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Vicissitudes da pulsão na neurose: uma leitura possível

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Academic year: 2021

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ANALÚCIA DONADEL JOHANN

VICISSITUDES DA PULSÃO NA NEUROSE:

UMA LEITURA POSSÍVEL

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI

DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO PSICOLOGIA

VICISSITUDES DA PULSÃO NA NEUROSE:

UMA LEITURA POSSÍVEL

ANALÚCIA DONADEL JOHANN

ORIENTADORA: ELISIANE FELZKE SCHONARDIE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo.

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUI

DHE- DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO PSICOLOGIA

ANALÚCIA DONADEL JOHANN

VICISSITUDES DA PULSÃO NA NEUROSE:

UMA LEITURA POSSÍVEL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para conclusão do curso de formação de Psicólogo.

BANCA EXAMINADORA:

PROFESSORA ORIENTADORA ELISIANE FELZKE SCHONARDIE Mestrado em Educação nas Ciências.

UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS Assinatura:______________________________________

PROFESSORA KENIA SPOLTI FREIRE Mestrado em Educação nas Ciências.

UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS Assinatura:______________________________________

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DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Rogério Nicolau Johann e

Maria de Lourdes Johann.

Ao meu pai, que mesmo eu não tendo seguido em busca do que

ele gostaria, não mediu esforços para a realização do meu

sonho e hoje comemora comigo.

À minha mãe que não está mais presente entre nós, mas foi

sempre defensora das minhas ideias.

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AGRADEÇO

AGRADEÇO

AGRADEÇO

AGRADEÇO

Aos meus pais Rogério e Maria de Lourdes, que me deram a vida, o nome e uma origem, me

inscrevendo em suas historias.

Aos meus irmãos Patrícia e Rodolfo, por partilharem delas comigo e por se fazer presente da

forma que puderam nestes cinco anos de curso.

Aos meus sobrinhos Ana Carolina e Davi, por compreenderem que não pude estar presente o

quanto gostariam ou precisaram e que são fontes de orgulho e alegria em minha vida.

A minha amiga Regina que sempre acreditou no meu sonho, mesmo quando parecia

inacessível.

A minha colega e amiga Marcilane, que apesar das dificuldades nunca permitiu que eu

desanimasse, me incentivando a continuar sonhando e vislumbrando um futuro de

realizações. Além de partilharmos momentos de trabalho e também de muitas risadas.

A minha colega e amiga Janise, que será sempre lembrada com muito carinho por partilhar

comigo os momentos difíceis e também os divertidos.

As minhas colegas e amigas da pensão da dona Selma, Adriele, Andressa, Diane e Marília

que não só partilharam comigo alimentos, afazeres domésticos, mas também risos e lágrimas.

A todos os professores que me acompanharam neste caminho, especialmente Professora

Janete e Professor Nilson por acolher minhas dúvidas e pela disponibilidade, não somente de

tempo, mas de dividir seus conhecimentos e experiência de forma acessível e singela.

A Professora Elisiane, minha orientadora, pela disponibilidade, acompanhamento constante

e de competência acadêmica, mas também tão acolhedor e importante para mim neste

momento que certamente foi fundamental para a realização deste trabalho.

A Professora Kenia, da Banca Examinadora, pelas indicações que contribuíram neste

trabalho e pelas palavras que são de grande valor no encerramento deste percurso.

Aos funcionários do DHE, especialmente a Mônica, a secretária Andréia da Clínica e a

secretária Michele da Unigestar por todo auxílio prestado com empenho e carinho durante o

curso.

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RESUMO

O presente trabalho pretende trazer um entendimento sobre o conceito de pulsão apresentando desde a questão das vicissitudes da pulsão na estrutura neurótica em Freud, bem como o caminho por ele percorrido em sua teorização sobre o referido conceito. Para dar conta da questão, no primeiro capitulo desenvolve-se uma teorização sobre a estruturação psíquica no ser humano, a qual se faz atravessada pela pulsão, procurando trazer uma leitura mais contemporânea acerca deste conceito. No segundo capitulo trata-se de apresentar os desdobramentos teóricos de Freud sobre as problematizações que circundam e se impõe ao conceito de pulsão, permitindo uma retomada do estudo sobre o mesmo nos primórdios da Psicanálise. Busca-se a partir deste percurso, entender os possíveis endereçamentos da energia pulsional que move o sujeito.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

DO PEDAÇO DE CARNE AO SER HUMANO ... 9

A PULSÃO PARA FREUD NA ESTRUTURA NEURÓTICA... 17

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 29

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo pensar o conceito de pulsão, bem como refletir sobre os possíveis endereçamentos desta energia pulsional que move o sujeito tanto para a realização de seus desejos como para o total embotamento psíquico.

A pesquisa a ser realizada neste trabalho é classificada como bibliográfica e será dividida em dois capítulos, privilegiando as obras de Freud na escolha dos autores que exploram este tema, embora reconheça a importância dos demais, como Lacan, entre outros.

Freud foi um grande pensador sobre as questões psíquicas, pois ele definiu que o sujeito se estrutura psiquicamente na neurose, psicose ou na perversão. Foi estudando a neurose histérica, que desenvolveu as bases que constituem a Psicanálise, como teoria e ferramenta de tratamento do sofrimento psíquico.

A partir dos trabalhos de Freud compreende-se que a estrutura psíquica do sujeito, uma vez definida, é determinante no endereçamento da pulsão e este endereçamento se dá de forma diferente na neurose, psicose e perversão.

Essas três estruturas psíquicas apresentam um discurso, um posicionamento frente à vida, mecanismos de defesa, sintomas e sinais bem característicos. É a partir de um destes discursos que o sujeito circula na linguagem, no social e no mundo.

Somos seres biopsicossociais, portanto estamos expostos a uma diversidade de situações que nos dão um recorte psíquico. Entretanto está claro que, o que move o ser humano são seus impulsos inconscientes, que Freud denominou de pulsão.

Mas o que é pulsão? É energia? É algo inato ao ser humano ou são resquícios de marcas simbólicas vindas do outro através da linguagem? De onde vem? De quem vem? Como pode ela perpassar o sujeito sem que notemos sua inscrição?

Para dar prosseguimento em nossa investigação partimos do ponto em como se dá a constituição psíquica no ser humano para então chegar à questão central da pesquisa: trabalhar o conceito de Pulsão na estrutura neurótica em Freud. Pontos que serão abordados nos capítulos I e II, respectivamente.

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Do pedaço de carne ao ser humano.

