• Nenhum resultado encontrado

ALANLIPMAN-THEARCHITECTURALBELIEFSYSTEMANDSOCIALBEHAVIOR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ALANLIPMAN-THEARCHITECTURALBELIEFSYSTEMANDSOCIALBEHAVIOR"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

O SISTEMA DE CRENÇAS EM

ARQUITETURA E O

COMPORTAMENTO SOCIAL

1

ALAN LIPMAN (The Welsh School of Architecture)

Tradução feita pelo Prof. Frederico Flósculo P. Barreto (FAUUnB).

B

oa parte da teoria da arquitetura propõe que os arquitetos direcionam o comportamento social através de seu trabalho. As raízes históricas e a aceitação dessa crença são examinadas através da consideração do conceito de “funcionalismo” e dos escritos de importantes profissionais. Mas a necessidade do estudo dos valores e condicionantes sociais não se apóia nessa crença, e os cientistas sociais têm-se mostrado extremamente céticos acerca dela. As razões para a crença no determinismo da arquitetura e a necessidade do sucesso de sua propagação para a imagem e para a prática da profissão são descritas, além da crescente distância social e administrativa entre arquiteto e cliente, e as

1

NOTA DO TRADUTOR: Título original: The Architectural Belief System and the Social

Behavior, capítulo do livro Designing for Human Behavior: Architecture and the Behavioral

Sciences, editado por Jon Lang, Charles Burnette, Walter Moleski e David Vachon (Community

Development Series). Stroudsburg, Pennsylvania: Dowden, Hutchinson & Ross, Inc., 1974, pp. 23-30. Este texto traduzido é parte de uma série de seleções feita em torno do tema da prática profissional da arquitetura e do papel do arquiteto, como focos de reflexões teóricas essenciais para uma Teoria da Arquitetura que explore a projetação participativa.

NOTA DOS EDITORES: “adaptado de um artigo publicado sob o mesmo título no The British

Journal of Sociology, vol. 20 (junho de 1969), pp. 190-204. Publicado sob a permissão do autor e

(2)

frustrações dos projetistas ao tentarem atender às necessidades de modos de vida que não lhe são familiares. O problema da diferença dos gostos também é trazido para a apreciação do leitor. A crença de que o ambiente projetado ordena as relações sociais é usada pelos arquitetos para reduzir as tensões que surgem em situações como essas. Somos lembrados de que a aspiração a sermos engenheiros sociais reafirma para nós mesmos o nosso papel na sociedade, além de também fortalecer a bem-estabelecida tradição da filosofia arquitetônica moderna.

E

ste ensaio examina um aspecto da ideologia da arquitetura contemporânea, e oferece algumas sugestões sobre como esse componente do sistema de crenças da profissão pode auxiliar os profissionais na definição e geração de respostas às situações em que se encontrem. A teoria da arquitetura propõe que o comportamento social dos usuários de um edifício é influenciado, ou mesmo determinado, pelo ambiente físico no qual esse comportamento ocorre. Assim, o sistema de crenças inclui a noção de que nós, arquitetos, direcionamos padrões de comportamento através de nosso trabalho. Essa premissa – o assunto de minha discussão aqui – se origina numa interpretação e ênfase específicas do conceito arquitetônico de “funcionalismo”.

Funcionalismo é o declarado núcleo da filosofia da arquitetura do século 20. Uma de suas afirmações mais importantes é que, em contraste com os revivalismos românticos dos estilos do século 19, as formas da arquitetura moderna deveriam ser derivadas das funções abrigadas pelos edifícios. Essa doutrina teve sua característica fundamentação moralista dada por Walter Gropius em 1923, quando escreveu: “nós queremos criar uma arquitetura claramente orgânica, cuja lógica interna seja ... desembaraçada de fachadas enganadoras e de truques: nós queremos uma arquitetura cuja função seja claramente

(3)

reconhecível na relação de suas formas” 2. E escrevendo no verbete “Funcionalismo” da Enciclopédia da Arquitetura Moderna, Peter Blake coloca: “ ‘a forma se segue a função’ é o slogan que propaga a arquitetura moderna ... e que continua a evocar a imagem do moderno em oposição à arquitetura tradicional de forma mais direta que qualquer outro slogan” 3. A doutrina é expressa em termos mais pragmáticos numa publicação do Ministério da Habitação britânico (relatório “Parker-Morris”):

“A abordagem correta para o projeto de um ambiente se faz, em

primeiro lugar, pela definição de quais atividades deverão ser consideradas, para a seguir prever qual o mobiliário e qual o equipamento que será necessário a essas atividades e, então, projetar a partir dessas necessidades ... que dependem do modo de vida dos futuros ocupantes” 4.

O PROJETO DE ARQUITETURA E O COMPORTAMENTO

SOCIAL

Esta última citação acentua a relação entre a noção discutida neste artigo e o conjunto dos ideais do funcionalismo arquitetônico. No que se segue, eu tento delinear a forma pela qual esses ideais dotam os arquitetos de uma auto-imagem que promove a solução de um dilema que confronta a sua profissão na atualidade.

É patente que para afirmarmos ser essa noção – ou crença de que os ambientes que os arquitetos projetam influenciam o comportamento social – é

2

Walter Gropius, Bauhaus 1919 – 1928, Boston: Branford, 1959. 3

Peter Blake, “Functionalism”, em G. Hatje, editor, Encyclopedia of Modern Architecture, Londres: Thames and Hudson, 1963, 112-113.

4

British Ministry of Housing and Local government, Homes for Today and Tomorrow, Londres: H.M.S.O., 1961, 4.

