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Divulgação científica : percepções sobre meio ambiente na revista Ciência Hoje.

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS INSTITUTO DE GEOGRAFIA PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE. DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: PERCEPÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA REVISTA CIÊNCIA HOJE. Alessandra Gomes Brandão. Maceió-AL 2007.

(2) 3. ALESSANDRA GOMES BRANDÃO. DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: PERCEPÇÕES SOBRE MEIO AMBIENTE NA REVISTA CIÊNCIA HOJE. Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Alagoas, para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente -Área de Concentração: Desenvolvimento Sustentável. Orientadora: Doutora Marcionila Fernandes. Maceió-AL 2007. 3.

(3) Catalogação na fonte Universidade Federal de Alagoas Biblioteca Central Divisão de Tratamento Técnico Bibliotecária Responsável: Michele dos Santos Silva Rodrigues B817d. Brandão, Alessandra Gomes. Divulgação científica: percepções sobre meio ambiente na revista Ciência Hoje / Alessandra Gomes Brandão. – Maceió, 2007. 120 f. Orientador: Marcionila Fernandes. Dissertação (mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente : Desenvolvimento Sustentável) – Universidade Federal de Alagoas. Programa Regional de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Maceió, 2007. Bibliografia: f. 118-120. Inclui anexos. 1. Meio ambiente – Metodologia. 2. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável. 3. Homem – Influência sobre a natureza. I. Título. CDU: 504.03.

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(5) 5. Ao meu irmão, Fernando Aldo, que teve sua vida abreviada por defender valores em extinção.. 5.

(6) 6. AGRADECIMENTO A minha família que, por meio do exemplo, tem me ensinado a ‘andar sobre as pedras’. Ao povo de casa, que suportou todos os ‘aperreios’ de minha tentativa de produzir conhecimento. A minha orientadora, Marcionila Fernandes, pelas aulas, incentivo e amizade. Ao professor Cidoval Morais de Sousa pelo apoio acadêmico, carinho e companheirismo de sempre. A FAPEAL, Pelo despertar para a ciência, pela bolsa de mestrado, e pelos colegas de trabalho. Ao meu marido, Ruy Câmara, pelos sentimentos compartilhados que me apoiaram nessa caminhada. Aos amigos Prazeres Ribeiro e Alexandre Cavalcante cuja amizade e carinho foram energéticos para este trabalho. Aos professores do Prodema e colegas de turma, pelo tempo que passamos juntos tentando compreender a complexa questão ambiental. 6.

(7) 7. RESUMO O presente trabalho tem como objeto de análise as matérias sobre meio ambiente publicadas na revista Ciência Hoje, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2006, com o objetivo de investigar como a comunidade científica apresenta as questões ambientais para a sociedade brasileira. A análise da divulgação dos conteúdos sobre meio ambiente foi realizada identificando se as correntes de pensamentos em defesa da natureza, biocêntrica e antropocêntrica, apareceram nas publicações; como os termos Meio Ambiente e Natureza são abordados nos textos, e ainda como o conceito de desenvolvimento sustentável é apresentado pelos autores das publicações. Também foi objetivo deste trabalho a análise editorial de todas as edições da revista no período estudado. Identificamos que a divulgação científica dos assuntos ambientais na Ciência Hoje mantém uma característica biologizada do meio ambiente, ou seja, privilegiando os aspectos físicos e biológicos da crise ambiental, não apresentando importantes reflexões acerca das relações sociais que estão no cerne da questão, levando ao conhecimento público uma visão disciplinar e despolitizada do meio ambiente.. Palavras-Chave: divulgação científica, meio ambiente, sociedade e natureza.. 7.

(8) 8. ABSTRACT The present work has as analysis object the subjects on environment published in the magazine Ciência Hoje, in the period of January of 2003 the December of 2006, with the objective of investigating how the scientific community presents the ambient questions for the Brazilian society, by a periodic.The analysis of the divulgation of the contents about the environment was carried through, identificating if both the chains of thoughts in defense of the nature ( biocentric and anthropocentric) appear in publications; as the terms Environment and Nature appear in the texts, and still as the concept of sustainable development is presented by the authors of publications. It was also the objective of this work the editorial analysis of all editions of the period. We identify that the scientific divulgation of the environment subjects in Ciência Hoje keeps a biologized characteristic of the environment crisis, not presenting important reflections concerning the social relations that are the focus of the question, leading to the knowledge of the public a disciplined and dispolitized vision of the environment.. Word-key: scientific divulgation, environment, society and nature. 8.

(9) 9. SUMÁRIO Resumo. 08. Introdução. 09. Capítulo I – Compreendendo a crise ambiental 1.1 Concepções de Natureza 1.1.1 Dualismo Homem-Natureza 1.1.2 Meio Ambiente e seus significados 1.2 Conservacionismo e Preservacionismo 1.3 Um breve histórico do pensamento ambiental 1.3.1 O ambientalismo no Brasil 1.4 A crise anunciada 1.4.1 Conciência ecológica 1.5 Desenvolvimento Sustentável e Modernização Ecológica. 16 18 21 24 30 32 35 38 42. Capítulo II – Comunicando a ciência no Brasil 2.1 Ciência e Público 2.1.1 Comunicação e Meio Ambiente 2.2 Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 2.2.1 SBPC/ Rio de Janeiro 2.3 Projeto Ciência Hoje 2.3.1 Revista Ciência Hoje: implantação 2.3.2 Revista Ciência Hoje: estrutura organizacional 2.3.3 Revista Ciência Hoje: manutenção financeira 2.3.4 Revista Ciência Hoje: Política Editorial 2.3.5 Revista Ciência Hoje: seleção e publicação de material. 51 56 60 64 68 69 73 74 75 77. Capítulo III - Resultado da Pesquisa 3.1 Metodologia utilizada 3.2 Concepções antropocêntrica ou biocêntrica 3.3 Natureza e Meio Ambiente 3.4 Desenvolvimento Sustentável 3.5 Análise editorial 3.6 Conclusão 3.7 Referência Bibliográficas. 80 83 98 104 109 112 118. Anexos. 9.

(10) 1. Introdução As questões ambientais têm sido pauta constante da mídia nacional e internacional, despertando em toda sociedade bastante interesse pelo tema. Desde a década de 1970, com a crise do petróleo, os assuntos ambientais passaram a ser conhecidos como um problema global que atingia a própria humanidade. Em um tom catastrofista toda a humanidade foi tomando conhecimento que a Terra, casa maior do homem, estava em perigo. Os meios de comunicação, cada um segundo sua linha editorial, foram apresentando os grandes problemas ecológicos, reproduzindo as explicações técnicas para a crise ambiental planetária. Dessa forma, termos como degradação ambiental, biodiversidade, natureza, meio ambiente, desenvolvimento sustentável e aquecimento global foram sendo absorvidos pelo discurso da imprensa e conseqüentemente pela sociedade. A partir da década de 1980, os grupos acadêmicos foram assumindo como urgente as questões ligadas ao meio ambiente e a mídia passou a acompanhar a produção do conhecimento nessa área, tentando fornecer à sociedade informações sobre o enfrentamento dos problemas ambientais. Na mesma época, incentivados por este e outros motivos, vão surgindo também os veículos de divulgação científica que tentam abordar o tema nos seus aspectos mais científicos. Entre esses veículos, destaca-se a revista Ciência Hoje, reconhecido como o primeiro e principal esforço editorial de se divulgar ciência no Brasil, e onde o tema meio ambiente tem aparecido com freqüência, como aponta a pesquisa realizada por Silveira (2000), que entre outro objetivos, mensurou os assuntos publicados no periódico, em 16 dos seus 24 anos de existência.. 10.

