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Autogestão dos trabalhadores como alternativa para recuperação de empresas falidas ou em processo falimentar

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Academic year: 2021

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THIAGO FIGUEIREDO FONSECA RIBEIRO

Autogestão dos trabalhadores como alternativa

para recuperação de empresas falidas ou em

processo falimentar

Campinas

2013

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Aos meus avós Celso, Mario, Nato, Stella (in memorian), Irene e Lourdes, por me incentivarem a traçar meu próprio destino. Aos meus pais Raul e Nivaldo e à minha mãe Vera pela educação e ensinamentos. À minha companheira Silvana, pelo amor e paciência.

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Agradecimentos

Em 1999, após a conclusão da minha graduação em Publicidade e Propaganda na PUCCAMP, em um momento de questionamento e de novas escolhas profissionais, meu grande amigo, Marcelo Carpintéro, convidou-me para um trabalho de três meses como auxiliar de pesquisa no NESUR e assim se inicia uma história de mais de uma década de relacionamento com o Instituto de Economia da Unicamp. Obrigado, meu amigo!

Fui muito bem recebido por Rovena, Áurea e pelo Professor Rinaldo e prontamente adotado pela Claudinha, por quem tenho grande carinho. Obrigado a todos vocês do NESUR!

O que deveria durar apenas alguns meses e tinha a única função de garantir uma renda num período de transição, acabou mudando minha vida. Nesse período conheci pessoas fantásticas, fiz bons amigos e recebi apoio de muita gente. Logo na primeira pesquisa, tive a felicidade de trabalhar com o Professor Marcio Pochmann, que se tornou um amigo muito especial e querido. Através dele, me aproximei do CESIT e mais uma vez, de grandes companheiros e amigos. Gostaria de agradecer o apoio recebido dos Professores Anselmo, Amilton e Dari, e aos amigos Gori e Alice pelas boas conversas aos finais de tarde. Meus agradecimentos ao Licério e a Suzete pela disposição e por toda a ajuda dispensada. Um abraço fraterno aos Professores Wilson Cano e Waldir Quadros por terem sido os primeiros a acreditar que eu poderia seguir no IE, e ao amigo Marcelo Proni, que em todas as oportunidades me apoiou e me incentivou e, sem dúvida, é o principal responsável por eu ter concluído essa dissertação. Muito obrigado, meu amigo!

Agradecimentos especiais ao Professor Miguel Bacic pelo apoio e incentivo e pelas orientações ao longo desses anos, e ao Professor Vasco pela amizade e pelas oportunidades abertas que me possibilitaram o vislumbre de um caminho novo a trilhar.

Meus agradecimentos aos Professores Paulo Baltar, Carol, Edu, Gera, Lopreato, Martinez, Présser (in memorian) e Tápia (in memorian) por todo o carinho e o conhecimento compartilhado.

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Gostaria de agradecer também aos amigos da UNISOL Brasil, Marcelo e Arildo por todo o apoio, aos companheiros Gilson e Bruce, da UNIPOL, e aos companheiros Claudio e Mauro, da Metalcoop, pelo tempo e pelo interesse em colaborar com o trabalho.

Meus agradecimentos especiais ao meu brilhante orientador, Rodrigo Lanna, que deu forma a esse trabalho, à minha mãe Vera Lúcia, por seu apoio incondicional e à minha esposa, Silvana, pela paciência e pelo amor recebido.

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RESUMO

Os processos de criação e destruição de empresas são inerentes aos ciclos econômicos capitalistas. Diariamente, criam-se novas empresas, e se encerram outras. Parte dessas teria condições de continuar operando. O Direito Falimentar brasileiro atua como instrumento de proteção e busca preservar as atividades empresariais, recuperar o empreendimento em crise, salvaguardar os interesses dos credores e maximizar o valor dos ativos da empresa falida. Para cumprir seus objetivos, prevê-se o instrumento da recuperação judicial, abrindo-se também aos trabalhadores (enquanto credores) alternativas distintas para o encaminhamento da situação. O presente trabalho objetiva avaliar se a autogestão dos trabalhadores se constitui em uma alternativa viável à recuperação de empresas falidas ou em processo falimentar no Brasil.

Palavras-chave: Autogestão, Recuperação de Empresas, Economia Solidária, Políticas Públicas, Movimento Sindical .

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ABSTRACT

The processes of creation and destruction of firms are inherent to capitalist economic cycles. Every day, new companies are created, while others are terminated. Part of these companies may have conditions to continue in operation. The Brazilian Bankruptcy Law acts as an instrument of protection and seeks to preserve the business activities, recovering the enterprise in crisis, safeguard the interests of lenders and maximize the value of the assets of the bankrupt company. To fulfill its objectives the instrument from bankruptcy, opening up also to workers (as creditors) distinct alternatives for the referral of the situation. This study aims to evaluate if the self-management of workers constitutes a viable alternative to the recovery of failed businesses in Brazil.

Palavras-chave: Self- management, Company Recovery, Social Economy, Public Policy, Labour Movement

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LISTA DE SIGLAS

ACCMV Ação pela Cidadania Contra a Miséria e pela Vida

ADS Agência de Desenvolvimento Solidário da Central Única dos Trabalhadores ANTEAG Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CGIL Confederação Geral Italiana

CISL Confederação Italiana dos Sindicatos CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CNBB Conferência Nacional de Bispos do Brasil CNES Conselho Nacional de Economia Solidária CNPJ Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

CONCRAB Confederação Nacional de Cooperativas da Reforma Agrária CONTAG Confederação dos Trabalhadores da Agricultura

COOTRABALHO Confederação das Cooperativas de Trabalho COOTRAM Cooperativa de Manguinhos

CPAs Cooperativas de Produção Agropecuária CUT Central Única dos Trabalhadores

ECOSOL Cooperativismo de Crédito (ADS/CUT) Ecosol Economia Solidária

EES Empreendimentos Econômicos Solidários ER Empresas Recuperadas

FAT Fundo de Amparo ao Trabalhador

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço FIM Federazione Italiana Metalmeccanici

FINEP Financiadora de Estudos e Projetos FIOM Federazioni Impiegati Operai Metallurgici FSM Fórum Social Mundial

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ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços INPC Índice Nacional de Preços ao Consumidor

INSS Instituto Nacional do Seguro Social IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ISO Internacional Organization for Standardization ITCP Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares LEGACOOP Lega Nazionale delle Cooperative e Mutue MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

METALCOOP Cooperativa de Produção Industrial de Trabalhadores em Conformação de Metais

MST Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MTE Ministério do Trabalho e Emprego OCB Organização das Cooperativas do Brasil OIT Organização Internacional do Trabalho ONG Organização Não-Governamental PACs Projetos Alternativos Comunitários PASEP Programa de Apoio ao Servidor Público PCP Planejamento e Controle de Produção PDT Partido Democrático Trabalhista PEA População Economicamente Ativa PIB Produto Interno Bruto

PIS Programa de Integração Social

PLANFOR Plano Nacional de Qualificação do Trabalhador PME Pesquisa Mensal de Emprego

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PND Plano Nacional de Desenvolvimento

PNQ Plano Nacional de Qualificação PPA Plano Plurianual

PRONACOOP Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho PT Partido dos Trabalhadores

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RITCP Rede de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares SEBRAE Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAES Secretaria Nacional de Economia Solidária SIES Sistema de Informações em Economia Solidária

SIGPLAN Sistema de Informações Gerais e de Planejamento do Governo Federal SINE Sistema Nacional de Empregos

SMABC Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

SPETR Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda

SWOT – Matriz de Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças UFC Universidade Federal do Ceará

UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora UFPR Universidade Federal do Paraná

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro UIL União Italiana de Trabalhadores

