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Integração de Alunos Monitores em Salas de Informática: Uma Avaliação

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Academic year: 2021

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EM

S

ALAS

DE

I

NFORMÁTICA

:

U

MA

A

VALIAÇÃO

1. P

ROJETOS

E

XISTENTES

No Brasil, existem vários projetos que visam à capacitação de alunos da escola pública com o objetivo de manter os computadores e laboratórios em pleno funcionamento. Existem ações realizadas em Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Bahia, todas em âmbito estadual e com apoio do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO). Estes projetos seguem objetivos similares ao do projeto AM. Foram procurados representantes destas iniciativas, buscando análises a avaliações projetos.

Para incluir monitores nas salas de informática nas suas 790 escolas, a Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC) implementou o projeto “Internet nas Escolas”, que inclui a capacitação de alunos monitores. O projeto

Tel Amiel

604, Aderhold Hall

University of Georgia, Athens, GA, USA tamiel@uga.edu

Gustavo Morceli

Av. Eng. Luiz Edmundo Carrijo Coube 14-01 17033-360, Bauru, SP

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” morceli@fc.unesp.br

Resumo: Este artigo avalia o projeto Aluno Monitor (AM) em Bauru –

interior de SP, no qual, alunos de escolas públicas tornaram-se monitores nas salas de informática de suas escolas. O projeto AM facilita o pleno funcionamento das salas de informática e o acesso de alunos e professores a computadores e a Internet. Alunos, professores, e administradores envolvidos no projeto responderam questionários e foram entrevistados com objetivo de avaliar percepções quanto ao papel e presença de um AM na escola. Os resultados da avaliação indicam que as percepções divergem substancialmente, levando a uma complexa rede de interações e negociações entre alunos, professores, e administradores enquanto lutam para integrar a tecnologia na educação.

Palavras-Chave: Aluno monitor, avaliação, escola pública, informática. Abstract: This article evaluates the Aluno Monitor (AM) project in Bauru,

interior of São Paulo, where students from public schools become assistants to teachers within their school’s computer room. The AM project has assisted with keeping the computer rooms in full working condition, enabling student and teacher access to computers and the Internet. Students, teachers, and administrators responded to questionnaires and were interviewed in order to evaluate their perceptions in regards to the presence of the AM in the school. The results of this evaluation indicate that their perceptions of the role of the AM differs substantially, leading a complex web of interaction between students, teachers, and educators as they attempt to integrate technology into education.

Keywords: Reverse mentoring, evaluation, public school, computer.

disponibiliza dois alunos monitores por escola no interior do estado e três por escola na capital Fortaleza. O estado possui atualmente 2.400 alunos monitores trabalhando nas escolas, e para estimular o trabalho que até então era voluntário, a Secretaria de Educação Básica do Ceará, oferecia até Janeiro de 2004, R$ 50,00 mensais para os alunos como bolsa auxílio. Estes AMs são selecionados e capacitados por multiplicadores dos Núcleos de Tecnologia Educacional (NTE) [7]. Apesar da disponibilidade de dados avaliativos e controle formal das operações pelos NTEs do Estado, a SEDUC confirmou que nenhum processo de avaliação formal do projeto “Aluno Monitor” foi conduzido no Estado do Ceará.

O estado de São Paulo, através da Gerência de Informática Pedagógica da Fundação para o

(2)

Desenvolvimento da Educação (GIP-FDE), ligada à Secretaria de Estado de Educação, vem realizando desde 2003 um projeto de formação de AM nas escolas estaduais. Até o final de 2004 foram capacitados aproximadamente 9.000 alunos monitores em 2.931 escolas estaduais. Estes alunos receberam capacitação através dos multiplicadores dos Núcleos Regionais de Tecnologia Educacional (NRTE). A capacitação é dividida em dois módulos: básico e avançado; no módulo básico, os alunos aprendem sobre Windows, Arquitetura de computadores, Redes, aplicativos Office e Internet; no módulo avançado os alunos aprendem como desenvolver um sítio [1]. Segundo a GIP, o projeto tem como objetivos promover a apropriação pelas escolas das Salas Ambiente de Informática (SAI), enquanto espaço de criação, expressão, iniciação ao mundo do trabalho vivência participativa e Protagonismo Juvenil.