... há um tempo para a constituição da estrutura psíquica – da primeira infância à adolescência. Depois desse tempo, ainda que continue a ocorrer inscrições que venham a ressignificar as anteriores, a estrutura psíquica terá seu arcabouço fundamental decidido. (JERUSALINSKY, 2002, p.153)

O corpo biológico é a fonte da pulsão no sujeito e é na marcação deste corpo, através do Outro que a pulsão se inscreve. São as marcações do Outro na primeira infância, que influenciam nossa estruturação psíquica que nos constituirá para o resto da vida.

Segundo Jerusalinsky (2002, p.158), retomando conceitos de Lacan:

O Outro é o lugar no qual se situa a cadeia do significante que rege tudo aquilo que, do sujeito, poderá se fazer presente, é o campo desse ser vivente onde o sujeito tem que aparecer. E tenho dito que pelo lado desse ser vivente chamado à subjetividade manifesta-se essencialmente a pulsão.

O bebê recém-nascido, o infans, aquele pedaço de carne que chega puro reflexo começa a ser posto na linguagem através da mãe, estruturando através dos significantes o organismo.

Ao permitir que o filho estabeleça com ela uma condição parasitária, a mãe franqueia ao gozo a ousadia da máscara da repetição: lendo como significantes e estabelecendo o sentido do texto orgânico do filho, ela o ultrapassa, antecipando um sujeito, ao mesmo tempo que estende, instala e atribui à criança a posição indeterminável de um sujeito do gozo. (JERUSALINSKY, 2002, p.14)

A mãe empresta não só seus cuidados inerentes à manutenção da vida deste bebê, mas seu corpo, fazendo-se instrumento de interação entre o bebê e o mundo a sua volta.

As manifestações do bebê que advém da necessidade são interpretadas pela mãe e devem ser tomadas como demanda, possibilitando a entrada no circuito desejante. São significantes que vão além do orgânico, é o transcorrer da necessidade à pulsão.

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O organismo é desnaturalizado, é invadido pelas sensações corpóreas já impregnadas de significações. O orgânico como berço para o humano, para a subjetivação.

Continuando no desenvolvimento de seu pensamento, Jerusalinsky (2002, p.17) cita que:

...para Lacan, a partir da separação de um significante-mestre, esse significante se define no organismo perdido pelo indivíduo biológico, para orientar a constituição do corpo onde se inscreverão todos os outros significantes... É nesse ponto da primeira ligação – do S1 ao S2- que abre-se a falha chamada sujeito, falha onde os efeitos da ligação significante operam.

Ou seja, é preciso que um significante-mestre, o S1 se inscreva para nortear a cadeia significante que será inscrita na subjetivação deste corpo. Este processo é singular, efeito da rede significante parental que recebe esse bebê e dá o primeiro banho de linguagem, consequentemente o subjetivando.

O desenvolvimento humano, sob o olhar evolutivo, é considerado contínuo, numa série de conquistas biológicas e instrumentais que se sucedem no tempo certo e no meio propício.

No entanto, é preciso diferenciar e articular crescimento, maturação e desenvolvimento. A autora nos traz a seguinte explicação:

O crescimento é mensurável e implica um aumento de tamanho, peso e volume do organismo.

- A maturação diz respeito ao conjunto de transformações sofridas pelo organismo em seu processo de aperfeiçoamento do sistema nervoso central e das estruturas neuromusculares, levando-os progressivamente a coordenações mais complexas e possibilitando o pleno exercício de suas funções.

- O desenvolvimento, por sua vez, é o termo mais abrangente dos três, incluindo o crescimento e a maturação, mas não se reduzindo apenas a um caráter orgânico. Ele implica o processo das aquisições instrumentais – psicomotoras, cognitivas e de linguagem – e está articulado ao modo pelo qual um bebê ou criança se apropriará psiquicamente do funcionamento das diferentes funções orgânicas.(JERUSALINSKY, 2002, p.150)

A maturação do organismo está subordinada a passagem do tempo cronológico e aos fatores genéticos, mas estes por si só não se bastam. É necessário que todo este aparato biológico potencial receba o estímulo funcional para que se desenvolva.

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Não receber este estímulo funcional no tempo certo produz efeitos negativos na constituição do sistema nervoso como um todo, pois as estruturas que tinham potencial para se desenvolver, não se desenvolvem.

... as operações implicadas na constituição psíquica de um bebê e suas diferentes aquisições instrumentais mantêm com a cronologia uma relação que não é de causa e efeito, mas de contingência. Ou seja, o tempo da vida inevitavelmente passa para todos, mas tais operações podem ou não vir a acontecer nesse tempo, ainda que o bebê tenha todas as condições maturacionais propícias para isso. (JERUSALINSKY, 2002, p.152)

No entanto, para se fazer sujeito depende-se do discurso do agente materno, pois o bebê não sabe dizer de si, é o Outro primordial do bebê que fará as marcas fundantes da constituição psíquica que, consequentemente atuarão sob o biológico.

O discurso materno toma o corpo que organicamente é igual a outros e o marca singularmente, o denomina como corpo deste bebê. Cabe à mãe sustentar à criança uma imagem que vai valer como referência para a constituição subjetiva.

Julieta Jerusalinsky (2002, p.156) afirma que: “É neste laço com o Outro, com sua cadeia significante, que as funções do organismo poderão vir a se inscrever como funcionamento erógeno dos diferentes circuitos pulsionais.”.

A boca, o ânus, o ouvido, o olho e a borda palpebral, a fossa nasal, a uretra etc, são diferentes buracos do organismo do bebê em torno dos quais se gera uma atividade que exige cuidados. Portanto, tais buracos orgânicos podem vir a se estabelecer como zonas privilegiadas, zonas erógenas, no laço com a mãe. Que venham ou não a sê-lo depende das marcas que a mãe ali produzir. (JERUSALINSKY, 2002, p.157)

É através do Outro que os buracos do organismo têm a possibilidade de transformar-se em zonas erógenas, na medida em que a linguagem faz um contorno nestes buracos, demarcando-os e produzindo seu movimento pulsional. A autora nos diz que:

A palavra da mãe para seu filho é aquilo que transborda o funcionamento da função; ela é aquilo que o carrega de libido, de gozo, aquilo que o erotiza. Se a pulsão não é um mito, é esta palavra que a origina que ela o deve, é ela que erogeiniza as zonas, que acaricia com suas modulações, suas amplitudes, que a literalidade significante vem inscrever. (JERUSALINSKY, 2002, p.159).

