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Contribuição da realidade virtual em idosos / Contribution of virtual rehabilitation in elderly

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761

Contribuição da realidade virtual em idosos

Contribution of virtual rehabilitation in elderly

DOI:10.34117/bjdv6n10-586

Recebimento dos originais: 21/09/2020 Aceitação para publicação: 26/10/2020

Pâmela Coimbra Argenton Puga

Mestre em Ciências pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Gestora de Terapeutas Ocupacionais na rede Terça da Serra, Campinas, São Paulo, Brasil.

Endereço: Avenida Soldado Passarinho, 300. Bairro: Jardim Chapadão, Campinas SP. E-mail: pamelaargenton@gmail.com

Luisa Arantes Loureiro

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Doutoranda em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais, Brasil. Endereço: Avenida Pará, Bloco 2u, 1720. Bairro Umuarama, Uberlândia – MG. CEP: 38400-902.

E-mail:luisa.loureiro@gmail.com

RESUMO

A terapia ocupacional é uma profissão capaz de realizar programas de intervenção com a realidade virtual, utilizando-se de smartphones, computadores, tablet e vídeo game, estimulando as funções cognitivas e declínios decorrentes das demências. Este estudo objetiva descrever a ação terapêutica da reabilitação virtual para idosos com demências. Verificar o quanto a realidade virtual influência nas atividades de vida diária dos idosos e demonstrar quais são as principais dificuldades em utilizar a tecnologia com os idosos com demências. Trata-se de uma revisão Integrativa da literatura com corte temporal de 2012-2018. Foram encontrados incialmente, de acordo com as palavras chaves, 363 artigos, foi realizado a seleção através da leitura de resumos e leitura na íntegra dos artigos, sendo selecionados para análise apenas 7 artigos. De acordo com os estudos, o treino cognitivo com uso de tecnologias é efetivo para prevenir e melhorar o desempenho cognitivo e déficits cognitivos causados pela senilidade e demências, além disso apresentaram melhora no desempenho de dupla tarefa, atenção dividida e memória, além de otimizarem as habilidades residuais e deficitárias. O uso da tecnologia estimula as funções cognitivas e executivas integralizando um melhor resultado com o declínio cognitivo nas demências. É escasso o número de artigos e pesquisas sobre a terapia ocupacional e a reabilitação cognitiva através da realidade virtual.

Palavras-chaves: Terapia Ocupacional, idosos, reabilitação, cognição, demência e realidade

virtual.

ABSTRACT

Occupational therapy is a profession capable of performing intervention programs with virtual reality, using smartphones, computers, tablets and video games, stimulating the cognitive functions and declines due to dementia. This study aims to describe the therapeutic action of virtual rehabilitation for elderly people with dementia. To verify how much virtual reality influences the activities of daily life of the elderly and to demonstrate what are the main difficulties in using the technology with the elderly with dementia. It is an integrative review of the literature with temporal cut of 2012-2018. According to the keywords, 363 articles were found, the selection was made through the reading of abstracts and

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 reading in the whole of the articles, being selected for analysis only 7 articles. According to the studies, cognitive training with the use of technologies is effective in preventing and improving cognitive performance and cognitive deficits caused by senility and dementia. In addition, they have improved the performance of dual tasks, divided attention and memory, as well as optimizing residual skills. The use of technology stimulates cognitive and executive functions by integrating a better outcome with cognitive decline in dementia. The number of articles and research on occupational therapy and cognitive rehabilitation through virtual reality is scarce.

Keywords: Occupational Therapy, elderly, rehabilitation, cognition, dementia and virtual reality. 1 INTRODUÇÃO

Segundo dados do IBGE (2016), a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando ano a ano. Em 2015, chegou aos 75 anos. Em 2050, a estimativa é de que cerca de 30% da população brasileira terá mais de 65 anos.

O envelhecimento da população é um fenômeno mundial que tem consequências diretas nos sistemas de saúde pública. Uma das principais consequências do crescimento desta parcela da população é o aumento da prevalência das demências, especialmente da doença de Alzheimer (PRINCE; ACOSTA ET AL; 2003). Dessa forma, a identificação de indivíduos com potencial risco de desenvolver demência torna-se fundamental. Apesar de ainda gerar controvérsias, o diagnóstico precoce das demências possibilita intervenção terapêutica adequada, diminui os níveis de estresse para os familiares, reduz riscos de acidentes, prolonga autonomia e talvez, em alguns casos, evite ou retarde o início do processo demencial (PETERSEN; STEVENS ET AL; 2001).

