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O CRESCIMENTO URBANO E A ESTRUTURA SOCIAL URBANA NA AMÉRICA LATINA, 1930 1990. História da América Latina, a América Latina após 1930.

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Copyright O 1994 by Cambridge University Press

Titulo do original em inglês:

The Cambridge History of Lalin América vol. VI

Ficha catolográfiea elaborada pelo Departamento Técnico do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP

História da América Latina: a América Latina após 1930: Economia e Sociedade / organização Lcslie Bethell;

tradução Geraldo Gerson de Souza. — Sâo Paulo: Editora da Universidade de Silo Paulo: Llrasilia, DF:

Fundação Alexandre de Gusmão, 2005.

560 p.: 15x23 cm.

Título original: The Cambridge History of Lalin America vol. VI, c 1994.

Incluí bibliografia c índice remissivo.

ISBN S5-314-0853-9

I. História Latinoamericana. 2. Economia (América Latina). 3. Sociedade (América Latina). I. Bethell,

Lcslie. II. Souza, Geraldo Gerson de. III.Titulo. j.V Titulo: A América Latina depois de 1930. VTitulo:

Economia e Sociedade.

C D D 9 8 0

Direitos cm língua portuguesa reservados à Etlusp - Editora tlii Universidiide de Silo Paulo

Av. Vrof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374 6" andar - Ed. da Antiga Reitoria - Cidade Universitária 05508-900 - Sio Paulo - SP - Brasil - Fax (Oxx 11) 3(191 -4151 Tel, (0xs| 1)3818.4008/3818-4150

\vww.usp,br/cdusp - email: cdusp@cdu.usp.br Primed in Brasil 2005

(2)

Ü)

I O CRESCIMENTO URBANO

§ E A ESTRUTURA SOCIAL URBANA

< NA AMÉRICA LATINA, 1 9 3 0 - 1 9 9 0

ESTE C A P Í T U L O ANALISA as mudanças na estrutura social urbana e, de modo especial, aquelas na estrutura ocupacional, ocorridas na América Latina da década de 30 à de 80, as quais resultaram da conjugação de três pro* cessos: a grande urbanização, a industrialização em seus diferentes estágios e a progressiva importância, nas economias latino-americanas, do setor de ser-viços, tanto dos tradicionais quanto dos modernos associados à expansão da burocracia do governo e às práticas empresariais do século XX (técnicos, financeiros e administrativos). NOS países desenvolvidos, os processos seme-lhantes produziram uma convergêhcia das estruturas sociais: a expansão das classes médias, a consolidação tlfe tlma classe trabalhadora industrial e a melhoria do bem-estar geral da pbptilação. No caso da Aniérita Latina, houve uma maior heterogeneidade nos padrões de estratificação. Sua dependência da tecnologia estrangeira e, em gtáíl crescente, de financiamentos externos, aliada ao papel que a região desempenhava na economia mundial como for-necedora de produtos primários portanto, de base rural, resultou numa modernização irregular, tanto entre os países quanto entrej-egiões do mesmo país. Este capitulo pretende ressaltar essas diferenças e a necessidade de con-ceder atenção à situação específica de cada país.

No tocante à estratificação social, havia na América-Latina uma relação contraditória entre o crescimento urbano, o desenvolvimento econômico e a modernização. As cidades multiplicavam-se e concentravam os recursos eco-nômicos. O crescimento industrial estimulava a elevação dos níveis de educa-ção, a proletarização da força de trabalho e também a expansão dos setores de trabalhadores nâo-manuais. Por outro lado, esse mesmo crescimento urbano trazia consigo uma acentuada polarização da estrutura social, tanto em termos de renda quanto no tocante às condições de trabalho, como o mostra a persis-tência de formas n a o - a s s a l a r i a d a s de trabalho (trabalhadores por conta própria e membros da família n a o - r e m u n e r a d o s ) e uma distribuição de renda forte-mente distorcida. No final do século XX, tal como havia ocorrido no começo do

(3)

século, as cidades latino-americanas eram cenários de extrema desigualdade, social. A opulência coexistia com a pobreza de enormes setores da população. , As mudanças socioeconómicas e políticas ocorridas na região modifica-ram radicalmente a estratificação social urbana. Alguns atores sociais - como, por exemplo, os profissionais e os artesãos - perderam importância. Outros se tornaram mais fortes, como, por exemplo, os trabalhadores da indústria e do setor de serviços. Novos atores apareceram em cena, como a classe média assalariada dependente do Estado e da empresa privada. Com essas mudan-ças, as bases para a formação das identidades coletivas alteraram-se, assim como as raízes sociais da política urbana,

Para captar a heterogeneidade dessas mudanças na América Latina, usa-mos principalmente dados de seis países: Argentina, Brasil, Colômbia, Chile, México e Peru, os quais constituíam, em 1980,85 por cento da população lati-no-americana. Para ressaltar o contraste entre os modelos de urbanização, examinaremos a diferença entre sua classe média e sua classe trabalhadora, mostraremos as mudanças ocorridas no papel das mulheres no mercado de trabalho e analisaremos as implicações desses processos na mobilidade e na desigualdade sociais.

Com o objetivo de destacar as transformações ocorridas na organização urbana entre 1930 e 1990, dividimos ^s tendências em três etapas, embora, na verdade, este tenha sido um períodp'^ie mudanças relativamente contínuas. Além disso, as três etapas se superpõ£j|j, e os países da América Latina se dife-renciam na cronologia das etapas e nj} ^jau com que foram afetados pelas ten-dências dominantes do período. A p^jj^eira etapa, que começou na década de 30 e chegou a seu término no início çj^ònos 60, foi a fase da expansão e con-solidação dos centros industriais. Nesse período, houve uma forte onda de crescimento industrial com base na substituição das importações de produtos básicos de consumo: têxteis, alimentos e bebidas, sapatos. O crescimento urbano alcançou níveis elevados e a migração do campo para a zona urbana foi intensa, As atividades industriais, que se

ampliaram, faziam

uso

intensivo

da força de trabalho.

A segunda etapa começou no final da década de 50 e caracterizou-se por uma acentuada internacionalização das economias urbanas e por uma nova fase de industrialização (bem como pela modernização da agricultura e estag-nação do setor camponês). O período de substituição das importações dos produtos básicos de consumo começou a esgotar-se, e os investimentos con-centraram-se nas indústrias de bens intermediários e de capital. A tecnologia

(4)

de que essas indústrias necessitavam era cara e muitas vezes só se podia obtê-la por meio da associação com empresas estrangeiras. Essa nova etapa da industrialização usava mais capital do que trabalho, acarretando unifies com empresas multinacionais. Esse deslocamento de ênfase foi produzido, em parte, pelas mudanças ocorridas na organização da economia mundial, pelas quais as companhias multinacionais até então integradas fragmentaram os mercados nacionais e buscaram novos mercados para seus produtos nos pai» ses em desenvolvimento.

Finalmente, no período que decorre entre a década de 70 e a de 90, as eco-nomias latino-americanas tornaram-se sumamente dependentes dos finan« ciamentos externos, apoiando-se cada vez mais nos serviços

modernos

para

a

geração de emprego e de receita, e voltaram-se para a produção de bens industriais para exportação. Além disso, a década de 80 foram anos de crlàe econômica para a América Latina, que resultaram numa abrupta interrupção da modernização de determinados setores das economias urbanas. A crise teve conseqüências negativas para a renda per capita e para o emprego. Estas, junto com uma taxa elevada de inflação e a inadequada prestação de serviços sociais, contribuíram para uma acentuada deterioração do padrão de vida da população da região. A crise tomou uma forma urbana. A suspensão de sub-sídios urbanos de várias espécies e a redução generalizada dos

gastos

públicos acarretaram a deterioração da infra-estrutura e dos serviços urbanos e aumentaram os problemas ambientais. Além disso, os problemas sociais tor-naram-se mais evidentes. Na década de 80, muitas cidades da América Latina eram lugares de grande inquietação, com alto índice de violência urbana, fre-qüentes protestos contra a alta dos preços e muitos atos de pilhagem. Era visí-vel a exclusão social e econômica - dos mendigos aos vendedores ambulantes. Fora dessas conseqüências imediatas, a crise acentuou o relativo fracasso da mobilidade social, tão evidente nas décadas de 60 e 70, baseada em melhorias do consumo e do estilo de vida resultantes do crescimento econômico, e ele-vado índice de mobilidade ocupacional dos empregos agrícolas aos não-agrí-colas e dos trabalhos manuais aos não-manuais1.

