• Nenhum resultado encontrado

A anexação da Crimeia na perspectiva polaca: quais os impactos para a Polónia e para a sua política externa

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A anexação da Crimeia na perspectiva polaca: quais os impactos para a Polónia e para a sua política externa"

Copied!
114
0
0

Texto

(1)
(2)

Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais – Área de Especialização Relações Internacionais, realizada sob a orientação científica de Professora Auxiliar

(3)

AGRADECIMENTOS

Depois de um ano dedicado à realização da dissertação que aqui apresento, importa agradecer a um conjunto de pessoas que me ajudou a passar este período duro e muito trabalhoso, como tal, quero agradecer à minha família que sempre se disponibilizou para me dar todo o tipo de ajuda que precisasse. Um obrigado muito especial aos meus pais que estiveram ao meu lado durante todo o percurso que foi o Mestrado, mas em especial por não me terem deixado desistir nas fases mais críticas.

Deixo aqui um especial agradecimento à minha insubstituível e incomparável irmã que nos momentos de maior agonia e stress me apoiou e ajudou a ver o lado engraçado da situação e por me ter ajudado com a árdua tarefa de encontrar os autores das citações que fiz e distraidamente não identifiquei. Agradeço como é claro às minhas amigas que me apoiaram e deram alento para continuar e que me ofereceram um ombro amigo para desabafar sempre que precisasse.

Por fim, o último mas sem dúvida o mais importante, um enorme agradecimento ao meu namorado, que nos últimos cinco anos me apoiou, e em especial, neste último ano me deu forças para concluir o Mestrado, quer pelo seu apoio moral, como pela companhia que me fez durante as longas noites de investigação e escrita de textos. Como tal, o meu maior agradecimento a esta maravilhosa pessoa que me acompanhou e auxiliou durante todo o meu percurso académico.

Deixo também uma nota de agradecimento à professora Madalena Resende, por ter aceite ser a minha orientadora para a realização desta dissertação e por me ter guiado durante a sua realização.

(4)

A ANEXAÇÃO DA CRIMEIA NA PERSPECTIVA POLACA: QUAIS OS IMPACTOS PARA A POLÓNIA E A SUA POLÍTICA EXTERNA

Polish Perspective on Crimean Annexation: What are the impacts in Poland and is foreign policy

Inês Tomé Lapa

Palavras-Chave: Polónia, Anexação da Crimeia, Política Externa Polaca, União Europeia

A Polónia após a queda do Muro de Berlim e a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, reconquistou a sua capacidade de decisão e com isso emergiu como um importante actor na Europa do leste. Apesar da Polónia se ter focado na aproximação ao Ocidente, ela não deixou de lado os seus vizinhos a leste, desenvolvendo por isso uma política externa que se focava na democratização dos Estados da Europa do Leste, em especial a Ucrânia. A Ucrânia ocupa um papel central no contexto securitário polaco e por isso possui uma posição primordial na política externa polaca, por esta razão, a dissertação tem como objectivo analisar a reacção polaca à anexação da Crimeia e analisar de que forma é que o seu comportamento se diferenciou do dos restantes Estados europeus. Primeiramente, a dissertação vai estudar o contexto geopolítico em que a Polónia se encontra, dando especial atenção à importância da Ucrânia na região e a sua importância para a Polónia, assim como analisar o relacionamento entre a Rússia e a Polónia. Estes elementos são essenciais para analisar a forma como a Polónia reage à Anexação da Crimeia e entender qual sua a visão. O segundo ponto a abordar incide no estudo da política externa polaca de forma a compreender como esta se alterou após a queda da Cortina de Ferro, como se integrou na União Europeia e posteriormente agiu nas suas instituições. Por último, será analisado o comportamento polaco e dos restantes Estados Europeus no contexto da anexação da Crimeia de forma a que no final seja identificada a distinção entre o comportamento da Polónia e os restantes Estados europeus.

Keywords: Polan, Crimea annexation, Poland foreign policy, European Union

Poland after the fall of the Berlim Wall and the dissolution of the Soviet Union of the Socialist Republics, had conquer the hability to decided for itself and with that as emerge has an important actor in Eastern Europe. Besides Poland has focused on the approach to the West, she hasn’t leave is Eastern neighbours aside, and had develop a foreign policy that focus in the democratization of the states of eastern Europe, in special in Ukraine. Ukraine has a central place in the Poland security context and because of that, has a primordial position in Poland foreign policy, for this reason the dissertation will be focused in analyze the Poland reaction to Crimea annexation and study in what way is behaviour was different from the rest of the European states. First of all, the dissertation will study the Poland geopolitical context, giving special attention to the importance of Ukraine to Poland, as so to analyze the relation between Russia and Poland. This elements are essentials to study how Poland reacts to Crimea annexation and understand what is the Poland vision about the subject. The second subject will focus on the study of Poland foreign policy to understand how has changed after the fall of the Iron Curtain without leaving aside the importance of reflect how Poland had become part of the European Union and how as act in the European Institutions. At the end, it will be analyze the polish and the European states behaviour in the context of Crimea annexation to identify the differences between Poland and the other European states behaviour.

(5)

ÍNDICE

1. Introdução ... 1

2. A Identidade Nacional e a Política Externa ... 5

3. Contexto Regional ... 10

3.1. O posicionamento geopolítico da Polónia ... 10

3.1.1. A relação da Polónia com o antigo espaço soviético ... 12

3.1.2. A importância geopolítica da Ucrânia ... 18

3.1.2.1. A importância geopolítica ucraniana para a Polónia ... 20

3.2. O relacionamento polaco-russo ... 21

3.3. A União Europeia e a Europa do Leste ... 26

4. A política externa polaca ... 31

4.1. O novo conceito da política externa polaca: ‘Regressar à Europa’... 31

4.1.1. Política externa polaca para a Europa do Leste ... 35

4.1.2. Política externa polaca para a Ucrânia ... 38

4.1.2.1. A evolução do relacionamento polaco-ucraniano ... 39

4.1.2.2. A defesa da integração ucraniana nas Instituições Ocidentais ... 45

4.2. A Polónia na União Europeia ... 48

5. A anexação da Crimeia ... 60

5.1. A reação polaca à anexação da Crimeia ... 65

5.2. As consequências para a Polónia ... 68

5.3. O novo relacionamento Polónia-Ucrânia ... 71

6. A Polónia, a UE e a Anexação da Crimeia ... 75

6.1. A UE e a anexação da Crimeia ... 75

6.1.2. A reação dos Estados-membros da UE ... 78

6.2. A ação da Polónia na União Europeia ... 85

7.Conclusão ... 90

(6)

Lista de Abreviaturas

AA- Association Agreement/Acordo de Associação,

DCFTA- Deep and Comprehemsive Free Trade Area/Acordo Abrangente e Aprofundado de Comércio Livre

CEI – Comunidade de Estados Independentes

ESDP – European Security and Defesnse Policy/ Política Comum de Segurança e Defesa (PCSD)

ONU – Organização das Nações Unidas OUP- Organização Nacionalista Ucraniana

OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte Parceria Oriental – Eastern Partnership/ EaP

PiS – Lei e Justiça PO – Plataforma Cívica

PEV Política Europeia de Vizinhança/ European Neighbourhood Policy – ENP UE – União Europeia

UPA- Exército Insurgente Ucraniana

(7)

1

1. Introdução

A anexação da Crimeia pela Rússia provocou uma alteração radical no contexto geopolítico da região e da própria Europa, mas mais importante, fez soar alarmes em alguns Estados Europeus, em especial na Polónia, com receio do renascimento do imperialismo russo, no entanto, o mesmo não aconteceu nos restantes Estados Europeus. Perante este contexto foi desenvolvida a seguinte pergunta de partida, qual a reação polaca à anexação da Crimeia e como é que a sua reação se distinguiu da dos restantes Estados europeus? Desta forma o objetivo da dissertação é analisar a forma como a Polónia reagiu à anexação da Crimeia, tendo em conta que a Ucrânia ocupa uma posição central na política externa polaca e de que forma é que o comportamento polaco se distinguiu do dos restantes Estados europeus.

