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Confiança e poder dos stakeholders internos no contexto da economia solidária: uma contribuição para o estudo das associações e cooperativas de recicláveis do grande ABC Paulista e Cotia

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - PPGA. DOUGLAS MURILO SIQUEIRA. CONFIANÇA E PODER DOS STAKEHOLDERS INTERNOS NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE RECICLÁVEIS DO GRANDE ABC PAULISTA E COTIA. São Paulo 2015.

(2) DOUGLAS MURILO SIQUEIRA. CONFIANÇA E PODER DOS STAKEHOLDERS INTERNOS NO CONTEXTO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DAS ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS DE RECICLÁVEIS DO GRANDE ABC PAULISTA E COTIA Tese apresentada ao Programa de Pósgraduação. em. Administração. da. Universidade Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Administração.. Orientador: Prof. Dr. Benny Kramer Costa. São Paulo 2015.

(3) Siqueira, Douglas Murilo. Confiança e poder dos stakeholders internos no contexto da economia solidária: uma contribuição para o estudo das associações e cooperativas de recicláveis do grande abc paulista e cotia/ Douglas Murilo Siqueira. 2015. 244 f. Tese (doutorado) – Universidade Nove de Julho - UNINOVE, São Paulo, 2015. Orientador (a): Prof. Dr. Benny Kramer Costa. 1. Confiança. 2. Poder. 3. Stakeholders. 4. Economia solidária. 5. Princípios da economia solidária. I. Costa, Benny Kramer. II. Titulo. CDU 658.

(4) FOLHA DE APROVAÇÃO. Douglas Murilo Siqueira Título: Confiança e poder dos stakeholders internos no contexto da economia solidária: uma contribuição para o estudo das associações e cooperativas de recicláveis do grande ABC paulista e Cotia.. Tese apresentada ao Programa de Pósgraduação. em. Administração. da. Universidade Nove de Julho – UNINOVE, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Administração.. Banca Examinadora. Prof. Dr. Benny Kramer Costa (orientador) Universidade Nove de Julho - Uninove. Prof. Dr. Dirceu Silva (Uninove) Universidade Nove de Julho - Uninove. Prof. Dra. Vania Nassif (Uninove) Universidade Nove de Julho - Uninove. Prof. Dr. Almir Martins Vieira Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Prof. Dr. Carlos Alberto Gonçalves Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Fundação Mineira de Cultura (Universidade FUMEC).

(5) Aos catadores e catadoras, muitas vezes invisíveis para a sociedade, mas presença constante e fundamental para um mundo mais sustentável e que mostram ser possível fazer diferente..

(6) AGRADECIMENTOS. Em primeiro, agradeço a Deus, presente em todos os momentos de nossa vida, que sempre coloca as pessoas certas em nosso caminho. Agradeço ao professor doutor Benny Kramer Costa. Além de me orientar, incentivar e apoiar, acreditou em mim ao me acolher como seu orientando. Agradeço aos demais professores da Casa, por todo o apoio e orientação, e à instituição UNINOVE, por investir na formação de mestres e doutores para o país. Deixo também meus agradecimentos para todos os colegas que fiz durante o doutorado, em especial para minhas amigas Roberta Manfron, Viviane Gervasoni e Marlette Cassia. Um agradecimento especial também para o Mário, sempre presente com seu apoio. Agradeço ao meu diretor, professor doutor Luciano Venelli Costa, que sempre me incentivou e cedeu espaço para que eu pudesse concluir esta tese. Neste sentido, não posso deixar de me lembrar do professor Jeferson dos Santos e de nosso assistente Leandro Lourenço, que me apoiaram em todos os momentos nos quais solicitei ajuda. A coleta dos dados primários com 121catadores não seria possível sem a participação ativa da Jaqueline e do Baroni, a quem deixo meus agradecimentos. São muitas as pessoas que ao longo destes quatros anos me ajudaram a chegar a este momento, como a Lea e a equipe da SBCSOL, a Silvia Gattai e Gleice Guerra, com suas opiniões sobre meu tema, mas o projeto não teria sido realizado se não tivesse o apoio incondicional da minha amiga Bete Rocha, a solidariedade em forma de pessoa. Externo um agradecimento especial a todos os catadores e catadoras de todos os empreendimentos que visitei e que me acolheram com muita abertura e carinho, à FINEP e ao CNPq, financiadores do projeto SBCSOL, que possibilitaram que eu tivesse contato com este novo modelo de economia e empreendimentos. À minha mãe, pela presença em minha formação, à minha irmã, ao meu pai e irmão (in memoriam) e a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram com esta tese. Encerro com o agradecimento para minha esposa Daniela, que soube compreender os momentos de minha ausência e compartilhou comigo as alegrias e ansiedades durante esta caminhada..

(7) EPÍGRAFE. “Nas condições atuais, o cidadão do lugar pretende instalar-se também como cidadão do mundo. A verdade, porém, é que o “mundo” não tem como regular lugares. Em consequência, a expressão cidadão do mundo torna-se um voto, uma promessa, uma possibilidade distante. (...). Na verdade, o cidadão só o é (ou não é) como cidadão de um país. Ser “cidadão de um país”, sobretudo quando o território é extenso e a sociedade muito desigual, pode constituir, apenas, uma perspectiva de cidadania integral, a ser alcançada nas escalas subnacionais, a começar pelo nível local. Esse é o caso brasileiro, em que a realização da cidadania reclama, nas condições atuais, uma revalorização dos lugares e uma adequação de seu estatuto político.” Milton Santos (Do livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal, p. 113.).

(8) RESUMO. O problema desta tese foi o de investigar as relações de confiança e de poder dos stakeholders. internos das cooperativas de coleta e tratamento de resíduos sólidos, no contexto dos princípios da economia solidária e como elas ocorrem. O objeto de estudo foram seis cooperativas, sendo cinco da região do grande ABC paulista e uma da cidade de Cotia na região metropolitana de São Paulo. Por meio dos dados secundários e entrevistas em profundidade, foram identificados os stakeholders internos e externos destes empreendimentos. Para responder à questão de pesquisa, seus objetivos e proposições, a investigação utilizou a pesquisa de caráter exploratório e descritivo, com estratégia de estudo de caso múltiplo e incorporado, com três unidades de análise: organização, gestores e catadores (unidade central). A pesquisa documental, entrevistas em profundidade, observações diretas, questionário semiestruturado e análise de redes sociais (Social Network Analysis) foram utilizadas para identificar a tipologia existente das variáveis confiança e poder nos empreendimentos e a relação entre elas. A problemática dos resíduos sólidos no Brasil serviu de pano de fundo para a elaboração dessa pesquisa. Os resultados mostraram que os empreendimentos, em sua maioria, possuem uma relação de confiança pautada no utilitarismo. Somente duas cooperativas foram identificadas com confiança do tipo relacional, que gera relações mais duradouras pautadas na confiança mútua. Quanto à tipologia de poder, duas foram caracterizadas como autocráticas, uma como instrumento, uma em transição de autocrática para missionária e duas do tipo missionário. Ao considerar que a confiança do tipo relacional e o poder do tipo missionário seriam as tipologias esperadas nos empreemdimentos solidários, conclui-se que somente duas cooperativas mostraram maior aderência aos princípios da economia solidária, por outro lado, destes dois empreendimentos, somente um demonstrou sustentabilidade econômica por meio da confiança mútua. Este empreendimento, por sua vez, demonstrou possuir a componente habilidade gerencial presente em sua gestora, como elemento central na formação da tipologia de confiança, diferindo dos demais. A relação entre a confiança e poder mostrou que as variáveis caminham lado a lado. Os empreendimentos econômicos solidários não possuem, em sua estratégia, o acúmulo de capital, mas devem sobreviver no mundo capitalista e para tanto precisam manter sua sustentabilidade econômica, fortalencendo seus vínculos por meio da confiança mútua e da colaboração.. Palavras-chave: Confiança, poder, stakeholders, economia solidária, princípios da economia solidária..