UILM Unione Italiana Lavoratori Metalmeccanici

UNICAFES União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNIPOL Cooperativa da Indústria de Polímeros de Joinville

UNISOL BRASIL Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários

UNITRABALHO Rede Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho USP Universidade de São Paulo

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LISTA DE GRÁFICOS E QUADROS

GRÁFICOS

Gráfico 1 - TAXAS DE DESEMPREGO ABERTO NO BRASIL ENTRE 1989A1999. ... 9 Gráfico 2 –EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE FALÊNCIAS REQUERIDAS E FALÊNCIAS DECRETADAS NO

BRASIL ENTRE 1991 E SETEMBRO DE 2012. ... 35 Gráfico 3 –BRASIL.EMPRESAS QUE TIVEREM FALÊNCIA DECRETADA ENTRE 2005 E 2012, POR PORTE. ... 38

QUADROS

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Índice

INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Problema ... 2

CAPÍTULO 01 – CONTEXTO DO SURGIMENTO DAS PRÁTICAS DE AUTOGESTÃO ... 5

1.1. Contexto econômico na falência de empresas industriais na década de 1990 ... 6

1.2. O papel do movimento sindical na recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores 9 1.3. Os movimentos sociais e a autogestão ... 13

1.4. As reações do poder público ao desemprego estrutural ... 14

1.5. Algumas considerações ... 18

CAPÍTULO 02 – A CRIAÇÃO DA SENAES E OS AVANÇOS NO CAMPO DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS PELA AUTOGESTÃO DOS TRABALHADORES21 2.1. SENAES – Surgimento e objetivos ... 21

2.2. As ações para Recuperação de Empresas pela Autogestão dos Trabalhadores no interior da SENAES ... 25

2.3. Algumas considerações ... 29

CAPÍTULO 03 – EXPERIÊNCIAS DE RECUPERAÇÃO PELA AUTOGESTÃO ... 31

3.1. Falência: uma análise das causas ... 32

3.2. Processos de Recuperação pela autogestão: características e obstáculos ... 39

3.3. O perfil das empresas recuperadas ... 43

3.4. Análise de experiências de recuperação de empresas pela autogestão ... 47

3.4.1. O processo de escolha dos casos ... 49

3.4.2. Estudos de Caso ... 49

3.4.3. Estudo de Caso: Metalcoop – Cooperativa de Produção Industrial de Trabalhadores em Conformação de Metais. ... 50

3.4.4. Estudo de caso da UNIPOL – Cooperativa de Trabalhadores da Indústria de Polímeros de Joinville ... 59

3.5. Conclusões gerais sobre os dois casos estudados ... 67

3.6. Avaliação dos esforços recentes nas demandas das Empresas Recuperadas ... 68

3.6.1 Marco Legal ... 70 3.6.2 Crédito ... 71 3.6.3 Apoio Técnico ... 71 3.6.4 Formação ... 72 3.6.5 Avaliação geral ... 73 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 79 APÊNDICES E ANEXOS ... 87

Diagnóstico e Análise de Competitividade ... 87

Caracterização Geral ... 87

Percepção do Clima e Ambiente Organizacional ... 89

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Tecnologia, Qualidade, Inovação e TIC ... 92 Aspectos Contábeis, Financeiros e de Desempenho ... 93 Análise da Autogestão ... 94 Processo de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores ... 99

(23)

INTRODUÇÃO

O encerramento e a falência de empresas é um processo intrínseco ao sistema capitalista. Atua como parte de um ciclo dinâmico, no qual, diariamente, novas empresas são criadas, enquanto outras são encerradas pelas mais diversas razões.

Na década de 2000, mais de 100 mil empresas tiveram seu pedido de falência requerido no Brasil, sendo que 30% desse total foram decretadas pela justiça. Este número foi significativamente menor em relação à década anterior, na qual se observaram mais de 220 mil requerimentos e cerca de 40 mil falências decretadas. Apesar da queda no segundo período analisado, experimenta-se novamente um aumento das falências em 2012 em comparação a 2011, indicando uma piora nas condições financeiras das empresas brasileiras nesse ano1 (SERASA EXPIRIAN, 2012). As organizações que tiveram sua falência requerida foram, em sua grande maioria, micro e pequenas empresas. No entanto, vale notar que as corporações de médio e grande porte responderam por expressivos 30% desse total entre os anos de 2005 e 20122.

Ao encerrarem suas atividades, as empresas, especialmente as de maior porte, geram perdas significativas para um conjunto de agentes econômicos, afetando diretamente seus proprietários, passando por seus funcionários, fornecedores, prestadores de serviços, representantes comerciais, agentes financeiros, clientes e, eventualmente, dependendo de sua importância econômica, toda a dinâmica de uma localidade. Além disso, perdem-se, com seu fechamento, conhecimentos acumulados, competências desenvolvidas e, usualmente, desmonta-se a estrutura produtiva com as vendas de ativos parciais para o pagamento de credores, inviabilizando a retomada dos negócios no futuro.

Para tentar lidar com essas situações e minimizar os danos, o Direito Falimentar brasileiro3 atua como instrumento de proteção e busca, em seu escopo, preservar as atividades empresariais, recuperar o empreendimento em crise, salvaguardar os interesses dos credores e maximizar o valor dos ativos da empresa falida (NARDI & VIEIRA, 2012). Para cumprir parte desses objetivos, prevê-se o instrumento da recuperação judicial,

1 É possível perceber que há um caráter cíclico (estrutural) e um caráter conjuntural que atua sobre a

intensidade desses processos, garantindo a relevância do tema mesmo em momentos positivos da economia.

2

Somente a partir de 2005 temos dados desagregados por porte.

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abrindo também a possibilidade de que sejam facultadas aos trabalhadores (enquanto credores) alternativas distintas para o encaminhamento da situação, pois, dependendo da conjuntura econômica, bem como do perfil dos trabalhadores, nem sempre é possível a recolocação dessas pessoas no mercado de trabalho, gerando um problema social grave e de difícil solução.

1.1. Problema

Dentre as alternativas acima citadas, destaca-se a possibilidade da organização coletiva dos trabalhadores da empresa falida em um empreendimento autogestionário (cooperativa) e o posterior arrendamento por esse da massa falida para dar continuidade às atividades produtivas como forma de minimizar o impacto do desemprego e compensar o não recebimento dos direitos trabalhistas. Apesar de possível, esse ainda não é um caminho automático, nem devidamente regulamentado, e resulta, na maioria das vezes, de um processo de luta encampado pelos trabalhadores apoiados pelos seus respectivos sindicatos e cujo grau de dificuldade a ser enfrentado dependerá, em última instância, de decisões caso-a-caso da justiça do trabalho.

Algumas experiências de recuperação de empresas pelos trabalhadores foram encampadas no Brasil ainda na década de 1980, mas foi na década de 1990, em decorrência da abertura comercial do país e dos processos de reestruturação produtiva, o momento histórico no qual ocorreu a maior incidência desse fenômeno. O “novo sindicalismo”, que emerge no final da década de 1970, tendo como exemplo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o Sindicato dos Químicos do ABC e outros sindicatos do centro-sul do país, protagonizou, na maior parte dos casos, o apoio aos trabalhadores nos processos de recuperação de empresas pela autogestão.

Por influência das experiências sindicais internacionais, onde se destacam as italianas e espanholas, o movimento sindical brasileiro teve contato com a autogestão e o cooperativismo e trouxe para a luta sindical essa bandeira, como uma nova perspectiva e possibilidade: a preservação dos postos de trabalho e da renda dos empregados das empresas falidas por meio da continuidade do negócio pela autogestão dos trabalhadores. Nesse período, algumas empresas, que tiveram sua falência decretada ou que passaram por

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longos e penosos processos de desestruturação, acabaram por receber atenção diferenciada de seus sindicatos, os quais estimularam os trabalhadores e possibilitaram a condução da questão pelo caminho da autogestão operária.