(4)

efetivamente corrente entre os praticantes da arquitetura, devemos ter evidências empíricas. Isso requer que façamos surveys com os praticantes, com os professores de arquitetura, com os estudantes, e que se faça a análise de conteúdo sobre documentos selecionados entre o conjunto das publicações sobre arquitetura. Dado que a apresentação de dados dessa natureza está além dos propósitos deste trabalho, eu me vejo obrigado a apoiar-me em excertos retirados, por sua vez, de uma certa coleção de declarações feitas por projetistas, e ainda em observações que as corroboram, feitas por cientistas sociais que trabalharam com arquitetos.

Em 1965, o Royal Institute of British Architects (R.I.B.A.) realizou uma série de conferências com renomados arquitetos, sob o título: “A abordagem da arquitetura por um arquiteto”. A análise dos textos5 que produziram até a presente data (setembro de 1967) mostra que todos – com somente uma exceção - dos palestrantes fizeram explícita referência ao papel determinante do projeto quanto à modelação do comportamento do comportamento social de usuários reais ou potenciais de um edifício (e o palestrante que representou a exceção a essa regra demonstrou implicitamente aceitá-la, apenas não a mencionando). A linha de raciocínio que sustentava a crença pronunciada pelos arquitetos palestrantes pode ser ilustrada pela citação de dois desses convictos argumentos. Sobre suas propostas de projeto para a nova universidade de West Anglia, Denys Lasdun disse:

“Grupos departamentais de estudo devem ser as entidades

básicas sociais e acadêmicas... dessa forma, a agenda acadêmica corretamente coloca a questão: ‘como jovens devem viver em uma nova universidade ?’ O partido do projeto foi inspirada por essa agenda.

5

“An architect’s approach to architecture”, R.I.B.A. Journal, vol. 72 (1965), 184-195, 231-240, 298-304; vol. 73 (1966), 105-115, 116-127, 155-163; vol. 74 (1967), 191-200, 229-238, 271-280.

(5)

Grupos de não mais que doze quartos de estudos associados a um refeitório formarão o habitat básico” 6.

Ao descrever o plano para a Loughborough University of Technology como sendo “em muitos aspectos um sumário das idéias que venho tentando expressar”, Phillip Dowson declara:

“Muitos dos lugares serão calmos, isolados, enquanto outros

atrairão concentrações de pessoas... Há uma estreita justaposição de ensino e residência, de reunião e recreação... é do envolvimento de sucessivas gerações de estudantes... que depende a vida e a vitalidade da comunidade. Nós temos que criar a base para que esse organismo feito de indivíduos possa se desenvolver” 7.

Se essas afirmações não forem consideradas suficientemente explícitas, podemos ainda considerar a afirmação feita pelo arquiteto holandês J. B. Bakema, de que “a arquitetura é a expressão tridimensional do comportamento humano” 8, ou as alegações de J. Noble em um artigo destinado a prover os arquitetos de “uma análise dos fatores que controlam as reações humanas ao ambiente”. Tratando inter alia [entre outras coisas] da formação de cliques [panelinhas, pequenos grupos de amigos], do sentimento de vizinhança e de interações sociais em que “o layout era o principal fator determinante para a formação de grupamentos sociais”, J. Noble inicia seu artigo com as seguintes palavras:

6

Danys Lasdun, “An architect’s approach to architecture”, R.I.B.A. Journal, Vol. 73 (1966), 105-115.

7

P. Dowson, “An architect’s approach to architecture”, R.I.B.A. Journal, Vol. 73 (1966), 105-115 (N.T.: SIC).

8

(6)

“Como arquitetos nós concorremos para dar forma ao futuro

comportamento das pessoas através do ambiente que nós criamos. Em todos os estágios do projeto nós fazemos afirmações sobre o comportamento humano e o sucesso ou o fracasso de nosso trabalho dependerão de nossa habilidade de prever o comportamento humano com razoável exatidão” 9.

Nos casos em que os cientistas sociais têm especulado ou mesmo conduzido pesquisas que sugerem haver possíveis ligações entre padrões espaciais e comportamento social (o que efetivamente tem surgido como aspectos secundários das pesquisas), os arquitetos vêem isso como reforço de suas opiniões. O artigo de J. Noble se apóia, entre outras publicações, no livro The

Organization Man [O Homem da Organização], de W.H. Whyte, e nas pesquisas

feitas por M. Young e P. Willmott em seus Bethnal Green Studies. Em 1957, o psiquiatra Humphry Osmond caracterizou o que denominou “duas qualidades gerais dos edifícios”, pelos termos sociófugo e sociópeto. Ele descreve assim essa terminologia:

“Por sociofugacidade eu significo o projeto que evita ou

desencoraja a formação de relações humanas estáveis...

Sociopetalidade é a qualidade que encoraja, provoca e mesmo reforça o

desenvolvimento de relacionamentos interpessoais estáveis, tais como os que existem nos grupos pequenos, de contato direto” 10.

9

J. Noble, “The how and why of behavior: social psychology for the architect”, Architect’s Journal, Vol. 137 (1963), 531-546.

10

Humphry Osmond, “Function as the basis of psychiatric ward design”, Mental Hospitals, Vl. 8 (abril de 1957), 23-29.

(7)

Oito anos depois, Robert Geddes, diretor da Escola de Arquitetura de Princeton, afirmando seguir os princípios de Osmond, comentou que um certo edifício – e ilustrou isso num artigo intitulado “As dimensões psicológicas do espaço arquitetônico” – observava:

“... os limites de tamanho para cada grupo... além dos quais os

relacionamentos amigáveis não se formavam... transparecendo que a freqüência de contatos involuntários, pessoais e diretos é um dos mais importantes fatores para a formação de grupos e de amizades informais... a disposição dos ambientes tem uma influência direta na formação e manutenção de grupos sociais informais” 11.