A Polónia foi o Estado mais afectado pelos desenvolvimentos na Ucrânia, sendo que o seu comportamento face à Anexação da Crimeia foi muito diferente em relação à postura adoptada pelos Estados e parceiros Europeus. Do ponto de vista polaco, a Ucrânia ocupa uma posição central no seu contexto securitário e, como tal, a Ucrânia tornou-se num elemento central da política externa polaca, pois “Whereas a pro-Europe

Ukraine serves a buffer between Poland and Russia, pro-Russia Ukraine brings Russia closer to Poland’s borders, constitutes a threat to its seurity, and in fact, turns Poland into a buffer between Russia and the West” (Burlyuk, 2017:317). Desta forma a Polónia

fomentou desde 1989 uma política de proximidade à Ucrânia, marcada pela promoção da democratização e ocidentalização da Ucrânia tendo como objetivo final a entrada de Kiev para a União Europeia e Organização do Tratado do Atlântico Norte. Dada a importância que a Ucrânia assumiu na política externa polaca, no cenário pós-Guerra Fria a Polónia focou a sua política para a Europa do leste na Ucrânia de forma a garantir a sua democratização e Ocidentalização.

A Polónia demonstrou-se sempre atenta aos acontecimentos que se desenvolviam na Ucrânia e procurou sempre fomentar a aproximação de Kiev às Instituições Ocidentais de forma a evitar que a Ucrânia fosse dominada pela influência russa. A Polónia com o fim da Guerra Fria aproximou-se das instituições ocidentais, nomeadamente a Organização do Tratado do Atlântico Norte e a União Europeia e procurou fazer com que a Ucrânia fizesse o mesmo. A Polónia utilizou a sua entrada

(8)

2 para a União Europeia como um instrumento para projectar a sua política externa, em especial no que toca à Ucrânia. Apesar da crescente proximidade entre a Ucrânia e a União Europeia existe um revês, a anexação da Crimeia pela Rússia. Tendo a Ucrânia um papel tão fulcral na segurança polaca enquanto elemento central que afasta a Rússia das fronteiras polacas, este acontecimento representa um grande ameaça para a Polónia. Como tal a Polónia teve uma reação e adoptou um posicionamento consideravelmente diferente do dos restantes Estados europeus.

A Polónia adoptou uma posição de alerta chamando à atenção para o perigo do ressurgimento do imperialismo russo, e como tal procurou no âmbito da União Europeia e junto dos Estados europeus apoio para a aplicação de medidas punitivas contra a Rússia. Ao contrário do posicionamento polaco, os restantes Estados-europeus responderam aos acontecimentos na Ucrânia com uma posição mais moderada, procurando preservar o seu relacionamento com a Rússia. Do ponto de vista polaco as sanções económicas e diplomáticas aplicadas pela União Europeia eram insuficientes, defendendo a aplicação de medidas mais punitivas. No entanto os restantes Estados europeus não apoiavam o aprofundamento das sanções a Moscovo. A forma como a anexação da Crimeia é vista varia de Estado para Estado, visto que nem todos atribuem a mesma prioridade que a Polónia atribui aos acontecimentos que se desenvolviam na Ucrânia. Enquanto que na Polónia estes acontecimentos ocupavam um papel central na política externa polaca o mesmo não acontece na maioria dos Estados, que atribuíram a esta temática um papel secundário, o que fez com que a União Europeia adoptasse um posicionamento igualmente moderado. Como tal, a tese foca-se em analisar a reação polaca face à anexação da Crimeia e enquadra-a no contexto europeu e analisa de que forma o comportamento polaco se distinguiu da dos restantes Estados europeus. Para responder à pergunta de partida estabelecida a dissertação vai focar-se numa primeira fase na realização de uma pequena análise teórica que se foca no estudo da relação entre a identidade nacional e a política externa. O passado histórico polaco, em torno do qual se formou a identidade nacional polaca, influenciou a formação da política externa polaca no contexto pós-Guerra Fria, como tal é importante realizar uma pequena análise teórica à forma como a identidade nacional está ligada à política externa.

(9)

3 Após ter sido feita a análise teórica, o foco da dissertação vai incidir na análise do contexto regional em que a Polónia se insere, onde será estudado o contexto geopolítico em que a Polónia se enquadra complementado com a análise à forma como a Polónia se relaciona com os Estados do antigo bloco soviético. Sendo a Rússia um importante actor internacional com uma forte capacidade de influência na Europa Central e do Leste importa fazer uma análise ao relacionamento entre a Moscovo e Varsóvia. E, sendo a Polónia um Estado-membro da União Europeia importa fazer igualmente uma pequena análise à forma como as Instituições Europeias se enquadram na Europa do Leste e como é que a própria Polónia agiu no seu seio para promover os seus valores e objetivos de política externa.

Sendo o foco da dissertação responder à forma como a Polónia reagiu e se posicionou face à anexação da Crimeia importa realizar uma análise profunda à política externa polaca desde o fim da Guerra Fria. Como a pergunta de partida se refere a um acontecimento no Estado ucraniano importa analisar o papel central que Kiev assume na política externa polaca e qual a política que a Polónia desenvolveu para Kiev, assim como estudar a evolução do relacionamento entre os dois Estados. Desta forma será possível analisar futuramente como é que a política externa polaca foi afectada pela anexação da Crimeia levando a Polónia a adoptar uma determinada postura face à anexação.

Por fim importa fazer uma análise ao próprio acontecimento da anexação da Crimeia a partir do qual será estudada a forma como a Polónia reagiu, as consequências que teve para a Polónia e a forma como afectou o seu relacionamento com a Ucrânia. Ocupando a Ucrânia um lugar central na política polaca importa avaliar de que forma é que a Polónia foi afectada por este acontecimento, e da mesma forma analisar de que forma é que reagiu. Esta análise vai servir, primeiro, de base para poder ser feita uma comparação entre a forma como a Polónia reagiu e os restantes Estados europeus reagiram. E em segundo, tendo em conta a analise anteriormente feita ao contexto regional em que a Polónia se insere, identificar a forma como a Polónia foi afectada por este acontecimento.

Em último lugar importa analisar a anexação da Crimeia no contexto da União Europeia. Sendo a Polónia um Estado-membro e estando a sua política enquadrada na

(10)

4 política europeia torna-se importante estudar como é que a anexação da Crimeia foi abordada e mais importante, analisar como é que os principais Estados-membros e os principais parceiros europeus da Polónia, viram a questão da anexação da Crimeia. A abordagem destes temas vai permitir comparar o comportamento da União Europeia e de alguns dos Estados que a compõe com o comportamento da Polónia, deixo a nota de que a forma como os restantes Estado-membros da União Europeia analisam a questão ucraniana, influencia a forma como a temática é colocada nas Instituições Europeias e qual a resposta que é dada. A partir desta análise será possível responder à pergunta de partida ao analisar de que forma é que o comportamento polaco se distinguiu dos restantes Estados e também apresentar a forma como a Polónia reagiu na União Europeia face à Anexação da Crimeia.

A realização de uma análise mais aprofundada a este tema prende-se com o facto da Polónia ser um dos Estados mais importantes do alargamento de 2004, dado o seu posicionamento geográfico central no coração da Europa, quer por causa da sua dimensão e população que fazem dela um elemento central na política europeia. A Polónia vê a União Europeia como um instrumento que lhe permite reforçar a sua identidade europeia e projectar o seu posicionamento no contexto internacional, o que faz com que seja importante realizar-se uma análise à forma como a Polónia agiu nas Instituições Europeias no contexto da Anexação da Crimeia e analisar como é que o seu comportamento se distinguiu do dos restantes Estados.

(11)

5

2. A Identidade Nacional e a Política Externa

De forma a dar resposta à pergunta de partida apresentada na Introdução, é necessário realizar uma análise à política externa polaca e ao contexto em que esta se insere, no entanto, importa numa primeira fase realizar uma pequena abordagem teórica à forma como a identidade nacional afecta a política externa, visto que a reação polaca à anexação da Crimeia teve por base a visão que esta tem do seu contexto securitário, em especial pelo facto de a Rússia ser vista como uma ameaça securitária. Com o que foi referido, neste primeiro capítulo vai ser realizada uma análise teórica à forma como a identidade nacional e a política externa estão ligadas.