Por tratar-se de entidades de classe, com foco na luta política e pouca ou nenhuma tradição em gestão empresarial, muitos desses processos correram sem a devida atenção às questões econômicas e financeiras. O foco centrado na luta pela preservação dos postos de trabalho no curto prazo levou em parte dos casos, a decisões políticas dissociadas das reais possibilidades econômicas das empresas que se decidiu recuperar. Sem o apoio e os recursos financeiros necessários do Estado para que se construíssem as bases que garantiriam sua sustentabilidade no tempo, muitas dessas experiências ainda hoje não se consolidaram.

As deficiências estruturais oriundas dos processos pelos quais passaram ao serem recuperadas, juntamente com a ausência de leis e de financiamento adequados e de apoio técnico e de competências em seus quadros, refletiram em uma taxa de sucesso dessas experiências relativamente baixa. Sem grandes exemplos de sucesso, há uma tendência no poder público e na própria academia de se descartar a autogestão dos trabalhadores como uma oportunidade concreta na recuperação de empresas falimentares. Com poucos casos bem sucedidos em andamento e com o ciclo virtuoso da nossa economia nos últimos anos, o que se verifica atualmente é um quase abandono dessas poucas experiências pelo setor público e uma grande morosidade no tramite de uma legislação condizente com a realidade desses empreendimentos. Ainda assim, e contra todos os prognósticos, existem casos bem sucedidos de cooperativas que acessaram recentemente linhas de crédito oficiais, via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), criadas especificamente para empresas autogestionárias mesmo após terem sido afetadas pelo impacto negativo da última crise mundial, iniciada em 2008.

Neste contexto, o presente trabalho tem o objetivo de avaliar se a autogestão dos trabalhadores se constitui em uma alternativa viável à recuperação de empresas falidas ou em processo falimentar no Brasil e se essas experiências poderiam ser replicada na forma de uma política pública.

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Para buscar uma resposta a esse problema, será preciso analisar as experiências de recuperação de empresas em processo de autogestão dos trabalhadores e verificar a viabilidade de tais projetos, identificando as variáveis que podem contribuir para explicar o seu sucesso ou fracasso. Além disso, será também necessário contextualizar o período no qual se desenvolveram as experiências coletivas autogestionárias, bem como entender o papel desempenhado pelos sindicatos neste processo. Não menos relevante, será buscar entender como essas experiências deram origem a bandeiras mais amplas que desaguaram na Economia Solidária e como isso, por fim, acabou afetando o desenvolvimento das políticas públicas aqui sintetizadas pela criação e atuação em âmbito nacional da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego – MTE.

De forma a abordar os pontos destacados, o trabalho está dividido em cinco partes, incluindo esta introdução. No Capítulo 01, será realizada uma contextualização geral da economia e da ação sindical no período da criação da Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão e Participação Acionária – ANTEAG e da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários - UNISOL Brasil, bem como uma breve passagem pela evolução das políticas públicas de Economia Solidária. O Capítulo 02, por sua vez, tratará das ações desenvolvidas pela Secretaria Nacional da Economia Solidária – SENAES voltadas às empresas recuperadas. Já o Capítulo 03 analisará experiências de autogestão, abordando as causas comuns da falência de empresas, descrevendo os processos gerais de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores, suas principais características e obstáculos. Adicionalmente, serão realizados uma revisão bibliográfica dos estudos sobre a viabilidade econômica dessas experiências e, para fins analíticos, com maior profundidade, o estudo de dois casos de recuperação: Metalcoop de Salto e da UNIPOL de Joinville. Por fim, analisar-se-ão os avanços conquistados pelas Empresas Recuperadas na última década. No último capítulo, serão tecidas considerações finais, com as principais conclusões alcançadas, além de um indicativo dos possíveis caminhos a serem seguidos.

(27)

CAPÍTULO 01 – CONTEXTO DO SURGIMENTO DAS

PRÁTICAS DE AUTOGESTÃO

O presente capítulo analisa o ambiente em que são gestadas as iniciativas autogestionários no bojo dos movimentos sociais, como resposta à deterioração do mercado de trabalho nacional e à ampliação da exclusão social iniciados na década de 1980, e ao desemprego estrutural, que se soma a esse quadro durante os anos de 1990.

Verifica-se, à posteriori, que movimentos sociais de origens distintas, que tinham objetivos semelhantes, compartilhavam um conjunto de valores em suas ações de base que à frente deram origem à Economia Solidária. Observa-se a existência de, por um lado, movimentos sindicais apoiando as iniciativas de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores e, por outro, os movimentos populares de base, fomentando a organização coletiva de populações excluídas em empreendimentos econômicos solidários (EES), como alternativa de trabalho e renda dessas populações.

Entender como esses movimentos vão convergir em um conjunto de políticas públicas encampadas pela Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES ajudará a compreender a fragilidade das iniciativas de fortalecimento e difusão da recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores no Brasil. Do mesmo modo, analisar o cenário no qual se desenvolveram essas iniciativas, exporá o caráter anticíclico da força política desses movimentos e contribuirá para explicar o esvaziamento recente da agenda da Economia Solidária em sua vertente urbana.

Para finalizar o quadro, analisar-se-á brevemente a trajetória de duas organizações nascidas das experiências de recuperação de empresas: a Associação dos Trabalhadores de Empresas de Autogestão e Participação Acionária – ANTEAG e a Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários – UNISOL Brasil, que apesar de nascidas com o apoio do movimento sindical, sempre tiveram autonomia política para determinar seu caminho, o que acabou resultando no afastamento relativo de ambas dos processos de recuperação de empresas que as originaram.

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O Capítulo é composto por cinco seções organizadas de forma que, na primeira seção, serão avaliados os determinantes macroeconômicos que explicam o quadro de desestruturação em que se desenvolvem as experiências autogestionárias contemporâneas. Na segunda seção, será analisado o papel do movimento sindical nos processos de recuperação de empresas e na criação da ANTEAG e da UNISOL Brasil. Na terceira seção, será feita uma breve síntese da ação dos movimentos populares de base no qual se desenvolveram experiências autogestionárias de caráter popular. Na quarta seção, buscar-se-á explicar o reflexo desses movimentos nas políticas públicas regionais e sua síntese na criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES. Por fim, no último tópico, serão realizadas algumas considerações finais.

1.1. Contexto econômico na falência de empresas industriais na década de 1990

A crise mundial iniciada na década de 1970 com fim do sistema de Bretton Woods (padrão ouro-dólar) em 1971, seguida do primeiro choque do petróleo em 1973, marcou o fim da “era de ouro” do capitalismo mundial e teve grande repercussão no Brasil, levando à ruptura do modelo nacional-desenvolvimentista que predominou desde a década de 1930.

Como coloca CARDOSO JR. (2001:2):

“Com a crise econômica que tomou conta do país no bojo da implementação do II PND nos anos 70, instalou-se, a um só tempo, o colapso do modelo político desenvolvimentista e a reversão das tendências de crescimento de sua economia. Assim, enquanto a década de 1980 foi representante da primeira fase da regressão industrial do país, os anos 90 podem ser vistos como palco da segunda fase da trajetória brasileira de regressão industrial.”

Após esse período e por mais de 25 anos, o Brasil atravessou uma crise econômica após outra. Os resultados de tal cenário se caracterizaram pela baixa atividade econômica, baixas taxas de investimento e, durante a década de 1990, pelo fechamento de empresas, levando à destruição de empregos e à insuficiente geração de postos de trabalho. Apesar da década de 1980 ser considerada uma “década perdida” para o Brasil, os anos de 1990 se mostraram ainda mais destrutivos para o mercado de trabalho.