Mas, de um modo que não surpreende, há cientistas sociais que se mostram céticos, para não dizer incrédulos, acerca das variações assumidas por esse aspecto doutrinário da arquitetura. Duas dessas reações foram aqui selecionadas para menção por terem sido publicadas em revistas de arquitetura e por expressarem alarme quanto à ampla aceitação dessa noção entre os arquitetos. Maurice Broady, um sociólogo que – como uma súmula de sua biografia comunica - “freqüentemente dá conferências na Architectural Association School, de Londres”, caracteriza essa crença como sendo “determinismo arquitetônico”. Ele a descreve como uma afirmação de que:

“... o projeto arquitetônico tem um efeito direto e determinante no

modo pelo qual as pessoas se comportam. Isso implica em um processo de mão única, no qual o ambiente físico é a variável independente, e o comportamento humano é a variável dependente. E também sugere que

11

“The psychological dimensions of architectural spaces”, Progressive Architecture (abril de 1965), 159-167.

(8)

aqueles seres humanos para os quais os arquitetos e planejadores criam seus projetos são conseqüentemente moldados pelo ambiente que lhes é fornecido” 12.

Em uma conferência proferida na reunião anual do R.I.B.A. [Royal Institute

of British Architects], F.J. Langdon, diretor do núcleo de pesquisas sobre

edifícios13, encarregado de pesquisa sobre as reações humanas ao ambiente físico, reitera a crítica de Broady ao determinismo arquitetônico. Uma parte de sua fala é dedicada ao exame dessa “heresia”, como ele a qualifica; diz que:

“Construiu-se recentemente o argumento de que a influência do

ambiente [projetado] tem sido superestimada por alguns arquitetos... Esse é um bom argumento para discussão... A necessidade do estudo de valores e pré-requisitos sociais, bem como de materializá-los em projetos, não é fundamentada no argumento de que um certo tipo de ambiente faz com que as pessoas se reúnam... enquanto outro faz com que sejam mantidas separadas” 14.

Tais afirmações são notáveis porque foram feitas por dois cientistas sociais que estudaram de perto praticantes da arquitetura. Ambos parecem sentir a necessidade de contraditar uma crença que acreditam estar amplamente difundida.

12

Maurice Broady, “Social theory in architectural design”, Arena: Journal of the Architectural

Association, vol. 81 (1966), 149-154.

13

Building Research Station, do R.I.B.A. 14

F.J. Langdon, “The social and psysical environment: a social scientist’s view”, R.I.B.A. Journal, vol. 73 (1966), 460-464.

(9)

AS FACES DO CONCEITO DE DETERMINISMO

ARQUITETÔNICO

Três grandes categorias e/ou associações de pessoas podem ser consideradas como aquelas às quais o conceito de determinismo arquitetônico é dirigido: o público que compõe a sociedade na qual a profissão atua, a corporação dos profissionais, e os praticantes individuais.

O público constitui o conjunto de pessoas para quem os arquitetos, como especialistas, prestam seus serviços profissionais. Como uma atividade de prestação de serviços, a arquitetura ocupa uma posição única vis-a-vis ao seu público. As decisões arquitetônicas tomam formas palpáveis, todos podem experimentá-la. Onde quer que os resultados do trabalho profissional se fazem tão concretamente manifestos, é no interesse da profissão que são projetadas certas imagens do alcance e da competência dos seus profissionais. Dentre essas imagens, a habilidade de influenciar o comportamento humano comparece com um apelo algo óbvio. Sua bem sucedida propagação pode auxiliar na garantia de uma clientela cativa, e pode fortalecer o prestígio da profissão. Também oferece um poderoso termo de reconciliação das anomalias existentes entre os interesses extrínsecos e intrínsecos da profissão – o conflito entre interesses econômicos legítimos e a proclamada preocupação profissional em manter-se acima dos ganhos pecuniários. A depender do grau em que os arquitetos conseguem persuadir seu público de que eles não se encontram totalmente submetidos por “grosseiras” considerações financeiras, e que são capazes de sustentar que seu trabalho gera satisfação humana num nível profundo, eles podem ser bem sucedidos na resolução desse clássico dilema profissional15.

15

Isso é particularmente aflitivo para os arquitetos que atuam no setor privado: os honorários profissionais são porcentagens dos custos gerais de construção, ainda que os arquitetos esperem

(10)

Uma crença que oferece a possibilidade de estabilidade em termos econômicos é atrativa, especialmente se suas afirmações não podem ser verificadas de imediato. Ao mesmo tempo em que os leigos podem estar perfeitamente conscientes de seus comportamentos e contatos sociais, também estão consideravelmente ignorantes dos mecanismos que os sustentam e permitem seu alcance. Sem que estejam em posição de questionar os argumentos de seus especialistas e consultores, os leigos tendem a aceitar suas afirmações tal como se apresentam. Um exemplo desse tipo de consenso entre arquiteto e cliente pode ser visto no caso dos membros da administração superior de uma importante universidade que aceitaram a noção de que o leiaute do campus universitário e a disposição das partes componentes dos edifícios de suas faculdades afetariam os comportamentos sociais e educacionais inter-discentes, inter-docentes e entre discentes e docentes – e de tal modo que eles convidaram os arquitetos a participarem da formulação de sua própria política acadêmica16. Fica aparente, portanto, que para a profissão como um todo, e para os praticantes individuais, que a crença em seu papel de manipuladores do comportamento social assegura-lhes que seu trabalho tem um alcance que ultrapassa a mera provisão do abrigo. Nesse período social e psicologicamente consciente, a crença tradicional de que a profissão satisfaz “necessidades” estéticas pode ser estendida a “necessidades” sociais e psíquicas. De fato, é difícil imaginar crença mais gratificante, que pudesse melhor recompensar os arquitetos pelas vicissitudes de suas atividades profissionais. Nesse contexto, a verbalização dessa crença por prestigiados membros da profissão – como nas conferências do R.I.B.A. – acarreta o reforço de crenças mútuas . E, como é indicado por Paul Halmos, a

– e se espere dos arquitetos – que seu projeto seja econômico. Os clientes devem ser convencidos de que seus interesses pesam mais fortemente que o interesse próprio dos profissionais.

