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Análise do Impacto das Fintechs na Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária

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Academic year: 2021

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Análise do Impacto das Fintechs na Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária 1: Anderson Luiz Traesel Weiss 2

Daniel Knebel Baggio 3

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo fazer um estudo sobre as fintechs e compará-lo com a percepção de líderes da Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), apresentando ao final algumas possíveis soluções para estes harmonizar a relação da Cresol às fintechs. O estudo foi conduzido por meio de uma análise de conteúdo, através de pesquisa exploratória. A coleta de dados foi efetuada por meio de pesquisa bibliográfica e o estudo de campo através de entrevista semiestruturada com cinco diretores da Cresol. A entrevista possibilitou verificar que as fintechs não são vistas pelos entrevistados como um novo modelo tecnológico que viabiliza novos canais de comunicação com o associado. Os entrevistados, na sua maioria, visualizam as fintechs como soluções financeiras pontuais. O estudo permitiu também verificar o posicionamento dos Diretores da Cresol perante situações pré-definidas fundamentadas pelo estudo de Haddad e Hornuf (2016). Perante estas situações, percebeu-se que a cooperativa necessita evoluir em seus serviços financeiros tecnológicos, mas mantendo os fundamentos do cooperativismo. Para tanto, é sugerido, entre outros, o desenvolvimento de um ambiente com associados virtuais, mantendo disponível o atendimento personalizado e humanizado, a fim de sustentar a proximidade com o cooperado.

Palavras-Chave: Fintech, Cresol, Cooperativismo de Crédito.

Abstract: The present work had as objective to make a study on the fintechs and to compare it with the perception of leaders of the Cooperative of Rural Credit with Solidary Interaction (Cresol), presenting at the end some possible solutions to them to harmonize the relation of Cresol to fintechs. The study was conducted through a content analysis, through exploratory research. Data collection was done through bibliographic research and the field study through a semi-structured interview with five directors of Cresol. The interview made it possible to verify that the Fintechs are not seen by the interviewees as a new technological model that enables new channels of communication with the associate. Most interviewees view fintechs as punctual financial solutions. The study also allowed to verify the position of the Directors of Cresol in pre-defined situations based on the study of Haddad and Hornuf (2016). Given these situations, it was noticed that the cooperative needs to evolve in its technological financial services, but maintaining the foundations of cooperativism. To do so, it is suggested, among others, the development of an environment with virtual associates, keeping the personalized and humanized service available, in order to sustain proximity to the cooperative.

Key Words: Fintech, Cresol, Credit Cooperativism.

1 Artigo de Conclusão do Curso de Pós-Graduação, MBA em Gestão de Cooperativas, Curso este oferecido através de

Convênio entre a UNIJUI e a Cresol-Sicoper. Santa Rosa/RS, 2018.

2 Pós-Graduado em Gestão de Cooperativas, Bacharel em Análise de Sistemas, Colaborador e Associad da Cresol

Humaitá. E-mail: anderw17@gmail.com; Telefone (55) 999386567

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1. INTRODUÇÃO

Uma nova Revolução está moldando a sociedade nos dias atuais: a da Informação. Essa nova “revolução industrial” aborda, principalmente, a velocidade da execução das tarefas. As pessoas desenvolvem suas atividades de forma muito mais veloz, com o auxílio da informatização. E isso não é diferente no setor financeiro. As instituições financeiras contam atualmente com um imenso aporte da tecnologia da informação para que o mercado financeiro esteja em movimento. As soluções tecnológicas para o mundo financeiro trouxeram agilidade e mais transparência para suas operações. Além disto, as soluções da tecnologia da informação permitiram um maior controle por parte dos órgãos competentes.

Ao mesmo tempo, a sociedade torna-se mais e mais exigente no que diz respeito a eficácia e a rapidez das soluções ofertadas pelas instituições financeiras (como de outras áreas). É como um círculo virtuoso: a exigência de velocidade nos processos financeiros aumenta após o suprimento da necessidade anterior. E o catalizador desse círculo virtuoso é a concorrência: quanto mais atores nesse cenário, maiores são as ofertas, aumentando a chance de sempre surgir algo melhor e mais rápido.

As instituições financeiras avançaram nos últimos anos para cobrir essa demanda de agilidade, porém esse avanço não era condizente com a “fome” dos usuários do sistema financeiro. Aproveitando o espaço deixado pelas instituições financeiras, diversas empresas privadas começaram a criar e ofertar produtos financeiros através da tecnologia da informação. Com o advento dos smartphones, muitos visionários vislumbraram uma oportunidade para criar soluções para o problema da falta de agilidade e praticidade dos serviços financeiros. Começaram a surgir assim as fintechs, basicamente soluções financeiras ofertadas através de aplicativos de celulares e computadores.

Os serviços prestados pelas fintechs trazem a praticidade buscada pelos usuários do sistema financeiro e, muitas vezes, a custos menores que os ofertados nas instituições financeiras tradicionais. Essa combinação de fatores fez com que muitas startups tivessem crescimentos exponenciais junto ao mercado financeiro, fazendo frente a grandes instituições. Bancos privados começaram a buscar serviços equivalentes, para ofertarem aos seus clientes. Outros, procuraram mitigar a concorrência comprando fintechs. Já as cooperativas de crédito, com poderes aquisitivos menores, não conseguem atualmente combater a concorrência da mesma forma que os bancos privados.

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É nesse cenário que se encontra atualmente a Cresol (Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária). A Cresol (Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária) é uma cooperativa de Crédito formada inicialmente por pequenos agricultores. A constituição da Cresol se deu através de 5 cooperativas no município do Paraná, no ano de 1995. As primeiras cooperativas se instalaram nos municípios de Dois Vizinhos, Marmeleiro, Capanema, Laranjeiras do Sul e Pinhão. A partir daí a cooperativa se desenvolveu e foi ampliado para os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (CRESOL BASER, 2018).

Atualmente, o sistema cooperativo Cresol é dividido em 4 centrais (Baser, Central SC/RS, Sicoper e Ascoob), unificadas sob a Cresol Confederação, e atendem os mais diversos públicos. A confederação atende atualmente mais de 467 mil cooperados, associados através de 541 unidades de atendimento (CRESOL CONFEDERAÇÃO, 2018).

Diante do exposto, o presente estudo pretende buscar uma base teórica sobre as fintechs, além de comparar a teoria com a percepção de gestores da Cresol. Além disso, tem como objetivo apresentar algumas possíveis soluções para compatibilizar as características cooperativistas da Cresol com a tecnologia financeira.

Com vista em alcançar o objetivo proposto para o presente artigo, o mesmo encontra-se estruturado em 5 etapas. Inicialmente o trabalho é composto pela “Introdução”, seguida pelo item “Referências conceituais”, que apresentam os principais conceitos utilizados no desenvolvimento do estudo. Após é exposto no item “Desenvolvimento do Estudo” todo o desenrolar do trabalho e da pesquisa realizada. Por fim, são apresentadas as “Considerações Finais (Conclusões)”, onde são especificados os resultados atingidos, além de sugestões de continuidade do trabalho.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 História do Cooperativismo

Os primeiros registros oficiais do cooperativismo de crédito datam entre o fim do século XIX e o início do século XX, através do trabalho do padre jesuíta Theodor Amstad. O cooperativismo de crédito surgiu no Brasil, conforme Santos (2005) apud Michels (2017), como uma saída para o acesso ao crédito pelas pessoas que residiam em áreas mais afastadas dos centros comerciais. Os imigrantes europeus que se instalaram no Brasil nesta época não encontravam nas terras colonizadas os serviços financeiros que necessitavam e viram no cooperativismo a forma de suprir esta demanda.