A crise dos 1980 teve como marca as baixas taxas de crescimento do produto e uma quase estagnação do PIB per capita com grande aceleração inflacionária. Os fortes

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constrangimentos externos à importação e a crescente necessidade de ampliação das exportações, em decorrência do endividamento externo do país e do peso crescente dessa dívida nas contas correntes e de crescentes remessas ao exterior, mesmo num ambiente inflacionário, acabaram de certa forma “protegendo” o mercado de trabalho nacional de uma crise ainda maior.

Esse isolamento externo relativo, ainda que tenha reduzido sobremaneira as taxas de investimento da economia e impedido que se debelasse o processo inflacionário, acabou protegendo o mercado de trabalho das mudanças em desenvolvimento em âmbito mundial na gestão e organização da produção, bem como os produtores internos e os produtos nacionais da concorrência internacional. Estes fatores possibilitaram, apesar das baixas taxas de crescimento do PIB, a manutenção do nível de ocupação – ainda que com a piora substantiva da qualidade dos postos de trabalho e do rebaixamento de parte importante dos salários (HENRIQUE, 1998; BALTAR, 2003).

Em contraponto, os países europeus – e aqui se destacam a Itália e a Espanha devido ao tema da autogestão e recuperação de empresas – foram bastante afetados pela crise mundial que marcou o final da “era de ouro do capitalismo”, guiando-os à experimentação de processos de falência e reestruturação produtiva já nas décadas de 1970 e 1980; período no qual se desenvolveram as experiências coletivas autogestionárias como alternativa concreta à estagnação econômica e ao aumento do desemprego nesses países.

No Brasil, a relativa estabilidade do nível de ocupação vivida nos anos 1980, mesmo com a deterioração contínua da renda do trabalho, com queda dos níveis de formalidade e a expansão da informalidade e do desemprego, não sinalizava para o que se aguardava no início dos anos de 1990. Logo nos primeiros anos da década, com a eleição de Fernando Collor de Mello, inicia-se um processo abrupto de abertura da economia nacional como estratégia para “modernizar” o país. Essa ação teve consequências desastrosas para uma indústria pouco competitiva e desatualizada tanto em termos estruturais, quanto em termos da organização da produção4. Entrou-se no processo de globalização pela porta dos fundos, de forma subordinada5, sem uma estratégia formulada, o que causou grande impacto negativo na estrutura produtiva nacional e, por consequência,

4

Ainda presa aos antigos paradigmas fordistas-tayloristas, concorrendo com plantas flexíveis.

(30)

na dinâmica do mercado de trabalho. O custo dessas decisões foi extremamente alto para a indústria de transformação em específico e para os trabalhadores em geral (MATTOSO, 1995; POCHMANN, 1999; BALTAR, 2003).

Com a contenção da inflação após o Plano Real e a continuidade do processo de abertura da economia à concorrência externa, o problema exacerbou-se: ao se manter o câmbio valorizado (âncora cambial) e as taxas de juros extremamente elevadas para atrair o capital dos investidores externos e financiar os crescentes déficits comercias, num contexto de liberalização dos fluxos financeiros e de abertura comercial, desestimulou-se o investimento produtivo e ampliou-se demasiadamente a exposição da indústria nacional (CARNEIRO, 2002).

A manutenção da taxa de câmbio valorizada até 1999, somada as altas taxas de juros praticadas que desestimulavam os investimentos produtivos, acabou por desarticular cadeias produtivas importantes (com fechamento de empresas nacionais e desnacionalização de parte importante de cadeias consolidadas). Além disso, acelerou os processos de reestruturação produtiva, com realocações de empresas no território nacional (guerra fiscal), ampliação das terceirizações, enxugamento de quadros e precarização dos vínculos empregatícios. Adicionalmente, colocou em pauta (tanto pelo lado do empresariado como pela ideologia dominante no governo e de parte da academia) a necessidade premente de flexibilização das relações de emprego6 como solução ao crescente desemprego e à intensa concorrência internacional a que eram submetidas as empresas e os produtos nacionais.

O resultado desse movimento foi a ampliação das taxas de desemprego aberto para níveis duas vezes superiores aos observados durante a década de 1980 (Gráfico 1), com destruição permanente de elos importantes de cadeias produtivas anteriormente consolidadas, a diminuição de mais de 1 milhão de postos de trabalho na indústria de transformação, a ampliação do coeficiente importado de produtos nacionais e aumento da necessidade de importação de produtos finais acabados, bem como a necessidade de importação de um amplo conjunto de bens de capital mais modernos (CARNEIRO, 2002; POCHMANN, 1999).

6

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Gráfico 1 - TAXAS DE DESEMPREGO ABERTO NO BRASIL ENTRE 1989 A 1999.

Fonte: IBGE (PME – Séries históricas)

Após 1999, com a desvalorização do Real e a adoção do regime de câmbio flutuante, inicia-se um processo de recuperação de alguns ramos industriais de bens tradables que haviam sido fortemente prejudicados nos anos anteriores pelo câmbio valorizado e pelas elevadas taxas de juros. Esse movimento foi importante, mas ainda insuficiente para reverter o quadro geral e preservar empresas da iminente falência em decorrência do quadro hostil enfrentado em anos anteriores.

Nesse quadro de mudança abrupta das condições de competitividade das empresas, de baixo crescimento econômico, destruição de postos de trabalho e aumento das taxas de desemprego aberto foram gestados os movimentos que desaguaram na Economia Solidária.

1.2. O papel do movimento sindical na recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores

A experiência de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores se iniciou como resposta à grande crise de 1981/83, quando muitas indústrias de grande porte entram em processo falimentar. Nesta época ocorre a formação das cooperativas que assumem a indústria Wallig de fogões, em Porto Alegre, a Cooperminas de Santa Catarina

3,4 4,3 4,8 5,8 5,3 5,1 4,6 5,4 5,7 7,6 7,8 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 (% ) Ano

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e as cooperativas que operam as fábricas da antiga Tecelagem Parahyba de cobertores em Recife e em São José dos Campos (SINGER, 2000).

O sindicato foi um dos protagonistas no fomento dessas experiências coletivas autogestionárias, mas ao que sugere, ao menos nesse primeiro momento, esse protagonismo deveu-se à posição privilegiada que ocupava no processo pela sua proximidade com os trabalhadores das fábricas falimentares. Foram situações já colocadas que os motivaram a apoiar processos espontâneos de iniciativa dos trabalhadores fabris por eles representados.

Paralelamente às experiências pontuais de recuperação de empresas, o movimento sindical, enfraquecido pelos processos de reestruturação produtiva, pelo avanço da informalidade, do desemprego e da flexibilização das relações de trabalho, se viu pressionado a repensar sua atuação de modo a contribuir de forma mais efetiva numa luta que extrapolava suas antigas fronteiras corporativas.

Em relação à nova postura da Central Única dos Trabalhadores – CUT, Magalhães e Todeschini (2000, p: 146) mencionam:

Na medida em que se processa a transição para um modelo de desenvolvimento, devem ser repensadas as estratégias de enfrentamento e de organização do movimento sindical. Considerando os instrumentos de exploração dos trabalhadores nesse modelo excludente atual e as possibilidades alternativas da organização dos trabalhadores formula-se o debate no movimento sindical sobre propostas para a construção de um novo modelo.

A recessão e a reestruturação produtiva e seus impactos no mercado de trabalho estão também provocando fortes impactos na ação sindical que a colocam numa situação de impasse [...]. No plano organizativo diminui a base tradicional da ação sindical e torna-se imperativo o trabalho com o setor informal e mesmo com

os desempregados, que cada vez mais passam a responder por boa parte do

mercado de trabalho real. (grifo nosso).

