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Seminário Biodireito

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Academic year: 2021

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca analisar questões acerca da Bioética e do Biodireito ante a nova imagem da ética, nas relações essenciais à condição de vida digna no planeta.

No desenvolvimento da pesquisa, surgiram indagações sobre o conceito desse neologismo, suas razões de existir e finalidades. Nesse sentido, existem autores que defendem como resposta às arguições uma razão baseada na perplexidade e no forte impacto social provocados pelos problemas decorrentes das inovações das ciências biomédicas, da engenharia genética, da embriologia e das altas tecnologias aplicadas à saúde.

Com efeito, os avanços científicos são evidentes e assuntos outrora controversos, como exemplo mais simples a eutanásia e manipulação genética, recebem nova atenção e tratamento. É exatamente esses avanços que desencadeiam uma renovação no modo de agir e decidir dos envolvidos com a ciência médica e biológica.

Não obstante, a socialização do atendimento médico, com o consequente desaparecimento do antigo médico da família, faz surgir novos padrões de conduta nas relações entre médico e paciente, diante dos convênios médico-hospitalares, da democratização da medicina e do atendimento em massa, devido ao pleno reconhecimento do direito de todo cidadão ser atendido na sua saúde.

Outrossim, destaca-se ainda a telemedicina, pela qual os médicos estão salvando vidas a distância, através de teleconferência, fone-mede e prontuários médicos digitalizados e acessíveis; a universalização da saúde, ante o aparecimento de várias entidades internacionais voltadas à solução dos problemas éticos criados pela engenharia genética e pela embriologia; a progressiva medicalização da vida, com o advento de uma multiplicidade de ofertas de serviços médicos relativos às diferentes fases da vida humana; a emancipação do paciente, uma vez que com o reconhecimento dos seus direitos fundamentais como pessoa surge a vitória sobre o poder da classe médica, que, então, devera respeitar sua autonomia de vontade, somente podendo intervir após o seu consentimento livre e informado quanto ao diagnostico, prognostico e processo terapêutico a que será submetido; a criação e o funcionamento dos comitês de ética hospitalar e dos comitês de ética para pesquisas em seres humanos, com o escopo de orientar e tutelar os interesses dos pacientes diante das questões éticas que os envolverem; o advento de vários institutos não governamentais preocupados com a expansão dos problemas éticos provocados pela reprodução humana assistida, pelas experiências médicas e pelas novas descobertas das ciências biológicas; a necessidade de um padrão moral

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que possa ser compartilhado por pessoas de moralidades diferentes, pois há constatação mundial de uma inversão de valores morais, de apatia e fragmentação moral, em razão do caráter pluralista da sociedade moderna; e o crescente interesse da ética filosófica e teológica nos temas alusivos a vida, reprodução e morte do ser humano.

Destarte, esse entrecruzamento da ética com as ciências da vida e com o progresso da biotecnologia provocou uma radical mudança nas formas tradicionais de agir dos profissionais da saúde, dando outra imagem a ética médica e, consequentemente, originado um novo ramo do saber, qual seja, a bioética.

2 BIOÉTICA

O termo foi empregado pela primeira vez pelo oncologista e biólogo norte-americano Van Rensselder Potter, da Universidade de Winsconsin, em Madisson , em sua obra

Bioethics: bridge to the future, publicada em 1971, num sentido ecológico, considerando-a a

“ciência da sobrevivência”. Portanto, teria um compromisso com o equilíbrio e a preservação da relação dos seres humanos com o ecossistema e a própria vida do planeta.

Ensina a professora Diniz (2009, p. 9) que a bioética se “desenvolveu a partir dos grandes e avassaladores avanços da biologia molecular e da biotecnologia aplicada a medicina ocorridos nos últimos 30 anos”. No decorrer desse período vemos que a bioética passou do estudo sistemático da conduta humana no campo das ciências da vida e da saúde, enquanto examinada a luz dos valores e princípios morais, a condição de estudo sistemático das dimensões morais das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas num contexto multidisciplinar, adaptando-se o pluralismo ético atual na área da bioética.