Os Estados para defenderem os seus interesses no contexto internacional, definem uma política externa na qual estabelecem os seus objectivos e os meios para os atingirem. No entanto, a forma como os Estados reagem a um determinado acontecimento não deriva diretamente da sua política externa, mas sim da sua identidade nacional. A própria formulação da política externa de um Estado deriva daquilo que é a sua identidade nacional, visto que esta é definida com vista a proteger aquilo que consideram ser a sua identidade. Desta forma, a identidade nacional de cada Estado funciona como elemento base para a formação da sua política externa, sendo esta que posteriormente define a forma como os Estados se comportam no contexto internacional.

Os vários autores que abordam a temática da identidade nacional e o seu impacto na política externa destacam a importância desta abordagem teórica visto que “We can not know what we want if we do not know who we are” (Chafetz, Spirtas e Frankel, 2007: XVI). Um Estado não pode agir nem decidir em função dos seus interesses sem saber ‘quem é’, sem isso não consegue definir quais são os seus interesses, estabelecer os seus objectivos e analisar de que forma é que os acontecimentos internacionais afectam o contexto em que se inserem, para depois poder responder através da sua política externa “this conceptual lents through wich foreign policy-makers

perceive international relations tends to set the norm for what is considered by themselves as ‘rational’ foreign policy-making” (Aggestam, 2004 ).

(12)

6 Ao estudarmos a identidade nacional enquanto elemento que se interliga com a política externa de um Estado, analisamos o conceito enquanto “identity in what follows

refers exclusively to the collective self-image of groups, specifically that of the nation-state” (Legro, 2009:40). A identidade nacional é analisada enquanto a imagem que a

população de um Estado tem sobre aquilo que é e perante isso, estabelece quais são os seus interesses e objectivos de forma a preservar a sua identidade e garantir a sua segurança. Por sua vez, a política externa define-se por “Public policy lays out courses of

action for government and its various agencies. Foreign policy refers, broadly, to attempts by governments to influence or manage events outside the state’s borders, usually, but not exclusively, through their relations with foreign governments. Foreign policy-making involves the establishment of goals and the selection of means to achieve them” (Heywood, 2011:129). A política externa foca-se na definição dos objectivos,

sendo que estes são construídos com base na identidade nacional do Estado, e na forma como estes serão atingidos.

A identidade nacional, à semelhança da política externa, caracteriza-se por ser um elemento estável pois serve de base para a orientação da política externa de um Estado (Chafetz, Spirtas e Frankel, 2007:XI), como tal, não pode sofrer alterações constantemente. No entanto, Lisabeth Aggestam não deixa de destacar que apesar do seu carácter de estabilidade, a identidade nacional sofre ao longo do tempo algumas alterações, quase como readaptações, “National identity is not fixed or stable: it is a

continuing exercise in the fabrication of illusion and the elaboration of convenient fables about who ‘we’ are” (Aggestam, 2004), e não deixa, sob algumas circunstâncias, de

poder ser alterada de forma radical.

Sendo a identidade nacional um elemento central no desenvolvimento da política externa dos Estados importa percebermos como é que esta se forma, sendo um dos seus principais elementos o factor social, ou seja, o contacto com o ‘outro’, “Through

social interaction, actors create values, norms, beliefs, role conceptions, attitudes, stereotypes, and other cognitive, affective, and motivational phenomena which become embodied in and, as a consequence, change the actor’s psychology” (Chafetz, Spirtas e

Frankel, 2007: X). É o contacto com o ‘outro’, enquanto entidade com características distintas, que permite a construção do ‘nós’ em torno das características que unem o

(13)

7 grupo e o tornam diferente do ‘outro’ que servem de base para a formação da identidade nacional.

Para além do factor social, importa igualmente realçar os elementos não sociais “such as size, race and language, wich strongly resist change, often provide specific

identity cues to actors which affect the perceptions of both the actors toward others and others toward the actor” (Chafetz, Spirtas e Frankel, 2007: XI). Dentro destes factores

Amy Gurowitz defende que o passado histórico tem um grande impacto na formação da identidade de uma comunidade “We can normally trace these identities back through

history to formative events such as the process of nation-building, major wars, and major changes in status (i.e. from a developing to a developed state, or a colonized to an independent state)” (Gurowitz, 2006:311). As características não socias têm um grande

impacto na criação da identidade nacional, visto que estas marcam com especial impacto a forma como a população entende quais é que são as ameaças assim como os seus interesses, estabelecendo a partir daí, no âmbito da política externa os seus objectivos e os meios para os atingirem. Existe uma importante ligação entre a identidade nacional e o conceito de segurança “Both identity and security are relational

concepts that imply the existence of an ‘other’ against which the notion of a collective self and conditions of insecurity are articulated” (Aggestam, 2004).

Ao analisarmos o que é a identidade nacional podemos constatar a sua ligação à política externa, visto que esta serve de ponto de partida para o Estado analisar e priorizar a informação que recebe de forma a perceber se esta o afecta ou não. Caso esta o afecte, são decididas que medidas adoptar no contexto da política externa de forma a preservar a sua identidade e proteger os interesses que dela derivam, “The

identity is a mental construction that both describes and prescribes how the actor should think, feel, and, ultimatly, behave in group-revelant situations” (Chafetz, Spirtas e

Frankel, 2007: VII). Os autores Glenn Chafetz, Michael Spirtas e Benjamin Frankel demonstram a relação entre a identidade nacional e a política externa ao defenderem que a “identity can be used to show how states with particular historical and cultural

backgrounds adopt a particular norm” (2007:XVII), estes autores arguem que elementos

como o passado histórico de uma comunidade influenciam a formação da identidade nacional afectando a receptividade de normas internacionais e a formulação da política

(14)

8 externa do Estado. O mesmo se sucede com os acontecimentos internacionais, consoante a sua identidade nacional os Estados analisam se tal representa ou não uma ameaça ou se é ou não uma temática prioritária.

Os autores acima referenciados não são os únicos a defender a ligação directa que existe entre a identidade nacional e a política externa, a autora Amy Gurowitz defende igualmente a existência de uma ligação afirmando que “These identities in turn

provide what Reus-Smit (1997, 565) calls reasons for action in a purposive sense and in a justificatory sense. In a purpositive sense, identity is the primary source of plans of action; it defines not only the means but also the goals. In a justificatory sense it ‘provide[s] the basis on which action can be rationalized” (Gurowitz, 2006:311). A

identidade nacional serve como base para definir quais os objectivos, é o que justifica a tomada de certas decisões em prol de outras e serve de justificação para os comportamentos adoptados por um Estado. No entanto, a identidade nacional não diz porque meios se atingem esses objectivos “Identity may indeed shape the interest and

perspectives of actors, but that does not mean it inform actors how to achive interests”

(Legro, 2009:40), a forma como os objectivos são atingidos já recai sobre a alçada da política externa.

Desta forma, podemos concluir que a identidade nacional ocupa um papel central na definição da política externa de um Estado, visto que esta serve de base para a definição daquilo que é uma ameaça e os interesses do Estado, mas também de quais é que são os objectivos a serem atingidos pela política externa. A identidade nacional ao regular a forma como os Estados analisam determinados acontecimentos e normas internacionais condiciona a forma como os Estados se comportam no contexto internacional, o que faz com que os Estados reajam de maneiras diferentes perante as mesmas circunstâncias.

Com base na análise realizada à ligação entre a identidade nacional e a política externa dos Estados, e tendo em conta que a Polónia é marcada por um passado histórico com constantes invasões, repartições e um constante sentimento de insegurança face à ameaça russa, o que influenciou a formação da identidade nacional da Polónia, podemos concluir que estes acontecimentos contribuíram para uma política

(15)

9 externa muito especifica e uma reacção muito particular relativamente aos acontecimentos que se desenvolveram na Ucrânia.

