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Território, poder e as múltiplas territorialidades nas terras indígenas e de pretos : narrativa e memória como mediação na construção do território dos povos tradicionais

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Academic year: 2021

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(1)1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. MARIA ESTER FERREIRA DA SILVA. TERRITÓRIO, PODER E AS MÚLTIPLAS TERRITORIALIDADES NAS TERRAS INDÍGENAS E DE PRETOS: Narrativa e Memória como mediação na construção do território dos povos tradicionais. Aracaju – Sergipe. 14 Julho de 2010.

(2) 2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. MARIA ESTER FERREIRA DA SILVA. TERRITÓRIO, PODER E AS MÚLTIPLAS TERRITORIALIDADES NAS TERRAS INDIGENAS E DE PRETOS: Narrativa e Memória como mediação na construção do território dos povos tradicionais. Tese apresentada a Banca Examinadora do Núcleo de Pós-Graduação em Geografia – NPGEO da Universidade Federal de Sergipe, como exigência para a obtenção ao Título de Doutora em Geografia, área de Concentração: Organização e Dinâmica dos Espaços Agrário e Regional.. ORIENTADORA: PROFª. DRª. ALEXANDRINA LUZ CONCEIÇÃO. Aracaju – Sergipe. Sergipe, 14/Julho/2010..

(3) 3. MARIA ESTER FERREIRA DA SILVA. TERRITÓRIO, PODER E AS MÚLTIPLAS TERRITORIALIDADES NAS TERRAS INDIGENAS E DE PRETOS: Narrativa e Memória como mediação na construção do território dos povos tradicionais. Esta Tese foi julgada adequada à obtenção ao título de Doutora em Geografia. Área de concentração: Organização e Dinâmica dos Espaços Agrário e Regional e aprovada em sua forma final pelo Curso de Doutorado em Geografia da Universidade Federal de Sergipe.. ______________________________________________________. Professora Orientadora: Drª. Alexandrina Luz Conceição NPGEO/Universidade Federal de Sergipe – UFS. ______________________________________________________. 1º Professor Examinador: Drº. Jones Dari Goettert DGE/Universidade Federal de Grande Dourados – UFGD. ______________________________________________________. 2º Professor Examinador: Drº Renato Emerson dos Santos FFP/Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. _________________________________________________. 3º Professora Examinadora: Drª. Maria Franco Garcia DGE/Universidade Federal da Paraíba - UFPB. ______________________________________________________. 4ª Professora Examinadora: Marleide Maria Santos Núcleo de Geografia/Universidade Federal de Sergipe - UFS Campus Itabaiana. Sergipe 14/Julho/2010..

(4) 4. DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho aos anômalos do mundo rural, que são muitos, mas posso nominar alguns: Dona Emereciana, Dona Vicentina, Sr. Gerson, Élcio, Zé Boi, Chiquinho Xukuru, Sr. José Cabeludo, Dona Iracema, Dona Itabira, Maninha Xukuru, Dona Eluza, e tantos outros... Aos pobres da terra, Aos passageiros do Trem sujo da Leopoldina eternizados no poema de Solano Trindad, que parece dizer: ―tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome...‖ Aos que partiram e aos que ficaram. Aos que partiram como meu Pai Olívio Felix da Silva, negro, pernambucano analfabeto, que correndo da vida caranguejo em Goiânia deu em terras alagoanas levando uma vida de trabalho, uma vida ―sururu‖ na linguagem graciliana; morreu surdo pelas mazelas do capital, com os tímpanos comidos pela farinha de trigo do ―Moinho Motrisa‖ . Aos que partiram como meu irmão Maurílio Ferreira da Silva, negro, alagoano, professor de inglês da Universidade Federal de Roraima, assassinado pela modernidade vazia que o Capital nos impõe. A minha mãe Maria Ferreira da Silva, negra, doméstica nascida na cidade de Pilar Alagoas, cidade dos índios Caeté que até hoje a historiografia oficial os condena por um crime que não cometeram: A morte do Bispo Dom Pero Fernandes Sardinha. A minha mãe Maria, a Dona Maria eterna guardiã dos meus sonhos: Muito Obrigada! Aos meus irmãos: Marilene, Gerson, Mauricio e Zilma, negros e negras, filhos do trabalho e do sacrifício. Aos meus filhos Pedro e Virginia filhos de uma mestiça que não sabendo onde se por: negra ou indígena se inclui entre os ―levantados‖ da terra. A Dona Virginia, índia, parteira – bisavó de Pedro e Virginia - sergipana de Nossa Senhora das Dores - antiga ―Enforcados‖. A Alexandrina Luz Conceição pelos negros que traz no sangue e na alma..

(5) 5. AGRADECIMENTOS. ―Muitas coisas sabe a raposa; mas o ouriço uma grande‖. Este verso pertence ao poeta grego Arquíloco (século 7 a. C), e foi utilizado por Isaiah Berlim, filosofo inglês que propôs através desta frase a sua classificação de escritores e pensadores. Os ouriços seriam aqueles que tudo referem a uma visão unitária e coerente, a qual opera como um projeto organizador fundamental de tudo o que pensam. Tendem, portanto a uma organização centrípeta e monista da realidade. As raposas seriam aqueles que se interessam por coisas várias, perseguem múltiplos fins e objetivos, cuja interconexão, ademais, não é nem óbvia e nem explicita. A tendência que aí se manifesta é centrifuga e pluralista. Não tenho aqui a pretensão de classificar a Professora Drª Alexandrina, enquanto intelectual, mas agradecer por me conduzir a caminhos sólidos nas buscas de minhas certezas acadêmicas e a entender os meus momentos de ―raposa‖. A você, Alexandrina Luz Conceição, Agradeço por ser ―ouriço‖ nos seus diagnósticos e avaliações e por ser ―raposa‖ na percepção da realidade - ontologicamente complexa e rica nas suas particularidades e contingências – Agradeço por me levar a ver como Ouriço um mundo marcado pela pluralidade e pela diversidade e vivificado pela criatividade do novo e me levar a consolidar um olhar critico sobre as condições concretas de existência de um mundo onde persistem situações sociais, políticas e econômicas que contribuem para tornar os homens supérfluos e sem lugar no mundo comum..

(6) 6. Agradeço: Aos professores do NPGEO; Aos funcionários do Núcleo de Pós-Graduação em Geografia - NPGEO; Aos colegas de mestrado e doutorado que conheci e aprendi a respeitar mesmo distante; A professora Vera França e aqueles que em uma reunião. de. colegiado. acreditaram. que. a. minha. capacidade intelectual fosse mais além do que traduzir um texto em outra língua..

(7) 7. Epígrafe: Sua Divindade o papel! Há um Relato excelente (...) referente a um Escravo Índio; que, ao ser mandado por seu Senhor com uma Cesta de Figos e uma Carta, comeu durante o Percurso uma grande Parte de seu Carregamento, entregando o Restante à Pessoa a quem se destinava; que, ao ler a Carta e não encontrando a Quantidade de Figos correspondente ao que se tinha dito, acusa o Escravo de comê-los, dizendo-lhe que a Carta afirmara aquilo contra ele. Mas o Índio (apesar dessa Prova) negou o Fato com a maior segurança, acusando o Papel de ser uma Testemunha falsa e mentirosa. Depois disso, sendo mandado de novo com um carregamento semelhante e uma Carta expressando o Número exato de Figos que deviam ser entregues, ele, mais uma vez, de acordo com sua Prática anterior, devorou uma grande Parte deles durante o Percurso; mas, antes de comer o primeiro (para evitar Acusações que se seguiriam), pegou a Carta e a escondeu sob uma grande Pedra, assegurando-se de que, se ela não o visse comer os Figos, nunca poderia acusá-lo; mas, sendo agora acusado com muito mais rigor do que antes, confessou a Falta, admirando a Divindade do Papel e, para o futuro, promete realmente toda a sua Fidelidade. em. cada. Tarefa.. (ECO,. Umberto. Interpretação. e. Superinterpretação. Trad. MF. & Mônica Stahel. São Paulo, Martins Fontes, 1993. (Coleção Tópicos))..