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Cabe ao agente materno, fazer simbolicamente a inscrição e vinculação da pulsão do bebê ao circuito do desejo e da demanda do Outro. A letra marca o corpo do bebê e são essas marcas significantes que inscrevem o desenho de seus circuitos pulsionais.

O circuito pulsional se descreve como um arco, pois como aponta Freud, a meta da pulsão é a satisfação que só pode ser alcançada cancelando o estado de estimulação na fonte da pulsão. Assim a pulsão parte da zona erógena (que é a sua fonte) e a ela retorna (para nela suprimir o estado de excitação),sem nunca conseguir uma satisfação completa.

(JERUSALINSKY, 2002, p.146).

A demanda desempenha um papel fundamental na inter-relação entre a pulsão que busca esvaziar-se e o desejo que será sempre insatisfeito, mas mesmo insatisfeito ele está presente e origina-se da pulsão articulada à esfera do Outro.

Neste circuito, vai-se produzindo para o bebê a inscrição psíquica de satisfação-insatisfação. Satisfação esta que o bebê procurará reencontrar, reproduzindo suas coordenadas nas alucinações e sonhos, e realizando a prova de realidade, ao comparar os objetos que se apresentam ao objeto constituído a partir da experiência de satisfação, para sempre irá se procurar ‘reestabelecer a situação de satisfação original. Um impulso desta espécie é o que chamamos desejo. (JERUSALINSKY, 2002, p.138)

Dentro do circuito de desejo e demanda da mãe é que as funções orgânicas do bebê se organizam e se regulam. A mãe dá significação a essas demandas e não responde sempre da mesma forma e deve ser assim, para que o bebê se desenvolva e se constitua um sujeito desejante.

Podemos ler as vicissitudes que as pulsões vão percorrendo nas diferentes produções do bebê pelo modo em que vão se estabelecendo sua fonação, seu olhar, sua postura, suas oscilações tônicas, seus ritmos de sono e vigília e de fome e saciedade, suas reações de sorriso indiferenciado ou de estranhamento, seu controle esfincteriano etc. as diferentes produções do bebê, lidas a partir da articulação que fazem com o discurso parental, nos falam do modo em que o bebê está se constituindo face às marcas do Outro quanto ao estabelecimento da demanda, suposição de sujeito, alternância e alteridade. (JERUSALINSKY, 2002, p.145)

A inclusão simbólica do bebê permitirá um avanço na constituição psíquica, um segundo momento onde ele se apropria da imagem que o Outro lhe oferece, um Eu para reconhecer-se.

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...a constituição psíquica do bebê como sujeito esta atrelada a uma temporalidade simbólica que produz efeitos de retroação e antecipação no estabelecimento da significação psíquica dos eventos... Cada um destes momentos da constituição psíquica são estabelecidos por novas inscrições simbólicas que ressignificam as inscrições ocorridas no momento anterior e tem consequências também para o que está por se inscrever. (JERUSALINSKY, 2002, p.166)

São significantes que o prendem e o colocam em um laço de identificação com o Outro. O olhar materno sustentado no decorrer dos investimentos libidinais exerce a função de espelho para o bebê, que se identificando neste olhar, constitui sua imagem corporal.

Depois, para se apropriar de seu corpo, o bebê precisa separar-se da imagem especular, ou seja, passar de um estado de união com o corpo da mãe para outro, em que ele é um corpo separado e único, mas para que isso aconteça precisa a intervenção da função paterna na relação mãe e filho.

A mãe tornando-se um objeto perdido a ser simbolizado, a criança passa a ser um sujeito único, um sujeito desejante.

Se o sujeito do inconsciente vai se produzir no bebê pela inscrição de um conjunto significante cada vez mais complexo, que ao situar o objeto de satisfação como perdido o lançará a um exercício desejante, a pulsão vai ser o modo parcial pelo qual esse exercício desejante vai se colocar em movimento em cada zona erógena corporal. (JERUSALINSKY, 2002, p.157)

A antecipação imaginária dos pais em relação ao bebê é resquício dos ideais familiares e sociais, os quais dirão das oportunidades que serão concedidas ao bebê para que o mesmo se lance para a antecipação funcional, ou seja, para começar a construir produções próprias.

A produção do bebê é o movimento pulsional propriamente dito. A autora aponta que:

A função materna não só sustenta o bebê e sua função, ela também o pulsionaliza, produz um estiramento de sua corda pulsional, pois quando o bebê se implica nesta demanda do Outro, quando procura enlaçar este objeto do desejo do Outro, seu circuito pulsional se espicha, estende a sua cadeia significante na busca pela satisfação. (JERUSALINSKY, 2002, p.161)

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É através do estabelecimento do circuito pulsional que acontece a apropriação corporal e o surgimento de um corpo subjetivado. O estiramento da corda pulsional do bebê depende da demanda que o Outro lhe direciona, de supor sujeito neste bebê e dos significantes que perpassam nesta relação mãe e filho.

O Outro repuxa, provoca pela operação da demanda sucessivos tirões na corda da pulsão. É por efeito deste tirão que se produz um bebê onde antes havia puro organismo, este tirão que produz sucessivos enlaces da pulsão à demanda e que sempre deixa como resto não articulado o desejo. (JERUSALINSKY, 2002, p.171)

Portanto, é fundamental, na constituição psíquica do bebê que ocorra uma amarragem entre a temporalidade simbólica (tempo de inscrições de significantes) e uma temporalidade imaginária (as antecipações parentais) com uma temporalidade real (um corpo orgânico suscetível à ação de ambas). Como afirma a autora:

Quando, no laço mãe-filho, opera a alteridade, encontraremos do lado da mãe o lugar à surpresa e do lado do filho a possibilidade de vir a abrir a interrogação pelo desejo; do lado da mãe a sustentação da função instrumental e ao mesmo tempo a pulsionalização da demanda que abra espaço para a produção do filho, e do lado do filho a ousadia de lançar-se, de implicar-se numa nova produção nunca antes experimentada que se enlaça como realização no campo do Outro. (JERUSALINSKY, 2002, p.170)

Quando a mãe não permite a entrada da função paterna, não permite o surgimento do sujeito desejante no bebê, que acaba ficando alienado ao desejo do Outro. Consequentemente não há oportunidades de antecipação para esse bebê, ele não será capaz de realizar suas próprias produções.

