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Fatores de risco associado a sobrepeso e obesidade em crianças de 5 a 12 anos do município de Palhoça- SC

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FATORES ASSOCIADOS AO SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS DE

5-12 ANOS DO MUNICÍPIO DE PALHOÇA-SC

Celyna Scariot Grezzana, João Carlos Xikota, Paulo Freitas.

RESUMO Objetivo:

Caracterizaros fatores associados ao sobrepeso e obesidade em crianças de 5 a 12 anos, do município de Palhoça, do estado de Santa Catarina.

Métodos:

Estudo epidemiológico caso-controle, onde analisaram-se prontuários de crianças de 5 a 12 anos, atendidas na Policlínica Municipal de Palhoça, no período de 2013 a 2016. Foram selecionadas 191 crianças diagnosticadas com sobrepeso ou obesidade, segundo as curvas de índice de massa corporal (IMC) para idade preconizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (z score > ou = 1) e 409 crianças com peso adequado para idade e altura (Z score < 1 e < -2). Foram selecionadas variáveis obstétricas e peri-natais, e de hábitos de vida. Foi realizada análise bivariada, e após regressão multivariada para avaliar as co-variaveis sem fator confundidor.

Resultados:

Identificou-se no estudo, maior risco de sobrepeso e obesidade nas variáveis sociodemográficas e comportamentais, sendo encontrada na regressão multivariada, significância entre escolaridade dos pais menor que 8 anos (OR=3,42), amamentação materna exclusiva por no mínimo 4 meses

(OR=2,52), introdução do leite de vaca integral antes de 12 meses (OR=2,75) e hiperalimentação atual (OR=6,73). Foram fatores protetores contra sobrepeso e obesidade, crianças que no pré-natal tiveram restrição de crescimento intra uterino (RCIU) (OR= 0,23) e crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional (PIG) (OR= 0,38), e parto cesariano foi fator de risco para sobrepeso ou obesidade (OR= 1,69).

Conclusão:

Os principais fatores de risco associados á sobrepeso e obesidade em crianças de 5 a 12 anos do município de Palhoça – SC foram: escolaridade dos pais, via de parto cesariano, introdução de leite de vaca integral antes dos 12 meses de vida e hiperalimentação, e o único fator protetor encontrado foi aleitamento materno por no mínimo 4 meses, sendo estes fatores modificáveis para prevenção de sobrepeso e obesidade.

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Obesidade infantil, amamentação materna, hiperalimentação, tempo de tela, escolaridade materna.

ABSTRACT Objective:

Characterizing the factors associated with overweight and obesity in children aged 5 to 12 years old from the city of Palhoça - Santa Catarina state.

Methods:

A case-control epidemiological study was carried out to analyze the medical records of children aged 5 to 12 years old assisted at the Municipal Policlínica of Palhoça from 2013 to 2016. 191 children diagnosed with overweight or obesity according to the WHO´s age curves of BMI (Z score > or = 1) and 409 children with adequate weight for their age and height (Z score < 1) were selected. The univariated analysis and after multivariate regression to evaluate the covariables without confounding factor.

Results:

The risk of overweight and obesity in the sociodemographic and behavioral variables was identified in the study. At the multivariated regression it was found meaningfulness between screen time (OR = 2.60), parents' level of schooling (OR = 3.42), exclusive breastfeeding for at least 4 months (OR = 2.52), introduction of whole cow's milk before 12 months old (OR = 2.75) and current hypercaloric diet (OR = 6.73). Protective factors against overweight and obesity were children who had prenatal intrauterine growth restriction (IGR with OR = 0.23) and children who were born small for gestational age (SFGA with OR = 0.38). Cesarean child-birth was a risk factor for overweight or obesity (OR = 1.69).

Conclusion:

The main risk factors associated with overweight and obesity in children aged 5 to 12 years-old in the city of Palhoça - SC were parents' level of schooling, cesarean child-birth, eating habits from birth, as well as sedentary behavior and excessive time in front of screen. These factors are modifiable for the prevention of overweight and obesity.