(16)

10

3. Contexto Regional

3.1. O posicionamento geopolítico da Polónia

O primeiro subcapítulo terá como foco a inserção regional da Polónia, de forma a que seja possível perceber o porquê da Ucrânia assumir um papel central na política externa polaca. Numa fase inicial, o foco passa pelo estudo do posicionamento geopolítico em que a Polónia se insere de forma a que possam ser analisadas as suas vulnerabilidades. Posteriormente, será feita uma análise à forma como a Polónia se relaciona com o antigo espaço soviético uma vez que tal influência o seu contexto securitário. Posteriormente será também feita uma análise à importância geopolítica da Ucrânia e o porquê de esta se revestir de uma grande importância para o contexto geopolítico polaco. Para complementar a caracterização do contexto regional em que a Polónia se insere, nos seguintes subcapítulos será feita uma análise ao relacionamento da Polónia com a Rússia, dada a importância que tem na região e a nível internacional, e pelo papel que desempenha no âmbito da anexação da Crimeia. E, fazendo a Polónia parte da UE, este capítulo focar-se-á igualmente na caracterização da relação entre a UE e a Europa do Leste.

A formulação da política polaca foi ao longo da história influenciada pela posição geopolítica da Polónia. Situada na Europa Central, a Polónia desenvolveu-se entre dois poderosos impérios, o russo e a poderosa Prússia, que em 1871 deu lugar à Alemanha. A geografia do território polaco é sem dúvida muito ingrata “le pays doit d’abord

compasser avez l’absence de véritables protections naturelles” (Dwernicki, 2000:5),

deixando o Estado polaco sem qualquer protecção contra possíveis invasões inimigas. A falta de protecções naturais e a grande exposição aos ataques inimigos contribuíram para que se desenvolvesse no consciente polaco um constante sentimento de insegurança e de desconfiança face aos Estados vizinhos, como a Alemanha, com a qual após a dissolução do muro de Berlim se reconciliou, e em especial a Rússia (Zając, 2016:5). A localização central da Polónia no ‘coração da Europa’ é vista por muitos como vantajosa uma vez que faz da Polónia um importante elo de ligação entre o Ocidente e o Leste europeu, mas tem igualmente as suas desvantagens, visto que coloca a Polónia entre a Alemanha e a Rússia (Zając, 2016:2). Durante uma grande parte da história polaca, a sua localização geográfica fez com que “Poland’s fate was to a high degree a

(17)

11

function of Russo-German relations” (Zając, 2016:2), o que contribuía para a

vulnerabilidade das fronteiras polacas a qualquer mudança no panorama internacional (Dwernicki, 2000:6).

A vulnerabilidade da posição polaca deriva igualmente da sua dificuldade em encontrar aliados num território em que se cruzam civilizações antagónicas, “foyer

d’une nation slave occidentale latinisée par le catholicisme, les terres polonaises sont situées à la croisée de mondes à la fois antagonistes et hostiles à son égard” (Dwernicki,

2000:10), alias “À l’ouest et au sud s’étendent les États germaniques, três influencés par

le protestantisme (…) À l’est, l’horizon est borné par les Slaves orientaux de confession orthodoxes formant aujourd’hui la Russie moscovite, la Russie blanche (biélorussie) et la Petite Russie (Ukraine). (…)Au large de son horizon marin, enfin, vivent des peubles scandinaves qui, dans l´histoire, se sont avérés plus souvent adversaires qu’alliés des Polaines” (Dwernicki, 2000:10), sendo o seu único possível aliado a Lituânia, Estado com

o qual tem um passado comum.

Importa ainda destacar uma última característica, a geopolítica polaca torna-a tanto num estado-tampão como num excelente ponto de comunicação entre a Europa. A posição do território polaco “occupe une place centrale sur le principal axe

géostratégique européen, l’ axe ouest-est, qui parcourt les grands plaines de notre continente” (Rosciszewski, 1996: 124), sendo que é através do território polaco que se

faz a ligação aos diferentes territórios europeus, constituindo-se por isso como um importante ponto de passagem. No entanto, a Polónia assume igualmente as caraterísticas de um Estado-tampão, isto porque, quem controlar a Polónia consegue bloquear um importante ponto de comunicação na Europa. Esta característica, teve especial importância para a URSS “la Pologne était alors décrite comme appartenant

bien à l’Europe centrale mais avec une fonction de barrière… slave contre l’impérialism germano-américain” (Dwernicki, 2000:12).

Por último, a faixa marítima polaca no mar Báltico sofreu várias alterações ao longo da sua história, por um lado tinha os seus benefícios, nomeadamente económicos, mas expunha igualmente o território polaco a possíveis avanços dos Estados mais a norte do mar Báltico, em especial por parte da Suécia (Dwernicki, 2000: 19). A partir de 1992 a Polónia adotou uma nova atitude face ao Báltico, e em conjunto com os outros

(18)

12 Estados do Mar Báltico formam o Conselho dos Estados do Mar Báltico que tem como objectivo promover a cooperação entre si nos assuntos em comum.

Com o fim da Guerra Fria e a posterior dissolução da URSS, o panorama geopolítico polaco alterou-se de forma considerável tornando-se mais favorável, sendo que a própria Polónia procurou também alterá-lo. Com a dissolução da URSS, a Polónia tornou-se num ‘middle power’ da Europa Central e do Leste (Zając, 2016:2) e promoveu a sua “geostrategic location that makes its position of militar siginificant” (Zając, 2016:2) enquanto ponto de comunicação entre as instituições ocidentais e os novos Estados que emergiam das repúblicas soviéticas.

Apesar da Polónia manter a sua vulnerabilidade geopolítica, esta procurou diminui-la, através da reconciliação com a Alemanha e com a Rússia, com o estabelecimento de uma relação equilibrada e com base no tratamento igual entre os Estados, não deixando de assegurar a separação entre si e a Rússia através de um “«cordon sanitaire» formé des États baltes, biélorusse et ukrainien et dispose donc d’un

bouclier spatial réel” (Dwernicki, 2000:13). Neste contexto, a Polónia aproximou-se das

instituições ocidentais e tornou-se membro da UE e da OTAN com o intuito de aumentar a segurança das suas fronteiras, ainda que estas tenham continuado muito expostas, isto porque, a fronteira polaca corresponde à fronteira externa tanto da UE como da OTAN (Zając, 2016:5). De forma a fortalecer a sua posição nas Instituições Europeias e enquanto elemento estabilizador da Europa Central e do Leste, a Polónia procurou novos aliados na Europa, em especial a Alemanha e a França, e fora dela, estabeleceu uma aliança com os EUA, “une coopération étroite de lá Pologne avec les Etats-Unis et

les structures occidentales met fin à toute tentative de reconstruction de l’ influence hégémonique russe” (Bielen, 2011: 3).

3.1.1. A relação da Polónia com o antigo espaço soviético

Face à perceção de ameaça russa e às suas características geopolíticas, a Polónia via na Europa do Leste uma possível defesa face a um novo expansionismo russo e por isso procurou desenvolver uma relação de proximidade para com estes Estados, em especial com aqueles que agora emergiam da dissolução da URSS, com o intuito de mitigar as suas fragilidades geopolíticas. Desta forma, a Polónia focou-se em

(19)

13 desenvolver uma relação de proximidade em especial com a Lituânia, Bielorrússia e futuramente, como será analisado, com a Ucrânia.

Até ao ano de 1989 o relacionamento polaco com os restantes Estados do espaço soviético era feito segundo a controlo da URSS, com o reconquistar da sua ‘independência’ e a dissolução da URSS, nasce um novo conjunto de Estados com os quais a Polónia tinha e tem todo o interesse em estabelecer um bom relacionamento. A emergência desta nova realidade no antigo bloco soviético, em conjunto com a nova capacidade de decisão política polaca deu início a um novo capítulo no relacionamento entre os Estados desta região e a Polónia.

Ao observarmos o antigo espaço soviético deparamo-nos com dois tipos diferentes de Estados, os Estados satélites, que apesar de serem Estados independentes estavam sob o controlo da URSS, e os Estados que nasceram em resultado da dissolução da URSS. Os primeiros correspondem à Polonia, Bulgária e Checoslováquia, que posteriormente deu lugar à República Checa e à Eslováquia, Roménia e Hungria. Deste grupo de Estados importa destacar a Hungria, República Checa e a Eslováquia, uma vez que, em conjunto com a Polonia, criaram em 1991 o Grupo de Visegrado. Os quatro Estados partilhavam os mesmos objectivos no cenário pós-guerra fria e por isso aprofundaram a sua relação no âmbito multilateral que resultou na criação do Grupo de Visegrado, que tinha como principal objectivo “cooperation concerned the two key

foreign policy objectives of the time – dissolution of the Soviet-era security and integration structures and accession to the EU and NATO” (Dangerdfield, 2011: 1737).

