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TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Sindical A AUTONOMIA PRIVADA COLETIVA NA JUSTIÇA DO TRABALHO. Guilherme Brandão Advogado

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A AUTONOMIA PRIVADA COLETIVA NA JUSTIÇA DO TRABALHO Guilherme Brandão

Advogado

A autonomia privada coletiva complementa o princípio da liberdade sindical. É a ma-nifestação de um poder de criar normas jurídicas, diversas das previstas pelo Estado, até mesmo para complementá-las.

Sobre a autonomia coletiva, esclarece Sérgio Pinto Martins1, o seguinte:

“A natureza jurídica da autonomia privada é analisada sob dois ângulos: público e privado.

A autonomia coletiva terá natureza pública nos regimes em que o Estado controla to-talmente o sindicato ou então este exerce atividade delegada de interesse público, como os regimes corporativistas e, no Brasil, até a vigência da Emenda Constitucional nº 1, de 1969.

Nos verdadeiros regimes democráticos e pluralistas, a autonomia coletiva é privada. No Brasil a autonomia coletiva também é privada a partir da Constituição de 1988, pois o Estado não interfere ou intervém no sindicato e este não mais exerce atividade estatal delegada de interesse público, embora ainda exista a unicidade sindical.”

A respeito, Maurício Godinho Delgado2, ao discorrer sobre o tema, esclarece que o princípio da autonomia sindical sempre sofreu graves restrições na história jurídica e política brasileira, culminando por informar que somente a partir da Carta Magna de 1988 é que teria sentido sustentar-se que o princípio autonomista ganhou corpo na ordem jurídica do País, já que a nova Constituição eliminou o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutu-ra dos sindicatos, quer quanto à sua criação, quer quanto à sua gestão (art. 8º, I), além de haver alargado as prerrogativas de atuação dessas entidades, seja na negociação coletiva (art. 8º, VI, e 7º, XXVI), como também pela amplitude assegurada pelo direito de greve (art. 9º).

Na verdade, mais do que isso: direito de pleitear, administrativamente e judicialmente, a observância dos direitos de seus associados. Esta liberdade sindical, hoje conferida aos entes

1 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho. 24ª ed. São Paulo: Atlas, 2008, pág. 768.

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sindicais, é traduzida em autonomia privada, que pode ser individual ou coletiva. A primeira (individual) se refere às regras jurídicas aplicadas às próprias partes interessadas, como acon-tece no contrato de trabalho. A segunda (coletiva) pode ser regida pelos contratos, convenções e acordos coletivos, que incidirão sobre os contratos de trabalho, buscando, assim, o interesse do grupo, sendo o titular da autonomia o sindicato.

Portanto, o direito do trabalho admite o chamado princípio da autonomia coletiva, já que reconhece como legítimas as normas jurídicas elaboradas pelos trabalhadores, emprega-dores e suas entidades sindicais. Normas, essas, que emanam das negociações coletivas, em cujo fim é formalizado um documento escrito, chamado de acordo coletivo de trabalho, em caso de empresa; ou convenção coletiva de trabalho, em caso de categoria; ou contrato coleti-vo de trabalho, se for de âmbito nacional ou interprofissional.

A restrição a estas normas se dará apenas quando as referidas convenções e acordos coletivos contrariarem a Lei.

O sindicato, como se sabe, é pessoa jurídica de direito privado, possuindo, como prer-rogativas básicas, a representação da categoria, o desenvolvimento de negociação, a arrecada-ção das contribuições, a prestaarrecada-ção de assistência de natureza jurídica e a possibilidade de de-mandar em juízo em nome de seus representados.

Sobre a autonomia privada coletiva, proclama, ainda, Sergio Pinto Martins3, o seguinte:

“Prevê o art. 444 da CLT que as relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposi-ções de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às de-cisões das autoridades competentes. Isso significa que existem limites à autonomia privada individual na contratação, isto é, os ajustes entre empregado e empregador es-tão limitados pela norma coletiva, pela autonomia privada coletiva.”

E, mais adiante:

“Na autonomia privada coletiva, o sindicato não vai criar direito estatal, mas normas jurídicas decorrentes de sua autonomia, que dirão respeito, por exemplo, a condições de trabalho aplicáveis à categoria de empregados e empregadores envolvida, a normas previstas no estatuto regulando o funcionamento do sindicato e a conduta dos associa-dos. Na maioria das vezes são criadas normas não previstas em lei, que acabam com-plementando as segundas.

