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Blumengarten: o resgate da identidade cultural alemã no interior

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Academic year: 2021

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Larissa Caroline Berwanger2 Lara Nasi3

RESUMO

Neste trabalho apresenta-se uma reflexão teórica sobre a reportagem “Blumengarten: o resgate da identidade cultural alemã no interior”, desenvolvida como projeto de conclusão de curso. São apresentados aspectos relacionados a cultura (TYLOR, 1920) e identidade cultural (HALL, 1999). Além disso, discutem-se características do jornalismo na internet e das narrativas em formato longform a partir da Baccin (2015). Por fim, são apresentados os métodos e técnicas adotados para a realização do trabalho, que teve como principal referência o uso de entrevistas e diário de campo. Conclui se que o trabalho de “Blumengarten: o resgate da identidade cultural alemã no interior”, contribuiu para que as pessoas conheçam mais sobre a cultura que levam como sua, e para que a comunidade de Santo Cristo conheça mais sobre o trabalho do grupo.

1. Introdução

Quando comecei a estudar sobre Jornalismo Cultural não sabia ao certo como defini-lo, como era veiculado e quais assuntos abordavam. Não sabia dizer se era algo que gostava ou não. Porém, quando fomos desafiados, no 5º semestre do curso de Jornalismo, fazer uma reportagem sobre o assunto, comecei a me encantar por essa editoria. Foi isto que me motivou a fazer o Trabalho de Conclusão de Curso sobre o assunto.

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a reportagem multimídia “Blumengarten: o resgate da identidade cultural alemã no inteiro”, sobre o grupo de Danças Folclóricas, de Santo Cristo, o Blumengarten. Abordo aspectos da história de Santo Cristo, analisando sobre o assunto, que tem toda importância quando se fala desse grupo, afinal também foi fundado por alemães. Analisei e trouxe à tona a ideia de identidade cultural. O que é, como era antigamente e como está hoje. Busquei referências sobre a compreensão da identidade

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Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

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Acadêmica do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo na Unijuí. E-mail: berwangerlarissa@gmail.com.

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Professora do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação, orientadora do trabalho. E-mail: lara,nasi@unijui.edu.br.

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cultural. E o fato de adolescentes e jovens hoje não se identificarem tanto com isso é o que me inspirou a buscar essa compreensão do passado.

Acompanhei, de junho a outubro, ensaios e apresentações do grupo, tanto na cidade como fora, participando das viagens e eventos que eles mesmos promovem. Sistematizei esse conteúdo em uma plataforma digital, com uma reportagem em vídeo, foto e texto.

2. O que é Cultural? E Identidade Cultural?

Cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro, como definia Edward Tylor (1920). Cada país tem a sua própria cultura, que é influenciada por vários fatores. Desta forma é preciso também definir a identidade cultural, afinal, o Brasil foi formado por grupos de mais diversas partes. Indígenas, que são os nativos desta terra, portugueses, que chegaram a partir de 1500, e depois povos de outros países europeus, que vieram para “colonizar” - povos africanos, que foram trazidos escravizados - hoje compõem o que se pode chamar de “povo brasileiro”. Nesse vasto leque de referências culturais, que faz alusão a nossas origens, destaco a cultura alemã, caracterizada pela alegria pelas festas música, comida e bebida.

A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo, que consiste na capacidade que os indivíduos têm de responder ao meio de acordo com mudanças de hábitos (SANTOS, 2006). Ela está em constante desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.

Outro conceito importante para a discussão é o de identidade cultural, afinal, o Brasil foi colonizado por diferentes tipos de culturas, e algumas delas, tem até hoje, presente o que trouxeram de “fora”. Desta forma, segundo Hall (1999) identidade cultural é o sentimento de identidade de um grupo, cultura ou indivíduo e ele se caracteriza na medida em que este é influenciado pela cultura do grupo a que pertence. No caso dos povos que vieram colonizar o Brasil, é a cultura que trouxeram do seu país de origem. Muitas questões contemporâneas sobre cultura se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade cultural acaba influenciada por questões sobre lugar, gênero, história, nacionalidade, idioma, orientação sexual, crença religiosa e etnia.