Em 1999 estes Estados tornaram-se membros da OTAN, à excepção da Eslováquia que só entra em 2004, ano no qual os quatro Estados do Grupo de Visegrado tornam-se membros da UE. Os restantes Estados acima mencionados optaram igualmente por uma aproximação às instituições ocidentais e tornaram-se também eles membros da OTAN e da UE. Desta forma, o relacionamento polaco com estes Estados é feito sobretudo no âmbito da UE e da OTAN, ainda que existam igualmente relações a nível bilateral e no próprio âmbito do Grupo de Visegrado.

Relativamente aos Estados que resultaram da dissolução da URSS, estes ocuparam um papel central nas preocupações polacas, visto que era necessário construir um relacionamento positivo com estes novos Estados de forma assegurar

(20)

14 estabilidade na região e garantir a segurança polaca. Da dissolução da URSS emergiu a Rússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Geórgia, Moldávia, Bielorrússia, Ucrânia, Arménia, Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Turquemenistão e Uzbequistão. No que toca à Rússia, o relacionamento com a Polónia vai ser abordado de forma individual dada a sua importância no contexto internacional. A Estónia, Letónia e Lituânia, à semelhança da Polónia, seguiram igualmente o caminho da ocidentalização tornando-se membros tanto da OTAN como da UE, desta forma, o relacionamento entre a Polónia e estes três Estados bálticos é maioritariamente feito no âmbito destas instituições.

Os restantes Estados do antigo espaço soviético inicialmente relacionavam-se com a Polónia a um nível bilateral, tendo tal alterado-se com a entrada da Polónia para a UE e a criação em 2009 da Parceria Oriental. A criação da Parceria Oriental tinha como objectivo fomentar um ambiente de cooperação entre a UE e os Estados do antigo Bloco Soviético, sendo eles a Arménia, o Azerbaijão, a Moldávia, a Geórgia, a Bielorrússia e a Ucrânia. A relação da Polónia com o antigo espaço soviético passou a ser feita segundo as políticas definidas pelas Instituições Europeias no âmbito da Parceria Oriental.

No entanto, importa dar especial atenção e abordar mais aprofundadamente o relacionamento polaco-lituano e polaco-bielorrusso, uma vez que a Lituânia em conjunto com a Bielorrússia e a Ucrânia constituem um eixo central na política externa polaca, no âmbito da Doutrina ULB (Zając, 2016: 49)1. O relacionamento

polaco-ucraniano, será abordado posteriormente e de forma mais detalhada em resultado da importância que a Ucrânia tem para o panorama securitário (Kuzniar, 2001:52) da Polonia.

Lituânia

A Lituânia é um dos Estados com o qual a Polónia faz fronteira e apesar de não ter a importância securitária da Ucrânia ou a Bielorrússia, “the settlement of relations

with Lithuania was of considerable importance for the image of Poland and her situation in the region” (Kuzniar, 2001:54). Os dois Estados partilham um passado comum, os dois

1 ULB – Ucrânia, Lituânia, Bielorrússia.

Conhecida igualmente pela Douctrina Giedryc-Mieroszewski, defendia que a segurança polaca estava dependente da independência destes três Estados (Zając, 2016: 49);

(21)

15 fizeram parte da Commonwealth Polaco-Lituana até esta ter sido dividida no século XVII. A Lituânia só recuperou a sua independência em 1990 e apesar da Polónia ter apoiado as forças independentistas lituanas2, só em 1992 é que foi feita uma declaração sobre

as relações bilaterais entre os dois Estados, e em 1994 é assinado um tratado sobre o relacionamento bilateral entre os dois Estados (Kuzniar, 2001:54).

Inicialmente, a construção do relacionamento entre os dois Estados não foi fácil, em consequência da minoria polaca existente no território lituano, algo que representa uma fonte de atrito entre os dois Estados (Vaščenkaitė, 2014: 76). A normalização do relacionamento entre Varsóvia e Vilnius só foi possível quando ambos “ont affirmé le

même but de politique extérieure, à savoir être admis dnas l’union Européene et l’OTAN”

(Dwernicki, 2000:108) e reconheceram a necessidade de cooperar entre si, em especial para garantir a sua integração nas Instituições Europeias. Importa realçar que os dois Estados reconheceram que “due to geographical proximity and common security

threats, Lithuania and Poland continue to play an exclusive role in each other’s security architecture” (Vaščenkaitė, 2014:81), a Polónia e a Lituânia partilham o mesmo contexto

geopolítico, ambos fazem fronteira com a Rússia, através da fortemente armada província de Kaliningrado, e com uma Bielorrússia dominada pela influência russa (Dwernicki, 2000:108). Tanto a Polónia como a Lituânia viam uma na outra uma parceira estratégica essencial para garantir a sua segurança, por isso, em 1994 os dois Estados assinaram um acordo bilateral direcionado para a área da defesa, o Inter-Govermental

Agreemment on Defense Cooperation, que previa a criação de uma força conjunta

apelidada de LITPOLBAT3. A formação da aliança entre a Polónia e a Lituânia tinha como

objectivo “counterbalancing Russia’s influence in Central and Eastern Europe and the EU

Eastern neighbourhood” (Vaščenkaitė, 2014:78). A Polónia foi o primeiro dos dois

Estados a tornar-se membro da UE e da OTAN, a partir daí, a Lituânia passou a ver a Polónia como um parceiro essencial para a sua segurança e em especial para a sua aproximação às instituições ocidentais (Pukšto, Karpavičiūtė e Norkevičius, 2014: 129).

2 Em 1991 durante o ataque por parte das tropas soviéticas a Vilnius o ministro dos negócios estrangeiros

lituano ficou em Varsóvia para caso fosse necessário criar-se um governo em exilio; (Kuzniar, 2001:54);

(22)

16 Após a entrada para a UE e a sedimentação das suas posições nas instituições ocidentais, os dois Estados seguiram caminhos diferentes. A Polónia com a chegada de Donald Tusk ao poder desvalorizou a importância estratégica da Lituânia “Warsaw does

not find in Vilnius either strategic partner or a significant ally in the EU and NATO any longer” (Pukšto, Karpavičiūtė e Norkevičius, 2014: 133), algo que resultou no afastamento entre os dois Estados. A Lituânia aproximou-se dos Estados-membros nórdicos e a Polónia alinhou-se à França e Alemanha, com os quais tinha uma elevada proximidade no âmbito do Triângulo de Weimar (Pukšto, Karpavičiūtė e Norkevičius, 2014: 117)4.

Bielorrússia

A Polónia foi um dos primeiros Estados a reconhecer a independência da Bielorrússia e procurou desde logo estabelecer uma relação com o recém-formado Estado da Bielorrússia através da assinatura de vários tratados bilaterais5 que previam o

estabelecimento de uma relação de cooperação entre Varsóvia e Minsk. No contexto securitário e geopolítico da Polónia a “Belarus constitutes a prolongation of Russia

towards west, wich means that Poland actuallly borders with Russia not just at the nort”

(Kuzniar, 2001: 54), tornando-se por isso essencial para a Polónia influenciar a orientação política da Bielorrússia de forma a que esta se tornasse num aliado (Shadurski, 2017:47). No entanto, apesar das relações entre Varsóvia e Minsk terem tido um início promissor, existiam vários factores que dificultavam a construção de uma relação entre os dois Estados, nomeadamente a minoria polaca que existia na Bielorrússia, a indefinição de alguns pontos da fronteira entre os dois Estados, a crescente proximidade que existia entre a Bielorrússia e a Rússia e a implementação de um regime autoritário liderado por Alenksandr Lukashenko.