16

(11)

ratificação da crença no papel da profissão, mesmo que não se conforme aos fatos, ocasiona o que se pode denominar a “falácia auto-sustentada” 17.

O PROBLEMA DA DEFINIÇÃO DO PAPEL DO ARQUITETO

Até agora eu argumentei que parte da auto-imagem da prática da arquitetura compreende a crença de que os arquitetos possuem a habilidade de afetar as relações sociais através de seu trabalho. Por que essa ideologia persiste ? Por que os arquitetos sustentam essa crença ? A que necessidades essa crença satisfaz ou minora ? De forma breve, minha argumentação é de que, pela necessidade de esclarecer o tríplice relacionamento como artista-tecnólogo-engenheiro social, o arquiteto encara um importante problema de definição de seu papel. A essência dessa sugestão é que hoje a profissão opera com um arsenal de conhecimentos e instrumentos técnicos sem precedentes e, em conseqüência, sua auto-imagem tradicional como artista tem sido deslocada. Em um esforço para superar esse deslocamento, os arquitetos tendem a apoiar-se no seu igualmente tradicional, mas mais latente, auto-conceito como engenheiros sociais18. Aqui, no meu modelo da auto-imagem dos arquitetos, os recursos são focados em três direções, atendendo às suas demandas. Nesse sentido, os freqüentemente referidos “objetivos da arquitetura” de Sir Henry Wotton nos fornece um sumário conveniente:

“Na Arquitetura assim como nas demais Artes Operativas,

17

P. Halmos, “The Personal Service Society”, British Journal of Sociology, vol. 18 (1967), 13-28; também conforme R.K. Merton, “The self-fulfilling prophecy”, in Social Theory and Social Structure, edição revista, Nova Iorque: The Free Press, 1966, 421-436.

18

A tendência dos arquitetos para desenvolver generalizações sobre o social provavelmente surge da abordagem tradicional de ver os fatores sociais como variáveis nas mudanças estilísticas históricas; ver Banister Fletcher, A History of Architecture on the Comparative Method, Londres: Batsford, 1896. A fórmula “lugar / trabalho / pessoas” [place / work / folk] de LePlay é usualmente a base da arquitetura; ver o R.I.B.A. Journal, vol. 33 (1925), 12-18.

(12)

o fim deve dirigir a Operação. O fim é construir bem.

Bem construir tem três condições,

Comodidade, Firmeza e Deleite.” - Sir Herny Wotton, 1604.

Deleite – o arquiteto como artista –, considera-se geralmente, é atingido através de um dom intuitivo pessoal; “firmeza” – o arquiteto como tecnólogo, e ultimamente como gerenciadores de construções -, pela análise racional; e “comodidade” – os produtos de engenharia social – pela experiência social e discernimento. O auto-imagem ideal a que os arquitetos aspiram envolve uma equilibrada relação entre recursos e demandas ao longo de cada dimensão19 .

O problema da definição do papel com que nos preocupamos parece surgir da pressão da tecnologia (e dos concomitantes condicionantes gerenciais e organizacionais) sobre os arquitetos. Desde a Segunda Guerra Mundial, essas pressões tendem a eclipsar o “deleite” e a “comodidade”. Em um estudo sobre a história de profissão na Inglaterra, Barrigton Kaye20 analisou esse processo e apresenta dados que o contrastam com a situação existente no século 19, quando as relações entre arquiteto e cliente produziram uma distorção da auto-imagem da profissão, que enfatizava o “deleite”. Ele mostrou que o período que vai até a Primeira Guerra Mundial era caracterizado por relações entre arquitetos e

19

Pode-se encontrar corroboração ao meu argumento de que esses três aspectos constituem a concepção do arquitetos acerca de seu papel nas seguintes referências, entre outras: a) D>M> MacKinnon, “The persolnality correlates of creativity: a study of American architects”, in

Proceedings of the 14th International Congress of Applied Psychology, Copenhagen, 1961, vol. II,

Copenhagen: Munskgaard, 1962, 11-39; b) G. Barry, “The place of the architect in the post-war world”, R.I.B.A. Journal, vol. 53 (1946), 372-376; c) R. Llewelyn-Davies e P. Conwan, “The future of research”, R.I.B.A. Journal, vol. 71 (1964), 149-156; d) Viscount Esher, “Presidential address: not a job but a role”, R.I.B.A. Journal, vol. 73 (1966), 500-504; e) “An architect’s approach to architecture”, R.I.B.A. Journal, vol. 74 (1967), 229-238.

20

B. Kaye, The Development of the Architectural Profession in Britain: a Sociological Study, Londres: Allen and Unwin, 1960.

(13)

patronos nas quais a construção de “obras de arte” tinha destaque. Desde a década de 1920 o patronato pessoal foi diminuindo, e o arquiteto contemporâneo firmou-se num diferente tipo de relacionamento com seus clientes. Esse novo relacionamento parece ser o centro de um dilema que surge agora para a profissão – um dilema que impele os praticantes a enfatizar o lado “engenheiro social” dos arquitetos, numa tentativa de conter o desequilíbrio entre a sua auto-imagem ideal e a situação existente.

A principal força que tem governado as mudanças no relacionamento entre arquitetos e usuários de edificações tem sido o mesmo fator condicionante de grande parte das mudanças sociais contemporâneas: o crescimento populacional. O surgimento de uma clientela massiva tem alterado os relacionamentos pessoais do passado, e agora os arquitetos encontram-se apartados daqueles para os quais projetam, de duas formas decisivas: social e administrativamente não mais se encontram em imediato contato com as massas de usuários e ocupantes dos edifícios.

