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SECRETARIA DA JUSTIÇA E DA DEFESA DA CIDADANIA FUNDAÇÃO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR

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Academic year: 2021

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Interessado: Fundação Procon São Paulo

Assunto: Discussão sobre a proposta de deliberação da ARSESP que dispõe sobre a inclusão de mecanismos tarifários de contingência no programa de incentivo à redução do consumo de água da SABESP.

Ementa: Audiência Pública 003/2014 ARSESP - Cobrança de multa sobre o consumo excedente médio de água – Lei Federal nº 11.445/2007 - Adoção de mecanismos tarifários de contingência – Declaração da autoridade gestora de recursos – Racionamento.

Em observância ao regulamento da Audiência Pública aberta pela ARSESP para contribuições sobre a inclusão de mecanismo tarifário de contingência no Programa de Incentivo à Redução de Consumo de Água, a Fundação PROCON/SP apresenta suas considerações sobre o assunto.

De acordo com a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, a crise hidrológica reduziu drasticamente o volume armazenado nos reservatórios de água que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo, os quais operam em níveis críticos, exigindo medidas que possam restringir o eventual desperdício.

Para atingir tal objetivo, a Agência criou um mecanismo de bonificação nas tarifas durante o período de vigência do Programa de Incentivo à Redução do Consumo de Água, para beneficiar aqueles consumidores que economizarem seu consumo de água, cuja última determinação, concede uma redução no valor da conta de água em 30%, 20% e 10%, para os usuários cujo consumo mensal apresentem, respectivamente, uma economia em pelo menos 20%; maior ou igual a 15% e inferior a 20%; maior ou igual a 10% e inferior a 15%, tendo como base à média de consumo do período de fevereiro/2013 a janeiro/2014.

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Segundo a ARSESP, mesmo com a adoção e ampliação dos mecanismos de gestão da demanda, por meio do Programa de Incentivo à Redução do Consumo de Água que, segundo dados de novembro de 2014, obtiveram uma adesão de 76% da população, observou-se que parte dos usuários vem mantendo consumos superiores à média do período fevereiro de 2013 a janeiro de 2014, usada como referência no Programa supra mencionado, motivo pelo qual a Agência pretende implantar uma nova medida, para abranger usuários que não aderiram às medidas implementadas de incentivo à redução de consumo.

Para tal, optou-se por incluir no Programa de Incentivo à Redução de Consumo de Água as tarifas de contingência, mecanismos tarifários para desestimular o consumo mensal de água em nível superior à média mensal apurada no período de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014, o qual denomina-se, consumo de referência.

As medidas, cuja implantação está sendo levada à discussão em Audiência Pública, prevê que aqueles usuários que ultrapassarem a média de consumo mensal, apurada no período de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014, ficam sujeitos à tarifa de contingência de 20% de acréscimo, para os usuários que ultrapassarem em até 20% o consumo de referência; e de 50% de acréscimo para aqueles que ultrapassarem em mais de 20% o consumo de referência.

Quanto a questão, a Consultoria Jurídica da Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo já havia se manifestado favoravelmente quanto à possibilidade de implantação de tarifas de contingência, para gestão da demanda, a qual tem previsão na Lei Federal n. 11.445 de 05/01/2007.

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Analisando a Lei Federal nº 11.445/20071, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, verificamos a possibilidade da adoção de mecanismos tarifários de contingência pelo ente regulador, em situações críticas de escassez ou contaminação de recursos hídricos, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda. (grifo nosso)

Não diferentes são as disposições do Decreto Federal nº 7.217/2010, que regulamenta referida lei, que também prevê mencionada possibilidade do mecanismo tarifário de contingência, entretanto ambos estabelecem duas condicionantes:

• Adoção de racionamento por meio da declaração da autoridade gestora de

recursos hídricos;

• Adoção dos mecanismos tarifários de contingência por parte do Ente

Regulador.

Nesse sentido, considerando as disposições legais, para aplicação de mencionada tarifa, há necessidade da declaração de racionamento por parte da autoridade gestora de recursos hídricos, bem como a edição por parte do ente regulador estadual, que no caso é a ARSESP, dos denominados mecanismos tarifários que justifique a contingência da medida.

1 Lei Federal nº 11.4445/2007

Art. 46 Em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos tarifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda.

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Por sua vez, a Agência justifica, através de Parecer Jurídico, a possibilidade da instituição de tarifa de contingência como mecanismo ou instrumento de indução do usuário a reduzir o consumo de água, de maneira a permitir a adequada e racional gestão de demanda, observadas as condições elencadas na legislação pertinente, tendo em vista das progressivas reduções de retirada de água do sistema Cantareira, determinadas pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), em seus sucessivos Comunicados Conjuntos, os quais entendem como uma declaração de racionamento pelas autoridades gestoras de recursos hídricos.