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século XX, quando foi instituída a primeira lei federal específica sobre o cooperativismo, dando maior legitimidade ao processo (MICHELS, 2007).

Já no início do século XXI, o cooperativismo de crédito foi alavancado, principalmente, por ser o principal difusor dos programas governamentais de acesso ao crédito rural.

2.1.1 A Cresol

O sistema Cresol iniciou através da necessidade do acesso ao crédito de pequenos agricultores. O movimento buscou o desenvolvimento da Agricultura Familiar, principalmente através do acesso a recursos do Sistema Nacional de Crédito Rural (CRESOL SICOPER, 2018).

Atualmente, o sistema cooperativo Cresol é dividido em 4 centrais (Baser, Central SC/RS, Sicoper e Ascoob), unificadas sob a Cresol Confederação. A confederação atende atualmente mais de 467 mil cooperados, associados através de 541 unidades de atendimento (CRESOL CONFEDERAÇÃO, 2018).

O sistema Cresol faz parte do Sistema Financeiro Nacional, que é caracterizado por Assaf Neto (p. 33, 2008), como “um conjunto de instituições financeiras públicas e privadas, e seu órgão normativo máximo é o Conselho Monetário Nacional (CMN)”. Ainda conforme Assaf Neto (2008), o Sistema Financeiro Nacional é responsável por viabilizar a relação entre as instituições financeiras que necessitam captar recursos e as instituições financeiras que dispõe destes recursos.

O Conselho Monetário Nacional é o órgão que, segundo Fortuna (1999), determina as diretrizes das políticas monetária, creditícia e cambial do Brasil.

A fim de garantir que as instituições financeiras, como a Cresol, atuem conforme as determinações do CMN, há o Banco Central do Brasil - BACEN. O BACEN é o órgão que, em um âmbito geral, fiscaliza e disciplina as ações das instituições financeiras, além de controlar a emissão do dinheiro (ASSAF NETO, 2008).

Dentro do sistema financeiro regrado pelo BACEN existem diversos bancos e cooperativas. UOL (2019) classifica os seguintes bancos como os maiores do país, com ações listadas na Bolsa: Bando do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander. Já o Sescoop/RS (2018) apresenta o Sicredi e o Bancoob como as principais cooperativas de crédito do país.

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2.2 Fintechs

Nos últimos anos emergiram novos atores no mercado financeiro: as fintechs. Para Dhar e Stein (2016), as fintechs são inovações financeiras, desenvolvidas e mantidas através da tecnologia. Ainda conforme Dhar e Stein (2016), essa inovações financeiras são capazes facilitar a desintermediação do mercado financeiro, além de revolucionar a forma como as empresas são estruturadas e como estas criam e entregam seus produtos e serviços.

Ou seja, as fintechs são soluções entregues por meio da tecnologia e que buscam diminuir os intermediários entre as empresas financeiras e os clientes, ou até entre uma solução financeira e o cliente final.

O conceito atual de fintech destaca, conforme Katori (2017), as novas empresas que surgem atualmente e exploram o mercado financeiro, através da tecnologia. Já Demirgüç-Kunt et al (2018), trazem um conceito mais simples para o termo: serviços financeiros digitais.

As fintechs são constantemente atreladas e confundidas com startups. E essa relação está correta. Felice (2019, p. 1) conceitua startup como “pequenas empresas em fase inicial de funcionamento, destacam-se geralmente pelo modelo de negócios inovador, pelo empreendedorismo, pelo uso intensivo de tecnologia e pela busca de baixos custos de produção sem prejudicar a qualidade do produto”. Teixeira (2018) atrela startup a um grupo de pessoas trabalhando em algo inovador e lucrativo.

Mesmo com um conceito atual, muitos autores defendem que o conceito de fintech é mais antigo. Rubini (2017) interliga fintechs a tecnologia financeira e afirma que seu início pode ser fixado na década de 1950. Neste período, conforme o autor, surgiram os cartões de crédito, seguidos dos caixas eletrônicos na década de 1960. Rubini (2017) cita como exemplos as evoluções tecnológicas dos bancos nas décadas de 1970 e 1980, onde iniciaram as transações eletrônicas das ações das empresas e dos registros dos bancos.

Lee e Shin (2018) também destacam a evolução da Internet na década de 1990 e o consequente desenvolvimento dos serviços financeiros por meio eletrônico, através do e-finance. Em sua obra, Lee e Shin (2018, p. 2), definem e-finance como “refers to all forms of financial services such as banking, insurance, and stock trading performed through electronic means, including the internet and World Wide Web”. Em uma tradução livre, o e-finance é qualquer serviço financeiro através de meio eletrônico, inclusive por meia da Internet e do World Wide Web.

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com cada autor. Haddad e Hornuf (2016) categorizaram em sua pesquisa quatro segmentos: empréstimos, gestão de ativos, pagamentos e outras atividades comerciais. Já Chishti e Barberis apud Koffi (2016) destacam cinco categorias: dados e análises, inteligência artificial, pagamentos, moedas digitais e crowdfunding.

Chishti e Barberis apud Koffi (2016) definem a categoria “dados e análises” como as fintechs que tratam os dados gerados no setor financeiro, de modo a segmentar os clientes e identificar oportunidades para novos produtos e serviços, além da busca de otimizar preços. Estas soluções buscam também gerenciar os riscos e, principalmente, focam na privacidade das informações pessoais. Favaro et al. (2019) nomeia esta categoria como “eficiência financeira”, onde o uso da tecnologia é focado na segurança das operações das empresas do mercado financeiro.

As fintechs do tipo “inteligência artificial”, conforme Chishti e Barberis apud Koffi (2016), informatizam o processo de tomada de decisões, a partir de uma base de dados e de análises. Essa tecnologia procura manter e tratar um volume de informações a uma velocidade que torna a análise humana insuficiente e cara.

Para Chishti e Barberis apud Koffi (2016) a categoria de pagamentos é caracterizada por provedores de serviços de pagamentos (bancos, startups, empresas de cartões, etc) que possibilitam a transferência de valores entre pessoas e instituições. As soluções destas empresas procuram atender as demandas de consumidores através de instrumentos de pagamentos mais seguros, eficientes e convenientes. Para Favaro et al. (2019) esse segmento procura simplificar as transações de compra e venda.

A tecnologia “moedas digitais” é responsável por, além de criar, monitorar as transações de moedas virtuais ou criptografas, que não possuem um sistema centralizador de operações. Ou seja, as transações são realizadas diretamente entre as partes interessadas (CHISHTI e BARBERIS apud KOFFI, 2016). Outra denominação para este ambiente é blockchain, conforme Favaro et al. (2019). Já Rubini (2017) define blockchain como uma plataforma que promete integrar diversas áreas, como a manutenção digital dos pagamentos, dos registros médicos e de documentos de identidade. Para Rubini (2017), as moedas criptografadas são apenas uma parte do blockchein e carregam a possibilidade de baratear os custos das transações monetárias. Tanto Rubini (2017) como Favaro et al. (2019) definem a moeda Bitcoin como a principal moeda virtual existente.

A última categoria definida por Chishti e Barberis apud Koffi (2016) é o crowdfunding ou financiamento coletivo em uma tradução livre. Para os autores, o crowdfunding é um tipo de financiamento realizado através da internet ou das mídias sociais que busca elevar um elevado valor

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através da contribuição de muitas pessoas. Segundo Rubini (2017), através do crowdfunding é possível atingir um número maior de investidores, os quais podem investir pequenas quantidades de dinheiro. Conforme Favaro et al. (2019), estes financiamentos são comumente usados para angariar fundos para causas sociais.