1. Cf. J, DURSTON, "Transíción estructural, movilidad ocupacional y crisis soei»!

gn América

Latina, 1960-1983", Documento de Trabajo, LC/R.547. Reproduzido

em Cspli

(5)

O CRESCIMENTO URBANO

Em 1930, a América Latina continuava sendo uma região predominante-mente rural, tanto em termos do local de residência de sua população quan-to no que se refere à atividade econômica. As grandes cidades, com poucas

exeeções,

dependiam de seus vínculos com o setor agrícola. Algumas delas, semO) por exemplo, Buenos Aires, São Paulo ou Medellín, prosperavam gra-ç a s às atividades de comércio e de transporte associadas às exportagra-ções de produtos da agricultura. Outras eram, principalmente, centros administrati-vos e comerciais regionais onde os proprietários rurais tinham suas

residên-cias

prlndpals e cujas atividades econômicas estavam ligadas, especialmente, à èCôhôrrtia e à população rurais. As diferenças nacionais nos sistemas urba-nos eram enormes, visto que os países diferiam consideravelmente em área, em população e no nível de desenvolvimento econômico. Essas diferenças, aliadas à natureza do comércio externo dos países, já haviam produzido for-tes contrasfor-tes entre, por exemplo, Buenos Aires ou São Paulo, açodadas com os migrantes europeus e a riqueza produzida pela economia de exportação, Lima ou Cidade do México, cuja fase de grande crescimento populacional estava apenas começando e seria baseado na migração interna, e as capitais muito menores da América Central, todas elas num patamar abaixo dos cem mil habitantes em 1930.

Nas décadas de 30 e 40, tiveram início na região as mudanças fundamen-tais na distribuição espacial da população. Graças à exportação de matérias-primas c à importação de produtos manufaturados, a América Latina conti-nuava vinculada à economia mundial, conquanto, agora, de forma menos firme. A depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial estimularam a indus-trialização para substituição de importações. Junto com a modernização da agricultura, essa industrialização deu origem a grande urbanização, por força da migração do campo para a cidade, que começou, em maior escala, na déca-da de 40.

A expansSo urbana da América Latina foi maior do que a do mundo industrial adiantado em seu período comparável de crescimento. Por exem-plo, no século XIX, a Inglaterra passou por um período de "explosão"

urba-na. Mesmo assim, em nenhuma década desse século, a taxa de crescimento urbane paggeu de 2,5 por cento, ao passo que, na América Latina, ela alcan-çou quase O dobro desse número durante todo o período de 1940-1960, che-gando a seus maiores níveis na década de 50 (4,6 por cento) (cf. Apêndice

(6)

I)2. Em 1940, apenas 37,7 por cento da população dos seis países que esta-mos analisando viviam em zonas urbanas, e muitas destas eram pouco mais que vilas que serviam de centros administrativos de uma zona rural. Em contraste, esse número aumentou para 69,4 por cento em 1980. Em 1940, a estrutura urbana estava extremamente polarizada: as cidades de pequeno e médio porte concentravam 53,5 por cento da população urbana, ao passo que nos centros metropolitanos viviam apenas 35 por cento. Em 1980, a dis-tribuição da população urbana se havia diversificado: embora a concentra-ção metropolitana persistisse, o peso relativo das cidades médias aumentou em detrimento das pequenas, e o sistema urbano da América Latina conti-nuou fortemente desequilibrado3.

Durante todo o período, o crescimento das cidades pequenas (cf. Tabela 5.1) foi menor do que o das médias e grandes e pouco diferente da taxa global de crescimento demográfico, sugerindo que grande parte da migração do campo para a cidade evitou os lugdítís urbanos menores e dirigiu-se direta-mente para as grandes cidades. Atjiieías que, nos meados da década de 80, eram classificadas como centros tíiettopolitanos cresceram ènormemente entre 1940 e 1980. Até a década 197Ò-Í980, sua taxa de crescimento foi mais alta do que a da população urband. hío final da década de 80, porém, houve uma redução da primazia urbana nesses países4.

2. A concentração populacional nas metrópoles atingiu seu ponto alto no começo da década

de 50, chegando a 40,6 por cento da população urbana em 1950, a 39,5 por cento em 1960

e a 39,4 por cento em 1970.

3. Segundo os números apresentados pela ONU para os diversos países latino-americanos, a

mlgraçfio Interna e a reclassificação dos distritos de rurais para urbanos contribuiu com algo

entre trinta e cinqüenta por cento para a expansão urbana no período de 1950 a 1975;

United Nations,

Patterns of Urban and Rural Population Growth,

New York, 1980,Table 11. É

possível que a reclassificação de distritos de rurais para urbanos pouco tenha contribuído

para e expansão nas zonas urbanas definidas pelos censos nacionais, porque essa definição

de urbano inclui requisitos administrativos, e n5o simplesmente o tamanho da população.

4. Cf.

ALEJANDRO PORTES,

"Latin American Urbanization During the Years of the Crisis",

Latin

American Rtsearch Review,

24(3); 7-49,1989, A primazia urbana

é

medida, usualmente, pelo

quociente da divisão entre a população da maior cidade de um sistema urbano pela

segun-da maior ou pelas duas maiores seguintes. Os sistemas urbanos tém alta primazia

(7)

T A B E L A 5 . 1 / D I S T R I B U I Ç Ã O D A P O P U L A Ç Ã O E S E U C R E S C I M E N T O N A A M É R I C A L A T I N A , 1 9 4 0 - 1 9 8 0 ( C O M B A S E E M S E I S P A Í S E S )

Tamanho do local

Distribuição da

população cm 1940

%

Distribuição da

população em 1980

%

Taxa anual dc

crescimento de 1940-1980

%

Rural

62,6

30,5

0,08

Urbano"

37,4

69,5

4,1

Em cidades pequenas'

1

20,0

23.5

3,0

Em cidades médias

c

4,3

19,0

6,3

Em metrópoles

1

'

13,1

27,2

4,4

Total %

100,0

100,0

Total da população

(95,7)

(268,3)

2,6

Notas: a

A definição de

urbana

segue a classificação do censo de cada pais, usualmente centros

administrati-vos e locais com mais de dois mil habitantes.

b

Cidades pequenas são lugares urbanos de menos de cem mil habitantes.

c

Cidades médias estão entre cem mil habitantes e as metrópoles.

<* Definem-se metrópoles como aquelas cidades que tinham mais de dois milhões de habitantes em 1985.

Fonte: Estimativas feitas a partir dos melhores Censos de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, relacionados no Apêndice 1 a este capitulo.

As cidades médias apresentaypm a taxa mais elevada de crescimento de todo o período, crescendo muitq piais do que as cidades pequenas e os gran-des centros metropolitanos. No j^tfinto, essas taxas de crescimento das cida-des médias foram conseqüência," ^fp parte, do maior número delas, uma vez que as cidades pequenas crescq^jp e passaram à categoria de média5. Às vezes, a taxa de aumento das cidades médias era, individualmente, mais baixa do que a dos centros metropolitanos. No México, as cidades com mais de cem

urbana se a maior cidade é duas ou mais vexes maior do que a que se lhe segue

imediata-mente. Os números preliminares referentes a 1990 com relação ao México indicam que a

Cidade do México é cinco vezes maior do que Guadalajara, a segunda cidade do país, em

q comparação com 1980, quando era seis vezes maior.