(9) ABSTRACT. The problem that triggered this thesis to investigate the relation between trust and power of internal stakeholders belong to cooperatives of collection and treatment of solid residues within the context of the principles of solidarity economy and how they happen. The object of study used a sample of six cooperatives, five ones from ABC region and one from Cotia city, all of them in São Paulo state. Through secondary data and interviews were identified the stakeholders from their cooperatives – internal and external ones. To respond the research question, its objectives and propositions the investigation was conducted by an exploratory and descriptive research, using the multiple case study strategy with three analysis units: organization, managers and collectors workers. The documentary research, interviews, direct observations, semistructured research questionnaire and the social networks analysis (Social Network Analysis) methods were used, to find out the existing typology of trust and of power in the enterprises and the relationship between themselves. The problematic context about solid residue in Brazil was the background scenario to support the development of this study research. The results showed that majority of cooperatives, present trust relationship based on utilitarianism. Only two cooperatives presented the relational trust type which generates long term relations guided on mutual trust. In regards the power typology, two cooperatives were characterized as autocratic, one as an instrument, and one is over transition phase from autocratic to missionary and remaining two are marked as missionary type. Taking in consideration that relational trust and missionary power are expected typologies for solidary enterprises, the conclusion is that just two cooperatives match to solidarity economy principles, even though just one of these cooperatives demonstrated economic sustainability through mutual trust. This cooperative presents managerial skill on its manager as as centric element of trust typology formatting which differentiates it from others. The trust and power relationship study shows that those variables coexist simultaneously. The solidarity economy enterprises do not have in their strategy capital earnings even though they must surviving in the capitalist world and need to maintain their economic sustainability to strengthen their chains through mutual trust and collaboration.. Keywords: trust, power, stakeholders, solidarity economy, principles of solidarity economy..

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 1. Dimensões da sustentabilidade na Economia Solidária. ................................... 20 Figura 2. Dimensões conceitual e empírica da tese ............................................................. 26 Figura 3. Desenho da tese....................................................................................................... 29 Figura 4. Stakeholder – view of Firm ..................................................................................... 43 Figura 5. Diversas definições de stakeholders. Adaptado e complementado de Pinto (2004, p.82); Mainardes (2010, p.14)............................................................................. 45 Figura 6. Uso da teoria dos stakeholders .............................................................................. 46 Figura 7. Proposta de Freeman e Reed................................................................................ 48 Figura 8. Modelo de identificação da importância dos stakeholders ................................. 49 Figura 9. Tipos de stakeholders ............................................................................................. 49 Figura 10. Componentes da confiança .................................................................................. 57 Figura 11. Componentes da confiança transacional e transformadora ............................ 59 Figura 12. Modelo de confiança de Rousseau et al .............................................................. 62 Figura 13. Marco teórico do poder na dimensão sociológica e política. ............................ 66 Figura 14. Marco teórico do poder organizacional. ............................................................ 68 Figura 15. Bases do poder ...................................................................................................... 70 Figura 16. Configurações do poder ....................................................................................... 72 Figura 17. Aspectos característicos das configurações de poder........................................ 73 Figura 18. Estágios de formação do grupo ........................................................................... 74 Figura 19. Estilos individuais e tipos de organização .......................................................... 75 Figura 20. Jogos de poder ...................................................................................................... 77 Figura 21. Configuração de poder e os jogos utilizados. ..................................................... 78 Figura 22. Distribuição regional dos empreendimentos da Economia Solidária do setor de reciclagem (em percentual) ....................................................................................... 82 Figura 23. Direcionamento da tese ........................................................................................ 88 Figura 24. Desenho da pesquisa de tese ................................................................................ 93 Figura 25. Tipos de desenho de estudo de caso .................................................................... 94 Figura 26. Formação da Coopcente ABC ............................................................................. 96 Figura 27. Modelo de relacionamento das cooperativas ..................................................... 97 Figura 28. Unidades de análise .............................................................................................. 98 Figura 29. Fontes de coleta de dados .................................................................................. 102 Figura 30. Universo da coleta com entrevista semiestruturada ....................................... 104 Figura 31. Atores entrevistados em profundidade. ........................................................... 105 Figura 32. Blocos de pesquisa .............................................................................................. 111 Figura 33. Coletas e plano de análise .................................................................................. 112 Figura 34. Análise comparativa dos estatutos das cooperativas do grande ABC........... 124 Figura 35. Stakeholders revelados nas entrevistas e identificados nos estatutos ............ 126 Figura 36. Tempo de existência da cooperativa e seus presidentes ................................. 135 Figura 37. Distribuição dos gêneros e média de tempo de cooperativa ........................... 147 Figura 38. Intensidade hierárquica percebida nos stakeholders internos ....................... 152 Figura 39. Conselho (confiança e influência). .................................................................... 158 Figura 40. Assembleia (confiança e influência) ................................................................. 158 Figura 41. Comitês (confiança e influência) ....................................................................... 159 Figura 42. Incubadora (confiança e influência) ................................................................. 159 Figura 43. Presidente (confiança e influência) ................................................................... 159 Figura 44. Coopcent ABC (confiança e influência) ........................................................... 160 Figura 45. Empresas (confiança e influência) .................................................................... 160.

(11) Figura 46. Prefeitura (confiança e influência) ................................................................... 161 Figura 47. Sociograma das relações de confiança – Coopercata...................................... 173 Figura 48. Sociograma das relações de confiança – Cooperlimpa ................................... 175 Figura 49. Sociograma das relações de confiança – Cooperpires .................................... 176 Figura 50. Sociograma das relações de confiança – Raio de Luz ..................................... 178 Figura 51. Sociograma das relações de confiança – Reluz................................................ 179 Figura 52. Sociograma das relações de confiança – Coopernova .................................... 181 Figura 53. Sociograma das relações de poder – Coopercata ............................................ 183 Figura 54. Sociograma das relações de poder – Cooperlimpa ......................................... 184 Figura 55. Sociograma das relações de poder – Cooperpires ........................................... 186 Figura 56. Sociograma das relações de poder – Raio de Luz ........................................... 188 Figura 57. Sociograma das relações de poder – Reluz ...................................................... 190 Figura 58. Sociograma das relações de poder – Coopernova ........................................... 191 Figura 59. Densidade das redes de confiança e poder ....................................................... 192 Figura 60. Hierarquia das redes de confiança e poder ..................................................... 193 Figura 61. Atores centrais das redes de confiança e poder ............................................... 193 Figura 62. Achados de campo – Características da configuração do poder ................... 194 Figura 63. Achados de campo – Estágios de formação do grupo ..................................... 195 Figura 64. Achados de campo – tipologia de confiança nos empreendimentos .............. 196 Figura 65. Transmissão dos valores ECOSOL (identificação) ......................................... 215.