(8) 8. RESUMO Esta Tese apresenta uma discussão sobre a emergência das territorialidades negras e indígenas como responsáveis por uma nova modalidade de estrutura fundiária que vem construindo novas oportunidades de acesso a terra através do discurso da identidade. Negros e indígenas baseados no artigo 68 ADCT (Ato das Disposições Constitucional Transitória) vem se organizando através das narrativas étnicas e da memória coletiva na construção de um espaço de luta onde procuram a reconstruir antigos territórios ou recriarem novas condições de sobrevivência através do uso da terra. O sentido histórico de se escrever uma geografia dos vencidos é o sentimento maior que perpassa esta pesquisa. Diversos foram os mecanismos utilizados para que índios e negros tivessem suas falas silenciadas. Pelas tramas urdidas na violência do processo colonizador índios e negros foram silenciados e hoje através da perspectiva da narrativa pautada na oralidade eles têm a oportunidade de contar as suas geografias, suas histórias, as suas subjetividades que foram destruídas no arbítrio da hegemonia do colonizador. Ao problematizar os diferentes territórios que constituem hoje o território brasileiro, mas precisamente na cidade de Palmeira dos Índios se faz necessário à reflexão sobre a geografia material objetivada no espaço terrestre, bem como o discurso geográfico acerca de tais realidades, utilizando-se para tanto dos pressupostos que a História nos oferece, enquanto ciência que se ocupa da rememoração, da retomada salvadora pela palavra de um passado que sem isso, desapareceria no silêncio e no esquecimento como também da Geografia Histórica entendendo que os discursos geográficos variam por lugar, variam por sociedade, mas principalmente pela época em que foram gerados. Esta pesquisa se inscreve neste âmbito, ela parte do pressuposto que os negros e índios têm muito a contar sobre a geo-história da formação do território brasileiro, uma história e uma geografia que não está escrita nos livros, nem registrada nos meios de comunicação de massa (rádio, televisão e cinema), e, portanto desconhecida por grande parte da população. Essa nova Geografia baseada na memória testemunho onde tanto os sonhos não realizados e as promessas não cumpridas, como também as insatisfações do presente apontam como possibilidade metodológica, essa re-escritura que se dá em camadas como um palimpsesto aberto a infinitas releituras e reinscrito. Nesse sentido a busca por outra geografia do território desafia a escrever as diferentes geografias colhidas nos relatos dos povos negros e indígenas que tiveram seus territórios sobrepostos no avanço das forças produtivas na organização do território brasileiro. Sobre essas geografias absurdas e negadas pela historiografia oficial emerge a importância da narrativa onde o cuidado com o lembrar, seja para reconstruir um passado que nos escapa, seja para resguardar alguma coisa da morte dentro da nossa frágil existência humana aponta as possibilidades de ler as histórias que a humanidade conta de si mesma como expressão das diversas classes, e dos diferentes tempos que se objetivam na realidade. Palavras-chaves: Território – Povos Tradicionais – Narrativa..

(9) 9. ABSTRACT This thesis presents a discussion about the emergence of the black and indigene territorialities as responsible for a new modality of an agrarian structure that has been building new land access opportunities through the discourse of identity. Black and indigene people based on the clause 68 ADCT (Ato das Disposições Constitucional Transitória – Act of the Transitory Constitutional Dispositions) have been organizing themselves through the ethnic narratives and the collective memory in the construction of a struggle space where they try to rebuild old territories or new survival conditions through the use of the land. The historical sense in writing a geography of the defeated is the major feeling that passes by this research. Many were the mechanisms utilized for removing the freedom of speech from indigene and black people. By the plots contrived in the violence of the colonizer process, indigene and black people were silenced and today through the perspective of the narrative directed on the orality they have the opportunity of telling their geographies, their histories, their subjectivities that were destroyed in the will of the colonizer hegemony. When rendering problematic the different territories that comprise the Brazilian territory today, more precisely in the city of Palmeira dos Índios, it is necessary to do a reflexion about the material geography objectified in the terrestrial space, as the geographical discourse about such realities, utilizing itself as for the pretexts that History offers, as science that occupies itself in the remembrance, from the saviour retaking for the word of a past that without it, would disappear in the silence and in the oblivion as also from the Historical Geography understanding that the geographical discourses vary according to the place, according to the society, but mainly according to the time that they were generated. This research inscribes itself in this ambit, it starts from the pretext that the black and indigene people have a lot to tell about the geo-history of the Brazilian territory formation, a history and a geography that is not written in books, not even registered in the means of mass communication (radio, television and cinema), and, therefore is unknown by greater part of population. This new Geography based on the testimonial memory where the dreams not realized and the promises not accomplished, and the displeasures of the present point as methodological possibility, this re-write that is given in layers as a palimpsest open to infinity rereadings and rewriting. In this sense, the seek for another geography of the territory challenges to write the different geographies gathered in the reports from the black and indigene people that had their territories superimposed in the advance of productive forces in the organization of the Brazilian territory. About these absurd and denied geographies by the official historiography emerges the importance of the narrative where the care about the remembrance, either for rebuilding a past that escapes from us, or for guarding anything from death inside our fragile human existence points to the possibilities of reading the histories that humanity tells about itself with the expression from several classes, and from several different times that objectify in the reality. Keywords: Territory – Traditional People - Narrative..

(10) 10. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Dona Eluza - Moradora do Cedro –- pg.68. Figura 2 – Dona Santina in memoriam – pg. 70 Figura 3 – Dona Santina e a pesquisadora – pg.72 Figura 4 – Sr. José Alexandre – Quilombola da Tabacaria – pg.81 Figura 5 - Comunidades Quilombolas Certificadas. Pg.98 Figura 6 - Comunidades Quilombolas Não certificadas. Pg.99 Figura 7 – Localização da Tabacaria. Pg. 102 Figura 8 – Furna dos Negros. Pg. 106 Figura 9 – Furna dos Negros e Quilombola da Comunidade. pg.106 Figura 10 – Dona Vicentina. Pg.108 Figura 11 – Sr. Gerson. pg.109 Figura 12 – Dona Vicentina e Núcleo familiar - pg.112 Figura 13 – Dona Vicentina e a Pesquisadora – pg.113 Figura 14 – Entrega da Portaria nº326 que reconhece Tabacaria como Território Quilombola - Pg.115 Figura 15 – Proposta de Delimitação do Território da Tabacaria em julho de 2007 – pg118 Figura 16 – Território da Tabacaria – pg. Figura 17 - Distribuição espacial das Usinas de cana-de-açúcar em Alagoas – pg. 126 Figura 18 – Aldeias Indígenas em Alagoas (1817) – pg. 130.

(11) 11. Figura 19 – Povos Indígenas em Alagoas – pg. 144 Figura 20 – Aldeias Povo Xukuru-Kariri em Palmeira dos Índios – pg.151 Figura 21 – Mapa dos Lugares Imemoriais do Território do Povo XukuruKariri em Palmeira dos Índios – pg.158 Figura 22 – Terra Indígena em Palmeira dos Índios - pg 166 Figura 23 – Espalhamento do Povo de Xiquinho Xukuru na cidade de Palmeira dos Índios. Pg.173.