(11) 1. O movimento ambiental planetário, por sua vez, tem se apresentado como uma tentativa de buscar uma nova relação do homem com a natureza. Para isso, uma série de medidas técnicas, institucionais e de comportamento vem sendo incentivada em nível global. No contexto do anúncio da crise ambiental, porém, idéias distintas foram sendo apresentadas. Alguns entendiam que o planeta não suportava mais sua carga. Outros defendiam que o progresso não devia mais avançar, ou seja, o desenvolvimento dos países do Norte não devia se estender para os países do Sul. Para alguns outros, o anúncio da crise ambiental não passava de um novo discurso, orientado pela idéia de conservação do meio ambiente para atender o desenvolvimento capitalista. Em outras palavras, a crise ambiental planetária se apresenta como um problema de múltiplas faces, obrigando a quem se dispõe a estudá-la, a pelos menos considerá-las. As diversas disciplinas acadêmicas, cada uma segundo sua perspectiva peculiar e seu objeto específico de interesse, têm se dedicado a fazer avançar os debates sobre a relação homem-natureza em direções distintas e, por isso mesmo, nem sempre convergentes. No entanto, são inúmeros os autores que apontam para a incapacidade de se compreender a crise ambiental pela ótica reducionista de uma única disciplina, abrindo assim espaço para acaloradas discussões acerca da inter e da multidisciplinaridade de olhares que requer o tema. As questões ambientais são freqüentemente analisadas em seus aspectos biológicos e físicos, fazendo com que assuntos como poluição, degradação e desmatamento tomem o foco principal da questão, escondendo uma das suas principais faces: os problemas sociais. Aliás, como bem afirma Ramos (2006:66) “A sociedade humana antes de se defrontar com limites físicos e biológicos, se. 11.

(12) 1. defronta com desigualdades entre grupos e classes sociais”. Essa tendência de avaliar os problemas ambientais privilegiando os aspectos biológicos da questão pode ser explicada, em certa medida, pelo fato dos primeiros movimentos de contestação ambiental, a partir dos anos 60, terem pegado as ciências sociais de surpresa. Naquela época, ainda não se dispunha de arsenal teórico que orientasse em direção a uma discussão sobre a relação sociedade e natureza. Como analisa Costa (2004:78), “os teóricos clássicos que abordaram tal questão tinham feito de forma tangencial, surgindo raramente alguns trabalhos. isolados,. sem. proporcionar. uma. acumulação. expressiva. de. conhecimento sobre o tema”. Ao analisar a fase inicial do debate ambiental, Leis (2004) entende que os sociólogos deixaram os biólogos “falando sozinhos” sobre a crise ecológica. “Isso se traduziu numa fraqueza histórica considerável do debate ambientalista, que ficou durante décadas sujeito a simplificações por conta de concentrarem-se em análises de variáveis naturais”. (2004:40). Embora de forma diferente em cada país, o tema passou a chamar a atenção dos sociólogos em todo o mundo. “Tornou-se evidente que a questão ambiental não era mais um modismo passageiro, nem uma dramatização militar ou de grupos de cientistas radicais”. (FERREIRA, 2004:78). Assim, a sociologia foi assumindo sua posição para estudar o meio ambiente, passando a ser entendido num sentido mais amplo, ou seja, de não apenas o ambiente natural. Dessa forma, o primeiro desafio para essa ampliação estaria então relacionado a uma proposta de mudança de visão sobre a relação homem-natureza.. 12.

(13) 1. No caminhar para essa mudança, uma coisa que já parece se esclarecer sobre as questões ambientais são as dificuldades para conhecer a verdade, o que se torna um desafio que as ciências sociais estão obrigadas a participar. Na opinião de Costa (2004), esta obrigação não é uma questão de calendário do novo século, mas de uma consciência crítica das dificuldades dos saberes disciplinares diante da sociedade complexa. Atualmente, uma das questões que vem tomando espaço no discurso ambiental atual é a necessidade de múltiplos olhares para o tema ambiental. Floriani (2004) entende que o reconhecimento por parte das sociedades e das comunidades científicas sobre a dificuldade de gerar respostas seguras sobre um conjunto de problemas, entre eles os sócio-ambientais, tem favorecido a emergência de novas disposições e questionamentos sobre a inadequação da antiga cartografia da ciência. Na mesma linha, Floriani (2000) acredita que o fracionamento da ciência coincide com o fracionamento que é feito entre natureza e sociedade. Assim, o desafio da ciência contemporânea passa a ser o da própria sociedade, que engloba uma série de objetivos complexos, onde a única certeza é que o modelo de sociedade até agora adotado é inviável. Esse modelo tem uma forma de produzir e consumir com fim em si mesmo, gerando entropia, pois concebe a transformação da matéria e o consumo como algo ilimitado, criando uma alienação na forma de produzir e distribuir riquezas, afunilando as expectativas humanas para o desejo de ter. “Ter é ser, onde a falha no ser é não poder ter, e isso se explica pela própria má distribuição das riquezas”.(2000: 32).. 13.

(14) 1. O presente trabalho é uma tentativa de olhar a divulgação científica dos assuntos ambientais, considerando os diversos aspectos (ideológicos, políticos e mercadológicos) da questão. Em alguns pontos, este trabalho se assemelha à pesquisa realizada por Furnival (2001), que analisou a opinião de pesquisadores da Universidade São Carlos sobre a importância de sua participação no processo de Desenvolvimento Sustentável, por meio da Agenda 21. Nesta dissertação o principal objetivo é analisar as divulgações científicas sobre o meio ambiente, produzidas por cientistas e jornalistas, veiculadas pela revista Ciência Hoje. Quando escolhemos como objeto de estudo o periódico da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), tivemos a intenção de entender como os produtores dos saberes ambientais apresentam a questão para a sociedade brasileira. A princípio nos delimitamos a analisar apenas os artigos publicados por cientistas, mais tarde, entendemos que seria importante incluir as matérias jornalísticas para analisar toda a divulgação feita pela revista. A metodologia utilizada foi a de análise do conteúdo, sendo que três questionamentos principais guiaram nosso trabalho: As correntes antropocêntrica e biocêntrica estão presentes nos textos analisados? Como os autores utilizam os termos Meio Ambiente e Natureza? Que visão de Desenvolvimento Sustentável aparece nos textos? Apoiados nos autores Ramos (2006), Almino (2003), Lenoble (1969), Aguiar (S/D), Henrique (2005), trazemos no primeiro capítulo uma discussão sobre a relação homem-natureza, concepções de natureza e meio ambiente, visões antropocêntrica e biocêntrica, o movimento ambiental, o anúncio da crise planetária. 14.

(15) 1. e as estratégias de controle do problema. No segundo capítulo, trabalhamos um pouco a trajetória da comunicação pública da ciência e seus desafios com os seguintes autores: Sousa, Bueno, Caldas (2003), e Silveira (2000). Abordamos como se deu a organização da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a luta pela criação da primeira revista de divulgação científica do Brasil, assim como a trajetória de implementação e consolidação da Ciência Hoje, apoiado em Silveira (2000). À luz das discussões dos primeiro e segundo capítulos, trazemos o resultado da pesquisa, onde analisamos as publicações sobre meio ambiente, veiculadas pela revista Ciência Hoje, no período de janeiro de 2003 a dezembro de 2006, escritas por jornalistas e pesquisadores de várias regiões do Brasil. Uma descrição mais detalhada da metodologia utilizada e dos objetivos específicos está exposta no terceiro capítulo deste trabalho.. 15.