(12) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 – Grau de confiança dos catadores na Prefeitura (em percentual) .................. 130 Tabela 2 – Grau de influência da Prefeitura na visão dos catadores (em percentual) .. 131 Tabela 3 – Recorte da quantidade de pessoas, segmento e retirada média..................... 133 Tabela 4 – Desconhecimento da estrutura organizacional em percentual ...................... 154 Tabela 5 – Desejo de ser empregado ................................................................................... 162 Tabela 6 – As pessoas estão aqui somente por causa das retiradas? ............................... 164 Tabela 7 – Comparativo em percentual das respostas sobre confiança sob olhar dos catadores ........................................................................................................................ 165 Tabela 8 – Identificação do conceito de confiança dos catadores .................................... 166 Tabela 9 – As pessoas aqui dentro trabalham com confiança um nos outros?............... 167 Tabela 10 – Comparativo em percentual das respostas sobre influência sob olhar dos catadores ........................................................................................................................ 168 Tabela 11 – As pessoas aqui dentro têm medo de punições? ............................................ 169 Tabela 12 – Cada um sabe o que deve ser feito e faz da melhor forma possível ............ 169 Tabela 13 – As pessoas aqui dentro trabalham de forma compartilhada ....................... 170 Tabela 14 – As pessoas trabalham com esforço coletivo para retiradas cada vez maiores ........................................................................................................................................ 170 Tabela 15 – Índices comparativos das redes de confiança e poder .................................. 192.

(13) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. ANPROTEC. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimento de Tecnologia Avançada. ANTEAG. Associação Nacional de Empresas de Autogestão. ABI. Ability, benevolence, integrity. ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Públicas e Resíduos Especiais. ACI. Aliança Cooperativa Internacional. AOM. Academy of Management. BNDES. Banco Nacional do Desenvolvimento. CAPS. Centro de Apoio Psicossocial. CAPES. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. CBO. Código Brasileiro de Ocupação. COOPCENT ABC. Cooperativa Central do ABC. CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. CI. Coalizão Interna. CE. Coalizão Externa. CEO. Chief Executive Officer. CEMPRE. Compromisso Empresarial para Reciclagem. CFA. Conselho Federal de Administração. CL. Nível de Comparação. CLalt. Nível de Comparação Alternativa. CLT. Consolidação das Leis do Trabalho. CNES. Conselho Nacional de Economia Solidária. CNPq. Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico. DIEESE. Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. ECOSOL. Economia Solidária. EES. Empreendimentos de Economia Solidária. Es. Economia Solidária. EUA. Estados Unidos da América. FBES. Fórum Brasileiro de Economia Solidária. FINEP. Agência Brasileira de Inovação.

(14) IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IES. Instituições de Ensino Superior. IPEA. Instituto de Pesquisas Aplicadas. ITCP. Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares. MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. OIT. Organização Internacional do Trabalho. ONG. Organização não Governamental. PNRS. Política Nacional de Resíduos Sólidos. PMSBC. Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo. PPP. Parceria Público Privada. PRONINC. Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares. RH. Recursos Humanos. RPA. Recibo de Pagamento a Autônomos. SBC. São Bernardo do Campo. SBCSOL. São Bernardo do Campo Solidário. SENAES. Secretaria Nacional da Economia Solidária. SIES. Sistema de Informações da Economia Solidária. SNA. Social Network Analysis. SRI. Stanford Research Institute. UNINOVE. Universidade Nove de Julho. UNISOL. Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários. UNITRABALHO. Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho.

(15) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 17 2 ECONOMIA SOLIDÁRIA – ANTECEDENTES, CONCEITO, PRINCÍPIOS E DESAFIOS ................................................................................................................................. 32 2.1 Antecedentes......................................................................................................................... 32 2.2 Conceito ................................................................................................................................ 34 2.3 Cenário brasileiro ................................................................................................................. 35 2.3.1 Incubadoras universitárias de empreendimentos da Economia Solidária no Brasil .......... 37 2.4 Princípios da Economia Solidária......................................................................................... 39 3 TEORIA DOS STAKEHOLDERS ......................................................................................... 42 3.1 Identificação dos stakeholders .............................................................................................. 47 3.2 Teoria dos Stakeholders e seu relacionamento com a confiança.......................................... 50 3.3 Teoria dos Stakeholders e seu relacionamento com o Poder ............................................... 51 4 CONFIANÇA – CONCEITO E TIPOLOGIA ........................................................................ 54 4.1 Conceito de confiança .......................................................................................................... 55 4.2 Componentes da confiança ................................................................................................... 56 4.3 Tipos de confiança ................................................................................................................ 58 4.3.1 Confiança como estado psicológico .................................................................................. 58 4.3.2 Confiança como comportamento de escolha ..................................................................... 60 4.3.3 Confiança institucional ...................................................................................................... 62 5 PODER .................................................................................................................................... 65 5.1 Teoria do poder organizacional de Mintzberg ...................................................................... 69 6 TRATAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL ................................................ 79 7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................................ 87 7.1 Natureza e tipo de pesquisa empírica ................................................................................... 88 7.2 Estratégia de pesquisa ........................................................................................................... 90 7.3 Desenho da pesquisa ............................................................................................................. 92 7.3.1 Projeto de estudo de caso................................................................................................... 92 7.3.2 Definição do objeto de estudo (seleção dos casos) e unidades de análise ......................... 95 7.3.3 Coleta de dados .................................................................................................................. 99 7.3.4 Plano de análise ............................................................................................................... 111 7.3.5 O uso do Social Network Analysis – SNA ...................................................................... 113 7.3.6 Conceitos do SNA ........................................................................................................... 115 7.3.7 Os três tipos de influenciadores na rede .......................................................................... 119 8 RELAÇÕES DE CONFIANÇA E PODER NAS COOPERATIVAS/ASSOCIAÇÕES ..... 122 8.1 Revelações dos estatutos .................................................................................................... 122 8.2 Stakeholders revelados ....................................................................................................... 125 8.3 Prefeitura de SBC e os empreendimentos de reciclagem da cidade ................................... 132 8.4 Revelações das unidades de análise “empreendimentos” (organizações) e “gestores”...... 134 8.4.1 Histórico do empreendimento e gestores......................................................................... 134 8.4.1.1 Raio de Luz e Reluz (São Bernardo do Campo) .......................................................... 135 8.4.1.2 Cooperlimpa (Diadema) ............................................................................................... 139 8.4.1.3 Cooperpires (Ribeirão Pires) ........................................................................................ 141 8.4.1.4 Coopercata (Mauá) ....................................................................................................... 143 8.4.1.5 Coopernova (Cotia) ...................................................................................................... 144 8.4.2 Revelações da estrutura organizacional ........................................................................... 147 8.4.2.1 Processo Produtivo ....................................................................................................... 147 8.4.2.2 Coordenadores de produção ......................................................................................... 149.