(12) 12. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................ 12.. PARTE I-A Questão. 1º Capítulo Quando a geografia se bifurca com a Antropologia ....... 32.. 2º Capítulo Mercantilização da Terra no Brasil ................................. 51.. PARTE. II– NARRATIVAS ETNICAS E AFIRMAÇÃO DATERRITORIALIDADE. 3º. Capítulo A Narrativa Histórica e a memória do Outro. .................... 63.. 4º Capítulo Geografia e Memória, entrelaçadas nos territórios negros e indígenas. ............................................................... 74.. 5º. Capítulo Levantando Quilombos no Brasil ....................................... 82.. 5.1. Comunidades Quilombolas em Alagoas. Onde estão? Quantas São?.................................................................... 97. 5.2. Tabacaria em Perícia um território em questão.................................101 5.2.1 Reconhecimento e titulação das terras da Tabacaria. .....................115 6º Capítulo Afirmação de territorialidades e questionamentos a geografia histórica. ......................................................................... 125. 6.1 Os Povos do sertão: a mobilização indígena contemporânea em Alagoas. ...............................................................................................139 Capítulo 7 – Narrativas étnicas e reafirmação de territorialidade. ........... 146 7.1 – Terra indígena Xukuru-Kariri. .......................................................... 170 CONCLUSÃO ............................................................................................ 183 REFERENCIA BIBLIOGRAFICA. .............................................................191 ANEXOS.

(13) 13. INTRODUÇÃO. Decisão s/n. de 14 de dezembro de 1890 Manda queimar todos os papéis, livros de matrícula e documentos relativos à escravidão, existentes nas repartições do Ministério da Fazenda. Ruy Barbosa, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e presidente do Tribunal do Tesouro Nacional: Considerando que a nação brasileira, pelo mais sublime lance de sua evolução histórica, eliminou do solo da pátria a escravidão — a instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade inficionou-lhe a atmosfera moral; Considerando, porém, que dessa nódoa social ainda ficaram vestígios nos arquivos públicos da administração; Considerando que a República está obrigada a destruir êsses vestígios por honra da Pátria, e em homenagem aos nossos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que pela abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira; Resolve: 1º — Serão requisitados de todas as tesourarias da Fazenda todos os papéis, livros e documentos existentes nas repartições do Ministério da Fazenda, relativos ao elemento servil, matrícula dos escravos, dos ingênuos, filhos livres de mulher escrava e libertos sexagenários, que deverão ser sem demora remetidos a esta capital e reunidos em lugar apropriado na Recebedoria. 2º — Uma comissão composta dos Srs. João Fernandes Clapp, presidente da Confederação Abolicionista, e do administrador da Recebedoria desta Capital, dirigirá a arrecadação dos referidos livros e papéis e procederá à queima e destruição imediata deles, que se fará na casa da máquina da Alfândega desta capital, pelo modo que mais conveniente parecer à comissão. Capital Federal, 14 de dezembro de 1890 — Ruy Barbosa. (Obras completas de Rui Barbosa, Vol. XVII, 1890, tomo II, pp. 338-40)..

(14) 14. O que faço é protestar contra o ato de cremação de todo arquivo da escravidão no Brasil porque envolve interesse histórico. (...) Somos um povo novo que corremos o risco de ter dificuldades para escrever a nossa história porque é deplorável o que se observa em todas as municipalidades e nas repartições das antigas províncias: por toda a parte o mesmo abandono, o mesmo descuido, e por último o fato de mandar-se queimar grande número de documentos que podiam servir para se escrever com exatidão a história do Brasil no futuro. (Pronunciamento do parlamentar mineiro Francisco Coelho Duarte Badaró feito na Câmara dos Deputados na sessão de 19 de dezembro. de. 1890.. In. Anais. da. Câmara. dos. Deputados. Constituintes. Rio de Janeiro. I. 1891.p.286.apud. LACOMBE, Américo Jacobina. Fontes da História do Brasil (Perigos de destruição).. Memória. da. França.jun.1979.p.247.ref.31).. I. Semana. da. História..

(15) 15. O sentido histórico de se escrever uma geografia dos vencidos é o sentimento maior que perpassa esta pesquisa. Diversos foram os mecanismos utilizados para que índios e negros tivessem suas falas silenciadas. Pelas tramas urdidas na violência do processo colonizador índios e negros foram silenciados e hoje através da perspectiva da narrativa pautada na oralidade eles têm a oportunidade de contar as suas geografias, suas histórias, as suas subjetividades que foram destruídas no arbítrio da hegemonia do colonizador. Como afirma Levinas, em seu livro Totalidade e Infinito, o outro é Outrem, é um infinito que jamais pode ser apreendido e dominado. A tentativa de reificação do Outro, africano e indígena, nestes 500 anos de história do Brasil pelo português colonizador, constitui-se como um agravo à própria natureza originária do homem. O ser humano comporta em sua essência a negação de toda estrutura fundada sobre o princípio da desigualdade e do conflito. A história da humanidade como a história da luta de classes se constitui como uma ofensa à natureza primeira do homem, o homem não veio ao mundo para ser escravo de ninguém, a escravidão do Outro é uma negação descomunal da própria condição humana. Neste contexto é preciso buscar novas experiências que apontem para um modo de ser, em que o Outro vilipendiado reencontre a sua genuína natureza. As experiências dos que lutam pela terra nos diferentes rincões do Brasil a exemplo dos povos negros e indígenas aponta para um novo modo de ser, na medida em que coloca o Outro vilipendiado como matéria primeira de seu agir no mundo. A experiência histórica do Outro, destituído de terra e do reconhecimento de seu papel histórico, tem moldado o fazer teórico e o fazer prático destes povos. Esta experiência histórica opera uma superação de todos os movimentos históricos existentes no Brasil, porque ele não tem sua base de constituição na revolta de setores da burguesia nacional contra o seu próprio modo de ser no mundo, muito menos de uma intelectualidade pequeno burguês que entende a si como uma espécie de Messias, dotada das qualidades necessárias para redimir os setores lançados na ignorância. Os povos negros e indígenas ultrapassam todas estas manifestações, quando através do processo de autodenominação se intitulam quilombolas e índios numa sociedade carregada de preconceitos. As quarenta e três comunidades quilombolas e os nove povos indígenas que existem no estado de Alagoas testificam desse novo momento.