§ 5. A ONU estima que quinze por cento do crescimento das cidades com mais de 250 mil

habi-u

o tantes se devia à passagem para uma classificação acima entre 1970-1975: United Nations,

* Patterns...,

table 21.

(8)

mil habitantes em 1980 apresentaram uma taxa de crescimento de 4,1 por cento ao ano entre 1940 e 1950,4,2 entre 1950 e 1960,4,6 entre 1960 e 1970 e 4,1 entre 1970 e 1980. Em contrapartida, os centros metropolitanos (Cidade do México, Guadalajara, Monterrey) cresceram nas mesmas décadas, respec-tivamente, 5,2, 5,3 e 4,3 por cento6. Parece que os altos índices de crescimen-to das maiores cidades mexicanas não se sustentaram no período 1980-1990) porquanto os dados preliminares do censo de 1990 mostraram um cresci-mento dos centros metropolitanos inferior ao de muitas cidades médias.

Essa expansão das cidades médias foi associada à

maior especialização

urbana suscitada pelas novas fases da industrialização. Na década de 70, devi-do à maior complexidade da estrutura industrial,

com a produção de bens

intermediários e de capital, as novas fábricas passaram a localizar-se fora das

grandes cidades. Por exemplo, as grandes usinas siderúrgicas do

Brasil

e

do

México foram instaladas em cidades secundárias. A indústria

automobilística

e a engenharia pesada também se localizaram fora dos centros

metropolita-nos: Córdoba na Argentina; Puebla, Toluca e Saltillo no México.

Duas outras tendências reforçaram essa dispersão das atividades indus-triais. Primeiro, na América Latina, tal como havia ocorrido nos países indus* triais adiantados, as funções administrativas foram separadas das produtivas. Os escritórios de administração localizaram-se nas grandes cidades onde se dispunha de serviços modernos, ao passo que as instalações industriais foram localizadas onde a terra era barata e eram oferecidos infra-estrutura adequa-da e subsídios. Na décaadequa-da de 80, a maior ênfase adequa-daadequa-da, em determinados países, às indústrias voltadas para a exportação contribuiu mais ainda para essa dis-persão, porque as fábricas que produziam para o mercado externo tinham poucos estímulos para localizar-se perto dos principais mercados internos. Outro fenômeno que fortaleceu essa tendência foram as políticas, adotadas por algumas empresas multinacionais, de localizar-se em áreas de baixo custo. \ indústria automobilística e as fábricas de autopeças do México começaram

GUSTAVO GARZA e Departamento dei Distrito Federal,

Atlas de la Çiudad de México,

Ciudad de México, 1987, cuadro 4.2. As estimativas da ONU para o período

1 9 6 0 - 1 9 7 0

indicam que, comparando-se as mesmas cidades entre as datas dos censos, p eldivd«« ffistie=

res da região (acima de 250 mil habitantes) apresentaram maior çresdmente do que ftí

médias (cem mil a 250 mil habitantes): United Nations,

Palterns,,,,

table

17,

(9)

a transferir suas atividades para a região da fronteira setentrional e integra-ram-se mais estreitamente à produção norte-americana de veículos.

Esta mudança - a troca de uma concentração das atividades econômicas em alguns lugares urbanos por um sistema urbano mais diversificado e espe-cializado - aconteceu em toda a região. Não ocorreu, porém, com a mesma prefundidade em coda país, nem seguiu o mesmo modelo, e produziu alguns CQntrftíte» entre os sistemas urbanos e dentro deles. Houve "sucessos", na medida em que algumas cidades que, industrializando-se mais cedo e com base em mercados protegidos, logo se tornaram semelhantes, em sua organi-zação econômica e social, às cidades industriais dos países adiantados, Algumas delas, como, por exemplo, São Paulo, conservariam sua importância gràças à redução das tarifas sobre produtos industriais e ao aumento da inte-gração econômica em escala mundial. Já com outras, como Buenos Aires, por exemplo, o sucesso prematuro não garantiu uma transição suave para se transformarem em importantes centros industriais e de serviços no plano regional e internacional. Houve também "fracassos" relativos: centros provin-ciais e algumas capitais nacionais que nem se industrializaram nas primeiras fases nem conquistaram, nas fases posteriores, as funções econômicas espe-cializadas exigidas pela nova ordem econômica.

Uma comparação entre os seis países, no período de 1940 a 1980, mostra expressiva» diferenças entre eles nos níveis de urbanização e nas taxas de cres-cimento urbano (cf. Apêndice 1 a este capítulo). As diferenças mais importan-tes ocorrem entre aqueles países que, a partir de níveis elevados de urbaniza-ção, apresentaram taxas relativamente baixas de expansão urbana nessas quatro décadas, e aqueles que, partindo de um baixo nível de urbanização, mostraram, subseqüentemente, altas taxas de crescimento urbano. No pri-meiro grupo figuram a Argentina e o Chile, países que, na década de 40, eram os mais urbanizados, com 61,2 e 52 por cento, respectivamente, de sua popu-lação vivendo em zonas urbanas. As taxas de crescimento urbano desses dois países, entre 1940 e 1980, foram as mais baixas dos seis analisados. O Chile experimentou, na década de 50, uma taxa de crescimento urbano mais alta do que a da Argentina, apresentou índices acima de três por cento na década de 60 e taxas mais baixas na década de 70, alcançando o nível de urbanização da Argentina por volta de 1980, quando oitenta por cento da população de ambos os países viviam em zonas urbanas.

O Brasil, a Colômbia, o México e o Peru apresentaram, entre 1940 e 1980, as mais altas taxas de crescimento urbano. Na primeira década estudada, 30 e

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35 por cento de sua população viviam em zonas urbanas. Em 1980, essa pro-porção tinha aumentado para cerca de 65 por cento. Todavia, o período de maior expansão urbana variou de país para país: a década de 40, no México; a década de 50, na Colômbia e no Brasil, e a de 60 no Peru.

Embora essas diferenças de cronologia sejam importantes, igualmente agudos foram os contrastes entre os sistemas urbanos de cada país em parti-cular. A contribuição dos centros metropolitanos, das cidades médias e das cidades pequenas para o crescimento urbano mostrou diferenças acentuadas de um país para o outro. A geografia e o tamanho da população foram fatores que explicam por que o Brasil e o México foram os únicos países a ter, em 1985, mais de uma cidade com população superior a 2,5 milhões. Contudo, a proliferação de grandes cidades foi uma característica comum à maioria dos países da América Latina. Na Argentina, nessas quatro décadas, as cidades médias cresceram mais do que Buenos Aires e foi a capital portenha a única metrópole da região que perdeu ífttjportância relativa entre 1940 e 1980. No Peru, o predomínio de Lima se iilâttteve, mas se deve contrápor esse fato ao aumento de importância da cidatite hiédia. Na década de 40, ò Peru não tinha nenhuma cidade média, ao passd «ítífe, em 1980, oito cidades contavam mais de cem mil habitantes. O crescittiehto de cidades médias como Arequipa, Trujillo, Chiclayo, Chimbote e ííuállcayo foi acentuado e ocorreu às custas da9 cidades pequenas. A Colômbia, ijue, em 1940, tinha um número conside-rável de cidades médias, apresentou d maior queda de importância das peque-nas cidades. Nesse país, apesar dd jjrande crescimento de Bogotá, cidades médias como Medellín, Cali e BarraÜquilla concentravam a maior contingen-te de população urbana em 1980. í4o México, nesses anos, as cidades médias também apresentaram grande crescimento e proliferaram: de sete que havia em 1940, esse número subiu para cinqüenta em 1980, que~~concentravam trin-ta por cento da população urbana.

Em 1980, o Chile e o Brasil tinham os sistemas urbanos mais polarizados, mas por razões diferentes. No Chile, a população esparsa na maioria das regiOes constituía uma base insuficiente para um crescimento das cidades médias que pudesse compensar a concentração de população no vale central, em Santiago e no porto de Valparaíso. No Brasil, o número de cidades médias cresceu bastante, mas esse aumento não foi suficiente para equilibrar a con-centração populacional inicial nas cidades pequenas e o grande crescimento de seus seis centros metropolitanos; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.