A iniciativa privada no Brasil tem desenvolvido projetos com objetivos similares. A Microsoft através de uma iniciativa mundial chamada Parceiros na Aprendizagem, lançou em 2004 no Brasil, o Programa Aluno Monitor [3], o qual foi desenvolvido baseado nas experiências do AM do projeto STEPE. Este projeto pretende formar alunos monitores de escolas públicas para apoiarem tecnicamente salas de informática nas escolas e/ou centros comunitários. Este programa está em funcionamento nos estados da Paraíba, Goiás, São Paulo, Pernambuco, na cidade de Belo Horizonte e em algumas cidades que possuem escolas parceiras do Instituto Airton Senna. Até o fim de 2004, aproximadamente 1.500 alunos haviam sido beneficiados por este programa [6].

Apesar do grande número de projetos e gastos expendidos, pouco se encontra escrito sobre práticas, sucessos e barreiras da integração de AMs em salas de informática das escolas. Não foi localizado sequer um escrito de origem acadêmica sobre o assunto. Tendo em vista esta lacuna, faz-se necessária uma avaliação do papel do AM nas escolas públicas. Este trabalho apresenta o projeto AM desenvolvido na cidade de Bauru dentro do projeto STEPE, e uma análise da percepção de alunos, professores, e da administração das referidas escolas, quanto à presença e o papel do AM na escola pública.

2. O P

ROJETO

STEPE

O projeto STEPE (Suporte Técnico e Pedagógico) tem como objetivo promover o uso da informática na educação na rede das escolas públicas na região de Bauru – interior de São Paulo. No início do projeto em 2001, havia um consenso de que as salas de informática não eram utilizados pelos professores em função dos computadores não estarem configurados corretamente ou com defeitos de hardware. O suporte técnico realizado em 2002 demonstrou que o problema de configuração era apenas um dos fatores que impediam a utilização dos computadores. Os professores necessitavam de apoio para preparar aulas que utilizassem o computador, necessitavam especialmente de suporte técnico para a utilização dos computadores; nasceu então o projeto AM [5].

O projeto capacitou dois alunos de cada escola atendida pelo projeto STEPE (22 escolas), para se tornarem alunos monitores em seus respectivos laboratórios de informática. Era esperado que os alunos oferecessem apoio para um grande número de professores sem experiência em informática, atendendo os que estavam ansiosos por experimentar o recurso e motivando os demais professores. Mais especificamente, a capacitação tinha como principais objetivos: 1) auxiliar professores e alunos no uso do computador; 2) solucionar problemas técnicos com os computadores; 3) organizar junto com a direção a agenda de horários para utilização da sala de informática.

3. M

ETODOLOGIA

A avaliação do projeto iniciou em 2004, ao final da capacitação dos alunos monitores. Questionários com perguntas abertas e perguntas fechadas foram enviados a todos os professores das 22 escolas participantes, e ao grupo de 15 alunos que participou de todo o primeiro ano do projeto (de Março a Dezembro de 2003). Os questionários continham perguntas abrangentes, com o objetivo de solicitar dados quantitativos e qualitativos quanto à opinião sobre o projeto AM.

3. 1. ENTREVISTAS

O questionário se limitou a coletar informações instrumentais sobre o projeto. Viu-se necessária o use do entrevistas, que permitiram aprofundar o conhecimento quanto dinâmica e contexto do trabalho do AM na escola. O uso de uma intervenção (pedagógica, tecnológica etc) no ambiente escolar tende a modificar a “ecologia” da escola. Vemos o aluno monitor como uma intervenção escolar. O aluno encontra-se em uma dualidade aluno da escola/aluno monitor, que potencialmente redefine sua relação com outros alunos, instrutores, e coordenadores.

