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Gestão de resíduos de construção e demolição no Município de Belo Horizonte: uma abordagem para a sustentabilidade / Construction and demolition waste management in the City of Belo Horizonte: an approach to sustainability

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761

Gestão de resíduos de construção e demolição no Município de Belo Horizonte: uma

abordagem para a sustentabilidade

Construction and demolition waste management in the City of Belo Horizonte: an

approach to sustainability

DOI:10.34117/bjdv6n11-576.

Recebimento dos originais: 19/10/2020 Aceitação para publicação: 26/11/2020

Ana Paula Ferreira Silva

Mestranda em Construção Civil pela Universidade Federal de Minas Gerais Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627, Bloco I, 3º andar, Departamento de Engenharia de Materiais e Construção, DEMC - Bairro Pampulha, CidadeBelo Horizonte – MG, Brasil.

Email: anappta@hotmail.com

Marys Lene Braga Almeida

Doutora em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas pela Universidade Federal de Minas Gerais

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627, Bloco I, 3º andar, Departamento de Engenharia de Materiais e Construção, DEMC - Bairro Pampulha, CidadeBelo Horizonte – MG, Brasil

Email: marys@demc.ufmg.br

Paula Bamberg

Doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais

Endereço: Avenida Presidente Antônio Carlos, 6627, Bloco I, 3º andar, Departamento de Engenharia de Materiais e Construção, DEMC - Bairro Pampulha, CidadeBelo Horizonte – MG, Brasil

Email: bamberg@demc.ufmg.br

RESUMO

O setor da construção civil contribui extensivamente para a degradação ambiental, quando se trata da geração de resíduos de construção e demolição. De fato, a quantidade expressiva desses materiais, gerados nos municípios, e a sua disposição inadequada são fatores que agravam o desequilíbrio do ecossistema. O objetivo deste trabalho consistiu em realizar uma análise qualitativa da geração dos resíduos de construção e demolição em obras de pequeno porte no município de Belo Horizonte. Para tanto, foi contemplado um levantamento do atual estado do gerenciamento de resíduos, visando compreender a viabilidade da utilização destes como insumos reciclados na construção civil. Adicionalmente, o trabalho contempla a análise do gerenciamento de resíduos de construção e demolição de algumas obras de pequeno porte e dos atuais locais de recebimento dos resíduos situados na cidade de Belo Horizonte, avaliando sua eficiência na gestão municipal. Detectou-se que há grande deficiência no que diz respeito à administração adequada dos resíduos gerados em obras de pequeno porte e, portanto, os resultados apontam a necessidade de aperfeiçoamento nos gerenciamentos dos resíduos de construção, além do estabelecimento de diretrizes para os princípios da redução, reutilização e reciclagem.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761

Palavras-chave: Resíduos de construção e demolição, Gerenciamento de resíduos, Gestão da

construção.

ABSTRACT

The civil construction sector contributes extensively to environmental degradation when it comes to generation of construction and demolition waste. In fact, the significant amount of these materials, produced in urban spaces, and their inadequate disposal are factors that aggravate the ecosystem imbalance. The purpose of this work was to carry out a qualitative analysis of the generation of construction and demolition waste in small-scale construction in the city of Belo Horizonte. To this end, a survey of current state of waste management was contemplated, in order to understand the viability of using recycled waste as supplies in civil construction. In addition, the work includes the analysis of construction waste management and demolition of some small-scale construction and current disposal facilities located in the city of Belo Horizonte, pondering its efficiency in municipal management. It has been detected a great deficiency regarding proper waste management generated within small-scale construction. Therefore, the results point to the need for improvements regarding the handling of said waste, in addition to the development of guidelines for the concepts of reduction, reuse and recycling.

Keywords: Construction and demolition waste, Waste management, Construction management.