(11)

Esses contrastes se baseavam nas diferenças existentes na organização regio-nal de cada país e no modelo de modernização agríeola. A Colômbia e o Pern-os países que apresentavam um declínio relativo mais acentuado da cidade pequena - exibiam, na década de 40, uma estrutura agrária predominantemen-te camponesa. Mesmo uma grande parpredominantemen-te da população urbana desses países vivia em cidades pequenas em estreita ligação com a agricultura e a produção artesanal. A estagnação das economias camponesas desses países, junto com a debilidade da economia local, resultou em grandes fluxos migratórios para cen-tros urbanos regionais, sem que fosse necessário qualquer atrativo do desenvol-vimento econômico urbano. No Brasil, a persistente polarização do sistema urbano foi causada pela heterogeneidade de sua estrutura regional: no Nordeste, a queda da produção agrícola (tanto das grandes lavouras quanto do pequeno agricultor) estimulou a migração para as cidades do Sul e concentrou a popula-ção regional em centros locais, que cresceram e se tornaram metrópoles, como Recife, Salvador e Fortaleza. Em contrapartida, no CentroSul e no Sul do país -Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul - uma agricultura dinâmi-ca em termos econômicos e um comércio em pequena esdinâmi-cala integraram-se por meio de uma rede de negócios e de transporte local. Esse modelo de desenvolvi-mento regional, que incluía a continuidade da industrialização, sustentava um sistema urbano baseado em cidades pequenas, cidades médias e metrópoles.

O crescimento e modernização das economias regionais foi mais evidente no caso da Argentina, em função fja queda de importância de Buenos Aires. Foi igualmente visível no Chile, çjue, embora fortemente centralizado em Santiago, apresentava diversas ecqj|pjnias locais dinâmicas, cuja força de tra-balho agrícola vivia às vezes em fjjíflvjenas cidades, como no caso do vale de Putuendo. O México mostrou uma combinação dessas três tendências: zonas em que a população camponesa era expulsa para a Cidade do México, para outros centros regionais ou para os Estados Unidos, e zonas em que a agricul-tura comercial misagricul-turava-se a outras indústrias novas, como o turismo, a pro-dução automobilística e a microtecnologia, para sustentar o crescimento das cidades de médio porte - como, por exemplo, no Norte (Hermosillo), no Centro (Aguascalientes, Querétaro) e em algumas zonas urbanas do Sul e do Sudeste (Mérida e Villahermosa).

Uma grande parte do crescimento da população urbana na América Latina, entre 1930 e 1990, foi conseqüência da migração, e, aqui também, os modelos diferiram de país para país, A diferença entre a taxa de crescimento da

(12)

popula-ção total e o índice de aumento da populapopula-ção urbana fornece unia estimativa aproximada do peso da migração no crescimento urbano. Usando essn mádida) a Tabela 5.1 aponta as amplas mudanças do papel da migraçSe

durante o

períe= do. Na década de 50, quando o crescimento urbano estava em seu apogeu, uma parte considerável desse crescimento (cerca de 44 por cento) foi conseqüência da migração dos habitantes das zonas rurais. Nas décadas seguintes, a contri-buição da migração do campo para a cidade diminuiu em termos relativos.

Esse

processo foi mais acentuado no caso dos centros metropolitanos. Neles, a migração contribuiu com mais da metade de seu crescimento na década de 40( ao passo que, na década de 70, sua contribuição tinha caído para um

terço,

No apogeu da urbanização da América Latina, a migração ocupou lugar proeminente na discussão de política pública e na pesquisa das ciências sociais. Essa pesquisa concentrava-se em questões como as diferenças entre os migran-tes e os naturais da terra, a assimilação do migrante à vida urbana e sua eentri» buição para os mercados de trabalho urbano. A partir da década dê 70, a migração do campo para a cidade deixou de ser um problema importante no desenvolvimento urbano, e a atenção passou a concentrar-se nos movimentos migratórios interurbanos, intra-urbanos e internacionais. Essa tendência era mais visível naqueles países que tinham níveis elevados de urbanização e apre-sentavam queda da população rural em números absolutos.

O impacto da migração foi diferente de país para país (cf. Apêndice l)7. Durante a maior parte do período, a contribuição da migração para o cresci-mento urbano foi maior no Brasil, seguido pelo Chile e pela Colômbia. Foi menor no México, no Peru (salvo de 1960 a 1970) e na Argentina (com exce-ção do período de 1950 a 1960). Somente na Argentina a migraexce-ção do campo para a cidade foi um fator relativamente pequeno no crescimento metropoli-tano, sendo responsável por cerca de vinte por cento do crescimento de Buenos

7, Cálculos alternativos da contribuição da migração e da reclassificação para o c-rsaeímsnto

urbano podem ser encontrados em United Nations,

Patterns...,

table 11. A migração foi

mais importante para a expansão urbana na Argentina de 1947 a 1960 (50,8 por cento),

vindo a seguir o Brasil (49,6 por cento de 1950 a 1960 e 44,9 por cento de I960 a 5970), O

Peru (41,6 por cento de 1961 a 1972), o Chile (36,6 e 37,4 por cento de 1932 a 1960 e d«

1960 a 1970, respectivamente), a Colômbia (36,6 por cento no período 1951-4964) e o

México (31,7 no período de 1960-1970).

(13)

Aires entre 1940 c 1980. No México, a migração, embora tenha tomado maior vulto do que na Argentina, nunca foi o principal componente, sobretudo por causa das altas taxas de crescimento natural da população. Em compensação, a mlgraçBo, e não o crescimento natural, contribuiu com a metade ou mais para a expansflo metropolitana no Brasil e no Peru, em dois dos períodos situados entre 1940 e 1970, e na Colômbia em todo o período analisado.

A migraçío internacional foi outro fator importante na região e,

novamen-te, sua importância diferiu de acordo com o país. No México, é provável que a migração permanente ou temporária de habitantes do campo para os Estados Unidos tenha contribuído para diminuir o fluxo migratório para as cidades

mexicanas, NB Argentina, o papel da migração internacional foi diferente,

aumentanda â contribuição da migração rural para o crescimento urbano: em Buenos Aires, uma grande parcela dos migrantes estrangeiros informados em 1970 eram originários da Bolívia e do Paraguai, e provavelmente das zonas rurais desses países; em contrapartida, a migração interna para Buenos Aires, no mesmo ano, provinha principalmente das zonas urbanas.

Raramente os modelos de uso do solo urbano na América Latina, entre

!

1930 e 1991), foram regidos claramente por fatores de mercado como os gra-dientes de renda do solo urbano atrelados aos custos e benefícios de uma localização central8. A cidade latino-americana, quando mudou, tornou-se mais heterogênea em seus padrões de uso residencial e econômico do solo do que havia sido no início do período. A organização espacial, e as mudanças feitas nela, forneceram apenas um quadro frouxo que canalizava a interação social e econômica, Em 1930, o modelo normal para as vilas e cidades, peio menos na América espanhola, era sua organização em torno de uma praça central, perto ou em torno da qual se localizavam os importantes órgãos do governo, os principais edifícios religiosos, as mansões da elite e os estabeleci-mentos comerciais relevantes. A maior distância em relação a esse centro sig-nificava, em geral, uma diminuição de importância social; os artesãos urba-nos respeitáveis habitavam o anel seguinte, em casas que lhes serviam tanto de

8,

E S «

fato

É

diicutido

EM OSCAR YUJNOVSKI,

"Urban Spatial Configuration and Land

U K

Policies in Latin America", em

ALEIANDRO PORTES & HARLEY L. BROWNING

(eds.),

Current

(14)

moradia como de local do negócio. Nas fímbrias da cidade encontravam-se os habitantes urbanos mais pobres, que trabalhavam como diaristas, vendedores ambulantes, ou ofereciam uma variedade de serviços pessoais. A proximidade da zona rural significava que a periferia urbana se fundia, tanto econômica quanto espacialmente, com o mundo rural, e seus habitantes cultivavam hor-tas ou trabalhavam como diarishor-tas na agricultura.

