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Influência do Transtorno de Personalidade Antissocial no Cometimento de Crimes

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Influência do Transtorno de Personalidade Antissocial no

Cometimento de Crimes

Dário Aquino da Cruz Docente do ISCTAC – Delegação de Maputo O presente trabalho tem como objectivo mostrar as características da personalidade psicopática, demonstrar a razão ou a falta de razão para o cometimento de crimes bárbaros, analisar a formação da personalidade de um psicopata, trazendo também as causas que podem ocasionar tal transtorno. Estamos tratar, acima de tudo, com a preguiça social diante desse problema tão grave que é a psicopatia, são seres tão perversos, temos de lidar com a ausência de leis e políticas eficazes para estes casos.

Personalidade, Psicopatia ou

Trans-torno de Personalidade Anti-Social

Conceito

O

conceito de personalidade

dado por Kaplan e Sadok (1993, p. 556) é a totalidade relativa-mente estável e previsível dos traços emocionais e comportamentais que caracterizam a pessoa na vida quotidiana, sob condições normais. Acentue-se que a personalidade só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos (Fiorelli, Mangini, 2011, p. 97).

Personalidade é definida, de modo simplificado, como sendo a forma do indi-víduo agir, seu carácter, seus traços emo-cionais e como ele sente e vivencia essas emoções.

Segundo o CID 10 (Código Internacio-nal de doenças), os transtornos de perso-nalidade são: [...] transtornos de personali-dade abrangem padrões de comporta-mento profundamente arraigados e per-manentes, manifestando-se como respos-tas inflexíveis a uma ampla série de situa-ções pessoais e sociais.

Transtorno de personalidade é uma forma diferenciada de o indivíduo se rela-cionar com a sociedade, com sua própria vida, com suas emoções e seus sentimen-tos; há uma perturbação desse indivíduo,

perante as situações que enfrenta, levan-do-o a causar transtorno principalmente ao próximo.

A classificação de transtornos mentais e de comportamento, em sua décima revi-são (CID-10), descreve o transtorno especí-fico de personalidade como uma pertur-bação grave de constituição caracteroló-gica e das tendências comportamentais do indivíduo (o chamado delinquente caracterológico).

Para Nestor Sampaio Penteado (FILHO, 2013, p.167), os transtornos de personalida-de não são tecnicamente doenças, mas anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo consideradas, em psiquiatria crimi-nal, perturbações da saúde mental.

O CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) descreve oito tipos de trans-tornos específicos de personalidade, a saber: paranóide, esquizóide, antissocial, emocionalmente instável, histriônico, anan-cástico, ansioso e dependente.

O Transtorno de Personalidade Antiso-cial, ou psicopatia, sociopatia traz à Psico-logia Forense um interesse particular. No plano policial-forense os transtornos de personalidade revelam-se de extrema importância, pelo facto de seus portadores (especificamente os antissociais) muitas vezes se envolverem em actos criminosos. Quando o grau de insensibilidades e apre-senta extremado (ausência total de

remor-Vol. 02, Nº 06, Ano II, Outubro - Dezembro de 2015

ISSN: 2519-7207

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so), levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afectiva, este pode assumir o comportamento delituoso recorrente, e o diagnóstico é de psicopatia.

O transtorno de personalidade antisso-cial, também conhecido como psicopatia, sociopatia, transtorno de carácter, trans-torno sociopático, transtrans-torno dissocial, pos-sui tantas variações terminológicas como reflexo á aridez do tema e o facto de a ciência não ter chegado a conclusões definitivas a respeito de suas origens, desenvolvimento e tratamento.

O termo psicopatia foi cunhado inicial-mente por Kraepelin (1856-1925) em1904

(“possuem personalidade psicopática

aqueles que não se adaptam à sociedade e sentem necessidade de ser diferentes”); seguiram-se a ele Morel, Magan, Schnei-der, Mira y López, Cleckley, e mais recente-mente Hare, entre outros (Fiorelli, Mangini, 2011, p. 107)).

De acordo com o DSM IV (Diagnstic and Statistical Manual of Mental Disorders), o conceito de transtorno da Personalidade Antissocial é: padrão invasivo de desrespei-to e violação dos direidesrespei-tos dos outros, que inicia na infância ou começo da adoles-cência e continua na idade adulta.