1 INTRODUÇÃO

A construção civil é uma das principais motivadoras da economia de qualquer nação, contribuindo de forma significativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos países, porém é considerada como uma das maiores geradoras de resíduos do mundo, segundo MARQUES et

al. (2020). Nesse contexto, os resíduos de construção e demolição (RCDs) representam parte expressiva

dos resíduos sólidos gerados a partir dos sistemas municipais e atividades comerciais da sociedade moderna. Logo, o setor da construção civil contribui extensivamente para a degradação ambiental. A necessidade de produtos sustentáveis tem inspirado pesquisadores a avaliar novos produtos de baixo custo como substitutos dos materiais tradicionais (ALMEIDA et al., 2018).

A quantidade e composição dos RCDs varia conforme as regiões, dependendo de fatores como: i) legislação; ii) planejamento regional; iii) tecnologia da construção; iv) tecnologia da demolição; v) recursos do gerenciamento dos RCDs dos construtores (MENEGAKI et al., 2018). Essa elevada heterogeneidade dos RCDs, por estar relacionada com o tipo de construção, dificulta a caracterização em grande escala (TOWNSEND et al., 2019). Ainda assim, conforme SILVA et al. (2020), a maior porcentagem gerada de resíduos de construção e demolição está relacionada a concreto e alvenaria (40% a 84%). Na Tabela 1 está apresentada a classificação dos resíduos da construção, de acordo com a Resolução CONAMA 307:2002.

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Tabela 1: Classificação dos resíduos da construção Classificação dos Resíduos da Construção Classe A Resíduos reutilizáveis ou

recicláveis como agregados.

i) Resíduos de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem.

ii) Resíduos de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto. iii) Resíduos de processo de fabricação e/ou demolição e peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios, entre outros) produzidas nos canteiros de obras.

Classe B São os resíduos recicláveis para outras destinações.

Plásticos, papéis, papelões metais, vidros, madeiras, embalagens vazias de tintas ou gesso.

Classe C Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação.

Poliuretano.

Classe D Resíduos perigosos

oriundos do processo de construção.

Tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.

Fonte: Adaptado de Resolução CONAMA 307:2002.

SAEZ et al. (2019) citaram em seus estudos que o setor da construção na União Europeia é o mais elevado gerador de resíduos quando comparado com outros setores econômicos. No ano de 2014, as atividades de construção e demolição geraram mais de 850 milhões de toneladas de resíduos na Europa e mais de 530 milhões de toneladas nos Estados Unidos.

Diante disso, ao passo que o desenvolvimento econômico conduz ao ritmo acelerado de construção, ele projeta uma crise ambiental global devido ao desperdício dos recursos naturais de fontes não renováveis (SILVA et al., 2020). Para se ter um parâmetro, HUANG et al. (2018) mencionaram que os resíduos de construção e demolição representam 30% a 40% da quantidade total de resíduos gerados na China. Os RCDs são, em geral, descartados aleatoriamente em aterros sanitários e a taxa média de reciclagem dos resíduos no país corresponde a apenas 5%.

DUAN et al. (2020) citaram que, na China, foi gerado cerca de 1,8 bilhão de toneladas de RCDs em 2017, e essa quantidade é crescente a cada ano, tornando-se um significativo problema no país. As pesquisas avançaram para a reciclagem do concreto, pois, com equipamentos de trituração e peneiramento adequados, é possível produzir compostos reciclados com tamanhos de partículas

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 preestabelecidas para aplicações específicas. Ademais, no citado país há um grande desafio na adoção da economia circular da indústria dos RCDs, e a análise de gerenciamento dos resíduos é conduzida por meio do princípio 3R’s (redução, reutilização e reciclagem).

As principais barreiras para reduzir os resíduos na China incluem a falta de um padrão de projeto de construção, o baixo custo para o descarte e um planejamento urbano inadequado. Já as barreiras à reutilização dos RCDs incluem a inexistência de orientação para a coleta e a ineficácia na classificação de resíduos, além da ausência de conhecimento para a aplicabilidade dos resíduos. Quanto à reciclagem de RCDs, os principais desafios são identificados como sistema de gestão ineficaz, tecnologia de reciclagem pouco avançada e mercado subdesenvolvido para os produtos reciclados. Há busca por parte dos pesquisadores de aprimorar a situação atual com base no princípio 3R’s, incluindo propostas como a concepção de um modelo de economia circular produtivo. Isso seria feito reforçando o controle da fonte dos RCDs, adotando tecnologias e modelos de mercado inovadores e implementando incentivos econômicos mais direcionados (HUANG et al. 2018).