Key Words: Childhood obesity, maternal breastfeeding, hyperalimentation, screen time, maternal schooling.

INTRODUÇÃO

Sobrepeso e obesidade são agravos multifatoriais à saúde, originados por um desequilíbrio entre consumo e gasto energético1, sendo um problema de saúde pública, pelos níveis epidêmicos que vem atingindo. No Brasil segundo o levantamento do IBGE de 2009, 51,4% dos meninos e 43,8% das meninas em fase escolar estão acima do peso, com consequências a curto e a longo prazo, como maior

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prevalência de doenças cardiovasculares, desordens ortopédicas como fechamento precoce da epífise óssea e puberdade precoce2,3.

Como qualquer doença multifatorial, precisa-se entender os fatores que caracterizam sobrepeso e obesidade para direcionar o tratamento de forma objetiva. Atualmente o processo reflexivo está centrado na relação entre o período pré-natal e as consequências na vida da criança, as condições intrauterinas, na restrição de crescimento, os quais já foram relacionados ao desenvolvimento de obesidade em crianças4,, assim como a influência de fatores ambientais, comportamentais e nutricionais.

O momento do nascimento é um momento importante e definidor. Crianças que nascem de parto cesariana estão mais propensas a desenvolver doenças imunológicas como asma, leucemia, alergias, doença inflamatória intestinal, desordens ortopédicas, e por fim obesidade na infância e na vida adulta. Uma explicação para este fenômeno é a diferença de microbiota adquirida no parto cesariano ser diferente do parto vaginal. Crianças nascidas de parto vaginal apresentam mais

bacterioidetes na sua microbiota intestinal, enquanto crianças nascidas de parto cesariano apresentam mais bactérias Firmicutes. Esta segunda microbiota intestinal é semelhante á de indivíduos obesos, e que em processo de perda de peso começa a se assemelhar com a flora de indivíduos magros onde prevalece bacterioidetes. Esta alteração de flora, além da exposição do canal vaginal, também se deve aos maiores procedimentos e medicalização que ocorre no parto cesariano, como antibióticos

profiláticos5,6.

Após o nascimento, evidências mostram que crianças que receberam aleitamento materno exclusivo por até 4 meses, tem uma incidência até 15% menor de obesidade, em relação ás que receberam aleitamento complementado com leite de vaca integral nesse período11. Em relação ao aleitamento complementado, sabe-se que a introdução de leite animal é um dos principais fatores associados ao desenvolvimento precoce de obesidade, devido ao seu alto teor de proteínas, além do baixo teor de gorduras polissaturadas necessárias para o desenvolvimento do sistema nervoso,

provocando diminuição nos níveis de leptina e aumento do fator de crescimento insulina tipo 1 (IGF1), acelerando ganho ponderal nas crianças, evidenciados pelas tabelas de crescimento da Organização Mundial de Saúde (OMS)4,7,8.

Outros fatores importantes são: o ambiente em que a criança vive, os estímulos que recebe, e nutrição hipercalórica. Pesquisas anteriores mostram que 60% das crianças obesas eram sedentárias e passavam mais de 3 horas por dia em frente a tela, tornando seu gasto calórico baixo, e geralmente associado á alta ingestão de alimentos ricos em calorias. Para a criança incorporar uma mudança de estilo de vida efetiva é necessário adesão de toda família. Crianças cujos pais tinham mais anos de escolaridade, portando maior esclarecimento cognitivo, conseguiam melhor controle do seu peso e adesão a vida saudável1,9,11,12.

Por outro lado, crianças e adolescente estão em constante mudanças antropométricas

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melhor esclarecimento e acompanhamento são necessárias tabelas onde se compara o Índice de Massa Corporal (IMC) em relação a idade4,9.

