Poder Judiciário
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Sétima Câmara Cível
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Agravo Interno no
Agravo de Instrumento nº 0020513-33.2013.8.19.0000
Agravante: INTERMÉDICA SISTEMA DE SAÚDE S/A.
Advogado: Dr. Luciano Chapim Soares
Agravada: SUSANA CRANCIO BARCELOS CORRÊA PACHECO
Advogada: Dra. Ana Daniela de Oliveira Cunha
Relator:
Desembargador ANDRÉ RIBEIRO
AGRAVO
INTERNO
EM
AGRAVO
DE
INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE
DEU PROVIMENTO AO RECURSO. OBRIGAÇÃO DE
FAZER.
ANTECIPAÇÃO
DA
TUTELA
PARA
IMEDIATA
CIRURGIA
REPARADORA
PARA
RETIRADA DE EXCESSO DE PELE. Paciente que
necessita de cirurgia para remoção de excesso de pele
(dermolipectomia) nos braços, coxas e mamas, decorrente
da grande perda de peso após a cirurgia bariátrica,
causando-lhe transtornos na sua saúde, vida pessoal e
conjugal,
considerando
as
infecções
cutâneas
e
ginecológicas de repetição. Declarações médicas que
atestam as alegações da recorrente. Procedimento que não
deve ser considerado cirurgia estética para fins de
embelezamento, mas sim uma continuação do tratamento
da obesidade mórbida. Entendimento consagrado na
Súmula nº 258 deste Tribunal. Presença dos requisitos
ensejadores da concessão da medida de urgência, previstos
no artigo 273, do Código de Processo Civil. Jurisprudência
do STJ e deste Tribunal. Decisão monocrática, nos termos
do § 1º-A do artigo 557 CPC, que não merece reparo.
DESPROVIMENTO DO AGRAVO INTERNO.
Vistos, relatados e discutidos este Agravo Interno, nos autos
do Agravo de Instrumento nº 0020513-33.2013.8.19.0000, em que é
Agravante INTERMÉDICA SISTEMA DE SAÚDE S/A. e Agravada
SUSANA CRANCIO BARCELOS CORRÊA PACHECO,
ANDRE EMILIO RIBEIRO VON MELENTOVYTCH:000031928 Assinado em 13/12/2013 13:32:39
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A C O R D A M os Desembargadores que integram a
Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
por unanimidade de votos, negar provimento ao recurso, nos termos do
voto do Desembargador Relator.
Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2013.
Desembargador ANDRÉ RIBEIRO
Relator
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Versa a hipótese sobre o Agravo Interno interposto contra a
decisão de fls. 73/78, que deu provimento ao Agravo de Instrumento para
reformar a decisão a quo e determinar que a ré, ora recorrente, proceda a
imediata cirurgia reparadora indicada na inicial.
A Agravada, às fls. 90/100, reitera integralmente as
contrarrazões de fls. 56/65, requerendo a reconsideração da decisão ou que
seja apreciado pelo Colegiado, sustentando que não está obrigada a cobrir o
procedimento solicitado pela autora, tendo o contrato sido firmado na égide
da Lei 9.656/98; que não se trata de situação de emergência, risco imediato
de vida ou de lesões irreparáveis ao paciente; e que não houve negativa de
autorização, deixando a paciente de solicitar nova avaliação para cirurgia.
É o breve relatório. Passo ao voto.
De início, ressalto acerca da possibilidade de o Relator
decidir o recurso monocraticamente, com fulcro no art. 557 do Código de
Processo Civil, tratando-se de matéria que se encontra superada pela
jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de Justiça.
Neste sentido:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO
ESPECIAL. DECISÃO MONOCRÁTICA. NEGATIVA DE
SEGUIMENTO. RELATOR. POSSIBILIDADE. ART. 557 DO
CPC.
REDAÇÃO
DA
LEI
9.756/98.
INTUITO.
DESOBSTRUÇÃO
DE
PAUTAS
DOS
TRIBUNAIS.
FAZENDA PÚBLICA. EXECUÇÃO NÃO EMBARGADA.
HONORÁRIOS.
CABIMENTO.
AÇÃO
COLETIVA.
PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO.
I - A discussão acerca da possibilidade de o relator decidir o
recurso interposto isoladamente, com fulcro no art. 557 do
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Código de Processo Civil, encontra-se superada no âmbito
desta Colenda Turma. A jurisprudência firmou-se no sentido
de
que,
tratando-se
de
recurso
manifestamente
improcedente,
prejudicado,
deserto,
intempestivo
ou
contrário a jurisprudência dominante do respectivo tribunal,
do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior,
inocorre nulidade da decisão quando o relator não submete o
feito à apreciação do órgão colegiado, indeferindo
monocraticamente o processamento do recurso.