Entretanto, esta Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor entente que os Comunicado editados pela ANA/DAEE não são suficientes para configurarem uma situação de racionamento, devendo tal medida ser realizada através de decreto expedido pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica- DAEE2, na qualidade de órgão gestor dos recursos hídricos do Estado de São Paulo, declarando de maneira formal o estado emergencial que se encontra o abastecimento de água no estado.

Em relação a tarifa de contingência a ser adotada pelo ente regulador, a lei determina que a mesma tenha como escopo a cobertura dos custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda, situação que não é comprovada pela ARSESP em sua Nota Técnica, de maneira que a implantação desta tarifa se assemelha mais a uma aplicação de multa ou mera medida arrecadatória, o que caracteriza o desvio de sua finalidade.

Portanto, a proposta em questão, da maneira que se encontra, viola a Lei Federal nº 11.445/2007, como também afronta o próprio Código de Defesa do

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Consumidor, já que a alteração na tarifa, sem a declaração de sua extraordinariedade, se fará de modo injustificado e abusivo3.

Da mesma forma que é público e notório a crise hídrica no estado de São Paulo, também é público e notório as notícias relativas a falta de água em bairros da região metropolitana de São Paulo, levando os consumidores a estocarem o precioso líquido em reservatórios improvisados, bem como a contratação de caminhões pipa para abastecer as caixas d’agua de edifícios e de estabelecimentos de comércio e indústria. Portanto a ausência de decreto de racionamento faz com que tais situações sejam entendidas como má prestação de serviço por parte da companhia responsável pelo tratamento e distribuição de água.

Ou seja, o consumidor se vê duplamente prejudicado, seja pela falta da água, seja pela sobretaxação imposta caso ultrapasse o limite de consumo que o órgão regulador pretende implantar.

Vale salientar que o Decreto Federal 7.127/20104 que regulamenta a lei de saneamento, prevê que a tarifa de contingência incidirá, preferencialmente, sobre os consumidores que ultrapassarem os limites definidos no racionamento, porém, como afirmamos anteriormente, ainda não há decreto formalizando a situação. (g.n.)

3

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (...)

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

4

Art. 21. Em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos tarifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda.

Parágrafo único. A tarifa de contingência, caso adotada, incidirá, preferencialmente, sobre os consumidores que ultrapassarem os limites definidos no racionamento.

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Continuando a nossa explanação, a deliberação a ser implantada determina que a tarifa de contingência será aplicável aos usuários de todas as categorias, com exceção dos usuários com consumo mensal de água menor ou igual a 10 m³; dos novos usuários e usuários que não possuam a média de consumo do período de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014; e dos hospitais, prontos-socorros, casas de saúde, delegacias, presídios e casas de detenção, sendo que outras hipóteses de exclusão não previstas na Deliberação deverão ser encaminhadas à SABESP para avaliação.

Há de se levar em conta os casos em que o consumidor muda repentinamente seus hábitos de consumo, aumentando o uso da água, como por exemplo, o nascimento de um filho, ou a presença de um parente em sua residência, fato que pode ensejar na aplicação inadequada da tarifa de contingencia em sua conta de água.

Entretanto, a deliberação é silente quanto ao modo de proceder nestas situações. Ou seja, mais uma vez o consumidor será duplamente prejudicado, seja pela aplicação da tarifa como “multa” pelo aumento da demanda, mais o encargo de comparecer, obrigatoriamente, em uma agência da companhia de saneamento para demonstrar que não está desperdiçando água.

Além da decretação oficial do racionamento de água, a Fundação PROCON/SP entende que, antes da aplicação da tarifa de contingência, há necessidade de apresentação de campanha intensa em todos os meios de comunicação, informando o fato bem como estabelecendo data para implementação da medida.

Durante a vigência de sua deliberação, a ARSESP deverá emitir norma sobre procedimento referente a defesa do consumidor que venha a ser atingido pela

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sobretaxa, dando-lhe oportunidade para justificar o seu aumento de consumo (aumento na família, ampliação/melhoria de imóvel, etc.), sem que, necessariamente, tenha que comparecer na agência da SABESP, permitindo que faça a sua manifestação por meio eletrônico e mais, caso se verifique cobrança indevida na conta do consumidor, esta deverá ser deve ser restituída nos termos do Código de Defesa do Consumidor5.

Por fim, após o fim do racionamento, a SABESP deverá demonstrar que os recursos advindos da aplicação da tarifa de contingencia foram devidamente utilizados para a cobertura dos custos adicionais decorrentes da medida extraordinária, cumprindo o que a legislação de saneamento determina.

São Paulo, 24 de dezembro de 2014

Fundação PROCON/SP

5 Art. 42. (...)

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Referências

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