Se a mãe não sustenta uma interdição simbólica no funcionamento das funções do bebê, se não atrela suas demandas e ofertas à lei paterna, não abre lugar à operação de alterização que também é fundamental para a constituição do sujeito. Então a função funcionará, mas no registro de responder ou não responder à demanda do Outro... E o filho ficará condenado a uma posição de objeto de gozo materno, sem que se dê lugar a que ele possa advir como sujeito do desejo. (JERUSALINSKY, 2002, p.163)

Assim sendo, há uma quebra no circuito pulsional que conduz a pulsão do bebê, interferindo no lugar que este se situa e nas suas produções frente ao Outro.

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As demandas que o Outro colocar ao bebê podem proporcionar o alongamento da corda pulsional ou podem limitá-la. Alongando-a, o bebê é capaz de suas próprias produções, já ao limitá-la o bebê fica preso a repetições sem sentido, ou seja, sem sujeito.

Por isso Jerusalinsky (2002, p.166) diz: “Para que um bebê se constitua como sujeito é preciso que o agente materno sustente as operações de estabelecimento da demanda, a suposição de sujeito, a alternância e a alteridade.”.

Por mais que esteja presente a sustentação simbólica, imaginária e a maturação orgânica a função materna precisa oferecer este espaço no qual o bebê tem que se precipitar, se lançar no acontecimento para realizar o exercício desejante, ou seja, para se constituir um sujeito.

Como nos diz a autora, neste simples exemplo:

É na medida em que se passa a demandar de um bebê, por exemplo, que permaneça sentado com apoio nas costas e sem contenção lateral que este pode começar a experimentar corporalmente as situações de desequilíbrio psicomotor que lhe permitirão armar o apoio das mãos e, posteriormente, quando conseguir sustentar o seu tronco equilibrado, prescindir de tal apoio. (JERUSALINSKY, 2002, p.139).

Portanto é no estiramento da pulsão que do orgânico nasce um bebê. É através deste constante repuxo pulsional ligado à demanda do Outro que nasce a possibilidade de desejar, ou seja, o sujeito do desejo.

...segundo a psicanálise, a estrutura sobredetermina, mas não inscreve a priori um destino, pois situa a implicação da escolha inconsciente de um sujeito diante do determinismo significante que lhe coube em sorte. É a esta subversão da possibilidade de resposta que aponta nossa intervenção clínica, na qual consideramos não só a maturação, mas as inscrições do Outro, e não só tais inscrições, mas também a possibilidade de resposta que um bebê poderá um dia vir a produzir diante destas marcas que lhe couberam em sorte. (JERUSALINSKY, 2002, p.173)

Ou seja, o que foi inscrito e marcante no psíquico do bebê o funda subjetivamente, mas não lhe traça um caminho único e inflexível de desenvolvimento. Por isso que se abre a possibilidade de nossa intervenção frente a diversas questões clínicas.

Mas o importante de destacar aqui é que na psicanálise a estrutura psíquica constitui o sujeito, mas não diz que seu destino psíquico está traçado, pois esse

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sujeito é feito de movimentação pulsional e no que se refere à pulsão, por mais enigmática, inconstante e de difícil entendimento, é ela a senhora da nossa vida psíquica.

Esta constatação nos impulsiona a querer entender melhor a pulsão enquanto um dos conceitos fundamentais da psicanálise. Neste sentido, pensamos ser interessante abordá-la a partir de seus primórdios, então, em Freud.

Assim sendo, no segundo capítulo deste trabalho vamos aprofundar a questão da pulsão na estrutura neurótica através do percurso freudiano que enriquece este tema.

Embora existam outros autores que inovaram neste conceito, foi em Freud que eles beberam seus primeiros referenciais teóricos, e são esses referenciais que buscaremos explorar neste próximo capítulo.

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A pulsão para Freud na estrutura neurótica.

Se abordarmos agora a vida psíquica do ponto de vista biológico, a pulsão nos aparecerá como um conceito – limite entre o psíquico e o somático, como o representante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e alcançam a psique, como uma medida de exigência de trabalho imposta ao psíquico em consequência de sua relação com o corpo. (FREUD, 1915, p. 148).

Este capítulo se detém nos possíveis destinos da pulsão na estrutura neurótica e na teorização deste conceito. Para isso se faz necessário uma breve explicação do que é a neurose.

O termo neurose surgiu na medicina para explicar doenças que não se encontrava causa orgânica. Roudinesco (1998) esclarece em sua obra que “retomado como conceito por Sigmund Freud a partir de 1893, o termo é empregado para designar uma doença nervosa cujos sintomas simbolizam um conflito psíquico recalcado, de origem infantil.” (p.535). A autora coloca que “ela resulta de um mecanismo de defesa contra a angústia e de uma formação de compromisso entre essa defesa e a possível realização de um desejo.”. (p.535)

Roudinesco ressalta que Freud classifica a neurose em histérica e obsessiva, sendo relevante para o trabalho esclarecimento a cerca do que se trata cada uma.

Com relação à Histeria, ela é simbolizada no corpo, é teatral, sedução, é desejo insatisfeito, é da posição feminina, é a conversão do simbólico para o somático. Segundo Roudinesco

... a teorização da sexualidade infantil permitiu a Freud identificar o conflito ‘nuclear’ da neurose histérica (a impossibilidade de o sujeito liquidar o complexo de Édipo e evitar a angústia de castração, que o leva a rejeitar a sexualidade). p. 340.

Já na neurose obsessiva encontra-se a fixação na analidade, rituais compulsivos e aprisionantes, medo, punição. Como bem explica Roudinesco:

O desencadeador da neurose obsessiva foi então caracterizado como sendo o medo que o eu tem de ser punido pelo supereu. Enquanto o supereu age sobre o eu à maneira de um juiz severo e rígido, o eu é obrigado a resistir às pulsões destrutivas do isso, desenvolvendo formações

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reativas que assumem a forma de sentimentos de escrúpulo, ou a de piedade, limpeza e culpa. Por isso, o sujeito é mergulhado num verdadeiro inferno do qual nunca consegue escapar. p.540.

Freud começou seu artigo “Pulsões e Destinos da Pulsão” em 1915 e terminou em 04 de abril do mesmo ano, mas a definição e o fechamento deste conceito não se deu ai, alias não se deu, apenas foi sendo modificado e ampliado. Vamos acompanhar os passos de Freud na construção do conceito de pulsão.

... só depois de termos investigado mais a fundo determinado campo de fenômenos é que poderemos formular com mais precisão seus conceitos básicos e modifica-los progressivamente, até que se tornem amplamente utilizáveis e, por tanto, livres de contradição. (FREUD, 1915, p.145).