II - Na verdade, a reforma manejada pela Lei 9.756/98, que
deu nova redação ao artigo 557 da Lei Processual Civil, teve
o intuito de desobstruir as pautas dos tribunais, dando
preferência a julgamentos de recursos que realmente
reclamam apreciação pelo órgão colegiado.
III - A Eg. Corte Especial deste Tribunal pacificou entendimento
no sentido de que, nas execuções individuais contra a Fazenda
Pública oriundas de sentença genérica proferida em ação
coletiva, são devidos os honorários advocatícios, ainda que não
embargada a execução, não havendo que se fazer distinção em
relação à ação civil pública. Precedentes.
IV - Agravo interno desprovido. (AgRg no REsp 899.438/RS,
Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em
10.05.2007, DJ 29.06.2007 p. 712)
Quanto ao mérito, a decisão atacada analisou atentamente a
hipótese dos autos, com a seguinte fundamentação:
“Da análise dos autos, denota-se que a agravante foi
submetida à cirurgia bariátrica tendo por objetivo o tratamento
de obesidade mórbida, bem como posterior procedimento para
retirada de excesso de tecido epitelial no abdome, conforme
declaração de fls. 44.
Por seu turno as declarações médicas indicadas pela
agravante atestam que “A paciente apresenta nas pregas
inguinais excesso de pele pós cirurgia bariátrica – região
inguinal quadro de foliculite e tinha corporis/iguinal de difícil
controle com a medicação tópica”, fls. 45, e “Paciente pós
cirurgia bariátrica, com perda ponderal de aproximadamente
50Kg, apresenta excesso de pele em braços, mamas e coxas,
favorecendo
infecções
de
repetição.
Necessita
de
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Vislumbra-se, portanto, a presença da verossimilhança do
direito da recorrente, visto que o procedimento para retirada de
excesso de pele não deve ser considerado cirurgia estética para
fins de embelezamento, mas sim uma continuação do tratamento
de obesidade mórbida. É injustificada, portanto, a negativa da
agravada em autorizar a realização da cirurgia.
Ademais, a pretensão da agravante encontra agasalho na
jurisprudência deste Tribunal, consagrada na edição da Súmula
nº 258, firmando entendimento de que o pretendido
procedimento constitui etapa do próprio tratamento da
obesidade mórbida:
Súmula nº. 258. "A cirurgia plástica, para retirada do
excesso de tecido epitelial, posterior ao procedimento
bariátrico, constitui etapa do tratamento da obesidade mórbida
e tem caráter reparador."
Nesse sentido são os seguintes precedentes do STJ e deste
Tribunal de Justiça:
RECURSO ESPECIAL - AÇÃO ORDINÁRIA - PLANO DE
SAÚDE (...) CIRURGIA DE REMOÇÃO DE TECIDO
EPITELIAL APÓS A SUBMISSÃO DA
PACIENTE-SEGURADA
À
CIRURGIA
BARIÁTRICA
-
PROCEDIMENTO NECESSÁRIO E COMPLEMENTAR
AO
TRATAMENTO
DA
OBESIDADE,
ESTE
INCONTROVERSAMENTE ABRANGIDO PELO PLANO
DE
SAÚDE
CONTRATADO,
INCLUSIVE,
POR
DETERMINAÇÃO
LEGAL
-
ALEGAÇÃO
DE
FINALIDADE ESTÉTICA DE TAL PROCEDIMENTO -
AFASTAMENTO - NECESSIDADE - COBERTURA AO
TRATAMENTO
INTEGRAL
DA
OBESIDADE
-
PRESERVAÇÃO DA FINALIDADE CONTRATUAL -
NECESSIDADE - RECURSO ESPECIAL IMPROVIDO.
(...) II - Encontrando-se o tratamento da obesidade
mórbida coberto pelo plano de saúde entabulado entre as
partes, a seguradora deve arcar com todos os tratamentos
destinados à cura de tal patologia, o principal - cirurgia
bariátrica (ou outra que se fizer pertinente) - e os
subseqüentes ou conseqüentes - cirurgias destinas à
retirada de excesso de tecido epitelial, que, nos termos
assentados, na hipótese dos autos, não possuem natureza
estética; III - As cirurgias de remoção de excesso de pele
(retirada do avental abdominal, mamoplastia redutora e a
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DERMOLIPOCTOMIA BRAÇAL) consiste no tratamento
indicado contra infecções e manifestações propensas a
ocorrer nas regiões onde a pele dobra sobre si mesma, o
que afasta, inequivocamente, a tese sufragada pela parte
ora recorrente no sentido de que tais cirurgias possuem
finalidade estética; IV - Considera-se, assim, ilegítima a
recusa de cobertura das cirurgias destinadas à remoção de
tecido epitelial, quando estas se revelarem necessárias ao
pleno restabelecimento do paciente-segurado, acometido
de obesidade mórbida, doença expressamente acobertado
pelo plano de saúde contratado, sob pena de frustrar a
finalidade precípua de tais contrato; V - Recurso Especial
improvido.