Favaro et al. (2019) ainda classifica mais quatro categorias: gestão financeira, empréstimo e negociação de dívidas, investimentos e seguros.

As fintechs de “gestão financeira” dão suporte no controle tanto de orçamentos pessoais como na gestão financeira de empresas. Elas auxiliam desde o controle de despesas até no uso eficiente dos cartões de crédito (FAVARO et al., 2019).

Já as fintechs de empréstimos e negociação de dívidas são, conforme Favaro et al. (2019), “aplicativos e sites que aproximam quem precisa e quem empresta dinheiro”. Essas fintechs podem também intermediar renegociações de dívidas e devem, por lei, estar associadas a alguma instituição financeira regulada pelo Banco Central.

As tecnologias aplicadas na categoria de “investimentos” buscam, através de algoritmos identificar e ofertar as melhores opções de investimento de acordo com o perfil do investidor (FAVARO et al., 2019).

Por último, as fintechs da área de seguros procuram simplificar as opções de seguros entre as diferentes seguradoras, através de análises entre preços e serviços (FAVARO et al., 2019).

As fintechs estão revolucionando o mercado financeiro, que era caracterizado por sua atuação tradicional e consolidada. E essa evolução está crescendo cada vez mais verticalmente. Segundo um estudo da KPMG (2018), até o primeiro semestre de 2018, os investimentos em empresas de tecnologia financeira ultrapassaram todo o valor investido em 2017. Até junho de 2018, os valores chegaram aos 57,9 bilhões de dólares, distribuídos em 875 negócios. Neste levantamento KPMG utilizou uma base de dados mais restrita, englobando as principais fintechs.

Isso é perceptível quando levamos em conta somente as fintechs registradas no Brasil. Conforme Finnovation (2018), em junho de 2018 o Brasil já registrava 377 fintechs. O crescimento no primeiro semestre de 2018 foi de aproximadamente 22%, enquanto que em 2017 foi de 40%.

Levando em consideração o estudo de Haddad e Hornuf (2016), pode-se considerar que esse crescimento no Brasil ainda é pequeno perto do seu potencial. No estudo realizado entre fintechs da Europa e dos EUA, Haddad e Hornuf (2016) apontam que em países com maior disponibilidade de tecnologia o crescimento das fintechs é mais acentuado: o aumento de uma unidade na disponibilidade de tecnologia estava correlacionada a um crescimento de 112% na formação de

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novas fintehs no ano seguinte. Ou seja, por mais proeminente que seja o crescimento da quantidade de fintechs no Brasil, há de se considerar que em países mais desenvolvidos esse número é muito maior.

Outro ponto da pesquisa que reforça esse fator é a relação com o PIB do país. Para Haddad e Hornuf (2016), o incremento de uma unidade no PIB do país, nos casos estudados, está vinculado ao aumento de 89% das fintechs no ano posterior. Conforme Austin Rating apud Estadão (2018), o Brasil fechou o terceiro trimestre com apenas o 39º maior crescimento do PIB no mundo.

Por outro lado, Haddad e Hornuf (2016) afirmam que há um notável crescimento das startups de tecnologia financeira após um período de crise. O Brasil atualmente transpassa um momento conturbado. Lima (2019) noticiou a estreia do documentário da BBC World News, que apresenta os últimos cinco anos (2013-2019) da crise no Brasil.

Outro fator que possui muita influência na formação de fintechs é a disponibilidade de telefonia móvel e smartphones. Quanto maior essa disponibilidade, maior é o campo de atuação vaga para essas tecnologias atuarem (HADDAD E HORNUF, 2016).

Contudo, Haddad e Hornuf (2016) apresentam a solides dos bancos e o aumento de agências físicas como fatores que impedem o crescimento das fintechs. O aumento de uma unidade de medida na solidez dos bancos representou a diminuição de 20,5% na formação de novas fintechs. Já o aumento das agências físicas impacta na redução de 0,9%.

Na tentativa de amenizar os efeitos da concorrência das fintechs, os principais bancos e cooperativas de crédito iniciaram seus movimentos. Em 2018, os principais bancos brasileiros (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander Brasil) criaram a fintech Quod, que irá atuar no campo do Cadastro Positivo e concorrer com Serasa e Boa Vista SCPC (REUTERS, 2018).

Além disso, estes bancos estão realizando parcerias próprias. Em sua página na internet, o Banco do Brasil apresenta pelo menos quatro fintechs, que vão desde uma plataforma de comparação de juros para empréstimos consignados até outra com planos de previdência privada (BANCO DO BRASIL, 2019).

O Bradesco também fez parcerias, a exemplo da sociedade fechada com a fintech Geru, responsável por concessão de empréstimos a pessoas físicas (REUTERS, 2018). Na outra ponta, o Bradesco criou o banco Digital Next e pretende fechar 2019 com 1,5 milhões de clientes, conforme Campos e Moreira (2019). Além disso, o Bradesco está investindo pesado em tecnologia, através de um ambiente de comunicação gerido por Inteligência Artificial denominado de BIA (BRADESCO,

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2019). Esse ambiente que foi inicialmente utilizado com os funcionários do banco agora possui uma versão para os clientes e, ultrapassou em 2019, a marca de 87 milhões de interações (DECISION REPORT, 2019).

O banco Itaú, por sua vez, criou um ambiente de incubação do empreendedorismo tecnológico, onde o mesmo procura proporciona um espaço físico e virtual para o desenvolvimento de startups. Nesse mesmo espaço, o Itaú busca aprender com os empreendedores (CUBO, 2019).

Já o Santander, em 2019, anunciou investimento na fintech inglesa Nivaura, que atua no mercado de criptomoedas (SANTANDER, 2019). Outro investimento do Santander, segundo Fonseca (2019), foi na fintech Creditas, plataforma online que disponibiliza crédito através da alienação de imóveis e veículos.

O setor do cooperativismo de crédito também está atento a evolução do mercado tecnológico financeiro. A Agência Brasil (2018) noticiou a ideia de parcerias entre o Sicoob e fintechs. De acordo com a página, o Sicoob vê as parcerias com as fintechs como uma forma de alavancar a participação do sistema cooperativo no mercado financeiro. O Sicoob busca uma solução através da tecnologia para atuar no mercado de câmbio, onde poderá atuar a partir da liberação do Banco Central. Outras áreas pretendidas pelo Sicoob são a de simulação e contratação de crédito consignado e o fechamento de parcerias nas funcionalidades de pagamento. Além disso, conforme Sicoob (2019), a cooperativa disponibiliza diversas soluções financeiras digitais através de suas plataformas e possui uma modalidade de conta totalmente digital: o Yoou (YOOU, 2019).

A cooperativa Sicredi por sua vez também possui uma conta cem por cento digital, o Woop (WOOP, 2019).

A Sicredi iniciou o projeto Inovar Juntos em 2019, onde irá incubar cinco startups. O projeto foi lançado em 2018 e em 2019 foram selecionadas os cinco projetos participantes. Os projetos englobam um sistema de atendimento gerido por inteligência artificial; rede social de comunicação interna e de engajamento com o público; plataforma de ensino baseada em games; análise de imagens para automação de processos; e, plataforma de controle de despesas de viagem e de faturas (STARTSE, 2019). Pandolfo (2018) informa que o Sicredi pretende investir cerca de 700 milhões no período de 7 anos, a partir de 2008, na substituição de sua atual tecnologia.