Nesse contexto, como sobrepeso e obesidade emergem na contemporaneidade como um dos fatores mais graves e prevalentes na condição humana, a opção da proposta norteadora, ou seja, de caracterizar os fatores associados a obesidade e sobrepeso, na determinada população em estudo. Com o objetivo de direcionar as intervenções locais e de direcionar as políticas públicas, na promoção da saúde e, diante da subjetividade dos intensos debates sobre saúde pública alinhadas aos problemas epidemiológicos, tomam sentido e evidenciam a relevância desta pesquisa.

MÉTODO

Estudo epidemiológico observacional tipo caso-controle, realizado a partir de prontuários de crianças de 5 a 12 anos, atendidas na Policlínica Municipal de Palhoça, entre os anos de 2013 a 2016.

O grupo caso é composto de crianças com diagnóstico de obesidade e sobrepeso conforme as tabelas de curvas de IMC para idade, definidos pela OMS. O do grupo controle crianças com peso e altura adequados para idade conforme as mesmas referências do IMC. Foram excluídas do estudo , crianças em uso de fármacos que levam ao aumento do peso corporal ou presença de doenças genéticas.

Uma amostra de 600 crianças, 200 casos e 400 controles, foi calculada como suficiente para medir diferenças da ocorrência das variáveis de interesse de pelo menos 86% de excesso na exposição nos casos (OR=1,86), com prevalência de 13% nos controles para p<0,05, e poder estatístico de 80%, tendo como parâmetro diferenças esperadas, no aleitamento materno exclusivo e complementado.

O desfecho foi definido como a prevalência de obesidade/sobrepeso e as variáveis

independentes potencialmente associadas foram: gênero, idade gestacional (prematuro ou termo), via de parto (cesárea ou parto normal), PIG (peso ao nascer <2500gramas), RCIU (tamanho abaixo do percentil 10), atividade física (ativos com 1 hora de atividade vigorosa por dia ou sedentários), tempo de tela ( maior ou menor que 3 horas por dia), escolaridade dos pais (maior ou menor que 8 anos), amamentação materno exclusiva (maior ou menor que 4 meses), introdução de leite de vaca integral (antes ou após que 12 meses) e alimentação atual (adequada ou hiperalimentação com excesso de gorduras, carboidratos).

Primeiramente foi descrita a distribuição das variáveis independentes de acordo com a

presença do desfecho (obesidade/sobrepeso) e a existência de diferenças estatisticamente significantes na sua ocorrência, calculada pelo teste do Qui-quadrado de Pearson. A análise multivariada por regressão logística utilizando o método Forward Condicional foi realizada para investigar o efeito independente das variáveis potencialmente associadas ao desfecho. A magnitude da associação entre sobrepeso ou obesidade e as variáveis independentes foi medida pelo Odds Ratio (OR) e apresentado o respectivo intervalo de confiança de 95% (IC). Para a entrada das variáveis no modelo foram

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selecionadas aquelas com p> 0,20.O programa Statistical Package for the Social Science (SPSS) 18.0 (Chicago, IL) foi utilizado na análise estatística dos dados.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade do Sul de Santa Catarina (Protocolo: 1.973.670).

RESULTADOS

Os prontuários analisados foram de crianças de 5 a 12 anos, atendidas no período de 2013, 2014, 2015 e 2016, os quais serviram de subsídios para a investigação proposta.

Realizou-se a coleta de 191 casos e 409 controles, onde obteve-se perdas nas seguintes variáveis: 31% escolaridade do cuidador, 6,8% na via de parto, 10,4% prematuridade, 17% RCIU, 21% PIG.

A tabela 1 mostra os resultados das variáveis obstétricas e peri-natais, onde se evidencia a diferença em porcentagem entre sobrepeso e obesos em relação aos sujeitos controles, assim como Odds Ratio, intervalo de confiança e o valor de p, avaliando a relevância de cada variável ao desfecho final, ou seja, sobrepeso e obesidade.

Em relação ao sexo, foi encontrada uma chance de 1,12 maior de sobrepeso, ou obesidade em meninos, não sendo vista grande diferença entre os sexos.

