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A POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA AOS IMIGRANTES À LUZ DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITO

JOSÉ MACAGGI SOARES NETO JULIANA APARECIDA BRITO DOS SANTOS

MARINA PACHECO BATISTA MYLENA DE AGUIAR MELO

A POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO

CONTINUADA AOS IMIGRANTES À LUZ DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Artigo apresentado ao Curso de Direito da Universidade Federal de Roraima, como parte dos requisitos para obtenção de nota parcial alusiva à disciplina Direito da Seguridade Social.

Prof. Orientador: Prof. Me. Raimundo Paulino Cavalcante Filho.

Boa Vista (RR) 2019

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JOSÉ MACAGGI SOARES NETO JULIANA APARECIDA BRITO DOS SANTOS

MARINA PACHECO BATISTA MYLENA DE AGUIAR MELO

A POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO

CONTINUADA AOS IMIGRANTES À LUZ DA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Artigo apresentado ao Curso de Direito da Universidade Federal de Roraima, como parte dos requisitos para obtenção de nota parcial alusiva à disciplina Direito da Seguridade Social.

Prof. Orientador: Prof. Me. Raimundo Paulino Cavalcante Filho.

Boa Vista (RR) 2019

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RESUMO

O presente artigo científico abordará a hipótese de concessão do benefício da prestação continuada aos imigrantes. Elucida-se a ausência de disposição constitucional que trate explicitamente da concessão do referido benefício aos imigrantes, desse modo promove-se um debate no âmbito jurídico. A universalização do serviço de assistência social aos que precisam é uma novidade abordada pela Constituição Federal de 1988, no seu artigo 203, com a finalidade de progresso e bem estar a todos. Nesse sentido, foi sancionada a Lei nº 8.742/1993 denominada de Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), na qual possui o objetivo de fixar os parâmetros e condições exigidos para que seja possível deferir a o benefício de prestação continuada. Busca-se demonstrar o posicionamento jurisprudencial e doutrinário ao estender a aplicação do BPC aos imigrantes, tendo como ponto norteador a interpretação conforme a Constituição Federal de1988.

Palavras-chave: Benefício de Prestação Continuada. Lei Orgânica de Assistência Social -

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ABSTRACT

The present scientific article will address the hypothesis of granting the benefit of the continued provision to the immigrants. The absence of a constitutional provision that explicitly deals with the granting of the said benefit to immigrants is elucidated, thereby promoting a legal debate. The universalization of the social assistance service to those who need it is a novelty approached by the Federal Constitution of 1988, article 203, with the purpose of progress and well-being to all. In this sense, Law No. 8,742 / 1993, known as the Organic Law on Social Assistance (LOAS) was enacted, in which it has the purpose of establishing the parameters and conditions required for it to be possible to defer to the benefit of continuous benefit. It seeks to demonstrate the jurisprudential and doctrinal positioning in extending the application of BPC to immigrants, having as a guiding point the interpretation according to the Federal Constitution of 1988.

Keywords: Continuous Benefit Benefit. Organic Law of Social Assistance - LOAS. Immigrants.

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INTRODUÇÃO

O contexto social hodierno permite compreender a amplitude da assistência social, bem como a sua importância para a consolidação dos direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal da República de 1988.

Por conseguinte, importante ressaltar a possibilidade da extensão dos benefícios relacionados à assistência social aos estrangeiros, quando cumpridos os requisitos constitucionais e legais. Nesse contexto, o tema do presente trabalho destaca-se no meio acadêmico em virtude do fenômeno migratório pelo qual passa o Brasil, fato que permitiu o crescimento de demandas judiciais associadas a requerimentos para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) em razão de indeferimentos administrativos por parte do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), apenas pelo fato da pessoa do requerente ser estrangeira.

Diante desse fenômeno, discutem-se as possibilidades legais, assim como precedentes judiciais que autorizam a concessão do benefício assistencial face à resistência da autoridade previdenciária nos casos em que o requerente é pessoa estrangeira.

A discussão abrange, ainda, a compreensão sedimentada pelo INSS no sentido de que seria necessário que o indivíduo estrangeiro comprovasse sua naturalização para exercer um direito fundamental previsto em sede constitucional, dentre as possibilidades que autorizam o gozo de direitos e garantias individuais em igualdade de condição com o nacional, o que viola o texto constitucional.

Desse modo, em razão da ausência de restrição legal para a concessão do benefício assistencial, verifica-se que o posicionamento da Autarquia também conflita com os princípios da legalidade, isonomia, bem como com a dignidade da pessoa humana.

Em contrapartida à previsão da prestação da assistência social a quem dela precisar, o art. 1º da Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - LOAS)

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limita a concessão da assistência social ao prever que esta será direito de todo cidadão, ou seja, pessoa em pleno exercício dos direitos e deveres políticos.

Portanto, os posicionamentos acerca da intransponibilidade de critérios objetivos envolvendo a concessão do Benefício de Prestação Continuada serão analisados sob a perspectiva legal, jurisprudencial e administrativa a fim de se verificar quais as medidas que estão sendo adotadas atualmente em relação ao tema.

