta substancia.

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Não accréditâmes que o augmente» de pezo e vo-lume, como querem alguns auctores, seja mais rápi-do nas mulheres, que nos homens; mas admitlimos, mesmo a priori, que o augmento do pezo se dê com muita mais rapidez nas creanças.

Dos effeitos physiologicos do Koumys partimos para os seus effeitos therapeuticos.

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II

Os effeitos therapeuticos do koumys estão basea-dos em experiências feitas por aquelles, que são con-siderados como os mais auctorisados, e a sua palavra escutada como o evangelho da sciencia.

Cada dia se inflleira mais um nome illustre a apregoar os bons effeitos do Koumys, effeitos obser-vados na maior parte dos casos em hospítaes, em que as condições hygienicas não podem ser sempre com-pleta e satisfactoriamente observadas; d'aqui podemos inferir, qnaes as resultados colhidos em indivíduos, que possam collocar-se durante o emprego do Koumys em boas e apropriadas condições.

Considerado o Koumys como um alimento com-pleto, de fácil e prompta digestão, precisando pouco da chimica digestiva, antes auxiliando-a, e possuindo uma acção estimulante e nevrostenica, vejamos quaes os seus effeitos, nos différentes estados, em que está indicado o seu emprego.

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Os phenomenos observados mais frequentemente durante o emprego do Koumys pelos abalisados clí-nicos experimentadores são os seguintes:

I.° A expectoração e tosse diminue e modifi-ca-se;

2.° Os vómitos apoucam-se e desapparecem; 3.° O somno torna-se socegado, tranquillo e du-radouro;

4.° A digestão facilita-se e o appetite augmenta; 5.° A febre e os suores diminuem e suspen-dem-se;

6.° A diurese augmenta;

7.° Apparece constipação de ventre; 8.° O pezo do corpo augmenta.

Na constituição cHinaica e nos effeitos physio-logicas do Koumys acharemos a razão d'estes

resul-tados.

Modificação e diminuição da expectora-ção e tosse — Alguns dias depois da administraexpectora-ção do Koumys, o primeiro phenomeno presenciada é a fa-cilidade, com que os doentes escarram. A expectoração tornando-se mais fácil e abundante vae diminuindo pouco a pouco atè mesmo chegar a desapparecer.

Este phenomeno debaixo da dependência do qual estão outros é constante e primitivo.

Tornando-se a expectoração mais fácil, a tosse tor-na-se menos secca, menos incommoda e difficultosa, diminuindo os accessos, quer em numero, quer em in-tensidade. Estes effeitos serão devidos á eleminação do alcool pelas vias respiratórias? Talvez; mas attri-buimol-os principalmente á eliminação do acido

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— 47 —

Gubler diz-nos no seu tractado de therapeutica : «en diminuant la quantité d'oxygène et la vivacité ou conflit qui se passe normalement, les inhalations de l'acide carbonique peuvent calmer l'éréthîsme de ces viscères et relentir la marche de la désorganisation.» No diccionario de Dechambre, pag. 338, lêmos: «Après les observations de M. Goin á Saint-Alban, M. M. Nepple, Villemin, Durand-Fardel, Spengler et d'outrés médecins d'établissements thermaux, on reste peu près convaincu que les inhalations d'acide carbo-nique, si elles n'ont jamais guéri la phtisie, quoi qu'on en ait dit, ont parfois exercé our les voies respiratoi-res une action detersive qui a diminué l'expectora-tion et par suite la toux, la dyspnée et les accidents généraux eux mêmes. On est port a ademettre que ce medication sous t'oime combinée de bains, de dou-ches, d'inhalai ions, de gargarismes ou de digluté-tions, modifique quelques fois avantageusement certai-nes affections chroniques des voies respiratoires.»

2." Diminuição e suspensão dos vómitos

—Ou os vómitos estejam ligados aos accessos de tos-se ou a uma outra origem como a gástrica, a sua di-minuição dar-se-ha, ou pela didi-minuição da tosse, ou pela acção do acido carbónico e do alcool sobre a mu-cosa estomacal. Assim actuam o vinho de Champagne e a poção de Riviere no desapparecimento dos vómi-tos.

