Os (des)caminhos da
Amazônia: história,
economia,política e cultura.
Universidade Federal do Pará
Faculdade de Serviço Social
Profª Dra. Nádia Socorro Fialho
Nascimento
Introdução
Boa Noite a todos e a todas!;
Em conformidade com a proposta deste
curso – que está centrado nas Políticas
Públicas e Serviço Social - a aula de hoje
se propõe a fazer uma apresentação
geral da Amazônia, como chão que
devemos conhecer para poder intervir
de forma qualificada.
Esse conhecimento requer tanto a
clareza das determinações mais
gerais da sociedade capitalista, que
impactam de diferentes formas as
formações econômico-sociais, como
as determinações postas pela
particularidade do desenvolvimento
capitalista na Amazônia.
Localização Geográfica
Geograficamente falando a
região amazônica se situa ao
longo da linha do Equador,
predominantemente ao lado do
Hemisfério Sul, no nível das
regiões africanas do Gabão,
Quênia, Tanganica e Congo;
Qual Amazônia?
A Amazônia brasileira corresponde a 60 %
do território nacional e 44% do território
sul-americano;
Abrange toda a Região Norte (Acre, Amapá,
Amazonas, Pará,Tocantins, Rondônia e
Roraima) e parte do Maranhão(no
Nordeste);
Sua população é de aproximadamente 18,7
milhões de habitantes, ou 12% da população
A Amazônia latino-americana
A Amazônia não é exclusivamente
brasileira, abrangendo 09 (nove)
países: Brasil, Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia, Venezuela,
República da Guiana, Suriname e
Guiana Francesa.
A Amazônia do rio ou da
floresta?
A floresta classificada como equatorial
latifoliada, denominada de Hylæa , do grego hilé
que significa matéria densa, por Alexander Von Humbolt no século XVIII;
O rio que se constitui em verdadeira rua para sua
população, conformando uma “vasta e intrincada rede hidrográfica (…) que se capilariza em
numerosos lagos, igarapés, furos e paranás”
(Pandolfo, 1994:33), constituindo-se na maior bacia hidrográfica do planeta.
A Amazônia rural ou do
interior?
Como região fecunda em traços que lhe
dão contornos próprios, A Amazônia
apresenta, por exemplo, uma denominação
substitutiva para a área rural. A
expressão “interior” é a que melhor
“
designa o mundo rural,(...), onde os
grupos humanos estão dispersos ao longo
de extensos espaços
” (Loureiro, 1995:
Exploração,Resistência e
Assimilação
Os processos sociais de exploração,
resistência e assimilação, que
conformaram a ocupação do espaço
amazônico, originaram uma cultura com
características próprias, onde o homem
nativo vive (vivia) em relação de
complementariedade com a natureza,
dela tirando o necessário a sua
O cabôco amazônico
* cabôco é o habitante do interior
amazônico que pratica atividades
fundamentalmente herdadas da cultura
indígena, como a prática da caça, pesca,
coleta florestal e pequena agricultura. O
termo advém do nheengatu
caá-bóc
, que
significa “tirado do mato” (Leal, 1982).