Características da Personalidade

Antisso-cial

Segundo McCord e McCordapud Maranhão (1995, p. 85): “O psicopata é anti-social. Sua conduta frequentemente o leva a conflitos com a sociedade. Ele é impelido por impulsos primitivos e por ardentes desejos de excitação. Na sua busca autocentrada de prazeres, ignora as restrições de sua cultura. O psicopata é altamente impulsivo. É um homem para quem o momento que passa é um seg-mento de tempo separado dos demais. Suas acções não são planejadas e ele é guiado pelos seus impulsos. O psicopata é agressivo. Ele aprendeu poucos meios socializados de lutar contra frustrações. Tem ou nenhum sentimento de culpa.

Pode cometer os mais apavorantes actos e ainda rememorá-los sem qualquer remorso. Tem uma capacidade pervertida para o amor. Suas relações emocionais, quando existem, são estéreis, passageiras e intentam apenas satisfazer seus próprios desejos. Estes dois últimos traços: ausência de amor e de sentimento de culpa mar-cam visivelmente o psicopata, como dife-rente dos demais homens.”

São algumas das características dos psicopatas, segundo roteiro de Cleckley: boa inteligência, inconstância, insincerida-de, infidelidainsincerida-de, falta de remorso, incapa-cidade de amar, vida sexual impessoal, entre outras.

Causas

Não existe uma razão que de causa à psicopatia. Esse transtorno apresenta dois elementos causais fundamentais: uma dis-função neurobiológica e o conjunto de influências sociais e educativas, ambientais e familiares que o psicopata recebe ao longo da vida. As bases para a definição de psicopatia oscilam entre aspectos orgânicos e sociais, nos levando a uma conjugação de factores. Logo, permane-ce ainda a dúvida quanto a uma causa real e específica desse transtorno.

Conduta Criminosa dos Psicopatas

Enquanto criminosos comuns almejam riqueza, status e poder, os psicopatas apre-sentam manifesta e gratuita crueldade. Mentem para conseguir atrair suas vítimas, para conseguir a confiança delas, e quan-do alcançam seus objectivos, praticam a crueldade de forma absurda. Eles buscam constantemente o próprio prazer, sendo solitários, muito sociáveis e de aspecto encantador, tendo a sólida convicção de que tudo lhe é permitido, excitando-se com o risco e com o proibido.

Quando matam, tem como objectivo final humilhar suas vítimas, reafirmando sua autoridade e realizando sua autoestima.

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Para o psicopata, o crime é secundário, sendo que o que realmente lhe interessa é o desejo de dominar, de sentir-se superior (Filho, 2013, p.174).

As análises dos perfis de personalidade estabelecem como estereótipo dos assassi-nos (existem excepções), homens jovens, de raça branca, que atacam preferencial-mente as mulheres, e cujo primeiro crime foi cometido antes dos30 anos.

Alguns têm histórico de infância trau-mática, devido a maus tratos físicos ou psí-quicos, motivo pelo qual têm tendência a isolar-se da sociedade e/ou vingar-se dela (Filho, 2013, p. 173).

Ainda segundo as análises de estereó-tipos, essas frustrações os induzem a um mundo imaginário, melhor que o real, onde revivem os abusos sofridos, porém dessa vez se identificando com o agressor. Por essa razão, sua forma de matar pode ser de contacto directo com a vítima, utili-zando armas brancas, estrangulando, gol-peando, quando nunca utilizando arma de fogo.

Perfil Criminal

Segundo R. N. Kocsis, os perfis criminais são definidos como uma técnica de inves-tigação da cena do crime, utilizada para analisar padrões de comportamento que melhor definem um crime violento ou uma série de crimes que podem estar associa-dos, com o propósito de identificar as características do presumível ofensor. Esta técnica integra processos de recolha e análise da cena de um crime, com o objectivo de predizer o comportamento, as características de personalidade e os indicadores sociodemográficos do ofensor que cometeu esse mesmo, estreitando o campo de suspeitos e ajudando na sua detenção (Kocsis, 2003, citado por Soeiro 2009, p. 37).

