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O ensino da Epidemiologia nos cursos de licenciatura em Enfermagem da Região de Lisboa e Vale do Tejo

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Inês Fronteira Gonçalves é enfermeira, mestre em Saúde Pública e doutoranda em Saúde Internacional na Especialidade de Siste-mas de Saúde. Assistente convidada na Unidade de Ensino e Investigação de Sistemas de Saúde do Instituto de Higiene e Medi-cina Tropical. Membro da Associação Portuguesa de Epidemiolo-gia.

Paulo Ferrinho é médico, doutorado em saúde pública, com agre-gação em sistemas de saúde, é professor associado de Saúde Inter-nacional no Instituto de Higiene e Medicina Tropical e Epidemio-logia na Faculdade de Medicina de Lisboa. É presidente da direcção da Associação Portuguesa de Epidemiologia.

Submetido à apreciação: 7 de Maio de 2007. Aceite para publicação: 13 de Novembro de 2007.

O ensino da Epidemiologia nos cursos

de licenciatura em Enfermagem

da Região de Lisboa e Vale do Tejo

INÊS FRONTEIRA GONÇALVES PAULO FERRINHO

A Epidemiologia ultrapassou as fronteiras da quantificação da doença para se expandir para todas as áreas da saúde (medição do peso da doença, identificação das causas, quantificação da efectividade das diferentes intervenções, avaliação da eficiência em relação aos recursos necessários, implementação das intervenções e monitorização das activi-dades).

É aos profissionais de saúde que cabe a responsabilidade de colher dados epidemiológicos e contribuir para a formação de um corpo de saberes em saúde que permita decidir, com base na evidência, acerca de tratamentos, intervenções e políticas de saúde. Para que tal aconteça é fundamental que a Epidemiologia faça parte dos curricula dos cursos rela-cionados com a saúde, nomeadamente do Curso de Licen-ciatura em Enfermagem (CLE).

O presente estudo observacional, descritivo, de base documental, teve como objectivo descrever o ensino da

Epidemiologia nos CLE ministrados nas instituições de ensino público e privado na Região de Lisboa e Vale do Tejo, no ano lectivo de 2004/2005. Assim, foram analisados os planos dos cursos quanto à presença da Epidemiologia como unidade curricular. As instituições com um plano de estudos do CLE que contemplasse uma unidade curricular de Epidemiologia foram contactadas, primeiro telefonica-mente e, posteriortelefonica-mente, por fax ou e-mail, com o objectivo de fornecerem o programa da unidade curricular. As ins-tituições de ensino com um CLE que não incluía no plano de estudos a unidade curricular Epidemiologia foram contactadas telefonicamente com o intuito de apurar se, não contemplando esta unidade curricular, os seus conteú-dos estariam, ou não, incluíconteú-dos noutras unidades curricula-res. Os programas, assim como as respostas à entrevista telefónica, foram submetidos a análise de conteúdo. Foi ainda contabilizado o número de horas de aulas teóricas e teórico-práticas tendo-se para tal recorrido a medidas de tendência central.

Na região de Lisboa e Vale do Tejo existiam 13 instituições de ensino com o CLE (7 públicas e 6 privadas). Cinco tinham, no plano de estudos, uma unidade curricular com a denominação de Epidemiologia e 1 com a denominação Epidemiologia e Avaliação Clínica. Os seus conteúdos são descritos. Os CLE das restantes instituições não tinham nenhuma unidade curricular, no plano de curso, com a denominação Epidemiologia ou similar. Das 5 instituições com CLE, sem unidade curricular de Epidemiologia, e contactadas com sucesso, apenas uma não tinha os conteú-dos de Epidemiologia incluíconteú-dos noutra ou noutras unidades curriculares do plano de estudos

A carga horária das unidades curriculares variava con-soante o estabelecimento de ensino. Os programas de

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ensino também variam entre as escolas que os ofereciam. A Epidemiologia parece não ser considerada como uma disciplina essencial para a formação pré-graduada dos enfermeiros visto que menos de metade dos cursos de licen-ciatura a contemplam nos seus planos de estudos, no entanto os seus conteúdos estão contemplados de uma forma diversa em quase todos os programas de ensino. Os autores recomendam que a Epidemiologia deve formal-mente, como disciplina essencial, integrar os curricula de todos os CLE mas que deveria ser obtido consenso sobre quando e sobre que forma esta deve ser ministrada, recomendando ainda uma aproximação entre as diferentes escolas e a Ordem dos Enfermeiros, sobre um perfil básico de competências em Epidemiologia para os enfermeiros recém-licenciados.