A pré-história na Amazônia
As sociedades comunais primitivas na Amazônia
datam de aproximadamente 10.000 anos a.C: os tupis se encontravam na região entre os rios
Jiparaná e Aripuanã,os Karib ao norte das Guianas e os Aruak concentravam-se na costa nordeste da América do Sul;
Os índios, à exemplo dos homens nas comunidades
comunais primitivas não acumulavam riquezas:
“produziam mais do que necessitavam, reservando o excedente para a troca ou comércio intertribal”
A Acumulação Primitiva e o
sistema colonial
A Acumulação Primitiva que se realizou
sobre as vastas colônias dominadas pelas
nações imperialistas, foi direcionada no
sentido de reforçar a exportação das
matérias-primas necessárias à acumulação
de capital;
Segundo Marx, o vetor fundamental para o
desenvolvimento do capitalismo foi a
chamada Acumulação Primitiva e o sistema
colonial a ela inerente;
O Mercantilismo
Para Franco Jr. E Pan Chacon (1986), o
colonialismo se constituiu numa saída natural para os objetivos do Mercantilismo – satisfazer a
demanda metalista;
Para Luxemburgo (1988) a política colonial levada
à efeito no processo de Acumulação Primitiva se explica pela necessidade incessante do controle dos meios de produção. Saindo do continente a marcha da acumulação seguiu rumo àquelas
sociedades que Luxemburgo chama de “sociedades de economia natural”;
A apropriação violenta
Nestas sociedades o capitalismo
“considera, como uma questão vital, a
apropriação violenta dos meios de produção
mais importantes dos países coloniais”
(Luxemburgo, 1988: 319);
Caso da Índia pelos ingleses e da Argélia
pelos franceses: os mongóis e os turcos
não destruíram a propriedade da terra;
Propriedade comunal e Meios
de Produção
O resultado final do processo de Acumulação
Primitiva desencadeado pelos colonizadores sobre as colônias da Ásia, da África e da América foi o mesmo produzido originariamente sobre a Europa. Os objetivos eram os mesmos – a destruição da propriedade comunal e a separação final do
homem de seus meios de produção. Estava assim aberto o caminho para o apossamento direto dos recursos naturais e para a “libertação” do homem, condições elementares para o processo de
“O sistema capitalista pressupõe a dissociação
entre os trabalhadores e a propriedade dos meios pelos quais realizam o trabalho. Quando a
produção capitalista se torna independente, não
se limita a manter essa dissociação, mas a
reproduz em escala cada vez maior. O processo
que cria o sistema capitalista consiste apenas no processo que retira ao trabalhador a propriedade de seus meios de trabalho, num processo que
transforma em capital os meios sociais de
subsistência e os de produção e converte em assalariados os produtores diretos.
A importância da natureza
A natureza é a fonte para a obtenção e o
desenvolvimento de forças produtivas;
Quanto mais ricas e vastas forem as
regiões em recursos naturais, tanto mais
saqueadas serão;
A sina colonial da Amazônia está
determinada pela sua abundância em
recursos naturais, o que condicionou, desde
cedo, sua inserção subordinada à condição
Os processos históricos desencadeados
sobre a Amazônia – desde a sua condição
de colônia, até aqueles em curso no
contexto da crise capitalista
contemporânea – são definidos pelo papel
particular da região frente as
necessidades históricas da acumulação
capitalista.
A intervenção externa
Os processos de intervenção externa sobre a
região amazônica, que datam do século XVI,
têm sido marcados, entre outros, pelo
desconhecimento - muitas vezes institucional -
e pelo descaso, envoltos ainda numa
ambigüidade que oscila entre o maravilhoso
(riquezas naturais inestimáveis) e o infernal
(selvageria, atraso, pragas naturais,
Uma sinopse histórica da
Amazônia
1) o que poderíamos chamar de período
exploratório, que compreende o século XVI, e no qual já se tem uma clara amostra do que iria advir nos séculos seguintes; 2) o verdadeiro período
colonial português, que, grosso modo, pode ser compreendido entre o ano da fundação de Belém (1616) e o início do Império (1822); 3) o período de vinculação às economias capitalistas
hegemônicas, do século XIX em diante (cujo início coincide com a vinculação dependente do Brasil à Inglaterra, por força da existência não de uma independência política formal, mas uma
4) a fase da atualidade recente, onde essa
vinculação é redefinida em função da
redefinição da Divisão Internacional do
Trabalho após a segunda Guerra Mundial,
[...] Todos esses períodos refletem a
atitude que a colonização sempre guardou
em relação à Amazônia, entendendo-a,
desde o primeiro momento, como mero
espaço de saque (LEAL, 1991, p. 2-3).