Com relação às alterações cognitivas, o próprio envelhecimento normalmente apresenta declínio gradual de funções como linguagem, percepção, habilidades motoras e funções executivas, sendo a perda da memória a que mais se destaca entre a população em geral, visto que compromete pequenas tarefas relativas às atividades da vida diária. A grande preocupação encontra-se no risco de que a perda da memória represente a existência ou a possibilidade de um quadro demencial. (BRITO, PAVARINI,2012).

No Brasil, os estudos sobre a relação entre envelhecimento e tecnologia se referem, principalmente, à interação das pessoas idosas com o computador. Outras áreas, como as tecnologias assistivas ou recursos tecnológicos para garantir uma vida mais confortável, segura e independente na idade avançada, como a realidade virtual, ainda são pouco desenvolvidas (FREITAS ET AL;2017).

A Realidade Virtual pode ser considerada como a junção de três fatores: Interação - o ambiente reage de acordo com a interação do usuário; Envolvimento - o grau de engajamento do usuário em uma aplicação; e Imersão - a sensação de estar dentro de um ambiente virtual (CORRÊA; NUNES; 2009).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Contudo, as novas tecnologias representam um grande desafio e, muitas vezes, um obstáculo para as pessoas idosas; no entanto, estas tecnologias podem oferecer uma ajuda importante para o envelhecimento ativo.

De fato, a possível interação de pessoas idosas com tecnologia pode acontecer em várias situações (trabalho, vida privada, relação com esfera pública, relação com serviços etc.) e com diferentes finalidades (manter-se no mercado de trabalho, lazer, autonomia e independência, segurança, cuidado, estimulação, participação social etc) (FREITAS ET AL;2017)

Segundo Corrêa e Nunes (2009) A terapia ocupacional é uma profissão capaz de realizar programas de intervenção utilizando a realidade virtual com idosos, transmitindo para o paciente a sensação tridimensional de estar inserido em um contexto de jogo que permite realizar independente suas atividades de vida diária e jogos propostos de acordo com sua capacidade cognitiva. Esses sentimentos de iniciativa, autonomia e desempenho independente proporciona ao indivíduo a capacidade de realizar escolhas, ser flexível em situações difíceis, desenvolver resolução de problemas, e satisfação pessoal. Um idoso ativo, que realiza independentemente suas atividades de vida diária, atividades básicas e atividades de lazer é um idoso que pode apresentar menor declínio cognitivo, menos chances de suicídio, depressão e desenvolvimento de demências. Sendo assim, este artigo irá nos mostrar o quanto o uso da realidade virtual pode ser benéfico para a população idosa, descrevendo sua potencial ação terapêutica para idosos com demências.

2 MÉTODO

Este estudo trata-se de uma revisão Integrativa da literatura, que consiste na construção de uma análise ampla da literatura, contribuindo para discussões sobre métodos e resultados de pesquisas, assim como reflexões sobre a realização de futuros estudos. O propósito inicial deste método de pesquisa é obter um profundo entendimento de um determinado fenômeno baseando-se em estudos anteriores (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

De acordo com os autores acima citados, a revisão integrativa da literatura permite a incorporação das evidências na prática clínica. Esse método tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Permite dados de literatura empírica e teórica.

É dividido em etapas: identificação do tema e seleção da hipótese, estabelecimento de critérios para inclusão e exclusão de estudos, definição das informações a serem extraídas dos estudos

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 selecionados, avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa, interpretação dos resultados e apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).

A coleta de dados foi realizada em periódicos indexados nas bases de dados bibliográficos BVS (Biblioteca Virtual em Saúde/ Envelhecimento), SCIELO (Scientific Electronic Library Online), PUBMED (National Library of Medicine) e MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), e periódicos específicos como Revista de Terapia ocupacional da USP, Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar tendo como recorte temporal o período entre o ano de 2012 a 2018.

As palavras chaves utilizadas foram: Terapia Ocupacional, idosos, reabilitação, cognição, demência e realidade virtual. Foi realizado o cruzamento entre as seguintes palavras para a seleção dos artigos: Realidade virtual x demência (11); Realidade virtual x Terapia Ocupacional (8); Terapia Ocupacional x Demência (11); Terapia Ocupacional x Reabilitação Cognitiva (223); Demência x Reabilitação Cognitiva x Terapia Ocupacional (33); Terapia Ocupacional x Idosos (77).