Os resultados dos questionários serviram de base para a seleção e condução de entrevistas qualitativas, conduzidas no decorrer do ano de 2004. Os questionários semi-estruturados tinham como objetivo principal analisar a definição de aluno monitor por várias perspectivas

Extrair cronologicamente a experiência transformativa de um aluno para aluno monitor

Identificar pela perspectiva do aluno/professor/ diretor, o papel do aluno monitor.

Identificar a qualidade da relação do aluno com professores, diretoria e outros alunos na dualidade aluno/ aluno monitor

Identificar quaisquer transformações pessoais ou de relacionamento proporcionadas pela transformação de aluno, a aluno monitor.

Entrevistas seguindo normas qualitativas foram conduzidas com quatro alunos monitores, cinco professores, e dois coordenadores pedagógicos de um total de quatro escolas, com objetivo de clarificar o papel do

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AM na escola pública. Devido ao grande número de professores e alunos envolvidos, fez-se necessária uma seleção que objetivou maximizar a variação e o leque de opiniões e respostas. Os alunos foram selecionados baseados nos seguintes critérios: sucesso aparente no curso de AM (um regular, um bom, e outro excelente), escola (alunos de três diferentes escolas), e gênero (2 meninos, 1 menina). Todos os alunos possuíam um grande interesse em informática antes de se tornarem alunos monitores. Os alunos selecionados foram os que começaram no projeto AM em sua primeira fase (Março-Dezembro 2003). A avaliação incluiu também entrevista com seis professores e duas coordenadoras pedagógicas. O critério para escolha de professores se baseou em experiência pessoal com Alunos Monitores e desenvolvimento de projetos na sala de informática. Tomou-se como critério procurar professores que tinham opiniões variadas quanto à presença e o papel do AM na escola. Coordenadoras Pedagógicas foram escolhidas como representantes da administração escolar, já que, tradicionalmente (e também neste caso), tem maior envolvimento na coordenação da sala de informática.

Dois pesquisadores conduziram as entrevistas de acordo com um protocolo de entrevistas qualitativas semi-estruturadas [4]. Os nomes dos entrevistados foram trocados por motivos de confidencialidade. As entrevistas foram transcritas, e analisadas a procura de perspectivas quanto à definição e papel do aluno monitor na escola. Estes temas foram organizados hierarquicamente. Os relatos demonstram que alunos, professores, a diretores demonstram considerável divergência quanto ao papel do aluno monitor na escola.

4. Q

UESTIONÁRIOS

: A E

XPERIÊNCIADOS

P

ROFESSORES E

M

ONITORES

Quando os alunos foram questionados se o projeto AM apresentou algum benefício para eles ou para a escola, todos os alunos (N = 15) responderam que o projeto aprimorou conhecimentos pessoais e também beneficiou a escola onde eles trabalhavam e estudavam. Das opiniões sobre o projeto, onze alunos responderam que o projeto foi “excelente” de acordo com suas expectativas, três indicaram que foi “bom” e um respondeu que foi “regular” (N = 15, M = 4,66 em uma escala de 1 a 5). Os alunos foram questionados sobre como a sala de informática era utilizada nas escolas (múltipla escolha). Os resultados incluíram: o uso por professores e alunos em aula (8), apenas alunos sem professor (7), sem uso de alunos sem professor (1), e sala de informática freqüentemente vazia (2). Estes resultados são indicativos das restrições que a escola e administração impõem à sala de informática, sendo seu uso permitido somente com a presença de professores ou monitores. Quando questionados sobre quais atividades educacionais eram desenvolvidas nas salas de informática, os alunos indicaram (múltipla escolha) o uso de CD-ROMs educacionais (12), atividades baseadas na Internet (12), atividades baseadas no software Office (11). Estas

atividades indicam que uma variedade de ferramentas disponíveis foi utilizada em todas as salas de informática e nenhum tipo particular de atividade fora privilegiada.