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Na identidade, a cultura ocupa um papel importante para delimitar as diversas personalidades, os padrões de conduta e ainda as características próprias de cada grupo humano (HALL, 1999). A influência do meio frequentemente modifica um ser já que o mundo é cheio de inovações e características temporárias. No passado, a identidade do grupo em que viviam, estava muito mais presente, devido à falta de contato e conhecimento entre outras culturas. Porém, com a chegada da globalização, isso mudou, fazendo com que as pessoas interagissem mais entre si e com o mundo ao seu redor. Desta forma, hoje as pessoas podem nascer em um meio, que tenha uma cultura e as suas características e, com o passar da sua vida, ir se adaptando a outro jeito de viver, a algo que se identifique mais. Do mesmo modo, pessoas que sempre conviveram em um local muito tempo e se mudam, já possuem uma hábitos mais arraigados, e assim continuam a reproduzi-los no local para onde passam a viver.

Para o teórico Milton Santos (2000), o conhecimento e o saber se renovam do choque de culturas, sendo a produção de novos conhecimentos e técnicas, produto direto da interposição de culturas diferenciadas. Para ele, a globalização que se verifica já em fins do século XX tenderia a uniformizar os grupos culturais, e uma das consequências seria o fim da produção cultural, enquanto geradora de novas técnicas e sua geração original. Isto refletiria, ainda na perda de identidade, primeiro das coletividades, podendo ir até o plano individual.

Segundo Stuart Hall (1999), a identidade cultural enfatiza aspectos relacionados a nossas culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, regionais e/ou nacionais. Ao analisar a questão, o autor focaliza particularmente as identidades culturais referenciadas às culturas nacionais. Para ele, a nação é, além de uma entidade política, um “sistema de representação cultural”. A nação é composta de representações e símbolos que fundamentam a constituição de uma dada identidade nacional. Segundo Hall (1999), as culturas nacionais produzem sentidos com os quais podemos nos “identificar”, e assim constroem suas identidades. Esses sentidos estão contidos em histórias, memórias e imagens que servem de referências, de nexos para a constituição de uma identidade da nação.

Contudo, ainda segundo Hall (1999), atualmente vivemos em uma “crise de identidade” que é decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos centrais das sociedades, abalando os antigos quadros de referência que proporcionam aos indivíduos uma estabilidade do mundo social. A modernidade propicia a fragmentação da identidade. Como ele mesmo diz: “Um outro aspecto desta questão da identidade está

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relacionado ao caráter da mudança na modernidade tardia; em particular, ao processo de mudança conhecido como “globalização” e seu impacto sobre a identidade cultural.” (1999, p. 04)

Já Homi Bhabha (2005), em seu livro “O local da cultura”, explica que a diversidade cultural, enquanto objeto da teoria do conhecimento, é substituída pela enunciação da cultura, cujo processo introduz uma quebra no presente performativo da identificação cultural. O deslocamento da diversidade cultural para a diferença cultural produz uma divisão no modo de entender a contemporaneidade, introduzindo, assim, a criação de um espaço cultural heterogêneo.

Dentro deste vasto leque de cultura e identidades culturais - neste trabalho destaco a identidade e cultura alemã, mas não no seu país de origem, e sim na apropriação feita no Brasil, a partir dos descentes das primeiras gerações que vieram como colonos ao país; mais especificamente, no âmbito deste trabalho, para o município de Santo Cristo.