(16) 16. da luta pela terra no país, os denominados territórios étnicos ou ―territórios federais‖ como têm nomeado alguns antropólogos. Estes territórios são constituídos por povos negros e indígenas que apoiados por diferentes segmentos a partir da década de setenta, hoje se avolumam e ocupam cada vez mais um espaço dentro das discussões acadêmicas. Podemos afirmar que a história dos homens tem sido pautada pela busca da efetivação do ideal de liberdade. A questão que se coloca hoje é superar o plano formal e falacioso da liberdade burguesa; haja vista que, esta sociedade que foi constituída sobre o preceito da liberdade tem se revelado como um grandioso projeto de desmonte da plena expressão do ser humano. O processo de exploração e colonização do ser humano nunca contou com um arsenal tão sofisticado como nos dias de hoje. O termo liberdade ganhou um sentido completamente diferenciado pelo capitalismo monopolista, de maneira que ele serve para justificar a invasão de um país pelo outro, para defender o latifúndio contra os Sem-Terra, o autoritarismo dos meios de comunicação de massa e para reprimir o movimento dos trabalhadores em todo o mundo. A limitação da liberdade burguesa fora anunciada pelos próprios teóricos burgueses, como Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant e G. W. F. Hegel. Rousseau, por exemplo, nas suas obras ―A Origem da Desigualdade entre os Homens‖, ―O Discurso sobre as Ciências e as Artes‖ e o ―Contrato Social‖ aponta que ―a desigualdade entre os homens surgiu com a propriedade privada‖, e que o homem que nasce livre encontra-se em todas as partes acorrentado; além de que, o avanço das ciências e das artes não foi acompanhado pela melhoria das condições sociais. Seguindo este trânsito aberto pelos teóricos burgueses da segunda metade do século XVIII, Marx faz uma crítica contundente à liberdade burguesa, porque entende que a mesma confunde o princípio de defesa da propriedade privada com a liberalização do processo de exploração do trabalhador. Ao contrário dos teóricos do liberalismo, Marx entende que a liberdade não pode ser reduzida ao âmbito da experiência individual, como dizia Hegel, ela é apenas a sua expressão primeira, e sendo primeira, é conseqüentemente a mais pobre de todas as manifestações da liberdade. A liberdade tem a sua base no individuo, mas só pode alcançar a sua verdade no sujeito coletivo. Isso significa que não existe liberdade fora da comunidade dos homens. As relações entre os homens não são de contigüidade, mas de intersubjetividade, de engendramento, isto é, os homens não estão simplesmente uns ao lado dos outros, mas são feitos uns pelos outros: o homem se humaniza pelo trabalho,.

(17) 17. cuja ação é social. O outro não é o limite da nossa liberdade, como afirma o liberalismo, mas é condição sine qua non para atingi-la. Na filosofia de Marx vigora um humanismo que serve de fundamento de toda a sua filosofia. A teoria marxiana possui um conceito de homem, e esse conceito é o leitmotiv moral. O homem é um ser social, ele é historicamente constituído, quer dizer, não existe uma natureza humana ou uma essência humana à priori. O bem é algo historicamente constituído, não resulta de uma vontade soberana e atemporal. O bom se põe como um princípio teleológico que representa a superação da cisão entre o indivíduo e a comunidade. Entendemos que os fundamentos teóricos que orientam a rejeição de todo e qualquer processo de reificação do ser humano, carecem de bases seguras, quer dizer, elas devem estar acima dos interesses utilitários do mercado, do relativismo cultural e do caráter transitório dos governos. A moral difundida na sociedade capitalista não tem como finalidade o homem, mas o lucro. É por isso que, eles servem apenas para difundir sentimentos negativos, tais como: a resignação para com o sofrimento do outro, a violência e a morte, o egoísmo, a hipocrisia e a mentira, o fracasso e o irracionalismo. Contra o império da barbárie do ser humano, Marx propunha o socialismo. O caminho para ele passa pela constituição de novos valores, muitos deles em desuso na sociedade atual, tais como: honestidade, justiça, amizade, solidariedade, modéstia, etc. Essas virtudes, em que pese o império do egoísmo difundido pela ideologia da propriedade privada, são vislumbradas nas experiências dos camponeses Sem-Terra, dos sindicatos dos trabalhadores, nas agremiações estudantis, nas escolas públicas, e no interior de alguns núcleos familiares. Não é fácil romper com o ciclo do egoísmo difundido pelo ideário da economia capitalista que impregna a sociedade em todas as suas instancias. É preciso constituir uma nova vida econômica, que começa pela valorização do trabalho e do trabalhador, em que a atividade laborial seja uma fonte de prazer e de realização do homem; longe do estranhamento que marcam o produtor e o consumidor, o mundo da economia deve colaborar para a felicidade humana e não para a sua ruína. Não existe moral sem responsabilidade e compromisso com o outro, a ação moral é aquela que envolve o outro, quer dizer, não envolve apenas a mim mesmo. Por outro lado, a ação moral, enquanto uma ação livre está sempre relacionada com o mundo.

(18) 18. social, dependendo das condições históricas. Nesse aspecto liberdade e necessidade estão articuladas. A moral está essencialmente ligada com a questão de classe e com o movimento histórico da humanidade, merece destaque ainda o fato de que na antiguidade predominou o comportamento ético, quer dizer, a preocupação com o destino da totalidade social na qual o indivíduo estava inserido, e que na modernidade (sociedade burguesa) predomina a liberdade individual e conseqüentemente à ausência de responsabilidade social pelo destino da sua comunidade; como afirma Hegel, a vida ética grega ―propiciou liberdade objetiva, mas negligenciou a liberdade subjetiva, a liberdade para buscar a realização dos próprios desejos e para refletir racionalmente sobre os códigos e doutrinas tradicionais1‖. O homem na modernidade vai se pôr como livre, coisa que não existia na antiguidade, no entanto, esse homem acaba se fragmentando da sua totalidade social e estabelece a fissura entre a esfera pública e a esfera privada. A moral comunista representa a superação dessas duas experiências, operando uma unidade positiva (dialética) entre ambas, como assegura Vazquez: A elevação da moral a um nível superior exige tanto a superação do coletivismo primitivo, no âmbito do qual não podia desenvolver-se livremente a personalidade, como do individualismo egoísta, no qual o indivíduo se afirma somente à custa da realização dos demais. Esta moral superior deve combinar os interesses de cada um com os interesses da comunidade e esta harmonização deve ter por base um tipo de organização social, na qual o livre desenvolvimento de cada indivíduo suponha necessariamente o livre desenvolvimento da comunidade. (Op. Cit. p. 46).. A construção desse novo momento da história passa pela difusão de um ideário que quebre definitivamente com o modelo cultural, político e econômico centrado na exploração e dominação do outro (trabalhador). Para isso é preciso que trabalhadores (do campo e da cidade) lutem com ardor pela emancipação da sua classe, e não apenas do seu próprio Eu. Em termos filosóficos poderíamos afirmar que é chegado o tempo de anunciar o primado do Outro contra o primado do Eu, o primado do não-Ser, do trabalhador historicamente explorado, contra o primado do Ser, do capitalista. Em termos geográficos podemos dizer que é chegada à hora de: ―escrever‖ a geografia, ―(re) contar os fatos‖, interpretar o mundo; todas essas tarefas conhecidas. 1. INWOOD, Michel. Dicionário Hegel. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, Zahar, 1997, p. 206..