Foi esse sindicato mais progressista, com histórico de lutas no campo político e com forte influência nos processos de democratização nacional durante os anos 1970 e 1980, o chamado “novo sindicalismo”7

, que apoiou as iniciativas da década de 1990 na recuperação

7 O Novo Sindicalismo se institucionaliza, quase que, em sua totalidade, na Central Única dos Trabalhadores,

a CUT. Apesar de não abranger o conjunto dos trabalhadores, conseguiu o reconhecimento de todos os setores sociais e dinamizou a organização sindical. Para mais informações, ver RODRIGUES (1999).

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de empresas pela autogestão dos trabalhadores. A motivação central, tanto dos trabalhadores das empresas em crise ou falimentares, bem como dos sindicatos que os apoiaram, foi, em primeira instância, a preservação da estrutura produtiva pré-existente, dos postos de trabalho e da renda dos trabalhadores. Sem perder de vista os benefícios de se fomentar uma sociedade mais democrática, com processos de trabalho mais humanos e com uma postura socialmente sustentável – como benefícios secundários –, o objetivo dos sindicatos era o de garantir a renda das famílias envolvidas no processo de falência e fechamento do parque produtivo pré-existente através da manutenção de seus postos de trabalho (ODA, 2000). A postura dos sindicatos em fomentar e apoiar as iniciativas de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores foi uma reação aos processos de reestruturação produtiva, fechamento de fábricas e aumento do desemprego. Enfim, uma alternativa considerada viável no curto prazo para o enfrentamento de um problema de graves consequências imediatas.

Quando ODA (2000) trata da decisão da constituição de uma união de cooperativas8 no 3º Congresso dos Metalúrgicos do ABC em 1999, o autor remete as decisões tomadas em congresso anterior (1996) no qual foi avaliado que:

[...] uma das ações de combate ao desemprego seria propor uma discussão ’com os trabalhadores (de) formas inovadoras de geração de emprego, ou de se evitar demissões anunciadas, pela via da experiência de cooperativas, autogestão, co-gestão e outras modalidades criativas que garantam a manutenção dos postos de trabalho (ODA 2000, p. 95).

E completa:

A decisão do sindicato de tomar as cooperativas como uma de suas prioridades insere-se também na difusão do tema no país. Da mesma maneira como já ocorrera em outros países, as cooperativas no Brasil passaram a figurar como alternativa de trabalho e renda após o agravamento da crise econômica e a explosão do desemprego (ODA, 2000, p. 95).

Esse mesmo sindicato, em protocolo de intenções assinado com centrais sindicais italianas, estabeleceu a prioridade de conhecer as experiências bem sucedidas da Região da

8

Que viria a se transformar na Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários – UNISOL Brasil, em 2000.

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Emilia Romagna, Itália, com o objetivo de se qualificar para enfrentar um problema que havia sido enfrentado por eles durante a década anterior.

Assim, em 1998, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – SMABC monta uma comitiva que percorre os países da Itália e Espanha com o objetivo de capacitar técnicos e dirigentes para a nascente Economia Solidária brasileira. Essa comitiva fecha acordos com três centrais sindicais: a Confederação Geral Italiana (CGIL), a Confederação Italiana dos Sindicatos (CISL) e a União Italiana de Trabalhadores (UIL). Além de algumas federações metalúrgicas, como a Federazione Impiegati Operai Metallurgici (FIOM), a Federazione Italiana Metalmeccanici (FIM) e a Unione Italiana Lavoratori Metalmeccanici (UILM). Assinou também um protocolo de cooperação com a Itália e, adicionalmente, deu início a um intercâmbio com a LEGACOOP – Central de Cooperativas Italiana –, que passou a ser grande incentivadora do desenvolvimento de cooperativas e a da Economia Solidária no Brasil.

Após essa visita, o SMABC comprometeu-se a criar em São Paulo uma Liga de Cooperativas, e assim, em 1999, surge a UNISOL São Paulo, concretizada com a presença de representantes da Itália e da Espanha.

Nesse mesmo período, como coloca SINGER (2000, p: 7):

“Enquanto se davam estes avanços no plano macro, a crise na Conforja, a maior forjaria do país, localizada em Diadema, ensejaria, a partir de 1996, o envolvimento direto do sindicato numa grande operação de resgate de postos de trabalho. Em seguida, o sindicato se engajaria em outras operações semelhantes: a transformação da Nichiden em Coopertronic, da Cervin em Uniwídia, da formação da Cootrame pelos trabalhadores demitidos da Nordon, a transformação da Olan – uma empresa têxtil, portanto não pertencente à categoria metalúrgica - em Cooperautex e da KWCA em Metalcooper e Fibercoop”.

Paralelamente e até anteriormente a essas atividades do SMABC, outros sindicatos Cutistas participaram ativamente dos processos de recuperação de empresas em outras Unidades da Federação.

A experiência de recuperação da empresa de sapatos Markeli, de Franca, logo no início da década de 1990 marcou uma nova fase ao desenvolvimento de metodologias e processos de recuperação de empresas. Uma vez que levou à criação, em 1995, da

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Associação dos Trabalhadores de Empresas de Autogestão e Participação Acionária – ANTEAG9, pela extinta Secretaria de Formação do Sindicato dos Químicos de São Paulo, liderados por Aparecido Faria e apoiados pelo Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos Sociais e Econômicos – DIEESE (SINGER, 2000).

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, muito próximo à CUT também se envolveu em projetos mais amplos da Central com o intuito de fomentar outras experiências cooperativas, que não somente a modalidade de recuperação de empresas, e ajudou a construir uma rede ampla com o objetivo de fortalecer o tema no interior do movimento sindical. A CUT ampliou o escopo de sua atuação por meio de uma política de geração de trabalho e renda com foco na autogestão e Economia Solidária. Em seu projeto político de fortalecimento da UNISOL Brasil, antiga UNISOL Cooperativas, foi incluído o Projeto da Agência de Desenvolvimento Solidário e também o conjunto de Cooperativas de Crédito – ECOSOL.

Com o movimento nacional de Economia Solidária começando a ganhar corpo, foi fundada em 2004 a Central de Cooperativas e Empreendimento Solidários – UNISOL Brasil, nascida como uma entidade de representação politica de abrangência nacional e, desse modo, distanciando-se relativamente das empresas recuperadas e aproximando-se de outras modalidades de empreendimentos econômicos solidários (EES) de origem popular, tanto urbano, quanto rurais.

1.3. Os movimentos sociais e a autogestão

No contexto acima citado, verifica-se, por um lado, que os movimentos sindicais entram nas discussões sobre autogestão com um olhar pragmático sobre os efeitos do desemprego crescente e com foco na manutenção dos postos de trabalho, em resposta à desestruturação de sua base de atuação e como um modo de se articular com outros setores

9 A Anteag é uma associação formada por trabalhadores de empresas de experiência autogestionária fundada

em 1995, mas com origem na experiência de recuperação da Markeli, que contou com o apoio de técnicos do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE. A Anteag nasce com o objetivo de apoiar tecnicamente os empreendimentos recuperados e com a missão de: promover a construção, divulgação e desenvolvimento de modelos autogestionários que contribuam para criar/recriar trabalho e renda desenvolvendo a autonomia e formação dos trabalhadores, estimulando ações solidárias e fraternas e representando as empresas/empreendimentos autogestionários (Anteag, Sítio Oficial).

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da sociedade. Por outro lado, os movimentos sociais de base iniciam suas atividades já durante os anos de 1980 com um enfoque distinto, com maior carga ideológica e com uma abordagem mais política e politizante dos atores envolvidos.