Os professores também receberam um questionário adicional visando os aspectos negativos e positivos do projeto AM. As respostas foram extremamente positivas e indicaram que os: “professores fizeram mais uso da sala de informática”, e “por eles serem alunos da escola, podemos sempre contar com eles”. Além disso, professores indicaram que os alunos eram muito motivados e desejavam ajudar; um professor comentou que: “além de nos ajudar com o que precisávamos, os monitores dirigiram seus trabalhos em direção aos nossos interesses e necessidades”. Comentários negativos indicaram que o tempo de atendimento do AM era um problema: “o tempo disponível é insuficiente”, e “a parte negativa é encontrar um tempo comum onde todos os professores poderiam participar”.

Esses resultados indicam que os objetivos iniciais do treinamento AM foram alcançados. Alunos que participaram do projeto AM obtiveram uma valiosa experiência técnica, gostaram da capacitação que receberam, e indicaram crescimento de atividades em suas salas de informática. Os professores apontaram um alto nível de satisfação com seus trabalhos, com a maioria das reclamações direcionadas à falta de tempo e disponibilidade, uma limitação que pode ser solucionada com mais monitores e recursos financeiros.

5. E

NTREVISTAS

: O D

ITOEO

F

EITO

Houve dificuldade de alinhar alunos-professores-coordenadores da mesma escola durante as entrevistas. Muitos não se fizeram disponíveis mesmo após várias tentativas e outros não se encontravam na mesma escola, devido à alta rotatividade de professores e coordenadores. Os resultados que são apresentados aqui discutem temas que emergiram da maioria dos entrevistas e foram considerados relevantes para o entendimento do papel do aluno monitor na escola.

As perguntas “diretas” quanto ao papel do aluno monitor, e exemplos dados ao decorrer das entrevistas com todos os participantes indicam um grande consenso quanto ao papel técnico do aluno monitor. Porém além do papel para qual foram treinados, o trabalho efetivo dentro da escola apresenta uma dinâmica muito mais complexa. Primeiramente, o aluno monitor se torna um agente motivador, encorajando o uso da sala de informática. Segundo, a postura do aluno monitor é direcionada de acordo com o nível de preparo do professor. Os dois casos, professor preparado/professor despreparado acarretam papéis e ações distintas por parte do aluno monitor. Finalmente conflitos existem entre os alunos, professores, e direção com relação à hierarquia escolar, e controle da sala de informática. Descreveremos estes conflitos, terminando com uma série recomendações baseadas em nossas análises.

(4)

5. 1. TÉCNICO

Quando foram solicitados a descrever o papel que um AM supostamente deveria desempenhar, as respostas vieram sem nenhuma hesitação. Como Maria descreve: “... o aluno monitor ele tá ali para deixar a sala de informática pronta paro uso dos alunos e dos professores... para eles desenvolverem melhor as atividades educacionais...” e Mauro adiciona:

“Ele tem que ser um aluno como outro qualquer, cara, mas com a tarefa de cuidar do laboratório, de ajudar, de ajudar assim, a levar o que ele sabe para os outros alunos... ele tem que tá lá pra quando o aluno tiver uma dúvida, saber e ir lá ajudar e não resolver o problema... “.