A via de parto, onde a chance de crianças, que nasceram de parto cesáreo, foi de 1,69 vezes maior, em comparação a crianças que nasceram de parto vaginal, para desenvolver sobrepeso ou obesidade. Prematuros em comparação a nascidos a termo não tiveram diferenças significantes, em relação ao desfecho desejado.

Crianças que apresentaram RCIU ou PIG geraram resultados de maior significância, ambas com p<0,001. Apesar de estas variáveis apresentarem grandes perdas (17% RCIU, 21% PIG), crianças que nasceram com RCIU apresentaram risco 0,23 vezes menor de desenvolver sobrepeso ou obesidade na infância. Já crianças que nasceram PIG apresentaram 0,38 maior proteção, de desenvolver o mesmo desfecho, em relação a crianças com peso adequado para a idade gestacional.

Tabela 1: Variáveis Obstétricas e Peri-natais associadas a obesidade e sobrepeso em crianças de 5 a 12 anos do município da Palhoça, SC.

Variáveis Obesos Controle

OR IC (95%) Valor P n % N % Sexo Feminino 91 47,6 207 50,6 1,12 0,79 – 1,59 0,0012 Masculino 100 52,3 202 49,3 Via de Parto Vaginal 85 47,7 238 60,4 1,69 1,16 -2,38 0,002 Cesáreo 93 52,2 156 39,5 Idade Gestacional Prematuro 14 8,10 47 11,9 0,65 0,35-1,24 0,09 Termos 157 91,8 345 88

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RCIU Sim 6 3,20 53 14,2 0,23 0,10-0,56 <0,001 Não 151 96,6 318 85,7 PIG Sim 18 12 96 26,2 0,38 0,22-0,66 <0,001 Não 132 88 270 73,7

Fonte: Prontuários Ambulatório Materno-Infantil Unisul Palhoça-SC.

A tabela 2 mostra as variáveis relacionadas aos hábitos e estilo de vida das crianças

selecionadas. Encontrou-se causalidade reversa nas variáveis, atividade física versus sedentarismo, pois, os obesos estavam mais ativos no momento da coleta de dados.

Assim como atividade física, tempo de tela maior que 3 horas por dia também apresentou causalidade reversa. Crianças com peso adequado para idade e altura apresentaram maior tempo de tela, que as crianças com excesso de peso.

Crianças que tinham pais com tempo de estudo menor que oito anos, tiveram risco três vezes maior de desenvolver sobrepeso ou obesidade, em relação a crianças em que os pais tinham maior tempo de escolaridade, com significância com p<0,001.

Em relação aos hábitos alimentares, encontrou-se uma associação entre aleitamento materno exclusivo no período mínimo de quatro meses menor risco de sobrepeso ou obesidade, com Odds Ratio 0,6, de sobrepeso ou obesidade, entre crianças que foram amamentados menos de quatromeses com leite materno. Após este período, notou-se que crianças que receberam aleitamento materno complementado por leite de vaca integral por mais de 12 meses, tiveram risco maior de desenvolver o mesmo desfecho,com Odds Ratio 0,37, apresentando significância com p<0,001.

Quanto à alimentação atual, encontrou-se um risco cinco vezes maior de crianças que apresentaram alimentação atual, crianças que receberam hiperalimentação, com excesso de carboidratos e gorduras, de desenvolver sobrepeso ou obesidade, em comparação a crianças que recebiam uma alimentação balanceada rica em fibras e proteínas, gerando significância com p<0,001. Tabela 2: Variáveis de Hábitos e Estilo de Vida associadas a obesidade e sobrepeso em crianças de 5 a 12 anos do município da Palhoça, SC.

