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AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE AUTODEPURAÇÃO EM CURSO D ÁGUA UTILIZANDO MODELO MATEMÁTICO: estudo de caso do ribeirão Maringá, PR.

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AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE AUTODEPURAÇÃO EM CURSO

D’ÁGUA UTILIZANDO MODELO MATEMÁTICO: estudo de caso do

ribeirão Maringá, PR.

Rosane Freire1; Cássia Maria Bonifácio2; Paulo Fernando Soares3; Fabrício Hernandes de Freitas 4; Roselene Maria Schneider5; Célia Regina Granhen Tavares6

RESUMO - Este trabalho teve por objetivo avaliar o processo de autodepuração do ribeirão

Maringá – PR após receber efluente de uma estação de tratamento de esgotos da cidade utilizando o modelo QUAL2E, desenvolvido pela Agência de Proteção Ambiental Americana (U.S. EPA). O trabalho foi realizado durante o período de outubro de 2008 a agosto de 2009, onde foram analisados os parâmetros físico-químicos e determinadas as variáveis hidráulicas deste curso d’água. Os resultados da modelagem mostraram que, levando em consideração o período de estudo, o ribeirão Maringá possui baixa capacidade de depuração. Portanto, deve haver uma atuação efetiva dos órgãos técnicos responsáveis pela fiscalização da qualidade de recursos hídricos, para que haja o controle da quantidade de poluentes lançados no ribeirão e seus afluentes. Dessa forma, pode-se evitar que graves problemas devido ao uso das águas deste manancial viessem a prejudicar a saúde e o bem estar da população dependente do ribeirão Maringá.

ABSTRACT - This paper aimed to evaluate the self-purification process of the Maringá stream

after receiving effluent from one of the sewage treatment plant, using the mathematical model developed by United States Environmental Protection Agency (U.S. EPA): Stream Water Quality

Model - QUAL2E. The study was performed from October 2008 to August 2009, where were

analyzed the physicochemical parameters and determined the hydraulics variables of the water bodies. Modeling results showed that, taking into account the period of study, the Maringá stream has low capacity for self-purification. Thus, there must be an effective performance of the technical agencies responsible for monitoring the water quality, in order to control the amount of pollutants released in this water body and its tributaries. Therefore, it would be able to prevent serious problems due the use of water from this source were to jeopardize the health and well being of the population dependent on it.

Palavras-chave: Autodepuração, QUAL2E, ribeirão Maringá.

1

Doutoranda em Engenharia Química da UEM, DEQ, Av. Colombo, 5790 – Bloco D-90, 87020-900, Maringá-PR. Email rofreire@gmail.com 2 Mestranda em Geografia da UEM, Departamento de Geografia, Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá-PR. Email kaoruyuri@hotmail.com 3 Professor Doutor associada nível C da UEM, DEC, Av. Colombo, 5790 – Bloco D-90, 87020-900, Maringá-PR. Email pfsoares@uem.com 4 Geógrafo, Departamento de Geografia, Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá-PR. Email brizola26@hotmail.com

5 Professora Doutora da UFMT, Av. Alexandre Ferronato, 1200, 78557-267 – Sinop-MT. Email roselenems@yahoo.com.br 6

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento urbano nos últimos anos contribuiu muito para a poluição dos recursos hídricos, comprometendo a qualidade da água e assim, causando um considerável desequilíbrio nos ecossistemas dependentes deste recurso natural. Os efluentes estão entre os fatores que mais colaboram com a poluição hídrica, pois quando lançados nos corpos d’água, tratados ou não, além do aspecto visual desagradável e da exalação de gases mal cheirosos há ainda a possibilidade de contaminação de animais ou de seres humanos devido ao contato ou consumo desta água. Além disso, há o declínio da concentração de oxigênio dissolvido no meio, comprometendo a sobrevivência dos seres de vida aquática (Sardinha et al., 2008; Pandey e Carney, 2008; Basak, 2007; Weiner e Matthews, 2003; Boyd, 2000; Perry e Vanderklein, 1996).

Ressalta-se que não é absolutamente proibido lançar despejos nos rios e, de acordo com Von Sperling (2007), os corpos d’água possuem a capacidade de transformá-los, um fenômeno conhecido como autodepuração. Por se tratar do restabelecimento do equilíbrio, a autodepuração pode ser comparada com o fenômeno de sucessão ecológica, em que o restabelecimento das condições ideais é feito por mecanismos naturais, havendo uma sequência sistemática de ações até que se estabeleça o equilíbrio com as condições locais novamente (Von Sperling, 2007; Bárbara, 2006; Braga et al., 2005).