(16) 8.4.2.3 Revelações da gestão e estrutura da Coopernova ......................................................... 150 8.4.2.4 Visão de estrutura hierárquica dos catadores ............................................................... 151 8.4.2.5 Cooperados e desconhecimento da estrutura ................................................................ 153 8.4.2.6 Síntese da presença da gestão na produção .................................................................. 156 8.5 Revelações da relação entre poder e confiança .................................................................. 158 8.6 Análise da Unidade “Catadores” ........................................................................................ 161 8.7 Análise das redes de confiança e de poder ......................................................................... 171 8.7.1 Rede de confiança ............................................................................................................ 173 8.7.1.1 Redes de confiança – Coopercata ................................................................................. 173 8.7.1.2 Rede de confiança – Cooperlimpa ................................................................................ 174 8.7.1.3 Rede de confiança – Cooperpires ................................................................................. 176 8.7.1.4 Rede de confiança – Raio de Luz ................................................................................. 177 8.7.1.5 Rede de confiança – Reluz ........................................................................................... 179 8.7.1.6 Rede de confiança – Coopernova ................................................................................. 180 8.7.2 Redes de poder ................................................................................................................ 182 8.7.2.1 – Rede de poder – Coopercata ...................................................................................... 183 8.7.2.2 Rede de poder – Cooperlimpa ...................................................................................... 184 8.7.2.3 Rede de poder – Cooperpires ....................................................................................... 185 8.7.2.4 Rede de poder – Raio de Luz ....................................................................................... 187 8.7.2.5 Rede de poder – Reluz .................................................................................................. 189 8.7.2.6 Rede de poder – Coopernova ....................................................................................... 190 8.7.2.7 Relacionamento entre as redes de confiança e poder ................................................... 192 9 DISCUSSÕES E RESPOSTAS À QUESTÃO E OBJETIVOS DA PESQUISA ................ 199 9.1 Relações de confiança dos stakeholders internos no contexto da Economia Solidária nos empreendimentos de reciclagem de resíduos sólidos do Grande ABC paulista e Cotia .......... 199 9.1.1 Tipologia Racional (transacional e utilitarista) versus Relacional (transformadora) ...... 199 9.1.2 Componentes da formação da confiança nos casos estudados ........................................ 200 9.2 Relações de poder no contexto da Economia Solidária nos empreendimentos de reciclagem de resíduos sólidos do Grande ABC paulista e Cotia ............................................ 206 9.3 Conexão da variável confiança e poder no contexto da Economia Solidária nos empreendimentos de reciclagem de resíduos sólidos do Grande ABC paulista e Cotia .......... 208 9.4 Discussões e respostas à questão e as proposições da pesquisa ......................................... 208 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 213 10.1 Limitações do estudo ........................................................................................................ 218 10.2 Contribuições .................................................................................................................... 219 10.3 Sugestão para estudos futuros........................................................................................... 221 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 223 ANEXO 1 – ATRIBUIÇÕES DA SEC. NACIONAL DA ECONOMIA SOLIDÁRIA ......... 236 ANEXO 2 – Carta de princípios da Economia Solidária ......................................................... 237 ANEXO 3 – LEI nº 12.305/10 - Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) .................. 243 APÊNDICE A – PROTOCOLO DA ENTREVISTA .............................................................. 253 APÊNDICE B – QUESTÕES NORTEADORAS.................................................................... 254 APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO COM CATADORES ...................................................... 256 APÊNDICE D – INDICADORES DA REDE EGOCÊNTRICA DE CONFIANÇA ............. 258.

(17) 17. 1 INTRODUÇÃO. Apesar de extensa literatura sobre o tema da Economia Solidária (ECOSOL) no Brasil, desenvolvida principalmente por pesquisadores das Ciências Sociais, a revisão bibliográfica realizada nas bases dos periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), Proquest, Ebsco, ISI e em assinatura da Academy of Management (AOM), mostrou a inexistência de uma investigação em profundidade sobre a análise e o entendimento das relações de confiança e poder frente aos princípios da Economia Solidária, sob a visão dos stakeholders internos desse tipo de organização. A necessidade de mais pesquisas e de maior divulgação sobre o tema é comprovada pela formalização dessas atribuições na Secretaria Nacional da Economia Solidária (SENAES), criada em 2003 para o desenvolvimento desse tipo de economia, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Entre as atividades da SENAES, regulamentadas pelo Decreto 5063, de 3 de maio de 2004, no artigo 18 é possível encontrar “promover estudos e pesquisas que possam desenvolver e divulgar a Economia Solidária no Brasil” (Brasil, 2009). As questões ambientais, que ultimamente vem se tornando o centro das discussões em diversas esferas da sociedade (Gonçalves-Dias, 2009) e as atividades do pesquisador com o projeto financiado pela Agência Brasileira de Inovação (FINEP) para a implantação de uma incubadora de empreendimentos solidários (SBCSOL) na cidade de São Bernardo do Campo (SBC), ocorrida ao longo do doutorado (2011-2015), motivaram a delimitação empírica desta pesquisa em estudar os catadores de resíduos sólidos agrupados em associações ou cooperativas de recicláveis do Grande ABC paulista e da cidade de Cotia, situadas na região metropolitana de São Paulo. Gattai (2014, p.11) observa que muitas vezes as pesquisas se direcionam para uma visão teórica e utópica sobre a Economia Solidária, “o que obscurece a objetividade das análises”. Essa posição corrobora a visão de Gaiger, quando o próprio autor afirma que nessa área existem muitas pesquisas acadêmicas de cunho sociológico que discutem o tema, o que é salutar; todavia, “parte das teses correntes baseia-se mais em convicções intelectuais arraigadas do que em fatos, às vezes conhecidos superficialmente. Discute-se muito, mas pouco se problematiza sobre os dados objetivos” (Gaiger, 2008, p.1)..