A partir disso, este artigo será composto por três seções divididas em subtópicos, além da introdução e da conclusão, de modo que no item subsequente serão tratados os conceitos gerais dos termos relacionados ao presente ensaio.

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1 BENEFICIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA

1.1 Conceito, implementação e histórico

Atualmente a disposição do benefício de prestação continuada – BPC está na Lei nº 8742/1993, que dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências.

Em seu artigo 2º, inciso II, alínea e estabelece que um dos objetivos da assistência social é a garantia de 01 salário-mínimo de benefício mensal àquelas pessoas que tenham deficiência e aos idosos que comprovem não possuir meios de prover a sua própria manutenção ou família que possa fazê-lo.

Historicamente a assistência social iniciou-se com a igreja católica no século XV, em que o sentido principal era justamente a prática de caridade das pessoas umas com as outras, o que foi também considerada uma das primeiras formas de haver uma proteção social.

Em seguida, a família, que se assemelhava à época ao sentido de comunidade de hoje, teve um papel primordial de cuidado com os mais idosos, posto que, aqueles mais jovens tornavam-se os responsáveis por dar continuidade ao trabalho para que pudessem prover o sustento dos idosos que não mais tinham o vigor de manterem seu próprio sustento.

Ocorre que, nem todos aqueles que necessitavam tinham condições de serem ajudadas somente por suas famílias, surgindo então a necessidade de que houvesse uma ajuda também de terceiros, que de maneira voluntária prestavam auxílios, nem que fosse apenas por meio de esmolas.

Contudo, esta ajuda não trazia para aqueles que necessitavam um direito subjetivo, mas tão somente uma expectativa de direito, posto que apenas as pessoas receberiam ajuda de pessoas estranhas à família se houvesse recursos sobrando.

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Posteriormente, grupos de pessoas, denominados de grupos de mútuo, uniam-se com base em interesses e afinidades em comum e arrecadavam recursos para que caso vinhessem a necessitar futuramente poderiam recorrer a estes valores.

Com a entrada do estado liberal, as pessoas mesmo sendo livres para produzir e obter lucros, acabou por surgir grandes desigualdades, necessitando que o Estado que antes tinha um papel mínimo, agora interviesse mais ainda na sociedade com o fim de diminuir tais desigualdades.

Assim, no século XVII foi promulgada a Lei do Amparo aos Pobres na Inglaterra, em que os necessitados após contribuírem de forma obrigatória seriam amparados pelo Estado. Após a Revolução Industrial, cada vez mais o papel do Estado foi de intervir na assistência aos necessitados, em que os cidadãos deveriam sustentar os que não conseguissem trabalhar ou que passavam por dificuldades financeiras.

No Brasil, a primeira Constituição a dispor sobre um ato securitário foi a de 1824, por meio dos socorros públicos. A Constituição de 1988 foi um marco no desenvolvimento da assistência social, posto que estabeleceu um Estado de Seguridade Social.

1.2 Requisitos para a concessão

O Instituto Nacional da Seguridade Social - INSS, é a via administrativa para a concessão deste benefício. E para a sua concessão é necessário ser brasileiro nato ou naturalizado ou de nacionalidade portuguesa que comprovem ter residência no Brasil e renda familiar por pessoa inferior a ¼ do salário-mínimo vigente.

É também necessário que se tratando de idoso ter idade igual ou superior a 65 anos independente do gênero e para as pessoas com deficiência independe da idade, desde que apresentem estar impedidos a longo prazo, pelo menos dois anos. Podem ser deficiência física, mental, intelectual ou sensorial que não possibilitem sua completa participação na sociedade com iguais condições aos demais.

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Para conseguir é necessário que o beneficiário cadastre-se no Cadastro Único de Programas Sociais do Governo Federal e caso já seja inscrita que tenha seu cadastro atualizado no máximo dois anos da última atualização.

Em seguida pode realizar o agendamento através do site do INSS, pelo telefone 135, pelo aplicativo de celular Meu INSS ou ainda pela agência da previdência social.

É necessário que o beneficiário leve ao atendimento os seguintes documentos, a saber, documento de identificação; os formulários necessários preenchidos e assinados, nos casos de menores de 18 anos que tenham os pais falecidos, desaparecidos ou que tenham sido destituídos do poder familiar; documentos que comprovem a semiliberdade emitidos pelo órgão de Segurança Pública estadual para os adolescentes que tenham deficiência e estejam cumprindo medida socioeducativa; e, enfim, procuração e documento de identificação para os representantes legais de quem requererá, mas que não pode ir fazê-lo.

Quanto aos formulários é necessário o de requerimento de BPC e composição do grupo familiar e para aqueles que já recebem um benefício, mas desejam declinar para requerer outro, é necessário levar o formulário único de alteração da situação do benefício.

Quanto a comprovação de deficiência, esta é analisada pelo serviço social e perícia médica do próprio INSS, sendo que, caso um membro da família já tiver um BPC, este não afetará a solicitação para outro idoso da mesma família.