A grande importância do conhecimento do fenômeno de autodepuração e de sua quantificação está na utilização da capacidade de assimilação dos rios e impedir o lançamento de despejos além do que o corpo de água possa suportar (Von Sperling, 2007). O conhecimento da capacidade de um corpo d’água assimilar ou depurar os despejos nele lançados é fundamental para verificar se populações à jusante do lançamento serão prejudicadas devido à poluição à montante.

Neste sentido, a modelagem matemática destaca-se como um importante instrumento de trabalho, pois, de acordo com Brown and Barnwell (1987), possibilita uma abordagem holística sobre os mecanismos e interações que se desenvolvem em um corpo d’água. Do ponto de vista prático, os modelos de qualidade da água possibilitam avaliar alternativas no gerenciamento de bacias hidrográficas.

Um número considerável de modelos para a predição de qualidade de água em sistemas aquáticos foi desenvolvido em diferentes países. O modelo mais largamente utilizado para esta finalidade é o QUAL2E, Stream Water Quality Model, desenvolvido e distribuído pela Agência de Proteção Ambiental Americana (U.S. EPA) (Barnwell Jr. et al., 2004; Ning et al., 2000). Este modelo tem sua formulação baseada no modelo proposto por Streeter e Phelps, que leva em conta o balanço de consumo e produção de oxigênio dissolvido (OD) provocado pelo lançamento de matéria orgânica nos corpos d’água (Brown e Barnwell, 1987).

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Recentemente muitos estudos foram desenvolvidos usando o modelo QUAL2E especialmente para prever as concentrações da demanda bioquímica de oxigênio (DBO5) e oxigênio dissolvido

(OD), como por exemplo: o trabalho de Ning et al. (2000) na bacia do rio Kao-Ping, Taiwan; Park e Lee (2002) no rio Nakdong e Cha et al. (2009) no rio Yeongsan, ambos na Coreia; Abrishamchi et

al. (2005) no rio Zayandeh, Irã. No Brasil, muitos outros estudos podem ser citados: Azevedo et al.

(2000) na bacia do rio Piracicaba; Ribeiro e Araujo (2002) no estuário de Beberibe; Palmieri e Carvalho (2006) no rio Corumbataí, etc.

Com o apresentado até o momento, o objetivo deste estudo centrou-se na avaliação do processo de autodepuração do ribeirão Maringá – PR após receber efluente de uma das estações de tratamento de esgotos da cidade utilizando o modelo matemático QUAL2E. Como se trata de uma área de forte influência antropogênica, é importante conhecer o padrão das oscilações espaciais e temporais sobre os parâmetros de qualidade da água deste manancial, em especial o oxigênio dissolvido (OD) e a demanda bioquímica de oxigênio (DBO5), tendo em vista a manutenção do

equilíbrio do ecossistema aquático, a saúde e segurança das populações localizadas à jusante dessa fonte de poluição hídrica.

Descrição da área de estudo

A bacia do ribeirão Maringá (Figura 1) está localizada entre a latitude 23º 16’ S e 23º 26’ S e longitude 51º 55’ W e 52º 00’ W, na região norte do município de Maringá – PR, pertencendo à unidade de gerenciamento da bacia do rio Pirapó.

De acordo com Sala (2005), o clima da região determinado pelo método de Köppen é classificado como subtropical úmido mesotérmico (Cfa). A precipitação média anual varia entre 1250 mm a 1500 mm, apresentando verões quentes e chuvosos, invernos com geadas pouco frequentes, sem estação seca definida.

Segundo Borsato e Martoni (2004), a bacia em estudo possui cotas altimétricas que variam de 600 m a 375 m, drena uma área de 90,37 km² e possui aproximadamente 19 km de comprimento de leito, o que a caracteriza como de porte médio. Quanto à declividade, a mesma autora descreve valores de até 6 % para os topos, de 6 % a 12% nas médias vertentes e entre 12 % a 20 % em áreas próximas aos canais de drenagem.

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Figura 1 - Bacia do ribeirão Maringá e localização dos pontos de coleta de amostras de água.

Na área de estudo, ainda de acordo com Sala (2005), predominam três tipos de solos: o latossolo vermelho férrico, ocorrendo em menor proporção apenas nas áreas mais planas de topo na bacia; os nitossolos vermelhos distroférricos, que se desenvolvem nas áreas de média vertente e ocupam quase toda área da bacia; e, os neossolos flúvicos, que são encontrados próximos a alguns canais de drenagem.