A interação entre as cooperativas de crédito e as fintechs pode ser catalisada por um motivo: a semelhança nos princípios. Palomo-Zurdo (2017) compara os fundamentos básicos das cooperativas de créditos as das fintechs. Segundo o autor, ambas procuram atender necessidades financeiras de pessoas que sofrem exclusão financeira. Tal afirmação é embasada, principalmente,

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no fato de que ambos buscam ofertas serviços financeiros a custos mais baixos. As diferenças entre ambas iniciam no alcance territorial (PALOMO-ZURDO, 2017) e na busca por lucros.

3. METODOLOGIA

O presente estudo buscou analisar as Fintechs, bem como sua relação com a Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária (Cresol), perante a visão de seus atuais gestores. O estudo foi conduzido por meio de uma análise de conteúdo. Vergara (2008, p.15) define a análise de conteúdo como “uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”.

A pesquisa foi realizada de forma exploratória, buscando aperfeiçoar os conhecimentos sobre a situação das fintechs no sistema financeiro e a comparar com a visão dos gestores da Cresol (um diretor de unidade, três diretores a nível de central e um diretor a nível de confederação). Conforme Gil (2002, p. 41) a pesquisa exploratória “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”.

Já no que diz respeito a coleta de dados, a mesma foi efetuada através da pesquisa bibliográfica e do estudo de campo.

A pesquisa bibliográfica foi realiza com o propósito de levantar os conceitos necessários e tomar como base alguns estudos já efetivados sobre fintechs. Gil (2002, p. 44) caracteriza a pesquisa bibliográfica por ser “desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.

Já o estudo de campo, efetuado através de entrevista semiestruturada, possibilitou identificar o posicionamento dos gestores da Cresol perante o objeto de estudo. Vergara (2008, p. 17) afirma que na pesquisa de campo “a coleta geralmente ocorre por meio da realização de entrevistas abertas ou semi-estruturadas ou da aplicação de questionários abertos”.

A coleta de dados se deu, também, através da observação participante do autor. Gil (2002) define que a observação participante ocorre quando o entrevistador é membro do grupo entrevistado, sendo que no caso, o autor é colaborador do sistema Cresol.

Na análise das informações foi utilizada uma grade mista, onde algumas categorias foram pré-definidas e outras foram inseridas no decorrer do estudo. Para Vergara (2002, p. 17), no modelo de grade mista “definem-se preliminarmente as categorias pertinentes ao objetivo da pesquisa,

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porém admite-se a inclusão de categorias surgidas durante o processo de análise”.

Para embasar o presente estudo foi aplicada uma entrevista com Diretores da Cresol. Os Diretores entrevistados ocupam cargos a nível Singular, Central e Confederação. Foram entrevistados ao todo cinco Diretores, sendo que a distribuição entre os níveis é a seguinte: um Diretor de Singular, três Diretores de Central e um Diretor de Confederação.

As entrevistas ocorreram de duas formas: via ligação telefônica gravada e por troca de e-mails. Do total, oitenta por cento das entrevistas foram realizadas por meio ligação telefônica e vinte por cento através de troca de e-mail. Nas ligações telefônicas, os entrevistados foram convidados a responder as questões e foi solicitada autorização para gravar a conversa. Após, cada entrevistado se identificou, declarando o tempo de cooperativa, cargo e formação.

Na entrevista realizada por meio de correio eletrônico, foi encaminhado e-mail contendo as questões, sendo que as respostas retornaram através de outro e-mail. Esta entrevista foi realizada por meio deste canal em função da agenda do entrevistado.

As perguntas foram elaboradas sob a ótica da estratégia da Cresol, frente ao atual movimento das fintechs no mercado financeiro.

As questões utilizadas no questionário são as seguintes:

a) O que o(a) senhor(a) entende ou conhece sobre fintechs?

b) No seu entender, porque as fintechs surgiram e qual o motivo de seu crescimento mais exponencial nos últimos anos?

c) Qual o impacto das fintechs no sistema financeiro geral e no cooperativista?

d) Qual o impacto das fintechs no sistema Cresol? O que muda no planejamento a longo prazo da Cresol (5 a 10 anos), em virtude destes impactos?

e) Um estudo realizado por Haddad e Hornuf (2016) nas principais fintechs daquele ano, dos EUA e da Europa, apresentou algumas tendências deste setor. Alguns fatores impulsionam o surgimento de fintechs: disponibilidade de tecnologia, crescimento do PIB e crise financeira de um país. Levando em consideração de que o Brasil apresenta menor disponibilidade de tecnologia, um crescimento modesto do PIB e que está envolvido em uma crise financeira, pode-se supor que haverá um crescimento mais exponencial das fintechs nos próximos anos. Se for esse o caso, a Cresol está preparada caso aumente a concorrência desse setor? O que deve ser feito a curto prazo para manter a competividade?

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solidez das instituições financeiras e o aumento do número de agências físicas desacelera o crescimento das fintechs. Como a Cresol pode aumentar a sua solidez? Qual o plano de crescimento geográfico da Cresol onde o(a) senhor(a) atua?

g) Alguns bancos e cooperativas estão investindo alto para apresentar soluções financeiras tecnológicas que satisfaçam as necessidades de seus clientes/associados. Um exemplo próximo é a cooperativa Sicredi que, conforme Pandolfo (2018), planeja investir 700 milhões na atualização de sua gama tecnológica (no prazo de 7 anos). O senhor(a) acredita que a Cresol terá porte para investir da mesma forma? O senhor(a) acredita que a Cresol deva investir altos valores de capital em tecnologia?

h) Outra alternativa encontrada pelas instituições financeiras é o fechamento de parcerias com fintechs já consolidadas ou com fintechs em estágio inicial (startups). Essa alternativa tende a ser mais barata, mas normalmente se trata de uma aposta mais arriscada. A Cresol tem a possibilidade de fechar parcerias com fintechs em estágio inicial? Qual a sua visão perante esta alternativa?

i) Seguindo na lógica da pergunta anterior, em um estudo publicado por Palomo-Zurdo (2017) na Espanha, o autor compara as fintechs com as cooperativas de crédito. Segundo Palomo-Zurdo, as fintechs, a exemplo das cooperativas de crédito, iniciaram com o intuito de atender necessidades financeiras de pessoas que sofrem com a exclusão financeira. Essa afirmativa é reforçada pelo fato que as fintechs disponibilizam produtos financeiros normalmente mais baratos que os encontrados nas instituições tradicionais. O que o(a) senhor(a) considera desta afirmação de Palomo-Zurdo?

j) A Cresol, como as demais cooperativas de crédito, se caracteriza pelo relacionamento com o associado. Esse relacionamento é o que normalmente fortalece o associado e, consequentemente, a própria cooperativa. O relacionamento é mantido principalmente pela comunicação direta e física com o associado. Com a disponibilidade de diversos serviços financeiros por meio da tecnologia, as pessoas tendem a não ir para as agências para realizar suas demandas financeiras. Isso diminui a possibilidade de contato com estas pessoas. Como a Cresol planeja prospectar e manter os novos associados, que são caracterizados pelo uso massivo de tecnologia?

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A partir das entrevistas com diretores e das perguntas a, b, c e d foi possível delimitar o conhecimento dos entrevistados perante o tema de pesquisa. A partir destes questionamentos, aliados a referência bibliográfica, foram presumidas algumas ações que irão auxiliar na compreensão dos efeitos das fintechs junto ao sistema Cresol.