Palavras-chave: epidemiologia; ensino; enfermagem; for-mação; profissionais de saúde.

1. Introdução

Quando Hipócrates, há mais de dois mil anos, afir-mou existirem factores ambientais que podiam influenciar a ocorrência de doença, estava longe de imaginar que tinha lançado as bases da Epidemiolo-gia. No entanto, foi apenas no século XIX que esta ciência assumiu uma maior importância, altura em que a doença começou a ser medida em larga escala (Saracci, 2003).

«Hoje, a Epidemiologia, definida como «estudo da distribuição e determinantes de estados relacionados com a saúde ou eventos em populações específicas e a aplicação deste estudo ao controlo dos problemas de saúde.» (Last, 1995), ultrapassou as fronteiras da quantificação da doença para se expandir para todas as áreas da saúde desde a medição do peso da doença, à identificação das causas, quantificação da efectividade das diferentes intervenções, avaliação da eficiência (em relação aos recursos necessários), implementação das intervenções e monitorização das actividades (Beaglehole, Bonita e Kjellström, 1993; Bowling, 1997).

É aos profissionais de saúde que cabe, frequente-mente, a responsabilidade de colher dados epidemio-lógicos e contribuir para a formação de um corpo de saberes em saúde que permita decidir, com base na evidência, acerca de tratamentos, intervenções e polí-ticas de saúde. Para que tal aconteça é fundamental que a Epidemiologia faça parte dos curricula dos cursos relacionados com a saúde. O Curso de Licen-ciatura em Enfermagem (CLE) não deve ser excep-ção.

Os enfermeiros trabalham numa série de instituições, hospitalares ou comunitárias, com clientes de todas as idades, prestando uma plêiade de cuidados. Ao

planearem os cuidados, ao estabelecerem planos de acção para os serviços e ao procederem à sua avalia-ção, ao colaborarem na elaboração de programas, os enfermeiros terão, necessariamente, de utilizar méto-dos epidemiológicos: «... a epidemiologia fornece a linha base de informação para identificar as necessi-dades e os problemas, formular as estratégias apro-priadas para o estudo dos problemas, estabelecer prioridades no desenvolvimento de um plano de cui-dados e avaliar a eficácia dos cuicui-dados.» (Stanhope e Lancaster, 1999).

O presente estudo observacional, descritivo, de base documental (Last, 1995), teve como objectivo des-crever o ensino da Epidemiologia nos CLE ministra-dos nas instituições de ensino público e privado na Região de Lisboa e Vale do Tejo, no ano lectivo de 2004/2005. Não se conhecem estudos nacionais e internacionais que tenham abordado esta temática.

2. Material e métodos

Em Setembro de 2004 pesquisou-se a base de dados de instituições de ensino do Ministério da Ciência e Ensino Superior para elaborar uma listagem dos esta-belecimentos, públicos e privados, que, no ano lecti-vo de 2004/2005, iriam leccionar o Curso de Licen-ciatura em Enfermagem e que pertencessem à região de Lisboa e Vale do Tejo. Após a obtenção da lista de instituições procedeu-se à pesquisa, na base de dados Legix1 dos respectivos Planos de Curso2.

Posteriormente, analisaram-se os planos de curso quanto à presença da Epidemiologia como unidade curricular.

As instituições com um plano de estudos do CLE que contemplasse uma unidade curricular de Epidemiolo-gia foram contactadas, primeiro telefonicamente e, posteriormente, por fax ou e-mail, com o objectivo de fornecerem o programa da unidade curricular. As instituições de ensino com um CLE que não incluía no plano de estudos a unidade curricular «Epidemiologia» foram contactadas telefonicamente com o intuito de apurar se, não contemplando esta unidade curricular, os seus conteúdos estariam, ou não, incluídos noutras unidades curriculares. Para tal foi utilizado um guião de entrevista.

1 Base de dados electrónica que compreende todas as leis e juris-prudência portuguesa.

2 Todos os cursos do ensino superior politécnico ou superior têm de ter o plano de curso aprovado e publicado na I.a Série B do

Diário da República. O plano do curso compreende todas as uni-dades curriculares do mesmo, distribuição por ano, tipo (anual ou semestral), escolaridade em horas totais (aulas teóricas, teórico-práticas e teórico-práticas, seminários e estágios).