O uso e ocupação do solo, descrito por Biazin (2003), caracteriza-se por apresentar 25,5 % de sua área ocupada pelo perímetro urbano (à montante da bacia); 26 % por pastagens; 36 % com culturas temporárias (soja/milho); 2 % por solo exposto e 10,5 % por áreas de mata.

Entre os usos determinados para as águas dessa bacia, identificados por Coelho (2007), pode-se citar despode-sendentação de animais, irrigação, pesca, recreação transporte e diluição de efluentes.

Importantes alimentadores de contaminantes nesta bacia são as fontes difusas, como a agricultura, presente em praticamente toda a bacia, com o uso intensivo de defensivos agrícolas e fertilizantes (Alves et al., 2008). Nas nascentes com a presença da urbanização, não são raros os casos de observação de lançamentos de esgotos no canal fluvial sem o devido tratamento. O lançamento do esgoto após tratamento pela estação de tratamento de esgoto, ETE, e os açudes para

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criação de peixes presentes na bacia, também apresentam fortes interferências ao meio e são as fontes pontuais de contaminação (Schneider, 2009).

MATERIAL A MÉTODOS

Para avaliar a autodepuração do ribeirão Maringá após receber efluentes da estação de tratamento foi necessário determinar as variáveis de entrada do modelo QUAL2E, conforme especificado por Brown e Barnwell (1987). Devido às características particulares dos cursos d’água tropicais, incluindo o ribeirão Maringá, as simulações foram realizadas na interface QUAL2R, desenvolvida por Rodrigues e Porto (2003).

As características hidráulicas e as análises físico-químicas foram determinadas para o ribeirão e dois principais afluentes: o córrego Romeira e o córrego Mandacaru. Para isso, foram estabelecidos oito pontos de amostragem de água: um no córrego Romeira, dois no córrego Mandacaru e cinco distribuídos ao longo do ribeirão Maringá abrangendo desde sua cabeceira até sua foz, com o rio Pirapó (Figura 1).

Além disso, foram estabelecidos cinco postos fluviométricos, mantendo a devida correspondência com os pontos de amostragem de água. No ribeirão Maringá, as medidas de vazão - Q (m3 s-1) e a velocidade - v (m s-1) dos cursos d’água foram determinadas pelo instrumento FlowTracker®, da SONTEK. A profundidade - d (m) e largura do leito - L (m) foram medidas com auxílio de trena.

Os trabalhos de coleta de amostras tiveram início em outubro de 2008 e terminaram em agosto de 2009. Os dados foram mensurados de forma descontínua e compreenderam os meses de outubro e dezembro do ano de 2008, e os meses de fevereiro, abril, maio e agosto do ano de 2009, totalizando seis campanhas.

Em campo, os dados de temperatura – T (ºC) e oxigênio dissolvido - OD (mg L-1) foram obtidos por meio de instrumentos analíticos da DIGIMED®. As análises laboratoriais foram realizadas no Laboratório de Gestão, Preservação e Controle Ambiental do Departamento de Engenharia Química da Universidade Estadual de Maringá, seguindo os procedimentos descritos em “Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater” (APHA, 1998).

Para a modelagem, o ribeirão Maringá foi dividido em dez trechos de 1,8 km cada. Cada trecho possui 19 elementos, com comprimento de 100 m. Por medida de simplificação, os córregos Mandacaru e Romeira entraram no modelo como “lançamento”. Os dados climatológicos foram fornecidos pela Estação Climatológica da Universidade Estadual de Maringá (UEM) (Figura 2) e os geográficos, obtidos em estudos já realizados no local, tais como Borsato e Martoni (2004), Sala (2005) e Alves et al. (2008).

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Figura 2 - Precipitação mensal na bacia durante o período de estudos.

Na análise de difusão e advecção, a estimativa da constante de dispersão - DL (m2 h-1) foi

realizada empregando o método de Fischer, conforme recomendado por Chapra (1998), que leva em consideração a velocidade de percurso, velocidade de cisalhamento, a profundidade, a largura e a vazão do curso d’água. Por meio da equação de potência, os dados de velocidade (v) e profundidade (d) foram associados às medidas de vazão (Q) obtendo, dessa forma, os respectivos coeficientes e expoentes de velocidade e profundidade requeridos no modelo, desde que o canal não seja representado como “trapezoide”.