1) O século XVI : o período
exploratório
Este período inicia com a chegada dos iberos que,
em função do atraso no desenvolvimento de suas forças produtivas, limitaram-se ao oportunismo e ao descaso para com a região:
1499 – Pinzon toca a foz do Amazonas (pororoca); 1500 – Diego de Lepe;
1531 – Diego de Ordaz;
1535 a 1542 – 10 (dez) expedições (Orellana,
“Entre 1594 e 1595, Sir Robert Dudley e Walter
Raleigh visitam o Orenoco, em 1595 o capitão Lawrence Keymis, inglês, navega na costa do
Amapá. Em 1599 os holandeses se estabelecem no Xingu, com feitorias de Orange e Nassau. Essas atividades alertaram os portugueses, fazendo-os correr e fundar Belém, em 1616”. (Leal, 1991: 4).
“Desde 1669 estava levantada a fortaleza da
Barra de São José, de cujo aldeamento surgiria Manaus” (Souza, 1978: 45-7).
2) O período colonial
português
O período inicia justamente com o avanço
da Inglaterra e da Holanda como
potências mercantis, que passaram a
estabelecer relações mercantis com os
índios:
As avançadas concepções mercantis
de ingleses e holandeses começaram
então a ameaçar o caráter atrasado
da colonização ibérica.
“Os holandeses, principalmente, já
dominando o território entre o Oyapoc e o
Paru, haviam estabelecido desenvolvidas
relações mercantis com os índios. Alias,
haviam ido mais adiante: além das feitorias
do Xingu, em 1616 Pedro Adrianssen, com
40 colonos e famílias, não só visitou o
Tapajós como fundou uma colônia entre
Gurupatuba (sítio da atual Monte Alegre) e
o Genipapo (Paru),
estabelecendo relações com os Supana,
índios locais. A produção gerada por essa
empreitada alimentou um comércio regular
com o porto holandês de Fleissinque”
(Leal,
1991: 5).
O extermínio indígena pelas
armas
A ameaça dos holandeses e ingleses fez com que
os portugueses buscassem retomar o território, o que se fez com uma violência implacável contra o indígena. O poder das armas e da catequese
foram fundamentais nesse período. Formavam-se exércitos de indígenas para a guerra contra
grupos também indígenas que se rebelavam. Fomentava-se a intriga entre as diferentes tribos, como forma de subjugá-las.
“Dêste modo, até 1632 estavam definitivamente
liquidados os assentamentos existentes: Tucujus, Mundiutuba, Cajary, Torrego, Fort North, Cumaú, foram todos arrasados, e nas empreitadas em que isso se fez necessário, os próprios Franciscanos comandaram destacamentos de nativos,
recrutados nos aldeamentos que os padres organizavam, trazendo uma colaboração que mereceu louvores régios” (Leal, 1991: 6).
O extermínio indígena pela
catequese
Ao lado do poder das armas do colonizador,
as nações indígenas foram severamente
afetadas pela
“catequese e a pedagogia das
padres da Igreja [que] foram os agentes
de uma imposição simbólica [e física] sobre
a cultura indígena, levando elementos
estranhos (...) justapondo-os a cultura
indígena, reestruturando a expressão
nativa”
(Loureiro, 1995: 71).
2.000.000 milhões de índios
extintos
Palavras juramentadas do cônego Manoel
Teixeira, vigário de Belém, em seu leito de morte, em 1654: “No espaço de 32 anos que há, que se
começou conquistar este Estado (do Maranhão e Grão-Pará) são extinctos [sic] a trabalho e a
ferro, segundo a conta dos que o ouvirão [sic],
mais de 2.000.000 (dois milhões) de índios de
mais de quatrocentas aldêas [sic], ou para melhor dizer, cidades muito populosas” (Freire, 1991: 16).