Essa descrição adapta-se mais às cidades mais antigas e menos dinâmicas do que àquelas que estavam em processo de industrialização nas décadas de 20 e de 30. Já as elites de cidades como Buenos Aires e Cidade do México (e São Paulo, no Brasil) tinham começado a mudar-se para longe do centro, para balííõs

livres do barulho e da poluição. Quanto

às cidades

"de fronteira" da

década de 30, eram heterogêneas em termos de espaço, que era compartilha-do pela indústria, pelos negócios e pelas residências e onde os pobres e os ricos viviam muito próximos uns dos outros.

Raramente foram construídas cásas com o propósito deliberado de abri-gar as classes trabalhadoras. Mesrllb Mas poucas cidades em que esse tipo de moradia apareceu - Buenos Aires, Sâb Paulo, Monterrey - apenas uma fração dessa população foi contemplada, Ás classes trabalhadoras achavam a mora-dia que pudessem - subdividindo ás ttlansoes abandonadas pelos ricos, como em algumas das vecindades de Clddtle do México, ou ocupando de forma intensiva outros espaços centrais9.

Cada vez mais foram procuradas formas alternativas de moradia barata, como a construção própria depois dd invasão de terrenos ou aquisições semi-legais de especuladores imobiliários. fcssa nao foi uma ocupação ordenada em termos de espaço, uma vez que, embora a maior parte do espaço desocupado se localizasse na periferia urbana, stla disponibilidade dependia de fatores políticos tais como: a natureza pública ou privada da terra,.a força da organi-zação popular e as intenções especulativas de seus proprietários, tudo o que foi descrito como "a lógica da desordem"10. Além disso, algumas das áreas

9. Encontra-se um relato desses processos, inclusive o assentamento ilegal, em PETER WARD,

Mexico City; The Production and Reproduction of an Urban Environment,

London, 1990.

10 Cf, LUCIO KOWARICK, "The Logic of Disorder: Capitalist Expansion in the Metropolitan

Area of Greater Säo Paulo", Discussion Paper, Institute of Development Studies, University

of Sussex, 1977, e

Espoliação Urbana,

Rio de Janeiro, 1979.

(15)

desocupadas localizavam-se no centro da cidade, como no caso dos morros do Rio de Janeiro ou das ravinas de Cidade da Guatemala. Apesar da

constru-ção própria, o aluguel continuou sendo o principal meio de acesso dos pobres à moradia; e é provável que a incidência desse fenômeno tenha aumentado mais para o final da década de 90, quando até mesmo os assentamentos pre-, cários tornaram-se parte "normal" da cidade e os proprietários originais pas-saram a alugar o espaço para complementar sua renda11.

A fuga do centro das cidades por parte das classes média e alta foi contida, pela escassez de comunicações e pela falta de infra-estrutura adequada nas zonas suburbanas em potencial. Além disso, a proximidade entre os assenta-mentos precários e a maioria dos bairros de classe média diminuiu sua exclu-sividade social. Não se pode deixar de apontar outras complicações, criadas pela heterogeneidade econômica das cidades. A persistente importância das atividades econômicas informais, que examinaremos adiante, teve como corolário a instalação por toda a cidade de estabelecimentos comerciais e industriais de pequeno porte, tanto nos bairros de classe média quanto nos de classe trabalhadora, já que os empresários economizavam o custo do aluguel utilizando parte da residência da família para instalar seu negócio.

Nas décadas de 80 e 90, eram evidentes as tendências conflitantes na orga-nização do espaço urbano. Em Santiago, ocorreu um "salto qualitativo" na polarização de classes em decorrência das políticas adotadas pelo governo militar no mercado imobiliário e pa administração urbana12. Em contrapar-tida, embora tivessem surgido cla^mente, na década de 70, em Montevidéu e em Bogotá, os padrões de segrega^p habitacional segundo a renda e a ocupa-ção foram invertidos em parte n^década de 80, quando a crise econômica impôs à maioria das classes a busca da moradia que podiam pagar, sem pen-sar na sua localização. Em outras cidades, como, por exemplo, no Rio de

11. Cf. At AN GILBERT & PETER WARD,

Housing, the State and the Poors Policy and Practice in Three Latin American Cities,

Cambridge, 1985, e

ALAN GILBERT & ANN VARLEY,

"Renting a

Home in a Third World City: Choice or Constraint?",

International Journal of Urban and Regional Research,

14(1): 89-108, 1990.

12. A expressão é de Alejandro Portes, em sua comparação dos modelos de polarização espacial

em Santiago com os de Bogotá e Montevidéu. Cf.

ALEJANDRO PORTES,

"LatinAmerican

(16)

Janeiro e em São Paulo, a ocupação do espaço se havia tornado mais hetero-gênea social e economicamente, quando se passou a construir residências de alto padrão para a classe média em regiões pobres. O s assentamentos dê

pobres foram eliminados para dar lugar a novos bairros de classe média, enquanto os pobres foram procurar qualquer nicho que pudessem encontrar nos bairros residenciais estabelecidos*3. Até 1980, conseguiu-se um grande progresso em termos de fornecimento de serviços urbanos básicos, cem© água, eletricidade e remoção de lixo; mas, na maioria das principais cidades latino-americanas, parte substancial da população urbana continuou

excluí-da desses serviços14.

A ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL, 1930-1960

Já em 1930, a estrutura urbana de classes da América Latina era diversifi-cada, em razão das diferenças de tamanho e complexidade

econômica entre

os grandes centros metropolitanos, que com freqüência eram as capitais do país,

os centros administrativos e comerciais de províncias e os lugares

urbanos

menores que serviam de centros de mercado e nós de transporte para a popu-lação rural. Nas cidades maiores encontravam-se as maiores concentrações da elite comercial ou fundiária, o clero, os profissionais liberais, os migrantes estrangeiros e as classes que trabalhavam para todas essas pessoas e cons-truíam a infra-estrutura das grandes cidades: os empregados domésticos de várias espécies e os diaristas.

As cidades da América Latina tinham uma estrutura social heterogênea, na qual a relação entre o trabalhador e o empregador não era a dominante de classe. Extraindo suas rendas sobretudo da agricultura e do comércio de

13.

Cf.

RAQUEL ROLN1K,

"El Brasil urbano

los anos

80;

Un retrato",

m M. WM8AR81 fs B.

VEIGA (eds.).,

Las Ciudades en Conflicto,

Montevideo, 1989.

14. Vejam-se os artigos em MATTHEW EDEL & RONALD G. HELLMAN (eds.),

Cities in Crisis! The Urban Challenge in the Americas,

New York, 1989, especialmente os de VI LM AR PARIA e de

ELIZABETH JELÍN. Uma análise de Cidade do México é dada em WARD,

Mexico City,

pp.

138-177. Grande parte do progresso resultou dos movimentos populares e de aua pi'SSSflB

sobre os governos nacionais e municipais.

(17)

importaçSo e exportação, as elites, em sua maioria, não eram grandes empre« gadores d a mSo-de-obra urbana e tinham origens étnicas distintas,

especial-mente naqueles países que haviam recebido grande contingente de migrantes do ultramar, como a Argentina e o Brasil. Mesmo na maioria das cidades industrializadas, os proprietários de fábrica raramente constituíam uma elite homogênea com origens e práticas empresariais comuns. Muitos dos primei-ros industriai» eram imigrantes vindos da Europa e do Oriente Médio, como Francisco Matarazzo, o capitão-de-indústria de São Paulo, ou Juan Yarur, o palestino que se converteu no maior industrial têxtil de Santiago. Somente em algumas cidades, como Monterrey, Medellín e a própria São Paulo, alguns

industriais de

origem nacional começaram a adquirir, em 1930, considerável pedêf político e econômico. Fosse o empresário imigrante ou natural da terra, os meios usuais de dirigir uma empresa eram os laços de família e as práticas paternalistas de administração. Nesse período, a grande indústria era, basica-mente, uma empresa familiar, de forma que até mesmo os grandes consórcios industriais eram administrados e controlados de acordo com as relações de parentesco, ficando os filhos, os irmãos e outros parentes responsáveis pelos diversos setores da empresa15.