Para o balanço de oxigênio, o coeficiente de desoxigenação (k1,20 - d-¹), coeficiente de

desoxigenação por sedimentação k3,20 (d-¹) e o coeficiente cinético da demanda bentônica k4,20 (g m -2

d-1), com bases logarítmicas, a 20ºC, foram estimados utilizando-se valores tabelados, descritos em literatura específica, tendo em vista as características das águas em cada trecho do ribeirão Maringá.

Quanto à determinação do coeficiente de reoxigenação (k2,20 - d-¹), as características

hidráulicas do ribeirão Maringá, tais como vazão, velocidade e inclinação do leito do corpo d’água, permitiram a utilização da equação de Melching e Flores (Von Sperling, 2007).

Após caracterização do curso d’água e a inserção dos dados de entrada no modelo QUAL2E, por meio da interface QUAL2R, foi realizada a calibração do modelo. Este critério foi adotado para adequar o modelo às situações encontradas em campo, ou seja, estes cenários foram elaborados para calibrar as simulações efetuadas em situações muito próximas às condições reais do ribeirão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos parâmetros hidráulicos obtidos em campo e das análises físico-químicas obtidas em laboratório estão representados nas Tabelas 1 e 2. Os valores de oxigênio dissolvido

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(OD) e demanda química de oxigênio (DBO5) grafados em negrito representam os parâmetros

físico-químicos que estão em inconformidade com o limite estabelecido pela Resolução CONAMA 357/2005, tendo em vista que os corpos d’água estudados são enquadrados como classe 2, de acordo com a Portaria SUREHMA nº 004, de 21/03/1991 (BRASIL, 2005; PARANÁ, 1991).

Tabela 1 - Dados hidráulicos do ribeirão Maringá.

Outubro/08 Dezembro/08 Ponto H (m) L (m) v (m s-1) Q (m3 s-1) Ponto H (m) L (m) v (m s-1) Q (m3 s-1) P 1 0,202 3,740 0,284 0,158 P 1 0,215 3,700 0,255 0,194 P 2 0,194 1,800 0,301 0,081 P 2 0,217 1,630 0,439 0,095 P 5 0,204 6,900 0,674 0,779 P 5 0,223 7,200 0,575 0,771 P 7 0,384 5,800 0,507 0,914 P 7 0,407 5,900 0,625 1,352 Fevereiro/09 Abril/09 P 1 0,228 3,120 0,571 0,334 P 1 0,180 3,07 0,199 0,187 P 2 0,250 1,860 0,334 0,129 P 2 0,250 1,80 0,265 0,111 P 5 0,327 7,405 0,466 1,222 P 5 0,248 6,50 0,506 0,798 P 7 0,499 6,000 0,584 1,510 P 7 0,383 7,23 0,440 1,264 Maio/09 Agosto/09 P 1 0,214 2,40 0,187 0,125 P 1 0,196 2,20 0,467 0,182 P 2 0,237 2,10 0,249 0,114 P 2 0,230 1,76 0,276 0,102 P 5 0,220 7,66 0,490 0,776 P 5 0,235 7,30 0,487 0,762 P 7 0,349 6,80 0,438 0,987 P 7 0,323 7,00 0,504 1,063

Tabela 2 - Dados físico-químicos do ribeirão Maringá.

Outubro/08 Dezembro/08

Ponto T(ºC) OD (mg L-1) DBO5 (mg L-1) Ponto T(ºC) OD (mg L-1) DBO5 (mg L-1)

P 1 23,0 7,73 1,55 P 1 24,0 7,22 2,72 P 2 23,6 7,30 1,60 P 2 23,0 5,75 1,20 P 3 23,3 7,60 1,65 P 3 22,0 6,59 2,92 P 4 24,0 5,30 55,81 P 4 24,0 5,87 28,61 P 5 22,4 3,89 7,85 P 5 23,0 4,07 7,35 P 6 21,4 6,93 4,24 P 6 22,0 5,60 5,78 P 7 20,4 5,85 7,53 P 7 23,0 4,95 7,84 P 8 20,4 4,73 10,35 P 8 23,0 4,39 7,77 Fevereiro/09 Abril/09 P 1 25,0 7,47 0,07 P 1 22,5 8,19 1,53 P 2 24,4 6,60 0,05 P 2 21,2 5,45 1,29 P 3 25,0 6,95 0,05 P 3 22,0 6,05 0,69 P 4 25,9 6,90 14,03 P 4 24,0 4,82 37,81 P 5 26,0 5,49 5,00 P 5 21,4 4,95 9,52 P 6 25,9 6,90 0,15 P 6 20,7 6,23 7,46 P 7 25,0 6,47 0,19 P 7 20,3 6,59 9,94 P 8 23,0 5,56 0,08 P 8 20,4 4,23 10,10