Globalmente, estima-se que cerca de 35% das quantidades geradas de RCDs são direcionadas aos aterros, sem qualquer tratamento adicional, embora haja esforços para reciclar e reutilizar os resíduos (MENEGAKI et al., 2018). Outro exemplo importante é apontado por YEHEYIS et al. (2013), para quem os RCDs gerados pelas construtoras canadenses correspondem a 27% do total de resíduos sólidos urbanos dispostos em aterros sanitários. No entanto, mais de 75% da geração de resíduos da construção apresentam valores agregados e, portanto, deveriam ser reduzidos, reutilizados e reciclados (princípio dos 3R’s).

Nesse sentido, fica evidente que a gestão sustentável dos resíduos da RCDs torna-se precípua para proteger a saúde pública e os ecossistemas naturais. Os pesquisadores, YEHEYIS et al. 2013, buscaram alternativas de maximizar os 3R’s e minimizar o descarte de resíduos de construção por meio da implementação de uma estratégia sustentável e abrangente ao longo do ciclo de vida da obra. No caso, o índice de sustentabilidade de resíduos de construção e demolição desenvolvido pode ser utilizado para tomar decisões relacionadas à seleção de material, classificação, reciclagem/reutilização e tratamento ou opções de minimização dos RCDs.

BLAISI (2019), por exemplo, relatou que, na última década, pesquisadores têm buscado a viabilidade e gestão eficiente de resíduos de construção e demolição. As pesquisas contemplaram: i) a percepção da gestão de RCDs; ii) os regulamentos e os sistemas de gestão de resíduos; iii) as tecnologias sustentáveis de construção; iv) o desenvolvimento em gestão de resíduos. Vários países como Reino Unido, Alemanha e Espanha têm uma legislação sistemática, levando em conta que os

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 empreendedores são obrigados a seguir protocolos e a impor ações necessárias para gerar menos desperdício de resíduos de construção e demolição.

Em relação à construção civil no Brasil, é relevante que esta passe, como um todo, por revisão no modus operandi para que a lógica do desperdício dos materiais de construção, ao longo das obras, seja reduzida. Todavia, isso é uma visão macro da sustentabilidade do setor, uma vez que a maior parte dos materiais usados, cerâmicas, tijolos, telhas, cimento, cal, gesso são oriundos de matérias-primas naturais ou foram adquiridos pelo processamento desses produtos (BESSA et al., 2019).

A legislação brasileira aborda a gestão e o gerenciamento dos resíduos e define a política dos 3R’s como princípio para auxílio no enfrentamento das dificuldades advindas do alto índice de descarte de materiais. Dentre as três técnicas sugeridas pelas normativas, a reciclagem se difere por ser alternativa preferencialmente pós-descarte, que se resume em transformar os resíduos em novos recursos, trazendo-os de volta à cadeia produtiva (PIMENTA et al., 2017).

Atente-se para que estatísticas recentes indicam que a demanda global por agregados de construção deverá aumentar de 45 bilhões de toneladas, em 2017, para 66 bilhões de toneladas até 2025 (SILVA et al., 2019). Nesse contexto, tendo em vista a necessidade, cada vez maior, de economia circular na indústria da construção, pesquisadores investigam a utilização de agregados reciclados, produzidos a partir de resíduos de construção e demolição em novos materiais de construção. SILVA

et al. (2019) mencionam que, apesar dos resultados positivos e do amplo know-how adquirido ao longo