Foram incluídos artigos científicos completos que abordassem a prática da Terapia Ocupacional com foco na saúde do idoso, reabilitação virtual e demência. Foram excluídos os artigos fora do recorte temporal citado, artigos que não constavam na íntegra, e que não estavam disponíveis gratuitamente além dos artigos que não tivessem um terapeuta ocupacional em sua autoria. Aqueles que não apresentaram o termo “Terapia Ocupacional” no descritor e/ou palavra-chave e os que não obtinham o foco da discussão do trabalho na temática da realidade virtual, idoso e demência também não foram incluídos no estudo.

3 RESULTADOS

Foram encontrados incialmente, de acordo com as palavras chaves, 363 artigos. Após primeira leitura de resumos apenas 14 estavam condizentes com o tema pesquisado. A segunda fase de seleção foi a leitura dos artigos na íntegra, sendo selecionados para análise apenas 7 artigos, em sua maior parte na Base de Dados BVS.

Diante dos artigos selecionados observou-se que as pesquisas são multivariadas, sendo revisão bibliográficas, grupos randomizados e ensaios clínicos. Pode-se observar que todos os estudos com uso da realidade virtual concluíram que este recurso pode contribuir para a melhora do declínio cognitivo, autonomia, qualidade de vida e independência nas atividades de vida diária.

Os dados foram transcritos em tabelas. Na tabela 1 observa-se o cruzamento de palavras chaves.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761

Tabela 1 - Distribuição de artigos científicos segundo o cruzamento das palavras chaves

Cruzamento de palavras chaves Nº de artigos encontrados

Realidade virtual x demência 11

Realidade virtual x terapia ocupacional 8

Terapia ocupacional x demência 11

Terapia ocupacional x reabilitação cognitiva

223 Demência x reabilitação cognitiva x terapia

ocupacional

33

Terapia ocupacional x idosos 77

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Na tabela 2 estão descritos os artigos selecionados para a discussão da pesquisa. Dentre eles, poucos apresentaram os critérios de inclusão. Observou-se que há mais estudos na área de fisioterapia objetivando a reabilitação física dos idosos.

Tabela 2 - Artigos por título, autor (es), periódicos e ano de publicação.

Título Autor Periódico Ano

Ensaio de intervenção múltipla da doença de Alzheimer (ADMIT): protocolo de estudo para um ensaio clínico controlado randomizado

CALLAHAN C.M; et al.

PUBMED 2012

Reabilitação de idosos com alterações cognitivas através do videogame Nintendo wii®. BATISTA J. S; WIBELINGER L.M; et al. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar 2012

Estimulação cognitiva em pacientes com demência: ensaio clínico controlado aleatório

MAPELLI D; et al PUBMED 2013

A terapia ocupacional na reabilitação de idosos com comprometimento cognitivo leve.

IKEDA N.C.L.K; et al. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar 2014

Atividades avançadas de vida diária e incidência de declínio cognitivo em idosos: Estudo SABE

DIAS E.G; et al SCIELO 2015

Eficácia da terapia ocupacional e outras terapias não farmacológicas no comprometimento cognitivo e na doença de Alzheimer

MATILLA M. R; et al

SCIELO 2016

Um Estudo randomizado com Realidade Virtual Baseada em Imagem em Pacientes com Declínio Cognitivo Leve e Demência

MANERA V; et al.

PUBMED 2016

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Com o resumo da revisão integrativa da literatura os artigos foram elencados em categorias, de acordo com o exposto na Tabela 3. As temáticas abordadas nos artigos foram divididas nas seguintes categorias de análise: Fundamentação Teórica/Revisão Bibliográfica, Resultados das intervenções da Terapia Ocupacional e Raciocínio clínico da Terapia Ocupacional.