DISTÂNCIA SOCIAL

Não é do meu conhecimento que haja dados disponíveis disponíveis, sistematicamente coletados, acerca das classes de origem social dos arquitetos contemporâneos, mas as evidências com que se pode contar21 indicam que há uma separação entre as origens sociais e o grau de educação dos que projetam os edifícios e dos que vivem nos edifícios por aqueles projetados. Nesse aspecto os arquitetos de hoje diferem dos seus predecessores até a Primeira Guerra Mundial: até então, “construção” era o que se fazia para as massas, produzida por

21

Numa extrapolação feita desde o Observer Survey of Architects (1964), faz-se a sugestão de que mais de 70% dos arquitetos demonstravam estilos de vida típicos das classes médias, quando faziam seus cursos de graduação.

(14)

outros profissionais que não os arquitetos; “arquitetura” era o que os ricos e bem-nascidos patrocinavam. Quando o patronato era dominante, o arquiteto era (ou tornava-se, por ser arquiteto), membro do mesmo meio social de seu patrono. Estava em posição adequada para apreender os padrões de comportamento de seu cliente, em virtude de compartilharem a mesma experiência social. Hoje em dia isso acontece com reduzida freqüência. Se interpolarmos os dados de Kaye, temos a indicação de que, mesmo havendo evidências de diferenciação social entre arquiteto e cliente, no século 19 – como de poderia esperar de uma situação de patronato -, essa não se compara às diferenciações dos dias atuais. De acordo com a análise de Kaye, feita sobre o status social dos arquitetos do século 19, fica claro que por volta da década de 1820 os projetistas dos edifícios provinham de círculos familiares das classes sociais mais elevadas, e que isso persistiu pelos anos seguintes – mas nos dias atuais uma equilibrada partilha de status social por projetistas e usuários somente ocorre em casos isolados. Agora a arquitetura diz respeito ao projeto de edifícios para praticamente todo a gama de classes sociais, e a diferença no status social dominante entre os arquitetos parece excluir a possibilidade de compartilhamento de experiência social.

Entre aqueles que têm examinado os efeitos de uma tal diferenciação (ver, por exemplo, C. Madge22 and D. Chapman23), constata-se a ênfase dada às frustrações dos ocupantes de edifícios. Ao escrever sobre a “sociologia da habitação”, Chapman comenta:

“o locatário da casa posta para alugar e o comprador de uma casa

recém-construída raramente podem influenciar o projeto de suas habitações, mesmo que compreendam tão bem seus próprios hábitos domésticos a ponto de exercer adequadamente essa influência, caindo

22

C. Madge, “Planning for people”, Town Planning Review, vol. 21 (1950), 131-144. 23

(15)

na regra geral de que também são pouco capazes de reconhecer os efeitos que o projeto da habitação tem sobre seus padrões de vida” 24.

Para os projetistas, muita frustração decorre de suas tentativas de satisfazer necessidades implícitas e pouco óbvias que existem nos modos de viver que não lhes são familiares. Nessas situações, considerado o viés de sua forma de prestar serviços presente em sua ideologia profissional, eles empregam as crenças de que dispõem para afetar o comportamento social da pessoas, visando justificar e mesmo reforçar seus altruísticos objetivos . O aspecto da engenharia social contida na auto-imagem de seu trabalho oferece a oportunidade para dar soluções às conseqüências das distâncias sociais, pela pressuposição, por exemplo, de que as decisões de projeto que visam a disposição dos elementos definidores de espaços podem operar e efetivamente operam a determinação de contatos sociais. Além disso, a natureza de suas concepções acerca do que seja “comodidade” os leva a rebater as críticas de que seus projetos podem não satisfazer adequadamente a requisitos de comportamento social, pela afirmação de que “comodidade” é algo indefinível em termos operacionais. E onde possam se sentir responsáveis por não terem atingido tais objetivos, suas próprias apreensões são minoradas por essa idéia.

Tais crenças podem também criar compensações às tensões geradas pelas pressões que a tecnologia exerce sobre a arquitetura, no período recente. A resposta a demandas em larga escala por espaços edificados parece ser impossível sem a utilização de técnicas industriais, de produção em massa, imergindo fundo no conhecimento tecnológico; a familiaridade com técnicas tais como a coordenação modular, a análise de caminho crítico e métodos de projeto sistemático se fazem agora requisitos para uma profissão que permanece arraigada nas suas origens artesanais. Os arquitetos podem considerar que essas

24 Idem.

(16)

tensões que afetam o gerenciamento de sua prática são, em certo grau, desfechadas por sua crença de que também “gerenciam” as relações sociais.

A DISTÂNCIA ADMINISTRATIVA

O advento de uma clientela de enormes proporções acarretou uma outra mudança na relação entre o arquiteto e seu cliente: o aparecimento de instâncias administrativas entre o arquiteto e o usuário dos espaços edificados. A burocratização da sociedade industrial restringiu os contatos pessoais que haviam entre os que projetavam e os que usavam os espaços edificados; em geral, comitês de representantes falam pelos usuários, atuais ou futuros. No caso, digamos, da construção pelo governo de habitações populares, é teoricamente possível que uma comunidade localmente envolvida venha a influenciar a escolha das áreas de implantação e o planejamento das habitações individuais, mas a ligação entre os membros individuais dessa comunidade e aqueles arquitetos oficialmente comissionados ou contratados é tênue. Pequeno número desses membros individuais – para não falar aqui da provável dificuldade ou incapacidade dos futuros ocupantes quanto a formular suas exigências ou requisitos de projeto – estabelecem contato direto, ainda que rara e de modo extremamente formal. E no setor privado da construção, com a exceção da minoria dos grupos de alta renda, a situação se repete. Para que tenham algum efeito, as exigências dos usuários devem ser verbalizadas e expostas, e respondidas pelos arquitetos e planejadores, antes de os planos serem desenvolvidos, e a experiência indica, no entanto, que essas formas de consulta prévia são indiretas ou excepcionais.