Pulsão é um desses fenômenos, muito importante na psicologia e muito diverso, feito de recuos e novas articulações. Freud inicia pela fisiologia com o conceito de estimulo e o esquema do arco reflexo, no qual um estímulo externo atinge a via nervosa orgânica sendo reconduzido para fora através de uma ação.

Pulsão e estímulo seriam a mesma coisa? Freud (1915, p.146) esclarece que: “... a pulsão seria um estímulo para o psíquico... É evidente que existem para o psíquico, além dos estímulos pulsionais, outros estímulos que se comportam de maneira muito mais parecida com a dos estímulos fisiológicos.”.

O estímulo vem do exterior e age como um ímpeto, com urgência e pode ser aplacado com única ação, como por exemplo, a fuga motora.

A pulsão, ao contrário, nunca age como uma força momentânea de impacto, mas sempre como uma força constante. Como não provém do exterior, mas agride a parte interior do corpo, a fuga não é de serventia alguma. A melhor denominação para o estímulo pulsional é o termo “necessidade”, e a tudo aquilo que suspende essa necessidade denominamos satisfação. Essa satisfação só pode ser alcançada por meio de uma alteração direcionada e específica (isto é, adequada) da fonte interna emissora de estímulos. (FREUD, 1915, p. 146).

Inicialmente então, podemos descrever a pulsão através de suas características como: advém de estímulos internos, sua manifestação é constante, sendo assim não se pode evitá-la.

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... os estímulos pulsionais obrigam o sistema nervoso a renunciar a seu propósito ideal de manter todos os estímulos afastados de si, pois os estímulos de natureza pulsional prosseguem afluindo de modo continuo e inevitável. Podemos então concluir que são as pulsões, e não os estímulos externos, os verdadeiros motores dos progressos que levaram o sistema nervoso, com sua capacidade de realizações ilimitadas, a seu atual nível de desenvolvimento. (FREUD, 1915, p.147-148).

A atividade psíquica é regulada pelo principio do prazer e pelo princípio de realidade, ou seja, pelas sensações de prazer e desprazer, as quais estão relacionadas ao aumento do estímulo (desprazer) e a sua diminuição (prazer).

Alguns termos estão ligados ao conceito de pulsão como: pressão, meta, objeto e fonte. Freud explica cada um:

Por pressão de uma pulsão entendemos seu fator motor, a soma da força ou a medida de exigência de trabalho que ela representa...

A meta de uma pulsão é sempre a satisfação, que só pode ser obtida quando o estado de estimulação presente na fonte pulsional é suspenso... O objeto da pulsão é aquilo em que, ou por meio de que, a pulsão pode alcançar sua meta...

Por fonte da pulsão entendemos o processo somático que ocorre em um órgão ou em uma parte do corpo e do qual se origina um estímulo representado na vida psíquica pela pulsão. (FREUD, 1915, p.148-149).

Abordando mais sobre cada um destes termos, a pressão seria a essência da pulsão e se faz presente em todas elas; quanto à meta ela sempre será a satisfação, mas os caminhos que levam a ela podem ser diferentes.

Quanto ao objeto, ele varia muito, pois não está inicialmente ligado a pulsão e sim se restringe a sua função de proporcionar a satisfação. É através das vicissitudes da pulsão que se destaca, se substitui o objeto, que não necessariamente precisa ser externo, pode ser uma parte do próprio corpo. Um único objeto também pode servir para a satisfação de diferentes pulsões.

A fonte, como é da ordem somática, Freud acredita não ser necessário um estudo aprofundado para a psicologia de como se dá o processo, mesmo esta sendo a origem da pulsão, pois na verdade só podemos deduzir a fonte a partir da meta.

...todas as pulsões são qualitativamente da mesma espécie e as diferenças de seus efeitos se devem às magnitudes de excitação que cada pulsão veicula ou, talvez, a certas funções dessa quantidade. A diferença entre as capacidades de desempenho psíquico de cada uma das pulsões pode ser atribuída à diversidade das fontes pulsionais; contudo só em um contexto

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posterior será possível esclarecer o que está implicado no problema da qualidade das pulsões. (FREUD, 1915, p.150)

Para Freud, em suas primeiras teorizações, a variedade de pulsões deriva de dois conjuntos de pulsões originais: as pulsões sexuais e as pulsões do Eu (autoconservação).

Esses conjuntos surgiram no desenvolver da psicanálise, na clinica das neuroses de transferência, ou seja, histeria e neurose obsessiva, pois nestas aparece conflitos da ordem da sexualidade e do Eu.

Para uma caracterização geral das pulsões sexuais, pode-se afirmar então o seguinte: são numerosas, provêm de múltiplas fontes orgânicas, exercem de início sua atividade independentemente uma das outras e só bem mais tarde são amalgamadas em uma síntese mais ou menos completa. A meta que cada uma delas persegue é obter o prazer do órgão. Só depois de completada a síntese é que elas entram a serviço da função de reprodução, tornando-se então reconhecíveis como pulsões sexuais. (FREUD, 1915, p.151).

As pulsões sexuais inicialmente se apoiam nas pulsões de autoconservação, separando-se aos poucos sendo que algumas permanecem, emprestando componentes libidinais as pulsões do Eu. As pulsões sexuais também se servem das pulsões do Eu para a busca dos objetos de satisfação.

As pulsões do Eu (autoconservação), apesar de não ser bem explicadas por Freud indicam que estão vinculadas a conservação da vida, as necessidades corporais, como buscar alimento ou se defender do perigo.

Freud aponta para a ideia de que as vicissitudes que as pulsões terão também são modos de defesa contra essas pulsões, pois em seu percurso se deparam com forças contrárias ao seu avanço.

Uma investigação sobre os diferentes destinos que as pulsões poderão ter ao longo de seu desenvolvimento e de sua vida terá de se limitar às pulsões sexuais, pois são estas que conhecemos melhor. A observação mostra que os destinos de tais pulsões podem ser: a transformação em seu contrário, o redirecionamento contra a própria pessoa, o recalque, a sublimação. (FREUD, 1915, p.152).

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Para Freud a transformação em seu contrário se dá em dois processos diferentes: a pulsão vai da atividade para a passividade e no outro ocorre a inversão do conteúdo.

Exemplos do primeiro processo são fornecidos pelos pares de opostos: sadismo – masoquismo e vontade de olhar – exibição. A transformação em seu contrário só se refere às metas da pulsão; a meta ativa: torturar, ficar olhando, é substituída pela passiva: ser torturado, ser olhado. A inversão do conteúdo pode ser encontrada apenas no caso de transformação do amor em ódio. (FREUD, 1915, p.152).