Estas respostas apontam para um claro entendimento da posição do AM como um auxílio para o professor e não como um substituto. A opinião dos professores e da coordenação segue o mesmo raciocínio frisando o papel técnico e o auxílio ao aluno dentro da sala de aula. A professora Clara, explica que o AM deve “se limitar realmente a colaborar na parte técnica”. A professora Laura concorda, frisando que o AM deve “manter os equipamentos, a sala de informática, em condições adequadas”. Carolina frisa a importância do AM ter “consciência de que eles estão ali pra orientar o aluno que sabe menos”. Este ponto é enfatizado pelo aluno Kleber: “o aluno monitor tem que ajudar aquele aluno que não sabe, o aluno monitor tem que fazer os outros alunos aprender a mexer com o computador.” Os depoimentos apontam para dois dos três objetivos de capacitação do aluno monitor: auxiliar alunos e professores com a parte técnica, e auxiliar alunos no uso do computador. 5.2. AGENTE MOTIVADOR

O AM também foi identificado como agente de motivação dos professores. A professora Clara se sentiu mais segura e estimulada com o auxílio do aluno monitor: “...estimulou a gente, deu mais segurança pro professor...”. Muitos professores se sentiram mais seguros em dar aula na sala de informática quando sabiam haver o apoio técnico do aluno monitor para solucionar eventuais problemas técnicos durante uma aula.

No início do projeto, quando a sala de informática era pouco utilizada, os alunos monitores sensibilizavam os professores para que passassem a utilizar a sala com os alunos, “...a gente descia lá pra baixo [sala dos professores] pra convidar os professores, na época a gente convidada e os professores que iam da primeira vez sempre voltava...”, comenta Kleber. Após o início dos incentivos realizados pelos AMs os professores passaram a pedir para os alunos monitores estarem presentes em suas aulas, e estes fatos, também influenciaram no aumento da utilização do uso da sala de informática. A professora Clara conta que: “...o professor tava agendando mais, porque ele sabia que ia funcionar, que tinha alguém lá pra orientar...”.

5. 3. O PROFESSOR PREPARADO

Quando solicitados para descrever suas atividades enquanto atuaram como AMs nas salas de informática, os

entrevistados indicaram que o papel do professor era, às vezes, ambíguo. Em um dos casos, o professor está preparado para o uso da sala de informática, tendo uma aula preparada, que faça uso consciente do computador. Neste caso, os AM conseguem trabalhar como “suporte”, auxiliando com assuntos relacionados a hardware e software, deixando na mão do professor/a, a direção da aula e questões relacionadas ao conteúdo.

Maria descreve sua experiência favorita: onde o professor pediu para os alunos utilizarem um software de matemática. Neste caso, ela ajudou os alunos a aprenderem a utilizar o programa enquanto o professor estava presente. Assim, o professor está preparado para utilizar a sala de informática. Cabe ao AM assegurar que problemas como defeito em hardware e software não interfiram na aula em andamento. Além disso, o AM pode auxiliar os alunos a aprenderem como utilizar um software específico.

Este tipo de acontecimento caracteriza o trabalho do aluno monitor como assistente técnico. A professora Laura afirma que a presença do AM como assistente é essencial quando o grupo não tem bom conhecimento de informática, principalmente alunos mais novos. Sendo assim, o AM pode ajudar os alunos com o uso do software educativo e do sistema operacional para que o aluno possa se concentrar no assunto/conteúdo, ao invés de usar este tempo para aprender a usar o computador. A professora Sara considera esse papel essencial afirmando que o AM “tem que gostar de trabalhar com público”.

5.3.1. AUXÍLIOPEDAGÓGICO

Tanto professores quanto AMs indicam certo nível de cooperação no planejamento de aulas fazendo uso da sala de informática. Em alguns casos, o AM auxilia no preparo da aula, na procura por materiais ou conteúdo. A professora Rosemeire indica o exemplo de uma aula onde iria abordar “mitologia”. Ela pedia ao AM que verificasse alguns sítios na Internet: “…eles passavam pra mim eu dava uma olhada neh... via se era interessante ou não”. Neste caso, o AM que tem maior conhecimento técnico (ou tempo) ajuda no preparo da aula juntamente com o professor. Além do uso da Internet, as escolas públicas contam com um acervo de software de assuntos variados que podem ser usados pelo professor dentro da sala de informática. Kleber indica que alguns professores visitavam a sala de informática a procura de material que pudesse ser usado nas suas aulas. Neste caso, o AM pode servir como ajudante na escolha do material, já que o AM tem bom conhecimento do material disponível.