Tabela 3- Síntese do conhecimento segundo as categorias temáticas

Categorização temática

Tipo de estudo Produções Contribuição de

conhecimento

Fundamentação Teórica/ Revisão Bibliográfica

Estudo bibliográficos BATISTA J. S; et al (2012), IKEDA N.C.L.K., LEMOS N.D.; BESSE M. (2014), MATILLA M. R; et al (2016) O uso de tecnologia no tratamento de idosos com déficit cognitivo são capazes de promover melhora quantitativa e qualitativa das atividades funcionais, prolonga a independência, autonomia e retarda a progressão de várias desordens proporcionando qualidade de vida Resultados das intervenções da Terapia Ocupacional Ensaio clínico controlado/ randomizado CALLAHAN C.M. et al ; (2012), MAPELLI D. (2013) e MANERA V. (2015) Relata-se que o treinamento cognitivo diminui significamente o estresse e os sintomas comportamentais de pacientes com doença de Alzheimer.

Raciocínio clínico

da Terapia

Ocupacional

Estudo Longitudinal DIAS (2005)

Resultados mostraram que quanto maior o número de AAVD* realizadas menor a chance de declínio cognitivo

*AAVD – atividades avançadas de vida diária. Fonte: Elaborada pelas autoras.

4 DISCUSSÃO

A função cognitiva pode sofrer certo grau de declínio com o envelhecimento normal devido às alterações fisiológicas na redução da velocidade de processamento das informações. No geral, a memória, a atenção e as funções executivas são as mais prejudicadas. Muragaki et al, (2006), afirma que os indivíduos com déficits nas habilidades cognitivas são pessoas que precisam se readaptar a sua

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 nova condição, não somente do ponto de vista físico, mas também emocionalmente. Dessa maneira, é necessária uma maior atenção nas reações emocionais, que podem interferir no processo de reabilitação das habilidades cognitivas. Os procedimentos de cuidado também devem ser direcionados à família, amigos, cuidadores e outras pessoas que fazem parte do ambiente afetivo do indivíduo, pois as relações intrapessoais podem ser importantes para favorecer o reaprendizado do indivíduo.

4.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os autores relatam que o uso de tecnologia no tratamento de idosos com déficit cognitivo são capazes de promover melhora quantitativa e qualitativa das atividades funcionais, prolonga a independência, autonomia e retarda a progressão de várias desordens proporcionando qualidade de vida.

No processo de reabilitação de déficits cognitivos, os jogos podem ser facilitadores na identificação e análise desses comprometimentos e, em contrapartida, podem-se proporcionar momentos de prazer, garantindo a renovação de energia necessária para dar continuidade às outras ações e atividades. Através da vivência, o indivíduo pode ser capaz de compreender melhor sua limitação cognitiva, favorecer o processo de reabilitação e permitir que novas conexões neurais se estabeleçam após novas aprendizagens, em conjunto com elaborações ou associações entre acontecimentos passados (MURAGAKI ET AL,2006)

Segundo Merians (2002), fugindo dos recursos convencionais de reabilitação, uma ampliação das possibilidades terapêuticas vem sendo introduzida através da informática, aplicada em sujeitos com disfunções neurológicas, tais como os de ordem cognitiva e motora.

Em relação aos usuários idosos, é possível separá-los em três perfis quanto à utilização das novas tecnologias, segundo classificação descrita por Neri (2014).

O primeiro grupo são os otimistas, aqueles usuários que aceitam as tecnologias e percebem a sua importância, querem aprender e fazer uso delas para se sentirem incluídos na sociedade, tentam entender e utilizar as ferramentas.

O segundo grupo são os simpatizantes das tecnologias, mas não usuários. Reconhecem os benefícios e importância dos instrumentos tecnológicos, mas ainda preferem manter os hábitos cotidianos, como ir ao banco em vez de acessar a conta bancária pela internet. Este segundo grupo escolhe utilizar ou não as tecnologias.

O terceiro grupo são os que rejeitam as tecnologias e se dizem “velhos” para aderir às mudanças e novidades, preferindo não abdicar dos seus costumes e hábitos diários. Eles não as entendem e não

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 têm curiosidade em aprender a utilizá-las. Essa não aderência pode estar relacionada com a falta de oportunidade, de motivação e de conhecimento. O não conhecer gera pouca percepção de uma possível necessidade e dos possíveis ganhos como o acesso rápido aos produtos e serviços disponíveis na web, promoção de novas habilidades intelectuais, novos estilos de raciocínio e de estratégias cognitivas.

4.2 RESULTADOS DAS INTERVENÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL

Os artigos elencados para essa categoria, relatam que sessões de terapia ocupacional com objetivo de treinamento cognitivo, diminui significamente o estresse e os sintomas comportamentais de pacientes com doença de Alzheimer.