(19) 19. daqueles que trabalham no mundo das ―ciências humanas‖, entre elas a Geografia. ―Como‖ esses três passos se constituem e qual a modalidade dessa escritura do espaço e do tempo na análise da formação dos territórios é uma das tarefas precípuas daqueles que precisam entender a dinâmica da sobreposição dos territórios negros e indígenas em face da constituição do território brasileiro. Ao problematizar os diferentes territórios que constituem hoje o território brasileiro, mas precisamente na cidade de Palmeira dos Índios se faz necessário à reflexão sobre a geografia material objetivada no espaço terrestre, bem como o discurso geográfico acerca de tais realidades, utilizando-se para tanto dos pressupostos que a História nos oferece, enquanto ciência que se ocupa da ―rememoração, da retomada salvadora pela palavra de um passado que sem isso, desapareceria no silêncio e no esquecimento‖ (GAGNEBIM, 2004. p.3), como também da Geografia Histórica entendendo que os discursos geográficos variam por lugar, variam por sociedade, mas principalmente pela época em que foram gerados (MORAES. 2002). Esta pesquisa se inscreve neste âmbito, ela parte do pressuposto que os negros e índios têm muito a contar sobre a geo-história da formação do território brasileiro, uma história e uma geografia que não está escrita nos livros, nem registrada nos meios de comunicação de massa (rádio, televisão e cinema), e, portanto desconhecida por grande parte da população. Tal consciência é importante porque o olhar geográfico que repousa sobre determinada problemática é denso de uma temporalidade própria, onde tanto a materialidade geográfica bem como o discurso referente a esta materialidade é prenhe de determinações históricas geradas por interesses e valores materiais e simbólicos, cuja dialética cabe desvendar (ibidem p.27). Assim pode-se afirmar como Moraes, que as diferentes geografias são resultantes da relação direta entre a geografia européia e o colonialismo do séc. XIX. (MORAES, 2002, p. 36). As geografias coloniais, que se produzem nesta época atestam os interesses da expansão territorial, hierarquizando lugares e sociedades, subjugando povos, destruindo culturas, silenciando narrativas. Neste aspecto a obra de Walter Benjamim é de grande importância ao discutir nos dias atuais a luta dos diferentes povos ―tradicionais‖ na reconquista do antigo território fundado na prerrogativa da territorialidade, pautada na narrativa histórica. Neste entendimento Benjamim é o pensador que melhor pode nos instrumentalizar na leitura.

(20) 20. dos textos testemunhos, pois ―a teoria de Walter Benjamim é antes de tudo uma teoria a memória‖ (SILVA. 2003 p. 392). Essa nova Geografia baseada na memória ―testemunho‖ onde tanto os sonhos não realizados e as promessas não cumpridas, como também as insatisfações do presente apontam como possibilidade metodológica, essa re-escritura que se dá em camadas como um palimpsesto aberto a infinitas releituras e reinscrito. Nesse sentido a busca por uma outra geografia do território desafia a escrever as diferentes geografias colhidas nos relatos dos povos negros e indígenas que tiveram seus territórios sobrepostos no avanço das forças produtivas na organização do território brasileiro. Sobre essas geografias absurdas e negadas pela historiografia oficial emerge a importância da narrativa na visão benjaminiana onde ―o cuidado com o lembrar, seja para reconstruir um passado que nos escapa, seja para resguardar alguma coisa da morte dentro da nossa frágil existência humana‖ (Gide, apud Gagnebim 2004. p.3) aponta as possibilidades de ler as histórias que a humanidade conta de si mesma como expressão das diversas classes, e dos diferentes tempos que se objetivam na realidade. A questão quilombola e indígena representa uma discussão da geografia por suas implicações teóricas e políticas, principalmente no que diz respeito ao quadro atual de exclusão social do Brasil. Faz necessário estabelecer um contraponto entre as políticas de reordenamento territorial encetadas pelo Estado e a real situação dos povos envolvidos nestas questões, a saber, os quilombolas e indígenas. A pesquisa aponta para a necessidade de se pensar o reducionismo teórico no que concernem as implicações antropológicas contidas em RTID (Relatório Técnico de Identificação e Delimitação de um Território) ao discutir numa visão eminentemente positivista do que viria a ser a constituição de um território. Para tanto, esta tese não se apóia apenas em uma leitura sistemática da bibliografia existente, mas em um rearranjo dos fragmentos disponíveis e em dados de campo, alterando a ênfase sobre uma questão que não é desconhecida, mas que ocupa um espaço periférico nos trabalhos existentes, procurando tirar partido das relações (materiais, simbólicas e analógicas) entre populações indígenas e populações negras, sejam. enquanto. chave. classificatória. seja,. enquanto. populações. históricas. submetidas/rebeladas, ou enquanto novos sujeitos políticos criadores de cultura. Na oportunidade o livro Mocambo de José Mauricio Andion Arruti é de fundamental.

(21) 21. importância para as análises e reflexões suscitadas nesta tese, bem como a produção teórica de Antonio Carlos Robert de Moraes em sua obra ―Formação Territorial do Brasil‖. No caso trataremos especificamente da Comunidade de Remanescentes de Quilombo do Povoado da Tacabaria na cidade de Palmeira dos Índios, que em 19 de outubro de 2005 encaminha a SR 221/INCRA um processo (nº. 01269/2005) de identificação de demarcação de território dos remanescentes da comunidade de Quilombo do povoado da Tabacaria. Em 13 de janeiro de 2006 foi criada a então Associação Quilombola da Tabacaria, procedimento essencial para que se possa efetivar o processo de regularização de territórios de acordo com o decreto 4887/2003. Este seria o início de uma série de engajamentos que viria, por fim, culminar na instituição do Processo Administrativo nº. 54360.000140/2007-01 que trata da regularização fundiária das terras ocupadas tradicionalmente pela comunidade Remanescente de Quilombo do Povoado Tabacaria, de acordo com o disposto no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal de 1988, Decreto 4887/2003 e Instrução Normativa/INCRA/20/2005. A culminância da primeira etapa do processo se dá com a finalização do RTID, onde depois de apresentado aos órgãos competentes, publica-se, para que assim as partes em questão se pronunciem, para que então se possa dar andamento ao processo final que é a regularização definitiva das terras, através de documentação cartorial sancionada pelo Presidente da República. Concomitante a construção do processo de territorialização da comunidade da Tabacaria, tem-se a emergência do oitavo grupo indígena Xukuru-Kariri também na cidade de Palmeiras dos Índios que habitam na parte urbana da cidade e resolvem assumir a sua identidade étnica e para tal exercício de identidade o acesso a terra é fundamental. A problemática da demarcação das terras indígenas do Povo Xukuru Kariri em Palmeira dos Índios é antiga datando de 1821, quando o povo Xukuru-Kariri, enviou a Junta Governativa da província de Alagoas, uma Petição para concessão das terras que tinham direito, e que as mesmas fossem demarcadas. Em outubro de 1822, a junta atendeu ao requerimento dos índios, e os trabalhos de demarcação foram iniciados em 15 de novembro e concluídos em 09.12.1822. A demora na confirmação dos limites, os arrendamentos (1872), a cobrança do foro por parte do município (1887) e a transferência dos terrenos situados no perímetro urbano e suburbano de propriedade do Estado para a Prefeitura de Palmeira, propiciou a invasão, o aniquilamento e o esbulho do território.

(22) 22. Xukuru-Kariri, que continuam até hoje reivindicando as terras que lhes foram expropriadas durante o processo de formação do território brasileiro. A partir da produção teórica de A. C. R. Moraes busca-se romper com a égide da Geografia tradicional que procura reduzir toda a diferença espacial a uma diferença baseada em critérios físicos ou em diferença nenhuma, bem como toda a possibilidade de discussão de uma Geografia que aponta para um repensar toda a formação territorial do Brasil; onde desde a colonização o conceberam como área, e não como uma sociedade; Como um espaço a ser conquistado, num movimento expansivo, no qual as populações foram pensadas como mero instrumento desse processo. Essa determinação histórica que acompanha a formação brasileira é responsável por vários problemas que marcam profundamente a sociedade brasileira; pois durante a expansão colonial o processo de (dês) territorialização dos diferentes grupos que aqui viviam é a explicativa de diversos movimentos sociais que hoje existem no país como também aqui na cidade de Palmeira dos Índios, como é o caso dos povos indígenas Xukuru-Kariri e dos negros da Tabacaria ou negros do chapéu como são conhecidos os quilombolas do povoado de Tabacaria. Como se deu a constituição destes grupos que hoje reclamam seus direitos usurpados durante a violência da colonização? Certamente que esta pesquisa não conseguiria responder no espaço de tempo tão suprimido uma problemática deste porte; mas dar visibilidade a estas questões dentro da Geografia ao apontar a existência destes territórios é um dos objetivos deste trabalho. É desvendando histórias do passado que encontramos respostas para as questões do presente, compreendendo o que realmente passou, pois não há nenhum modo de separar o passado do presente; ambos existem simultaneamente. A dissertação de mestrado2 que precedeu abriu novas perspectivas de estudos em relação à propriedade da terra no Brasil. Esta proposta de tese trata do duplo aspecto da questão da terra no Brasil: enquanto resultado da ação organizada do Estado frente a uma questão social expressa pela problemática da questão fundiária dos denominados ―povos tradicionais‖ e enquanto resultado de pressões populares. 2. SILVA, Maria Ester Ferreira da – A Desterrioralização do Povo Xukuru-Kariri e o Processo de Demarcação das Terras Indígenas no Município de Palmeira dos Índios-NPGEO.UFS.2004, que trata do processo de expropriação das terras indígenas e de sua organização para retomada das terras de seus ancestrais e de como o Estado brasileiro em suas contradições ao mesmo tempo em que é o garantidor da soberania dos povos indígenas legitima a expropriação de suas terras quando garante a execução de Planos de Ordenamentos Territoriais em que os obriga a remoção compulsória para implantação de hidrelétricas; construção de ferrovias, etc..