(18) 18. Com base nas observações desses autores, esta tese procurou evitar esta posição ao trabalhar com a visão objetiva dos fatos em sua análise, o que possibilitou cruzar, avaliar e validar os dados coletados com as premissas inseridas no contexto da Economia Solidária. Para o estudo dos empreendimentos solidários, independentemente do ramo de atuação, é necessário entender, inicialmente, a concepção básica de administração na dimensão associativa, conforme o estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários (UNISOL) de 2012. Numa cooperativa ou associação que pertence aos trabalhadores que nela produzem e reproduzem, a gestão acontece de forma democrática e com participação direta ou por representação. As decisões colegiadas são tomadas em assembleia, na qual o peso do voto dos cooperados ou associados tem o mesmo valor. Assim, é nesse sistema democrático que decidem desde a compra de materiais básicos até a formação de uma nova diretoria, ou mesmo a compra de equipamentos e financiamentos (Singer, 2010). No processo, o cooperado desempenha duplo papel, ou seja, é o dono e também o operário. Conforme os princípios da Economia Solidária, o voto de cada cooperado tem o mesmo peso; portanto, todos têm o mesmo poder de influência nas decisões estratégicas, independente do grau de colaboração ou de participação na cooperativa ou associação. A Lei 5.764/71, que define a política nacional do cooperativismo, exige que as Cooperativas e Associações sejam direcionadas por um estatuto, redigido e votado pelos cooperados ou associados, o que garante uma singularidade para a organização (Mauad, 2001; Singer, 2010). É por meio do estatuto que as regras para a realização da eleição e o mandato da gestão do empreendimento são definidas. Os gestores eleitos, além das competências técnicas, que conferem um determinado nível de poder, devem contar com uma relação de confiança interpessoal com os trabalhadores, fator determinante para o sucesso do empreendimento (DIEESE, UNISOL, 2012). A relação de confiança faz com que o comportamento cooperativo na dimensão associativa seja conquistado com maior facilidade (Rousseau, Sitkin, Burt & Camerer, 1998). Não só para os empreendimentos da Economia Solidária (EES), mas especialmente para eles, o relacionamento dos stakeholders internos, pautados na confiança, é reconhecido como um fator chave no sucesso das organizações (Gambetta, 2000; Kramer, 1999; Rousseau.

(19) 19. et al., 1998), pois ajuda a manter os homens em ações coletivas (Putnam, 2009), ponto central da forma de produção dos empreendimentos solidários. Nesse processo, quanto maior a relação de confiança, maior será a liberdade de ação e menor será a regulamentação. A confiança ajuda a lidar melhor com as contingências e com o trabalho coletivo (Netto, 2012) e só existe quando há presença de incerteza, risco e vulnerabilidade. A vulnerabilidade, por sua vez, presença marcante nos relacionamentos das pessoas dos empreendimentos solidários (Singer, 2010), permite que uma das partes interessadas exerça poder discricionário sobre um bem ou uma situação (Netto, 2012). Quando esse poder existe, está presente o interesse das partes, pois existe a relação da necessidade de um bem, material ou não, capaz de satisfazer o indivíduo ou o grupo. Vale ressaltar que o interesse impulsiona o homem a viver em sociedade (Marcondes, 2010) e a confiança, que faz parte da natureza humana, evita que ele seja vítima de um sentimento paralisante de medo e temores que o impediriam de viver em coletividade (Luhmann, 2005). Além dos desafios em estabelecer e manter relacionamentos de confiança e poder com foco na gestão democrática, a Economia Solidária também enfrenta o desafio da elaboração de seus indicadores de sustentabilidade, normalmente presentes nos relatórios financeiros das empresas. Se, por um lado, o termo sustentabilidade na economia mercantil remete principalmente aos indicadores econômicos e financeiros (lucro, taxa de retorno, taxa de rentabilidade, dentre outros) por outro lado, na Economia Solidária, a sustentabilidade não tem como base de sobrevivência dos empreendimentos somente esta dimensão (Coraggio, 2006; França-Filho, 2012; Kraychete, 2012), pois sua lógica não obedece à necessidade de acumulação de capital.. Devem ser consideradas, principalmente, as dimensões sociais,. políticas, culturais e ambientais (Figura 1), formando, assim, uma visão plural de sustentabilidade (França-Filho, 2012)..

(20) 20. DIMENSÃO. Sustentabilidade política. Sustentabilidade social. Sustentabilidade cultural Sustentabilidade ambiental. DESCRIÇÃO Capacidade do empreendimento em se organizar para realizar a autogestão com poder decisório sendo realizado coletivamente. Refere-se à capacidade do empreendimento atuar em redes, agindo no espaço público. Capacidade do grupo de se organizar em torno das relações de confiança e solidariedade, formando o “capital social” do empreendimento. Sentimento de pertença e identidade comum que integra o grupo em um determinado território, no qual as pessoas não se envergonham de seu espaço. Busca de fontes de recursos renováveis, relacionados à realidade de seu ambiente local.. Figura 1. Dimensões da sustentabilidade na Economia Solidária. Fonte: O próprio autor, com base em FrançaFilho (2012, p.34).. De acordo com França-Filho (2012), um dos maiores desafios para a sustentabilidade dos empreendimentos da Economia Solidária é a prática do trabalho associativo, pautado nos valores da solidariedade e da confiança. Essa dimensão, denominada sustentabilidade social, é fundamental para a sobrevivência do grupo: Como podemos considerar sustentável uma iniciativa, seja ela de um grupo ou organização isolada ou em rede, se não há capacidade de relações de cooperação, com base, por exemplo, em confiança e solidariedade? Se, em um determinado ambiente de grupo, as pessoas não confiam uma nas outras, como poderemos considerar sustentável uma iniciativa dessa natureza? (França-Filho, 2012, p.34). Segundo França-Filho (2012), enquanto uma empresa cria seu produto ou serviço, tendo como base um contrato utilitário com fins econômicos, prescindindo da confiança, na Economia Solidária, esta ação não é possível, pois a confiança no trabalho associativo é fundamental: E a confiança, a solidariedade, que alguns têm substituído, ligeiramente pelo conceito de capital social, constitui uma base fundamental para essas práticas. Em outras palavras, como podemos considerar sustentável um empreendimento desprovido de capital social, desprovido de relações de confiança, desprovido de relações de cooperação? (França-Filho, 2012, p.34). Dessa forma, a primeira proposição desta tese é que o relacionamento de confiança entre as partes interessadas internas (stakeholders internos) do empreendimento é um fator chave na sustentabilidade social destas organizações (Hernandez, 2008; Kramer, 1999;.

(21) 21. Mayer, Davis & Schoorman, 1995; Rousseau et al., 1998), principalmente para os EES, pois ao confrontarmos com os princípios da Economia Solidária, a confiança e a solidariedade devem andar lado a lado na construção dos empreendimentos solidários (Singer, 2003). Uma segunda proposição é que as relações de poder dos stakeholders internos são fatores importantes que também influenciam a sustentabilidade política, ou seja, o poder decisório do empreendimento (Clarkson, 1995; Wood, 1990). Nesta investigação, buscou-se analisar, como problema central, as relações de confiança, portanto, da sustentabilidade social, e de poder, isto é, da sustentabilidade política, atuantes nas associações e cooperativas de catadores de resíduos sólidos (papel, papelão, plásticos, garrafas pet, metais, vidros) da região do Grande ABC e de Cotia (além dos materiais citados, também coleta lixo eletrônico), no contexto dos princípios da Economia Solidária, com a intenção de proporcionar subsídios para a melhoria destes tipos de sustentabilidade, pautados na confiança e no poder nos empreendimentos econômicos solidários. Para identificar as relações de confiança e poder frente aos princípios da Economia Solidária, investigou-se a tipologia de confiança e de poder existente dentro dos empreendimentos, e foi realizada a triangulação dos dados coletados com dados observados nas entrevistas in loco, dados primários por meio de questionários e secundários por meio de documentações de âmbito legal e de cunho privado. Por fim, conforme sugere Flink (2009) para os estudos qualitativos, foi realizada a triangulação com os investigadores. Utilizou-se, para maior robustez dos resultados, a análise das redes sociais (Social Newtwork Analyis – SNA), que permitiu corroborar as conclusões qualitativas. Ao seguir as considerações de Gaiger (2008) e Gattai (2014), esta investigação buscou olhar o fenômeno sem visão idealista e utópica, muitas vezes encontrada nas literaturas sobre o tema. Esse estranhamento procurou a isenção de ideologias e análises que possam conter viés, na busca da verdadeira relação interna de confiança e poder, no contexto dos princípios da Economia Solidária. Os EES estão contextualizados em uma vertente econômica considerada alternativa à inclusão e manutenção do trabalho e renda para a população no país. Em 2007 foram registrados mais de 20 mil empreendimentos solidários no Brasil (SENAES, 2011). Em relação às ações para desenvolvimento desse tipo de empreendimento, pesquisa realizada em 2011 apontou a existência de 54 incubadoras universitárias públicas e privadas, responsáveis por 18.074 trabalhadores em 537 organizações (SENAES, 2011)..