Variáveis Casos Controle

OR IC (95%) Valor P n % N % Atividade Física Sedentários 36 18,8 81 19,9 0,9 0,6-1,44 0,38 Ativos 155 81,1 326 80 Tempo de Tela >3horas 132 69,1 366 89,7 0,25 0,16-0,40 <0,001 <3horas 59 30,8 42 10,2 Escolaridade dos Pais <8 anos 76 58,4 106 30,7 3,17 2,09-4,81 <0,001 >8 anos 54 41,5 239 69,2 Aleitamento Materno Exclusivo

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<4meses 96 51 146 40,3 0,6 0,44-0,90 0,006 >4meses 91 48,4 216 59,6 Introdução de leite de vaca integral <12meses 66 35,8 163 59,7 0,37 0,25-0,55 <0,001 >12meses 118 63,2 110 40,2 Alimentação Atual Adequada 26 15,2 190 46,5 5,48 3,50-8,79 <0,001 Hiperalimentação 164 86,3 218 53,4

Fonte: Prontuários Ambulatório Materno Infantil Uniul Palhoça-SC.

Ao ajustar para o efeito confundidor das co-variáveis no modelo multivariado, descrito na tabela 3. Em relação as variáveis no modelo bivariado, a prevalência de sobrepeso e obesidade aumentou. Para escolaridade dos pais menor de oito anos encontrou-se agora risco 3,4 vezes maior de desenvolver tal desfecho em relação a crianças filhas de pais com maior tempo de escolaridade.

Quanto à amamentação materna exclusiva, menor que quatro meses, aumentou para 2,5, o risco de desenvolver sobrepeso ou obesidade, em relação a crianças que receberam aleitamento materno exclusivo por mais tempo. Já, na introdução de leite de vaca integral em crianças menores de 12 meses de idade, obteve-se risco 2,7 vezes maior de apresentar o mesmo desfecho. E, por fim, crianças que recebem atualmente hiperalimentação, apresentaram chance quase 7 vezes maior de desenvolver sobrepeso ou obesidade, em relação a crianças que recebem alimentação balanceada. Tabela 3: Análise Multivariada associadas a obesidade e sobrepeso em crianças de 5 a 12 anos do município da Palhoça, SC.

Variáveis OR Ajustado IC (95%) Valor P

Escolaridade dos Pais < 8 anos 3,42 1,99 – 5,86 <0,001 Amamentação Materna Exclusiva < 4 meses 2,52 1,37 – 4,64 0,003 Aleitamento Complementar < 12 meses 2,75 1,50 – 5,05 0,001 Alimentação Atual Hiperalimentação 6,73 3,53 – 12,84 <0,001 DISCUSSÃO

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No presente estudo, não houve diferenças na prevalência de sobrepeso e obesidade em relação ao sexo, estando de acordo com outras pesquisas, onde se nota uma variação entre prevalência de meninos ou meninas com excesso de peso, mas sem grande impacto19,20..

A via de parto teve valores importantes. Crianças de parto cesariano apresentaram 69% mais chances de desenvolver obesidade ou sobrepeso, se aproximando de outros estudos, onde parto cesariano predispõem obesidade infantil, por alteração da microbiota intestinal dessas crianças, em relação aquelas que nasceram de parto vaginal e adquirem uma microbiota semelhante a de indivíduos magros5,6.

Quanto aos fatores pré-natais, encontrou-se uma chance menor de crianças que nasceram com RCIU ou PIG desenvolver sobrepreso ou obesidade. A literatura traz resultados ainda contraditórios quando a esse aspecto, onde crianças com RCIU ou PIG apresentam baixa resistência insulínica, e com uma oferta abundante de calorias pós-natal, tem um maior “catch- -up growth”, ou seja, tornam-se poupadores de calorias, assim teriam mais chances de detornam-senvolver sobrepreso ou obesidade na infância17.. Porém outro estudo se associa melhor aos nossos resultados, onde crianças com peso adequado ao nascer (p>2500gr), tiveram maior prevalência de excesso de peso na infância20. Estudos recentes comprovam a influência da genética, epigenética e pré-natais no peso ao nascer a na

adiposidade na primeira infância, onde foram encontrados genes que sofreram metilação do DNA nos lociIGDCC4 , MIRLET7BHG , CACNA1G, e estão ligados com a programação do metabolismo, presente em crianças que apresentaram RCIU ou nasceram PIG, e que além de predispor obesidade infantil, também eram mais associadas a doença cardiovascular, diabetes melitus, por atuar em receptores insulínicos28.