A construção de um Perfil Criminal é uma técnica de investigação evolutiva que tem como base as ciências humanas e comportamentais, tais como a

Psicolo-gia, a PsicopatoloPsicolo-gia, a Psiquiatria Forense, levando-se em conta também a percep-ção do serviço investigativo militar. O pon-to central desta técnica passa por determi-nar com certa exatidão no tocante à pre-disposição das características de um ofen-sor desconhecido.

Podemos considerar que a técnica de elaboração de um Perfil Criminal, tendo em conta os objectivos tradicionais asso-ciados, pretende responder às cinco ques-tões fundamentais da investigação crimi-nal (Kocsis, 2006, p.458): a. Quem cometeu o crime? b. Quando cometeu o crime? c. Como foi executado o crime? d. Qual a motivação que está na base deste (s) comportamento (s)? e. Onde foi cometido o crime? A resposta a estas questões, na maioria dos crimes investigados é adquiri-da através do trabalho que é desenvolvi-do pelos profissionais de polícia. O recurso à técnica surge associado a crime.

Troféus

Alguns psicopatas necessitam de algo para lembrá-los de quanto são poderosos. Muitos mantêm alguns itens pessoais da vítima como troféu do crime, oque os investigadores chamam de “simbolismo”, podendo ser uma peça de roupa, um colar, um sapato, etc. Outros guardam partes do corpo de suas vítimas como tro-féus.

Modus Operandi, Ritual e Assinatura

Em relação ao local do crime e cadá-ver deixados por um assassino, é extrema-mente importante que se proceda ao exa-me, à constatação de vestígios e à exacta descrição do local e cadáver.

O modus operandi, o ritual e a assina-tura são os elementos que conectam os crimes (Casoy, 2004, p. 22). O modus ope-randi é o procedimento seguido pelo delin-quente para a prática da infracção penal, assegurando o sucesso do criminoso em sua empreitada, protegendo a sua

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dade e garantindo sua fuga. Mas encon-trar o mesmo modus operandi em diversos crimes não é característica suficiente para conectá-los, já que o modo de agir é dinâ-mico, sofisticado conforme o aprendizado do criminoso e a experiência adquirida com os crimes anteriores.

O ritual é o comportamento que exce-de o necessário para a execução do cri-me. É baseado nas necessidades psicosse-xuais e é crítico para a satisfação emocio-nal do criminoso.

Já a assinatura é a combinação de comportamentos, identificada pelos dois primeiros elementos. A assinatura é a mar-ca do criminoso, seu “mar-cartão-de-visita”, algo que se faz imprescindível para o assassino. A assinatura do crime pode até colocar o criminoso em risco de captura, mas, como um vício, ele precisa dessa marca para aliviar uma tensão interna, quase sempre relacionada à sexualidade mal resolvida (Filho, 2013, p. 173).

Ferimentos específicos podem ser uma forma de assinar um crime. Outras vezes, algum tipo de amarração específi-ca ou um roteiro de acções executadas. Pode também ser a assinatura a exposição do cadáver, tortura, mutilação, inserção de objecto estranho, canibalismo, necrofi-lia (Filho, 2013, p.173).

Conclusão

A mente humana nos revela que não nada sabemos sobre ela. A psicopatia não é considerada doença, ainda assim sabe-mos que um psicopata não é normal.

Sabendo que a psicopatia não é algo normal, a nossa lógica é procurar algo que possa “curar” essa anormalidade. Chega-mos aqui a um ponto crucial: a psicopatia não tem cura nem tratamento.

As terapias biológicas, ou seja, com medicamentos, e as psicoterapias em geral se mostraram ineficazes para a psico-patia até o momento. Para os profissionais de saúde, esse quadro é desanimador, uma vez que não existe método eficaz que

mude a forma de um psicopata se relacio-nar com os outros. As psicoterapias são direccionadas às pessoas que estejam com desconforto emocional.

Depois de tudo que já foi dito, fica cla-ro que os psicopatas em nada demons-tram estarem insatisfeitos emocionalmente, não apresentando sofrimentos emocionais como depressão, ansiedade etc. Logo, não é possível tratar um sofrimento que não existe (Silva, 2008, p. 169).

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