As pessoas com deficiência que foram contratadas como aprendizes poderão acumular a remuneração percebida e o BPC, sendo suspenso apenas após dois anos do acumulo. Já as pessoas com deficiência a partir do momento que retornarem ao trabalho terão o benefício suspenso.

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2 O DIREITO FUNDAMENTAL SOCIAL DO BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA

Com o advento da Constituição Federal de 1988, foi fixado o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social – BPC com o intuito de promover a justiça social, o referido benefício foi estatuído da seguinte forma na Constituição de 1988:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;

III - a promoção da integração ao mercado de trabalho;

IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Nesse sentido, o benefício faz parte do Sistema Único da Assistência Social (SUAS), política instituída para atender àqueles que necessitam de auxílio do Estado. Ocorre que para fazer jus a seu recebimento, não é necessário ter contribuído com a Previdência Social, bastando apenas o preenchimento de determinados requisitos.

Sob o liame constitucional, a Constituição de 1988 elucidou que a Seguridade Social é esculpida por um tripé, a Saúde, Previdência Social e Assistência Social, no qual tem por objetivo o bem-estar e a justiça social, conforme se depreende do artigo 194:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento;

II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais;

III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - irredutibilidade do valor dos benefícios;

V - eqüidade na forma de participação no custeio; VI - diversidade da base de financiamento;

VII - caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e

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do Governo nos órgãos colegiados. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

Os juristas Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzar (apud TORRES, Fábio) explicam sobre o caráter de uniformidade abordado no art.194: “a universalidade de atendimento e cobertura corresponde a um dos princípios da Seguridade Social, onde se traduz que a proteção social deve alcançar todos os eventos cuja sua reparação seja fundamental para oferecer subsistência a quem dela necessite.” Desse modo, tem-se uma Constituição pautada no respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e na igualdade social.

2.1 A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS)

A política adotada pelo Constituinte originário tem como fundamento o princípio da dignidade da pessoa humana, no qual esclarece que o cidadão tem direitos inerentes a sua existência, em respeito a sua humanidade, devendo estes ser respeitados e promovidos pelo Estado aos que são mais necessitados:

“A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.” (MORAES apud AWAD , 2006, p.112)

A materialização prática da seguridade foi regulamentada por meio da Lei Orgânica de Assistência Social – Lei nº 8.742/93 (LOAS), na qual estabelece a garantia desse benefício, em consonância com a Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), o qual é concedido e administrado pelo INSS, e tem a finalidade de amparar a pessoa portadora de deficiência ou idosa que demonstre hipossuficiência econômica, de modo que não possa prover a sua subsistência ou tê-la provida pelo núcleo familiar, como se infere da norma constitucional, que prescreve que “a assistência social será prestada a quem dela necessitar”, sem fazer qualquer discriminação.

O Benefício de Prestação Continuada é estatuído no artigo 20, da Lei nº 8.742, de 7/12/1993, no qual estabelece:

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“Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo

mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

§ 1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

§ 2º Para efeito de concessão deste benefício, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 3º Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

§ 4º O benefício de que trata este artigo não pode ser acumulado pelo beneficiário com qualquer outro no âmbito da seguridade social ou de outro regime, salvo os da assistência médica e da pensão especial de natureza indenizatória.

Observa-se que a lei não trata em seu conteúdo hipótese de direcionamento do citado benefício aos imigrantes, em razão disso e das diversas consequências de ordem social e econômica, foi dado margem há diversas interpretações sobre o próprio entendimento adjudicado pela Administração Pública Federal na possibilidade de concessão de tais benefícios aos estrangeiros, acabando assim por reduzir ou negar tal direito.

2.2 O posicionamento do Estado Brasileiro em relação à imigração

Conforme o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, se elucidam os desafios do Brasil sobre o movimento imigratório:

As ações realizadas pela equipe do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome com relação à temática migratória advém das atribuições do governo federal no tocante à Política Nacional de Assistência Social. Entende-se, porém, que fenômenos complexos, como o da mobilidade humana, exigem respostas transversais no âmbito das

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políticas públicas, a envolver diversas pastas, como única possibilidade de um resultado efetivo. Dessa forma, as tarefas referentes à recepção e integração da população estrangeira no território nacional ultrapassam as responsabilidades da Rede de Assistência Social do Brasil, uma vez que envolvem questões de direitos humanos, jurídicas, trabalhistas, de segurança pública, educação, saúde e seguridade social, entre outras. (MDS, 2016)

É claramente possível notar o excessivo aumento no número de estrangeiros que emigram para o Brasil, a possibilidade de requerer o benefício de prestação continuada no valor de um salário-mínimo, torna-se muito favorável a uma melhor qualidade de vida à sua família, especialmente quando habituada a viver em situações de penúria ou de dificuldades financeiras no seu país de origem.

A controvérsia recai sobre o cabimento do benefício de prestação continuada aos imigrantes, tendo em vista que, via de regra, é destinada a pessoas brasileiras com idade de sessenta e cinco anos ou mais, ou pessoa portadora de deficiência, que comprovadamente não possuem meios para prover a própria manutenção e tampouco de tê-la provida por sua família e neste último caso, a renda mensal bruta familiar per capita, deverá ser inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo vigente à época do requerimento.