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Foram feitos pelo menos quatro contactos telefónicos com todas as instituições de ensino cujo CLE não tinha a unidade curricular de Epidemiologia. Em apenas duas das sete instituições contactadas não foi possível obter qualquer informação dado os coorde-nadores do CLE estarem ausentes e não ter sido indi-cada outra pessoa que pudesse responder às questões colocadas. Nas restantes cinco instituições contactadas as respostas foram dadas por um docente de enfermagem.

Os programas, assim como as respostas à entrevista telefónica, foram submetidos a análise de conteúdo (o que permitiu descrever de forma objectiva o con-teúdo dos mesmos) e versou sobre as ocorrências permitindo inventariar as principais linhas programá-ticas (Vala, 1999). O sistema de categorias foi cons-truído a posteriori dada a inexistência de um pressu-posto teórico que orientasse a construção de categorias (Ghiglione e Matalon, 1993). A unidade de enumeração foi a palavra.

Foi ainda contabilizado o número de horas de aulas teóricas e teórico-práticas tendo-se recorrido a medi-das de tendência central.

Todos os intervenientes foram informados acerca dos objectivos e linhas gerais do estudo. Garantiu-se o anonimato da instituição e dos respondentes, a liber-dade de participação destes e a possibililiber-dade de abandonar o estudo a qualquer momento do mesmo.

3. Resultados

3.1. Instituições investigadas

Na região de Lisboa e Vale do Tejo existiam 13 ins-tituições de ensino (sete Escolas Superiores de Enfer-magem, cinco Escolas Superiores de Saúde e uma Escola do Serviço de Saúde Militar) com o CLE. Destas sete eram públicas e seis privadas.

Das 13 instituições com o CLE, cinco (dois do ensino privado e três do público) tinham, no plano de estu-dos, uma unidade curricular com a denominação de Epidemiologia e um (do ensino privado) com a deno-minação Epidemiologia e Avaliação Clínica. Os CLE das restantes instituições não tinham nenhuma uni-dade curricular, no plano de curso, com a denomina-ção Epidemiologia ou similar.

Em todos os CLE com Epidemiologia a unidade curricular era semestral. Em três dos CLE a uni-dade curricular Epidemiologia era leccionada no segundo ano, em dois no primeiro ano e numa no quarto ano.

Em dois dos casos todos os conteúdos de Epidemio-logia eram leccionados no primeiro ano. Num dos CLE os conteúdos eram leccionados no primeiro (Epidemiologia descritiva) e no quarto ano (Epide-miologia analítica) e noutro eram leccionados ao longo dos quatro anos do CLE (Quadro I).

Quadro I

Distribuição dos conteúdos de Epidemiologia por outras unidades curriculares dos CLE

Os conteúdos de Epidemiologia estão incluídos

Escola em alguma unidade curricular do plano Unidade curricular Ano Tipo Ensino

de estudos do CLE?

7 Sim Epidemiologia descritiva Enfermagem de Saúde Mental 1 Anual Pub Epidemiologia analítica e Comunitária I

8 Sim Epidemiologia descritiva Fundamentos de Enfermagem 1 Anual Pub1

Epidemiologia analítica Investigação II 4 Anual

9 Não – – – – Pub

10 Sim Epidemiologia descritiva Ciências Biomédicas I e Enfermagem I2 1 Anual Pub

Epidemiologia analítica 1 Anual

11 Sim Os conteúdos de Epidemiologia estão incluídos nos módulos de Saúde Priv3 Comunitária que são leccionados ao longo do curso

1Público.

2Nesta unidade curricular desenvolve-se o trabalho prático de Epidemiologia. 3Privado.

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3.2. Carga horária

A carga horária das unidades curriculares variava consoante o estabelecimento de ensino. Na maioria dos CLE (N = 4) a carga horária da unidade curri-cular era 30 horas, noutro tinha 35 horas e noutro 40 horas. Dos seis CLE com a unidade curricular Epidemiologia apenas um (do ensino privado) não tinha aulas teórico-práticas. Em dois dos CLE o

número de aulas teóricas era superior ao das teó-rico-práticas. Nos restantes a distribuição era equi-tativa (Figura 1).