(16) 1. CAPÍTULO I COMPREENDENDO A CRISE AMBIENTAL PLANETÁRIA. 16.

(17) 1. 1.1 – Concepções de Natureza A relação sociedade-natureza, bastante discutida pelo movimento ambiental recente tem contribuído para avançar o debate sobre as questões ecológicas da atualidade. Algumas idéias e crenças sobre a concepção de natureza são apontadas como originária da crise ambiental. Dessa forma, parece-nos que para compreender a concepção dominante sobre natureza, faz-se necessário recorrer à história e conhecer outras formas de como ela já foi entendida. No dia-a-dia, ao usarmos o termo natureza não temos dúvidas sobre sua clareza conceitual, mas ao refletirmos sobre ela, isso já não parece tão certo. Por exemplo, ao recorremos ao dicionário, nele, o termo natureza pode significar: “conjunto de todos os seres e forças que formam o universo e dos fenômenos que nele se produzem; força ativa que estabeleceu e conserva a ordem natural de tudo o que existe; conjunto de coisas visíveis enquanto meio onde o homem vive; essência ou condição própria do ser; conjunto de características inatas (físicas ou morais); ou ainda, condição do homem anteriormente à civilização” (Dicionário online Priberan- www.priberan.pt). Em quase todas as definições encontradas para o termo no dicionário é possível perceber uma idéia de originalidade ou nascimento permeando o termo natureza. Tentativas de explicar algumas concepções de natureza são encontradas em autores como Lenoble (2003) e Almino (2003). Para Lenoble, a primeira idéia que a humanidade fez a respeito da natureza está relacionada à magia. Os homens primitivos buscavam compreender a vontade dos deuses dos rios, vulcões e mar. Esse sentimento mágico proporcionava conforto e segurança, servindo de. 17.

(18) 1. apoio ao mundo, onde o homem não precisasse ser dono de si e projetasse suas necessidades e desejos na natureza, acreditando que ela não estava desvinculada de seus destinos e medos. Como a criança, os primitivos não davam a menor oportunidade para o acaso, formando uma idéia moral da natureza, moral essa, horrivelmente atormentada pela culpabilidade e pelo temor. Essa idéia já era, segundo Lenoble (1969), uma tentativa de explicação do que seria a natureza, porém, que não correspondia a uma necessidade de dominação, mas a de sobrevivência e de enfrentamento do medo. Essa idéia de moral atormentada e mágica perdura até os gregos, quando o homem vai tomando consciência de si mesmo. Nessa época, criam-se as leis, que servirão de suporte à compreensão do homem, à organização da sociedade e a uma nova formulação da idéia de natureza. É importante salientar que esta passagem do mágico para o “racional” não se dá de maneira direta, mas numa mistura de forças incontroladas e de um início de organização ”A alma não é mais lugar de passagem de forças estranhas para ganhar uma certa consciência e para conquistar o direito de descobrir, na natureza, “fatos definidos de uma ordem objetiva” (LENOBLE, 1969: 56) Nos gregos, a natureza do latim “natura” correspondia à physis, conjunto de matérias e processos físicos e biológicos. Essa concepção de natureza a opõe diretamente ao artifício, ou seja, aquilo desenvolvido pelo homem. A natureza “seria o que se faz por si mesmo, o que não foi transformado ou mesmo tocado pelo homem” (ALMINO: 2003:23). Como podemos observar, a natureza vai sendo mais explicada, nessa época, mais pelo que não é, do que pelo que é. Ou seja, o natural é que se opõe. 18.

(19) 1. ao sobrenatural ou ao espírito, que também é o oposto de civilização, cultura, técnica ou arte. Essa idéia de oposição é tão forte, que um princípio aceito na época era que uma obra humana jamais alcançaria a perfeição da natureza. Dessa forma, a natureza vai sendo então entendida como algo ordenado, regulado por princípios e leis naturais. E assim, foi servindo de base conceitual para o desenvolvimento da física, matemática e biologia. Por outro lado, influenciando as artes, as religiões e as próprias relações entre as pessoas.. 1.1.1 - O dualismo homem-natureza As bases para o dualismo homem-natureza podem ser atribuídas às doutrinas Judaico-cristãs. A concepção de natureza nesse pensamento religioso se afasta das concepções dos antigos e se aproxima das perspectivas positivistas da ciência moderna, na medida em que lança idéias de tempo linear, progresso e do homem como senhor da natureza. Pela teoria criacionista a natureza não é eterna, pois é fruto da vontade divina e por esta mesma vontade pode ser destruída. Diferente do pensamento antigo cuja natureza é o próprio Deus e por isso mesmo superior e indestrutível. O pensamento judaico-cristão entende o homem não submetido à natureza, mas criado à imagem e semelhança de Deus para se destacar perante as outras criaturas. Dessa forma, ao fincar um marco de exterioridade entre o homem e a natureza, esse pensamento pode ter estimulado uma visão antropocêntrica de dominação da mesma pelo homem. “A ética judaico-cristã, ao colocar o homem. 19.

(20) 2. acima da natureza, favorecia o desenvolvimento da tecnologia, o industrialismo e a vontade de explorar” (ALMINO, 2003: 21). Nessa concepção, a natureza passa a ser vista como uma máquina, na qual a ciência se torna a técnica de exploração pelo homem, estando as leis naturais desvinculadas do seu destino. Assim, essa relação passa a ocorrer através da dominação, com total ausência de culpa. Conforme Lenoble (1969:68), ”não só se deixa de temer a cólera divina pela violação da natureza, como se crê que Deus nos deu a permissão de trabalhar à sua imagem e de construir o mundo no nosso pensamento como ele o criou no seu”. A partir de então, é ultrapassado a antigo tabu do natural, surgindo uma nova atitude do homem em relação à natureza, atitude esta, que tem como princípio “conhecer é fabricar”, e onde a arte de fabricar torna-se protótipo da ciência. Esta por sua vez, passa a compreender as leis naturais pelo modelo da racionalidade, marcada pela matemática e interpretada a partir dos princípios da razão humana. Em outras palavras, o homem é o sujeito racional que possui as chaves para decifrar a natureza. Nessa fase da história, século XVII, verifica-se uma desvalorização dos ideais religiosos em favor de ideais científicos. Por essa razão, a partir da revolução da Física, a Igreja acolhe a Ciência, havendo uma aliança temporária entre as duas. É nesse contexto, que se desenvolve a ciência moderna, notadamente, a partir das idéias de René Descartes, para quem Deus instalou o homem, feito à sua imagem, como o representante de uma outra essência, infinitamente mais digna que a primeira: o pensamento. Com o desenvolvimento dessas idéias se estabelece o dualismo homem-. 20.

(21) 2. natureza, sujeito-objeto, favorecendo o triunfo da ciência moderna. Ou seja, a natureza passa a ser vista como objeto de exploração – um brinquedo mecânico como dizia Lenoble, e não mais com a reverência de antes. Dessa forma, a natureza foi se tornando aos poucos domínio exclusivo do saber científico e dentro dela fragmentada para ser entendida. Portanto, essa visão de natureza, potencializada pela tecnologia, traz consigo o dualismo homem natureza, onde o segundo é instrumentalizado para servir ao primeiro. Mesmo com a aliança entre Igreja e Ciência não se mostrando duradoura, no século seguinte, as conseqüências da relação homem natureza, iniciada na era das revoluções científicas do século XVII, culminaram na Revolução Industrial. Nessa revolução, configura-se então uma íntima ligação entre capitalismo e Ciência Moderna, reforçada essa relação mecanicista do homem com a natureza, onde ela é vista como objeto de dominação e exploração. No entanto, a partir desse mesmo século, surgem outras formas de compreender a natureza que não a entendem como uma máquina a ser dominada, mas que deve ser protegida e admirada. São dessas formas distintas de ver a natureza que começa a se configurar os diversos movimentos ambientais em defesa da natureza, seja em prol de mais recursos para exploração ou para simplesmente defendê-la do homem. De qualquer forma, o que se apresenta neste momento histórico em que vivemos, levando em consideração tudo que a humanidade já evoluiu, é que seria impossível retornar a visões superadas sobre a natureza. No entanto, o que parece se configurar como necessário é que uma nova concepção de natureza, compatível com as necessidades da contemporaneidade, seja encontrada. Essa. 21.