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3 ANÁLISE DO DIREITO À ASSISTENCIA SOCIAL AOS ESTRANGEIROS NO BRASIL

Os termos da disposição constitucional acerca do tema estabelecem que “a assistência social será prestada a quem dela necessitar”, sem restringir os beneficiários somente aos brasileiros natos ou naturalizados. Mostra-se de clareza ímpar. Quando a vontade do constituinte foi de limitar eventual direito ou prerrogativa a brasileiro, não deixou margem para questionamentos, como, à guisa de exemplo, o disposto nos artigos 5º, inciso LXXIII, 12, § 3º, 61, 73, § 1º,74, § 2º, e 87, da Lei Maior.

A inclusão dos estrangeiros, refugiados ou não, em políticas públicas nacionais ganhou atenção principalmente após o fluxo migratório de venezuelanos para estados do norte do país, em especial, para Roraima.

Nesse sentido, destacam-se as considerações feitas pelo Defensor Público Federal Gustavo Zortea:

“[...] “[O] custo do BPC em favor de migrantes deve ser por todos suportado em uma verdadeira perspectiva globalmente comunitária, baseada no traço comum de humanidade. Embora flagrantemente inconstitucional e ilegal, a interpretação adotada pelo INSS em âmbito administrativo privou os migrantes da percepção do benefício em razão da nacionalidade ostentada. A única via para a obtenção do benefício era a judicialização.”

Em sendo assim, no confronto de visões, deve prevalecer aquela que melhor concretiza o princípio constitucional da dignidade humana – cuja observância surge prioritária no ordenamento jurídico.

3.1 Análise do contexto regional Venezuela versus Brasil

Com efeito, a migração em massa de estrangeiros oriundos da Venezuela para o Brasil, precisamente no Estado de Roraima, veio a ocorrer após o presidente Nicolás Maduro perder as eleições parlamentares da Venezuela, momento em que parte da população começou a emigrar em números vultuosos para outros países da América Latina, principalmente Colômbia e Brasil.

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Não só a perda da eleição com uma consequente tomada de poder em regime ditatorial velado, mas também as crises internas do modelo político que vigorou neste país desde o final da década de 1990 culminaram em crises econômicas, sociais e de abastecimento de alimentos que assolaram drasticamente a população daquele país. Neste cenário, com o aumento significativo do fluxo de venezuelanos cruzando a fronteira e solicitando refúgio no Brasil, em fevereiro de 2017, houve o Conselho Nacional de Imigração por editar a Resolução Normativa nº 126, que favoreceu a regularização da imigração venezuelana no país.

Tal fluxo migratório é mais intenso na fronteira Brasil-Venezuela, ou o ponto popularmente conhecido como BV8, no município de Pacaraima, localizado a cerca de 200 km de distância da capital do Estado, Boa Vista. Desde 1970 até poucos anos atrás, a maior parte do fluxo migratório nesta fronteira consistia em brasileiros saindo para a Venezuela, além da existência de um forte turismo no país caribenho que tinha tal fronteira como porta de entrada.

Como dito, o município de Pacaraima é a principal porta de entrada da migração venezuelana, e, considerando que a cidade tem apenas doze mil habitantes, é catastrófico imaginar que os serviços públicos atendam a cinco vezes mais pessoas do que a população inteira do município. Mesmo assim, o Governo, tanto federal como estadual, criou abrigos que oferecem moradia, alimentação e a emissão de documentos de forma facilitada para os estrangeiros.

No mesmo sentido, o quadro da capital Boa Vista não é diferente do supra exposto, uma vez que apresenta parcela da população local carente de políticas integradas de educação, de inserção digna no mercado de trabalho e de ampliação dos serviços de saúde. A prefeitura municipal local, sem o apoio dos governos estadual e federal para atrair projetos de desenvolvimento econômico para a região, não consegue prover o necessário a uma população majoritariamente desempregada, ou inserida no mercado informal e pouco instruída. Portanto, tudo se transforma num caos, que muitas vezes resulta em quadros de xenofobia e ao extremo, em ataques violentos contra os migrantes.

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É inegável perante o atual cenário que a situação narrada se inverteu, e uma quantidade sem precedentes de venezuelanos têm vindo para o Brasil, gerando um desafio migratório que já se equipara ao do Mediterrâneo, antes visto apenas através da mídia, agora vivido pelos regionais.

Traçando uma breve anotação acerca do perfil dos migrantes, cumpre destacar que parcela considerável da população venezuelana não indígena que atravessa a fronteira conta com redes migratórias já estabelecidas no Brasil e apresenta, majoritariamente, bom nível de escolaridade.

Segundo dados da OBMigra, 78% possuem nível médio completo e 32% têm superior completo ou pós-graduação, sendo ainda que 60% desses indivíduos estavam, no ano de 2017, empregados em alguma atividade remunerada e enviaram remessas para parentes e amigos na Venezuela, tanto em dinheiro quanto em mantimentos alimentares.