Um estudo da Universidade de São Paulo, a partir de uma amostra de 42 idosos, propôs realizar 15 aulas com duração de duas horas cada, 1 vez/semana, objetivando ensinar procedimentos básicos relacionados à tecnologia, como ligar/desligar o computador até a utilização da internet. No final da intervenção, o grupo experimental apresentou melhor desempenho cognitivo, com ganhos na função de linguagem quando comparados ao grupo- controle, o que pode sugerir que os mesmos ficaram mais rápidos na busca semântica, apresentando benefícios em habilidades de memória verbal e velocidade de processamento para materiais verbais (ORDONEZ et al., 2011).

Frente a este potencial, torna-se evidente a importância de estimular a participação de pessoas idosas no mundo digital. A participação minoritária dessa população nesse contexto pode ser explicada pelo acesso tardio à internet, que se tornou acessível em meados da década de 90 quando muitos já eram adultos de meia idade ou idosos.

Costa e Carvalho (2005), apontam que além de favorecer a melhora no desempenho físico, os jogos também apresentam um espaço de desenvolvimento das funções cognitivas básicas, por meio da estimulação destas, tais como: atenção, concentração, memória, planejamento e resolução de problemas, podendo influenciar na forma como desempenhamos as atividades cotidianas.

As ações direcionadas para este tratamento não farmacológico está relacionado ao profissional da Terapia Ocupacional, o qual provê melhorar a habilidade dos indivíduos no desempenho das AVDs, promover a independência, reduzir a sobrecarga do cuidador e, por fim, melhorar a qualidade de vida (KUMAR et al., 2014).

De acordo com os estudos de Mapelli (2013), os resultados positivos que se destacaram foram os efeitos benéficos da estimulação cognitiva no tratamento dos sintomas comportamentais, e a correlação entre comprometimento cognitivo e sintomas comportamentais na demência.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 Batista (2012), acredita que a utilização da realidade virtual possa ser bastante eficaz na reabilitação de pacientes com incapacidade física e/ou cognitiva, propiciando um ambiente motivador para a aprendizagem e facilitando o estudo das características das habilidades e capacidades perceptuais e motoras do usuário. Outro aspecto de grande importância na reabilitação promovido pela realidade virtual é a possibilidade de um feedback imediato por parte do paciente; ou seja, ao interagir com o mundo virtual, o paciente obtém respostas imediatas da eficiência de suas ações, o que lhe possibilita exigir o máximo de si, estimulando o cérebro para que façam as correções necessárias para um bom desempenho.

4.3 RACIOCÍNIO CLÍNICO DA TERAPIA OCUPACIONAL

Na categoria de Raciocínio Clinico da Terapia Ocupacional os resultados mostraram que quanto maior o número de atividades avançadas de vida diária realizadas, menor a chance de declínio cognitivo, ou seja, o terapeuta ocupacional desempenha um papel fundamental para auxiliar pessoas com deficiências cognitivas a estabelecer ou manter uma vida significativa e produtiva, dentro de seu ambiente social e cultural (AMERICAN OCCUPATIONAL THERAPY ASSOCIATION, 1999).

No tratamento de reabilitação cognitiva usam-se atividades que estimulem a concentração, a sequência de pensamento, a atenção e a capacidade de fazer escolhas. Através das atividades propostas pelo terapeuta, o indivíduo utiliza suas capacidades remanescentes, convertendo-se em um trabalho de manutenção e prevenção (BARRETO; TIRADO apud FREITAS et al., 2002)

Dias (2015), relata que a exposição a ambientes complexos com experiências cerebrais estimulantes ao longo da vida, relacionadas a variáveis sociodemográficas e de funcionalidade, tais como alta escolaridades, atividades laborais mais complexas e atividades de lazer, promoveriam crescimento neuronal e favoreceriam a neuroplasticidade. Esses fatores contribuem para a construção, formação e manutenção de melhores níveis de reserva cognitiva, proporcionando maior resistência aos danos cerebrais e poderiam postergar o aparecimento de possíveis déficits cognitivos.