Quando os imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul foram adaptando o modo de vida europeu à nova realidade. Com as escolas comunitárias, o uso da língua materna, os valores criados pela religião, criaram uma identidade cultural que passou de geração a geração, a qual se pode chamar Deutschtum – Germanismo. Giralda Seyfert (1981) conceitua o germanismo como:

A busca das origens, a negação do estrangeiro e a ideia de que o ‘sentimento nacional’ é o mecanismo que une a nação, mais do que a própria ideia de pátria geográfica, são, enfim, os critérios mais comuns de definição. Daí a importância dada a etnia, e a língua como elementos fundamentais da nacionalidade. Não é à toa que, na língua alemã, um único termo – Volk – signifique simultaneamente nação, etnia e povo (...). O elo que liga um povo (ou nação) é o que os alemães chamam de Volksgemeinschft e Deutschtum, o que quer dizer uma comunidade de interesse e uma cultural, raça e língua comuns – a consciência nacional alemã. (SEYFERT, 1981, p.9)

No Rio Grande do Sul, os imigrantes alemães colonizaram a região que havia sido desprezada pelos criadores de gado, nas regiões acidentadas e cobertas de matas (RAMBO, 1999). Acredita-se que os colonos não imaginavam o tipo de vida que teriam no Sul do Brasil. Chegaram no estado encontraram a floresta e nem sabiam como lidar com ela e preparar um terreno, com os rudimentares instrumentos de trabalho e iniciar o cultivo da terra para ter o alimento. O governo provincial não cumpriu a maioria de suas promessas. A falta de dinheiro, de ferramentas de trabalho, de alimentação, o abandono e o isolamento em que viviam trouxe muito desespero aos colonos. Aflorava neles um sentimento de saudade da terra natal e não

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existindo a possibilidade de regresso, por causa das condições financeiras, o jeito de melhorar essa situação era trabalhar e fazer progredir a colônia, como afirma Arthur Rambo (1999).

Os imigrantes vieram de regiões diferentes da Alemanha, portanto tinham costumes diferentes. Alguns grupos integraram-se e incorporaram hábitos de outros grupos nessas trocas. A grande maioria se reunia pela mesma religião e adaptaram seus costumes à nova realidade, tendo a religião como guia e sendo ela a responsável pela preservação do sentimento de germanismo. Como destaca René Gertz (2003):

Pode-se dizer que os jesuítas constituíam o principal grupo dentro da Igreja Católica que defendia preceitos básicos da ideologia germanista. Ligada aos jesuítas, a família Metzier editava um dos principais jornais de língua alemã do Rio Grande do Sul, o citado Deutsches Volksblatt, cujo emprenho a favor da preservação das particularidades étnico-raciais e culturais da população de origem alemã foi fervoroso no período que ia do final do século XIX até na década de 1930. (GERTZ, 2003, p.25)

Em Santo Cristo, a colonização começou em 1910. Horst Hoffmann adquiriu terras do governo do Estado, chamadas: Colônia Boa Vista. Essas terras pertenciam ao município de Santo Ângelo. As famílias sentiam um novo choque, um novo desafio, pois passaram a viver em um mundo com pouco acesso ao desenvolvimento industrial. O próprio trem que usariam para viajar causava muito medo nas crianças e até nos adultos (PHILIPPSEN; WALLAU, 2001).

Foi com base nesta colonização e pensando em não perder os costumes - que para a cidade de Santo Cristo são tão importantes -, que no dia 6 de maio de 1989 surgiu o grupo de danças folclóricas Blumengarten, com a professora Jacinta Ruedell, que era formada em estudos sociais, e que começaria a cursar geografia. Quando Jacinta estava chegando ao fim de sua graduação, teve a chance de escolher entre estagiar com crianças ou fazer um projeto. Foi assim que surgiu o projeto de resgate histórico “Histórias do Rio Grande do Sul e a imigração em Santo Cristo”. Um projeto que implantava nas escolas a língua e dança em alemão. O grupo era formado por crianças da escola, pais e professores.