Os questionamentos e e f foram fundamentados pelo estudo de Haddad e Hornuf (2016) e tiveram a intenção de instigar os Diretores perante situações pré-definidas. Por meio destas indagações foi possível compreender o plano de ação da Cresol perante a consolidação das fintechs no sistema financeiro brasileiro.

Já as questões g e h apresentam pequenas soluções perante o objeto de estudo e procuram captar o posicionamento dos Diretores perante estas soluções. Estas soluções foram abstraídas de ações realizadas por outras instituições financeiras, algumas citadas no referencial teórico.

A pergunta i buscou captar o posicionamento ideológico dos entrevistados e, ainda, se esse posicionamento afeta na visão sobre as fintechs.

Por último, com a questão j almejou-se instigar os entrevistados perante uma problematização futura.

Com as entrevistas coletadas, foi necessário analisar as respostas de cada entrevistado e categorizar as mesmas. Algumas categorias foram pré-definidas, geradas de acordo com o embasamento teórico.

Inicialmente perguntou-se o entendimento dos entrevistados sobre as fintechs. Uma pequena parcela dos entrevistados entende as fintechs como um novo modelo tecnológico que possibilita novos canais de comunicação para realização de transações financeiras. Esta é uma interpretação mais aberta e que visualiza as fintechs como uma ferramenta ou um propulsor de novos negócios.

Segue trecho da entrevista que se enquadra na visão mais aberta, como citado acima: “Entendo como um novo modelo tecnológico na qual por meio de canais digitais nos permite estabelecer diferentes formas de relacionamento entre cliente e banco ou entre cooperado e cooperativa. Trata-se de um novo fenômeno que surge dentro desta revolução tecnológica na qual busca-se agilizar e simplificar o processo de liberação de crédito utilizando-se totalmente dos canais digitais”. Essa definição aceita como real as mudanças incitadas pelas fintechs e está em consonância com as definições de Dhar e Stein (2016).

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financeiros desenvolvido e que almeja um público específico: o público mais jovem, que não quer ser “bancarizado” ou que evita o relacionamento financeiro pelo meio físico. Por mais que, conforme Marcon (2018), as fintechs atualmente tenham atuado em nichos específicos, esta visão pode ser considerada mais estreita. Isso porque a mesma pode camuflar os benefícios que uma fintech tende a trazer para os demais públicos, como a agilidade, a especialização e a simplicidade, conforme Marcon (2018).

Marcon (2018) também classificou o perfil dos clientes como um item intermediário na diferenciação entre as fintechs e os bancos. Ou seja, não é o ponto principal de contraste. Essa diferenciação não pode ser totalmente aplicada às cooperativas de crédito, que podem ter um perfil mais delineado, conforme a sua origem e foco.

Também foi apresentado um ponto de vista mais pessimista ou negativo sobre as fintechs: “são iniciativas privadas que vem, de certa forma, entrando bem agressivas no mercado, porém sem compromisso nenhum tanto com o associado bem como com a sociedade; e não tem, em muitos casos endereço fixo, [...] sem o comprometimento [...]”. Claro que, pelo tempo de atuação e pela solidez, as cooperativas passam mais credibilidade do que as novas fintechs, sem mencionar o foco lucrativo das destas startups. Porém, tal definição pode ser classificada como fechada e tende a repelir a ideia de inovação por meio das fintechs.

Foram definidas algumas categorias ou possibilidades de respostas antes da realização das entrevistas. Uma das categorias previa que os “entrevistados entendem por fintechs somente as soluções financeiras diretas ao cliente”; do total de entrevistas, 60% podem ser enquadradas nessa categoria.

Outra categoria pré-definida é de que os “entrevistados entendem as fintechs como uma gama completa de produtos tecnológicos, os quais podem, por exemplo, otimizar processos internos das instituições financeiras”. Apenas dez por cento dos entrevistados apresentaram respostas que se enquadram nessa definição.

Por último, foi levantada a possibilidade de que “entrevistados possuem conhecimento vago sobre fintechs”. Dez por cento dos entrevistados admitiram e apresentaram definições que comprovam que possuem um conhecimento mais impreciso sobre o tema deste estudo.

Outro ponto a ser observado são as declarações de que as fintechs surgiram nos últimos anos, de que são recentes. Por mais que o termo tenha sido utilizado com mais frequência a partir da criação da FinTech Innovation Lab New York, iniciativa da Accenture e da Partnership Fund for

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New York City (Accenture, 2019), o sentido da palavra pode ser aplicado a diversas iniciativas de muitos anos atrás, conforme Rubini (2017).

Passando para o questionamento sobre o porquê das fintechs surgirem e emergirem nos últimos anos, os entrevistados ressaltaram que a origem das fintechs se deve à uma oportunidade de mercado. Essa percepção é importante, se olharmos o modelo de negócio original proposto pelas fintechs, que buscava uma população com um perfil mais definido. Katori (2017) destaca que as fintechs exploraram inicialmente um público relegado pelas instituições financeiras. A oportunidade de mercado é refletida tanto no espaço disponível para atuação quanto na rentabilidade deste setor, conforme os entrevistados.

A disponibilidade e o avanço da tecnologia foram citados com maior frequência para justificar a emergência das fintechs nos últimos anos. Tal afirmação pode ser percebida no seguinte trecho de entrevista, onde o entrevistado visualiza o surgimento e o crescimento das fintechs “através desse objetivo que eles (fintechs) têm, desse público (jovem) e através da disponibilidade da tecnologia[...]”. Haddad e Hornuf (2016) caracterizam em sua pesquisa o a disponibilidade de tecnologia como um fator impulsionador de fintechs.

Nesse questionamento também foi citada a necessidade do público mais jovem e que não deseja ser “bancarizado” como um catalisador das soluções financeiras tecnológicas, a exemplo do que aconteceu quando os entrevistados explicaram o seu entendimento sobre fintechs.

A agilidade e a simplicidade também foram creditadas como impulsionadoras das fintechs, a exemplo do que foi afirmado por Marcon (2018).

Um ponto interessante que surgiu neste questionamento é a capacidade de produzir produtos com foco, especializados. Segundo o entrevistado, a especialização permite desenvolver um produto com mais qualidade. Outro entrevistado cita também a capacidade das fintechs operarem com taxas menores. Marcon (2018) interliga o fato de que as fintechs trabalharem de forma padronizada, especialista, ao fato de serem mais competitivas.

Ao elaborar a indagação sobre o surgimento e a expansão das fintechs, previu-se três cenários possíveis de respostas. O primeiro cenário aludia a existência de um grupo de pessoas sem acesso a produtos financeiro como responsável pelo surgimento das fintechs. Algumas respostas foram contundentes com esse aspecto e uma das entrevistas apenas deu a entender, sem ser muito precisa.

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O segundo cenário previa a necessidade de produtos e serviços financeiros menos onerosos como possível resposta. Porém, nenhuma das respostas contemplou este cenário. É provável que essa justificativa não tenha sido notada em função de que as cooperativas de crédito normalmente praticam taxas mais acessíveis. Mas, ao comparar com bancos tradicionais, as fintechs apresentam soluções menos onerosas. Um exemplo disso é o cartão de crédito internacional da fintech Nubank (NUBANK, 2019), que possui uma bandeira com grande abrangência e tem custo zero para o cliente. A mesma situação dificilmente é encontrada em um banco tradicional.

O terceiro questionamento procurou captar dos entrevistados a percepção do impacto das fintechs no sistema financeiro geral e no sistema cooperativista. Quanto ao âmbito do sistema financeiro geral, um entrevistado afirmou que: no mercado financeiro tradicional, os bancos, essas fintechs não causaram tanto estrago, tanto impacto negativo, até porque grande parte dos bancos ou criaram sua própria fintech pra poder ter um produto mais barato, para atender um público que não quer nem ser cliente, ou eles (bancos) contrataram serviços destas fintechs [...].

