Tipos de Resistência e sua
Fenomenologia
Resumo da Aula:
Nesta aula trataremos da resistência ao avanço de embarcações, focando-nos nos seguintes tópicos:
• Resistência ao Avanço; • Resistência Friccional;
• Resistência de Pressão Viscosa; • Resistência de Ondas;
• Resistência Total;
• Métodos para estimativa da resistência ao avanço; • Emprego de Ensaios em Tanques de Provas; • Emprego de Métodos Simplificados;
Resistência ao Avanço:
• Resistência ao avanço é a força que se opõe ao movimento da embarcação;
•A resistência ao avanço é igual, em grandeza, à força exercida pelo propulsor a fim de manter a embarcação numa determinada velocidade;
•Mesmo uma embarcação se deslocando sobre mar calmo a uma velocidade baixa possui resistência ao avanço.
Resistência ao Avanço:
A resistência ao avanço possui diversas componentes. As principais são:
•Resistência Friccional; •Resistência de Ondas;
•Resistência de Pressão Viscosa;
A Resistência Friccional responde por mais da metade da
Resistência Total para cerca de 95% dos navios. Portanto, o estudo da resistência ao avanço é dividido em duas parcelas:
•Resistência Friccional;
Resistência ao Avanço:
Esteira rotacional
Ondas na superfície
Velocidade de avanço
As principais formas de resistência:
• Não existe um método único de se calcular a resistência ao avanço, devido a natureza de difícil compreensão do problema.
Porém, o modelo de maior aceitação (que será aqui utilizado) está representado abaixo:
As principais formas de resistência:
• Resistência Friccional: também chamada de resistência de atrito, corresponde à força de atrito exercida pelo fluido sobre a superfície molhada do casco. É devida à viscosidade da água e diretamente proporcional a área da Superfície Molhada do casco ( Sw ) . Em razão da origem viscosa do fenômeno, a magnitude da força
resistiva está ligada ao adimensional de Reynolds.
• Número de Reynolds: onde, é a viscosidade do fluido.
υ
V.L
μ
ρ.V.L
Re
υ
As principais formas de resistência:
• Resistência de Pressão Viscosa: é a resistência ligada a efeitos viscosos do fluido onde o casco está imerso e tem relação direta com a forma da embarcação. Os fenômenos que causam essa
resistência são produto da perda de pressão na popa em relação à proa da embarcação, e à formação de turbilhões resultantes do
As principais formas de resistência:
• Resistência de Ondas: corresponde à resistência que surge sobre o casco devido à geração do trem de ondas que se forma a ré da embarcação conforme ela se desloca.
Depende da geometria do
corpo e o parâmetro físico que a controla é o chamado número
de Froude.
• Número de Froude:
g.L
V
Fn
Resistência Friccional:
• Resistência Friccional:
corresponde à força de atrito exercida
pelo fluido sobre a superfície molhada do casco (Sw).
Para determinar a resistência friccional de um navio admite-se,
a princípio, a hipótese de que esta será igual à força exercida
sobre uma placa plana com área igual à da superfície molhada
do casco (Sw). Definimos então o coeficiente de resistência
friccional:
Onde representa a resistência friccional da placa plana.
V²
S
ρ
2
1
R
C
w f0 f0
f0R
Resistência Friccional:
• Resistência Friccional: o varia de acordo com o escoamento sobre a placa: laminar ou turbulento. A figura abaixo nos mostra a relação coeficiente friccional vs. número de Reynolds. A linha de
Blasius refere-se ao regime laminar. Porém, para navios, estamos
interessados no regime turbulento. Regime este, representado (para uma placa plana) pela linha de Schoenherr, na qual temos que: f0
C
10
n f0
f0 5 log R C C 0,242 É importante notar que na região de transição o
coeficiente de fricção é muito sensível a pequenas
Resistência Friccional: f0
C
10
n f0
f0 5 log R C C 0,242 ν L V Reynolds de Numero É importante notar que na
região de transição o
coeficiente de fricção é muito
sensível a pequenas
Resistência Friccional:
• Resistência Friccional: obviamente que uma estimativa de
resistência friccional baseada exclusivamente no modelo de placa plana equivalente não é precisa, pois, há influência da forma do casco na resistência por atrito. A velocidade do escoamento em cada ponto do casco difere da velocidade de avanço V: próximo à proa e à popa do navio, a velocidade do fluxo tende a ser menor do que V, enquanto que na região central a velocidade tende a ser
maior do que V. Além disso, o “descolamento” da camada limite acaba por influenciar na resistência friccional da embarcação.