(22) 22. O universo da Economia Solidária contempla um grande tipo de empreendimentos, podendo. encontrar. desde. organizações. voltadas. para. a. economia. criativa. até. empreendimentos originados de empresas recuperadas, passando pelas cooperativas e associações de catadores de resíduos sólidos. O interesse pelo tema, conforme mencionado, tomou corpo a partir do contato com a concepção, coordenação e execução do projeto SBCSOL. Esse projeto, que conta com financiamento da FINEP e da Prefeitura do município de São Bernardo do Campo (PMSBC), com bolsa de longa duração do Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), envolveu mais de 30 pessoas entre docentes, discentes e técnicos. O projeto foi delineado entre 2010 e 2011, aprovado em dezembro de 2011, com início efetivo em agosto de 2012 e término previsto para junho de 2015. O frequente contato com as ações das profissionais técnicas do projeto e com os empreendimentos dos catadores dentro da SBCSOL, aliado ao interesse da sociedade, do poder público e privado em relação ao meio ambiente, por diversas razões que não são o foco dessa investigação, fez com que o próprio autor elegesse como campo empírico de sua análise os EES de catadores das cidades do Grande ABC paulista e de Cotia, sendo selecionadas seis cooperativas ou associações, duas situadas na cidade de SBC e incubadas pela SBCSOL, uma na cidade de Diadema, uma em Ribeirão Pires e uma em Mauá. A cidade de Cotia foi eleita para completar a pesquisa por apresentar, ao longo das investigações, forma diferente e eficiente de atuar, o que despertou a curiosidade do pesquisador para fins de comparação com as demais cooperativas e associações do Grande ABC paulista. A participação ativa do pesquisador na incubação dos dois empreendimentos da cidade de SBC, junto com a profissional técnica durante o projeto, teve seu lado positivo na investigação, pois permitiu observação próxima das ocorrências e estreitamento com os atores internos para a realização das pesquisas e questionários nesses empreendimentos e nos demais eleitos, haja vista que todos participam de uma rede de comercialização denominada Cooperativa Central do ABC (Coopcent ABC). O lado desfavorável desta observação participante poderia ser pautado no viés do pesquisador, tais como “encerramento prematuro, dados não explorados nas notas de campo, falta de procura por casos negativos, sentimentos e empatia” (Flick, 2009, p.37). Para mitigar esses vieses, houve cuidado com os procedimentos metodológicos existentes em um estudo de caso, como, por exemplo, a realização da triangulação das diversas fontes de evidências e a análise da SNA de confiança e poder..

(23) 23. Apesar de os dados oficiais do governo apontarem para uma redução do número de pessoas vivendo na extrema pobreza no país, em 2012, o Brasil tinha cerca de mais de dezesseis milhões de pessoas vivendo com R$ 72,00 por mês (R$ 2,00 por dia), ou seja, um grande número na linha da pobreza extrema, conforme observa o Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA) de 2013. Diante deste fato e a partir da hipótese de que esta vertente econômica auxilia o processo de inclusão social com gestão democrática e respeito ao meio ambiente, espera-se que esta investigação, ao analisar os relacionamentos internos de confiança e poder frente às premissas da Economia Solidária, possa contribuir para a sustentabilidade social e política dos empreendimentos, a fim de aperfeiçoar a produtividade por meio de melhor relacionamento entre seus atores internos. Em conformidade com o exposto, o problema envolve o seguinte questionamento: Como ocorrem as relações de confiança e de poder entre os stakeholders internos das associações e cooperativas de recicláveis do Grande ABC paulista e Cotia, no contexto dos princípios da Economia Solidária? Para responder ao questionamento, o objetivo geral que delineou esta investigação foi analisar e entender as relações de confiança e de poder dos stakeholders internos dos empreendimentos, no contexto dos princípios da Economia Solidária em cooperativas de reciclagem do Grande ABC paulista e Cotia. A partir do objetivo geral, três objetivos específicos foram delimitados. O primeiro objetivo específico buscou verificar como ocorrem as relações de confiança desses stakeholders internos diante dos princípios norteadores da Economia Solidária. O conceito e tipologia da confiança para este estudo foi baseado nos trabalhos de Mayer, Davis e Schoorman (1995) e Pirson e Malhotra (2010). Para os autores, os componentes básicos da confiança são: capacidade, benevolência, integridade, transparência, identificação, habilidade gerencial e habilidade técnica. Buscou-se, também, identificar se os empreendimentos atuam em visão utilitarista (racional), ou social (relacional) da confiança, conforme proposta de Kramer (1999) e Rousseau et al. (1998), também estudados por Fisher e Novelli (2008). O segundo objetivo específico buscou analisar como ocorrem as relações de poder dos stakeholders internos no contexto dos princípios da Economia Solidária. As cooperativas e associações são regidas por um estatuto que confere a seus membros determinadas funções (presidente, tesoureiro, conselheiros, entre outros)..