A terapia ocupacional gerontológica, com foco na função, auxilia a pessoa idosa a manter, restaurar e/ou melhorar a capacidade funcional, conservando-a ativa, segura e independente o maior tempo possível. Quando se considera o atendimento a pessoas idosas, os elementos independência, saúde, segurança e integração social ocupam lugar de destaque, uma vez que, durante o processo de envelhecimento, sofrem modificações significativas. O terapeuta ocupacional intervém considerando o impacto da condição de saúde do indivíduo no seu desempenho funcional e os fatores contextuais que podem se manifestar como facilitadores ou limitadores, potencializando ou restringindo a função.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 O terapeuta promove ainda a adoção de hábitos e de rotinas saudáveis, que favoreçam a participação ao longo da vida (AMERICAN OCCUPATIONAL THERAPY ASSOCIATION, 2015).

A realização de atividades diárias é fundamental para o idoso atender suas necessidades pessoais e sociais, desempenhar os seus papéis ocupacionais, conservar sua saúde e interagir com o ambiente (CREPEAU; SCHELL, 2011).

Existem pesquisas atuais mostrando que é possível, em muitos casos, retardar ou mesmo evitar a evolução de uma demência mediante práticas de estimulação física e mental e de reabilitação (ABRISQUETA G., 2006).

Para o profissional da saúde, o processo de reabilitação de pacientes com déficit cognitivo é, muitas vezes, um desafio, pois requer o máximo esforço por parte destes. A fim de que esse processo possa ser executado da melhor forma possível, é necessário que o indivíduo esteja motivado e empenhado para sua recuperação, e, para tal, os exercícios devem ser diversificados (RBCEH,2012). Contudo, a utilização da realidade virtual possibilita simular a vida real e permite aumentar a intensidade do treinamento enquanto concede um aumento tridimensional e um feedback sensorial direto (visual e sensitivo). Outro aspecto de grande importância promovido pela realidade virtual é a possibilidade de um feedback imediato por parte do idoso; ou seja, ao interagir com o mundo virtual, o idoso obtém respostas imediatas da eficiência de suas ações, o que lhe possibilita exigir o máximo de si, estimulando o cérebro/o cerebelo para que façam as correções necessárias para desempenhar a atividade exigida. Essas atividades estão relacionadas proporcionalmente ao dia a dia do paciente. O principal elo entre a realidade virtual e a realização das atividades de vida diária é que o paciente poderá errar sem sofrer nenhuma consequência física ou emocional, pois estará com o terapeuta responsável na sessão.

5 CONCLUSÃO

Através desse estudo, constata-se que a intervenção da terapia ocupacional utilizando a realidade virtual, pode trazer benefícios a idosos com demências. A realidade virtual proporciona ao indivíduo a estimulação da memória, atenção, concentração, planejamento e resolução de problemas, podendo influenciar na maneira como desempenha suas atividades de vida diária.

Contudo, há uma dificuldade no acesso às tecnologias. Alguns estudos mostram que os idosos podem ter medo de utiliza-las pensando que terão dificuldade no manuseio do aparelho ou então não estimam o aprendizado para usar a tecnologia, portanto a introdução da realidade virtual nos atendimentos deve ser de modo gradual, respeito o contexto e a realidade de cada indivíduo.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p. 82084-82096, oct. 2020. ISSN 2525-8761 O terapeuta ocupacional poderá utilizar a realidade virtual como um novo recurso terapêutico em seus atendimentos, e assim aumentando o repertório de novas habilidades produzindo novas conexões neurais. Os jogos que poderão ser utilizados, estão presentes em diversos recursos, como jogo da memória musical, jogo de caça palavra, jogo de troca de roupas de personagens (proporcionando a vivência da atividade de vida diária) disponíveis na internet e além de jogos de realidade virtual com uso de uma câmera conectada a um dispositivo que possui sensor de movimentos permitindo a imersão em jogos esportivos para estimular as funções executivas, cognitivas e motoras. Outros recursos podem ser utilizados na população idosa, como o tablete, smartphones, computadores e videogames.

O processo de envelhecimento fisiologicamente traduz em um processo de deterioração intelectual. É necessário estimulação cognitiva para proporcionar manutenção da autonomia e possibilitar o atraso do processo de declínio cognitivo. Os estudos que abordam essa temática são escassos, sendo necessários maior investimento teórico nessas questões.

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Tabela 1 - Distribuição de artigos científicos segundo o cruzamento das palavras chaves
Tabela 3- Síntese do conhecimento segundo as categorias temáticas  Categorização

Referências

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