Mesmo com certa qualificação dos personagens do quadro migratório retromencionado, o Estado de Roraima passa por uma crise inesperada e inigualável, vendo-se em um drama humano sem precedentes, como receber milhares de estrangeiros, oferecer a eles serviços de educação e saúde pública, acomodação, alimentação, higiene e, quando possível, um emprego sem impactos significativos na vida dos roraimenses.

O patente quadro de calamidade pública e precárias condições de vida dos venezuelanos no norte do Brasil, com maior precisão, em Roraima, demonstra que as políticas públicas advindas do Governo brasileiro são deficitárias e ineficientes. Nessa perspectiva, a Cooperação entre Estado e Organizações Não-governamentais (ONGs) é de suma importância, devido a limitação de recursos das prefeituras e órgãos estaduais brasileiros.

É justo neste ponto que se insere a temática ora abordada no presente artigo, visto que a assistência social deve ser garantida ao estrangeiro, não de caráter geral, mas àqueles que preencham os requisitos legalmente exigidos e demonstrem real necessidade.

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No entanto, o tema gera uma discussão que não agrada a todos os brasileiros, porquanto, de um lado, muitos defendem a solidariedade para com o imigrante, que é um semelhante carente de serviços básicos, tomados de si contra sua vontade e, de outro, há um discurso patriota, defendendo que o Governo deve prezar de cuidar de seus nacionais, que, em certo ponto, já sofrem com o descaso de políticas públicas eficientes.

Neste ambiente, tem-se o cenário perfeito para o nascimento de discursos de ódio e xenofóbicos, inclusive adotados por diversas veias políticas nas últimas eleições, citando-se, a título de exemplo, a constante tentativa de fechamento da fronteira entre os países.

Ora, se a crise narrada anteriormente já vem sendo amplamente reconhecida como uma situação de grave e generalizada violação de direitos humanos, motivo pelo qual impor barreiras à migração venezuelana seria desumano. Tal medida poderia custar a vida a milhares de pessoas que, na Venezuela, já não conseguem se alimentar, ter acesso a serviços de saúde e atender suas necessidades básicas, o que também não quer dizer que ao cruzar a fronteira assim o teriam facilmente.

Os efeitos negativos dessa estratégia política são inúmeros. De modo geral, ela confere força a discursos populistas – já citados –, que propõem falsas soluções às demandas da população e se esquivam de lidar com as causas reais dos problemas, além da tentativa vã de isentar os gestores públicos de suas responsabilidades.

De outro lado, para os estrangeiros, essa estratégia é ainda mais nociva, pois, além de não terem suas demandas reconhecidas, passam a ser responsabilizados por todas as falhas da administração pública, em áreas como saúde, segurança, educação, emprego e outros. É nítido, desde 2015, que comunidades inteiras de “não-nacionais” passam a ser menosprezadas e o simples pertencimento a um grupo – “venezuelanos”, no caso em tela – se torna condição suficiente para uma imposição de “culpa” quase que automática. Neste contexto, tem-se observado em Roraima um crescimento de expressões populares de discriminação e violência contra os imigrantes.

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Portanto, independente de quão grande seja a mobilização de entidades da sociedade civil e organismos internacionais, a resposta a esse desafio requer, necessariamente, a articulação dos entes públicos em diversos níveis, mormente com a cooperação recíproca entre União, Estados e Municípios, de modo que cada um cumpra com o correspondente papel e responsabilidade, o que não tem sido constatado até o momento.

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4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O RECURSO EXTRAORDINÁRIO 587.970/SP

Com base nas incongruências e violações ao texto constitucional no que tange à concessão de benefícios relacionados à assistência social, o Supremo Tribunal Federal foi provocado a tratar da questão, em 2005, o que oportunizou o enfrentamento do tema por intermédio do Recurso Extraordinário (RE) 5879701.

A origem do processo que provocou a discussão na Corte de Vértice deu-se em 2005, quando a autora, uma imigrante italiana, solicitou ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) a concessão do BPC. Mesmo preenchendo todos os requisitos definidos na legislação, o INSS negou seu pedido, alegando que o benefício se restringia a brasileiros.

Em síntese, o referido recurso extraordinário foi interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) contra decisão da Primeira Turma Recursal do Juizado Especial Cível Federal da Terceira Região, que condenou o Instituto a conceder à estrangeira Felícia Mazzitello Albanese, residente há mais de 54 anos no Brasil, o benefício assistencial previsto no artigo 203, inciso V, da CF.

Nesse contexto, o juízo a quo entendeu que à legislação ordinária cabe apenas definir os critérios para aferição da miserabilidade, não sendo lícito limitar o benefício nos termos pretendidos pelo INSS.