5.4. O PROFESSOR DESPREPARADO

Noutro tema identificado nas entrevistas, o professor chega despreparado à sala de informática fazendo uso inapropriado do espaço e dos recursos. Assim o AM acaba por ser “responsável” pelo processo de ensino-aprendizagem e o professor se resume a uma figura de autoridade. Os AMs acabam por controlar o ambiente de ensino, indo além do auxílio técnico. Neste caso, o AM

(5)

acaba provendo auxilio pedagógico, além de comportamento.

5.4.1. AUXÍLIO PEDAGÓGICO

Os relatos de três dos quatro monitores entrevistados apontam para diferentes graus de despreparo do professor. Kleber chama esse processo de um “refúgio para completar caderneta”. Maria explica que “às vezes eles explicavam uma matéria, às vezes eles não faziam nada, às vezes [os professores] iam tomar café na sala do lado”. Neste caso, na falta de um professor ativo dentro da sala de informática, o AM tem um papel direto no conteúdo da matéria. Kleber descreve o caso onde um dos professores instruiu os AMs a achar um site de folclore para os alunos visitarem enquanto corrigia “suas médias” na mesa. Mesmo gostando da experiência de comandar a aula, Kleber tem consciência que não tem preparo para este tipo de atividade: “só que eu tive experiência na informática, mas eles não me prepararam pra dar aula, eu dava aula pro professor…”. Maria indica que quando o professor vinha despreparado, ela disponibilizava CDs educacionais, ou deixava os computadores conectados em sites na Internet para uso dos alunos.

5.4.2. AUXÍLIO COMPORTAMENTO

Com a atenção do professor, controlar alunos na sala de informática já é complicado. Sem a atenção do professor, o problema cresce exponencialmente. Kleber indica que quando o professor vinha despreparado para a sala, o AM tinha que controlar “o que eles [os alunos] estavam fazendo… muitas vezes a gente dava bronca...saia até bate-boca...” Maria fala sobre um aspecto negativo sobre o relacionamento com outros alunos. Enquanto aluna da sétima série do ensino fundamental, ela tinha que monitorar a sala de informática com alunos mais velhos que ela, inclusive alunos da terceira série do ensino médio. Fazendo referência a sua estatura pequena ela diz: “meu tamanho não impõe muito respeito” e “eles pensavam que eu estava na quinta série [do ensino fundamental]”.

Estes episódios ocorreram quando não havia nenhum professor para administrar a aula, ou quem poderia administrar os conflitos entre o AM e os alunos. Mesmo com a presença do professor, Maria indica que grande parte do seu tempo era dedicada a controlar alunos mexendo nos botões do computador, entre outras atividades não relacionadas à aula: “... tinha que ficar não mexe nisso… ficava apertando ESC, tirando do programa, abrindo o negócio do CDROM… ai um moooonte saia… dava maior trabalho, tinha aluno que ficava abrindo e fechado o negócio do disquete, dava maior raiva… ficava cutucando no botão liga/desliga, porque os computadores não são novos, daí desligava…”.

5.5. CONFLITOS: A HIERARQUIA EO CONTROLE

Em princípio, o AM deve ser considerado uma pessoa responsável e de conhecimento técnico, que deve manter a sala de informática em pleno funcionamento. O

controle do uso da sala de informática deveria ficar a encargo da direção da escola. A análise indicou dois conceitos relacionados: conflitos sobre o controle da sala de informática, e conflitos relacionados a hierarquia entre alunos, professores e diretores.

Os entrevistados indicaram uma franca discordância quanto ao papel do AM em relação ao controle da sala de informática. Em alguns casos, os AMs agendavam o uso da sala tanto para professores como alunos. Em outros, controlavam acesso à sala tendo liberdade para abrir e fechar a sala de informática, com ou sem a presença de supervisores.