O modelo produtivo português
A plantagem colonial que os holandeses haviam
iniciado foi substituída pelo estratégia produtiva extrativista, assentada na coleta da drogas do sertão, com o uso da força de trabalho indígena;
Os métodos de obtenção da força de trabalho:
descimento (índios estocados para distribuição), resgates (índios “salvos” da morte, doravante
escravos) e guerras (para captura de homens, mulheres e crianças).
Fome em meio à abundância
Foi tamanha a extinção dos indígenas e seu
aprisionamento, que faltaram braços para a
produção da mandioca, do milho e de outras
culturas nativas. Isso resultou numa ainda
maior mortandade de índios pela FOME!;
Disputas entre religiosos e colonos estão
na base dos discursos dos primeiros em
“favor” dos índios e pela substituição da
força de trabalho indígena pelos negros;
A economia amazônica nos
séculos XVII e XVIII
A extinção das tribos estuarinas e do
Baixo-Amazonas, levou os portugueses a
penetrarem o rio Amazonas em busca de
novas tribos. Foram sendo descobertas e
exploradas, ao mesmo tempo, novas
riquezas,como o cacau, a salsaparrilha,
canela do mato, urucu, azeite de copaíba,
etc. Também foram sendo impostos, à
custa do trabalho indígena, a produção de
algodão, tabaco, açúcar e café.
A modernização imposta pelo
Marquês de Pombal
Sebastião José de Carvalho e Melo, quando ainda
Conde de Oeiras, presenciou as mudanças em curso na sociedade européia, especialmente na Inglaterra, onde foi diplomata. Contrário ao parasitismo da coroa portuguesa e sua relação com a Igreja, deu início a um conjunto de
reformas que buscavam um desenvolvimento português assentado sobre uma poderosa estrutura produtiva colonial.
Ações de Pombal na colônia
Para manter o domínio colonial, dividiu
politicamente a Amazônia com a criação da
Capitania de São José do Rio Negro,
governado por um sobrinho (Joaquim de
Melo e Póvoas) e com um meio-irmão
(Francisco Xavier de Mendonça Furtado)
para governar o Pará; criou a Companhia do
Grão Pará e Maranhão (monopólio),
atacando o poder dos jesuítas,
expropriou-os e redistribuiu suas terras (Europa).
Resultados históricos
A intensificação da contribuição regional ao
poderio econômico da metrópole resultou numa expressiva massa de acumulação primitiva que os portugueses, como os espanhóis, passaram às
mãos dos ingleses através do comércio. É certo afirmar então que, apesar do caráter atrasado do colonialismo ibérico, ele teve um importante papel nos processos de transição para a chamada
sociedade industrial, se constituindo numa
“verdadeira alavanca do desenvolvimento capitalista” (Campos, 1991: 87)
“
Permitiu o contato com outras formações
sociais distantes do continente europeu,
auxiliou o estabelecimento de um mercado
em escala mundial e recolheu uma
quantidade de riqueza até então inigualável,
através do comércio de especiarias, do
tráfico de escravos, da agroindústria
açucareira e dos metais americanos”.
(idem).
3)
A vinculação da Amazônia ao
capitalismo Hegemônico
O século XVIII marca a consolidação da
Inglaterra como potência industrial, a
ascensão da burguesia capitalista e a
necessidade de novos materiais ao
processo de desenvolvimento das forças
produtivas:
tem início “todo um processo de produção
científica e tecnológica voltado aos
Nesse contexto a Amazônia passa a
ser, como as demais regiões do
planeta por explorar, alvo de
inúmeras expedições científicas,
das quais a primeira de uma série
infindável foi a de La Condamine, de
1735 a 1742.
A borracha e o curare
Esta expedição “se torna a primeira ação de
reconhecimento verdadeiramente científico da Região [...] descreveu a fauna dos rios e da
floresta, e fez sobretudo duas descobertas
importantes para o conhecimento da Amazônia da época pela Europa [...] o curare e a borracha. La Condamine [...] levou amostras e objetos de
borracha para a Europa, procurando explorar, em ensaios de laboratório, as suas propriedades e
potencialidades como matéria (Freire, 1991: 21-2, grifo nosso).