Nesses processos destacam-se alguns atores importantes que influenciam os rumos das discussões acerca da autogestão e da Economia Solidária e cujo enfoque acabará por dar a direção geral de atuação das políticas públicas da Economia Solidária no Brasil. Destacam-se nesse processo: i) o Movimento dos Sem Terra – MST, com o projeto de Cooperativas de Produção Agropecuária (CPAs), que dará origem, em 1992, à CONCRAB – Cooperativas Centrais de Reforma Agrária; ii) a Caritas Brasileira, entidade associada a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), ligada à Igreja Católica que desde 1984 fomentou o desenvolvimento de milhares de Projetos Alternativos Comunitários (PACs) em todo o Brasil e cujas experiências urbanas serão pioneiras nas iniciativas de empreendimentos populares; iii) a Ação pela Cidadania Contra a Miséria e pela Vida – ACCMV, do Betinho, que em 1993 reorienta suas ações no sentido de promover a geração de trabalho e renda e não somente promover assistência através da distribuição de cestas básicas como de costume. Como fruto de seu trabalho, para além da expansão acelerada de experiências de autogestão em todo o país, destaca-se o projeto de grande repercussão que influenciará a criação das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares – ITCPs, a COOTRAM do Complexo de Favelas de Manguinhos no Rio de Janeiro (SINGER, 2000).

As experiências desenvolvidas pelos movimentos sociais de base, somadas às ações dos sindicatos e das associações por eles criadas irão abastecer os debates do movimento da Economia Solidária no Brasil. Essas discussões ganharão corpo e começarão a fazer parte das discussões partidárias (especialmente do Partido dos Trabalhadores) e a vigorar em planos e estratégias de governos progressistas em nível estadual e municipal como parte das ações no combate à pobreza e a exclusão social, em resposta ao desemprego estrutural por eles enfrentado.

1.4. As reações do poder público ao desemprego estrutural

Durante esse período hostil às empresas industriais, nem se aventava, ao longo da década de 1990, a possibilidade de construção de uma política pública de geração de

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trabalho e renda dentro do Governo Federal. Como o problema era real e os números eram apresentados pelos meios de comunicação, restava ao Governo Federal assumir que se tratava de um problema conjuntural, que decorria de um desajuste entre a oferta e a demanda de mão-de-obra, que poderia ser equilibrado desde que se permitisse maior flexibilidade às relações vigentes de trabalho.

Na visão corrente do pensamento dominante no Governo, os problemas entre a oferta e a demanda que ocorria no mercado de trabalho, reduziam-se a uma questão de preço, ou, no caso específico do Brasil, ao alto custo do trabalho (trabalhador) e à rigidez de seu uso. Além do problema da rigidez dos preços, entendia-se que havia um desnível entre a qualificação da mão-de-obra disponível e àquela necessária para ocupar as vagas oferecidas no mercado de trabalho, o que também contribuía para o aumento das taxas de desemprego verificadas.

Esse raciocínio levou o governo ao esforço para promover formas flexíveis de contratação e remuneração da força de trabalho como variável de ajuste na tentativa de equilibrar a oferta e a demanda de mão-de-obra no mercado de trabalho. Bem como, desenvolver Programas de qualificação profissional10 às expensas do Fundo de Amparo ao Trabalhar – FAT11 com o objetivo de melhorar a qualificação dos trabalhadores, desempregados, ou não.

Ao final, as políticas de formação profissional tiveram baixo impacto na redução das taxas de desemprego, que permaneceram altas durante toda a década de 1990. Sua baixa efetividade acabou evidenciando que, de fato, não se tratava somente de um problema de qualificação da mão-de-obra, mas, em última instância, da baixa geração de postos de trabalho em quantidade suficiente para absorver uma crescente população excedente,

10

Plano Nacional de Formação Profissional (Planfor) de 1995, elaborado pelo MTE por intermédio da Secretaria de Formação e Desenvolvimento Profissional, cujo objetivo consistia em aumentar a oferta de educação profissional, de forma a atingir, anualmente, pelo menos 20% da PEA. O público-alvo seria composto por desempregados, trabalhadores formais e informais, micro e pequenos produtores urbanos e rurais, jovens à procura de emprego, jovens em situação de risco social, mulheres chefes de família, portadores de deficiência, entre outros.

11

Lei 7.998/90, que criou o Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT e o Conselho Deliberativo do FAT (Codefat), que consagrava-se como a principal base de incidência o faturamento das empresas para financiamento do fundo e proporcionou as bases para a expansão do escopo das políticas públicas de emprego, a fim de que fossem além da concessão temporária de benefício monetário contra o desemprego.

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expondo à sociedade o despreparo do Estado para lidar com as novas questões que emergiam12. (MORETTO, 2007; KREIN, 2007)

Foi nesse contexto de grave crise estrutural do mercado de trabalho que a sociedade começa a reagir. Diante da falta de perspectiva da retomada do modelo fordista-taylorista de produção, evidencia-se o despreparo das políticas públicas tradicionais para o enfrentamento das novas questões de exclusão maciça de trabalhadores e as dificuldades crescentes de equalização dos desequilíbrios gerados pelo novo modelo de produção flexível na sociedade contemporânea (MÉZSÁRIOS, 2006; POCHMANN, 2006).

Uma vez que uma parte da sociedade diagnostica não se tratar de um problema conjuntural, mas um problema estrutural e que, portanto, não passível de ser resolvido no curto prazo13, buscam-se alternativas à inserção produtiva tradicional: através de um conjunto de políticas de enfrentamento da pobreza e da exclusão social, conhecidos em seu conjunto por políticas alternativas de geração de trabalho e renda14.

Sem desprezar a importância e a necessidade fundamental de políticas macroeconômicas alinhadas na busca pelo Pleno Emprego15, os formuladores dessas políticas e programas buscavam produzir certo alívio em meio ao caos que se instalara no país. Verifica-se que as tentativas pioneiras de enfrentamento da nova exclusão, deram-se nas esferas da administração pública Estadual e Municipal.

Experiências amplas no sentido do fomento às atividades autogestionárias e com objetivos estruturantes, ocorreram no Rio Grande do Sul a partir de 1999, na Secretaria de Desenvolvimento e Assuntos Internacionais – SEDAI16, no Governo Olívio Dutra (PT), no âmbito do Programa de Economia Popular e Solidária (“Ecopopsol”). Para desenvolver esse projeto foi contratada a ANTEAG com o objetivo fomentar o desenvolvimento de

12 Mesmo depois de verificada a baixa efetividade dessas ações, manteve-se a política de qualificação, que

servia mais como um instrumento de cooptação política das Centrais Sindicais, que acessavam os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, e os distribuíam pela sua base, do que para cumprir com o objetivo de “capacitar” os trabalhadores desempregados para as vagas (in) existentes.

13 Ao menos sem uma mudança radical nos princípios da gestão macroeconômica do país.

14 São políticas complementares às tradicionais políticas públicas de seguro-desemprego, formação

profissional e intermediação de mão-de-obra, desenvolvidas no âmbito do WelfareState nos países desenvolvidos na busca pelo Pleno Emprego, com enfoque na recolocação daqueles trabalhadores excluídos do mercado de trabalho convencional.

15 Políticas macroeconômicas voltadas ao estímulo à demanda e ao crescimento da economia nacional. 16

Programa de desenvolvido em parceria com a Associação dos Trabalhadores de Empresas de Autogestão e Participação Acionária – ANTEAG.

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cooperativas na região, o que implicou no deslocamento da sua equipe e na ampliação de seu escopo de atuação. Além das empresas recuperadas, a ANTEAG foi mobilizada para o atendimento de outros empreendimentos econômicos solidários (EES) e, desse modo, acabou se afastando, assim como a UNISOL Brasil, das empresas recuperadas.