Resistência Friccional:
• Resistência Friccional: Para garantir uma estimativa mais precisa da resistência friccional, a ITTC-1957 estipulou a seguinte linha de
correlação para o cálculo da resistência friccional:
log R 2
² 0,075 V² S ρ 2 1 R C n 10 w f f • Resistência de Pressão Viscosa: A parte (a) da figura indica como seria a distribuição de pressão sobre o corpo, caso o líquido fosse invíscido. Em (b), é representado as linhas de correntes do escoamento. Devido à velocidades
mais baixas do escoamento na proa e popa do corpo, observamos uma
pressão positiva (+). Na região média do casco, devido ao aumento de
velocidade, observamos pressão negativa (-). E, devido a simetria observada, obtemos o gráfico da pressão no corpo em (a).
• Resistência de Pressão Viscosa: Em presença de um líquido real,
observamos o aparecimento da
camada limite, (c). As partículas fluidas junto ao casco possuem velocidade
nula. Velocidade essa que aumenta gradualmente com a distância ao
corpo. Devido a variações abruptas na forma do casco, pode haver o
“descolamento” da camada limite, levando a formação de turbilhões a
jusante (estereira), (d). A energia gasta na formação de turbilhões é sentida na forma de resistência ao avanço.
• Conhecida por resistência de geração de vórtices.
Resistência de Pressão Viscosa:
• a variação de
velocidade na camada limite é a responsável pelo atrito
experimentado pelo corpo, dando origem a uma parcela da
• Resistência de Pressão Viscosa:
A presença da camada-limite,
seu descolamento e a esteira que se forma à jusante do corpo
acabam por afetar o campo de velocidades na região de popa e,
conseqüentemente, o campo de pressão. A redução da pressão
na região de popa, que assim deixa de contrabalançar a região
de pressão positiva na proa acaba por induzir uma força de
resistência.
Resistência de Pressão Viscosa:
Observações sobre a ocorrência de rodamoinhos:
•Necessita haver uma curvatura;
•Tem que haver a diferença de pressão;
•Teoricamente não haveria arrasto, pois a pressão a ré “recuperaria” a pressão da entrada do fólio;
•Enquanto há contato com a água e, a medida que velocidade aumenta, aumenta-se a formação de espuma, respingos,
ondas e, em menor intensidade, rodamoinhos. Portanto, para uma melhor observação dos rodamoinhos é utilizado uma
Bola de golfe:
• Em regime turbulento, a resistência de pressão é menor do que em regime laminar, devido a natureza do fluxo. Uma maneira utilizada para diminuir a resistência de pressão viscosa é
aumentar a rugosidade do corpo (como o caso das bolas de golfe). Dessa
maneira, a pressão sobre o corpo diminui, fazendo com que o ponto de descolamento da camada limite ocorra mais à ré, diminuindo assim a
resistência devido a formação de turbilhões.
• O fator de forma de navios é da ordem de 1,5
Resistência de Pressão Viscosa:
• O fator de forma k, entra no cálculo da resistência, na forma de:
C
V
C
F
1
k
• Resistência de Ondas: a geração de ondas está associada às variações do campo de pressão do fluido. Por serem regiões onde a pressão varia de forma mais abrupta, a proa e a popa contribuem significativamente com a geração de ondas. Na figura seguinte,
temos um casco de Wigley, no qual são mostrados 5 diferentes
sistemas de ondas gerados pelo movimento do casco. Observa-se a formação de um sistema primário, que corresponde a elevações da superfície da água nas regiões de pressão mais alta e uma
depressão na região de pressão mais baixa. E formação de um
sistema secundário referente a
o trem de ondas presente à ré de
uma embarcação em movimento.