O intuito basilar é preservar a dignidade da pessoa humana dos abusos do biopoder, da revolução biológica. “Com isso o pensar bioético veio fazer parte de um âmbito maior das ciências da vida e despertou um apurado sentido só ser humano” (DINIZ, 2009. p. 11).

Nessa esteira, o imperativo científico-tecnológico passa a dividir seu espaço com o imperativo ético, emergindo a bioética como novo domínio da reflexão que considera o ser humano em sua dignidade e as condições éticas para uma vida humana digna, alertando a todos sobre as consequências nefastas de um avanço incontrolado da biotecnologia e sobre a necessidade de uma tomada de consciência dos desafios trazidos pelas ciências da vida.

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Inevitavelmente, surgem difíceis questões ético-jurídicas, “o direito não poderia deixar de reagir, diante dos riscos que a espécie humana esta sujeita, impondo limites a liberdade de pesquisa, consagrada pelo art. 5°, IX, da Constituição Federal de 1988” (DINIZ, p. 14).

Será preciso buscar um ponto de equilibro entre duas posições antitéticas: proibição total de qualquer atividade biomédica, que traria uma radical freada no processo científico, ou permissividade plena, que geraria insanáveis prejuízos ao ser humanos e à humanidade. No entanto, importante acrescentar que havendo conflito entre a livre expressão da atividade científica e outro direito fundamental da pessoa humana, a solução ou o ponto de equilíbrio devera ser o respeito a dignidade humana, fundamento do estado democrático de direito, previsto no art. 1º, III, da CF.

A bioética deve se pautar em um estudo deontológico, que proporcione diretrizes morais para o agir humanos diante dos dilemas levantados pela biomedicina, que giram em torno dos direitos entre a vida e a morte da investigação científica e da necessidade de preservação de direitos das pessoas envolvidas e das gerações futuras.

2.1 Princípios Bioéticos

2.1.1 Princípios Básicos

No início, a bioética pautou-se em quatro princípios básicos enaltecedores da pessoa humana, tendo dois deles caráter deontológico (não-maleficência e justiça) e os demais teológicos (beneficência e autonomia). Tais princípios são racionalizações abstratas de valores que decorrem da interpretação da natureza humana e das necessidades individuais.

2.1.1.1 Autonomia

O princípio da autonomia requer que o profissional da saúde respeite a vontade do paciente, ou de seu representante, levando em conta, em certa medida seus valores morais e crenças religiosas. Reconhece o domínio do paciente sobre a própria vida (corpo e mente) e o respeito a sua intimidade, restringindo, com isso, a intromissão alheia no mundo daquele que está sendo submetido a um tratamento. Considera o paciente capaz de autogoverna-se, ou seja, de fazer suas opções e agir sob a orientação dessas deliberações tomadas, devendo, por

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tal razão ser tratado com autonomia. Aquele que tiver sua vontade reduzida devera ser protegido. De maneira eficaz, Diniz (2009, p. 15) conceitua autonomia como “a capacidade de atuar com conhecimento de causa e sem qualquer coação ou influência externa”. Desse princípio percorrem a exigência do consentimento livre e informado e a maneira de como tomar decisões de substituição quando uma pessoa for incompetente ou incapaz, ou seja, não tiver autonomia suficiente para realizar a ação de que se trate, por estar preso ou ter alguma deficiência mental.

2.1.1.2 Beneficência

O princípio da beneficência requer o atendimento aos mais importantes interesses das pessoas envolvidas nas praticas biomédicas ou médicas, para atingir seu bem-estar, evitando, na medida do possível, quaisquer danos. No que concerne às moléstias, deve-se criar na práxis médica o habito de duas coisas: auxiliar ou socorrer, sem prejudicar ou causar mal ou dano ao paciente. Aponta Duas são as regras dos atos de beneficência: Não causar dano e maximizar os benefícios, minimizando os possíveis riscos.