3.° Melhoramento no somno — O doente, desembaraçando os seus bronchios com mais facili-dade, não sendo despertado e incommodado pelos ata-ques de tosse e pelos vómitos, sentirá necessariamen-te necessariamen-tendência para o descanço e o somno impor-se-ha

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como uma necessidade. A estas acções juntar-se-ha a acção combinada do alcool e do acido carbónico pela embriaguez passageira, que estas substancias produ-zem, e pela diminuição dos suores e da febre, que apparecendo á tarde e resolvendo-se de noute em co-piosos e abundantes suores, ainda poderiam ser causa de vigília e incommodo.

A acção moderadora do alcool é uma das princi-paes para o alcance d'esté beneficio.

4." Maior facilidade na digistibilidade, augmento d'appetite— É á acção excitadora das secreções do alcool e acido carbónico, combinada com a do acido láctico, adjuvante do sueco gástrico, que devemos ainda este phenomeno constante e pri-mitivo. Passada a impressão, pouco agradável, que al-guns doentes sentem depois da ingestão das primei-ras quantidades do Koutnys, principia-se a notar a maior rapidez e facilidade da digestão e a quasi au-sência de resíduo estercoral, e pouco depois o augmen-to d'appetite, phenomeno, ainda que um -pouco mais tardio, quasi sempre certo.

5." Suspensão da febre e dos suores — Ainda que mais demorado, este effeito faz-se sentir no maior numero de doentes. As modificações de temperatura e da desassimilação concorrem para que o febre muitas vezes quotidiana e vespéral, terminando por suores espoliadores e abundantes, vá pouco a pou-co, e até muitas vezes rapidamente, desapparecendo ; o pulso segue as modificações da temperatura.

As ideas de Todd, Fuster e Behier sobre a acção do alcool, acham n'estes effeitos a sua justificação.

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de-— 49 de-—

vido á acção dos princípios lácteos, e á agua que en-tra na composição do Koumys.

Constipação de ventre — E' um erro attri-buir ao Koumys o inconveniente de produzir dearrhêa.

Em alguns doentes as bebidas lácteas produzem esse effeito e n'esses não é de admirar, que uma ou outra vez appareçam dejecções dearrheicas,devidas, não ao Koumys em particular, mas á bebida láctea em ge-ral.

Quer seja devida á perfeita degeslibilidade dos alimentos, querá diminuição das secreções intestinaes, pela derivação feita pelos rins da parte aquosa do sangue, a constipação de ventre é regra e raras são as excepções de provocação da dearrhêa.

Augmente de pezo — O augmento de pezo vem coroar os resultados colhidos pelo uzo demorado do Koumys.

Se considerarmos, que todas as cauzas de espo-liação, expectoração, vómitos, febre, suores, são senão completamente suspensos, p::lo menos melhorados; se aítendermos ás modificações benéficas das funcções digestivas e respiratórias; se nos lembrarmos da cons-tituição chimica dos Koumys, que faz d'esté medica-mento uma bebida alcoólica fermentada, contendo em si o leite, typo dum alimento completo; comprehen-der-se-lia facilmente, que o augmento de pezo possa ser devido e considerado como a resultante de todas as melhoras parciaes, sem que tenhamos necessida-des de recorrer para a explicação d'esté facto á theo-ria d'alimento respiratório ou de pcmpanci.

Schenepp, exthasiado deante dos maravilhosos re-sultados do tractamento pelo Koumys diz:

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«N'est-ce pas déjà un bienfait immense que de «faire prendre de l'embonpoint á celui qui se voyait

«entraîné dans un effrayante maigreur? N'est-ce pas «faire naître et entretenir l'espérance dans le coeur «de celui ches lequel on parvient á diminuer les fati-«guès d'une respiration gênée et á modérer l'ardeur «d'une fièvre dévorante? N'est'cepar une guerison re-lative que de prolonger ainsi la vie, ne serait-ce que «de peu d'années, do quelques mois même, quand le «mal qu'on attaque est la digénérescence tuberculeu-«se?»

m

A presistencia na applicação e a ingestão d'uma quantidade bastante elevada de Koumys são condic-ções necessárias para o conseguimento de bons resul-tados.

A quantidade deverá ser marcada pela maior ou menor tolerância ou repugnanoia do individuo, deven-do-se ir augmentando gradualmente a doze até que o doente chegue a tomar duas garrafas por dia.