A Polónia e a Bielorrússia acabaram por seguir direções totalmente opostas, “Poland invested most of its foreign policy efforts on integration into the EU and NATO,

4 O Triângulo de Weimar foi criado em 1991 entre a França, Alemanha e a Polónia, tinha como principal

objectivo aplicar o mesmo modelo de reconciliação que houve entre a França e a Alemanha no relacionamento entre a Polónia e a Alemanha, visava preparar igualmente a candidatura e entrada da Polónia para a UE (France Diplomatie);

5 Declaration on Good Neighbourliness, Mutual Understanding e Treaty on Good -Neighbourliness and friendly Cooperation;

(23)

17

while Belarus sought deeper relations with Russia” (Yeliseyeu, 2017: 160) tornando-se

num dos seus aliados mais próximo. O agudizar das relações polaco-bielorrussas foi-se agravando cada vez mais e em 1996 “Poland adopted a statement in wich the Belarusian

reallity was criticized” (Shadurski, 2017:47), a Polónia acusava a liderança bielorrussa de

ser antidemocrática e de ser um elemento causador de instabilidade na região. O distanciamento entre os dois Estados continuou a aprofundar-se com a entrada da Polónia para a UE e OTAN e a entrada da Bielorrússia para a Union State Belarus and

Russia6. Ao entrar para a UE, a Polónia continuou com uma política de criticismo à

Bielorrússia e em conjunto com os seus parceiros europeus financiou grupos oposicionistas ao governo de Lukashenko e começou a aplicar sanções a vários elementos da elite bielorrussa.

Em 2008 a Bielorrússia é convidada a participar na Parceria Oriental, o que contribuiu para uma reaproximação à Polónia. As eleições presidenciais de 2010 voltaram a afastar a Polónia e a Bielorrússia, a UE aplicou novamente sanções à Bielorrússia, que tiveram um grande apoio por parte da Polónia resultando numa crise diplomática na qual a Bielorrússia pede a saída do Representante da UE em Minisk e do embaixador polaco (Shadurski, 2017:48)7.

A partir de 2012 a Bielorrússia procurou melhorar o seu relacionamento com a UE e consequentemente com a Polónia, sendo que após a anexação da Crimeia, Minsk tornou-se num local de negociações ganhando algum prestígio no seio da UE (Shadurski, 2017:49). Ainda assim, continua a existir uma relação de amistosidade entre os dois Estados, a Polónia não soube reconhecer a escolha pró-russa por parte da Bielorrússia e a partir daí construir uma relação de cooperação.

O relacionamento da Polónia com os Estados do antigo bloco soviético difere consoante a posição que cada um tem no actual contexto europeu, a maioria tornou-se membro da UE e da OTAN, tal como a Polónia, passando assim a reger as suas relações através das Instituições Europeias. O relacionamento com os Estados não-membros passou a ser feito segundo as directivas europeias, no âmbito da Parceria Oriental, ainda

6 A Union State of Belarus and Russia foi criada em 1996 e tinha como objectivo a construção de uma zona

económica comum, e no futuro transformar-se numa confederação (Zulys, s/d: 150);

(24)

18 assim, a Polónia continuou a dar especial atenção aos Estados que a dada altura lhe foram ou são mais importantes a nível securitário, a Lituânia, a Bielorrússia e futuramente como será analisado a Ucrânia.

3.1.2. A importância geopolítica da Ucrânia

Uma vez que o foco da dissertação se centra na anexação da Crimeia, importa desenvolvermos as razões que fazem com que a Ucrânia tenha uma importância geopolítica tão grande, de forma a que futuramente seja possível analisar as razões pelas quais Kiev ocupa um lugar central na agenda polaca.

O território ucraniano foi ao longo da história alvo de disputas entre a Polónia e a Rússia em função da sua posição estratégica e vantagens geopolíticas que apresenta. Tanto a Rússia como a Polónia sabiam que o controlo do território ucraniano concedia-lhes vantagens securitárias e reduzia as suas vulnerabilidades geopolíticas. Zbigniew Brzezinski, no livro The Grand Chessboard destaca a importância geopolítica do território ucraniano e apelida-o de pivot geopolítico8 “states whose importance is derived not from their power and motivation but rather from their sensitive location and from the consequences of their potentially vulnerable condition for the behavior of geostrategic players” (Brzezinski, 1997: 41). Os pivôs geopolíticos são determinados não pela sua

capacidade em alterar o contexto regional ou porque são uma fonte de poder e influência, mas sim pelas suas características geográficas, são territórios que servem como zona de acesso a um outro território ou como barreira ao avanço de um inimigo, ou até mesmo porque possuem importantes recursos do ponto de vista de uma potência (Brzezinski, 1997: 41).

Parte da importância geopolítica que se atribui à Ucrânia deriva da sua grande extensão territorial que engloba uma população com cerca de 42 milhões de pessoas e um vasto território rico em terras agrícolas. A posição geográfica do território ucraniano é igualmente importante pois ocupa uma posição central na geografia europeia, “its

strategically important location as a littoral state on the Black Sea and a border state of

(25)

19

several EU member states, and its role as a transit country for Russian oil and gas (Girgin,

2015; 21).

A Ucrânia tem igualmente uma posição geográfica muito sensível, enquanto território que liga o ocidente e o leste europeu, tornando-se especialmente importante para a Rússia, porque é através dele que Moscovo assegura a sua presença na Europa (Asmus, 2002: 156), “Russia without Ukraine can still strive for imperial status, but it

would then become a predominantly Asian Imperial State” (Brzezinski, 1997:46), sem a

Ucrânia a Rússia perde a sua identidade europeia. O território ucraniano serve como porta de entrada da Rússia para a Europa e funciona como um posto avançado que permite à Rússia estender o seu poderio para lá das sua fronteiras em direção à Europa do Leste e posteriormente central (Kuzniar, 2001: 52). Tanto para a Polónia, como será analisado posteriormente, como para a Rússia, a Ucrânia constitui-se como um Estado-tampão que impede a passagem de influências do ocidente para leste e vice-versa. Um Estado- tampão (buffer-State) define-se pela sua localização geográfica sensível, visto que se encontra entre dois polos de poder “is lying between two or mor competing powers or their sphere of influence or between rival greater power blocks”(Hafeznia, 2013:6). A sua importância geográfica e localização faz com que os Estados mais poderosos queiram garantir o seu domínio no território ou pelo menos garantir a sua influência na política destes Estados. Os Estados que detêm estas características podem adoptar diferentes estratégias na sua política externa de forma a garantir a sua independência “(balacing, bandwagoning, leaning to a third power, staying neutral or hedging risks) to sustain its survival as an independent state”(Efremova, 2019:100). Importa ainda acrescentar que em alguns casos estes Estados podem ainda ser vistos como pontos de comunicação entre vários polos de poder (Efremova, 2019:108).

O território ucraniano reveste-se igualmente de uma grande importância a nível militar enquanto Estado-tampão e em especial, enquanto Estado costeiro do mar Negro, sendo este um dos elementos mais valiosos da geopolítica da Ucrânia, sendo que o acesso ao mar Negro é feito através da península da Crimeia. Após a dissolução da URSS e a independência da Ucrânia, a Rússia ficou restringida no que toca aos acessos ao mar. A península da Crimeia ficou sob domínio ucraniano e a base de Sebastopol passou a constituir um dos poucos acessos da Rússia ao mar. Importa ainda referir que a Rússia

(26)

20 ao assegurar o acesso ao Mar Negro “greatly enhances the projection of power into several adjacent regions. Indeed, dominating the Black Sea would allow Russia to project power toward the Eastern Mediterranean, the northern Middle East, the South Caucasus, and to the rest of mainland Europe” (Chong, 2017).

Face a estas características, a Ucrânia torna-se num território extremamente importante a nível geopolítico, estando por isso no centro de atenções por parte das principais potências europeias, em especial a Rússia, mas também dos Estados do antigo espaço soviético que vêm na Ucrânia a possibilidade de bloquear o desenvolvimento de uma política expansionista por parte da Rússia.

3.1.2.1. A importância geopolítica ucraniana para a Polónia

Tal como foi abordado anteriormente, a geopolítica polaca apresenta inúmeras vulnerabilidades, fazendo com que a Ucrânia, em função das suas características geopolíticas se torne muito importante para o contexto securitário polaco.