(24) 24. Por outro lado, a responsabilidade agregada à atividade expressa nos documentos nem sempre vem acompanhada do poder para exercê-la e neste tipo de organização ele pode ser difuso e horizontalizado. Todos os indivíduos atuantes em uma organização possuem um poder relativo, ou seja, alguma capacidade de influência. A quantidade de poder que cada indivíduo ou grupo tem pode influir na organização, tanto positiva quando negativamente (Handy, 1976 como citado em Paz, 1997, p.159). O conceito utilizado nesta investigação para analisar o poder envolvido nos atores internos foi realizado com base nos trabalhos de Mintzberg (1983); Mitchel, Agle e Wood (1997); Paz (1997); Paz, Mendes e Gabriel (2001); Paz, Martins e Neiva (2004) e Gosendo (2009). Segundo os autores, o comportamento das pessoas numa organização é derivado do jogo de poderes para influenciar as ações organizacionais e utiliza meios e sistemas de influência, que serão abordados e analisados nos empreendimentos. Para Mintzberg (1983), a organização pode ter preponderância em um dos seis tipos de poder, chamados pelo autor de instrumento, sistema fechado (ou autônomo), autocracia, missionária, meritocracia ou arena política, com componentes de coalizão interna ou externa, que serão investigados neste trabalho. O terceiro objetivo específico buscou verificar como ocorrem e se conectam as relações de confiança às relações de poder no contexto da Economia Solidária. Para Singer (2010), Culti (2006) e França-Filho (2012), a confiança mútua é base para a construção dos empreendimentos solidários. Neste tipo de Economia, norteada pela gestão democrática, espera-se encontrar empreendimentos com tipologia de poder em estágio missionário com um capital social pautado por uma relação de transparência nos jogos de poder e nos comportamentos colaborativos, alicerçado na relação de confiança entre os cooperados e os gestores, fenômeno reconhecido como fator chave no sucesso das organizações (Mayer et al., 1995; Pirson & Malhotra, 2011). Neste sentido, esta pesquisa busca verificar se a transparência do poder decisório em grupo e da confiança estão presentes nos empreendimentos. Os componentes aqui utilizados para a consecução deste objetivo específico são formados pelas conexões entre os componentes citados nos primeiro e segundo objetivos específicos. A Figura 2 demonstra o percurso desta tese em suas dimensões conceitual e empírica, demonstrando as delimitações propostas nesta investigação, que possui como objeto de estudo.

(25) 25. as associações e cooperativas do Grande ABC paulista e Cotia, com foco nos stakeholders internos, que foram identificados por meio dos dados secundários e confirmados nas entrevistas em profundidade com os gestores dos empreendimentos. A análise foi alicerçada nos conceitos e tipologia da confiança e do poder, frente aos princípios da Economia Solidária, ambiente em que estão contextualizados. os. empreendimentos. Utilizando a estratégia do estudo de casos múltiplos com múltiplas unidades de análise e de evidências (Eisenhardt, 1989; Yin, 2006), a pesquisa, de natureza qualitativa, utilizou a triangulação com diversas fontes, tais como: questionários semiestruturados e análise de Sociogramas da confiança e do poder, obtidos a partir de questionários semiestruturados, das entrevistas em profundidade, do levantamento de dados secundários e de análises documentais..

(26) 26. Empreendimentos de reciclagem do Grande ABC Paulista e de Cotia.. Objeto de pesquisa.  .  Questões do problema a ser investigado. . Quem são os stakeholders dos empreendimentos de resíduos sólidos pesquisados? Qual(is) tipologia(s) do construto confiança está(ão) sendo considerada(s) nos relacionamentos dos stakeholders internos dos empreendimentos e como ocorrem esses relacionamentos frente aos princípios da Economia Solidária? Qual(is) tipologia(s) do construto poder está(ão) sendo considerada(s) nos relacionamentos dos stakeholders internos dos empreendimentos e como ocorrem estes relacionamentos frente aos princípios da Economia Solidária? Existe conexão entre os construtos poder e confiança nos relacionamentos dos stakeholders internos, considerando o contexto dos princípios da Economia Solidária?. Economia Solidária Quadro Conceitual. Stakeholders. Teoria e mapeamento dos stakeholders.. Relações de confiança. Conceitos e tipologia da confiança.. Relações de Poder. Conceitos e tipologia do poder.. EES. Procedimentos metodológicos. Histórico e princípios; problematização dos catadores.. Problematização no Brasil.. Qualitativa, descritiva e exploratória, norteada pela estratégia do estudo de caso múltiplo, com seis casos e três unidades de análise, uso de questionários semiestruturados, observação participante e pesquisa estruturada para construção da rede de confiança e poder interna (Social Network Analysis – SNA) para auxiliar a triangulação das informações.. Figura 2. Dimensões conceitual e empírica da tese. Figura elaborada pelo próprio autor, apresenta as dimensões que foram realizadas na tese..

(27) 27. A tese está dividida em cinco partes (Figura 3), além desta introdução, que apresenta a proposta da tese, suas proposições, questão, objetivos e o desenho da investigação. Na primeira parte, apresenta-se a revisão da literatura que norteou a investigação e deu subsídios para a elaboração das questões e do método utilizado para responder ao objetivo geral e aos objetivos específicos, às proposições e à questão de pesquisa. Esta parte é composta por cinco capítulos. O primeiro capítulo foi concebido para contextualizar o leitor na Economia Solidária, ambiente em que está inserido o objeto de estudo e fonte de análise dos construtos confiança e poder, que serão investigados no contexto dos princípios desta forma de economia alicerçada na autogestão. Apresenta-se o histórico, o conceito e os princípios da Economia Solidária e se busca apontar suas diferenças em relação ao modo de produção capitalista e os desafios para sua evolução. No segundo capítulo, apresenta-se o conceito e tipos de stakeholders. Para esta investigação, foi necessário identificar quem são os stakeholders (internos e externos) envolvidos com os empreendimentos eleitos, a fim de analisar as relações de confiança e poder frente aos princípios da Economia Solidária e à luz do olhar dos stakeholders internos. O terceiro capítulo é dedicado ao levantamento conceitual e tipologia da confiança, utilizado para definir a vertente teórica que foi adotada para a pesquisa e para a construção dos questionários, entrevistas e observações nos empreendimentos. Os trabalhos seminais de Mayer et al. (1995) foram utilizados como base conceitual e foi agregada a visão atualizada de Pirson e Malhotra (2010) a respeito da confiança sob o olhar dos stakeholders. Os trabalhos de Kramer (1999), Rousseau et al. (1998) e os estudos de Fisher e Novelli (2008) sobre a visão racional e relacional da confiança também foram abordados ao longo da investigação. No quarto capítulo, apresenta-se o conceito e a tipologia do construto poder dentro das organizações. O trabalho de investigação empírica utilizou como base os conceitos apresentados por Mintzberg (1983) e as obras de Paz et al. (2001); Paz et al. (2004) e Gosendo (2009), que afirmam a contemporaneidade da obra de Mintzberg sobre o construto poder no contexto organizacional. Por fim, o quinto capítulo problematiza o tema dos resíduos sólidos no Brasil, ambiente em que estão inseridos os protagonistas deste estudo. O procedimento metodológico é o centro da segunda parte da tese. Apresenta as estratégias utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa, o plano de pesquisa e os recortes.