A borracha pelo mundo.
Desde Colombo o colonizador já conhecera
essa matéria prima. Ela também existia em
vários pontos do planeta: na Ásia, na
África,, em Madagascar, na Rússia;
Entretanto era na Amazônia que a borracha
se encontrava em quantidade e qualidade
excepcionais. Aqui ela já era um produto
natural, produzido rusticamente.
A expansão da economia
gomífera
A Inglaterra, como potência imperialista, passou a
demandar borracha como um insumo vital para a manutenção da sua liderança no mercado
capitalista. O governo inglês enviou à Amazônia um funcionário por nome Henry Alexander
Wickham e este contrabandeou sementes da borracha que foram plantadas nas colônias
tropicais inglesas. O sucesso da plantagem, em relação ao extrativismo praticado na Amazônia, desarticulou toda a economia gomífera gerando aqueles anos de decadência da região (Leal, 1991).
Como o século XIX foi de intenso
desenvolvimento da produção industrial –
consolidação do capitalismo -, também foi
de intensificação das expedições
científicas na Amazônia: Bates e Wallace
(britânicos), Agassiz (suiço), Spix (alemão),
etc.
“
O conhecimento sistemático da Amazônia
passava para o domínio das avançadas
sociedade capitalistas
” (Leal, 1991: 24)
O imperialismo inglês
Por força de ser a credora das dívidas a
que se obrigou a coroa de Portugal quando
da fuga para o Brasil; por força de sua
condição histórica de sede da produção
industrial e outras mais, a Inglaterra
passou a controlar a economia brasileira. A
Amazônia se constituiu, aos olhos da
Inglaterra, no espaço de empório de
matérias-primas, fundamental à
Outras estratégias
A Inglaterra buscou também reforçar seu
comércio entre o Atlântico e o Pacífico, na
América do Sul. O Rio Amazonas foi
pensado como uma das estratégias para
esse fim, através da ligação entre os dois
oceanos. Foram realizadas missões
militares para coleta de informações sobre
essa possibilidade (Lister Maw em 1820 e
Willian Smirth em 1836);
Os Estados Unidos
Os Estados Unidos passaram a disputar com a
Inglaterra, já no século XIX, o controle
imperialista do continente sulamericano;
O Brasil foi acusado de fechar seu território
ao comércio internacional, sendo movida
intensa campanha sobre essa questão;
A tese defendida era de que o Brasil não tinha
Uma invasão norte americana!
A diplomacia brasileira, à época, temia o
expansionismo norte americano, pois a
intensa campanha realizada sobre essa
questão da Amazônia, poderia significar a
possibilidade de uma colonização da região
pelos Estados Unidos. A estratégia norte
americana era de trazer para Amazônia a
força de trabalho escrava do sul.
A Amazônia foi palco de outras missões
militares norte americanas, que buscaram
rotas para penetrar na região. Ao lado das
missões científicas, elas produziram
importantes conhecimentos sobre as
potencialidades do vale amazônico. As
áreas férteis em borracha já iam sendo
detectadas nesse período.
“Essa primeira metade do século XIX, pois
testemunha uma avalanche de
investigações sobre as características
naturais da Amazônia, associadas à
intenção de controlá-la, por parte das
potências capitalistas da época, devido ao
potencial de contribuição à acumulação que
a Região representava. (Leal, 1991: 29).