Ao comparar o número total de horas teóricas e teó-rico-práticas da unidade curricular Epidemiologia dos CLE das instituições privadas e públicas consta-tou-se que, quer numas quer noutras, o número de aulas teóricas era superior ao de teórico-práticas (Figuras 2 e 3).

Figura 1

Carga horária total das unidades curriculares Epidemiologia e distribuição por aulas teóricas e teórico-práticas (em horas)

Figura 2

Distribuição da carga horária por aulas teóricas e teórico-práticas e por estabelecimento de ensino privado e total de carga horária teórica e teórico-prática no ensino privado

Carga horária (horas)

45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 E1 E2 E3 E4 E5 E6 Escolas

Aulas teóricas Aulas teórico-práticas Total

Aulas teóricas Aulas teórico-práticas Carga horária (horas)

Escolas do ensino privado

Total E3 E2 E1 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 20 80 10 25 15 15 0 40

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Das seis instituições com a unidade curricular de Epi-demiologia no CLE, 5 disponibilizaram os programas para poderem ser analisados. Apenas uma das insti-tuições contactadas não forneceu o programa dado a coordenadora do curso de enfermagem estar ausente. Das cinco instituições que forneceram o programa da unidade curricular de Epidemiologia, três eram do ensino público e duas do ensino privado.

3.3. Programas

Os programas fornecidos variaram na sua forma, oscilando entre aqueles apenas com objectivo e gran-des linhas programáticas (N = 1), com discriminação exaustiva dos conteúdos programáticos por aula (N = 1), descrição pormenorizada das grandes linhas programáticas e objectivos (N = 1), descrição porme-norizada das grandes linhas programáticas e caracte-rização da disciplina, objectivos, estratégias pedagó-gicas e descrição pormenorizada dos conteúdos programáticos (N = 1).

Três dos programas analisados faziam referência aos objectivos da unidade curricular. Em dois deles os objectivos eram mais gerais:

«Desenvolver competências que permitam anali-sar problemas de saúde dos indivíduos, famílias e comunidades numa perspectiva epidemiológica.» «Analisar diversos problemas de saúde numa perspectiva epidemiológica, percebendo as vanta-gens decorrentes da análise da distribuição das

doenças nas pessoas, grupos e comunidade, assim como da detecção precoce do fenómeno doença, e factores de risco associados à mesma, perspec-tivando intervenções que minimizem impactos negativos na população resultantes dos referidos factores de risco; Analisar as diversas alterações na população, e suas repercussões no envelheci-mento da população, assim como a conexão com aspectos relativos às diversas doenças, políticas de saúde e planeamento familiar.»

No outro, os objectivos estavam operacionalizados e diziam respeito a competências a adquirir pelos alu-nos como a compreensão da evolução da Epidemio-logia, história natural da doença e níveis de preven-ção, análise dos conceitos epidemiológicos e identificação dos níveis de saúde das populações:

«1. Compreender a evolução da Epidemiologia, história natural da doença e níveis de prevenção; 2. Analisar os conceitos epidemiológicos e o âmbito da Epidemiologia e sua importância para avaliação da saúde da comunidade, sabendo utili-zar os meios para avaliar o nível de saúde colec-tiva; 3. Conhecer a estrutura epidemiológica e mecanismos de transmissão das doenças e os meios de prevenção das mesmas; 4. Compreender a importância da Epidemiologia descritiva e ana-lítica no desenvolvimento, controlo e tratamento de doenças; 5. Saber identificar o nível de saúde das populações através da determinação das taxas.»

Figura 3

Distribuição da carga horária por aulas teóricas e teórico-práticas e por estabelecimento de ensino público e total de carga horária teórica e teórico-prática no ensino público

Total E3 E2 E1

Aulas teóricas Aulas teórico-práticas Carga horária (horas)

0 10 20 30 40 50 60

Escolas do ensino público 10 20

15 15 40 50 15 15

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Através da análise dos conteúdos programáticos da unidade curricular Epidemiologia dos CLE das insti-tuições estudadas que forneceram os respectivos pro-gramas, constatou-se que estes estavam divididos em 10 categorias: história da Epidemiologia, conceitos epidemiológicos, história natural da doença/níveis de prevenção, modelos de saúde/doença, medidas de saúde colectiva/ indicadores de saúde, Epidemiologia descritiva, Epidemiologia analítica, informação em Epidemiologia/ fontes de dados, método epidemioló-gico e outros.