(23) 23. Como o problema de estrutura fundiária se encontra inserido no processo global em que se desenvolvem posições divergentes e também contraditórias dos interesses das diversas classes e frações de classes envolvidas, procura-se desenvolver um processo de pesquisa buscando a compreensão da dinâmica da questão dos territórios sociais através da participação mais direta junto aos movimentos populares em andamento e consulta às lideranças envolvidas. No presente trabalho pretende-se acompanhar a dinâmica da redistribuição de terra com o recorte metodológico na cidade de Palmeira dos Índios, partindo da questão social pertinente e da tomada de posição por parte dos envolvidos destacando o confronto entre as classes populares e o Estado, enquanto sujeitos históricos. Assumindo como pressuposto o entendimento de que acompanhar uma questão social – do seu surgimento, desenvolvimento e eventual resolução – significa acompanhar o próprio processo social, onde se expressam as diferentes posições de diferentes sujeitos, permitindo captar a natureza das relações do Estado com a sociedade civil, o que, em ultima instancia, é captar a essência da dinâmica social, é que através da visão da geografia histórica pretende-se apontar caminhos para um entendimento da formação territorial da cidade de Palmeira dos Índios e conseqüentemente da sobreposição dos diferentes territórios incrustados nela. A imensa diversidade sociocultural do Brasil é acompanhada de uma extraordinária diversidade fundiária. As múltiplas sociedades indígenas, cada uma delas com formas próprias de inter-relacionamento com seus respectivos ambientes geográficos, formam um dos núcleos mais importantes dessa diversidade, enquanto as centenas de remanescentes das comunidades dos quilombos, espalhadas por todo o território nacional, formam outro. Essa diversidade fundiária inclui também as chamadas ―terras de preto‖, ―terras de santo‖ e ―terras de índios‖ (Almeida, 1989). Ainda existem as distintas formas fundiárias mantidas pelas comunidades de açorianos, babaçueiros, caboclos, caiçaras, caipiras, campeiros, jangadeiros, pantaneiros, pescadores artesanais, praieiros, sertanejos e varjeiros. (Diegues e Almeida, 2001). A questão fundiária no Brasil vai além do tema da redistribuição de terras e se torna uma problemática centrada nos processos de ocupação e afirmação territorial, os quais remetem, dentro do marco legal do Estado, às políticas de ordenamento e reconhecimento territorial. Convém salientar que outra modalidade de reforma agrária.

(24) 24. ganhou força e se consolidou no Brasil, especialmente, no que se refere à demarcação e homologação das terras indígenas, ao reconhecimento e titulação dos remanescentes de comunidades quilombolas e ao estabelecimento de reservas extrativistas. Ao trabalhar a perspectiva fundiária através da teoria geográfica da territorialidade, delimita-se um campo de análise geográfica centrado na questão territorial desses grupos, ao invés dos enfoques clássicos de etnicidade e raça, se entende que o foco na questão territorial se prende ao entendimento do território como uma totalidade, mas não uma totalidade ―una‖ e. sim. como. uma. totalidade. que. encerra. uma. multidimensionalidade. e. um. multiterritorialidade (Mançano, 2007) e não pretender ―reduzir‖ as diferenças existentes, mas antes poder detectar semelhanças importantes entre esses diferentes grupos – vincular essas semelhanças e suas reivindicações e lutas fundiárias e descobrir possíveis eixos de articulação social no contexto jurídico maior do Estado Nação brasileiro. Para Mançano os territórios são criações sociais, e por isso existem vários tipos de territórios, que estão em constante conflitualidade. Considerar o território como uno é ter uma concepção reducionista do território, é considerar o território apenas como espaço de governança e ignorar os diferentes territórios que existem no interior do espaço de governança, onde o território serve apenas como um instrumento de dominação de políticas para o desenvolvimento em grande parte, a partir dos interesses do capital (MANÇANO, 2007). Situar as posições políticas sociais, frente à questão social que as gera, é relevante para se apreender à natureza das relações do Estado com as classes sociais e a postura ativa, muitas vezes escamoteada, assumida pelas classes neste contexto. Uma política social não é uma obra do acaso nem expressa uma resposta isolada do Estado, mas situa-se no processo social e nos movimentos conjunturais que expressam as contradições básicas e o jogo de interesses presentes nos diferentes momentos. No confronto desses interesses o Estado impõe os interesses que defende que, no caso de Palmeira dos Índios, são interesses de classe (dos latifundiários do lugar) e as classes populares que constroem suas relações, com o padrão de acumulação do capitalismo periférico, questionando a legitimidade do Estado e procurando reverter o quadro de opressão e a exploração que são submetidos. É importante colocar que o direito territorial quilombola, embora se aproxime do direito territorial indígena dele difere essencialmente no que se refere ao status de ―terra.