Maria afirmou que na sua escola, “se [o aluno] não [tivesse] muitas advertências,” ele/ela teria acesso à sala de informática, tendo apenas que solicitar a chave. Outras vezes, a sala de informática permanecia completamente fechado até mesmo para os AMs: “Houve um sábado que eu fui lá e entrei na sala de informática, o cara que estava dando aula disse: ‘Todos pra fora, eu não quero ninguém aqui...’ eu disse a ele, eu sou uma aluna monitora, e ele disse: ‘Não quero saber...pra fóra! Então eu fui...”. As declarações dos alunos indicam um desejo de organizar e otimizar o uso da sala de informática. Este desejo às vezes transgride a hierarquia da escola, como explica a professora Clara em alguns casos: “[os AM] não respeitaram muito a postura hierárquica da escola, então começaram eles ditar um pouco de normas, no uso do laboratório, que eu acho que não era da competência deles”. O coordenador pedagógico João explica: “É porque [os AMs] se sentem uma elite ali dentro do laboratório, e, por exemplo, eles usam muito usavam muito o napster, o kazaa [software para distribuição de arquivos], instalavam qualquer programa, inclusive programassem licença...”.

Os entrevistados indicam que a direção, talvez com boas intenções, deposita muita responsabilidade nas mãos de um AM passando total controle da sala para o aluno. Ao mesmo tempo, professores demonstram receio em aceitar que um AM, talvez bem mais preparado tecnicamente dite as normas de utilização da sala de informática.

6. R

ECOMENDAÇÕES

Os resultados desta pesquisa têm implicações que vão além do trabalho do aluno monitor. Gostaríamos de ressaltar três importantes recomendações, com relação à formação de professores, o papel dos formadores de AMs, e o papel da direção.

Primeiro, a importância da preparação dos professores para o ensino na sala de informática não pode ser subestimada. A falta de preparo afeta não somente a qualidade da aula, mas também o papel a ser assumido pelo AM. Professores despreparados transformam o auxílio técnico em um auxílio comportamento. Ao invés de prover assistência técnica, ou ensinar alunos a fazer um melhor uso do computador, o AM passa grande parte do tempo controlando o comportamento dos alunos. Considerando

(6)

a imensidade de opções de conteúdo disponíveis na Internet, ou o pleno fascínio com a máquina, é necessário que o professor prepare uma aula que engaje os alunos. Esta mesma falta de preparo faz com que o AM forneça apoio pedagógico, outra tarefa para a qual os AMs não estão preparados. Cabe ao professor desenvolver um plano de unidade que faça bom uso do computador. Recomenda-se que programas AM Recomenda-sejam feito em conjunto com programas de formação de professores.

Segundo, os depoimentos indicam que o papel assumido pelo AM no dia-a-dia da escola exige mais do que é ensinado durante a capacitação. Além do trabalho técnico, os alunos assumem vários outros papéis dentro da escola. O AM motiva os alunos e professores a fazerem uso da sala de informática. Isto ocorre voluntariamente, quando o AM faz propaganda da sala de informática ou de sua disponibilidade ou solicita a visita de professores à sala de informática. O mesmo efeito ocorre involuntariamente. Por sua mera presença, e por manter a sala aberta e em bom funcionamento, o AM é um agente motivador para alunos e professores fazerem uso da sala de informática, mesmo que este uso não seja estritamente educacional (curricular). A capacitação de AM deve prepará-los para essa dinâmica escolar. Apesar do papel técnico do AM, é necessário que aluno aprenda a lidar com situações potencialmente positivas (como o auxílio pedagógico com a presença do professor, pesquisa de conteúdo), e negativas (auxílio comportamento). Os resultados de nossa pesquisa indicam que estas situações ocorrem regularmente, e não nos beneficia ignorá-las. Estas habilidades podem ser ensinadas ou aprimoradas durante a capacitação, mas também in loco, talvez com o apoio da direção, professores, ou mesmo de AMs com mais experiência. Cabe aos formadores de AMs que tenham contato com a direção da escola para que regras de uso da sala de informática sejam organizadas e comunicadas aos professores, coordenadores e alunos. As regras devem definir o responsável pela sala de informática e um código de conduta para usuários.