Para a Polónia é essencial a manutenção da independência da Ucrânia e o seu afastamento da Rússia, uma vez que a “Ukraine loss of independence would have

immediate consequences for Central Europe, transforming Poland into the geopolitical pivot on the eastern frontier of a united Europe” (Brzezinski, 1997: 46). A Polónia sem

uma Ucrânia independente tornar-se-ia num pivot geopolítico, passaria a ter uma fronteira direta com Moscovo9, passando a estar diretamente exposta à influência e

poderio russo, aliás tornar-se-ia quase impossível a existência de uma Polónia verdadeiramente independente (Zając, 2016: 140). Por esta razão, a Polónia seguiu de perto os acontecimentos que antecederam a independência da Ucrânia, apoiou os movimentos independentistas e fomentou a transformação da Ucrânia numa democracia que seguisse os valores ocidentais. Ao garantir por si só a independência da Ucrânia, esta passaria a servir “as a buffer separating Russia from Poland and Europe,

deflecting any possible threat from Russia”(Draus, 2011:56), a Ucrânia tornar-se-ia num

Estado-tampão que bloqueia o avanço da Rússia para a Europa.

(27)

21 A Ucrânia tem por isso uma enorme importância para a Polónia visto que sem uma Ucrânia independente, a Polónia deixa de ter qualquer separação entre ela e o território russo, passaria a ser a fronteira que separa a Rússia do Ocidente e mais importante, passaria a estar diretamente exposta à influência russa e muito vulnerável à possibilidade de uma nova onda de expansionismo por parte de Moscovo.

3.2. O relacionamento polaco-russo

De forma a complementar o estudo do contexto regional e geopolítico em que a Polónia se insere, importa agora fazer uma análise ao relacionamento polaco-russo. A Rússia é um importante actor internacional no qual a Polónia foca parte da sua política externa em resultado da posição que esta assume na Europa do Leste, e em parte, por causa do passado que têm em comum. No panorama securitário polaco a Rússia é vista como uma ameaça e ambos têm interesses no território ucraniano, como tal, importa analisar a evolução do relacionamento entre os dois Estados.

O fim da Guerra Fria significou para a Polónia recuperar a sua capacidade de decisão política tanto a nível interno como externo e contribuiu para alterar de forma radical o seu relacionamento com a URSS e posteriormente com a Rússia. Apesar da Polónia ter recuperado a sua autonomia de decisão, a Rússia continua a ocupar uma posição central na formulação da sua política externa, em consequência da grande importância que a Rússia detém enquanto actor internacional e em especial pela sua capacidade de influência na Europa do Leste, como tal, torna-se necessário desenvolver uma análise sobre o relacionamento polaco-russo.

O relacionamento polaco-russo é desde o século XIV marcado por um duradouro conflito de interesses entre a (Lisiakiewicz, 2018: 114), a Rússia e a Polónia, antes enquanto Commonwealth Polaco-Lituana. Apesar da grande proximidade geográfica que existe entre os territórios dos dois Estados, tendo inclusive a Polónia estado integrada no bloco soviético após o fim da IIGM, a Rússia e a Polónia têm bases civilizacionais muito diferentes “ While the Russian culture and identity were built on the

basis of the Byzantine legacy, Poland was strongly linked with the Western civilization”

(28)

22 opostas e impediu o desenvolvimento de uma relação de proximidade. Apesar das diferentes bases civilizacionais, a amistosidade entre os dois Estados tinha como principal causa o controlo dos territórios que existiam entre a Polónia e a Rússia, em especial o território ucraniano (Włodkowska-Bagan, 2015: 44).

Se inicialmente a Polónia detinha capacidade para rivalizar com o império russo, tal altera-se de forma radical no início do século XVIII com a dissolução da Commonwealth Polaco-Lituana e a repartição da Polónia entre a Rússia, Prússia e o império austríaco. A divisão do Estado polaco contribuiu para o desenvolvimento de um sentimento anti-russo (Ozbay e Aras, 2008: 33), que cresceu com os acontecimentos que se desenvolveram na II Guerra Mundial, nomeadamente o Pacto Ribbentrop-Molotov e a inclusão da Polónia no Bloco Soviético.

O Estado polaco só voltou a ser restituído após a I Guerra Mundial, sendo depois em 1939 dividido entre a Rússia e a Alemanha através do Pacto Ribbentrop-Molotov. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a vitória dos aliados, a Polónia é incluída na órbita da URSS e passa a existir um alinhamento da política externa polaca com a da URSS, algo que só se veio a alterar com o fim da Guerra Fria. O passado que a Polónia e a Rússia partilham contribuiu para a crescente tensão que existe entre os dois Estados e para que na Polónia se desenvolvesse um sentimento anti-russo, que conjuntamente com as diferentes opções políticas que a Polónia e a Rússia adoptaram após a dissolução da URSS, fomentou ainda mais o afastamento entre os dois Estados.

Inicialmente, assistiu-se a um período de bom relacionamento entre a Polónia e, a ainda URSS, com Gorbachev a defender a ideia de uma ‘casa comum europeia’ (Freire, 2014: 32), que promovia uma aproximação ao ocidente assim como o desenvolvimento de boas relações com os Estados do antigo bloco soviético, no qual se incluía a Polónia. Durante este período assiste-se à retirada das tropas soviéticas do território polaco que foi acompanhada pela dissolução do Pacto de Varsóvia em 1991, o que causou alguma instabilidade no relacionamento entre a URSS e a Polónia. No entanto a atitude pró-ocidental adoptada pela URSS, contribuiu para que esta amistosidade inicial fosse ultrapassada.

Neste contexto, em 1990 foi assinado a Declaration on Friendship and Good

(29)

23 “acknowledged the inviolability of the existing border between Russia and Poland and

included the commitment to conduct consultations on issues related to the security of both countries” (Adamski e Malgin, 2018: 65). Boris Ieltsin enquanto dirigente da Rússia

decidiu promover um bom entendimento com a Polónia e para tal publicou as cláusulas secretas do Pacto Ribbentrop-Molotov, “forneceu à Polónia documentos que provavam

a culpa de Estaline na ordem de execução de 20 mil oficiais polacos na floresta de Katyn10” (Resende, 2014: 184) e mais importante, não se opôs ao alargamento da OTAN

a leste, no qual se inclui a entrada da Polónia para a organização11.

O bom entendimento que inicialmente houve entre Varsóvia e Moscovo alterou-se em 1993 com a mudança drástica do comportamento russo a nível internacional. Assiste-se a um ‘desencanto ocidental’ (A-Freire, 2015: 160) por parte da Rússia que passa a focar-se na sua “vizinhança próxima” (A-Freire, 2015: 160) com o objectivo de “reafirmar o papel da Rússia como um actor influente, em particular em termos

regionais” (A-Freire, 2015: 160), fazendo do território das antigas repúblicas soviéticas

um espaço reservado aos seus interesses, no qual não via com bons olhos a intervenção de entidades externas. Com isto, a Rússia muda de posição em relação ao alargamento a leste da OTAN que resultou no “lançamento de uma campanha contra a expensão da

OTAN e os antigos satélites da União soviética” (Resende, 2014: 185).

A partir deste período, as políticas russas e polacas tornam-se cada vez mais distantes e contraditórias, contribuindo para o ressurgimento do contexto de conflito de interesses que houve no passado entre os dois Estados. O primeiro sinal deste novo relacionamento polaco-russo dá-se em 1999 com a Polónia a apoiar a posição norte-americana e a participar activamente na intervenção no Kosovo enquanto membro da Aliança Atlântica, indo contra a vontade russa12 que já tinha inclusive vetado no

10O massacre na floresta de Katyn em 1940, decorreu durante a IIGM, após a URSS ter ocupado parte do território polaco que negociou com a Alemanha no Pacto Ribbentrop-Molotov. Vários militares polacos foram levados pelas forças soviéticas para campos de concentração e posteriormente fuzilados na floresta de Katyn.