Atualmente, o grupo conta com mais de 100 integrantes, que estão divididos entre as categorias mirim, infantil, invento juvenil, adultos e casais. Cada categoria possui uma vestimenta típica, vindo de uma região diferente da Alemanha. Hoje sua principal festa é a tradicional Oktoberfest e Festa Alemã de Santo Cristo, que neste ano de 2017, aconteceu dos dias 5 a 21 de outubro. Foi este grupo a motivação para este Trabalho de Conclusão de Curso, onde foi desenvolvido uma reportagem multimídia

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3. A narrativa jornalística

Para fazer um site sobre o grupo, foi preciso entender mais sobre multimídia e a prática do jornalismo na web. Para Canavilhas (2007), no início da prática jornalística na web, há mais de 20 anos, a estrutura narrativa não trazia novidades. A linguagem era a mesma do jornalismo impresso, apenas era reproduzido o que os jornais já tinham publicada. A linguagem do jornalismo digital ainda está em transformação, na medida em que os veículos midiáticos estão percebendo os potenciais do meio e aproveitando as características para criar novas maneiras de contar histórias. A partir de Canavilhas (2007), se entende que as tecnologias e as demandas sociais que impulsionaram os movimentos de mudanças podem ser percebidas em todos os processos jornalísticos, desde a apuração das pautas, passando pela narrativa, até a distribuição dos produtos midiáticos. O jornalismo, ao longo dos anos, desenvolveu diferentes maneiras de narrar na web, porém o impresso, rádio e TV ainda se sobre saem, como define Mielniczuk (2003).

A narrativa jornalística no ambiente digital está cada vez mais dependente de bases de dados para configurar as histórias contadas nesse meio (BACCIN; TORRES, 2015). A narrativa hipermídia possibilita mais opções de aprofundamento da informação no jornalismo no meio digital (MIELNICZUK, 2015). De acordo com Longhi (2009), a “hipermídia atua para criação de narrativas nas quais o acompanhamento de informações adicionais ao texto significa, por si só, um elemento fundamental da informação online” (p.192).

Isso levou a que se começasse a explorar formatos de narrativas longas na internet, em contraposição ao que se acreditava em um primeiro momento do jornalismo na internet, que as pessoas só iriam ler informações curtas, rápidas. Confome Baccin (2015) o formato de narrativas longform não é um modelo próprio do ambiente digital, antes já eram feitas narrativas longas em reportagens impressas, televisivas e também radiofônicas. Mas a novidade está também no suporte. A reportagem “Snow Fall” do jornal The New York Times4, publicada em dezembro de 2012, é considerada marco e modelo de longform. Além de ter inovado na estrutura do fluxo narrativo e na integração das várias modalidades comunicativas que compõem a história contada, a reportagem fez cair por terra a premissa de que os leitores não leem notícias, artigos ou reportagens longas no ambiente digital (BACCIN, 2015).

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Baccin (2015) explica que na teoria o termo longform é compreendido de diferentes modos. Para explicá-lo, ela recorre aos seguintes autores: Longhi (2014), Meyer (2012), Sharp (2013), Longhi e Winques (2015), entre outros. Assim, longform poderia dizer respeito ao tamanho da narrativa, que pode ser desde quatro mil palavras, no entendimento de Longhi (2014) explicitado por Baccin (2015), ou ainda, para Meyer (2012), citado pela autora, variar entre uma matéria de revista e um livro. Baccin também explica que, para Sharp (2013), o longform digital prospera misturando texto bem construído com visual bonito e recursos multimídia, enquanto para Longhi e Winques (2015), também citados pela autora, o jornalismo longform “se destaca não apenas pelo formato, mas também pela apuração, contextualização e aprofundamento. Textos com essa característica propõem uma leitura mais lenta e um leitor disposto a dedicar tempo para a mesma (LONGHI; WINQUES, 2015, p.3 apud BACCIN, 2015, p. 47). Baccin ainda cita Jacobson, Marino e Gutsche (2015), para os quais longform é definido como uma nova onda de jornalismo literário, uma inovação da fase pré-digital para o digital.

Pensando nesse novo formato de jornalismo, e no quanto as pessoas gostam de se informar e ler coisas em ambientes digitais, foi que surgiu a ideia de fazer um site para contar histórias. O jornalismo, além de ter como objetivo informar, também conta histórias, produz narrativas (BACCIN, 2017). O objetivo então passou a ser contar histórias essas que tocassem o leitor, que fizessem com que ele sentisse a emoção que sentimos ao escrever algo. Foi assim que surgiu a ideia de fazer um site, que começaria com uma reportagem para o TCC, e depois teria continuidade, contanto histórias que chamem a atenção, que encantem o leitor e que ele leve para a vida dele algum ensinamento daquela história. Para isso, precisava iniciar uma reportagem em formato longo, e assim, aliada com o interesse no jornalismo cultural, encontrei a primeira pauta no grupo de danças de Santo Cristo.