(25) 25. imemorial‖ à territorialidade indígena antecedendo-a ao próprio direito de propriedade fundado com a presença de Portugal. No que se refere à propriedade quilombola ela não anula a titulação imobiliária antecedente, estando atada às vias formais de aquisição da propriedade em geral. A territorialidade indígena traduz-se em posse imemorial, que é diferente da pose civilística, cujo fundamento é o direito etnocêntrico da conquista. No bojo da questão é possível dialogar com os dois direitos (indígena e quilombola) posto serem característicos a inviolabilidade, a intransferibilidade, a irrenunciabilidade e a imprescritibilidade, todos estes anteriores ao próprio Estado, por serem direitos fundamentais. Também índios e quilombolas negam a instituição de termos jurídicos como: ―imóvel rural‖, ―posse civil‖ e ―propriedade‖ apontando para uma leitura do território como um patrimônio cultural e simbólico apropriado coletivamente e por isso insuscetível de especulações mercadológicas. Esta nova leitura dos povos indígenas e quilombolas desafiam a ordem existente bem como este Estado que legitimou e legitima toda esta estrutura de morte e reprodução violenta da mais valia. O território de Palmeira dos Índios se constitui em território de Memória e exclusão não em Memória, Identidade e Cultura como querem acreditar os defensores de um discurso de defesa e manutenção das diferenças onde se misturam os conceitos e legitimam situações de miséria e expropriação neste discurso onde ―diferente‖ e ―desigual‖ se tornaram análogos. Ressalto ainda que nas discussões que basilaram esta pesquisa tiveram também como elemento constituidor as análises de Michel de Certau refletidas em sua obra ―A invenção do Cotidiano‖ – Artes de fazer, onde o autor coloca o cotidiano do homem comum como o elemento central de seus estudos – o homem sem qualidades no dizer de Robert Musil3 - Esse homem comum, ordinário é o centro do discurso de Certeau o que 3. O homem sem qualidades (Der Mann ohne Eigenschaften) de Robert Musil, o enredo do romance acontece numa cidade fictícia denominada Kakania, abordando a decadência da vida burguesa na Europa do século XX, onde o personagem principal se chama Ulrich e se ocupa em ser um homem importante tentando construir sua vida em torno de três profissões: a primeira delas como oficial, a segunda como engenheiro e a terceira, como matemático. Ulrich no dizer de alguns críticos da obra de Musil seria o protótipo representante do homem moderno. - — ―Não se consegue adivinhar nenhuma profissão pela aparência dele, mas por outro lado também não parece um homem sem profissão. Pense um pouco em como ele é: sempre sabe o que deve fazer; sabe olhar nos olhos de uma mulher; sabe refletir bastante sobre qualquer coisa a qualquer momento; sabe lutar boxe. É talentoso, cheio de vontade, despreconceituoso, corajoso, resistente, destemido, prudente. Não quero examinar isso em detalhes, acho que ele tem todas essas qualidades. Mas também não as tem! Elas fizeram dele aquilo que ele é, e determinaram seu caminho, mas não lhe pertencem. Quando fica zangado, alguma coisa nele ri. Quando está triste, rumina alguma coisa. Quando algo o comove, ele o rejeita. Qualquer má ação lhe parecerá boa em algum aspecto. É um possível contexto que vai determinar o que ele pensa de um assunto. Para ele,.

(26) 26. muito se aproxima das falas presentes nesse trabalho de pesquisa. Foram desenvolvidas reflexões acerca da memória social em Ecléa Bosi, onde não está explicitamente citada no texto, mas os postulados em relação à memória social oral como um instrumento precioso na reconstrução da crônica do cotidiano, onde velhos, negros, mulheres, índios, trabalhadores manuais, camadas da população excluídas da história ensinada na escola, tomam a palavra (BOSI, 2004), estão claramente presentes nos depoimentos e na relevância destes para a construção de seus territórios étnicos. A saga do povo do Cacique Chiquinho Xukuru perambulando pela cidade de Palmeira dos Índios até chegar ao local onde hoje se encontram territorializados é um dos textos onde se pode observar esta cultura oral viva mantida e alimentada nas lembranças dos mais velhos. Bosi acredita que a memória dos velhos pode ser trabalhada como um mediador entre as gerações sendo o intermediário informal da cultura, entendendo que existem os mediadores formais constituídos pelas instituições (escolas, partidos políticos, igrejas). Estes velhos são os responsáveis informais pela transmissão de valores, conteúdos, de atitudes, enfim, os constituintes da cultura. Esses velhos dentro do processo de constituição dos territórios tradicionais cresceram em dignidade, pois com eles estavam à guarda da memória dos lugares onde estiveram, do que construíram, dos patrões que os subjugaram, das terras que roçaram. Guardiões da sensibilidade e mentalidade do grupo estes velhos são essenciais hoje no processo de reconstrução de territorialidades esmagadas pelo avanço do capitalismo no campo. As leituras em Ecléa Bosi tornaram possível o entendimento que ao se debruçar sobre as territorialidades que emergiram a partir da década de 1970 ficaria impensável essa leitura através da Geografia sem um cruzamento das fronteiras da psicologia social, da sociologia, da historia e da antropologia, este cruzamento se tornou possível e a leitura do processo de constituição dos povos tradicionais enquanto protagonistas de sua própria história ficou evidente através das possibilidades teóricas colhidas em Benjamim e em Maurice Halbwachs, sociólogo clássico sacrificado pelo nazismo.. nada é sólido. Tudo é mutável, parte de um todo, de incontáveis todos, que provavelmente fazem parte de um supertodo, mas que ele absolutamente não conhece. Assim, todas as respostas dele são respostas parciais, cada um de seus sentimentos é apenas um ponto de vista, e para ele não importa o que a coisa é, e sim um secundário ―como é‖. Não sei se estou me fazendo entender. (Musil. O homem sem qualidades / Robert Musil; tradução de Lya Luft e Carlos Abbenseth. — Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989, p.48)..

(27) 27. Convém ressaltar que as narrativas colhidas durante a pesquisa foram enrijecidas na escrita, mas a novidade consiste em que estas narrativas foram narrativas savantes que ficaram por um longo período, esmagadas pelo peso da geo-história oficial, mas guardadas na memória social destes povos emergem hoje em um profundo processo de construção de identidades e conceitos onde os pobres da terra fazem a sua geografia, através da memória testemunho. Os testemunhos que deram corpo a esta pesquisa foram colhidos através de entrevistas semi-estruturadas, registros de escritos de conversas não gravadas, notas de campos, material áudio-visual, textos ou reportagens sobre a temática. Para apresentar os resultados desta pesquisa dividimos o texto em duas partes. A primeira aborda a questão da problemática decorrente da formação social e econômica que produziram um quadro de injustiças onde os povos tradicionais foram expropriados do acesso a terra e hoje se articulam para resolver questões históricas da alta concentração da propriedade da terra. No primeiro capítulo Quando a Geografia se bifurca com a Antropologia tem-se a discussão de como a questão da expropriação das terras dos povos tradicionais no Brasil remetem a própria história da organização do território. No centro destas discussões emerge a questão da mercantilização da terra no Brasil, temática apresentada no segundo capítulo onde a Lei de Terras de 1850 é o marco legal que instaurou a mercantilização da terra no país, transformando a terra de simples recurso natural em mercadoria; constituindo – se esses capítulos no quadro de referências necessárias para a análise da emergência das territorialidades negras e indígenas através das narrativas pautadas na memória coletiva que é o objeto de escrita da segunda parte. Na segunda parte intitulada: narrativas étnicas e afirmação da territorialidade os dados empíricos vão sendo apresentados e progressivamente precisado e discutido os conceitos utilizados e desenvolvendo o quadro teórico que dá significação ao material empírico. Composta de cinco capítulos eles se estruturam em torno das pesquisas de campo de caráter qualitativo feitas durante o período de 2007 a 2010. A pesquisa qualitativa exigiu a definição de critérios segundo os quais foram selecionados os sujeitos que compuseram o universo de investigação; que deu sustentáculo às entrevistas. No que concerne a esta pesquisa os povos escolhidos para o exercício de tal atividade foram os índios Xukuru-Kariri e os negros da Tabacaria já.

(28) 28. enfocados anteriormente. O grupo delimitado dentro do universo de mais de 350 famílias foi sempre os mais velhos, atendendo a um pressuposto teórico de que é sobre eles que recai a responsabilidade da guarda, da lembrança dos fatos acontecidos, dos lugares percorridos, das fugas, do trabalho forçado e mal pago. A delimitação dos sujeitos a serem entrevistados deu-se em consonância com uma das referências fundantes da pesquisa: a narrativa e a memória dos velhos como elemento aglutinado na construção das territorialidades dos povos tradicionais na cidade de Palmeira dos Índios As entrevistas semi-estruturadas baseadas nos depoimentos orais de membros chaves da comunidade constituíram uma opção teórica metodológica privilegiada, pois permitiu uma maior aproximação com os sujeitos pesquisados, um grau de familiaridade com a comunidade em que se criaram condições para que tanto narrador quanto pesquisador se sentisse libertos para o exercício da fala (no caso do narrador) e da retenção da fala (no caso do ouvinte pesquisador). As atividades desenvolvidas durante a pesquisa dentro das comunidades nos colocam em contato direto com o ―outro‖:. A pesquisadora e Dona Dominicia, uma das matriarcas da Tabacaria.. O que nos obriga a operar com a sua lógica e não apenas com a sistematização de nossas categorias:.