A Cabanagem
A exploração do índio como força de trabalho não
se deu de forma absolutamente pacífica. Sua
resistência esteve na base do futuro movimento da Cabanagem: “Estava, assim [a regência], com as duas províncias extremas conflagradas (...).Na
consulta aos documentos oficiais, o que primeiro ressalta, quanto à conduta do governo central em relação aos rebeldes do sul e do norte, é a
os do sul, tentava-se apaziguar, conciliar,
resolver por negociação, com avanços e
recuos, com blandícias e exigências, com os
do norte o tratamento foi sempre de
inalterável severidade” (Sodré, 1987:
230-31). Talvez a severidade no trato do
governo esteja associada ao fato da
Cabanagem ter sido “um movimento
nativista popular armado que envolveu
grupos indígenas autônomos,
a massa de índios das aldeias, índios
destribalizados (chamados tapuias), os
caboclos mestiços, os negros” (Freire,
1991: 62);
A Cabanagem é “o marco da passagem da
Amazônia a uma outra etapa da sua
história, quando o poder secular do
colonizador foi questionado – e esmigalhado
– pela força do colonizado” (Leal, 1991: 31).
4) A Redefinição da Divisão
Internacional do Trabalho
No Pós Segunda Guerra Mundial a
economia gomífera foi reativada em
função do interesse norte-americano
pelo produto;
Acordos de Washington previam o
fornecimento de minérios e borracha
aos Estados Unidos pelo Brasil.
A Batalha da Borracha
“A diferença era que agora, ao invés de o
aliciamento ser feito pelos prepostas dos donos dos seringais, era patrocinado pelo SEMTA – o
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia – cujos cartazes prometiam a
esses desamparados a passagem, em equipamento de viagem, alimentação, “um bom
contrato”,”amparo à família” e assistência médica e religiosa. Esse engodo cruel garantiu o êxodo de aproximadamente 55 mil nordestinos, que foram largados nos seringais para nunca voltarem.
Eram transportados como gado, em veículos de carga ou na terceira classe dos navios. Ao
chegarem à Belém ou Manaus eram despejados em hospedarias especialmente construídas para esse fim [...] fora dos limites urbanos e nas quais as condições de vida eram sofríveis.[...] Ali eram
mantidos concentrados em regime de quarentena [...] durante o qual recebiam como (único)
Entregues às mãos dos patrões [...] cuja
vontade era lei [...] passavam a enfrentar a
mesma impiedosa estrutura de poder que
vinha do período gomífero, sendo tratados
segundo o código de comportamento do
seringal, que os via como meros
delinquentes removidos para um lugar em
que deveriam ser obrigados a trabalhar.
Para isso contribuía o próprio SEMTA, que já
os retratava como indivíduos embrutecidos:
um suiço, Pierre Chabloz, artista plástico
contratado por ele para criar os cartazes
de propaganda para a Batalha da Borracha,
resolveu classificá-los segundo um mapa de
biótipos – um primor de racismo e
preconceito, editado como cartilha – que
apresentava a maioria deles como
As ações institucionais
Criação em 1953 da Superintendência do
Plano de Valorização Econômica da
Amazônia – SPVEA, transformada em 1966
em Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia – SUDAM. No governo de FHC
a SUDAM foi transformada em Agência de
Desenvolvimento da Amazônia – ADA e
A ditadura militar
Sobretudo a partir da ditadura militar, o
Estado brasileiro criou as condições
institucionais para a internacionalização do
capital, através do aproveitamento dos
recursos naturais da Amazônia pela via dos
grandes projetos, demarcando um novo
Os Grandes Projetos
Dentre as intervenções contemporâneas,
destaca-se, a partir da década de 1970 do presente século, a implantação de grandes projetos
mínero-industriais. Apesar dos inúmeros estudos sobre este tipo de empreendimento, estudos estes que informam sobre seus efeitos nefastos, estes
empreendimentos do grande capital (e de grande capital), continuam a ser priorizados, numa
retomada permanente do discurso
Saint-Simoniano de crença nos poderes da indústria como redentora da civilização (Ribeiro, 1992).