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Maio/09 Agosto/09 P 1 19,5 7,54 0,60 P 1 18,7 7,02 1,14 P 2 19,0 6,99 2,72 P 2 17,3 7,82 1,43 P 3 19,5 7,04 2,20 P 3 21,1 7,04 0,80 P 4 17,0 5,41 25,17 P 4 20,7 5,49 28,85 P 5 16,4 5,55 6,43 P 5 18,1 5,36 7,05 P 6 18,0 6,81 3,44 P 6 19,2 7,66 3,62 P 7 16,0 6,79 7,00 P 7 18,9 6,76 6,51 P 8 15,2 5,40 6,23 P 8 17,4 5,91 7,37

A partir da análise dos resultados dos dados hidráulicos observou-se que os cursos d’água da bacia do ribeirão Maringá podem ser considerados como rápidos e pouco profundos. As características hidráulicas, apesar de serem influenciadas pela precipitação que frequentemente ocorria nos dias que precederam as medições, refletiram de modo satisfatório a quantidade de chuva de cada mês. Em termos de sazonalidade, nos meses chuvosos verificaram-se o aumento dos valores medidos de velocidade, profundidade, largura, área e vazão dos corpos d’água monitorados, enquanto que, nos meses de estiagem foi observado o oposto.

Com relação ao parâmetro temperatura, observou-se que nos cursos de água da bacia do ribeirão Maringá não houve alteração que pudesse indicar influência de atividade antrópica. No período analisado, a máxima foi de 26 ºC, em fevereiro de 2009, e a mínima foi de 15,2 ºC, em maio de 2009.

Com relação ao OD, em uma primeira avaliação, notou-se que foram poucos os momentos em que o ribeirão Maringá permaneceu com concentração abaixo do estabelecido na legislação (5 mg L-1). Isso não significa que a carga lançada pela ETE não tenha potencial de degradação, mas sim que, muito provavelmente, a turbulência provocada pela descarga do efluente somada à turbulência natural do curso d’água promoveu uma maior troca gasosa com a atmosfera, permitindo a dissolução de oxigênio na água.

Analisando os resultados para DBO5, pode-se dizer que a carga orgânica ainda está presente

no efluente mesmo com o tratamento e, ao ser despejada no córrego Mandacaru, adentra no ribeirão Maringá alterando fortemente a qualidade de suas águas. Os efeitos do lançamento foram identificados por mais de 1600 m, como mostram os resultados do obtidos no trecho representado pelo ponto 5. Em dezembro de 2008 e abril de 2009 foram registradas elevadas concentrações de DBO5 no ribeirão Maringá por mais de 4600 m após o lançamento, como mostram os resultados

obtidos no trecho representado pelo ponto 6.

Neste sentido, é importante salientar que a possibilidade, ou não, de um determinado corpo hídrico servir como receptor final de efluentes deve ser analisada com muita cautela, pois, caso a

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capacidade de autodepuração de um corpo d’água seja ultrapassada, o mesmo poderá enfrentar sérios problemas ambientais (Barbosa, 1997).

Vale lembrar que a principal característica do processo de autodepuração é a recuperação do corpo d’água às condições anteriores ao lançamento. De modo geral, a modelagem realizada na interface QUAL2R indicou que em nenhum mês de estudo houve a recuperação natural do ribeirão Maringá após o lançamento do esgoto tratado na ETE. Em termos de zona de ação de autodepuração, a modelagem mostrou que, no ribeirão Maringá, os processos de degradação e decomposição ativa ocorreram, mas o processo de recuperação da qualidade das águas apenas começou. A Figura 3 ilustra a modelagem OD e DBO5 calibrada em que é possível verificar atuação

das zonas de autodepuração. A reta representada por “Res. 357” refere-se à Resolução Conama nº 357/2005 e indica o valor máximo de concentração permitido.