Essa afirmação foi semelhante a opinião de um segundo entrevistado, que visualiza impacto somente nas instituições que não fizerem investimento em tecnologia. A referida entrevista sugere também que impacto pode não ser a definição mais específica para o efeito promovido pelas fintechs. A mesma entrevista credita às fintechs uma mudança de paradigmas no mercado financeiro.

As demais opiniões acreditam que as fintechs possam aumentar a concorrência no mercado financeiro. Porém, foi comum ouvir que ainda é cedo para definir o real impacto das fintechs no mercado financeiro. Tal cautela é válida se forem analisadas as hipóteses do trabalho de Haddad e Hornuf (2016), onde é afirmado que países em menor desenvolvimento possuem um crescimento de fintechs mais brando. Ou seja, o movimento da tecnologia financeira ainda está no início no Brasil.

Outro ponto relatado é de que as fintechs poderão acelerar o desenvolvimento tecnológico do mercado financeiro. Rubini (2017) evidencia esse desenvolvimento através da história e a verticalização do mesmo nos últimos anos.

A maioria dos entrevistados afirma que o impacto das fintechs frente às cooperativas de crédito pode ser menor do que nos restante do sistema. Isso devido ao público atendido pelas cooperativas necessitar de um maior relacionamento e proximidade, conforme abordado por Scaravonatto (2018).

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cooperativismo de crédito.

Por último, um entrevistado relatou uma preocupação quanto a possibilidade das fintechs criarem um “mercado negro financeiro”. Essa preocupação pode ter sido fundamentada pela recente utilização de moedas virtuais para lavagem de dinheiro, como noticiado por Waltrick (2018). Para tanto, se faz necessário uma atualização da legislação vigente e um monitoramento mais eficiente dos órgãos competentes.

Para a terceira questão foram levantadas três possibilidades de respostas: que as fintechs já estão revolucionando a estrutura do mercado financeiro, que as fintechs irão revolucionar a estrutura do mercado financeiro e que as mudanças proporcionadas pelas fintechs na estrutura do mercado financeiro serão/são menores do que a expectativa gerada.

Todas as respostas podem ser enquadradas na segunda possibilidade, que prevê uma futura reestruturação do mercado financeiro. Ou seja, os entrevistados entendem que as mudanças ainda não são perceptíveis. Na mesma lógica, vinte por cento dos entrevistados deixam transparecer que as mudanças do mercado financeiro estão sendo menores do que o previsto.

O questionamento seguinte indagou sobre o impacto das fintechs no sistema Cresol e o que isso afeta no planejamento a longo prazo da cooperativa.

A maioria dos relatos abordou a necessidade de desenvolver os produtos e a tecnologia da Cresol. Duas respostas citaram a necessidade de fechar parcerias com fintechs para sanar as demandas tecnológicas da cooperativa. Inclusive, um trecho indica a consolidação de um estudo mais aprofundado neste sentido: “atualmente estamos enquanto Cresol Confederação aprofundando os estudos em vista de firmar parcerias com fintechs que possam atuar junto ao nosso quadro social mantendo nossos fundamentos cooperativistas porém disponibilizando destes mecanismos tecnológicos”.

A mudança de curso sugerida nestas declarações está em consonância com o que outras instituições financeiras já vem praticando. E o estudo de viabilidade vem de encontro com a preocupação da cooperativa com a destinação dos recursos de seus associados.

Outro ponto de intersecção das respostas é a necessidade de manter os princípios e as características cooperativistas, mesmo com a disponibilidade de serviços financeiros mais tecnológicos. Um entrevistado sugere um novo modelo de negócio, conforme trecho: “nós teríamos que ser ‘fisital’, é o digital com a presença física das pessoas [...] não podemos deixar somente as

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máquinas falando com as pessoas. No nosso planejamento estratégico 2016/2020 um dos principais pilares é a proximidade [...]”.

Essa visão de disponibilizar os serviços tecnológicos que possam beneficiar os associados com agilidade e facilidade, mas mantendo a proximidade e o engajamento, pode ser considerado o ideal de uma cooperativa de crédito na inserção das tecnologias financeiras. O desafio é como traduzir isto em algoritmos e ações.

No âmbito do impacto no planejamento da Cresol, foi previsto que os entrevistados elencassem a necessidade de um estudo de viabilidade para inserção no mercado financeiro tecnológico. Apenas uma resposta relacionou essa possibilidade, citando como algo já presente na cooperativa. O estudo mais aprofundado é muito importante para definir em que ponto ou época o perfil do associado pode tangenciar com o perfil dos clientes de fintechs ou para definir o quanto as soluções tecnológicas podem beneficiar o atual público alvo da Cresol.

A quinta indagação da pesquisa foi embasada no estudo realizado por Haddad e Hornuf (2016) e fez uma suposição a partir deste. Levando em conta algumas predisposições para o surgimento das fintechs (HADDAD; HORNUF, 2016) e a atual situação do Brasil, é cabível supor que os próximos anos apresentem um crescimento exponencial de soluções financeiras tecnológicas.

Neste caso, os depoimentos apresentaram algumas divergências. Algumas respostas indicavam que a cooperativa passaria por dificuldades na hipótese levantada pela indagação. Já outras citam que a cooperativa não passaria por dificuldades em função do público alvo e pelo estilo de trabalho da Cresol.

Outra concordância encontrada nas entrevistas é de que a cooperativa vêm se preparando aos poucos e que, a curto prazo, necessita estudar e entender melhor a situação. O depoimento a seguir contextualiza esse ponto de vista: “o que fazer a curto prazo? Eu acredito que seria fazer um estudo visualizando quais os pontos, digamos, que nós hoje teríamos maior dificuldade nessa concorrência”. Esse depoimento apresenta o estudo dos pontos fracos da Cresol perante as fintechs, com o intuito de projetar ações para minimizá-los. Entender os pontos de melhoria por parte da tecnologia da Cresol foi um aspecto bastante ressaltado.

Haddad e Hornuf (2016) também apresentaram aspectos onde ocorre uma desaceleração no aumento das fintechs: a solidez das instituições financeiras e a o aumento de agências físicas. Perguntados sobre como é possível aumentar a solidez do sistema Cresol, a maioria dos

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entrevistados citou a boa gestão resultando em sobras no final dos exercícios e a aplicação destas sobras em favor dos associados.

Ainda foi citada a qualificação dos produtos e serviços e da estrutura tecnológica. Aliado a isto, a manutenção dos princípios cooperativistas e da proximidade com o associado, foi uma resposta recorrente.

“Aumentar nossa solidez passa necessariamente pela qualificação dos nossos produtos e serviços e na estrutura tecnológica. Junto disso devemos estar de forma permanente interagindo com os nossos cooperados primando pela proximidade. Devemos garantir um processo de interação da cooperativa com as suas comunidades. Nos últimos anos temos crescido na casa de 20% a.a. e deste modo crescemos em nossos indicadores e consequentemente na nossa área geográfica ressaltando que em nosso planejamento estratégico está a continuidade da expansão”.

A solidez de uma cooperativa de crédito torna-se imprescindível para trazer à tona o sentimento de confiança do associado e da sociedade como um todo. A partir do momento em que o associado sente confiança na cooperativa de crédito, fica mais difícil uma ação da concorrência surtir efeito.