Nas considerações realizadas pelo relator Ministro Marco Aurélio, destacam-se as seguintes orientações:

Como, então, deve ser percebida a cláusula constitucional “a assistência social será prestada a quem dela necessitar”? O objetivo do constituinte foi único: conferir proteção àqueles incapazes de garantir a subsistência. Os preceitos envolvidos, como já asseverado, são os relativos à dignidade humana, à solidariedade social, à erradicação da pobreza e à assistência aos desamparados. Esses elementos fornecem base para interpretação adequada do benefício assistencial estampado no Documento Básico.2

1 Estrangeiro residente no país tem direito à concessão de benefício assistencial, decide STF. Disponível em:

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=341292.

2 RECURSO EXTRAORDINÁRIO 587.970 SÃO PAUL. Voto do Relator. Disponível em:

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Acertadamente, partindo-se das premissas contidas no princípio da solidariedade, notável responsável pela consolidação da seguridade social e seus três pilares constitucionais (assistência social, saúde e previdência social), o Ministro Marco Aurélio elencou aspectos relevantes que se sobressaem aos fundamentos demonstrados na recusa da Autarquia previdenciária.

Para o Supremo Tribunal Federal, a concessão do Benefício de Prestação Continuada àqueles que não possuem condições de arcar com a própria subsistência é questão instransponível à dignidade humana, à solidariedade social, à erradicação da pobreza e à assistência aos desamparados, elementos esses que fornecem interpretação adequada ao julgamento do caso.

Nesse contexto, a decisão destaca que cabe ao Supremo Tribunal Federal, como guardião da Constituição, interpretar e resguardar a integridade da lei fundamental, exercendo controle, pois a lei tem papel crucial na definição dos limites necessários, sendo essencial à manutenção da normatividade constitucional. E, ainda, que no contexto dos preceitos envolvidos da dignidade humana, a solidariedade, erradicação da pobreza e assistência aos desamparados, no caso em tela, outra leitura não deve ser dada ao texto constitucional que não seja a de garantir a subsistência aos desamparados, pois este é o conceito formal do BPC.

4.1 Análise da jurisprudência nacional atual

Impende ressaltar, ainda, que em razão do alto número de decisões administrativas que negam a concessão do benefício em comento, as demandas judiciais com o objetivo de requerer a prestação assistencial aumentaram consideravelmente, principalmente, após o fluxo intenso de imigrantes em regiões do Brasil, em especial na Região Norte do país.

Consequentemente, a atuação da Defensoria Pública da União na defesa dos direitos dos refugiados e apátridas tem sido de fundamental importância3. Visto isso, observa-se que a maioria

3 Papel de Defensoria na defesa dos direitos dos refugiados e apátridas. Disponível em:

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dos pleitos judiciais em que se almeja a concessão do BPC é patrocinada pela instituição. Isso porque reconhece-se que a negativa do INSS sob a justificativa de impossibilidade da concessão do benefício apenas em razão do requerente ser estrangeiro é ilícita e compromete significativamente a consolidação de direitos básicos destinados a assegurarem o mínimo existencial ao indivíduo, independentemente da sua nacionalidade.

Com fundamento nessa visão, conclui-se que se deve fornecer certo grupo de prestações essenciais ao ser humano para simplesmente ter capacidade de sobreviver e que o acesso a tais bens constitui direito subjetivo de natureza pública.

Nesse sentido, importante observar a compreensão que vem consolidando-se no âmbito jurisprudencial nacional no que concerne ao enfrentamento do tema. Visto isso, destacam-se as ponderações realizadas nos autos do Recurso Inominado n° 0036780-04.2015.4.03.6301, apreciado pela Turma Recursal do Tribunal Regional Federal da 3º Região, ao dispor o seguinte:

JEF3-0427078 RELATÓRIO CUIDA-SE DE RECURSO INTERPOSTO DA SENTENÇA PROLATADA NOS AUTOS EM EPÍGRAFE QUE JULGOU PROCEDENTE O PEDIDO DA PARTE AUTORA DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA, PREVISTO NO ARTIGO 203 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. RECORRE O INSS ALEGANDO A IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO, TENDO EM VISTA QUE A AUTORA É ESTRANGEIRA, INSURGINDO-SE, AINDA, QUANTO AOS ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS APLICADOS. É O RELATÓRIO. II - VOTO ANALISANDO OS AUTOS, VERIFICO QUE NÃO ASSISTE RAZÃO AO RECORRENTE. O INCONFORMISMO DO INSS RESIDE EXCLUSIVAMENTE NO FATO DE SER A PARTE AUTORA ESTRANGEIRA. No entanto, tal condição, por si só, não constitui óbice à concessão do benefício assistencial de prestação continuada, haja vista que os artigos 3º, inciso IV e 5º, "caput", da Constituição Federal, asseguram ao estrangeiro residente no país, o gozo dos direitos e garantias individuais em igualdade de condição com o nacional. Neste sentido é o entendimento jurisprudencial majoritário do egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª Região, "in verbis": "CONSTITUCIONAL. PROCESSO CIVIL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA A ESTRANGEIRO RESIDENTE NO PAÍS. POSSIBILIDADE DE CONCESSÃO. AGRAVO (ART. 557, § 1º, CPC). I - Ao manter

a sentença de primeiro grau que julgou procedente o pedido do autor, a r. decisão agravada filiou-se ao entendimento já manifestado anteriormente por esta c. Turma, no sentido de que a concessão do benefício assistencial é garantida aos estrangeiros residentes nos país, desde que presentes os requisitos legais autorizadores. (Precedentes do E. TRF da Terceira Região). II - O autor reside no

país desde 1962, podendo-se concluir que já poderia ter requerido sua naturalização voluntariamente, não sendo válido, no entanto, que esta seja exigida para que ele faça jus ao exercício de um direito fundamental. III - Agravo (art. 557, § 1º, CPC) interposto pelo réu improvido. (AC 00229682420134039999, DESEMBARGADOR FEDERAL SERGIO NASCIMENTO, TRF3 - DÉCIMA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:

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04/12/2013.. FONTE_REPUBLICACAO.). Na mesma linha prevalece o entendimento jurisprudencial nas Turmas Recursais desta 3ª Região: "1. Recurso interposto pelo INSS em face de sentença que julgou procedente o pedido de concessão de benefício assistencial de prestação continuada, nos termos do artigo 203, inciso V, da Constituição Federal. 2. [...] 13. O fato de a autora ser estrangeira não exclui o direito à assistência prestada pelo Estado Brasileiro, já que o mesmo reside no país e é detentor de direitos subjetivos e direitos fundamentais sociais e econômicos decorrentes da simples condição humana, como historicamente defendido por Kant. Deveras, a respeito desse tema, tenho que constitui mandamento constitucional de que o estrangeiro residente no país goza dos direitos fundamentais assegurados a todos os brasileiros (artigo 5º, da Carta da República). [...] 14. O artigo 203 da Constituição Federal diz que a assistência social será prestada a quem dela necessitar [...], cabendo ao magistrado analisar o caso concreto em toda a sua amplitude. [...] 15. Assim, considerando que a parte autora comprovou o preenchimento dos requisitos necessários, quais sejam a idade e a situação de miserabilidade, verificada em descrição detalhada no laudo socioeconômico, está claro que a apelada faz jus ao benefício de prestação continuada de que trata o art. 203, V, da Constituição Federal, regulamentado pelas Leis nº 8.742/93 e 12.435/2011, e pelo Decreto nº 6.214/07. [...] 18. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DO INSS. 19. Condeno o recorrente ao pagamento de honorários advocatícios que arbitro em R$ 700,00, seguindo entendimento pacificado nesta Turma Recursal, nos termos das balizas trazidas pela legislação processual. É como voto. (Processo 00371814220114036301, JUIZ(A) FEDERAL KYU SOON LEE, TR5 - 5ª Turma Recursal - SP, e-DJF3 Judicial DATA: 07.06.2013.). Ora, se a Constituição Federal, em seu artigo o 5º caput, garantiu igualdade entre brasileiros e estrangeiros residentes no país, não poderia o Judiciário decidir em sentido contrário. Assim, a sentença atacada deve ser mantida, eis que em conformidade com o princípio constitucional da igualdade. Quanto aos atrasados vencidos, estes deverão ser apurados desde a data de início do benefício, até a DIP, devidamente corrigidos observado o vigente Manual de Cálculos da Justiça Federal (Resolução 267 de 02.12.2013), já observada a inconstitucionalidade parcial do artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, declarada, por arrastamento, pelo Supremo Tribunal Federal, na ADI nº 4.357/DF que cuida da arguição de inconstitucionalidade de disposições introduzidas no art. 100 da Constituição Federal pela Emenda Constitucional nº 62/2009. Apesar de ter havido decisão liminar suspensiva dessa declaração de inconstitucionalidade até a modulação de seus efeitos em nova reunião da suprema Corte, essa modulação já foi feita no julgamento da questão de ordem na ADI nº 4425/DF, em 25.03.2015, e não obstante a modulação tenha restringido no tempo alguns dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade (precatórios já pagos), restou intocada no tempo a declaração de inconstitucionalidade, por arrastamento, do artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/2009, em relação aos demais casos. Ou seja, resta definitiva a declaração de inconstitucionalidade do índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança para a atualização monetária das condenações contra a Fazenda Pública. A modulação determina claramente que se aplique o IPCA-E, ou o mesmo índice de correção das dívidas tributárias, aos precatórios a serem pagos a partir do julgamento e aos que já foram pagos nos termos das Leis 12.191/2013 e 13.080/2015, o que confirma, para todas as ações condenatórias pendentes, que o artigo inquinado de inconstitucional não pode mais sustentar as correções monetárias de ações condenatórias contra a Fazenda Pública e, mais, que o índice correto a ser aplicado é o IPCA-E (para dívidas não tributárias), ou o mesmo índice de correção das dívidas tributárias (para ações tributárias), nos exatos termos que já vêm fixados na Resolução 267/2013, que, assim, deve ser observada para o cálculo de correção monetária e juros. Ante o exposto, nego provimento ao recurso, mantendo a sentença recorrida. Fixo os honorários em R$ 700,00 (setecentos reais). Dispensada a elaboração de ementa na forma da lei. É o voto. III - ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos eletrônicos, em que são partes as acima indicadas, decide a Oitava Turma Recursal do Juizado Especial Federal da Terceira Região - Seção Judiciária de São Paulo, por unanimidade, negar provimento ao