Todos os programas analisados abordavam a história da Epidemiologia (N = 5) focando aspectos como a evolução histórica desta ciência (N = 5), sua defini-ção (N = 4) e os estudos clássicos (James Lind e o escoburto, P. L. Panum e o sarampo, John Snow e a cólera) (N = 1).

Também a Epidemiologia descritiva (N = 5) e a ana-lítica (N = 5) faziam parte de todos os programas. Na primeira eram abordados temas como as epidemias, pandemias e endemias (N = 1), as dimensões tempo, pessoas e lugar (N = 2) e os tipos de estudos (N = 1). Um dos programas referia apenas a Epidemiologia descritiva não especificando mais. No que concerne à Epidemiologia analítica eram focados conteúdos como associação e causalidade (N = 2), tipos de estu-dos (N = 5) e medidas de efeito (N = 2). Um estu-dos programas referia apenas a Epidemiologia analítica não discriminando mais.

Quatro dos programas analisados abordavam os con-ceitos epidemiológicos como a saúde e a doença (N = 2), causalidade múltipla (N = 1), rastreio (N = 2), aspectos epidemiológicos das doenças infec-ciosas (N = 2) e validade dos testes (N = 1). A história natural da doença e os níveis de prevenção eram abordados em quatro dos cinco programas ana-lisados.

As medidas de saúde colectiva/indicadores de saúde faziam parte dos conteúdos programáticos de quatro das unidades curriculares de Epidemiologia. Aqui eram abordados temas como as medidas de mortali-dade e morbilimortali-dade, taxas, razões, proporções, inci-dência e prevalência. Num dos programas eram abor-dados os aspectos demográficos, noutros indicadores como a esperança de vida e os anos potenciais de vida perdida.

Os modelos de saúde/doença faziam parte de três dos programas estudados. Em dois era abordada a causa-lidade múltipla e noutro a tríade epidemiológica. Quanto à informação em Epidemiologia/fontes de dados esta fazia parte de 3 dos programas analisados sendo que apenas um dos programas fazia referência aos métodos de recolha de informação e validade da informação. Os restantes conteúdos orbitavam em torno das fontes de dados ou de informação.

O método epidemiológico fazia parte dos conteúdos de 3 programas em 2 dos quais havia referência ao método epidemiológico como um todo e no outro à aplicação deste na investigação de uma epidemia. Por último houve 4 conteúdos distintos, abordados em programas distintos e categorizados como outros, por não se encaixarem em nenhuma das categorias já referidas. Um dos programas abordava as questões epidemiológicas (sem mais especificação), outro a importância da Epidemiologia na gestão em saúde, outro a Epidemiologia ocupacional e outro ainda os aspectos demográficos.

Das 5 instituições com CLE sem unidade curricular Epidemiologia contactadas com sucesso, apenas uma não tinha os conteúdos de Epidemiologia incluídos noutra ou noutras unidades curriculares do plano de estudos. Quanto aos conteúdos incluídos noutras uni-dades curriculares não foi possível conhecer as áreas temáticas leccionadas.

4. Discussão e conclusões

O presente estudo é empírico pelo que importa apre-ciar a validade externa e interna dos resultados. Assim, os resultados aqui apresentados são válidos para os CLE das instituições estudadas e não são generalizáveis. Servem para fazer o diagnóstico do ensino da Epidemiologia nas Escolas de Enfermagem estudadas e para apontar possíveis problemas e linhas de investigação para estudos futuros.

Numa altura em que os recursos (humanos, financei-ros e materiais) são escassos, as intervenções em saúde, seja a um nível micro, meso ou macro, devem ser suportadas por evidências científicas incluindo dados quantificáveis que permitam uma maior efec-tividade ao menor custo. A Epidemiologia assume um papel cada vez mais importante dado que, junta-mente com outras áreas de saber, permite a quantifi-cação do trabalho e dos resultados desse trabalho, diagnosticando, planeando, intervindo e avaliando. Para os enfermeiros, à semelhança das outras profis-sões de saúde, a Epidemiologia é também essencial: como ferramenta para poder quantificar trabalho, diagnosticar, planear, intervir e avaliar, tanto no hos-pital como no centro de saúde ou na comunidade. Cada vez mais é pedido a estes profissionais que colaborem na obtenção de dados epidemiológicos, no seguimento de casos, na avaliação dos serviços, na obtenção de ganhos em saúde.