4. “Vou te Contar”: os modos de fazer

Intitulado como “Vou te Contar”, com um layout simples, como uma estratégia de aproximar o leitor para uma leitura mais intimista, que transmitisse os sentimentos apurados. A plataforma escolhida para hospedagem foi o Wix. Na estruturação da reportagem, o texto é o elemento principal, ao qual se relacionam muitas fotos e vídeos, configurando assim conteúdo multimídia, para que o leitor não se canse lendo e possa escolher entre dar o play ou não para ouvir depoimentos de integrantes do grupo, registros das apresentações e viagens.

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Após a apresentação deste trabalho, o objetivo é continuar usando o veículo para contar mais histórias que as pessoas não conheçam e que levem algo de bom aos que lerem. Que mostre a realidade com um olhar diferente, sensível, que instigue as pessoas a quererem saber sempre mais e visitarem o site para ver as novidades. Foi feito neste formato para tornar ele literalmente mais atrativo. Esta primeira reportagem está disponível no endereço https://voutecontar017.wixsite.com/voutecontar017

Na reportagem, procurei trazer um assunto que a maioria da população de Santo Cristo tem certa familiaridade. Por isso, a proposta foi aprofundar, mostrar mais do que se sabe ao ver as apresentações. Acompanhei o grupo durante cinco meses, desde ensaios até a apresentação mais esperada e emocionante no ano, que foi na Oktoberfest em Blumenau, a maior festa germânica do país. Foram meses intensos e de muito trabalho. Para que as pessoas conhecessem mais desse trabalho do grupo, e o quão importante é o registro jornalístico de um grupo assim, resolvi registrar tudo em forma de diário, que foi muito útil na hora de escrever, pois me fazia recordar de tudo com facilidade

No trabalho procurei entrevistar primeiro a coordenadora do grupo, Jacinta Riedell, que foi quem começou todo o grupo. Depois que resolvi que iria acompanhar a categoria dos adultos, pensei que precisava ouvir a coordenadora daquela categoria, então conversei com a Fabiane Freytag, que em virtude de desentendimentos, durante o período de apuração, acabou saindo no grupo, mas no momento em que a entrevistei, ela ainda estava na coordenação. Entrevistei também o integrante mais jovem, que é o William Ames, e a dançarina que está há mais tempo no grupo, que é a Graciele Dillmann. O grupo gosta de dizer que é como uma família, e como tal também existem casais de dançarinos que tiveram filhos ao longo do tempo. Hoje, além de seguirem no grupo, seus filhos também participam como integrantes. É o caso da Clenice Hoss e do Alcindo Meinertz, que tiveram a Natieli. Entrevistei também uma pessoa que para o grupo neste ano foi muito especial, o Renan Avila, que é cabeleireiro em Ijuí, e namora um integrante do grupo, o Anderson. Como ele se disponibilizou a maquiar as dançarinas no baile da Oktoberfest de Santo Cristo, quis saber o que o motivou a fazer isso. Assim sendo, os depoimentos completaram o que eu havia acompanhado e conhecido nesse período e permitiram aprofundar as percepções da observação.

Hall (1999) afirma que

(...) no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses, ou galeses, ou

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indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso está se falando de forma metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fosse parte de nossa natureza essencial. (HALL, 1999, p. 47).

E isto se aplicativa a tudo que acompanhei nesses últimos meses, pois em Santo Cristo, por mais que as pessoas não sejam alemãs, e sim brasileiras, se busca viver elementos da cultura que vieram de lá, em gerações anteriores. Assim, eles não deixam essa identidade, que os antepassados trouxeram, cair no esquecimento, por mais que nossa nacionalidade hoje seja outra.