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Tem a autonomia privada coletiva dois aspectos: o objetivo e o subjetivo. Do ponto de vista subjetivo, a autonomia privada coletiva diz respeito a uma coletividade de Pessoas, que têm um mesmo interesse a ser defendido. O aspecto objetivo da autono-mia privada coletiva é o próprio ordenamento sindical ou a particularidade desse ordenamento, que começa com o estatuto do sindicato, que é um ordenamento dife-renciado em relação a outras entidades de fato, em que são fixadas as normas para a vida associativa.”

Portanto, se determinada categoria pactuou, mediante instrumentos normativos, sem a existência de lei que a proíba, não há como desconsiderar essa pactuação.

Diz-nos a Carta Magna:

“Art. 7º. São direitos dos trabalhadores, urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

... VI – irredutibilidade de salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; ... XIII – duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acor-do ou convenção coletiva de trabalho;

... XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de reve-zamento, salvo negociação coletiva;

... XXVI – reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho.”

Desse modo, vemos que são várias as hipóteses que dão prioridade à autonomia de vontade, autorizando, assim, que, mediante instrumentos normativos, as partes convenentes estabeleçam condições específicas de trabalho.

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Nesse ponto, cumpre transcrever precedentes recentes do Tribunal Superior do Traba-lho (TST), que prestigiam os instrumentos coletivos:

“RECURSOS DE REVISTA DA PETROS E DA PETROBRAS. MATÉRIA COMUM – ABONO SALARIAL – NATUREZA INDENIZATÓRIA – CONCES-SÃO DE PARCELA POR ACORDO COLETIVO APENAS PARA OS EMPREGA-DOS DA ATIVA. NÃO EXTENSÃO AOS INATIVOS. ORIENTAÇÃO JURISPRU-DENCIAL 346 DA SBDI – 1 DO TST.

1. O art. 7º, XXVI, da CF estabelece o reconhecimento dos acordos e convenções co-letivas de trabalho, priorizando a autonomia de vontade das partes, quando autoriza que, mediante instrumentos normativos, as partes convenentes estabeleçam condições específicas de trabalho.

2. Nesse contexto e, nos termos da Orientação Jurisprudencial 346 da SBDI-1 do TST, se a categoria pactuou, mediante instrumentos normativos, a natureza indenizatória dos abonos, devidos apenas aos trabalhadores em atividade, desconsiderar essa pactuação torna irremediavelmente inócuas as normas coletivas e afronta o dispositivo constitucional supracitado.” (TST 7ª Turma Proc. RR 2222/2007-654-09-00, Relatora Ministra Maria Doralice Novaes, publicado em 04.12.2009, decisão unânime).

“RESCISÃO POR CULPA RECÍPROCA PREVISTA EM CLÁUSULA COLETIVA. MULTA DE 20% DO FGTS. VALIDADE.

A autonomia da vontade coletiva, consagrada no art. 7º, XXVI, da Lei Maior, há de se exercer no âmbito que lhe é próprio, com observância, portanto, no expressivo dizer de Carmen Camino, do chamado núcleo duro do Direito do Trabalho, formado por nor-mas de fone estatal, imperativas e de ordem pública, informadas pelos princípios da proteção e da irrenunciabilidade, com ressalva das hipóteses de abertura, pela própria lei, à autonomia coletiva – a que Oscar Ermida Uriarte chama de válvulas de escape –, e que dizem, no direito posto, com salário e jornada de trabalho (art. 7º, VI, XIII e XIV, da Constituição Federal). Nesse contexto, à luz do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.036/90, e tendo em mira a natureza multidimensional do FGTS, de fundo social e garantia do tempo de serviço do empregado, previsto como direito social no inciso III do art. 7º da Carta Política, não pode prevalecer a cláusula de instrumento coletivo que prevê, a despeito de inocorrente a prática de quaisquer dos atos previstos nos arts. 482 e 483 da CLT, a rescisão contratual por culpa recíproca, sem o reconhecimento judi-cial, e o decorrente pagamento de multa de 20% do FGTS.” (TST 3ª Turma, Proc. RR 1330/2008-012-10-00, Relatora MIn. Rosa Maria Weber Candiota da Rosa, publicado

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Por essas razões, só não poderá ser admitida a autonomia privada coletiva quando infligir norma de ordem pública e de ordem geral, como ocorre em relação a algumas maté-rias, como, por exemplo, salário mínimo, fématé-rias, repouso semanal remunerado, intervalos, segurança e medicina do trabalho.

Nessas hipóteses, há restrições à autonomia privada coletiva, já que o Estado impõe direitos mínimos a serem observados.

Referências

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