(22) 2. nova concepção, porém, precisa levar em consideração que as transformações dos ecossistemas vão além das leis biológicas, sendo seriamente influenciadas pelas relações de poder e da apropriação econômica dos recursos naturais.. 1.1.2 – Meio ambiente e seus significados O termo meio ambiente foi utilizado a primeira vez pelo dinamarquês Jean Baggesen, em 1800 e introduzido pelo discurso biológico por Jacob Von Uexkull (Ramos, 2006: 51). Porém, nas últimas décadas seu conceito vem se ampliando à medida que tem sido incorporado por diversos setores da sociedade. Ao recorrermos a um Glossário de Ecologia, oferecido pelo Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA, da Universidade Federal de Alagoas, encontramos a seguinte definição para o termo meio ambiente: “conjunto de todas as condições e influências externas circundantes, que interagem com um organismo, uma população ou uma comunidade” (CIESP, 1997). Outra. definição. www.portodesantos.com/qualidade/glossario.html,. encontrada. no. site. já considera outros aspectos do. termo:“Tudo que cerca o ser vivo, que o influencia e que é indispensável à sua sustentação. Estas condições incluem solo, clima, recursos hídricos, ar, nutrientes e os outros organismos. O meio ambiente não é constituído apenas do meio físico e biológico, mas também do meio sociocultural e sua relação com os modelos de desenvolvimento adotados pelo homem”. Como vimos, as definições de meio ambiente ainda são ambíguas, mas já é. 22.

(23) 2. evidente que divergem do conceito de natureza, tanto ao abrir possibilidades para influências externas, como foi dito no primeiro exemplo, ou a considerar explicitamente, como no segundo caso, os aspectos sócioculturais da questão. Na opinião de Ramos (2006: 62), “meio ambiente é um conceito-chave para o debate socioambiental, pois engloba questões de poder tanto no universo biológico quanto ideológico”. No entanto, quando visto de forma isolada, o conceito se restringe a sua dimensão 'natural', reproduzindo a dicotomia homem-natureza. Ou seja, representa o conjunto de fenômenos físicos e biológicos. Talvez por isso mesmo, os problemas ambientais, na maioria das vezes, são reduzidos ao desmatamento e a extinção de espécies, por exemplo. Nesta forma de ver o meio ambiente,. os. problemas. socioambientais. tendem. a. ser. 'biologizados',. desconsiderando as relações técnicas e sociais entre o homem e o seu entorno. As relações técnicas seriam as que englobam os aspectos materiais, de trabalho e de modo de produção, que se modificam dependendo do desenvolvimento da técnica, do conhecimento científico. As sociais, da forma como se dá a relação dos homens entre si e a distribuição dos meios de produção. Ao considerar essas relações, o conceito de meio ambiente alcança outras dimensões além dos fenômenos naturais, passando a ser entendido também como espaço de ações políticas e ideológicas. A visão do meio ambiente apenas como recurso natural é entendida como uma herança cultural secular, resultado da dicotomia homem-natureza, que impulsionou uma ruptura entre o homem e o seu entorno. Para Ramos (2006), a representação simbólica do Meio Ambiente é o resultado dessa trajetória histórica que depende não apenas das condições. 23.

(24) 2. materiais, mas também de conteúdos afetivos, ideológicos e filosóficos que condicionam sua própria percepção. Dessa forma, é possível dizer que a questão socioambiental se aproxima mais do conceito de Meio Ambiente, do que de Natureza. No entanto, a autora alerta para o fato dessa visão ser um desdobramento recente da temática ambiental, que começa a considerar os aspectos políticos, econômicos e culturais da questão. Esse desdobramento se dá ao fato de que pelos diversos aspectos da problemática ambiental, o meio ambiente não pode ser visto apenas em seus aspectos biológicos, devendo buscar suas principais contradições nas questões sociais, pois “a sociedade humana antes de se defrontar com limites físicos, se defronta com desigualdades entre grupos e classes sociais” (RAMOS, 2006:66). Nessa forma de pensar o meio ambiente, degradação, poluição, desmatamento, entre outros, são apenas sintomas que podem esconder o espectro mais amplo da relação homem-natureza. Como conseqüência disso, é comum encontrarmos na divulgação de assuntos sobre meio ambiente um tom biologizado da crise ambiental, passando muitas vezes, uma visão sacralizada da natureza, o que vai lentamente sugerindo a transferência de uma discussão política da questão para projetos societários pessoais, onde o homem, um sujeito generalizado, deve mudar sua postura em relação ao meio ambiente. Em outras palavras, não se reconhece as contradições sociais que provocam diferentes formas de acesso à natureza, “o que vem representar os efeitos ideológicos de uma leitura biologista da natureza, predominante na forma de apresentar a crise ambiental planetária” (RAMOS, 2006: 76).. 24.

(25) 2. 1.2 – Conservacionismo e Preservacionismo Pelo que vimos até agora, parece impossível tentar entender a questão ambiental como algo homogêneo, tendo em vista os diversos aspectos que a mesma internaliza. Sendo assim, parece-nos importante uma reflexão sobre os primeiros movimentos do início do século XIX, época em que duas linhas de pensamento de valorização da natureza começaram a se configurar: o conservacionismo e o preservacionismo – entendido como as precursoras das atuais correntes biocêntricas e antropocêntricas. Como descreve Ramos (2006), o conservacionismo consiste em defender o ethos da era progressista associado ao pensamento utilitarista. Ou seja, essa corrente introduziu o valor da profissionalização e administração dos recursos e da centralização nos setores públicos em nome da tecnologia e do saber científico. Essa concepção utilitarista da relação entre sociedade-natureza guarda interesse na conservação e uso adequado dos recursos naturais, viabilizando assim a continuidade do crescimento econômico e por isso mesmo, considerada puramente antropocêntrica. “A relação homem-natureza ocorre dentro do contexto de transformação dessa última em mercadoria” (RAMOS, 2006: 69). Essas idéias, fortemente presentes em debates a partir de 1970, somadas a outras visões desenvolvimentistas (que visa ao progresso e ao crescimento econômico), teriam sido a precursora da proposta de Desenvolvimento Sustentável, que discutiremos logo mais. A corrente preservacionista, por sua vez, traz uma proposta contrária ao conservacionismo. “A idéia central é a reverência e a valorização da natureza entendida como mundo selvagem, para reverenciá-la em sua beleza cênica. 25.