Na Inglaterra, os arquitetos do serviço público – aqueles empregados por repartições locais ou centrais, do governo inglês – constituem, por agora [meados da década de 1970], cerca de um terço dos arquitetos registrados no país desde 1949; esses profissionais são parte de organizações burocráticas que operam,

(17)

usualmente, numa escala ampla. O ethos [disposição, caráter] dessas corporações, como a sociologia Weberiana tem mostrado, se volta para a administração racional e eficiente. Suas bases para a tomada de decisões são universalistas, e os critérios técnicos profissionais tendem a dominar de tal forma o processo decisório que os fatores particulares tendem a ser suprimidos. Enquanto se coloca como questão em aberto se nossa abordagem de uma teoria social da arquitetura é particularista ou universalista, parece razoável sugerir que as relações entre os arquitetos oficiais – como provedores – e os usuários dos edifícios – como os providos – são impessoais e circunscritos ao âmbito dos contatos organizacionais, formais. Há aí uma notável diferença face aos relacionamentos do passado, nos quais os contatos sociais personalizados podiam justificar as premissas da engenharia social. Mesmo os praticantes privados não estão livres das conseqüências da burocratização. Ainda que não sejam diretamente empregados por eles, estão constantemente sob contratação de organizações burocráticas25. A demanda em massa por edifícios e por meios industriais de produção que atendam a essa demanda também acaba por afetar o projeto de edifícios dirigidos a consumidores em pequena escala. Fatores como a disponibilidade de componentes padronizados para a construção demonstram que os consumidores em grande escala tem maior influência e melhor gerenciamento sobre essa produção industrial que os consumidores em pequena escala, individuais e isolados. Também se constata que os consumidores têm-se organizado em associações ou cooperativas de construção de habitações, onde o contato pessoal entre os projetistas e cada um dos associados acaba por se tornar improvável ou secundário.

Ao aumentar os efeitos da distância social, a distância administrativa exacerba o divórcio entre os arquitetos e os usuários dos edifícios. A crença de

25

Essa é uma extrapolação feita desde a publicação quadrimestral do R.I.B.A., New Comissions for Private Architects, que indica a estatística de um terço dos contratos obtidos pelos escritórios particulares de arquitetura serem com agências governamentais.

(18)

que a profissão tanto aspira quanto intenta realizar uma engenharia social sobre os comportamentos faz com que os praticantes não duvidem ou não adotem uma postura crítica quanto ao valor social do seu trabalho. Parece que a alienação dos arquitetos com relação às pessoas para as quais projetam pode ser anulada pela crença de que apesar de - ou devido a – essa separação, eles podem determinar o comportamento social.

AUTONOMIA ARTÍSTICA

Dissidências nas relações sociais e administrativas podem nos conduzir, até certo ponto, a uma explicação do efeito que tem uma clientela crescente, massiva, na prática da arquitetura, mas é necessário avaliar a aparente redução do componente de “deleite” se estivermos dispostos a desenvolver uma reflexão mais satisfatória. Isto pode ser empreendido através da consideração de um tema de destaque no estudo feito por Kaye, sobre o conceito do “dilema da autonomia artística”.

No começo desta discussão, fez-se referência à natureza pública dos produtos da arquitetura; na outra ponta do processo de projetação há, ainda, um aspecto que é único na arquitetura considerada como uma atividade criativa. Diferentemente das demais artes, a arquitetura é uma ocupação na qual a comunicação artística somente é evidente quando a concepção de projeto se torna fisicamente tangível, como uma construção. Com a exceção desses casos raros em que a arquitetura é praticada como um hobby, o relacionamento entre um artista, como um profissional especializado, e um cliente é condição sine qua

non desse processo. Onde quer que a interação arquiteto-cliente venha a lidar

com requisitos funcionais “não-artísticos”, tais como o tamanho de uma sala, os padrões de ventilação e temperatura ambiente, entre outros, é possível que o projeto transcorra sem tensões nessa interação. Mas onde essa interação se

(19)

defronte com os aspectos de estilo ou estéticos presentes na visão do projetista, ele pode achar-se numa posição ambígua. Ele pode insistir em manter sua integridade artística e arriscar a perda do cliente, ou ele pode abandonar essa alegada integridade e, daí, sua autonomia pessoal. Kaye argumenta que “é claro que esse dilema se torna tão mais insuportável quanto mais o arquiteto acredite que seu trabalho se aproxima de uma arte pura”. E nas duas décadas passadas [o

autor refere-se aos anos 1950 e 1960] a mistura de conhecimento técnico e

científico restringiu o âmbito do que seja “arte pura” no projeto de arquitetura; critérios crescentemente objetivos, não-intuitivos tornam-se aplicáveis e foram sendo aplicados, em campos que variam desde a engenharia estrutural até a psicologia da percepção 26.

Kaye argumenta que esse fator – o crescente número de arquitetos em atividade – e a crescente aceitação dos estilos “modernos” combinaram-se para reduzir, e mesmo eliminar, esse dilema. Baseados, na medida em que se propõem a isso, em critérios funcionais, as formas arquitetônicas modernas são vistas pelos próprios arquitetos como ideais estéticos realizados pelo alcance de requisitos funcionais. No esforço por esse tipo de realização, sua ênfase voltou-se para a tecnologia e, como argumenta Kayes, a auto-imagem dos arquitetos deslocou-se desde “o criativo artista que expressava uma visão única de sua arte, para o profissional que buscava a melhor solução técnica possível… uma tendência, em outras palavras, que se distancia do artista e se aproxima do tecnólogo” 27. Enquanto, como argumentei, as aspirações no plano da “commoditas” podem ser compensadas por preocupações no plano de “firmitas”, não há evidência que me seja conhecida, de que os ideais estéticos estejam sendo abandonados pela profissão da arquitetura. Pelo contrário, a doutrina do funcionalismo arquitetônico é, como vimos, inextrincavelmente atada a objetivos estéticos. Considerando o

26

Para algumas indicações do âmbito do corpo de conhecimentos tecnológicos e científicos que se refere à arquitetura, ver Llewelyn-Davies and Cowan, op. cit.