O que ocorre no redirecionamento contra a própria pessoa é que a meta continua a mesma, o que muda é o objeto, ou seja, no masoquismo o objeto não é o outro e sim o próprio Eu, um sadismo voltado a si mesmo.

Na vontade de olhar – exibição o encantamento é com o próprio corpo.

No caso do par de opostos sadismo-masoquismo, podemos apresentar o processo do seguinte modo:

a) O sadismo consiste em violência, em exercício de poder contra outra pessoa como objeto.

b) Esse objeto é deixado de lado e substituído agora pela própria pessoa. O redirecionamento contra a própria pessoa transforma, ao mesmo tempo, a meta pulsional ativa em passiva.

c) Novamente outra pessoa é procurada como objeto, a qual, devido à transformação ocorrida na meta, tem então de assumir o papel de sujeito. (FREUD, 1915, p.153).

A pulsão sádica busca submeter a dor, no entanto, esta meta não é pertencente às pulsões. Porem, as sensações de dor ou de desprazer vertem para a excitação sexual, vindo a ser algo prazeroso. Portanto sentir prazer com a dor transforma-se em meta pulsional.

Resultados um pouco diferentes e mais simples se obtêm quando se investiga outro par de opostos, as pulsões que têm por meta o ato de ficar olhando e o de se mostrar... Aqui também podem ser consideradas as mesmas etapas que encontramos no caso anterior: a) o ato de ficar olhando como atividade voltada para um objeto estranho; b) a renúncia ao objeto, a reorientação da pulsão de olhar agora voltada em direção a uma parte do próprio corpo e, com isso, a transformação da atividade em passividade e a escolha de uma nova meta: a de ser olhado. c) a introdução de um novo sujeito, ao qual nos mostramos para sermos contemplados por ele. (FREUD, 1915, p.154)

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A pulsão de olhar tem uma particularidade, inicialmente ela é auto-erótica, ou seja, o objeto é encontrado no próprio corpo. Somente depois ela buscará por um objeto semelhante em outro corpo.

É dessa fase inicial que originam as posições ativa e passiva frente ao objeto.

A transformação do conteúdo de uma pulsão em seu oposto só pode ser observada no caso de conversão de amor em ódio. Como esses dois sentimentos com frequência se dirigem simultaneamente ao mesmo objeto, essa coexistência nos fornece também o exemplo mais significativo de uma ambivalência de sentimento. (FREUD, 1915, p.156-157).

No desenvolvimento pulsional, Freud aponta para o termo ambivalência, que quer dizer a coexistência de dois sentimentos contrários, mas que caminham juntos.

Freud (1915, p.157) também defende a ideia de que: “... toda vida psíquica é dominada por três polaridades, as oposições entre: Sujeito (Eu) – Objeto (mundo exterior); Prazer – Desprazer; Ativo – Passivo.”.

Como o sujeito não pode escapar de suas pulsões desde o inicio de sua vida, e são elas que o impelem a uma atividade, ele sempre estará se havendo com essas polaridades, pois dependendo do estímulo (interno ou externo) que receba, agirá ativa ou passivamente.

Na medida em que é auto-erótico, o Eu não necessita do mundo externo. Entretanto, devido às experiências das pulsões de autoconservação, o Eu passa a receber objetos do mundo externo. Por outro lado, também não pode evitar, por um tempo, perceber as moções pulsionais internas como desprazerosas. Assim, sob o domínio do princípio do prazer, ocorrerá nele agora outro desenvolvimento. Na medida em que os objetos externos oferecidos sejam fontes de prazer, eles são recolhidos pelo Eu, que os introjeta em si e, inversamente tudo aquilo que em seu próprio interior seja motivo de desprazer o Eu expele de si. (FREUD, 1915, p. 158).

Aqui, percebemos que na satisfação auto-erótica, ou seja, no narcisismo, o mundo externo não recebe investimento, mas posteriormente o Eu passará a investir ou repelir estes objetos que vem do mundo externo, conforme ofereçam prazer ou desprazer, passando de um Eu-narcísico para um Eu-prazer.

Freud (1915, p.159) diz que: “Quando a etapa puramente narcísica dá lugar à etapa objetal, prazer e desprazer passam a significar as relações do Eu com o objeto.”.

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Então fica claro que amamos o objeto e queremos nos apropriar dele se este é prazeroso, ou odiamos o objeto e queremos nos afastar dele se este nos é desprazeroso.

Enquanto relação com o objeto, o ódio é mais antigo que o amor; ele surge do repúdio primordial do Eu narcísico ao mundo exterior aportador de estímulos. O ódio é uma exteriorização da reação de desprazer provocada pelos objetos e se mantem sempre um estreito vínculo com as pulsões de autoconservação do Eu; desse modo as pulsões do Eu e as pulsões sexuais podem facilmente repetir entre si a oposição existente entre o odiar e o amar. (FREUD, 1915, p.161).

Por isso a ambivalência se faz presente nas relações entre o Eu e o objeto, pois frente ao mesmo objeto as pulsões podem ser tanto amorosas quanto de ódio.

Do todo que foi apresentado, podemos então destacar que os destinos da pulsão consistem essencialmente em que as moções pulsionais estão submetidas às influências das três grandes polaridades que dominam a vida psíquica. Dessas três polaridades, poderíamos caracterizar a da atividade-passividade como a biológica, a do Eu-mundo exterior como a real e, por fim, a do prazer-desprazer como a econômica. (FREUD, 1915, p.162).

Quanto ao recalque, Freud (1915, p.177) diz: “O destino de uma pulsão que acaba de brotar pode ser encontrar, ao longo de seu percurso, resistências que queiram impedir sua ação... ela entra então em estado de recalque.”.

O destino pulsional de sublimação, não deixa de ser um recalque da energia sexual, antes ligada a certo objeto e agora direcionada para algo superior, elevado.

Na experiência clinica com as neuroses de transferência (histeria e neurose obsessiva) verificou-se que:

... a pulsão que está submetida ao recalque poderia ter sido satisfeita e que tal satisfação seria em si, sempre prazerosa; porém, ela seria incompatível com outras exigências e propósitos, e, desse modo, acabaria por gerar prazer em um lugar e desprazer em outro. Então, uma condição para que ocorra o recalque é que a força que causa o desprazer se torne mais poderosa do que aquela que produz a partir da satisfação pulsional, o prazer. (FREUD, 1915, p.178).