11 A Rússia após a dissolução da URSS encontrava-se fragilizada e com pouca capacidade para ripostar, no

entanto os EUA procuraram estabelecer primeiro uma relação com a Rússia no âmbito da OTAN e só abordaram este tema após a reeleição de Boris Ieltsin de forma a evitar uma reação radical do sector mais conservador da elite política russa;

(30)

24 Concelho de Segurança qualquer tipo de intervenção da OTAN no Kosovo. Importa igualmente destacar o posicionamento que a Polónia adoptou face ao conflito na Chechénia, que contribuiu para piorar o seu relacionamento com a Rússia, uma vez que a “Poland’s favorable attitude towards the Chechen insurgentes, seen in Warsaw as

freedom fighters and in Moscow as terrorists” (Zając, 2016: 89).

A chegada ao poder da dupla Vladimir Putin e Dimitri Medvedev em 2000 marcou uma nova fase do relacionamento polaco-russo. A Rússia manteve o seu foco no reforço da CEI como área de interesse estratégico e iniciou a contestação à ordem unipolar norte-americana, o que contribuiu mais uma vez para o agravamento do relacionamento polaco-russo. Neste período, a Polónia expulsa nove diplomatas russos e torna-os personae non gratea, ao que a Rússia responde expulsando também vários diplomatas polacos. As relações polaco-russas só voltaram a melhorar após o atentado terrorista nos EUA a 11 de Setembro de 2001 “when Russia joined the international

anti-terrorist coalition and supported the USA in Afganistan” (Zając, 2016: 90), neste período

existiu uma aproximação entre os EUA e a Rússia, que contribuiu para que a Polónia voltasse também a aproximar-se da Rússia. Neste contexto, a Polónia recebeu o presidente russo, na altura Vladimir Putin, e juntos criaram o Polish-Russian Group for

Dificult Issues de forma a resolverem as divergências históricas que os dois Estados têm

sobre a sua história em comum.

Em 2003 a relação entre Varsóvia e Moscovo volta a piorar, a Polónia apoia mais uma vez a posição norte-americana, tornando-se inclusive num dos seus aliados na invasão do Iraque, à qual a Rússia, tal como no caso do Kosovo, se opunha. O posicionamento polaco tornou-se cada vez mais distinto do russo e a “consolidação

progressiva da orientação europeia e atlântica da Polónia neste período tornou-se a base do conflito em relação à política de asserção dos interesses nacionais da Rússia”

(Resende, 2014: 189). O posicionamento distinto dos dois Estados demarcava-se sobretudo no que toca aos territórios da Europa do leste, onde a Rússia e a Polónia “promoting diferent political systems in the post-Soviet space- liberal democracy

promoted by Poland (and the European Union by the European Neighborhood policy and the Eastern Partnership) and the so-called sovereign democracy offered by the Russian Federation” (Włodkowska-Bagan, 2015: 42), que procurava igualmente evitar a

(31)

25 aproximação destes territórios às instituições ocidentais e a manutenção deles na sua esfera de influência. A Polónia queria cada vez mais assumir um papel de influenciador no que toca à orientação dos Estados desta região, promovendo a sua democratização e aproximação às instituições ocidentais, por sua vez, a Rússia “main goal in preventing

breaking historically developed bonds with the post-Soviet states and maintaining their common political, economic, cultural and militar strategic” (Adamski e Malgin, 2015: 75),

que enquadrou no âmbito da Comunidade de Estados Independentes. Importa ainda destacar que a postura adoptada pela Polónia foi interpretada pela Rússia “with mistrust

suspecting them to reflect Poland’s intension to enter into competition for territories traditionally gravitating to Russia” (Adamski e Malgin, 2015: 78). Este período fica

igualmente marcado pelas revoluções coloridas13, em especial a Revolução Laranja na

Ucrânia com a Polónia a apoiar as forças pró-ocidentais e a Rússia por sua vez, as forças pró-russas.

O contexto político polaco contribuiu igualmente para o agudizar das relações polaco-russas, a vitória do PiS nas eleições presidenciais e legislativas de 2005 significou a adoção de uma postura anti-russa que resultou nos vários vetos ao novo acordo que a Rússia e a UE estavam a negociar. Em resposta, a Rússia impôs um embargo aos produtos oriundos da Polónia (Kaminska, 2014: 114).

As relações polaco-russas atingem um dos seus piores momentos durante a negociação entre a Alemanha e a Rússia do Projecto North Stream, projecto este que fazia com que a Polónia deixasse de ser um país de trânsito do gás natural russo, o que contribuía para o enfraquecimento da sua posição e mais importante, os novos gasodutos passariam em território “que os polacos disputavam, como sendo parte do

seu território nacional” (Resende, 2014: 188). Durante este período assiste-se

igualmente à negociação entre a Polónia e os EUA para a colocação em território polaco de um novo sistema anti-mísseis. Importa destacar os acontecimentos de 2008, nomeadamente a guerra da Geórgia, a Polónia desde cedo promoveu a sua aproximação à Ucrânia e à Geórgia à Aliança Atlântica que conduziu à possibilidade de adesão dos dois Estados, em resposta a Rússia promoveu o sentimento separatista da Abcásia e

(32)

26 Odessa do Sul que se transformou num conflito no qual a Rússia participou e esmagou as forças da Geórgia.

O relacionamento polaco-russo altera-se consideravelmente e de forma positiva com a chegada ao poder de Donald Tusk em 2007, do partido PO, que adopta uma postura mais moderada relativamente à Rússia, iniciando inclusive a negociação com a Rússia para a suspensão dos vistos na fronteira entre a Polónia e Kaliningrado (Resende, 2014: 194). A Alemanha e os EUA tiveram também um papel importante no melhoramento das relações entre a Polónia e a Rússia, primeiro porque a Alemanha incluiu a Polónia nas negociações que tinha com a Rússia e os EUA ao reaproximarem-se da Rússia, fez com que a Polónia tentasreaproximarem-se também uma reaproximação, relembro que a Polónia acompanhava a aproximação ou afastamento dos EUA à Rússia. A reaproximação entre Moscovo e Varsóvia conduziu “os governos dos dois países

assinaram protocolos de cooperação energética e relações comerciais, em que a Rússia se comprometeu a aumentar o fornecimento de gás até 2035” (Resende, 2014: 192).

O acidente de aviação em 2010 que vitimizou o presidente polaco Lech Kaczynski abriu um novo capítulo no relacionamento polaco-russo. Apesar das entidades russas não terem tido culpa no acidente, a população polaca vê-a como a culpada fomentando um sentimento de rancor e de uma visão pessimista face ao comportamento russo que não se voltou a alterar. Em 2014 dá-se a anexação da Crimeia, algo que veio aumentar os receios da elite política polaca face a uma nova política revisionista e expansionista por parte da Rússia fazendo com que o relacionamento polaco-russo entrasse novamente numa fase de decadência.

3.3. A União Europeia e a Europa do Leste

Tendo em conta que a UE é importante actor internacional, e sendo a Polónia um dos seus Estados-membros, importa analisar como é que a União Europeia se vê e encaixa na Europa do Leste. Uma das prioridades polacas foi promover a aproximação da UE à Europa do Leste, portanto, importa examinar a forma como as Instituições Europeias se relacionam com a Europa do Leste.

Referências

Documentos relacionados

A rota ecoturística Maricá-Saquarema tem o potencial de ser uma alternativa viável para o incremento do setor turístico regional, bem como favorecer a promoção

A maior parte dos isolados testados (81%) mostrou resistência ao Tiofanato metílico a uma concentração de 490 ppm, correspondente a recomendação comercial (Tabela 4).. 1 -

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

A Escala de Práticas Docentes para a Criatividade na Educação Superior foi originalmente construído por Alencar e Fleith (2004a), em três versões: uma a ser

Ainda que das carnes mais consumidas nesta altura em Portugal, tanto os caprinos como os galináceos estão re- presentados apenas por um elemento, o que nos pode dar a indicação que

Como parte de uma composição musi- cal integral, o recorte pode ser feito de modo a ser reconheci- do como parte da composição (por exemplo, quando a trilha apresenta um intérprete

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença

Nomeia, em regime de comissão de serviço, pelo período de três anos, o licenciado em Engenharia dos Recursos Florestais, Marco António Vieira Mendes, Técnico Superior,