(29) 29. A Professora Orientadora Drª Alexandrina e Orientadora em Pesquisa de Campo no Muquem – União dos Palmares - Alagoas. A pesquisadora e Sr. Gerson – Tabacaria.

(30) 30. A pesquisadora dançando um Toré de festa com alunos do Professor Lima da UFPB em excursão pelos territórios rurais na Fazenda Buenos Aires, primeira ocupação do povo de Xiquinho Xukuru nas suas correrias na cidade de Palmeira dos Índios.. Existem alguns autores como Durhan (1986), Velho (1986) que enfocam o risco que este tipo de entrevista (semi-estruturada) pode trazer ao pesquisador. Ao se envolver profundamente com o objeto da pesquisa, correndo o risco de explicar a realidade pelas categorias nativas, ou seja, de passar a olhar a realidade exclusivamente pela ótica do interlocutor. Velho, no entanto assinala que quando se decide tomar sua própria sociedade como objeto de pesquisa, é preciso sempre ter em mente que sua subjetividade precisa ser incorporada ao processo de conhecimento desencadeado. Os cinco capítulos referentes a estas narrativas savantes foram distribuídos da seguinte maneira: 3º. Capítulo A Narrativa Histórica e a memória do Outro, neste capítulo procura-se evidenciar a importância das narrativas colhidas nos relatos orais dos membros mais antigos das comunidades envolvidas, onde o poder da narrativa e a importância do velho dentro da comunidade foram de fundamental importância para o entendimento do ―outro‖ que se levanta para através de suas lembranças resgatarem um possível território guardado através de suas histórias de trabalho e andanças nas terras do ―patrão‖. Neste capítulo o dialogo incessante com Walter Benjamim através do texto o Narrador e com Emanuel Levinas em sua obra Totalidade e Infinito foram essenciais para o entendimento do lugar fundamental que o ser humano deve ocupar num tempo histórico.

(31) 31. que se caracteriza pela crescente valorização das relações fundadas na alienação e reificação dos indivíduos. No 4º Capítulo Geografia e Memória: entrelaçada nos territórios negros e indígenas cuida-se em discorrer sobre a importância da narrativa como possibilidade de instrumento na constituição da geografia histórica da cidade de Palmeira dos Índios, servindo como introdução aos capítulos posteriores em que se discutirá mais objetivamente o processo de emergência dos povos negros e indígenas da cidade de Palmeira dos Índios. Em Levantando Quilombos no Brasil (5º capítulo), as comunidades quilombolas foram elencadas e também toda a discussão cerca do artigo 68 da Constituição e suas implicações jurídicas bem como todo o reordenamento jurídico que envolve a questão quilombola onde o novo conceito de Quilombo é discutido e ampliado dentro da visão dos teóricos e militantes da questão do negro no Brasil. Neste capítulo também se enfoca todo o processo de construção do território quilombola da Tabacaria, enriquecido pelas falas colhidas nas pesquisas de campo, ainda neste capítulo as discussões sobre as normas que direcionam esta discussão e das limitações impostas pelos decretos sancionados pela Presidência da República são expostos demonstrando as contradições do Estado brasileiro em relação às políticas publicas de ordenamento territorial e as necessidades dos povos tradicionais. Dentro de 6º Capítulo Afirmação de territorialidades e questionamentos a geografia histórica, a fala pertence aos povos indígenas se faz uma retrospectiva histórica das lutas dos povos indígenas com o olhar sobre o povo XukuruKariri de Palmeira dos Índios, mas precisamente o oitavo grupo, onde através das andanças de Chiquinho Xukuru pelas terras de Palmeira dos Índios a questão das terras indígenas nesta cidade foi retomada e postas em evidencia nacional. No Capítulo 7 – Narrativas étnicas e reafirmação de territorialidade, tem-se a geografia das correrias do oitavo grupo Xukuru-Kariri que emerge reclamando seu direito a um pedaço de terra onde possa exercer sua condição de índio. Esta pesquisa reuniu ensaios bastante diversos incluindo diferentes falas por ocasião de encontros, colóquios, congressos, seminários. A oralidade viva do diálogo com colegas, comunidades, orientadora e a procura de apoio da fala propiciada pela escrita foram uma interpelação constante. A oralidade e escrita também atravessaram como tema de reflexão estes sete capítulos da pesquisa. O diálogo oral representa a vivacidade de uma busca comum da.

(32) 32. verdade e a escuta por sua vez perpetua o vivo, mantendo a lembrança para as gerações futuras transformando a plasticidade da oralidade em rigidez na tentativa de alcançar a imortalidade, sem garantir a certeza da duração, mas ambas testemunhando com esforço o esplendor e a fragilidade da existência. Assim pretendeu-se guardar na própria forma do texto a ligação entre o empírico e o teórico. Na conclusão o quadro teórico será retomado no seu conjunto de maneira a realçar as contribuições teóricas resultantes desta pesquisa..

(33) 33. 1º CAPITULO - QUANDO A GEOGRAFIA SE BIFURCA COM A ANTROPOLOGIA. A Questão.. É evidente e central o lugar que o problema da questão agrária ocupa na geografia. A temática do mercado de terras está na agenda do dia das políticas agrárias tanto no Brasil como em outros países. No caso brasileiro a problemática decorre da história da ocupação do território e da própria formação social e econômica que produziram um quadro de irregularidades e instabilidade jurídica, onde os povos tradicionais: indígenas, seringueiros, povos da floresta, caiçaras, pretos rurais, camponeses se articulam para exigir que o Estado exerça seu papel resolvendo questões históricas da alta concentração da propriedade da terra, da degradação ambiental, da exclusão social e da pobreza rural. A incapacidade do Estado brasileiro de regular o mercado de terras e o acesso a terra fez emergir na sociedade brasileira as mais variadas formas de reivindicações por uma política agrária que promova a inclusão e o desenvolvimento social e econômico por meio da democratização da estrutura fundiária. Em diferentes momentos da história do país foram criados programas, leis e planos, que geraram expectativas nesta questão: Estatuto da Terra, em 30 de novembro de 1964, Decreto nº 55.581 de 31 de março de 1965; criação do Sistema Nacional de Cadastro Rural (Lei nº 5.868 de 12 de dezembro de 1972) e do Decreto nº 72.106 de 18 de abril de 1973 que o regulamentou. O inconcluso I Plano Nacional de Reforma Agrária, no período de 1985 a 1987 e o Plano Nacional de Reforma Agrária aprovado em novembro de 2003. É importante colocar que o problema da realidade agrária brasileira é a efetiva incapacidade que o Estado brasileiro tem de regular para fins sócio econômico e ambiental o mercado de terras e o acesso a terra. ―E essa falta de regulação efetiva e não de regras, é decorrente das possibilidades de especulação do mercado de terras‖ (MDA/NEAD, 2006 p.16). A elite brasileira sempre teve uma grande capacidade de estar criando regras para a efetivação ou burlamento do mercado de terras com a anuência do Estado brasileiro. Essa incapacidade de efetivar as regras do mercado fundiário favorece a especulação nessa área:.

Referências

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