27

(20)

que foi até aqui escrito, pode-se sentir inclinado – nos termos das relações entre os arquitetos e seus clientes (tais como representados pelos indivíduos e grupos com os quais os arquitetos lidam) – a acreditar que é justificável a proposição de Kayes, de que tem havido um declínio nas tensões envolvidas no dilema a autonomia artística. Mas agora temos que as tensões acerca das questões estéticas e de estilo têm sido transpostas para a esfera das diferenças entre o gosto profissional e do público.

Os arquitetos e as pessoas com quem eles lidam nas agências e organizações que os empregam ou comissionam podem compartilhar contextos sociais, e ter valores estéticos comuns, ou em acordo em um grau significativo, mas não é esse o caso do público em geral. Nesse caso, tensões serão provavelmente sentidas, como resultado de discrepâncias entre as concepções dos especialistas acerca do que seja “boa arquitetura” e as concepções do gosto popular 28. Ao que tudo indica, o dilema está longe de ser resolvido, tendo sido intensificado – ainda que num contexto social diferente.

A separação entre os gostos pode ser reduzida pela educação do público através dos meios de comunicação de massa ou pelo ensino formal, mas para os praticantes parece haver ainda uma sensação de que “conexões sociais” deveriam ser feitas. Um dos colaboradores nas citadas séries do R.I.B.A. declarou que: “o essencial a uma abordagem da arquitetura pode ser expresso do modo mais sucinto possível nas duas palavras… apenas conecte” 29. O desejado papel do “engenheiro social” pode ser a imagem mais imediatamente disponível para convencer os usuários dos espaços construídos de que tais conexões são possíveis.

28

Para um estudo sobre as reações dos adquirentes de moradias populares quanto aos aspectos menos atrativos do ambiente de sua vizinhança, ver Vere Hole, “Social effects of planned rehousing”, Town Planning Review, vol. 30 (1959), 161-173. Para alguns comentários sobre as discrepâncias nos padrões de gosto como correlacionados a níveis culturais e de classe social, ver A.S.B. Study Group nº 1, “Sociology and architecture”, R.I.B.A. Journal, vol. 53 (1946) 386-394. 29

(21)

CONCLUSÃO

Eu tentei aqui descrever um dos aspectos do sistema de crenças do arquiteto, bem como delinear as funções que esse sistema parece cumprir na definição do papel do arquiteto nas sociedades ocidentais contemporâneas. Para os arquitetos, a tentativa de influenciar o comportamento humano é feita visando o melhoramento da própria “condição humana”; tal como Sigfried Giedion argumentou, seu objetivo auto-assumido é de “restabelecer os mais básicos valores humanos”30.

Halmos apontou que a ética das profissões prestadoras de serviços pessoais tem crescentemente influenciado a auto-imagem, os valores e os objetivos dos “trabalhadores profissionais cujas vocações não se radicam na área da prestação de serviços pessoais”31. Dificilmente nos surpreende que os arquitetos tenham dado sua resposta a essa ética. Desde suas origens nos ideais sociais de John Ruskin e de William Morris, os objetivos sociais do movimento moderno em arquitetura têm incluído aspectos que o tornariam aliado forças políticas anti-autoritárias, mesmo radicais em termos sociais e políticos. Quando os valores sociais de pioneiros do modernismo tais como Walter Gropius e Mies van der Rohe chocaram-se com a então exitosa ideologia do nacional-socialismo na Alemanha, as autoridades fecharam a sua escola de design tão cedo quanto possível, ainda em 193332. Durante o período stalinista, a arquitetura modernista foi simplesmente suprimida na União Soviética. Ao escrever na Encyclopedia of

Modern Architecture, o historiador da arte G. Veronesi descreveu o movimento de

arquitetura tradicionalista, da Itália fascista – o Noveccento italiano -, como de

30

Sigfried Giedion, Mechanization Takes Command: A Contribution to Anonymous History, Nova Iorque: Oxford University Press, 1948.

31

Halmos, op. cit. 32

(22)

“uma constante perigosamente sugestiva… que foi recrutada entre os ‘reacionários da revolução modernista’ [como um dos seus fundadores de auto-descreveu] mais que dos ‘revolucionários da reação fascista’, tal como os críticos a viram”33 [aspas de Veronesi].

Ao aspirarem a realizar uma certa engenharia social, os arquitetos do período seguinte à Segunda Guerra Mundial não apenas tentaram se convencer, como a seu público, de que agora estavam realmente comprometidos com os ideais do bem-estar social; também nisso eles seguiam uma tradição estabelecida na curta história da arquitetura modernista.

NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Walter Gropius, Bauhaus 1919-1928, Boston: Branford, 1959.

2. Peter Blake, “Functionalism”, em G. Hale, editor, Encyclopedia of

Modern Architecture, Londres: Thames and Hudson, 1963, 112-113.

3. British Ministry of Housing and Local Government, Homes for Today and

Tomorrow, Londres: H. M. S. O., 1961, 4.

4. “An architect’s approach to architecture”, RIBA Journal, Vol. 72 (1965), 184-195, 231-240, 298-304; Vol. 73 (1966), 105-115, 116-127, 155-163; Vol. 74 (1967), 191-200, 229-238, 271-280.

5. Denys Lasdun, “An architect’s approach to architecture”, RIBA Journal, Vol. 73 (1966), 105-115.

6. P. Dowson, “An architect’s approach to architecture”, RIBA Journal, Vol. 73 (1966), 105-115.

7. J. J. Vriend, “Netherlands”, em Hatje, op. cit., 209-213.

8. J. Noble, “The how and why of behavior: social psychology for the architect”, Architect’s Journal, Vol. 137 (1963), 531-546.