Seguindo o aviso de Landouski, não aconselhare-mos o dar o Kournys immediatamente depois ou an-tes das comidas, por que acarreta os mesmos incon-venientes que o leite; isto é, antes, poderá diminuir o appetite, immediatamente depois sobrecarregará o

estômago.

As pessoas habituadas a tomar um alimento quen-te logo depois de se levantarem, toleram mal as be-bidas frias e gasosas em jejum, por isso aconselha-mos a tomar o Koumys nos intervallos das refeições.

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— 51 —

Todos os auctores são concordes em presistir na applicação do Koumys pelo menos durante seis sema-nas, e nunca deixar de ir augmentando a dose pro-gressivamente, ainda que as melhoras se manifestem.

A alimentação deve ser apropriada ao estado,, que se combate.

Os alimentos de difBcil digestão deverão ser ba-nidos (3 o vinho tomado em pequena quantidade e nun-ca logo depois da ingestão de Koumys.

Os doentes a quem fôr permittido um exercício moderado devel-o-hão fazer, porque é uma das con dições para activar a acção d'esta substancia.

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As nossas observações e conclusões «Chez tous les peuples civilisés • une noble ardeur s'attache à «élargir la base fondementale de «la pratique.»

(John Hughes Bennett. L. Cliniques( I

A verdade scientiíica e a realidade pratica não podem coexistir separadas perante a revolucção por-que a medicina hoje atravessa.

O espirito de investigação, que caractérisa a epo-cha actual rompe e desthrona as tradicções da anti-guidade e dos séculos semibarbaros; e os esforços in-dividuaes concentrando-se n'uma cooperação univer-sal, n'um mutuo apoio concorrem para a resolução de questões impossíveis de solucção pelos únicos esforços

individuaes.

As duas poderosas alavancas de progresso scien-tifico, o methodo racional e experimental e estão

mui-o esquecidmui-os entre nós.

A chimica estuda-se sem retortas,, a physica sem apparelhos, a mathematica, a physiologia, a histologia etc., estão reduzidas a meras questões de theorias, a leituras extensas de sciencia importada.

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— 53 —

Manda a justiça que se diga que ao menos não somos pobres em ostentar programmas, explendidos e absurdos, que mais servem para mostrar ignorância que saber.

Ponhamos ponto n'estas considerações, ainda que intimamente ligadas ao ponto que nos occupa a men-te, o methodo experimental no nosso paiz.

Os exforços empregados, nos estabelecimentos scientiíicos, como na Escola Medico Cirúrgica do Por-to, pelos professores, que teem empenho em se hon-rarem a si, e á escola a que pertencem, vão bater de encontro a obstáculos levantados por homens comple-tamente extranhos á sciencia medica.

O hospital de Santo Antonio nas condicções pre-sentes nunca poderá fornecer ao ensino os dados, que esie pede e até muitas vezes exige.

No primeiro capitulo d'esté trabalho fizemos men-ção do Koumys empregado nas nossas experiências e agora, que temos de avaliar os resultados co-lhidos teremos, não só de considerar a qualidade do medicamento, mas as condicções do seu emprego nes-te hospital.

Por mais que uma vez o exc."10 snr. Monteiro,

lente de clinica medica, tentou experimentar este preparado ; mas a irregularidade do preparado e da applicação, deram em resultado a repugnância e má fé dos doentes, d'onde a necessidade de repetidas inter-rupções e por consequência a impossibilidade de ava-liar os seus effeitos.

Juntemos a isto as proverviaes condicções hygie-nicas, a alimentação de misericórdia, os cuidados de enfermeiros etc. e teremos um esboço das condicções

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necessárias para a improficuidade de qualquer prepa-rado.

No meio de todas estas condições, o único doen-te, em que se nóde fazer uma observação demorada

mostrou-nos o que haveria a esperar da applicação regular e methodica d'esté preparado.

O B S E R ^ A Ç J L O

Depois de 38 dias de tractamento pelo Koumys, diminuição e modificação da expectoração e tosse, quasi desapparecimento dos phenomenos physicos, augmento d'appetite, digestões mais fáceis, augmento de peso e gordura.

João Gomes, 21 annos, solteiro, entrou no dia 23 de Janeiro de 1876 para a enfermaria de clinica medica escolar.

Este doente apresenta todos os signaes d'uma tuberculose adquirida, bastante avançada.