(26) 2. (RAMOS, 2006:61)”. Em outras palavras, proteger a natureza do desenvolvimento moderno industrial e urbano. Essas idéias que mais tarde serão chamadas de biocêntricas defendem que os homens não podem ter direitos superiores aos animais. Uma das formas de materialização desse pensamento podem ser percebidas na criação de parques e áreas de preservação ambiental. Para Diegues (1996), em “O Mito moderno da Natureza intocada”, a idéia central dessa corrente era que a única forma de proteger a natureza era separá-la dos homens. Essas áreas protegidas, além de preservarem a beleza estética desses locais, permitiam a contemplação como forma de amenizar a pressão psicológica da vida moderna1. Como aponta Ramos (2006), influenciada por essa corrente de pensamento, boa parte do movimento ambientalista atual tem uma visão preservacionista, no entanto,. essa. mesma. corrente. também. influenciou. vários. setores. conservacionistas que, por exemplo, também vêem nessas áreas protegidas uma forma de isolar propriedades, só que neste caso, de interesse mercadológico. A questão é que dessas idéias (conservacionistas e preservacionistas) e do movimento em torno delas, surgiram duas grandes posições a respeito da relação homem-natureza: a Biocêntrica e a Antropocêntrica. Essas correntes se subdividem em várias outras, no entanto, a intenção aqui não é esgotar o assunto, mas sim dar uma visão geral sobre as mesmas.. 1. Atualmente, os objetivos dessas unidades é a conservação/preservação de ecossistemas específicos.. 26.

(27) 2. 1.2.1-Corrente Biocêntrica A corrente biocêntrica, também chamada de ecocêntrica, defende os direitos da natureza em igualdade com os homens. Ela indaga sobre a relação de domínio do homem sobre a natureza e o papel desempenhado pelo homem no mundo. Nessa visão, a natureza tem valor em si mesma, independente da utilidade que terá para os homens, rejeitando a visão antropocêntrica e suas principais formas: o cartesianismo e o utilitarismo. Uma das características que se destaca no biocentrismo é a preocupação em articular ética, religião e natureza, com uma convergência para as práticas espirituais. orientais.. Alguns. movimentos. da. corrente. biocêntrica. são. o. ecoanarquismo (considerada a dimensão política do movimento biocêntrico), ecomunitaristas, ecofeministas e a ecologia profunda - considerada a mais influente. Essa última é o setor do movimento biocêntrico que critica o papel central do homem na modernidade, como sujeito da história. Conforme Aguiar (S/D), a proposta da Ecologia Profunda é realizar a desconstrução dos princípios do humanismo construídos na Modernidade, segundo os quais, a natureza só pode ocupar o estatuto de objeto e não o de um sujeito. Esse autor entende que ao defender a natureza como um sujeito de direito, a Ecologia Profunda consegue fazer da biosfera um modelo ético que deve ser seguido pelos homens. No entanto, o processo de sacralização da natureza retém apenas as figuras de harmonia e beleza, apagando as imagens das catástrofes naturais também inerentes a ela. Nessa visão, a natureza é entendida como uma entidade perfeita que não. 27.

(28) 2. necessita ser modificada ou melhorada, pois é o Ser supremo. “(...) a natureza não é intrinsecamente harmônica, podendo conter tanto o melhor quanto o pior para o homem. Aliás, julgamento que só o homem - único ser capaz de enunciar juízos de valor - pode realizar” (AGUIAR S/D: 07). Na opinião de Almino (2003), o biocentrismo é contraditório, à medida que defende a não exterioridade entre homem e natureza e ao mesmo tempo elege o homem como responsável pelo seu equilíbrio.. 1.2.2- Corrente antropocêntrica O antropocentrismo é um sistema de pensamento que coloca o homem fora e acima da natureza, de acordo com o qual, nada possui sentido sem a presença humana. (AGUIAR S/D). Para este autor, uma primeira formulação do antropocentrismo já pode ser encontrada na Antiguidade, no século V a.C., a partir do fragmento do sofista Protágoras de Abdera: “o homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são o que são e das coisas que não são”. Esta visão, segundo ele, rompeu com a noção de comunidade cósmica presente no pensamento mitológico da Grécia, que apontava para uma vida de harmonia e solidariedade entre o homem e todos os demais seres existentes. Na atualidade, “a corrente antropocêntrica defende a utilização mais racional dos recursos naturais e de novas tecnologias, assim como o controle eficiente do Estado em benefício do ser humano”.(RAMOS: 2006:77). O movimento que representa a visão política do antropocentrismo é o Ecocapitalista, por meio do seu ‘capitalismo verde’ e seus programas de selo de qualidade e orientação aos consumidores. Outro movimento dessa corrente é o. 28.

(29) 2. ecossocialista, opositor direto da ecologia profunda, já que vê o homem como sujeito da história. Na corrente antropocêntrica também se destaca o ecodesenvolvimento que apesar de ter sido proposto a primeira vez em 1972, como uma alternativa à política de desenvolvimento com cuidados ambientais, tomou força com Ignacy Sachs, que tentou desenvolvê-la do ponto de vista teórico. Na opinião de Ramos (2006), as duas correntes (antropocêntrica e biocêntrica) representam mais pontos eqüidistantes e de diagnóstico geral dos problemas ambientais do que posições díspares referentes aos problemas de ausência de participação política. No entanto, o que fica claro entre as duas correntes é que ambas apresentam divergências sobre a percepção da questão ambiental: uma na linha da apologia a natureza e a outra na defesa da melhor utilização dos recursos naturais. Em contrapartida, um ponto comum que se evidencia no movimento ambientalista atual é a defesa de que as ações humanas estão inviabilizando a continuidade da vida no planeta, no entanto, são pouco questionadas as relações sociais por trás de cada ação. Como conseqüência, o movimento ambientalista se choca entre si na defesa da proteger o meio ambiente do homem e proteger o meio ambiente para a utilização pelo homem, abrindo espaço para interesses os mais diversos. Uma das principais conseqüências dos ideais preconizados pelos biocêntricos e antropocêntricos é a despolitização da questão ambiental, alimentando uma visão biologizada e tendências a uma visão sacralizada da questão ambiental – uma espécie de busca do paraíso perdido.. 29.

(30) 3. 1.3 - Um breve histórico do pensamento ambiental A Revolução Industrial é apontada como o principal marco da história da degradação ambiental. Foi nesse momento histórico, segundo Almino (2003), que houve um aumento da degradação, facilitado pela fusão entre ciência e tecnologia, pela mentalidade dominante no tipo de sociedade inaugurada pelo capitalismo, e ainda, por uma determinada visão de progresso e natureza que vinha se afirmando na Modernidade. Mas se por um lado, a Revolução Industrial trouxe o progresso; numa espécie de movimento contrário também criou a ecologia. “O culto a natureza é subproduto das conquistas da Revolução Industrial” (ALMINO: 2003:31). E como numa linha sucessiva de conseqüências, a ecologia foi sendo alimentada pelo próprio progresso tecnológico e o desenvolvimento científico. Dessa forma, o século XVIII é palco do progresso e também da volta de uma concepção de natureza como “uma mãe fecunda”. Segundo Henrique (2004), naquele século as idéias naturalistas vão colocar o homem como um ser dentro da natureza e que necessita dela para viver. No século XX, o pensamento ambientalista tem uma conotação de uma crítica e recusa ao mundo moderno e sua ciência. “A sensação de estar confinado numa nau de insensatos - a nave Terra - tripulada por lunáticos destruidores causou intenso desconforto e o início de movimentos pacifistas e antinucleares que viriam a se transformar nos primeiros movimentos ambientalistas”. (HERCULANO, 1992:13). Dessa recusa ao novo mundo, surgiram diversos movimentos em defesa da natureza. Algumas correntes “alternativas”, a exemplo dos hippies que pregavam. 30.