Já é conhecido que a baixa adesão nas atividades esportivas na escola, o baixo incentivo das famílias, contribuem para o alarmante crescimento de escolares com sobrepeso e obesidade. Estudos revelam que cerca de 60% das crianças com diagnósticos de sobrepeso ou obesidade eram sedentárias, associada ao alto tempo em frente a tela, tornando seu gasto energético baixo,9,12,13,16. Porém no presente estudo encontramos mais obesos ativos, ocorrendo causalidade reversa, assim entende-se que após intervenções e orientações em consultas, crianças com sobrepeso ou obesidade se tornaram mais ativos.

Por outro lado, esperava-se encontrar mais crianças com excesso de peso com tempo de tela maior que três horas por dia, sendo um fator indicador de sedentarismo. Porém no presente estudo, assim como atividade física, apresentou causalidade reserva, pois havia mais indivíduos magros com tempo de tela maior que 3 horas por dia 9,13,15,27.

Quanto ao aspecto social, identificou-se risco três vezes maior de desenvolver sobrepeso ou obesidade, em crianças filhas de pais com escolaridade menor que oito anos. Estudos recentes revelam que pais com maior tempo de escolaridade apresentaram maior adesão ao aleitamento materno. Entretanto países desenvolvidos, onde a população geral tem maior renda, apresentam menor tempo de

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duração de amamentação. Outro estudo mostrou que essa relação era maior nos estados do Nordeste e Sudoeste do Brasil7,18,20,21. Todavia, observou-se em outras pesquisas que quanto maior o poder aquisitivo familiar, este contribuiu para o acesso mais fácil aos alimentos hipercalóricos, o qual, integrado ao excesso de tela, contribuem para o aumento da prevalência de obesidade infantil20, tornando um fator de associação muito controverso.

Muito se fala dos mil primeiros dias de vida da criança, onde a alimentação pode ter papel fundamental e protetor contra a obesidade precoce. Um dos principais fatores é o leite materno exclusivo agindo como protetor contra o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, em relação á fórmulas lácteas ou leite de vaca integral4,19,22.

No presente estudo, crianças que receberam leite materno exclusivo, no período mínimo de quatro meses, tiveram risco 2,5 vezes menor de desenvolver sobrepeso ou obesidade, estando de acordo com outros estudos, os quais revelam até 15% menor a probabilidade de uma criança, que recebeu amamentação exclusiva entre três e dezoito meses, de desenvolver obesidade em relação aos que não receberam aleitamento, e ainda citam que a cada mês a mais de aleitamento materno

exclusivo, se reduz 4% o risco de desenvolver o mesmo desfecho4,17,18,19,23. Outro efeito importante do aleitamento materno exclusivo está na possibilidade de desenvolver uma preferência por alimentação saudável nos anos seguintes. Uma coorte australiana avaliou que, crianças que receberam aleitamento materno por mais tempo, tinham uma dieta com um numero maior de frutas e vegetais na vida adulta, em comparação aquelas com menor tempo de amamentação22.

Além disso, a literatura mostra uma redução de 10% no desenvolvimento de sobrepeso e obesidade, em crianças que receberam aleitamento materno por longos períodos, principalmente em crianças amamentadas por mais de onze meses3,8,19,21, assim como encontrado no presente estudo, onde crianças que receberam aleitamento materno até os doze meses de vida, tiveram quatro vezes menos chances de desenvolver sobrepeso ou obesidade. Portando o aleitamento materno deve ser postergado mesmo que complementado, pois se mantém seus efeitos protetores contra o ganho excessivo de peso.

Alimentação atual foi o fator com maior significância no presente estudo, para o desfecho final de sobrepeso ou obesidade. Na análise independente encontraram-se chances quase sete vezes maior, de crianças que recebem hiperalimentação, com excesso de gorduras e carboidratos, de desenvolver sobrepeso ou obesidade.