Em âmbito municipal, em uma linha emergencial, como resposta parcial ao problema e como “porta de saída”17

para os programas redistributivos18, é que (re)surgiram as políticas de estímulo ao empreendedorismo coletivo no âmbito da Economia Solidária – Ecosol19, como é o caso da Secretaria de Desenvolvimento Trabalho e Solidariedade – SDTS, constituída em 2000 no Município de São Paulo, no Governo Marta Suplicy, pelo então Secretário Marcio Pochmann, através do Programa Oportunidade Solidária20.

Juntamente com as estruturas de apoio formadas pelas instâncias de governo e pelos próprios trabalhadores, surgiram outras experiências no âmbito da Ecosol no meio universitário. Com apoio da FINEP, entre os anos de 1995 e 1999, são constituídas as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares – ITCPs, dentre as quais se destacam como pioneiras as experiências da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), da UFC (Universidade Federal do Ceará), da UFPR (Universidade Federal do Paraná), da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e da USP (Universidade de São Paulo). Em 1999, as

17 Termo utilizado para nomear as estratégias de saída de beneficiários dos novos programas que se

pretendiam ser emancipatórios e não meramente assistencialistas.

18 Programas de garantia de renda às famílias com renda familiar abaixo da linha de pobreza. No caso em

questão, o Programa Renda Mínima (para famílias com renda de até ½ salário mínimo per capita), o Programa Começar de Novo (desempregados com mais de 40 anos) e o Programa Bolsa Trabalho (jovens de 16 a 24 anos)

19 Embora não haja um conceito claro e uma definição acabada de Economia Solidária, segundo CRUZ (2001,

p. 07):

[...] perceberemos que ela tende a submeter a um mesmo conceito três ordens diversas de ação social, a saber: (1) as formas associativas tradicionais de produção e de consumo – as cooperativas, orientadas pelo e para o mercado, inclusive no tocante às relações típicas do mercado de trabalho, de propriedade e de relação de trabalho internas;

(2) as formas de apoio e fomento às iniciativas de produção e consumo associativas, como agências de crédito ou de formação técnica;

(3) experiências de um novo tipo que associam, ao mesmo tempo e em maior ou menor grau e ênfase, os

seguintes elementos: a) representam ações de resistência ao desemprego e à precariedade do trabalho, b) a propriedade, o trabalho e seus resultados são compartilhados entre os trabalhadores, c) gestão participativa e

d) inserção no mercado submetida a princípios éticos “mais ou menos igualitários” nas relações internas de trabalho (SINGER e SOUZA: 2000; DAL RI: 1999; ANTEAG: 2000).

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Incubadoras se juntam à Fundação Unitrabalho e se integram a ela como um de seus programas permanentes.

Além dessas instituições, é preciso destacar o papel determinante do Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) e seus respectivos Fóruns Estaduais e Municipais. Juntos, eles compõem um conjunto de atores de grande expressão dentro da Economia Solidária, agregando grande parte das instituições relevantes no interior de suas estruturas.

1.5. Algumas considerações

Como se verificou, ocorreram durante toda a década de 1990 diferentes processos e experiências de autogestão. Aparentemente, a partir da segunda metade dos anos 2000, um conjunto importante de atores e instituições estava preparado para seguir esse caminho e tinha experiência acumulada para desenvolver também uma política que fomentasse a recuperação de empresas falidas pela autogestão dos trabalhadores.

Assim, após a ascensão do Partido dos Trabalhadores – PT ao Governo Federal, muitas das experiências testadas em nível municipal e estadual foram transportadas ao nível federal. Embora haja ações na linha autogestionária e de fomento ao cooperativismo em vários Ministérios, é no Ministério do Trabalho e Emprego, por meio da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, que se concentrava a maioria das ações. Ao que parece, sua localização no interior da estrutura do MTE deve-se à origem desse projeto na luta pela busca de alternativas para geração de ocupação e renda e à reprodução das estruturas testadas pelos Governos Estadual e Municipal bem como ao entendimento do Governo de que o desenvolvimento da nação permanecerá circunscrito ao modelo capitalista tradicional.

A criação da SENAES21 em 2003 atendeu aos anseios dos Movimentos Sociais em sua luta pela institucionalização das políticas públicas necessários à sua expansão e fortalecimento, de modo que sua estrutura refletiu as nuances desses movimentos e seus

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diversos programas buscaram responder ao conjunto das demandas e à complexidade de um movimento em construção.

No próximo capítulo, serão tratadas políticas autogestionárias no âmbito da SENAES e, em especial, das políticas voltadas para o estímulo à recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores.

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CAPÍTULO 02 – A CRIAÇÃO DA SENAES E OS AVANÇOS

NO CAMPO DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS PELA

AUTOGESTÃO DOS TRABALHADORES

Com o avanço das discussões em torno da Economia Solidária (Ecosol) e com a crescente participação de atores e instituições envolvidas em seu fomento, em 2003, após a vitória do Partido dos Trabalhadores – PT ao Governo Federal, foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES. Fruto de um processo participativo e de demandas de movimentos sociais, sua estruturação refletiu as muitas nuances que o movimento carrega desde sua formação.

Esse capítulo tem como objetivo apresentar as características e funções da SENAES, bem como explicar os limites encontrados para que se avance na construção de uma política mais efetiva para recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores. Para tanto, a primeira seção tratará da formação desta secretaria, buscando analisar os fatores que se tornaram restritivos aos avanços nos processos de recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores. Na segunda seção, serão analisadas as ações desenvolvidas pela SENAES no campo da recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores. Já na última seção, serão realizadas considerações finais.

2.1. SENAES – Surgimento e objetivos

O coroamento da luta pela institucionalização das políticas públicas de Ecosol deu-se com a criação da Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Isso ocorreu logo no primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, em resposta aos processos reais e às pressões dos Movimentos Sociais22(em um encontro com 900 pessoas no qual também foi criado o Fórum Brasileiro de Economia Solidária), envolvidos nas atividades de representação e fomento às atividades coletivas autogestionárias da Economia Solidária, em expansão.

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Naquele momento, a sua criação foi considerada por essa miríade de atores como um avanço fundamental na luta por um novo padrão de desenvolvimento econômico e social para o país. Embora já houvesse certa desconfiança de algumas correntes quanto às suas possibilidades – por um lado, devido à sua vinculação ao MTE e à lógica de subordinação intrínseca a essa relação; por outro lado, pela possível restrição quanto ao escopo de sua atuação enquanto uma política de geração de trabalho e renda –, os resultados concretos alcançados mostraram-se ainda menos expressivos que o esperado.

A SENAES, pelas características de sua criação, confirmaria as expectativas pessimistas quanto ao destino de seus esforços. Desde seu nascimento, contou com poucos quadros efetivos, baixo orçamento, pouca experiência na gestão pública e com a tarefa de dar conta de demandas bastante distintas entre si, e sem a clareza necessária (do próprio movimento) sobre qual o melhor caminho seguir. Analisando-se os programas e projetos financiados, estes acabaram por fazer apenas mais do mesmo, reproduzindo em escala nacional as políticas municipais que nos anos anteriores não haviam conseguido lograr resultados expressivos no apoio e fomento a essas iniciativas (Cruz, 2001).

Como não há ainda um consenso quanto a uma definição conceitual de Economia Solidária no Brasil23, existindo um expressivo conjunto de atores e uma enorme demanda dentre as experiências denominadas de autogestionárias, a fragmentação desses poucos recursos materiais e humanos contribuiu significativamente para restringir os resultados alcançados.