Na maioria das cidades, fossem pequenas ou grandes, a classe média era um contingente relativamente numeroso, em comparação com a elite urbana e com a classe trabalhadora. Era formada, principalmente, por aqueles que trabalha-vam de maneira independente, às vezes com a ajuda dos membros da família,

eu eram

proprietários de pequeno negócio com poucos empregados. Entre elas havia

funcionários

públicos e empregados administrativos de empresas priva-das. No ponto mais alto dessa "classe média" estavam os profissionais liberais, como advogados e médicos, e na base ficavam os artesãos que trabalhavam por conta própria ou os proprietários de pequenos armazéns de bairro.

Nas economias latino-americanas das décadas de 30 e 40, ainda baseadas predominantemente na agricultura, a classe média de pequenos empresários

iü, São exemplos as empresas Garza Sada em Monterrey, um conglomerado que abrangia

fábrica« de vidro, liderúrgieaj de aço e ferro e cervejarias, e o império industrial familiar

doí 00111«! qut controlava uma grande parte da produção têxtil do México. Cf. LARISSA

LOMN1TZ ít MARISA PÊREZ LIZUAR,

A Mexican Elite Family, 1820-1980: Kinship, Class and Culture,

Princeton (N. J.), 1987.

(18)

e artesãos independentes estava espalhada por toda a parte. As rotas comer-ciais internas necessitavam de um contingente de pequenos empresários para distribuir e transportar as mercadorias. Os artesãos locais consertavam e pro-duziam muitos produtos e implementos fundamentais tanto para os habitan-tes das grandes cidades quanto para atender às necessidades de uma popula-ção rural disseminada. Rio Cuarto, uma cidade que tinha cerca de 40 mil habitantes na década de 40, localizada nos Pampas argentinos, exemplifica esse tipo de estrutura social. A cidade não tinha fábricas nem outras empresas que empregassem um número razoável de trabalhadores. Calcula-se que sua classe média constituía mais de 53 por cento da população: proprietários de pequenas

empresa« comerciais

e

industriais, funcionários administrativos dos

grandes estabelecimentos comerciais, professores e pequenos fazendeiros que preferiam viver numa cidade pequena16.

Nas cidades grandes, a riqueza da elite e as necessidades do governo exi-giam maior volume de serviços profissionais e administrativos do que nos lugares menores, e a clientela dos èbtíierciantes e dos artesãos era mais dife-renciada. Não obstante, qualquer, ytie fosse o tamanho ou a importância da cidade, fosse pequena ou grande, 0 trabalho autônomo ou numa função administrativa parece ter induzido Uíh sentimento de status que difaeuciava

essas pessoas daqueles que faziam seíViços manuais e por conta de outros17. Um estudo sobre a cidade argeiltlna de Paraná (cem mil habitantes) dá uma medida da importância dessas cohsiderações de status16.0 estudo foi

rea-lizado no começo da década de 60, mds é pouco provável que a situação descri-ta tenha mudado significativamente desde a década de 30. Paraná tinha poucas

16. Cf. J. L. IMAZ, "Estructura social de una ciudad pampeana",

Cuaderno de Sociologia,

1-2:

91-169, 1965.

17. A utilidade da classificação do trabalhador autônomo entre os estratos de classe média é

posta em dúvida por ELIZABETH JELIN, "Trabajadores por su cuenta propia y asalariados;

Distinción vertical u horizontal",

Revista Latinoamerhana de Sociologia,

1967, pp. 388-410.

Mesmo assim, em comparação com a situação que iremos descrever com relação à década

de 80, era mais provável que o trabalhador por conta própria, no período de 1930 a 1950,

se visse a si mesmo, e fosse visto pelos outros, como classe média, e muito mais plausível

que fosse visto, essencialmente, como um proletário disfarçado.

(19)

indústrias e servia, como sempre tinha acontecido desde o começo do século, de centro administrativo e comercial de uma próspera zona de pequenas fazendas. Em Paraná, os informantes não tiveram muita dificuldade para dis-tinguir três classes urbanas em termos de estilo de vida e de aspirações. A clas-i se alta era constituída pelas famílias tradicionais e por membros das elites eco-nômicas e profissionais de origem mais recente. A classe média - a classe respeitável - parece ter sido quase tão numerosa quanto a classe baixa e estava subdividida em níveis, desde os profissionais e empresários até os empregados de escritório, os pequenos empresários e os artesãos independentes. Final-mente, havia a classe baixa, ou clase humilde, formada principalmente de mi-grantes rurais e que tinham ocupações pouco especializadas, como trabalha-dores manuais, trabalhatrabalha-dores do setor de serviços e empregados domésticos. Os informantes pertencentes aos estratos médios diferenciavam-se tanto da elite quanto dos pobres, que não eram considerados respeitáveis porque não possuíam uma renda permanente e não podiam prover adequadamente as necessidades de suas famílias. Entre estas necessidades estava a educação secundária ou universitária para os filhos. Um problema evidente em Paraná era o crescimento da população de classe média com educação secundária, mas com poucas oportunidades de carreira no mercado de trabalho local.

Os setores numericamente mai§ importantes da classe trabalhadora eram os empregados domésticos, os yendedores ambulantes e os diaristas. Somente nas indústrias têxteis e ajjpentícias se podia encontrar um proleta-riado industrial e, além disso, apejjjjs em algumas cidades: Buenos Aires, São Paulo e, em menor número, em e em Cidade do México. Em 1910, os dois setores manufatureiros de Bv^jiçjs Aires que empregavam maior núme-ro de trabalhadores eram a indústria têxtil e a de calçados. Nessa data, havia dezehove fábricas têxteis não-especializadas, que empregavam um total de 3 151 trabalhadores manuais, uma média de 166 por fábrica. Em compensa-ção, o setor dos calçados contava 3 214 trabalhadores e uma média de 45 empregados por empresa. Esses operários eram uma pequena minoria (6,2 por cento) do setor industrial de Buenos Aires, onde o número médio global de empregados por empresa era de apenas onze19. Em 1931, em Lima, 2 504 homens e mulheres estavam trabalhando na indústria têxtil em 21 fábricas

(20)

registradas. Esses trabalhadores, como seus congêneres da Argentina, consti-tuíam uma pequena fração (sete por cento) da força de trabalho industrial20. Era Santiago do Chile, o setor têxtil mais importante contava, em 1930,1 618 empregados e 233 proprietários, ou uma média de apenas seti trabalhadores por empregador21.

As décadas de 40 e 50 foram testemunhas de um crescimento substancial das economias latino-americanas, e das oportunidades de emprego, aobretude para os homens. Parece ter havido um aumento da renda real que beneficiou os trabalhadores urbanos. Embora os índices de crescimento da população urbana economicamente ativa tenham alcançado, nesses anos, uma média de cinco por cento, houve um aumento substancial do emprego urbano formal. Ocorreu uma queda considerável do número de empresários, profissionais independentes e trabalhadores por conta própria. Além disso, também nesses anos, os serviços tradicionais, como vendas e serviço doméstico, diminuíram sua importância como fontes de emprego e foram substituídos pelos serviços burocráticos (empregados de escritório, professores, trabalhadores da saúde, outros técnicos e profissionais assalariados) e dos negócios e por outros servi-ços urbanos modernos, como o conserto de automóveis (cf. Tabela 5.2).