5. Considerações Finais

Com este trabalho, concluiu-se o quão importante para algumas pessoas é a questão da identidade cultural. Quando se pesquisa sobre o assunto a primeira resposta que se encontra é sentimento de identidade com um grupo, cultura ou indivíduo. Mas quando se estuda a fundo se vê que existe muito mais coisa por trás. Hall (1999) afirma que as culturas produzem sentidos com os quais podemos nos identificar, e assim constroem suas identidades. Esses sentidos estão contidos em histórias, memórias e imagens que servem de referências e nexos para a constituição de uma identidade da nação.

A conclusão que tiro de todo esse estudo feito, primeiro sobre a identidade cultural, sobre a história de Santo Cristo e, principalmente, sobre o grupo de danças folclóricas Blumengarten e o quão importante é estar vinculado a um grupo, é que se identificar com uma cultura é fundamental, porque é através dela que somos quem somos. E isso notamos nos participantes, que com o grupo mantêm vivo esse sentimento de identidade, de pertencer a um grupo que leva a outros lugares uma cultura. E é com o grupo que aprendem mais sobre a cultura, através dos repasses feitos, das trocas, dos aprendizados compartilhados.

Acompanhar este grupo foi não apenas um momento de troca de aprendizados, mas de conhecer melhor o trabalho cultural, de um grupo que é conhecido há anos em Santo Cristo, mas geralmente apenas nos palcos, nas apresentações, nos ensaios. Pouco se sabe sobre como seus integrantes trabalham ao longo do ano, para manter vivo o trabalho, o quanto interagem com outros grupos, fazem trocas, experimentam outros modos de expressar o germanismo. Com este trabalho, espero ter conseguido mostrar um pouco do que é esse grupo à comunidade de Santo Cristo, mas também a outras pessoas, em função das características das reportagens no ambiente digital. Por ser uma temática que, apesar de focar-se num grupo em

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específico, discute temas mais amplos, como a identidade cultural, pode interessar a outros leitores, em outras localidades.

Referências bibliográficas

BACCIN, Alciane; TORRES, Vitor. “Perde-se em poesia, ganha-se em eficiência: O sistema de mensuração na configuração de narrativas jornalísticas. Colóquio Narrativa, Média e Cognição. CITAR – Centro de Investigação em Ciência e Tecnologia das Artes da Escola das Artes, Universidade Católica Portuguesa, Porto - Portugal, 14 de jul. de 2015.

BHABHA, Homi. O local da cultura, Belo Horizonte: editora UFMG, 2005.

CANAVILHAS, João. Webnoticia. 2007. CANAVILHAS, João. Webnoticia. Covilhã: Livros Labcom, 2007.

GERTZ, René E. . O Brasil nos anos 30 e a ideologia germanista: estudo de caso.. In: Luís Milmann; Paulo Fagundes Vizentini. (Orgs.). Neonazismo, negacionismo e extremismo

político. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2000, p. 89-99.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade, Rio de Janeiro: DP&A editora, 2002.

LONGHI, Raquel. Infografia online: narrativa intermídia. Revista Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 6, n. 1, 2009.

MIELNICZUK, Luciana. O Webjornalismo. Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual. FACOM/UFBA, Salvador, p. 20-32, março, 2003.

PHILIPPSEN, Adair; WALLAU, Renato de. Naqueles tempos... 1ª Edição. Santo Cristo: Coli Gráfica Editora Ltda. 2001.

RAMBO, Arthur. Cem Anos de Germanidade no Rio Grande do Sul. São Leopoldo: Editora Unisinos, 1999.

SANTOS, José Luiz dos. O que é Cultura. Coleção primeiros passos; 110. São Paulo: Editora Brasiliense. 2006

SANTOS, Milton. Da cultura à indústria cultural. Folha de São Paulo – Caderno Mais. São Paulo, p. 18, mar. 2000.

SEYFERT, Giralda. Nacionalismo e Identidade Étnica. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1991.

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