(31) 3. uma vida mais saudável e o desapego aos bens materiais, valorizando, inclusive, as filosofias orientais. Outra corrente em defesa do meio ambiente foi chamada pelos seus críticos de neo-malthusiana, pois centrava sua preocupação na necessidade de se limitar o crescimento populacional. Em 1972, por ocasião da Conferência Internacional da ONU sobre Meio Ambiente Humano, duas importantes propostas foram debatidas. A primeira foi a financiada pelo Clube de Roma, também chamadas de 'zeristas', propondo crescimento zero para todo o mundo sob pena de uma catástrofe ambiental mundial. Essa proposta fez com que o Brasil liderasse os países do Terceiro Mundo que se indignavam com a idéia de abrir mão do tão esperado crescimento econômico. A segunda proposta lançada na mesma conferência foi o Manifesto pela Sobrevivência, no campo marxista, publicado originalmente em Londres, que criticava o consumismo exacerbado, de interesse do capitalismo, como o responsável pela degradação ambiental. Essa vertente era orientada pela idéia de que se combate a degradação ambiental combatendo o capitalismo e não com orientações não-consumistas. Já do ponto de vista político, Viola (1992:50) afirma que três abordagens distintas são utilizadas para caracterizar o movimento ambiental: O grupo de interesse - em que o ambientalismo é um movimento elitista de interesse iguais a outros do sistema político que cria, devido ao problema de poluição causados pelas indústrias, uma demanda de proteção ambiental por meio de mecanismos regulares do sistema político, não representando nenhum. 31.

(32) 3. tipo de desafio. Novo movimento social – desenvolveu-se principalmente na Europa Ocidental por autores neomarxistas ou radicais ecologistas. Nesta abordagem, questiona-se o capitalismo e transformações na estrutura social, como também tem um grande enfoque no ecologismo e nos partidos verdes. Movimento Histórico – Parte do pressuposto de que a civilização contemporânea é insustentável devido a quatro pontos principais: crescimento populacional, depleção dos recursos naturais, sistemas produtivos que utilizam tecnologias poluentes e sistema de valores que propiciam o consumismo.. 1.3.1 - O ambientalismo no Brasil O movimento ambiental no Brasil dá os primeiros sinais em 1958 com a criação da Fundação Brasileira para Proteção da Natureza/FBPN, que já nasce vinculada à União Internacional para Conservação da Natureza – mais importante organismo internacional na área, até a criação do Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente, em 1972. Segundo Viola (1992), a atuação da instituição foi limitada tendo em vista que a sociedade ainda não tinha nenhum tipo de preocupação com a problemática ambiental. Mesmo em 1972, com conferência da ONU, em Estocolmo, o impacto na opinião pública brasileira foi mínimo, quando comparado a outros países desenvolvidos e até países de terceiro mundo, como Índia e Venezuela. Foi naquela conferência, como já dito anteriormente, que o Brasil liderou muitos dos movimentos em contestação ao reconhecimento da crise ambiental, já que não concordava com a possibilidade de cessar o desenvolvimento em prol do meio. 32.

(33) 3. ambiente. Além disso, a política econômica da época estimulava diretamente a vinda de empresas mais poluentes para o país. O movimento no Brasil começou a crescer mais expressivamente, na primeira metade da década de 80, com a criação de outros organismos ambientais e a formação de grupos de cientistas dentro das universidades, onde a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência desempenhou um importante papel catalisador dessas ações. Além disso, houve a adesão de jovens das classes média e alta às idéias de uma melhor qualidade de vida para as pessoas. Apesar das poucas conquistas com relação à degradação ambiental no Brasil nessa época, esses movimentos chamaram a atenção da mídia, causando uma maior percepção da sociedade sobre o tema. Nessa fase, o movimento ambiental brasileiro ainda não tinha despertado para as questões do desenvolvimento. A ecologia e economia eram percebidas como duas realidades antagônicas. “Predominava uma visão ingênua e simplista, segundo o qual uma mudança de valores e comportamentos da sociedade (...) traria como conseqüência uma mudança da política econômica” (VIOLA, 1992:66). A partir de 1988, inicia uma abertura do movimento ambiental para a proposta do desenvolvimento sustentável, quando as idéias do Relatório Brudtland foram amplamente disseminadas no movimento ambiental brasileiro. Em 1990, percebe-se uma mudança no tom dos discursos, “não se fala mais em proteção independente do crescimento econômico, sendo o eixo do debate, como atingir um novo estilo de desenvolvimento que interiorize a proteção ambiental” (VIOLA, 1992:69).. 33.

(34) 3. Nessa fase, já é evidente a globalização da política ambiental brasileira, explicada por Viola (1998) por fatores decisivos como: a) o consenso mundial sobre a importância da Amazônia para o clima regional e a biodiversidade global; b) o fato de a Amazônia ter se tornado prioritária para ONG's nacionais e internacionais. Além disso, o autor ressalta. outras questões específicas da Amazônia. como, por exemplo, desenvolvimentos de projetos degradantes ao meio ambiente, como Tucurui, pavimentação da BR 364, assassinato de Chico Mendes; e ainda, a realização da Eco92; assim com a própria orientação de uma política aberturista e internacionalizantes das elites brasileiras. Finalmente, em 1990, constitui-se o Fórum das ONG's brasileiras, aumentando em um ano de 40 para 800 organizações, quando se percebe um expressivo reconhecimento da sociedade brasileira acerca da importância do movimento ambiental.. 1.4 - A crise anunciada Vai ser apenas na metade da década de 1980, que a humanidade toma consciência da globalização dos riscos ambientais, apesar da existência deles desde a década de 1950, em função da capacidade destrutiva das armas nucleares, como também da contaminação (solo, ar, água) pela indústria química e nuclear. (VIOLA, 1998:4). Os. diversos. movimentos. ambientais,. cada. um. conforme. seus. entendimentos, alertavam que a Terra, casa maior do homem, estava em perigo,. 34.

(35) 3. emergindo daí um novo discurso, orientando que a preservação ambiental era da competência de todos. Segundo Fernandes (2003:133), as tentativas de explicar a crise ambiental, embora reconheçam que sua origem esteja vinculada à sociedade industrial e ao modo de produção capitalista, tendem a conduzir suas análises por uma ótica biologista, sem relacioná-la a dinâmica industrial. A partir de então, tomam pulso os grandes movimentos mundiais para discutir as questões ambientais planetárias. Em 1983, a Organização das Nações Unidas estabelece a Comissão Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento para formular propostas de orientação para as mudanças que seriam necessárias para um meio ambiente em equilíbrio. No período de 1983 a 1987, essa comissão composta por 21 países e presidida pela primeira ministra da Inglaterra, Gro Harlen Brundtland, pesquisou a situação ambiental e econômica do planeta, produzindo o Relatório ”Nosso Futuro Comum”, ou Relatório Brundtland, como ficou conhecido. Esse relatório introduziu as bases de um novo paradigma, ao afirmar que compartilhamos de um futuro comum e que, portanto, se fazia necessário adotar novas formas e princípios que conduzisse à sustentabilidade. Nesse relatório estavam os conceitos de Desenvolvimento Sustentável e de “uma nova ordem econômica mundial’. Na opinião de Herculano (1992:10), essas expressões muito abstratas e ambíguas vêm sendo interpretadas por diversos atores, ora despertando no imaginário uma certa esperança milenarista, ora alimentando suspeita do hemisfério norte contra o sul”. Dessa forma, a proposta do desenvolvimento sustentável foi se tornando o foco das discussões planetárias, culminando em 1992, no Rio de Janeiro, com a. 35.