Essa mudança assinalou a relativa perda de importância das classes médias "antigas" (pequenos empresários, artesãos independentes) das cidades pro-vincianas menores, das cidades pequenas e das aldeias. Em 1940, era nesses lugares que se podia encontrar a maioria dos trabalhadores independentes não-agrícolas e os pequenos empresários, porque era aí queyivia a maioria da população urbana. As classes que aumentaram de importância foram aquelas vinculadas às grandes cidades que, nesse período e nos seguintes, foram adquirindo um peso maior dentro da população urbana: entre os estratos de trabalhadores não-manuais figuravam os profissionais, os gerentes e os empregados de escritório, que aumentaram enormemente em número; entre os estratos de trabalhadores manuais contavam-se os operários da construção civil e das indústrias de serviço, como oficinas de consertos, restaurantes e hotéis e serviços de portaria e zeladoria.

20.

Censo de las Províncias de Lima y Callao, 1931,

Lima, cuadros 80 e 103.

(21)

T A B E L A 5.2 / E S T R A T I F I C A Ç Ã O O C U P A C I O N A L U R B A N A N A A M É R I C A LATINA, 1 9 4 0 - 1 9 8 0 ( % )

População não-ígricoU

1940

1950

1960

1970

19Í0

Bitratoi nfto-manuaii mais altos

6,6

9,4

10,1

12,7

15,9

Empr«grttlcsre«> proflslionais independentes

4,4

5,2

1,9

2,6

2,4

Seremes, (JFôfiiilonils «mprcgaãoi«pessoal técnico

2,2

4,2

8,2

10,1

13,5

Hltratoi nltt-niúnuais mais baixos

15,2

16,0

16,9

18,5

1§,0

Empregados dc escritórios

8,4

10,0

11,1

11,7

13,2

Empregados na área de venda

6,8

6,0

5,8

6,8

5,8

Pequenas ímprssérias

0,8

2,3

5,6

2,5

3,5

De eamíftio

0,8

2,3

1,5

1,2

1,3

Outros (manufaturas, serviços)

0,0

0,2

1,1

1,3

1,2

Trabalhadores autônomos

28,5

19,8

20,5

17,4

18,6

No comércio

9,5

7,1

7,5

6,6

5,8

Outros

19,0

12,7

13,0

10,8

12,8

Assalartados

35,9

41,3

40,4

39,4

36,4

Transportes

6,1

3,8

4,5

3,7

V

Umsiruçso civil

5,4

7,0

7,1

7,8

7,1

indústria

20,1

19,2

19,1

16,3

16,5

Serviços

4,3

11,3

9,7

11,6

10,1

Empregados domésticos

13,0

11,0

9,5

9,5

7,6

TOTAL

100,0

100,0 100,0

100,0 100,0

AGRICULTURA (% da populaçío ativa)

61,6

52,5

46,7

39,5

30,6

fliHffíi Cáicuioi mtraídoi dos censos nacionais da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, Oi

anel 150 aproximados: 1940 inclui dados do Censo Argentino de 1914; os números relativos a 19B0

nío Incluem a Colômbia.

Emergiu uma classe média "nova", constituída de empregados de escritó-rio,

gerentes

e funcionários do governo e das organizações empresariais e que precisavam de qualificações educacionais para ocupar esse tipo de emprego. A crescente importância do nível de escolaridade para a mobilidade social foi uma das principais modificações que as mudanças econômicas do período 1940-1960 suscitaram nos padrões de estratificação urbana, criando oportu-nidades e, às vezes, frustrando-as, quando os milhares de pessoas que

(22)

ingres-savam no mercado tinham educação "superior" à requisitada pelos empregos disponíveis22.

A industrialização (assim como a consolidação da economia de exporta-ção) acarretou outra importante modificação: a formação de um grande pro-letariado industrial em algumas das cidades maiores (bem como nas pequenas cidades ligadas à mineração e às plantations). Quando o foco do desenvolvi-mento econômico mudou para novas regiões e as indústrias artesanais das zonas rurais e das pequenas cidades entraram em colapso com a melhoria das comunicações e a concorrência dos produtos industriais, tanto nacionais quanto importados, alguns lugares prosperaram e outros estagnaram.

HoUVê também ürriã mudança na natureza do emprego industrial, mudan-ça que está escondida parcialmente nos números agregados da Tabela 5.2: Na década de 40, muitos trabalhadores "industriais" eram artesãos que trabalha-vam por conta própria ou assalariados de pequenas oficinal onde, muitas vezes, era quase nula a diferença

eÜti*

produzir e consertar. Em 1950, os cen-sos, em sua maioria, estabeleciam ühlá distinção entre, por exemplo, sapateiros que consertavam sapatos e aqueles ijtle trabalhavam como indvlstriários numa fábrica de calçados. Essa mudança há classificação refletia uma tendência real: a queda gradual da produção artésdHal e uma diferenciação econômica que resultou num número maior de tidbalhadores industriais empregados em fábricas e no surgimento de um setor de serviços especializado em consertos.

Nesse

período de relativa industrialização, a indústria manufatureira empregava um volume muito maior de mão-de-obra do que nos períodos pos-teriores, usando tecnologia importada que variava pouco de-ano para ano. Os trabalhadores fabris ganhavam importância como setor da classe operária, tal como ocorria com os ferroviários e os portuários. N3o obstante, as qualifica-ções exigidas por esses empregos continuavam sendo, basicamente, habilida-des artesanais e não indicaram uma grande ruptura com as antigas tradições

22. Comparações entre a Argentina e o Chile, na década de 50, encontram-se em TORCUATO DI

TELLA, "Estratificación social e inestabilidad política en Argentina y Chile",

Sixth Conference of the Instituto de Desarroilo Económico y Social,

Buenos Aires, 1962. A Argentina dispunha de

postos de classe média suficientes para atender às aspirações do número crescente de pessoas

com educação secundária e universitária; em contrapartida, a população chilena tinha

educa-ção "superior" à exigida para o número mais limitado de postos de classe média disponíveis.

(23)

da classe trabalhadora. Nas décadas de 40 e 50, os trabalhadores fabris alcança ram o ponto máximo de sua importância relativa, quando a indústria come-çou a expandir-se e passou a produzir bens de capital, empregando mais ope-rários em empresas de grande e médio porte, enquanto os artesãos entravam em colapso devido à concorrência das fábricas. É provável que o proletariado clássico assalariados industriais empregados em empresas de grande porte -estivesse mais consolidado em 1960 do que em 1940. Em 1960, as empresas industriais de grande e médio porte empregavam maior número de trabalha-dores do que as pequenas. Em 1960, em países como o Brasil, a Colômbia e o Chile, o emprego industrial em empresas de cem ou mais empregados repre-sentava a metade ou mais do total da força de trabalho industrial23.

Pouco se conhece acerca do trabalho feminino remunerado na América Latina antes da década de 50. A ausência de informações e de análise indica a falta de interesse pelo assunto. Nas décadas de 30 e 40, sem dúvida, a participa-ção das mulheres no mercado de trabalho urbano era baixa, devido à falta de diversificação desses mercados. O trabalho feminino estava concentrado prin-cipalmente nas zonas rurais e era dirigido para a produção doméstica. Cpmo tal, raramente era registrado nos censos, que informavam de forma errônea o trabalho feminino nas unidades familiares de produção das zonas rurais24.

No Brasil, entre 1920 e 1940, as referências ao trabalho feminino indicam > ;

que, como no caso dos homens, $ maioria da população feminina economica-mente ativa trabalhava na agricultura. Geraleconomica-mente, as trabalhadoras urbanas eram costureiras ou empregadas domésticas25. Os dados disponíveis para 1950 mostram que, no total da |ggião, os índices de participação econômica das mulheres ainda eram muito baixos (18,2 por cento)26. Os países com as

23. F. H. CARDOSO & J. L. REYNA, "Industrialización, estruçtura ocupacional y estratificaçión

social en América Latina", em R H. CARDOSO,

Cuestiones de Sociologia dei Desarrollo de América Latina,

Santiago, 1968.