Hábitos alimentares saudáveis iniciam já no desmame e na introdução alimentar, sendo que junto com a amamentação torna-se uma forma de prevenção primária contra sobrepeso e obesidade infantil26. Estudos semelhantes associam o excesso de peso de crianças quando pais também

apresentavam excesso de peso e hábitos alimentares não saudáveis, abusando de fast-foods, ou seja, alimentos ricos em calorias, carboidratos, gorduras e açúcares, o que contribui para o aumento progressivo de escolares entre cinco e dezesseis anos com sobrepeso e obesidade15,21. Um estudo espanhol mostrou que os pais tinham pouco entendimento do que é uma alimentação saudável, e por achar que eram apenas alimentos orgânicos, não poderiam arcar com os altos custos, que este tipo de

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alimentação demanda. Outro fator relatado no estudo era o descontentamento com a alimentação nas escolas, pois, após frequentarem a escola, as crianças começavam a solicitar muito mais fast foods em casa23. Indo além da influência escolar, as crianças estão expostas a inúmeras propagandas

principalmente televisivas de alimentos apetitosos, porém ricos em açucares, conservante, sódio, e são pouco estimuladas a serem críticos e fazer suas próprias escolhas saudáveis28.

Indo além, a hiperalimentação é uma das maiores causas para desencadear um processo inflamatório crônico devido ao acúmulo de elevados níveis de glicose e lipídios na circulação. A exposição crônica a este processo inflamatório, leva a ativação de várias vias de transcrição molecular e metabólica. Este processo resulta na indução de vários mediadores pró infamatórios que provocam a resistência insulínica em alguns tecidos, interferindo na sinalização da insulina. Uma vez

desencadeado, aumenta o estresse oxidativo em célula beta da ilhota pancreática e tecidos periféricos, que impede a secreção de insulina pela célula beta e diminui a sensibilidade a insulina em célula beta e tecidos periféricos29.

A falta de informação e de adesão familiar aos hábitos saudáveis, também contribuem para que se mantenha a epidemia de excesso de peso, com implicações futuras e o aumento progressivo de jovens hipertensos, com alterações ósseas, baixa estatura, disfunções metabólicas20,22,25,28.

Incentivar a amamentação e a introdução alimentar saudável são os primeiros passos para criar hábitos saudáveis na vida adulta, visto que são de grande impacto nos anos seguintes da vida das crianças. Esclarecer em consultas e na comunidade o que são hábitos saudáveis, como fazer boas escolhas e com valor acessível, estimular o abandono ao sedentarismo, e mostrar a importância da adesão familiar para que as mudanças sejam concretas e a longo prazo, além de mostrar os malefícios do excesso de peso e suas implicações a curto e longo prazo, como alterações muscoloesqueléticas, disfunções metabólicas, problemas cardiovasculares, são fundamentais para que haja adesão e mudança nos valores epidêmicos atuais de obesidade infantil.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir neste estudo que os fatores comportamentais e sociodemográficos têm grande influência no desenvolvimento de sobrepeso e obesidade infantil.

Os fatores de riscos para os altos índices de obesidade infantil encontrados foram parto cesariano, baixa escolaridades dos pais, introdução de leite de vaca integral antes dos 12 meses de vida, e hiperalimentação atual.

A amamentação como um efeito protetor, associado a introdução de alimentos saudáveis, são de grande impacto para que hábitos alimentares saudáveis sejam estimulados. Assim como promover atividade física familiar, mostrando alternativas para um estilo de vida saudável com baixo custo.

Hábitos saudáveis devem ser rotineiramente estimulados, e seguidos pela família toda, para prevenir a epidemia de sobrepeso e obesidade infantil.

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Financiamento

O estudo não recebeu financiamento. Conflitos de interesse

Os autores declaram não haver conflitos de interesse. REFERÊNCIAS

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