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recurso, nos termos do voto do Relator. Participaram do julgamento os Senhores Juízes Federais Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira, Márcio Rached Millani e Ricardo Geraldo Rezende Silveira. São Paulo, 22 de março de 2016 (data do julgamento). (Recurso Inominado nº 0036780-04.2015.4.03.6301, 8ª Turma Recursal de São Paulo/JEF da 3ª Região, Rel. Luiz Renato Pacheco Chaves de Oliveira. e-DJF3 22.03.2016). (grifou-se)

Além do precedente supracitado, tem-se o entendimento consubstanciado nos autos do Processo n° 0002812-64.2017.4.01.4200 da lavra do Tribunal Regional da 1ª Região, oportunidade em que também foi reconhecido o direito de concessão do benefício a uma cubana, uma vez que a mesma cumprira todos os requisitos legais para o feito. Assim, veja-se o trecho da sentença de procedência, cujo pedido fora elaborado pela Defensoria Púbica da União em Roraima:

[...] Conforme consta, o requerimento administrativo foi indeferido em face da qualidade de estrangeiro. Quanto ao tema, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a condição de estrangeiro residente no Brasil não impede o recebimento do Benefício de Prestação Continuada - LOAS, desde que atendidos os requisitos necessários para a concessão.

Em precedente mais atual, nota-se que o Tribunal Regional da 1ª Região, nos autos do Processo n° 0006972-83.2012.4.01.3400, manteve tal entendimento, conforme se depreende do julgado colacionado abaixo:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

ESTRANGEIRO. DIREITO À ASSISTÊNCIA SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. STF. REPERCUSSÃO GERAL (TEMA 173). JULGAMENTO DE PROCEDÊNCIA. 1. No caso dos autos, a Defensoria Pública da União postula pela

concessão do aludido benefício de prestação continuada – BPC aos estrangeiros com residência fixa no Brasil e que se enquadrem nas condições previstas no art. 203, V, da CF, a saber: pessoa com deficiência, ou idosa, desde que comprove não possuir meios de prover à própria manutenção, ou de tê-la provida por sua família. Com efeito, o STF declarou inconstitucional o art. 20, § 3º do art. 20, da Lei n. 8.742/1993 (LOAS) no que tange ao critério de hipossuficiência econômica, equivalente a rendimentos que não superem ¼ (um quarto) de salário mínimo, uma vez que a Constituição não fixou valor específico para aferir a aludida hipossuficiência. 2. Em precedente exarado no RE n. 587970, de 20.04.2017, o STF, em sede de repercussão geral (Tema 173), da d. Relatoria do Ministro Marco Aurélio, decidiu que o benefício de assistência social, previsto no artigo 203, inciso V, da Constituição Federal, deve ser concedido tanto a brasileiros, natos e naturalizados, como a estrangeiros, desde que residentes no País e atendidos os requisitos constitucionais e legais adrede fixados. 3. Descabe prover as Apelações da União e do INSS à Sentença de Primeiro Grau que extinguiu o processo com resolução do mérito e julgou procedente o pedido da Defensoria Pública da União, em ação civil pública, para determinar que a Autarquia previdenciária se abstenha de indeferir os pedidos administrativos formulados por estrangeiros, para a concessão do benefício de prestação continuada de que trata o art. 203, V, da Constituição Federal e a

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Lei n. 8.742/1993, que regulamentou aquele dispositivo constitucional, com fundamento na condição de alienígena do requerente. 4. Apelações da União e do INSS às quais se nega provimento.

Com efeito, as regras têm o objetivo de reduzir a incerteza na aplicação do Direito, permitindo que as pessoas pautem as condutas pela previsão abstrata, além de assegurar que a solução jurídica seja observada de modo isonômico.

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CONCLUSÃO

Arrazoando tudo o que foi exposto, é possível verificar a incompatibilidade do ato administrativo que denega o BPC, pois não obstante as normas de Direito Público Internacional e a legislação interna, observa-se que não há qualquer justificativa para a concessão do BPC somente aos nacionais, como fez o Decreto n° 6.214/2007 (art. 7º).

A relevância social do tema consubstancia-se principalmente no contexto atual no qual o Brasil está inserido. Valendo-se da interpretação dada pelo STF nos autos do RE 587970, nota-se que se deve prezar pela manutenção do mínimo existencial, bem como pela dignidade da pessoa humana de todos aqueles que se encontrarem em solo nacional.

Desse modo, a partir dessa premissa de igualdade, que nada mais significa do que considerar o migrante como o mesmo, e não como o outro ilegítimo quando da garantia de direitos fundamentais, verifica-se que o dever de solidariedade social transcende o vínculo da nacionalidade.

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da sociedade civil perante o Supremo Tribunal Federal – STF para abordar a questão migratória em conjunto com a Defensoria Pública da União – DPU. Disponível em:

Referências

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