Bola Jabulani:
• A Figura ao lado mostra a perturbação causada pela Jabulani, e a
perturbação causada por uma bola convencional.
• A diminuição do número de gomos na Jabulani, aproxima-a de um corpo liso. Assim, nota-se a presença do
descolamento da camada limite mais a vante do corpo, do que comparado
com a bola convencional.
• A Jabulani entra em crise mais rápido do que a bola convencional.
Resistência de Ondas: Experiência de Wigley: Sistema primário: Elevações da superfície da água nas regiões de pressão mais alta (cristas na popa e proa) e depressão nas mais baixas (corpo médio). Sistema secundário: Formação do trem de ondas característico à ré de uma embarcação em movimento: um conjunto paralelo à direção do movimento (ondas transversais), outro de ondas divergentes (em forma de “V”).
• Resistência de Ondas: o
comprimento da onda no sistema primário independe da velocidade (onda acompanha o casco).
• O trem de ondas resultante do
sistema secundário é composto por um conjunto de ondas que se
propaga paralelamente à direção do movimento (ondas transversais) e um conjunto de ondas divergente, que se afasta do navio (em forma de “V”). • Figuras ao lado ilustram a situação.
• Resistência de Ondas: o comprimento de onda varia
diretamente com o quadrado da velocidade (V²).
• Além disso, as oscilações das amplitudes de onda resultante aumenta em interferências
construtivas e, diminui, em caso de interferências destrutivas (fato
observado na figura ao lado). • Coeficiente de Resistência de Ondas é: Resistência de Ondas:
V²
S
ρ
2
1
R
C
w w w
Resistência de Ondas:
• Resistência de Ondas: as
oscilações podem ser observadas no gráfico ao lado de , além de suas contribuições transversais (paralelas) e divergentes ( em V).
• Nota-se o abrupto aumento da
resistência de ondas em torno de
. Nesta faixa, para se ter
um pequeno aumento de
velocidade, é necessário um
grande aumento de potência do
motor.
n wxF
C
0,40
F
n
A relação de dispersão das ondas no mar: quanto mais comprida mais rápida
Águas Profundas
• A velocidade da onda cresce na proporção da raiz quadrada do seu comprimento em aguas profundas ; c=1,24*raiz(lambda) h 100 Lambda(m) k (m-1) kh tanhh(kh) 1.00 6.28 628.32 1.00 10.00 0.63 62.83 1.00 100.00 0.06 6.28 1.00 1000.00 0.01 0.63 0.56 10000.00 0.00 0.06 0.06
Incidência de onda de diferentes tipos de comprimentos propagando-se a mesma velocidade do navio em águas profundas
Condição de serviço: V=15nós Fn=0,16 Condição de serviço: V=20nós Fn=0,20 Condição de serviço: V=25nós Fn=0,26
Exemplo de um navio Panamax:
Condição de serviço: V=30nós Fn=0,31 Condição de serviço: V=35nós Fn=0,36
• Na condição de 35 nós (18m/s) e Fn=0,36 o navio Panamax do exemplo aparece “escalando a onda” e seu gasto de combustível será alto.
• Com essa condição de operação, o mais sensato é tirar a embarcação da água
Exemplo de um navio Panamax:
L = 250m ; B=32m ; T = 12m ; Cb = 0,89
Incidência de onda de diferentes tipos de comprimentos propagando-se a mesma velocidade do navio em águas profundas
Embarcações de Planeio Características: V=12nós L=20 pés (5,7m) Fn=0,83 Características: V=60nós L=118 pés (36m) Fn=1,64
• Comumente uma embarcação de planeio apresenta número de Froude Fn entre: 0,5 < Fn < 0,9 • Contudo nada impede que a embarcação tenha Froude >1, como pode ser visto em uma das
Resistência Total:
• Para embarcações usuais, as componentes de resistência
friccional, viscosa e devida à geração de ondas respondem pela maior parte da resistência hidrodinâmica.