Na análise efectuada aos planos de estudo do CLE das 13 instituições públicas e privadas que o minis-tram na região de Lisboa e Vale do Tejo verificou-se que a Epidemiologia está presente em 12 dos CLE sob a forma de unidade curricular ou integrada em

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outras unidades. A Epidemiologia não parece ser considerada como uma disciplina essencial, indepen-dente, para a formação pré-graduada dos enfermeiros embora os seus conteúdos sejam suficientemente apreciados para serem leccionados, mesmo que não num contexto disciplinar formal. Sobressai, igual-mente, mesmo nos cursos que a leccionam formal-mente, a dispersão pelos diferentes anos de formação (primeiro, segundo e quarto ano). A análise efec-tuada, limitada à epidemiologia, sem levar em conta as outras matérias leccionadas nos diferentes anos de ensino e o que é esperado dos alunos de enfermagem em cada um deles, e a inexistência de um pressuposto teórico que guie os autores sobre a forma mais efec-tiva de ensinar a Epidemiologia leva a que não seja possível concluir sobre a opção curricularmente mais adequada. Abramson (2003) defende que não existe uma forma ideal de ensinar a Epidemiologia. O ensino ideal seria aquele que é gerado pelos interes-ses e necessidades dos alunos e que explora as situa-ções de ensino de modo a fornecer oportunidades de aprendizagem que permitam a consecução dos objec-tivos.

Resta registar a heterogeneidade do planeamento dos programas, relativamente à Epidemiologia, quer seja na distribuição da disciplina pelo CLE quer na forma como é integrada no cômputo geral e objectivos da formação.

Relativamente aos programas analisados, a forma como foram apresentados foi também bastante diver-sificada: desde os mais detalhados aos mais sucintos. Neste ponto houve também alguma disparidade em termos dos conteúdos leccionados. Embora existis-sem pontos em comum, como a Epidemiologia des-critiva e analítica, conceitos e evolução histórica, verificou-se a inclusão dos mais diversos temas o que levanta a questão sobre quais os conteúdos da Epide-miologia que devem ser leccionados a este nível de formação para desenvolver que tipo de competên-cias. Mais uma vez subsiste a heterogeneidade sendo de notar a falta de uma linha orientadora que enume-re os conceitos considerados essenciais (o que está, actualmente, a cargo do docente da unidade curri-cular). Outro aspecto importante diz respeito aos objectivos de aprendizagem que, mesmo os mais operacionalizados, referem-se ao processo e não ao resultados o que pode ser indicativo de fracos resul-tados, geralmente não avaliados e que, certamente, compreendem muito espaço para melhoria (Abbat, 1992; Guibert, 1987).

Outra questão que importa realçar é o tipo de aulas previsto (teóricas e teórico-práticas). Embora os autores tenham recorrido, de forma rudimentar, à sua comparação e soma, é preciso notar que não se conhece quais os princípios orientadores (se os

houve) para a sua categorização pelas diferentes escolas pelo que, pode-se estar a referir, na sua essência, conceitos díspares.

5. Recomendações

A epidemiologia é por demais importante para o conhecimento das causas das doenças/problemas de saúde e aplicação do conhecimento daí resultante de modo a prevenir ou corrigir essas doenças/problemas e obter ganhos em saúde (Gerstman, 2003). Assim, o seu ensino nos cursos da área da saúde, nomeada-mente da enfermagem, é extremanomeada-mente importante. Perante os resultados encontrados, os autores consi-deram que o ensino da Epidemiologia nos CLE deve continuar a ser investigado noutras regiões do país de modo a obter uma maior conhecimento sobre a rea-lidade nacional. Não obstante a necessidade de maior inteligibilidade, recomendam que a Epidemiologia deve integrar os curricula dos CLE mas que deverá ser obtida uma maior aproximação entre as diferentes escolas sobre quando e sobre que forma esta deve ser ministrada e para obter que competências, nomeada-mente em que ano e se sobre o formato de unidade curricular distinta ou se integrada noutras unidades curriculares (embora estejam cientes que a concor-dância sobre estes aspectos dependerá também da uniformização do formato de ensino da enfermagem em Portugal). Este perfil básico de competências em Epidemiologia deveria ser estabelecido em diálogo com a Ordem dos Enfermeiros, a fim de explicitar o que deve um enfermeiro recém-licenciado estar apto a fazer no campo epidemiológico.

Referências

ABBAT, F. R. — Teaching for better learning : a guide for teachers of primary health care staff. 2nd Edition. Geneva : WHO, 1992. ISBN 9789241544429.