(36) 3. realização da maior das conferências das Nações Unidas, até então – a Eco922. O encontro reuniu legisladores, diplomatas, cientistas, a mídia e representantes de Organizações Não-Governamentais (ONG’s) de 179 países, propondo 'reconciliar' as interações entre o desenvolvimento humano e o meio ambiente. A agenda de trabalho da Eco92 enfocava a procura de meios de cooperação entre as nações para lidar com problemas ambientais globais como poluição, mudança climática, destruição da camada de ozônio, uso e gestão dos recursos marinhos e de água doce, desmatamento, desertificação e degradação do solo, resíduos perigosos e a perda da diversidade biológica. Ou seja, uma agenda que privilegiava os processos biológicos, de forma que permitisse a continuidade do desenvolvimento econômico. A conferência teve como resultado a proposta de elaboração da Agenda 21, que. seria. o. mecanismo. de. ação. sobre. as. questões. ambientais. e. desenvolvimentistas, voltada à cooperação internacional e ao desenvolvimento de políticas para o século XXI. Suas recomendações deveriam incluir, após debatidas com os diversos atores sociais, novas formas de educação, preservação de recursos naturais e participação no planejamento de uma economia sustentável. Em 1997, a Sessão Extraordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas, encarregada de avaliar os cinco anos da conferência do Rio, reconheceu que, apesar do enorme avanço que representaram as discussões e os acordos celebrados por aquele evento, pouco havia de implementação efetiva. Teriam sido essas constatações que se fez convocar a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento 2. O evento marcava o 20o aniversário da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972) - a primeira conferência mundial que tratou da natureza, tanto global quanto transfronteira, da degradação e poluição ambientais.. 36.

(37) 3. Sustentável, para discutir os desafios da implementação dos acordos e compromissos assumidos ao longo desse processo, realizando outra conferência mundial. Nessa outra grande conferência denominada Rio+10 ou Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em 2002, em Joanesburgo, na África do Sul, reuniu-se líderes mundiais, agências das Nações Unidas, instituições financeiras multilaterais, jornalistas, movimentos ambientalistas e outros grandes atores, para avaliar a mudança global desde a histórica conferência Eco-92 e traçar novas metas planetárias. O que se sabe sobre os resultados da conferência é que governos e organismos multilaterais ficaram satisfeitos, mas que, no entanto, provocou descontentamento em. Organizações Não Governamentais (ONGs). As críticas. foram endereçadas fundamentalmente aos países que acompanharam as posições da Austrália, Canadá e Estados Unidos, descritos pelos ativistas como o ”bando do mal ambiental". Para essas organizações ambientalistas, os três países impediram o estabelecimento de metas e prazos para eliminar a contaminação, melhorar os serviços de água potável e aumentar a produção de energia limpa e barata. No entendimento de alguns teóricos, porém, o grande avanço conquistado no período entre as duas grandes conferências não está relacionado à preservação ambiental e muito menos à divisão igualitária dos recursos, mas sim à conscientização da população mundial acerca das condições de escassez dos recursos ambientais mundiais, principalmente pelo papel desempenhado pelos meios de comunicação em informar a população sobre os diversos problemas ambientais que atingem a humanidade.. 37.

(38) 3. 1.4.1 – Consciência Ecológica Desse. processo. de. conscientização. que. ocorreu. entre. as. duas. conferências, surge a chamada Consciência Ecológica. O fenômeno é descrito por Lima (1997) como o despertar de uma compreensão e sensibilidade novas ao problema da degradação ambiental e das conseqüências dessa para a qualidade da vida humana e de outras espécies. No entanto, essa consciência não é apenas a informação de que existem problemas ambientais, pressupõe o entendimento das diversas faces da crise ambiental, expressado por ele como “a compreensão de que a presente crise ecológica articula fenômenos naturais e sociais e, mais que isso, privilegia as razões político-sociais da crise relativamente aos motivos biológicos e/ou técnicos”. (LIMA, 1997:02). Nessa compreensão, a sociedade entenderia que a degradação ambiental é, na verdade, conseqüência de um modelo de organização político-social e de desenvolvimento econômico, que estabelece prioridades e define o que a sociedade deve produzir, como deve produzir e como será distribuído o produto social. Esse modelo de organização que o autor menciona, implica, portanto, no estabelecimento de um padrão tecnológico e de uso de recursos naturais associados a uma forma específica de organização do trabalho e apropriação das riquezas socialmente distribuídas, comportando interesses divergentes entre grupos sociais, dentre os quais os que estão em posição hegemônica decidem e. 38.

(39) 3. impõem aos outros. Com relação a essa cultura ecológica em expansão, Lima (1998:10) afirma que a mesma pode ser avaliada como trazendo conseqüências positivas e negativas. Positivas. no. sentido. que. difunde. informações. sobre. problemas. socioambientais e influencia comportamentos, despertando para realidades até então esquecidas, assim como para novas possibilidades de ampliação da cidadania. Negativas na medida em que favorece o modismo, a abordagem superficial e acrítica de problemas que exigem reflexão profunda e análise pluridimensional. Negativas também, devido à banalização e mercantilização excessiva da temática e à despolitização do problema. A despolitização do problema implicaria numa leitura alienada da questão, que observa a crise ambiental sem enxergar suas causas profundas e sem questionar o modelo de desenvolvimento econômico, político, cultural e social que lhe dá sustentação. Dessa forma, Lima (1997) aponta para um duelo de forças favoráveis e desfavoráveis à expansão da consciência ecológica: A força daqueles interessados na transformação das relações entre a sociedade e a natureza - embora orientados por. diversas. propostas. ecoanarquistas,. ecossocialistas,. fundamentalistas,. alternativistas entre outras - e a daqueles interessados na conservação da sociedade capitalista industrial, tal como se configura no momento, defendendo apenas pequenos ajustes técnicos e demográficos. O paradigma ético predominante na sociedade industrial se coloca como um. 39.

(40) 4. forte obstáculo ao avanço da consciência e ação ecológicas, na medida em que atua como referência de comportamentos e ações individuais e sociais. (LIMA, 1997:05). Esse modelo ético, caracterizado pelo individualismo, antropocentrismo e pelo utilitarismo, é antagonizado por amplos setores do pensamento ambientalista que, justamente, apóiam seu pensamento e ação na crítica a estas tendências e, em propostas variadas de reformulá-las. Lima (1999) acredita que à exceção de partidários do que se convencionou nomear de ecocapitalismo - corrente que vê na crise ambiental o resultado de problemas demográficos e tecnológicos de fácil ajustamento, não demandando reformas profundas do modelo convencional de desenvolvimento capitalista - todos os demais matizes do ambientalismo tecem algum tipo de crítica ao padrão ético acima referido. O consumismo da sociedade contemporânea também é apontado como um dos principais empecilhos a consciência ecológica, na medida que produz impacto preocupante sobre o ambiente natural e construído. A sociedade capitalista industrial cria o mito do consumo como sinônimo de bem-estar e meta prioritária do processo. civilizatório.. “A. capacidade. aquisitiva. vai,. gradualmente,. se. transformando em medida para valorizar os indivíduos e a fonte de prestígio social” (LIMA, 1997: 04). Para Henrique (2004), a instalação do consumo como possibilidade de satisfação individual em todas as esferas da vida social é uma das grandes perversões do período atual que tem o poder transformar o cidadão em consumidor. “Vê-se a glorificação do consumo na mesma proporção da glorificação do individualismo opressor e cruel, que destrói os traços da individualidade,. 40.