As Transnacionais
As empresas transnacionais aqui
instaladas, beneficiadas pelos incentivos
fiscais e outros benefícios deste período
de
desregulamentação, privatização
e
flexibilização
, organizam a produção de
matéria-prima a baixo custo (mão de obra
barata, energia subsidiada, infra-estrutura
oferecida pelo Estado, fiscalização
remetendo-a aos países hegemônicos, nos quais é processada e tornada mercadoria, alimentando, assim, o ciclo de produção e acumulação de
capital. Um mercado cartelizado controla todo esse ciclo produtivo, de acordo com seus
interesses, o que implica o controle dos preços das matérias primas. Assim, se quiserem gerar
divisas, os países retardatários terão que extrair e exportar, cada vez mais (e com maior prejuízo social e natural) os seus recursos naturais.
Efeitos dos Grandes Projetos
Os processos decorrentes da implantação na
Amazônia, de empreendimentos diversos, como
grandes projetos (especialmente os
mínero-metalúrgicos), grandes intervenções do poder
público (como rodovias e estradas federais e
estaduais), projetos agroexportadores (como
a monocultura da soja) etc., contribuíram,
dentre outros, para a expropriação do nativo,
que foi perdendo aquilo que lhe permite a
reprodução das suas condições materiais de
existência - a terra e os espaços da natureza.
Na área rural: Expropriação
A essa expropriação seguiu-se, para uma
expressiva parte deles, como única alternativa de sobrevivência, a migração, o que contribuiu, ao
lado de outros processos decorrentes da dinâmica das relações capitalistas na região, para, por
exemplo, a reconfiguração da rede urbana da Amazônia. Por um lado essa migração produziu uma alta concentração urbana nas capitais da
Região Norte como é o caso de Belém, capital do estado do Pará, que possui “um grau de
Na área urbana: Pauperização
Esse movimento rumo as grandes cidades
também se repetiu em relação as pequenas e médias, as quais apresentaram índices de
crescimento populacional superiores às capitais, concentrando então “
70% da população regional
” (idem: 25). Há que se refletir sobre o resultado desses processos na vida desses contingentes que, ao chegarem nestes centros urbanos,oriundos de uma outra realidade, não tem
garantido as mínimas condições de cidadania, no que a sua exclusão dos espaços e dos serviços de infra-estrutura, é apenas a parte mais visível do
O caso do Estado do Pará
O estado do Pará se destaca como aquele de onde
saem as mais expressivas contribuições à acumulação capitalista;
“Cerca de um terço do ouro produzido no Brasil vem
do Pará. No subsolo paraense encontram-se ainda 76% das reservas brasileiras de bauxita, 73% de cobre,
46% do minério de ferro e 27% do manganês. Entre os minerais não-metálicos estão 62% da gipsita, 53% do quartzo e 49% do caulim. A maior província mineral do planeta também está no Pará, na região da Serra dos Carajás (EMBRAPA, 1996, p. 5).
Crescimento Econômico
No ano de 2006 o Pará teve a maior taxa de
crescimento industrial brasileiro;
A exploração mineral é responsável pelo
crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB), que passou do 14 º lugar em 1996 para o 11º lugar em 2003;
A arrecadação do ICMS cresceu de 1,2 bilhões em
1994, para 2,8 bilhões em 2005;
A estimativa de investimentos no setor mineral no
A priorização do crescimento econômico,
com vistas à formação de um Superávit
Primário, aprofundou a precariedade e/ou
inexistência de políticas públicas, tanto na
área urbana, como na área rural,
contribuindo dessa forma para um processo
de empobrecimento generalizado da
população brasileira como um todo e da
população da Região Norte em particular.