Terceiro, percebe-se uma clara discordância quanto a quem deve ter controle sobre o agendamento e uso da sala de informática. Alguns AMs assumiram um papel excessivamente controlador, talvez pela falta de controle (tempo e organização) da própria direção da escola. Esta sensação de “controle” da sala de informática levou a desavenças entre AMs, professores e a direção. Os professores, por sua vez, consideravam o AM como um “ajudante”, que não deveria interferir no uso da sala. Fica clara a necessidade de manter o controle da sala de informática nas mãos da direção da escola, além de uma constante discussão entre alunos e professores para esclarecimento do papel do aluno monitor. Por mais que esta atividade fosse delegada a alunos, a hierarquia de escola lhes removeria o poder de controle, tendo em vista a contestação de um professor. Cabe então à direção, coordenador pedagógico, ou professor responsável o agendamento do uso da sala de informática. Em alguns

casos o AM teve grande controle sobre o acesso a sala de aula, com resultados positivos. No entanto, em todos os casos, conflitos de ocorreram. Como aluno e mais jovem, o AM exerce pouca autoridade para resolver conflitos entre professores. Recomenda-se que AMs sejam apresentados formalmente aos professores da escola, para que estes entendam claramente o papel do AM de acordo com a sua capacitação e saibam de sua presença na escola.

7. CONCLUSÃO

Este artigo teve como propósito iniciar a documentação acadêmica de um projeto educacional praticado em larga escala no Brasil, mas pouco avaliado. Como política educacional, a inclusão do AM em escolas públicas, prima facie, tem alto valor e baixo custo. Mas como as políticas relacionadas às tecnologias educacionais já demonstraram, existe grande distância entre intenção e gesto, entre o objetivo formal e a ação efetiva [2]. Hoje sabemos claramente que a inserção de computadores em escolas públicas não leva ao uso e muito menos ao uso sensato. Faz-se necessária a contínua avaliação de projetos educacionais, para que consigamos aprender e entender cada vez melhor como facilitar o uso destas tecnologias nas escolas públicas. O Esperamos que este projeto contribua com o interesse em avaliar políticas e práticas relacionadas à integração da tecnologia educacional.

R

EFERÊNCIAS

[1] Aluno Monitor. http://alunomonitor.futuro.usp.br, Abril 2007.

[2] P.G. Cysneiros. Programa nacional de informática na educação: Novas tecnologias, velhas estruturas. In R. G. Barreto (Ed.), Tecnologias educacionais e educação à distância: Avaliando políticas e práticas (pp. 192). Rio de Janeiro: Quartet.

[3] Microsoft. Microsoft Aluno Monitor. http:// www.alunomonitor.com.br, Jan 2005.

[4] M. Q. Patton. Qualitative research & evaluation methods (3rd ed.). Thousand Oaks, CA: Sage Publications. 2002.

[5] Projeto STEPE. http://www.ltia.fc.unesp.br/stepe, Julho 2005

[6] Ralston, A. T.; Salgado, L. M. A. (2005). Programa Aluno Monitor Microsoft: Formando Jovens para o Século XXI. In: Encuentro internacional sobre educación, capacitación profesional, tecnologias de la información e innovación educativa 6. Cidade do México.

[7] Secretaria de Educação Básica. (n.d.). Acompanhamento Técnico da Instalação do PINE - Projeto Internet Nas Escolas. http://www.seduc.ce.gov.br/ educacaodistancia.asp, Março 2005.

Referências

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