(41) 4. levando a uma padronização do consumo do desejo, dos ideais e uma perda da diversidade que uma das principais riquezas da vida em sociedade” (HENRIQUE, 2004: 13 apud SANTOS, 1996). A educação integrada com a realidade da crise é vista como elemento chave no processo de mudança de mentalidades, hábitos e comportamentos, no sentido de caminhar para uma sociedade sustentável.. Mesmo com todas as. dificuldades para a plena conscientização ecológica, a mesma viria crescendo por meio do trabalho da comunidade científica, ONGs, movimentos religiosos, mídia, entre outros mostrando, segundo Lima (1997), “que o movimento ambientalista caminha para uma direção rumo ao desenvolvimento sustentável” (1997: 03).. 1.5 – Desenvolvimento Sustentável e Modernização Ecológica A publicação do Relatório Brundtland, em 1987, marcou o primeiro momento em que o termo Desenvolvimento Sustentável assumiu uma credibilidade política, consolidada com a realização da Eco92, evento no qual as implicações do termo foram exploradas em mais detalhes e endossadas por governos nacionais. (FURNIVAL, 2001:02). O conceito de DS, conforme defende os ambientalistas, é uma antiga aspiração deles, e que requer a determinação de novas prioridades pela sociedade, uma nova ética de comportamento humano e uma recuperação do primado dos interesses sociais coletivos. Para eles, tal concepção estaria sendo adulterada, à medida que é interpretada por diversos atores sociais, passando a ser percebida “ora como porta de entrada” no país de mecanismos internacionais. 41.

(42) 4. de controle sobre nossos recursos, ora como estratégias de expansão de mercado e de lucro“. (HERCULANO, 1992). De fato, o termo sustentabilidade, ao menos, tem sua origem na biologia cujo sentido mais amplo é o de um ciclo perfeito onde uma determinada ação acontece respeitando os processos e ritmos da natureza, fazendo com que ela restabeleça seu equilíbrio. A proposta de Desenvolvimento Sustentável, porém, se aproxima de outro entendimento sobre o Meio Ambiente que começou a ser discutido nos anos de 1970, mas que alcançou um foco maior na década de 1980: a Modernização Ecológica. Segundo Furnival (2001:06), esse conceito veicula a noção de que é necessária uma reestruturação da economia política capitalista para ser mais ambientalmente amigável; isto é, a degradação ambiental é vista como um problema estrutural que somente pode ser atacada com uma reorganização da economia. Essas. idéias. preconizam. que. é. perfeitamente. possível. reconciliar. crescimento econômico, solucionando problemas ambientais. E tem como apoio para tal proposta, a noção de que cuidar do meio ambiente é sensato, prudente e um grande exemplo usado é a incomparável disposição dos funcionários de um fábrica cujo ambiente é menos poluído. Ou seja, a parceria entre crescimento econômico e cuidados ambientais proporcionaria o aumento dos lucros. Além de ser uma proposta tecnocêntrica, ou seja, que vê nas novas tecnologias as soluções para os problemas ambientais, a proposta de Modernização Ecológica traz consigo a idéia da deficiência ambiental como 'mola propulsora' do crescimento econômico. Como sintetiza Furnival (2001), a modernização tecnológica protege um conjunto de atividades e instituições. 42.

(43) 4. dominantes, apoiados na noção de que o crescimento resolve o problema do crescimento. Ou seja, protege os aspectos importantes para o capitalismo e não questiona os problemas, de fato, ambientais. Diante das semelhanças entre o discurso da Modernização Ecológica e o de Desenvolvimento Sustentável, inclusive na confiança que os avanços tecnocientíficos podem resolver a questão ambiental, é provável que o discurso de Modernização Ecológica tenha sido incorporado pelo Relatório Brundtland, que somado a outras aspirações sociais e ambientais, gerou o conceito de Desenvolvimento Sustentável. O conceito de DS, como proposto pelo relatório Brudtland, considera necessário e possível compatibilizar desenvolvimento econômico, a diminuição contínua da desigualdade social e a preservação ambiental. Para atingir tal objetivo, portanto, é recomendável seguir medidas, tanto em âmbito de cada Estado nacional, quanto internacional, como foram propostas nas duas grandes conferências e embaladas na Agenda 21. Na visão de Herculano (1992:29), a questão do desenvolvimento sustentável, a ser conquistado através de uma nova ordem econômica internacional é algo dúbio, vago, que se presta a inúmeras polêmicas, onde a mais central gira em torno da conciliação entre preservar a natureza, garantindo a manutenção do crescimento econômico. A autora identifica dois sentidos para a expressão Desenvolvimento Sustentável: o primeiro, é uma expressão que vem sendo utilizada como epígrafe de boa sociedade. Nesse sentido, o termo ganha foro de um substituto pragmático, seja da utopia socialista, seja da introdução de valores éticos na racionalidade. 43.

(44) 4. capitalista meramente instrumental. No segundo sentido, a expressão é desglamurizada e desmistificada, como sendo apenas aquilo que é, ou seja, um conjunto de mecanismos de ajustamento que resgata a funcionalidade da sociedade capitalista, naturalizada como paradigma da sociedade moderna, ou seja, um conjunto de medidas paliativas, em prol do capitalismo verde. Na opinião de Fernandes (2003), o que se anuncia como um novo modelo de desenvolvimento, e que sucederia as alternativas ocidentais praticadas há cerca de duzentos anos, se constitui, na verdade, numa proposta de gestão, monitoramento e controle internacional dos recursos naturais – elaborada e implementada a partir dos países do Norte. Nessa visão, o conceito se configura como uma proposta de políticas capazes de proporcionar um processo de racionalização e de gerenciamento dos ecossistemas, visando ao aumento da capacidade de rendimento em relação ao modelo industrial de produção: “Se no presente os recursos da natureza não são assegurados para todos, a preocupação em assegurar para gerações futuras não garante que as estruturas de acesso não tenderão a reproduzir as condições de acesso do presente”. (FERNANDES, 2003:141). Desta forma, o discurso visando uma união mundial em prol do desenvolvimento sustentável do planeta objetivaria manter o domínio e o controle sobre os recursos naturais, como também atenua a crítica ao próprio modelo de desenvolvimento econômico, já que reconhece a crise e propõe a superação da mesma. Já para Carneiro (2005: 38), o conceito de Desenvolvimento Sustentável. 44.

(45) 4. passou a ser a doxa das questões ambientais, ou seja, é a universalização do ponto de vista de determinados agentes e seus respectivos interesses e concepções, permitindo um sem-número de sentidos diferentes, de acordo com os interesses e concepções. A crítica desse autor é dirigida principalmente a própria academia que, na maioria das vezes, apresenta a crise ambiental como apenas um conjunto de problemas de degradação com que a humanidade se defronta. Para ele, tal argumentação é vazia de sentido já que os problemas ambientais surgem como resultado da organização econômica e social. Essa aconceitualidade, segundo Carneiro (2005), ocorre porque a teorização demandaria a análise do conteúdo das relações de produções vigentes e de como a lógica da produção por elas geradas, enquadra os conflitos sociais em torno da apropriação das condições naturais. Outra questão pertinente na proposta de Desenvolvimento Sustentável, apontada por Fernandes (2003: 163), é a valorização de processos sociais e locais, a exemplos das populações tradicionais cujas relações de trabalho e modo de vida, que até então eram vistos como processos residuais na modernidade, tornam-se importantes no contexto ambiental. “(...) passou-se a mobilizar pequenos agricultores, pescadores artesanais, indígenas, entre outros, pela capacidade que têm de poupar em situações de escassez e de preservar recursos ambientais abundantes. Com isso, essas políticas ambientais não visam atender problemas ecológicos, mas sim garantir recursos naturais para um grupo que pode pagar pelos tais serviços”. (FERNANDES, 2003:160). Outro ponto bastante questionado do Relatório Brundtland e ganha força. 45.

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