33

(23)

9. Humphry, Osmond, “Function as the basis of psychiatric ward design”,

Mental Hospitals, Vol. 8 (abril de 1957), 23-29.

10. “The psychological dimensions of architectural space”, Progressive

Architecture (abril de 1965), 159-167.

11. Maurice Broady, “Social theory in architectural design”, Arena: Journal

of the Architectural Association, Vol. 81 (1966), 149-154.

12. F. J. Langdon, “The social and physical environment: a social scinetist’s view”, RIBA Journal, Vol. 73 (1966), 460-464.

13. Isso é sentido de forma particularmente aguda por arquitetos como profissionais liberais: os honorários profissionais são percentuais aplicados aos custos globais, ainda que os arquitetos esperem – e isso também é deles esperado – que projetem com economicidade. Os clientes têm que ser convencidos de que seus interesses têm maior peso que os interesses autorais dos projetistas.

14. “University planning, a discussion”, Architectural Association Journal, Vol. 80 (1965), 159-168.

15. P. Halmos, “The personal service society”, British Journal of Sociology, Vol. 18 (1987), 13-28; apud R. K. Merton, “The self-filfilling prophecy”, em Social Theory and Social Structure, edição revisada, Nova York: The Free Press, 1966, 421-436.

16. A propensão dos arquitetos para promoverem generalizações sociológicas provavelmente se desdobra da tradicional abordagem que enxerga os fatores sociais como variáveis a circundar as mudanças estilísticas, históricas. Ver Bannister Fletcher, A History of Architecture

on the Comparative Method, Londres: Batsford, 1896. A fórmula de

LePlay (PESSOAS / LUGARES / ATIVIDADES) é, usualmente, a base da arquitetura. Ver RIBA Journal, Vol. 33 (1925), 12-18.

(24)

17. Eu ofereço como fundamentos para a minha assertiva de que esses três elementos constituem a concepção que os arquitetos têm de seu papel os seguintes, entre outros: (a) D. M. MacKinnon, “The personality correlates of creativity: a study of American architects”, em Proceedings

of the 14th International Congress of Applied Psychology, Copenhagen, 1961, Vol. II, Copenhagen, Munksgaard, 1962, 11-39; (b) G. Barry, “The

place of the architect in the post-war world”, RIBA Journal, Vol. 53 (1946), 372-376; (c) R. Llewelyn-Davies e P. Cowan, “The future of research”, RIBA Journal, Vol. 71 (1964), 149-156; (d) Viscount Esher, “Presidential address: not a job but a role”, RIBA Journal, Vol. 73 (1966), 500-504; (e) “An architect’s approach to architecture”, RIBA Journal, Vol. 74 (1967), 229-238.

18. B. Kaye, The Development of the Architectural Profession in Britain: A

Sociological Study. Londres: Allen & Unwin, 1960.

19. Extrapolação desde a publicação The Observer Survey of Architects (1964), sugerindo que 70% dos arquitetos provêm da classe média, expressando seus estilos de vida em seus projetos acadêmicos.

20. C. Madge, “Planning for people”, Town Planning Review, Vol. 21 (1950), 131-144.

21. D. Chapman, The Home and Social Status, Londres: Routledge & Kegan Paul, 1965, 2-3.

22. Ibid.

23. Extrapolação desde a publicação quadrimestral do RIBA, New

Commissions for Private Architects, indicando que cerca de um terço

das “comissões” – ou ofertas de trabalho – recebidas pelos arquitetos do setor privado vêm de agências governamentais.

(25)

24. Para obter algumas indicações acerca do âmbito da pesquisa científica e tecnológica no campo da arquitetura, ver Llewelyn-Davies & Cowan,

op. cit.

25. Kaye, op. cit.

26. Para um relato das reações de locadores de imóveis com relação a aspectos desagradáveis de suas vizinhanças, ver o trabalho de Vera Hole, “Social effects of planning rehousing”, Town Planning Review, Vol. 30 (1959), 161-173. para obter comentários sobre as discrepâncias quanto a padrões de gosto como correlatos de diferenciais de classe e cultura, ver o trabalho do A.S.B. Study Group N. 1, “Sociology and architecture”, RIBA Journal, Vol. 53 (1948), 386-394.

27. H. Morris, “An architect’s approach to architecture”, RIBA Journal, Vol. 73 (1966), 155-163.

28. Siegfried Gideon, Mechanization Takes Command: A Contribution to

Anonymous History, Nova York: Oxford University Press, 1948.

29. Halmos, op. cit. 30. Gropius, op. cit.

Referências

Documentos relacionados

na Albânia], Shtepia Botuse 55, Tiranë 2007, 265-271.. 163 ser clérigo era uma profissão como as restantes, que a fé era apenas uma política e nada mais do que isso e deitou

A proporçáo de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entle os jovens e jovens adultos do que

Realizar a manipulação, o armazenamento e o processamento dessa massa enorme de dados utilizando os bancos de dados relacionais se mostrou ineficiente, pois o

As rimas, aliterações e assonâncias associadas ao discurso indirecto livre, às frases curtas e simples, ao diálogo engastado na narração, às interjeições, às

Estudos sobre privação de sono sugerem que neurônios da área pré-óptica lateral e do núcleo pré-óptico lateral se- jam também responsáveis pelos mecanismos que regulam o

confecção do projeto geométrico das vias confecção de projeto de drenagem, dimensionamento e detalhamento de 20 lagos de retenção, projeto de pavimentação e

Conclui pela importância de se ter um sistema de avaliação de desempenho alicerçado com o uso dos indicadores através das quatro perspectivas do balanced scorecard, uma vez que

Atualmente o predomínio dessas linguagens verbais e não verbais, ancorados nos gêneros, faz necessário introduzir o gênero capa de revista nas aulas de Língua Portuguesa, pois,