Foi possível perceber no relato de um entrevistado que a solidez da Cresol passa também pela formação e qualificação dos diretores e colaboradores. Está afirmação pode ser conectada com os depoimentos anteriores: qualificação dos produtos e serviços e boa gestão do resultado dos exercícios. Afinal, tanto a entrega de qualidade dos produtos e serviços quanto a boa administração de resultados passa por estas pessoas.

Quanto à expansão de agências físicas, os entrevistados informaram que foi retomado o processo de abertura de unidades. O processo de crescimento geográfico vem sendo fortificado principalmente em 2019, onde há uma perspectiva de abertura de uma unidade por mês.

Esse processo é muito importante para manter a proximidade e o atendimento personalizado com a associado.

No âmbito da ampliação do número de agências surgiu novamente a perspectiva de atuar com agências físicas e virtuais de forma concomitante. Vale ressaltar que a resposta partiu de entrevistado diferente daquele que havia mencionado na primeira vez. O entrevistado citou também que o crescimento de agências físicas deve passar por avaliação de viabilidade. Outra proposta deste entrevistado é de que funções possam ser concentradas em centros estratégicos.

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tornar a cooperativa mais competitiva frente as opções dos bancos tradicionais e das fintechs.

Após, foi questionado aos entrevistados sobre a capacidade de investimento da Cresol em tecnologia, bem como do seu objetivo em investir nesse setor. Essa indagação vem fundamentada nos investimentos recentes das demais instituições financeiras, como resposta ao movimento inicial das fintechs.

A compreensão mais presente nas respostas dos entrevistados é de que o investimento em tecnologia deva ser um processo presente e contínuo. Quanto ao porte dos investimentos foi comum ouvir que o mesmo deve ser feito sem pôr em risco o capital dos cooperados e de que não deveria ser no mesmo nível das instituições financeiras maiores. O trecho a seguir exemplifica isso: “o sistema Cresol não pode ficar para trás, tem que fazer os investimentos em tecnologia, mas sempre medindo assim: se vou implementar esse determinado produto ou esse determinado serviço financeiro, tem que ver se cabe no bolso dos cooperados”.

A maioria dos entrevistados cita que deve haver um equilíbrio entre o investimento em tecnologia e o investimento em relacionamento. Houve também relato afirmando que o investimento deve ser maior nas pessoas, no relacionamento. Ou seja, que deve ser na contramão das maiores instituições.

A visão de que o investimento deve ser maior nas pessoas não deixa de ser uma estratégia válida. O único cuidado que deve se tomar é não deixar a tecnologia relegada a ponto da mesma não estar dentro do mínimo exigido pelos cooperados.

Em contraponto ao investimento em tecnologia há a possibilidade do fechamento de parcerias com fintechs. A parceria tem duas opções: com fintechs consolidadas ou com fintechs em estágio inicial (startups).

Questionados quantos a estas possibilidades, nenhuma dos entrevistados rejeitou a adesão de parcerias com fntechs. A maioria dos depoimentos na verdade pende para a possibilidade de cooperação com fintechs.

No que diz respeito ao trabalho com fintechs consolidadas ou com startups, os entrevistados apoiam o convênio com empresas já estabilizadas, principalmente devido ao comprometimento do capital dos cooperados com riscos menores.

Porém, o trabalho com startups deve ser considerado, pois podem surgir soluções inovadoras e baratas nestes casos. Além do mais, a própria troca de experiências pode contribuir

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para o crescimento da cooperativa, a exemplo do que ocorre com o Itaú (CUBO, 2019). E um projeto com fintechs em estágio inicial colabora com o papel da cooperativa de auxiliar no desenvolvimento da sociedade.

Vale ressaltar que algumas respostas apresentaram uma tendência de colaboração “intercooperativa”. Ou seja, uma união entre diferentes cooperativas de créditos (Sicredi, Sicoob, Ailos, etc) para centralizarem soluções comuns. Nesse formato, a parceria com fintechs poderia ser firmada em nome de mais cooperativas de crédito. É uma solução que pode reduzir custos de forma expressiva, além de fortalecer o sistema cooperativista como um todo.

Seguindo com as indagações, foi apresentado aos entrevistados o ponto de vista de Palomo-Zurdo (2017), que credita semelhanças nas origens das cooperativas de crédito e das fintechs. Todos os entrevistados concordaram com a afirmação.

Porém, a concordância com a afirmação se deu parcialmente, devido ao objetivo entre as comparadas. As cooperativas de crédito surgiram através da necessidade de acesso ao crédito por pessoal excluídas financeiramente, conforme Santos (2005) apud Michels (2017). Da mesma forma, para Palomo-Zurdo (2017), as fintechs perceberam um público que não era almejado pelas instituições financeiras. O que muda é que as cooperativas surgiram somente para cumprir o seu propósito com os cooperados e com a sociedade. Já as fintechs, na sua maioria, apresentam um olhar lucrativo sobre o público alvo.

A última pergunta abordou a tendência das pessoas utilizarem mais a tecnologia para realizar suas transações financeiras. Com isso, as pessoas tendem a ir menos nas agências físicas, diminuindo o contato com as instituições financeiras físicas (PANDOLFO, 2018). Como o contato é o principal meio de relacionamento das cooperativas, a proximidade com o associado fica comprometida. Para tanto, os entrevistados procuraram apresentar soluções para prospectar o público que é caracterizado pelo uso massivo de tecnologia.

Sendo assim, a principal vertente apresentada no depoimentos a da prospecção a campo. Ou seja, os colaboradores da Cresol devem buscar os novos sócios por meio de visitas e do relacionamento tradicional. Fica a indagação quanto a efetividade disto, em vista de que essas pessoas tendem a priorizar a agilidade e simplicidade em detrimento do relacionamento, como foi citado em trechos de respostas de perguntas anteriores.

Cabe ressaltar que novamente é citada a opção da Cresol ofertar produtos digitais acrescidos de um relacionamento mais estreito com o associado:

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“Entendemos que um dos fatores de sucesso para o Sistema Cresol no próximo

período será de equilibrar “máquina com gente”. Sabemos dos desafios envoltos neste processo, mas pela nossa história e forma de relacionamento com os cooperados nos dá condições de buscar alternativas tecnológicas para os associados porém garantindo nossa proximidade primando pela dimensão afetiva da nossa cooperativa”.

No total foram três entrevistados que mencionaram esta possiblidade, em momentos distintos. Essa pode ser uma ação interessante como resposta ao movimento das fintechs. Disponibilizar serviços digitais completos, com agilidade e praticidade, porém possibilitar o atendimento personalizado através de outros canais. Além de disponibilizar esse atendimento humanizado, incentivá-lo. O atendimento com mais proximidade deve ser promovido ao usuário digital como um direito e um grande benefício.

Os entrevistados muitas vezes relataram que os impactos das fintechs é menor na Cresol em função do perfil do associado da cooperativa. Essa observação atualmente é verdadeira, pois o agricultor, que compreende a maioria dos associados da Cresol, normalmente apresenta certa resistência ao uso de serviços financeiros tecnológicos. Porém, como Demirgüç-Kunt et al (2018) sustenta, a agricultura apresenta um campo vasto de trabalho para as fintechs e as mesmas já estão atentas para este setor.

Ou seja, fica o questionamento de até quando o público alvo da cooperativa vai ser resistente ao uso da tecnologia na sua movimentação financeira.

5. Considerações Finais (Conclusões):

As fintechs emergiram no mercado financeiro buscando atender um público que muitas vezes pelas instituições financeiras. E esse público era exigente quanto a uma agilidade e praticidade que as instituições financeiras não conseguiam ou pouco ser esforçavam para conseguir ofertar. Observando esse hiato no mercado financeiro, empreendedores produziram e ofertaram produtos financeiros digitais que atendiam a demanda.