• Outras componentes existem e também contribuem com uma parcela de força. Dentre essas, uma das mais importantes é a resistência imposta pelo ar e que pode chegar a 10% da
resistência total para navios de formas usuais.
• A força aerodinâmica total é bastante variável e dependerá das condições de vento enfrentadas pelo navio ao longo do curso.
• As parcelas discutidas se referem ao deslocamento em águas calmas. No entanto, a correnteza marítima e as ondas do mar também afetam a resistência hidrodinâmica da embarcação.
Resistência Total:
• A figura ao lado nos da a relação entre as componentes da
resistência em duas condições de
velocidade de avanço.
• Podemos notar que a parcela da resistência devida ao ar é ínfima em velocidades baixas, porém, em altas velocidades, pode chegar a 10% do total.
Métodos para Estimativa da Resistência ao Avanço: Emprego de Métodos Simplificados:
Nas etapas iniciais de projeto, estimativas preliminares de resistência devem ser realizadas, a partir de procedimentos empíricos, tais como:
• Séries Sistemáticas: A partir de um modelo base, tem-se uma série de modelos com a variação de parâmetros geométricos (L/B, B/T, Cp, Cb; Exemplos de Séries: Taylor, série 60, SSPA.
• Regressões: Baseadas em regressões estatísticas para um
grande número de resultados para diferente navios(Ex: Lap-Keller, Holtrop-Mennen, Hollenback); Fornecem estimativas grosseiras; Fácil implementação em CAD/CAM.
• Navios semelhantes: Comparação feita com navio semelhante oferece boas estimativas iniciais; Quanto mais próximos os
Métodos para Estimativa da Resistência ao Avanço: Emprego de Ensaios em Tanques de Provas:
Métodos para Estimativa da Resistência ao Avanço: Emprego de Ensaios em Tanques de Provas:
Quando as formas do casco já estão mais consolidadas, parte-se para os ensaios com modelos em tanques de provas. O modelo em escala reduzida mantém semelhança geométrica com o casco real e é rebocado em diferentes velocidades.
Métodos para Estimativa da Resistência ao Avanço: Emprego de Ensaios em Tanques de Provas:
O uso de ensaios em tanque de provas tem um custo alto, por isso o projeto de um navio não parte de simulações em tanque de provas, somente depois de determinado as características principais da
embarcação.
Ensaios em tanques de provas é, hoje em dia, a maneira mais precisa de se determinar a resistência ao avanço de uma embarcação.
Os ensaios de reboque fornecem a resistência total do modelo ( ). A partir dele e da velocidade ( ), do número de Reynolds ( ), do coeficiente de forma do casco (k) em que foi realizado o ensaio,
podemos calcular pelo método da ITTC-78 os demais coeficientes necessários para obter a resistência total do navio em escala real.
R
mtRnm Vm
Métodos para Estimativa da Resistência ao Avanço: Método de Cálculo da ITTC-78:
Ensaios de Reboque V m Resistência total: RTm Coeficiente de Resistência total: CTm Coeficiente de Resistência de Ondas: CWm ITTC-57 com Rnm Coeficiente de Resistência total: CTr (aerodinâmica) (rugosidade do casco) ITTC-57 com Rnr Resistência Total
Estimação da Potência Requerida:
• Pra que calcular a Resistência ao Avanço?
A partir do cálculo da resistência ao avanço (Rt), a uma
determinada velocidade (V), pode-se determinar a potência
necessária para o deslocamento do navio ( a essa velocidade ):
onde, EHP é a potência efetiva. Essa potência equivale à
potência necessária para rebocar o navio ( sem apêndices ) a essa velocidade de avanço.
• A potência instalada deverá ser maior do que a efetiva devido a perdas de potência associadas ao propulsor, à transmissão e ao próprio motor.
V
R
Frases feitas:
• “Só sei que nada sei”
Sócrates • “O homem é o lobo do homem”
Thomas Hobbes
• “Dei uma guinada de 360o” Adriana Galisteu