de vários anos em estudos exploratórios, há uma subutilização considerável de agregados reciclados, principalmente devido à falta de confiança no material por parte dos empreiteiros e designers.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o panorama da situação dos resíduos sólidos no Brasil, do ano de 2017, um percentual em torno de 62% de todo o resíduo sólido gerado no Brasil teve como origem as atividades de construção e de demolição, o que equivale a, aproximadamente, 45 milhões de toneladas de RCDs gerados por ano, totalizando 71,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Os dados exibem um total de 123.000 t/dia de RCDs, sendo cerca de 64.000 t/dia coletadas apenas na região Sudeste (51,75%). BESSA et al. (2019) mencionam que a quantidade real de resíduos gerados pode ser ainda maior, visto que esses valores se referem apenas aos materiais coletados legalmente ou destinados aos coletores públicos. Na oportunidade, os pesquisadores relatam que, em Belo Horizonte, aproximadamente 230 toneladas de resíduos são coletadas por dia.

Importa notar que o município de Belo Horizonte já foi considerado referência nacional na gestão e gerenciamento de resíduos da construção civil, devido à sua ação pioneira no país com o

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 Programa de Reciclagem de Resíduos da Construção Civil, no início dos anos de 1990. A experiência de Belo Horizonte na gestão dos RCDs também foi utilizada como referência para a elaboração da Resolução CONAMA nº 307/2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil em todo o território nacional (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2019). Conforme SANTOS et al. (2019), a gestão de resíduos da capital mineira abrange os serviços públicos de varrição e capina, a coleta de resíduos sólidos (residenciais e especiais, incluindo os RCDs), o tratamento e a disposição final destes. Além disso, os resíduos da construção civil e resíduos volumosos gerados nas obras são de responsabilidades do gerador, desde a sua origem até a destinação final, conforme determinações constantes nas leis e normas vigentes e no Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil da obra (SUDECAP, 2019).

Atualmente, Belo Horizonte enfrenta grandes desafios em relação à gestão dos RCDs. Nesse cenário, o objetivo principal deste trabalho consistiu em realizar uma análise qualitativa da geração dos resíduos de construção e demolição em obras de pequeno porte no município. Para tanto, foi contemplado um levantamento do atual estado do gerenciamento, tendo em vista compreender a viabilidade do uso dos resíduos de construção e demolição reciclados como insumos na construção civil.

2 METODOLOGIA

Visando analisar a atual gestão de RCDs em obras de pequeno porte na cidade de Belo Horizonte, foi realizada pesquisa caracterizada como qualitativa exploratória e foram utilizados como instrumentos de coleta de dados a análise documental, visitas técnicas e entrevistas.

Foram levantados dados relativos à aplicação dos princípios e instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Resolução nº 307:2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA e Código de Posturas do Município de Belo Horizonte, entre outras normas e legislações pertinentes às questões dos RCDs.

No Departamento de Políticas Sociais e Mobilização da Limpeza Urbana do município foram identificadas as principais áreas de descarte de RCDs onde são destinados os resíduos das obras. Nestas áreas foram realizadas visitas técnicas e registro fotográfico.

Para análise das particularidades de manejo e gestão dos resíduos em estudo no município, inicialmente, foram identificados os agentes envolvidos na coleta, transporte e destinação dos resíduos da construção. Foram ainda investigadas informações sobre os resíduos: i) nas construtoras, ii) nos transportadores, iii) nas áreas de destinação (aterros), onde são descartados os resíduos e iv) órgãos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 públicos, responsáveis pela gestão e fiscalização. Foram também coletados dados por meio de entrevistas no Sindicato da Indústria da Construção (SINDUSCON) e no Sindicato das Empresas Locadoras de Equipamentos, Máquinas, Ferramentas e Serviços Afins do Estado de Minas Gerais (SINDILEQ).

Foram realizadas entrevistas com construtoras, responsáveis por obras de pequeno porte e aterros de resíduos classe A, no município de Santa Luzia, na BR 381 e na Estação de Reciclagem de Entulho, localizada na BR 040. Dos agentes públicos, foram entrevistados os responsáveis pela Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Obras e Secretaria de Gestão e Planejamento de Limpeza Urbana – SLU para o levantamento de dados sobre o atual gerenciamento de RCDs em Belo Horizonte.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 PROJETOS IMPLEMENTADOS NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE

O município de Belo Horizonte sobressai como precursor no cenário nacional pela implantação de um sistema de gestão de resíduos sólidos e no processo de reciclagem de resíduos de construção e demolição. Houve vários projetos relacionados ao gerenciamento de RCDs. Em 2003, o Sinduscom implantou o “Brechó da Construção” com a proposta de auxiliar as famílias de baixa renda. As construtoras contribuiam com o estoque de material da obra não utilizado, na tentativa de reduzir o desperdício, além de dar condições às moradias.