Ou seja, há uma censura que dita o que pode e o que não pode visitar o consciente.

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Em seus estudos Freud traz a ideia de que o recalque tem duas fases: a primeira seria um recalque original (o qual nega ao representante da pulsão a entrada no consciente) e a segunda o recalque em si (outros representantes se ligam no primeiro ou derivam deste, obtendo o mesmo destino).

Embora, na segunda fase do recalque, este dependerá do quanto está afastado o representante pulsional do recalque original.

Esquecemos muito facilmente que o recalque não impede o representante pulsional de continuar existindo no inconsciente, de continuar a se organizar, a formar novas representações derivadas e estabelecer ligações. O recalque, na verdade, só perturba a relação com um sistema psíquico, a saber, o sistema do consciente. (FREUD, 1915, p. 179).

Na técnica psicanalítica, ao se pedir ao paciente que fale livremente, sem censura, se busca esses representantes do recalcado nas entrelinhas das palavras e pensamentos espontâneos, ou seja, que conseguiram emergir ao consciente.

Mas, esse processo se dá até certa altura, quando essas palavras e pensamentos chegam estritamente perto do conteúdo recalcado, a força do recalque volta a atuar fortemente e para se manter o recalque, se exige muita energia psíquica.

Embora o conceito de recalque ser abordado suscintamente, não podemos deixar de estudar seus efeitos nas psiconeuroses (histeria de angustia, de conversão e neurose obsessivo-compulsiva).

Na histeria de angústia, a fobia acontece pela via do deslocamento. Freud (1915, p.184) utiliza um caso clínico de fobia animal (neste caso, do animal lobo) para explicar o mecanismo desta psiconeurose:

A moção pulsional que foi submetida ao recalque era uma atitude libidinal da criança em relação ao pai, pareada com o medo que tinha dele. Depois do recalque essa moção desapareceu da consciência, o pai não mais aparece nela como objeto da libido. Em lugar correspondente ao do pai, encontra-se agora, como substituto um animal mais ou menos adequado para servir de objeto de medo.

Na histeria de conversão, o recalque pode fazer com que a carga afetiva desapareça, prevalecendo o que é da ordem somática, do corpo. Como explica Freud (1915, p.185):

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O conteúdo representacional do representante pulsional foi retirado por completo da consciência ; no lugar deste, como formação substitutiva – e ao mesmo tempo como sintoma – encontra-se uma inervação ultraforte – em casos típicos, somática – e que pode ser ora de natureza sensória, ora motora. Essa inervação ultraforte pode assumir a forma de excitação ou de inibição. Num exame mais detido, o local ultra-inervado revela-se como uma parcela do próprio representante pulsional recalcado, a qual, por condensação, atraiu todo o investimento para si.

Na neurose obsessivo-compulsiva, a compulsão em afligir é contra si mesmo, vira uma autopunição, é a ação contra o próprio Eu. E o mecanismo de ação do recalque é bem diverso do explicado anteriormente nas outras psiconeuroses.

Aqui ficamos inicialmente em dúvida sobre o que devemos encarar como o representante que está submetido ao recalque, se um anseio libidinal ou um anseio hostil. A incerteza provém do fato de que a neurose obsessivo-compulsiva pressupõe uma regressão, por intermédio da qual um anseio sádico entrou no lugar de um amoroso. (FREUD, 1915, p.185).

Inicialmente o recalque consegue operar e o conteúdo da representação é afastado, apaziguando o afeto, mas posteriormente fracassa e este conteúdo retorna pela via do deslocamento, porém substituído por algo inferior.

Neste apanhado teórico sobre o recalque Freud (1915, p.186) reconhece que: “ainda será necessário empreender investigações mais extensas antes que possamos ter esperança de desvendar os processos relacionados com o recalque e a formação de sintomas neuróticos.”.

Sabemos que o princípio de prazer corresponde a um modo de funcionamento primitivo do aparelho psíquico que denominamos primário. É preciso também lembrar que, ante as dificuldades do mundo exterior, o princípio de prazer desde o início revela-se ineficiente e um perigo para a necessidade de o organismo impor-se ao ambiente. Assim, ao longo do desenvolvimento, as pulsões de autoconservação do Eu acabam por conseguir que o princípio de prazer seja substituído pelo princípio de realidade. (FREUD, 1920, p.137).

Isso não quer dizer que o princípio de realidade seja contrário à busca pelo prazer e sim que impõe outro caminho para a realização dessa satisfação, ou procura adiá-la.

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E não vem dele a maioria das vivencias de desprazer, vem dos conflitos do Eu, pois as metas de algumas pulsões são agressivas ao Eu e precisam ser afastadas dele através do recalque.

De inicio essas pulsões ficam privadas da possibilidade de uma satisfação. Entretanto caso consigam – o que acontece facilmente com as pulsões sexuais recalcadas - pelejar até chegarem por desvios diversos a obter uma satisfação direta ou ao menos uma satisfação substitutiva, esse resultado, que normalmente teria sido uma possibilidade de sentir prazer, será sentido pelo Eu como desprazer. (FREUD, 1920, p.138).

A maioria do desprazer que sentimos vem de uma pressão interna ou de percepções de algo que vem do exterior, desagradáveis em sua natureza ou vistas pelo psíquico como perigo.

Nos muitos anos de trabalho com as psiconeuroses, Freud (1920, p.145) chega ao conceito de compulsão à repetição, o qual explica a seguir:

Para melhor compreendermos essa compulsão à repetição que se manifesta durante o tratamento psicanalítico dos neuróticos, precisamos primeiro nos livrar da ideia equivocada de que, quando combatemos as resistências do paciente, estaríamos lidando com a resistência do” inconsciente”. O inconsciente, ou melhor, o “recalcado” não opõe nenhuma resistência aos esforços do tratamento. Ao contrário, ele apenas se esforça para livrar-se do peso que o oprime e tenta forçar passagem em direção à consciência ou busca escoamento através de uma ação real.

Sabemos que, o que está em contradição não é o consciente e o inconsciente, mas sim o recalcado e o Eu.

É desse Eu que decorre a resistência do paciente, pois quer privá-lo do desprazer que seria sentido se o recalcado emergisse. Por esse motivo a compulsão à repetição deriva deste recalcado.