REsp 1136475/RS, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, 3ª
Turma, julgado em 04/03/2010.
Apelação Cível. Obrigação de fazer c/c indenizatória.
Plano de saúde. Cirurgia plástica reparadora decorrente
de cirurgia bariátrica por obesidade mórbida. Contrato
que não prevê cobertura para este tipo de procedimento.
Cláusula contratual que se revela abusiva. A cirurgia de
redução
do
estômago
torna
necessários
outros
procedimentos cirúrgicos para retirada do excesso de pele
que se forma no corpo. Assim tal correção, via cirúrgica,
não diz respeito ao embelezamento, não se tratando de
uma questão estética, mas da necessidade de se reparar a
deformação adquirida na região do abdômen em razão da
cirurgia bariátrica. Diante disso, verifica-se que a negativa
da ré em autorizar a realização da cirurgia reparadora dá
ensejo à compensação por danos morais, em razão do
injusto sofrimento imposto à autora. Sentença confirmada.
Recurso a que se nega seguimento, com base no art. 557 do
CPC. (Apelação Civil 0277353-18.2009.8.19.0001, Décima
Segunda Câmara Cível, Rel. Des. CHERUBIN HELCIAS
SCHWARTZ, j. 03/03/2011)
0042139-79.2011.8.19.0000
-
AGRAVO
DE
INSTRUMENTO – 1ª Ementa – DES. CRISTINA TEREZA
GAULIA - Julgamento: 25/10/2011 - QUINTA CÂMARA
CÍVEL.
Agravo de instrumento. Decisão de 1º grau que indefere a
antecipação da tutela para obrigar o plano de saúde
agravado a arcar com os custos de cirurgia reparadora
mamária decorrente de ptose por esvaziamento bilateral
originada de cirurgia bariátrica. Intervenção médica de
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cunho reparatório, que destina-se a debelar os
inconvenientes físicos e psicológicos que são consequência
do excesso de pele que se forma após a abrupta perda de
peso experimentada pela agravada. Exclusão contratual
não
aplicável.
Procedimento
cirúrgico
acessório.
Necessária cobertura. Presença dos requisitos necessários
à antecipação da tutela. Inteligência dos arts. 273 CPC e
84 § 3º CDC. Recurso a que se dá provimento.
0013445-03.2011.8.19.0000
-
AGRAVO
DE
INSTRUMENTO – 1ª Ementa – DES. MARCO ANTONIO
IBRAHIM - Julgamento: 07/04/2011 - VIGÉSIMA
CÂMARA CÍVEL.
Agravo de instrumento. Obrigação de fazer cumulada com
indenizatória. Antecipação dos efeitos da tutela. Paciente
que foi submetida à cirurgia bariátrica com quadro de
obesidade mórbida. Negativa do plano em autorizar
procedimento para retirada de excesso de tecido epitelial
que restou após a cirurgia. Presença de verossimilhança
do direito da recorrente, visto que o procedimento para
retirada de excesso de pele não deve ser considerado
cirurgia estética para fins de embelezamento, mas sim
mera decorrência do tratamento de obesidade mórbida. É
injustificada, portanto, a negativa da agravada em
autorizar a realização de cirurgia para correção de
lipodistropia crural. Precedentes do TJRJ. Recurso
provido de plano.
Com efeito, pelo detido exame dos argumentos e
documentos carreados aos autos, observa-se que a agravante
conseguiu demonstrar a existência dos requisitos ensejadores da
concessão da medida de urgência, previstos no artigo 273, do
Código de Processo Civil.
Isto posto, com amparo no § 1º-A do artigo 557 do Código
de Processo Civil, dou provimento ao recurso para reformar a
decisão recorrida e deferir a antecipação da tutela para
determinar que a ré proceda a imediata cirurgia reparadora
para remoção do excesso de pele dos membros inferiores e
superiores, bem como das mamas, inclusive com colocação de
prótese, quando necessário, e utilização de todos os materiais,
exame
e
recursos
médico-hospitalares
necessários
à
continuidade do tratamento, no prazo de 10 (dez) dias e sob
pena de multa diária de R$ 500,00, cuja intimação deverá ser
realizada pelo Juízo a quo”.
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