O projeto Ecobloco, financiado pelo Ministério de Desenvolvimento e Prefeitura de Belo Horizonte, foi implantado em 2003 pela Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social que segue os princípios preconizados pela economia solidária e tem como público alvo a população de rua do município.

O projeto Vila Viva, fundado em 2005, correspondeu a uma política de inclusão social com ações integradas de urbanização, desenvolvimento social e regularização fundiária. Suas ações foram planejadas pelo Plano Global Específico, instrumento de diagnóstico local e definição de intervenções. O projeto iniciou-se no aglomerado da Serra e contemplou obras de saneamento, remoção de famílias, construção de unidades habitacionais, erradicação de áreas de risco, reestruturação do sistema viário, urbanização de becos, além de implantação de parques e equipamentos para a prática de esportes e lazer.

A bolsa de resíduos, fundada em 2009, negociava materiais que seriam descartados, agregando valor aos mesmos e evitando gastos com disposição final em aterros. O projeto permaneceu ativo até início de 2019, porém, encerrou-se devido aos elevados custos de manutenção.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 Apesar de Belo Horizonte ter sido uma cidade de referência nacional na gestão pública de resíduos da construção civil devido a sua ação pioneira no país, o cenário atual encontra-se bem diferente, devido a: i) falta de fiscalização do gerenciamento de resíduos nas obras, principalmente em empreendimentos de pequeno porte que deveria ter a apresentação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil como exigência para a liberação da sua construção, ii) falta de recursos de fiscais com a função de autuar e combater as deposições irregulares, iii) falta de informação sobre a quantidade de resíduo gerada nas obras de pequeno porte, iv) ausência de fiscalização no transporte dos caçambeiros, v) falta de controle na segregação dos resíduos. A indisponibilidade de espaço para armazenamento e processamento, bem como o custo do transporte em virtude da pequena quantidade, inviabilizam a prática de um processo seletivo. Em decorrência, todos os tipos de resíduos são misturados na mesma caçamba. Existem, aproximadamente, 200 empresas de caçambas no município de Belo Horizonte e apenas 30 são associadas ao Sindicato de Locações de Equipamentos.

3.2 A GESTÃO DE RCDs EM OBRAS DE PEQUENO PORTE EM BELO HORIZONTE

Durante as visitas em obras de pequeno porte, detectou-se que não havia segregação adequada dos resíduos em algumas construtoras, pois estas julgavam não ser vantajosa a separação, uma vez que era necessário atingir uma determinada quantidade de um resíduo específico para contratação de uma caçamba estacionária exclusiva para ele. E ainda, não haveria espaço na obra para que os RCDs fossem segregados, com as devidas instalações de baias. Nas Figuras 1 (a) e (b) estão apresentadas imagens de resíduos de uma construtora entrevistada. É notável a falta de logística e, consequentemente, o desperdício dos materiais. Em geral, as construtoras de pequeno porte não estabelecem o plano de gerenciamento de resíduos da construção civil. Os RCDs apresentam composições químicas extremamente heterogêneas, pois estão relacionados com o tipo de construção civil.

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Figura 1: Resíduos no canteiro de obras (a); Resíduos na caçamba (b)

Fonte: Arquivo pessoal.

Por outro lado, algumas construtoras informaram que realizam medidas preventivas à geração de resíduos, como reaproveitamento de madeira, que pode ser constatado pela Figura 2.

Figura 2: Madeira armazenada em obra de construtora de pequeno porte para reaproveitamento.

Fonte: Arquivo pessoal.