(28) 28. realizados, procedimentos de coleta de dados e informações relevantes dos dados primários e secundários levantados e conceitos da SNA, utilizados como mais uma fonte de evidências. A terceira parte foi dedicada à apresentação das revelações de campo e sistematização dos resultados das triangulações, incluindo as observações com base nos Sociogramas e seus indicadores. O uso da SNA teve por objetivo verificar se os resultados corroboram as demais evidências para deixar o estudo mais robusto. Tendo como base as análises da terceira parte, a quarta divisão desta tese é composta pelo capítulo 9 e apresenta as respostas à questão, aos objetivos e às proposições da pesquisa. A quinta e última parte apresenta, no capítulo 10, as considerações finais, contribuições e sugestões para estudos futuros.. 1. INTRODUÇÃO. Fundamentação Teórica. Parte I. (Justificativa; proposições; questão; objetivo geral e objetivos específicos) Capítulo 2 Conceito, princípios e desafios da Economia Solidária no Brasil.. Capítulo 3 Teoria dos Stakeholders. Capítulo 4 Conceito e tipologia da confiança.. Capítulo 5 Conceito e tipologia do poder.. Capítulo 6 Problematização: Tratamento dos resíduos sólidos no Brasil. Metodológico. Procedimento. Parte II. Capítulo 7 – Procedimento Metodológico Natureza e tipo de pesquisa empírica; Estratégia da pesquisa; Uso das Redes Sociais (Social Network Analysis – SNA) Capítulo 8 – Revelações do campo. Revelações do campo. Parte III. Revelações dos estatutos (dados secundários) Stakeholders revelados Revelações da confiança e do poder e a relação entre confiança e poder nos empreendimentos face à estrutura organizacional e aos stakeholders revelados no contexto dos princípios da Economia Solidária Revelações da análise das redes sociais (SNA) de poder e confiança de cada empreendimento..

(29) 29. Parte V Considerações Finais. Parte IV Discussão e respostas da questão e objetivos.. Capítulo 9 Discussão e respostas à questão, objetivos e proposições da pesquisa. 10 Considerações Finais Limitações do Estudo Contribuições Sugestões para estudos futuros. Figura 3. Desenho da tese. Elaborado pelo próprio autor, a figura apresenta como foi realizada a tese..

(30) 30. PARTE I FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. A primeira parte da tese apresenta o referencial teórico que foi utilizado durante a investigação. Em primeiro, apresenta-se o cenário da Economia Solidária, seus princípios e desafios. A teoria dos stakeholders está posicionada no segundo capítulo, pois sua conceituação fornecerá o alicerce para a discussão dos construtos confiança e poder no cenário dos empreendimentos econômicos e solidários (capítulos três e quatro), problematizados no ambiente das associações e cooperativas de catadores de resíduos sólidos da região do Grande ABC e da cidade de Cotia na grande São Paulo, discutidos no quinto capítulo..

(31) 31. Foto de autoria do pesquisador, a partir do galpão de uma das cooperativas investigadas..

(32) 32. 2 ECONOMIA SOLIDÁRIA – ANTECEDENTES, CONCEITO, PRINCÍPIOS E DESAFIOS. 2.1 Antecedentes. Para expressar como uma sociedade se organiza em seus meios de produção, distribuição e consumo, Marx cunhou a expressão “modo de produção” (Gaiger, 2003). A Economia Solidária surgiu a partir dos efeitos do modo de produção capitalista, provocado pela primeira Revolução Industrial, no século XVIII (Singer, 2000). As relações conflituosas entre capital e trabalho que surgiram a partir do Capitalismo industrial ocorreram como reação dos trabalhadores à exploração e à precarização do trabalho impostas pelo modo de produção capitalista daquele momento, que subjugou o trabalho ao capital e acarretou, como consequência, o empobrecimento dos artesãos e, em outro momento, um grupo de desempregados oriundos da Grande Depressão ocorrida na economia da Grã-Bretanha, decorrente do ciclo de guerras provocadas pela Revolução Francesa (Singer, 2010). A partir de pensadores do cooperativismo operário, tendo em Robert Owen (17711858) um dos principais representantes, nasceu, com o objetivo de superar o desemprego e a precariedade do trabalho, a cooperativa têxtil de New Lanark, na Grã Bretanha e, posteriormente, a de New Harmony, marcos na história do cooperativismo e da autogestão da Economia Solidária (Laville & Gaiger, 2009; Singer, 2010). Outro antecedente que marcou a Economia Solidária e ajudou a difusão do cooperativismo na Europa, a partir do século XIX, foi a fundação da Cooperativa Pioneiros Equitativos de Rochdale, em 1844, com 28 operários, mas que chegou a mais de 10.000 sócios em seu melhor momento (Laville & Gaiger, 2009). Considerada a “mãe” das cooperativas, Rochdale foi pioneira em incorporar princípios que perpetuaram e são fundamentos para o cooperativismo atual, tais como: nas decisões, cada membro tem direito a um voto, independente de quanto investiu; número de membros aberto, sendo aceito quem desejar aderir; divisão das “sobras” pelos membros, obedecendo a proporção de compras de cada um na cooperativa; vendas da cooperativa sempre à vista; produtos vendidos sempre puros, ou seja, sem adulterações; empenho na educação cooperativa; neutralidade em relação às questões religiosas e políticas (Singer, 2010)..

(33) 33. Culti (2006, p. 32) sintetiza como princípios básicos “adesão livre e voluntária; controle democrático pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, treinamento e informação; cooperação entre cooperativas e preocupação com a comunidade”. O sistema cooperativista surgiu paralelamente ao aparecimento do modo de produção capitalista como uma forma diferente de atuação frente ao modelo vigente. Enquanto nas empresas o trabalhador deve obedecer às ordens dos proprietários do capital ou seu preposto, na cooperativa, cada cooperado é dono, operário e consumidor. No modelo cooperativista, o capital privado cede lugar ao coletivo e a solidariedade passa a ser a linha mestra, contrapondo com o individualismo instrumental do modo de produção capitalista (Culti, 2006; Laville & Gaiger, 2009; Singer, 2000; Singer & Souza, 2000). Após Rochdale, outros tipos de cooperativas surgiram: as de crédito na Alemanha, de trabalho e produção na França e expansão do modelo para Itália, Québec, no Canadá, e Inglaterra (Culti, 2006; Laville & Gaiger, 2009). De 1870 em diante, com a melhora da economia mundial, houve reconciliação da classe trabalhadora europeia com o modelo capitalista, fazendo com que a autogestão perdesse força (Culti, 2006; Singer, 2003). Por outro lado, o movimento continuou ativo. Em 1871, foi fundada a primeira cooperativa de consumo da Argentina por um grupo de imigrantes franceses e alemães, incluindo um banco cooperativo em 1896, tornando-se um movimento dinâmico na Argentina até os dias atuais. Em 1875, surgiu a primeira cooperativa em Porto Rico e, em 1890, o papa Leão XIII proclamou a encíclica Rerum Novarum, que defendia o direito à associação dos trabalhadores para ajuda mútua. Em 1895, ocorreu a criação da ICA, que foi O Congresso Internacional de Cooperative, conhecido atualmente como Aliança Cooperativa Internacional, responsável pela divulgação e fomento dos princípios cooperativos. Em 1909, surgiram os primeiros Kibbutz e entre 1919 e 1920 surgem as cooperativas soviéticas e as primeiras associações na Colômbia. Novamente a Igreja Católica, em 1931, com o papa Pio XI, proclama o Quadragésimo Anno para promulgar o trabalho associativo. Em 1948, em Bogotá, foi fundada a Unicoop. E, entre 1962 e 1965, novamente a Igreja Católica promoveu, no Concílio Vaticano II, vários documentos a favor do livre associativismo e cooperativismo..

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