Figura 3 - Perfil de OD e DBO5 do ribeirão Maringá modelado pelo QUAL2E: a) outubro de 2008;

b) dezembro de 2008; c) fevereiro de 2009; d) abril de 2009; e) maio de 2009; f) agosto de 2009. Os efeitos do processo autodepurativo foram decorrentes das características hidráulicas do ribeirão uma vez que, nos meses em que ocorreram chuvas com menor intensidade, as

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concentrações de OD permaneceram abaixo dos limites estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 no exutório da bacia, para corpos hídricos classe 2 (5 mg L-1). A condição de estiagem proporcionou um menor volume de água disponível para diluição da carga orgânica, prejudicando o processo depurativo no ribeirão. Portanto, pode-se dizer que, o volume de água que escoa na calha do ribeirão Maringá não é suficiente, em termos quantitativos, para o uso deste recuso hídrico para diluição e transporte de efluentes, pelo menos nas condições de quantidade e qualidade em que são despejados atualmente.

Cabe salientar, que a concentração de DBO5 determinada em laboratório, apresentada na

Tabela 2, foi superior àquelas calculadas por meio do modelo e apresentadas na Figura 3. Não é possível afirmar com precisão qual fator ou variável de entrada do modelo QUAL2E pode ter contribuído para essa discrepância de valores, uma vez que o perfil de DBO5 está correlacionado

com o perfil de OD e sua calibração foi satisfatória, apresentando um erro relativo médio de 5,58 %. Entretanto, tanto na modelagem quanto nas análises laboratoriais, a concentração de DBO5 esteve

muito acima do estipulado pela legislação de referência indicando uma grande degradação ambiental neste corpo hídrico.

Logo, levando em consideração os fatores já citados e discutidos pode-se dizer que o ribeirão não apresenta capacidade de depuração favorável em relação ao esgoto tratado lançado pela ETE. Os resultados obtidos no modelo QUAL2E, por meio da interface QUAL2R, e também aqueles determinados no laboratório, indicaram que uma considerável carga remanescente de matéria orgânica proveniente do ribeirão Maringá adentra no rio Pirapó.

A exceção é feita para o mês de fevereiro de 2009, em que, muito provavelmente, o aumento precipitação ocorrida promoveu o aumento do volume de água deste corpo hídrico. De certa forma, as chuvas contribuíram para a diluição da concentração de DBO5 lançada pela ETE favorecendo o

processo autodepurativo ao longo do ribeirão Maringá. Logo, para que o ribeirão Maringá seja capaz de depurar o efluente lançado, haveria de existir uma maior quantidade de água escoando pelo canal e uma adequação no sistema de tratamento de esgotos.

CONCLUSÕES

O monitoramento das características hidráulicas mostrou que os cursos d’água da bacia do ribeirão Maringá são rápidos e pouco profundos. Além disso, foi notório o expressivo efeito da sazonalidade, principalmente no período de chuvas, sobre estas características.

Com o monitoramento de alguns parâmetros físicos e químicos de qualidade da água da bacia do ribeirão Maringá e analisando os resultados obtidos, levando em conta os limites estabelecidos pela Resolução CONAMA nº. 357/2005, foi possível verificar que em alguns pontos monitorados o

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ribeirão Maringá apresentou características que permitiriam enquadrá-lo como classe 3. Este resultado mostra que corpo hídrico está seriamente comprometido quanto aos seus atributos ambientais.

A modelagem matemática do perfil de OD e da DBO5 do ribeirão aliada às análises dos

resultados dos parâmetros físico-químicos permitiram concluir que, devido às características do efluente bem como das características hidráulicas do ribeirão Maringá, este corpo d’água não consegue assimilar totalmente a carga poluidora lançada por essa fonte.

Desse modo, medidas mitigadoras, como a implantação de metas progressivas de redução de carga poluente e a implantação de um sistema de pós-tratamento no sistema de tratamento de esgotos do município de Maringá, devem ser tomadas para a manutenção da qualidade destes corpos receptores.

Por fim, é necessário enfatizar que devido à baixa capacidade de depuração que o ribeirão Maringá apresentou em relação ao efluente estudado, deve haver uma atuação efetiva do comitê de bacia e de outros órgãos técnicos responsáveis pela fiscalização da qualidade de recursos hídricos, para que haja o controle da quantidade de poluentes lançados no ribeirão e seus afluentes. Dessa forma, poderia evitar que graves problemas devido ao uso das águas deste manancial viessem a prejudicar a saúde e o bem estar da população dependente deste recurso hídrico.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pela concessão da bolsa de estudo e ao CNPq-CT-HIDRO pelo apoio financeiro, ao Laboratório de Gestão, Preservação e Controle Ambiental (LGPCA) e a todos os funcionários do DEQ/UEM.

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Referências

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