3.3 ÁREAS DE DESCARTE DOS RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Nas entrevistas com os transportadores foi possível averiguar que eles possuem dificuldade de encontrar locais licenciados para descarte dos resíduos de construção no município de Belo Horizonte.

Há apenas duas estações de reciclagem no município, localizadas na BR040 (Figura 3) e na região da Pampulha, com capacidade de recebimento de 200 m³/dia e 100 m³/dia, respectivamente. Os materiais produzidos são bica corrida, brita 0, brita 1, areia e rachão. As estações de reciclagem da

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 cidade mineira receberam 104.357,20 toneladas de entulho, entre os períodos de setembro de 2011 a agosto de 2012 (BRANDÃO, 2013). Em contrapartida, em 2019 a quantidade de RCDs recebida foi de 190.964,90 toneladas. Na Figura 3 é possível observar imagens da área de deposição e triagem dos resíduos Classe A recebidos na BR-040 (a) e do britador utilizado para beneficiamento (b). A maior parte dos RCDs na usina de reciclagem do município é utilizado como sub-base para execução de pavimentações.

Os locais economicamente acessíveis para o descarte dos resíduos concentram-se nos municípios de Santa Luzia, Sabará e Ibirité. As fiscalizações dessas deposições são realizadas pela Subsecretaria de Fiscalização (SUFIS).

Figura 3: Área de deposição e triagem dos resíduos recebidos na BR-040 (a), britador utilizado para beneficiamento dos resíduos classe A (b).

.] Fonte: Arquivo pessoal

3.4 DESAFIOS DAS CONSTRUTORAS E ÓRGÃOS PÚBLICOS NO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS

No município de Belo Horizonte, apresentam-se duas principais classes geradoras de resíduos de construção e demolição, os de obras de grande porte, que segregam os resíduos para reutilização no próprio canteiro ou os disponibilizam para empresas regulares de coleta e os de pequenas obras, descartados em caçambas, e muitas vezes lançados irregularmente em vias públicas.

Os pequenos construtores enfrentam desafios com o processo inadequado de segregação dos resíduos, pois não há local nas obras já que necessitam de espaço para armazenamento de materiais.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 11, p.92205-92217., nov. 2020. ISSN 2525-8761 Além disso, há falta de incentivo para viabilizar o gerenciamento de resíduos por parte dos órgãos públicos. Com a existência de empresas clandestinas que realizam destinação irregular dos RCDs, o preço de mercado para a coleta e transporte é baixo. Por outro lado, os custos para o descarte correto dos resíduos são extremamente altos.

Em contrapartida, as dificuldades apresentadas pelos órgãos públicos podem-se citar a negligência dos geradores, deficiências na fiscalização que conta com poucos funcionários e a falta de segregação na fonte.

4 CONCLUSÃO

As obras de pequeno porte geram quantidade reduzida de resíduos relativamente quando comparadas às grandes obras. Entretanto, o montante dos resíduos gerados pelas obras de pequeno porte impacta de forma expressiva a quantidade de RCDs em deposições.

Com a análise realizada da geração de resíduos de construção e demolição em obras de pequeno porte no município de Belo Horizonte, verificou-se que não existe planejamento do gerenciamento dos RCDs, não é exigido destas o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e não há fiscalização do gerenciamento destes resíduos por órgãos públicos.

Os resíduos gerados são depositados em caçambas sem prévia segregação e embora haja Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPVs) e Estações de Reciclagem de Entulho (ERE) de resíduos da construção civil na cidade de Belo Horizonte, ainda foi possível constatar diversos locais de disposição de RCDs irregulares. Há elevada deficiência no que diz respeito às medidas relacionadas à não-geração, à minimização, à disposição e ao reaproveitamento dos RCDs gerados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Departamento de Engenharia de Materiais e Construção da Universidade Federal de Minas Gerais.

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Figura 2: Madeira armazenada em obra de construtora de pequeno porte para reaproveitamento
Figura 3: Área de deposição e triagem dos resíduos recebidos na BR-040 (a), britador utilizado para beneficiamento dos  resíduos classe A (b)

Referências

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