Freud (1920, p.158) diz algo muito interessante em relação às pulsões, nas formulações e reformulações deste conceito, como vemos a seguir:

Quanto às fontes de excitação de origem interna, as principais e mais abundantes são constituídas pelas chamadas pulsões do organismo. Elas são as representantes de todas as ações das forças que brotam no interior do corpo e que são transmitidas para o aparelho psíquico. Entretanto, as pulsões são o mais importante e também o mais obscuro objeto da investigação psicológica.

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A relação das pulsões com a compulsão à repetição se dá na questão de que a pulsão, antes propulsora do desenvolvimento, agora busca restabelecer o estado anterior que o organismo estava de estabilidade, antes de ser invadido por forças incômodas que modificaram esse estado.

Por este novo viés de pensamento sobre as pulsões Freud (1920, p.161) diz que: “além das pulsões conservadoras que compelem à repetição, haja outras pulsões que atuam de forma oposta e pressionam para a produção de novas formações e impelem o progresso...”.

Agora teorizaremos sobre os dois grupos de pulsões que estão por trás de todas as demonstrações fundamentais do ser humano: pulsão de morte e pulsão de vida.

À luz de nossa nova hipótese sobre a pulsão de morte, veremos que o papel dessas pulsões causará certo estranhamento. Afinal, ao postularmos para todo ser vivo a existência das pulsões de autoconservação, colocamo-nos em flagrante oposição ao pressuposto de que o conjunto da vida pulsional visa conduzir à morte. À luz dessa hipótese sobre a morte, desaparece a importância teórica tanto das pulsões de autoconservação como das pulsões de apoderamento e de auto – afirmação. Diremos então que todas elas são apenas pulsões parciais, cuja função é assegurar ao organismo seu próprio caminho para a morte e afastá-lo de qualquer possibilidade – que não seja imanente a ele mesmo – de retornar ao inorgânico. (FREUD, 1920, p.162).

A pulsão de morte visa o retorno ao estado original, amenizar, manter constante ou conter a tensão interna advinda de estímulos tanto internos quanto externos.

Nós denominamos grupo das pulsões sexuais o conjunto de todas aquelas pulsões que zelam pelos destinos desses organismos elementares sobreviventes e que emanam do ser individual. São elas que cuidam para que esses organismos se mantenham em segurança quando estão à mercê dos estímulos do mundo externo; propiciam seu encontro com outras células germinativas, etc. Esse grupo de pulsões é tão conservador quanto as outras pulsões, pois visam à volta a estados arcaicos da substancia viva; mas, de outro ponto de vista, elas são ainda mais conservadoras, já que se mostram particularmente resistentes às forças externas. Além disso, também são conservadoras em um sentido bem mais amplo, na medida em que preservam a vida por períodos mais longos. São elas as verdadeiras pulsões de vida... (FREUD, 1920, p.163).

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A pulsão de vida é sexual, mas também de propulsão a gerar a vida, ao desenvolver uma ligação não somente orgânica que seja propícia para a manutenção da vida, mas também ligações amorosas.

Há um jogo de oposição entre essas pulsões onde uma instiga para a renovação da vida e vontade de viver e a outra para a morte, constância do estado original e aniquilação do novo.

Para finalizar este apanhado teórico em Freud sobre as pulsões e suas vicissitudes, na complexidade que é estudar temas da Psicologia e escrever sobre eles, é interessante se ater a um trecho da obra do autor que fundamentou este trabalho. A seguir:

É preciso, contudo, que sejamos pacientes e aguardemos até que tenhamos outros recursos de investigação e que se abram novas oportunidades para prosseguirmos com outros estudos. Também é importante estarmos sempre preparados para abandonar um caminho que perseguimos por algum tempo, se este afinal não mais se mostrar adequado. Somente os crédulos, os que exigem da ciência um substituto para o catecismo abandonado, repreenderão o pesquisador por desenvolver, ou mesmo reformular, seus pontos de vista...( FREUD, 1920, p.182).

O conceito de pulsão se vale disso, de não ter receio em descartar proposições hoje ultrapassadas, de flexibilizar seu estudo possibilitando a construção de novas ideias, de caminhar por vias e suposições antes impensáveis em busca de um conhecimento cada vez mais profundo e científico a cerca do mesmo.

Neste capítulo buscou-se caminhar com Freud por sua construção do conceito de pulsão, desde suas primeiras formulações referentes aos estímulos internos e externos até os dois grandes conceitos que continuam até hoje tão relevantes na psicanálise: Pulsão de Vida e Pulsão de Morte.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitas são as indagações que temos quando começamos um trabalho de pesquisa em um tema da nossa área e de nosso interesse. Algumas destas perguntas foram respondidas, outras permaneceram, vislumbrando mais um trabalho adiante. As bases que aqui foram destacadas formaram um bom alicerce para conhecimentos futuros sobre o conceito de pulsão psíquica e tudo o que o envolve. Neste sentido, fica a importância de buscar outros autores e o que se produziu referente ao tema na atualidade.

Uma das questões que me “impulsionou” nesta pesquisa foi querer saber de seus efeitos no ser humano como condição para se tornar sujeito desejante, além de querer desvendar como é e como ocorre o movimento pulsional na estrutura neurótica, pois vislumbrava que era essa a força determinante sobre o sujeito e suas escolhas.

A pulsão não percorre apenas o corpo, mas também a posição do sujeito frente ao Outro, ao mundo que o cerca e a ele mesmo. É ela que faz o sujeito se movimentar, ou não, em busca do seu desejo, é ela quem dita o que será vivenciado como prazer ou desprazer pelo sujeito, ou seja, não importa a estrutura psíquica estar determinada, mesmo que esta trace um caminho psíquico, é a pulsão que nos move.

Este conceito, como foi dito anteriormente, é complexo e inacabado, mas instigante e de suma importância para se compreender o ser humano e suas particularidades, além de ser essencial apropriar-se dele para o fazer clínico na psicanálise.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FREUD, Sigmund, 1915. O Recalque. In: Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente. Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

FREUD, Sigmund, 1915. Pulsões e Destinos da Pulsão. In: Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente. Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

FREUD, Sigmund, 1920. Além do Princípio de Prazer. In: Escritos sobre a Psicologia do Inconsciente. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

GARCIA-ROZA, Luiz Alfredo. Introdução à Metapsicologia Freudiana. Vol.III. 5. ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

JERUSALINSKY, Julieta. Enquanto o futuro não vem: a Psicanálise na clínica interdisciplinar com bebês. Salvador: Ágalma, 2002.

Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre / Associação Psicanalítica de Porto Alegre. Vol. I, n.1. Porto Alegre: APPOA, 1990. p.49-65.

ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

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