A CVRD no Estado do Pará
No 1º semestre de 2006 a
CVRD
alcançou a produção de 129,7 milhões de
toneladas de ferro, o que representa 64%
da receita da empresa;
O faturamento da empresa no 1º semestre
de 2006 foi de 18,4 bilhões de dólares;
O crescimento da produção de alumínio foi
Crescimento Econômico não
significa Desenvolvimento Social
Posição do IDH Paraense – 20º lugar;
Posição do IDH Renda – 23º lugar;
Posição do IDH Educação – 17º lugar;
Taxa de Frequência escolar na área
rural:
Brasil – 22,5%
Norte – 13,5%
Pará – 8,9%
Indicadores Sociais
Evolução do IDH – Municipal do
estado do Pará (1991/2005)
A educação melhorou 14,8%;
A saúde melhorou 5,8%;
Evolução do IDH – M Renda dos
estados da Região
Norte(1991/2000)
Acre
5,4%;
Amapá 2,4%;
Amazonas
- 0,7%;
PARÁ 4,6%;
Rondônia
10,2%;
Roraima - 6,0%;
Tocantins
9,0%.
População Economicamente
Ativa - PEA
Norte – 6 928 229;
Pará – PEA/TOTAL 3 308 042;
Pará – PEA/OCUPADA 1182 026;
Pará – PEA/CARTEIRA ASSINADA 10%;
Não contribuição para a
Previdência Social
Brasil
53,3%;
Região Norte
68,4%;
Acre
70,0%;
Amapá
65,0%
Amazonas
63,3%;
PARÁ
71,3%
Rondônia
65,1%;
Roraima
63,2%;
Tocantins
70,1%.
As contradições presentes na
realidade regional
Os fenômenos que alimentam a mídia
nacional e internacional sobre a
Amazônia resultam das contradições
presentes neste universo particular, as
quais estão inequivocamente relacionadas
a acumulação capitalista mundial. À parte
o sensacionalismo, tem-se hoje , na
“
uma massiva desigualdade social –
expressa no empobrecimento de sua
população; uma reincidente agressão à
natureza – expressa nos
desmatamentos, nas queimadas e na
poluição dos rios; um recorde de
violência na área rural – em
decorrência dos inúmeros conflitos
pela posse da terra;
um explosivo adensamento populacional
dos centros urbanos – sem que uma
correspondente infra-estrutura de bens
e serviços fosse instalada; uma
permanente ameaça aos grupos indígenas
e às comunidades tradicionais em geral
– territorialmente e culturalmente
expropriados; uma impune biopirataria –
que atualiza o saque colonial à
um lucrativo narcotráfico – que na ausência do poder público prolifera, inclusive como
alternativa econômica à pequena produção agrícola; uma crescente prostituição infanto-juvenil e adulta – que condena gerações; uma criminosa presença do trabalho escravo e do trabalho infantil – de que a Amazônia, e
especialmente o estado do Pará, são campeões, isso para ficar apenas nos fenômenos mais
divulgados pelos meios de comunicação” (Nascimento, 2006:11).
Demandas ao Serviço Social
O movimento do capital, em nível mundial,
mediatizado pela particular inserção da
Amazônia no contexto da acumulação
capitalista contemporânea, produz, assim, um
conjunto de novas seqüelas que chegam, por
exemplo, aos profissionais de Serviço Social,
tanto na área urbana, como na área rural,
como demandas de uma população cada vez
mais empobrecida, colocando em destaque a
centralidade da chamada “questão social”.
A “questão social”
Tomando por base a constituição da “questão
social” nos marcos do capitalismo, o que refuta
qualquer tipo de naturalização
,
consideramos
que ela deve ser apreendida não apenas nas
suas expressões universais, as quais se
revelam tão complexas no estágio atual do
capitalismo dos monopólios, mas também em
suas expressões particulares, no que o estudo
da realidade amazônica se coloca como uma
Uma leitura de TOTALIDADE
Dada a complexidade das questões
presentes nesse universo particular que é a
Amazônia, sua apreensão imprescinde de
uma leitura da realidade como
TOTALIDADE social. Esta posição
diferencia-se, inequivocamente, tanto das
análises conservadoras, como daquelas que,
pretensamente críticas, acabam por