Na vértice do pulmão direito existe uma vasta verna, caracterisada por sopro amphorico e ralas ca-vernosas. Ralas subcrepitantes e rogfelantes occupam quasi toda a superfície dos dous pulmões.

Ha emaciação, vómitos, inapetência perda de forças, insomnia, fevre hectica etc.

A expectoração, fétida, vinha acompanhada com detritos de tecido pulmonar.

Começou o uso do koumys no dia 21 de feverei-ro, principiando por dous copos de quarteirão, (apro-ximadamente 240 grammas), que o doente tolerava bem.

(47)

No dia 8 de março tomava um quartilho (480 grammas aproximadamento) por dia, dividido em qua-tro porções.

Havia augmento d'appetite, somno mais calmo, expectoração mais fácil c menos fétida, desappareci-mento gradual e progressivo dos phenomenos phy-sicos. Continuou no uso do Koumys até o dia 31 de Março, continuando as melhoras e tornando-se o doen-te gordo e de boas cores a ponto de o lendoen-te de cli-nica medica dizer ; Se taes efleitos são devidos ao Koumys é um maravilhoso agente therapeutico.

Aconselhou-se o doente a sahir, mas teimando em demorar-se, expoz-se ao sol e sobrevindo-lhe no dia 8 de abril uma forte e violenta tosse, appareceram to-dos os symptomas anteriores, e o doente sujeito a va-riados tratamentos falleceu no dia 1 de maio.

E' bem resumida esta observação, mas basta paia mostrar, que os phenomenos descriptos pelos experi-mentadores do Koumys e os resultads das suas ex-periências tiveram n'este exemplar uma pequena con-lirmação, que se não foi mais completa, foi devido tal-vez ao mal preparado do Koumys e as condicções do meio e alimentação. Não fazemos menção d'alguns ou-tros casos em que se applicou o Koumys, porque não foi seguido e continuado o seu uso.

Se das nossas experiências pouco ou nada pode-mos colher; concluípode-mos das experiências hrmadas por homens respeitáveis na sciencia, da acção physiolo-gica e composição chimica, que a applicação do Kou-mys ê racional e proveitavel ao tractamento de cer-tos estados mórbidos.

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CONCLUSÕES

Pelas considerações precedentes poderemos syn-thetisar em poucas palavras as nossos ideias.

O Koumys pôde ser considerado, como lhe cha-ma o Doutor Landowski, um precioso medicamento alimentar, modificador poderoso da nutrição e do ap-parelho respiratório.

Pelo alcool: moderador da desassimilação. Pelos princípios lácteos (albumina, lacto proteína, caseína, lactose, phosphatos, manteiga): reparador po-deroso;

Pelo acido láctico, carbónico e alcool; eupéptico. Pelo acido carbónico: modificador do apparelho respiratório.

D'aqui as indicações para a applicação :

1.° Ém todas as phtisicas com perlubações gás-tricas, tosse, expectoração difficultosa, febre e suores

quotidianos.

2.° Em todas as consupções o cachexias em ge-ral.

3." Nos casos de vomito, seja de origem gástrica ou de qualquer outra.

4.° Na chloro-anemia.

5)° Emfim em todos os casos em que o organis-mo profundamente debelitado roda me uma reparação prompta e eficaz.

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PKOPOSIÇÕES

A n a t o m i a — Na cabeça e membros além dos capillares, ha outro meio de communicação entre as artérias e veias.

P n y s i o i o g i a — Ha perfeita identidade entre a respiração animal e vegetal.

P h a r m a c o i o g i a — Preferimos o methodo hy-podermico na applicação dos mercuriaes.

P a t h o l o g i a e x t e r n a - No tratamento da ery-sipela simples seguimos o rifão: cruzar os braços e olhar paia ella.

medicina operatória—O curativo é uma das

partes mais importantes da cirurgia pratica. Partos—Não admittimos quadro nosologico es-pecial nas doenças puerperaes.

P a t h o l o g i a i n t e r n a — Preferimos o Koumys no tratamento da phtysica.

Anatomia nathologiea — A precussão e a

auscultação devem os seus progressos á anatomia pathologica.

H y g i e n e — O progresso é o maior inimigo da hygiene.

Approvada Pôde imprimir-se

CALDAS O CONSELHEIRO DIRECTOR,

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