Embora se trate de um relatório elaborado em 2005, através de um convênio firmado entre o Ministério do Trabalho e Emprego, através da SENAES e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA24, logo nas linhas introdutórias percebe-se a fragilidade das políticas de Economia Solidária que, aparentemente, ainda não foram superadas. Ao discorrer sobre o nível de estruturação da política, o relatório deixa claro que, devido à falta de clareza dos gestores sobre a definição das estratégias políticas a serem encaminhadas, há um baixo grau de estruturação dessas políticas:

23 Para essa discussão, consultar Santos (2001).

24 Celebrado através da sua Diretoria de Estudos Sociais, com o apoio e participação de professores e

pesquisadores da Universidade de Brasília, da Universidade Federal de São Carlos e da Universidade Federal da Bahia.

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Neste primeiro quesito (Nível de Estruturação da Política), o propósito inicial fora de conhecer o grau de estruturação da política de ES em termos da sua complexidade, ou seja, do nível de articulação entre plano, programa, projetos e ações. [...] O grau de estruturação das políticas de ES parecem assim fundamentar-se (essencialmente) nas próprias ações empreendidas. Tal constatação parece nos revelar uma primeira conclusão importante desta pesquisa, que diz respeito à suposta ausência (na maioria dos casos) de uma estratégia e/ou diretrizes claras em tais políticas [...]

Deve-se salientar ainda, a pouca importância atribuída às leis na estruturação de tais políticas. [...]. De todo modo, tais leis (as leis encontradas) não parecem revelar-se estruturantes destas políticas, muito embora tenham indicado contribuir na resolução de problemas pontuais – quando existentes. Em suma, a pesquisa nos leva a concluir inicialmente sobre o baixo grau de estruturação formal das políticas de ES. Isto porque não se percebem as conexões entre leis, planos, programas e ações na descrição da estruturação de tais políticas (Relatório MTE, p.: 4- 5).

Em outro documento oficial de avaliação do Plano Plurianual 2004-2007, no Caderno 22, que avalia as ações do MTE, a SENAES aparece como um Programa do Ministério intitulado de Economia Solidária em Desenvolvimento. Durante o período (2004-2007) foram empenhados a esse Programa R$ 63 milhões, equivalentes a 0,31% do orçamento total do MTE (cujo peso está no seguro-desemprego), dos quais se conseguiu executar 85%, ou R$ 53 milhões. Apesar da SENAES não ter executado cerca de R$ 10 milhões previstos em orçamento, foram destinados apenas R$ 600 mil (0,9% do

orçamento da SENAES) ao apoio à recuperação de empresas pelos trabalhadores,

demonstrando claramente não se tratar de prioridade para o órgão governamental, embora os adjetivos utilizados nas linhas iniciais do relatório valorizem bastante a ação empreendida:

[...] A recuperação de empresas por trabalhadores organizados em autogestão também recebeu forte estímulo. Em 2007, foram apoiados mais de uma centena de processos de recuperação de empresas autogestionárias, por meio de assessoria técnica, qualificação de trabalhadores, domínio dos mecanismos estabelecidos pela nova Lei de Falências para recuperação de empresas falidas e acompanhamento da atividade econômica por instituição especializada. Um dos grandes desafios enfrentados por todos esses empreendimentos é a necessidade de

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acesso ao crédito e financiamento. Foi criada, pelo BNDES, uma linha específica para o financiamento de empresas recuperadas por trabalhadores organizados em autogestão. Com R$ 200 milhões, essa linha deverá se constituir em um instrumento fundamental para que postos de trabalho de empresas que entram em falência não sejam fechados, mas se tornem oportunidades de consolidar setores estratégicos da economia solidária no Brasil. [...] (Relatório de Avaliação do PPA 2004-2007, p. 14 - Avaliação Setorial – Grifo nosso)

As ações de estímulo à recuperação de empresas resumiram-se praticamente aos convênios firmados com a ANTEAG e UNISOL Brasil, para fornecer formação e serviços às empresas recuperadas a elas associadas, sendo o recurso de R$ 559.000,00 divididos para o atendimento de 54 empresas recuperadas, como aponta o Relatório de Avaliação do PPA 2004-2007:

Apoio a Empresas Recuperadas pelos Trabalhadores em Autogestão. A ação tem por objetivo fornecer apoio técnico à recuperação, pelos trabalhadores, de empresas que enfrentam situação de crise jurídica e/ou financeira, esteja ela em fase inicial de discussão dos trabalhadores sobre a possibilidade de retomá-la, ou aquelas que já tenham reiniciado a produção, mas que ainda não se consolidaram economicamente. A ação se desenvolve por meio de parceria entre o MTE/SENAES, a FBB, a Universidade Solidária (Unisol) e Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão (ANTEAG). Em 2007, o Projeto de Apoio a Empresas Recuperadas atuou disponibilizando formação para gestão, assessorias e consultorias específicas para as empresas recuperadas. Foram disponibilizados para este projeto R$ 559.000,00, beneficiando um total de 54 empresas recuperadas. (Relatório de Avaliação do PPA 2004-2007 – P – 34 – Grifo nosso)

Disponibilizou-se, portanto, um valor inferior à R$ 11 mil por empresa, sem considerar os custos meio25 e os gastos com deslocamentos de equipe. Enfim, um valor irrisório em se imaginando os custos de boas consultorias e cursos com a qualidade necessária para alavancar esses empreendimentos.

Nesse sentido, como Como coloca Juvenal (2006, p. 05):

25

Custos envolvidos na gestão do projeto, pagamento de equipe, apoio logístico e eventuais custos financeiros do projeto.

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A experiência de recuperação de empresas através de autogestão, contudo, não se insere propriamente na Economia Solidária. Apesar de os trabalhadores organizados dos diversos setores da economia se aliarem em busca do apoio mútuo, suas necessidades são distintas e não parecem estar necessariamente alinhadas dentro do mesmo escopo filosófico da Economia Solidária.

O objetivo de apontar aqui as deficiências apresentadas pelo conjunto de políticas voltadas ao desenvolvimento da Ecosol não é o de criticá-la por sua ineficiência. Mas fica claro que, devido à multiplicidade de objetivos e da ânsia de se expandir as bases do movimento, as possibilidades de avanço na gestão das políticas para a recuperação de empresas pela autogestão dos trabalhadores foram reduzidas. Verifica-se que os processos mais complexos foram sobrepujados (marco legal e crédito) em detrimento de outras demandas dos movimentos sociais. Embora tenha se criado uma linha de crédito voltada às empresas recuperadas, não se avançou no marco legal, nem tampouco em metodologias de avaliação de risco condizentes com as características desses empreendimentos, que lhes permita acessar esses recursos, atravessando a imensa burocracia do BNDES e sua inexperiência em lidar com volumes reduzidos de crédito. Ainda que o volume de R$ 200 milhões seja alto para os padrões da Ecosol, é pequeno para a necessidade desses empreendimentos, e menores ainda se operados diretamente pelo BNDES.

2.2. As ações para Recuperação de Empresas pela Autogestão dos Trabalhadores no interior da SENAES

Como analisado na seção anterior, pouco fora desenvolvido no âmbito da SENAES para apoiar as iniciativas de Recuperação de Empresas pela Autogestão dos Trabalhadores. Desde 2006, a ação de Recuperação de Empresas por Trabalhadores Organizados em Autogestão é desenvolvida pela SENAES, em parceria com a UNISOL Brasil e com a ANTEAG e tem como objetivo contribuir para o fortalecimento de empreendimentos autogestionários constituídos por trabalhadores e trabalhadoras de empresas recuperadas ou em crise.

O conteúdo do programa está concentrado em ações de formação, capacitação técnica, assessorias e consultorias voltadas às cooperativas individualmente, bem como

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