2.1.1.3 Não-maleficência

Este princípio é um desdobramento do da beneficência, por conter a obrigação de não acarretar dano intencional e por derivar da máxima da ética médica.

2.1.1.4 Justiça

O princípio da justiça requer a imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios, no que atina a prática médica pelos profissionais da saúde, pois como prevê o tratamento isonômico os iguais deverão ser tratados igualmente.

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3 BIODIREITO

A realidade demonstra que os avanços científicos do mundo contemporâneo tem enorme repercussão social, cujas polêmicas desafiam a argucia dos juristas e requerem normas que tragam respostas e abram caminhos satisfatórios.

Com isso, acrescenta Diniz (2009, p. 16) “como o direito não pode furtar-se aos desafios levantados pela biomedicina”, surge uma nova disciplina, o biodireito.

[...]tomando por fontes imediatas a bioética e a biogenética, teria a vida por objeto principal, salientando que a verdade científica não poderá sobrepor-se à ética e ao direito, assim como o progresso científico não poderá acobertar crimes contra a dignidade humana, nem traçar, sem limites jurídicos, os destinos da humanidade. (DINIZ, 2009, p. 15).

Interessante o desencadeamento de neologismos, tal qual diz necessária uma “biologização” ou “medicalização” da lei, pois não há como desvincular as “ciências da vida” do direito. Assim, a bioética e o biodireito caminham nesse embate a fim de garantir a dignidade a vida humana.

3.1 Princípios Legais

3.1 Dignidade humana

Os bioeticistas devem ter como paradigma o respeito a dignidade da pessoa humana, que é o fundamento do Estado Democrático de Direito (CF, art. 1° III) e o cerne de todo o ordenamento jurídico.

Deveras, a pessoa humana e sua dignidade constituem fundamento e fim da sociedade e do Estado, sendo o valor que prevalecerá sobre qualquer tipo de avanço científico e tecnológico. Consequentemente, não poderão, bioética e biodireito, admitir conduta que venha a reduzir a pessoa humana a condição de coisa, retirando dela sua dignidade e o direito a uma vida digna.

Significativas são as palavras de Gebler (apud DINIZ, 2009, p. 17) de que “o direito deve aceitar as descobertas científicas cuja utilização não se demonstre contraria a natureza do homem e de sua dignidade”.

A ciência é poderoso auxiliar para que a vida do homem seja cada vez mais digna de ser vivida. Logo, nem tudo que é cientificamente possível é moral e juridicamente admissível.

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3.2 Humanismo jurídico

Com o reconhecimento do respeito à dignidade humana, a bioética e o biodireito passam a ter um sentido humanista estabelecendo um vínculo com a justiça.

Se em algum lugar houver qualquer ato que não assegure a dignidade humana, ele devera ser repudiado por contrariar as exigências ético-jurídicas dos direitos humanos. Assim, sendo intervenções científicas sobre a pessoa humana que possam atingir sua vida e a integridade fisico-mental deverão subordinar-se a preceitos éticos e não poderão contrariar os direitos humanos.

5 CONCLUSÃO

Para a bioética e o biodireito a vida humana não pode ser uma questão de mera sobrevivência física mais sim de “vida com dignidade”, e nesse caminho urge a necessidade de balizadores à boa prática do objetivo almejado, já que a inexorável existência humana segue juntamente com novas descobertas, as quais são potencialmente capazes de modificar suas relações.

Atuando nesse crivo, a bioética incumbiu-se de parâmetros oriundos da fusão dos valores emergidos das relações humanas, para guiar a ciência do “dever ser” e aparar as arestas da subjetividade. Doutro lado, o biodireito debruça sobre a proteção dos bens primordiais à manutenção da ordem e das condições irrenunciáveis de vida.

É analisando esse tema que se observa as praticas das “ciências da vida”trazendo benefícios à humanidade, contudo, não imune aos riscos muito perigosos e imprevisíveis, e, por tal razão os profissionais da saúde devem estar atentos para que não transponham os limites éticos impostos pelo respeito à pessoa humana e a sua vida, integridade e dignidade.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Referências

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