Como o processo de produção e disponibilização dos produtos ou serviços financeiros das fintechs se dá pelo meio tecnológico, as estruturas e equipes de trabalho destas inclinam-se a ser mais enxutas e, consequentemente, menos onerosas. Um produto menos oneroso possibilita disponibilizá-lo de forma mais acessível ao consumidor final. Ou seja, além de prestar um serviços

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financeiro mais ágil e menos burocrático do que o ofertado pelas instituições financeiras, as fintechs ainda podem fazê-lo por um custo menor.

Com esse cenário, em pouco tempo, as fintechs credenciaram-se a serem fortes concorrentes no mercado financeiro. Para minimizar os efeitos dessa conjuntura, as principais instituições financeiras iniciaram um movimento de elevação dos investimentos em tecnologia, além de fechar parcerias com fintechs.

A exemplo das demais cooperativas de crédito, a Cresol possui um público (quadro social) mais específico. Como o quadro social da Cresol é formado, na sua grande maioria, por agricultores familiares e pequenos empresários, os efeitos do movimentos das fintechs demorou para ser perceptível. Essa demora é devida ao perfil do quadro social da Cresol, que carece ainda de um relacionamento mais próximo com a instituição financeira, apresentando até um pouco de resistência e desconfiança para com soluções financeiras digitais.

Porém, os benefícios dos recursos financeiros eletrônicos começaram a chamar a atenção dos associados da Cresol. Tal situação é agravada pela dificuldade de comprometer o público mais jovem com a causa cooperativista, pois exige um mínimo de tecnologia no portfólio de uma instituição financeira.

Através deste ponto, buscou-se agregar conhecimento sobre as fintechs, comparando com a visão de cinco dirigentes da Cooperativa. A partir desta análise, foi possível evidenciar que a Cooperativa Cresol precisa avançar na tecnologia ofertada, seja para prospectar novos associados, seja para manter um serviço prático e ágil para seus atuais associados.

A partir dos depoimentos dos entrevistados, foi possível notar um certo temor de que, com a possibilidade de expandir os recursos tecnológicos da Cresol, poderia haver uma ruptura com a proximidade da cooperativa com os associados. Há um temor de que a “máquina” assuma os processos decisórios e que com isso a Cresol esqueça dos sonhos e projetos dos associados. É preciso ter em mente que para investir em serviços financeiros tecnológicos não é necessário abrir mão do processo decisório.

Uma analogia que pode exemplificar isso é a realização dos tratos culturais em uma lavoura. Quando uma propriedade não dispõe de um trator, o serviço é realizado manualmente, permitindo ao agricultor um contato maior com a sua terra. Ao comprar um trator, ele não perde esse contato, pois o trator se trata apenas de uma ferramenta: ainda é necessário que o agricultor dirija esse trator. Mas e se colocar um piloto automático guiado por GPS no trator, o agricultor perde o contato com a

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sua propriedade? Não, ele precisa monitorar ela da mesma forma. O monitoramento vai ocorrer de forma presencial ou através de outras ferramentas. Mas ainda é uma pessoa que vai programar o GPS e os demais implementos: ou o agricultor ou alguém instruído por ele.

Portanto, é necessário que esteja alinhado, a nível estratégico, que as fintechs estão propondo um novo modelo de comunicação para transmissão de soluções financeiras, que traz benefícios e desafios. Através da tecnologia, é possível reduzir os custos, ser mais competitivo e dispor serviços com agilidade e simplicidade para o associado (a fim de otimizar o tempo do mesmo). Porém, os serviços tecnológicos devem contar com suporte e controle humanizado, que possibilite uma proximidade maior da cooperativa para com o associado.

Pode-se dizer também que, ao relegar serviços financeiros digitais aos associados por decisão da cooperativa, a mesma pode estar, de certa forma, promovendo uma exclusão digital dos seus associados.

Também notou-se pouca tendência da cooperativa em atuar com fintechs em estágio inicial. A atuação com startups, por mais de que seja um processo mais arriscado, pode deixar o projeto com os moldes que a cooperativa deseja. Ou seja, a cooperativa vai pode embutir os fundamentos do cooperativismo na startup.

Em função do investimento necessário, fica como contribuição a sugestão de parceria com uma fintech. Essa parceria deve proporcionar ao associado os benefícios citados, bem como respeitar os princípios e fundamentos do cooperativismo.

Outro ponto observado nas entrevistas é o consenso de que os serviços tecnológicos ao associado da Cresol precisam melhorar. Quanto a isso, fica como recomendação que os serviços mínimos ao associado sejam disponibilizados dentro de um curto período de tempo. Pode ser desenvolvida uma pesquisa para entender o que o associado entende como essencial, quanto às ferramentas financeiras tecnológicas, a fim de otimizar esse processo.

No âmbito de adentrar no mercado digital, sugiro para a Cresol o estudo da criação de dois perfis de associados: “associados digitais” e “associados físicos”. O universo dos “associados digitais” pode ser definido como uma porta de entrada para a cooperativa para aquelas pessoas que tendem a utilizar mais os meios digitais. Através deste universo, a Cresol poderia disponibilizar os produtos financeiros ágeis e práticos, além de incentivos ao “associado virtual” em se tornar um “associado físico”. Esse estudo poderia considerar o “encarteiramento” dos associados virtuais. Ou seja, por mais que o associado tenha o relacionamento de forma virtual, ele ainda poderia ter um

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gerente ou atendente personalizado. Essa pessoa ou essas pessoas poderiam manter a proximidade através de outros canais de comunicação, como ligações telefônicas e contatos de vídeo.

Dessa forma, a cooperativa poderia manter um mínimo de soluções financeiras digitais, beneficiando o associado com incremento de agilidade e praticidade nos processos financeiros. E, ao mesmo tempo, possibilita que o usuário de serviços digitais conheça e usufrua dos direitos e deveres de uma cooperativa de crédito. Além disso, uma plataforma digital fortemente apoiada pelo relacionamento humanizado pode auxiliar na prospecção do jovens, na educação cooperativista destes e na manutenção da sucessão e renovação do quadro social da Cresol. Sendo que a renovação do quadro social é um passo importante para a sustentabilidade de uma cooperativa ao longo dos anos.

Como a maioria dos associados são agricultores e os mais atingidos pelas fintechs são os jovens, sugiro como estudo futuro a análise do perfil dos jovens agricultores e dos filhos dos agricultores associados da Cresol. Este estudo poderia analisar o perfil de uso dos serviços financeiros e auxiliar os gestores na definição de quão digital a Cresol pretende ser.

A partir do estudo realizado, fica como sugestão o desenvolvimento de um estudo comparativo entre as faixas etárias dos associados ativos na Cresol e a faixa etária com inserção nas fintechs. O resultado entre a diferença destas faixas etárias pode definir quanto tempo a cooperativa ainda tem até que seus sócios ativos sejam os mais almejados pelas fintechs.

Este trabalho buscou compreender o movimento financeiro provocado pelas fintechs e compará-la com a visão dos gestores, porém contêm algumas limitações. Como não foi possível entrevistar todos os diretores da Cresol, as respostas podem não englobar todos os pontos de vista desse público. Não foram consideradas as formações acadêmicas, o tempo de atuação na Cresol e o cargo ocupado dentro do nível estratégico da cooperativa no teor das respostas.

6. Referências Bibliográficas (citadas no corpo do artigo):

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Referências

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