24. Cf. CATALINA WAINERMAN 8c ZULMA RECCHINI DE LATTES, El trabajo feminino en el

ban-quillo de los acusados: La medición censal en América Latina,

Ciudad de México, 1981.

25. F. R. MADEIRA & P. SINGER,

"Estrutura do Emprego e Trabalho Feminino no Brasil:

1 9 2 0 - 1 9 7 0 " , Caderno 13,

São Paulo,

1973.

(24)

taxas mais altas de urbanização nessa época - Argentina e Chile - apresenta-vam um índice de participação feminina mais alto do que ©a dê Bfttsil, Colômbia e México. No entanto, o Peru, apesar de seu modesto desenvolvi* mento econômico, registrava índices de participação feminina mail altoa d0 que os desses três últimos países. Numerosos estudos comparativos mostram que, provavelmente, tanto os países com níveis elevados de desenvolvimento econômico quanto aqueles com níveis mais baixos apresentavam taxas eleva-das de participação feminina. No entanto, as altas taxas de participação eco-nômica nos extremos opostos baseiam-se em realidades ecoeco-nômicas muito diferentes e afetam grupos etários e classes sociais diferentes.

Na década de 1950-1960, a expansão do trabalho feminino remunerado foi muito pequena na região. Somente em cinco dos vinte países houve ligeiros aumentos, embora entre esses estivessem os maiores países da região, o Brasil e o México27. Na Argentina e na Colômbia, nesse período, os índices de parti« cipação feminina permaneceram constantes, enquanto diminuíram no Chile.

Essas variações do padrão de crescimento econômico, e sua desigualdade, acarretaram um aguçamento das diferenças na estrutura de classes da popula-ção urbana dentro dos países e entre eles. Utilizando exemplos da Argentina, Di Telia delineia quatro tipos básicos de estratificação urbana na América Latina, na década de 50, baseados no grau de concentração da classe trabalha-dora e nas possibilidades de mobilidade social28. O primeiro eram as grandes cidades em processo de industrialização, nas quais a pirâmide das classes alar-gou-se na base devido ao número crescente de trabalhadores-manuais, O declí-nio da importância relativa dos estratos médios foi compensado, e foram cria-das oportunidades de mobilidade associacria-das à educação, ao surgimento de uma "nova" classe média de profissionais liberais e empregados de escritório necessários para atender às demandas da administração e da organização comercial mais complexa. Exemplos desse tipo eram as cidades do litoral da Argentina, principalmente Buenos Aires, Em segundo lugar, vinham as peque*

27. EDITH PANTELIDES,

Estúdios de la población feminina económicamente activa gn Amériffl Latina, 1950-1970,

Santiago, 1976.

28. Cf. TORCUATO DI TELLA,

La Teoria dei Primer Impacto dei Crecimiento Económico,

Santa Pc

(Argentina), s.d [c. 1965], pp. 163-167.

(25)

nas cidades ligadas à mineração e às plantations, como as das áreas produtoras de açúcar da Argentina, onde predominava uma massa de trabalhadores, com poucas ocupações intermediárias e poucas oportunidades de mobilidade ascendente, Vinham em terceiro lugar as cidades pequenas e grandes das regiões que, historicamente, tinham sido importantes economicamente, mas que haviam declinado ou estagnado. Por exemplo, em 1950, as pequenas cida-des do norcida-deste da Argentina tinham uma grande classe média em comparação com outras regiões, mas seus membros tinham limitadas perspectivas locais de manter seu status relativo. Por último, estava o padrão de estratificação encon-trado em regiões agrícolas dinâmicas, como a de Santa Fe, onde as pequenas

eidadei de

eeensmia camponesa propiciavam múltiplas oportunidades de mobilidade econômica, principalmente para o pequeno empresariado.

Esses tipos de situação urbana foram encontrados em toda a América La-tina, nesse período, Os países da região, em sua maioria, com exceção da Amé-rica Central, começaram a industrializar-se nas décadas de 30 e 40 e tinham pelo menos uma cidade com uma grande concentração de trabalhadores manuais empregados em empresas de grande porte, como fábricas, transpor-tes (sobretudo portos e estradas de ferro) ou construção civil. A concentração de trabalhadores em localidades isoladas era encontrada nos acampamentos mineiros da Bolívia, Peru, Chile e México; e as concentrações de trabalhadores das plantations haviam surgido no norte do Peru, na década de 30, Muitos paí-ses tinham fronteiras agrícolas onde a expansão da agricultura havia estimula-do uma florescente economia de cidade pequena - o estaestimula-do estimula-do Paraná no Bnialij

Sonora no

noroeste do México; a região cafeeira de Antioquia na Còlòitlbifl, A melhoria das comunicações, ao intensificar a troca de produtos agrícolas e industriais, também mudou o caráter das cidades pequenas locali-zadas em «onas agrícolas estabelecidas. Zamora (no estado de Michoacán, México) d um bom exemplo disso29. Nessa cidade, em conseqüência da

29, Cf, os relatos da história social de Zamora, do final do século XIX até a década de 1980, em

GUSTAVO VERDUZCO, "Trayectoria histórica del desarrollo urbano y regional en una zona

occidental de Míxico",

Estúdios Demográficos y Urbanos,

1(3): 333-350,

septiem-bf?»dleiembrc de 1986; "Eeonomía informal y empleo: Una visión hada la província

mexi-cano",

México tn el umbral dei milênio,

Ciudad de México, 1990, pp. 375-396;

Zamora,

Ciudad de México, 1992.

(26)

implantação parcial da reforma agrária e da expansão do comércio com as principais cidades, o latifúndio e a indústria artesanal deixaram de ser, nas décadas de 30 e 40, a base da estrutura econômica e social da região para ceder lugar à agricultura empresarial em grande escala, ao comércio e aos serviços.

Outra coisa comum foi a pouca atenção que os novos modelos de cresci-mento econômico deram a regiões anteriormente importantes. São exemplos a região Los Altos (no estado de Jalisco, México), com suas inúmeras cidade-zinhas cuja prosperidade fora baseada no comércio com o Norte e na criação de gado; as cidades pequenas do Nordeste do Brasil atreladas à economia açu-careira em declínio ou as cidades "do ouro" de Minas Gerais; ou Popayán, cujas fârftílíãs dôffiíttântes haviam desempenhado um papel i m p o r t a n t e na história da Colômbia, mas que se haviam isolado economicamente na década de 30, embora tivessem mantido uma grande classe média e alta30.

A industrialização e o crescimento econômico do período posterior a 1930 tiveram, por conseguinte, diversdí tbnseqüências para a estratificação. Na maioria dos países, o resultado fotttm acentuadas diferenças regionais na natureza da organização de ciasses. Cbmo a concentração da classe trabalha-dora e o peso relativo da classe média eram diferentes de um país para o outro, surgiram também amplos contrastes nacionais nos padrões globais de estratificação, o que contribuiu para as diferenças nos regimes políticos entre as nações latino-americanas. Um fatbr adicional nesse período foi a impor-tância da população rural na formação da classe trabalhadora e, em certa medida) da classe média, Na maioria dos países, as classes urbanas estavam num estágio inicial de consolidação, visto que seus vínculos com a grande população rural continuavam fortes.

Para o período até 1960, podemos identificar a Argentina como o país que, de um lado, tinha uma população agrícola relativamente pequena e, de outro, uma classe média forte e um proletariado urbano consolidado, tanto de ori-gem européia quanto de longa tradição urbana. Em 1947, a população agríco-la somava 25,2 por cento do total da popuagríco-lação economicamente ativa; a cagríco-las- clas-se média urbana, cerca de dezenove por cento; e o proletariado, 34 por cento

30. Cf. ANDREW HUNTER WHITEFORD, TWo

CI lies of Latin America: A Comparative Description of Social Classes,

Garden City (N. Y.), 1964; e

An Andean City at Mid-century: A TYaditional Urban Society,

East Lansing (Mich.), 1977.

Referências

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