ABRAMSON, J. H. — Epidemiology inside and outside the classroom. In OLSEN, J.; SARACCI, R.; TRICHOPOULOS, D., ed. lit. — Teaching epidemiology : a guide for teachers in epidemiology, public health and clinical medicine. New York : Oxford University Press, 2003. ISBN 0-19-263066-0.

BEAGLEHOLE, R.; BONITA, R.; KJELLSTRÖM, T. — Basic epidemiology. Geneva : World Health Organization, 1993. ISBN 9241544465.

BOWLING, A. — Research methods in health : investigating health and health services. Buckingham (Philadelphia) : Open University Press, 1997. ISBN 0-335-19885-6.

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GERSTMAN, B. — Epidemiology kept simple : an introduction to classic and modern epidemiology. 2nd ed. Hoboken, NJ : Wiley-Liss, 2003. ISBN 0-471-40028-9.

GHIGLIONE, R.; MATALON, B. — O inquérito : teoria e prá-tica. Oeiras : Celta Editora, 1993. ISBN 972-8027-01-X. GUIBERT, J. J. — Guia pedagógico para os profissionais de saúde. 2.a ed. Lisboa : ENSP, 1987.

LAST, J. M. — Um dicionário de epidemiologia. 2.a ed. Lisboa : Departamento de Estudos e Planeamento da Saúde, 1995. SARACCI, R. — Introducing the history of epidemiology. In OLSEN, J.; SARACCI, R.; TRICHOPOULOS, D., ed. lit. — Teaching epidemiology : a guide for teachers in epidemiology, public health and clinical medicine. New York : Oxford University Press, 2003. ISBN 0-19-263066-0.

STANHOPE, M.; LANCASTER, J. — Enfermagem comunitária : promoção da saúde de grupos, famílias e indivíduos. Lisboa : Lusociência, 1999. 246-249. ISBN 972-8383-05-3.

VALA, J. — A análise de conteúdo. In : SILVA, A. S.; PINTO, J. M., ed. lit. — Metodologia das ciências sociais. 10.a ed. Lisboa : Edições Afrontamento, 1999. (Biblioteca das Ciências do Homem). 101-28. ISBN 972-36-0503-1.

Abstract

THE TEACHING OF EPIDEMIOLOGY IN NURSING SCHOOLS OF LISBON AND TAGUS VALEY REGION Today, Epidemiology is seen as a science that goes beyond disease quantification. It has expanded to all health related areas (burden of disease, identification of cause, effectiveness and efficiency evaluation, etc.). Health professionals are now responsible for collecting epidemiological data and for contrib-uting to a solid knowledge framework that helps them to de-cide, based on scientific evidence, about activities,

interven-tions and health policies. Thus, it is very important for Epide-miology to be included in health professionals curricula, namely on pre-graduate nursing curricula.

This observational, analytical, document based study aimed at describing the teaching of Epidemiology in nursing pre-gradu-ate courses in Lisbon and Tagus Valley Region in 2004/2005. Nursing pre-graduate courses’ curricula were analyzed for the presence of Epidemiology modules. All schools with Epidemi-ology modules in their nursing pre-graduate courses’ curricula were contacted, first telephonically and later by e-mail or fax in order to get the details of the Epidemiology syllabus. Schools with nursing pre-graduate courses without Epidemiol-ogy modules were also contacted using a structured telephonic interview in order to verify if Epidemiology contents were taught in other teaching modules. The syllabuses received and the answers to the telephonic interviews were submitted to a formal content analysis. The frequency of both theoretical and theoretico-pratical classes is described using central tendency measures.

There were 13 university level schools offering a degree in nursing in the Lisbon and Tagus Valley Region. Five had an Epidemiology module in the teaching program and one had an Epidemiology and Clinical Evaluation module. The nursing courses of the other institutions did not have an Epidemiology module. The number of hours of Epidemiology varied accord-ing to the nursaccord-ing school. The programs were also different from school to school.

Epidemiology does not seem to be considered sufficiently important to warrant its presence in pre-graduate nursing courses. The authors recommend that Epidemiology should be a part of nursing curricula but there should be a consensus on how and when Epidemiology should be taught. They also rec-ommend that basic Epidemiology competencies for newly graduate nurses should be clarified.

Keywords: epidemiology; education; nursing; curricula; health professionals.

Referências

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