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O Direito Fundamental à saúde no Brasil e a pandemia do Novo Coronavírus: errou quem previu que “pior que tá não fica” , / The Fundamental right to health in Brazil and the New Coronavirus Pandemic: those who predicted that “it doesn't get any worse”

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761

O Direito Fundamental à saúde no Brasil e a pandemia do Novo Coronavírus:

errou quem previu que “pior que tá não fica”

1

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The Fundamental right to health in Brazil and the New Coronavirus

Pandemic: those who predicted that “it doesn't get any worse”

DOI:10.34117/bjdv6n8-313

Recebimento dos originais: 17/07/2020 Aceitação para publicação: 18/08/2020

Dênia Rodrigues Chagas

Pós Doutora em Docência e Pesquisa Universitária pelo Instituto Universitário Italiano de Rosário IUNIR – AR, Professora da Faculdade Católica Dom Orione, Araguaína – TO

Endereço: Rua Santa Cruz, 557 - St. Central, Araguaína – TO. CEP: 77804-090. E-mail: denia_enf@hotmail.com

Júlio Edstron S. Santos

Professor do IDASP e Uninassau de Palmas. Diretor Geral do ISCON do TCE do Tocantins. Doutor em Direito pelo UniCEUB.

Endereço: Plano Diretor Norte, 110 Norte Alameda 06, LT HM 12-A, Condomínio Luciana Casa 11. Palmas, Tocantins, CEP 77020-468.

E-mail: edstron@yahoo.com.br

RESUMO

A problematização adotada neste trabalho acadêmico é como a pandemia causada pelo novo coronavírus dificulta a atuação do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS), do ponto de vista orçamentário e da efetivação do direito fundamental à saúde? O objetivo geral é demonstrar que o SUS já convivia com uma sobrecarga tanto pelo número de casos, quanto pela diminuição de recursos que são proporcionalmente disponibilizados por causa da PEC do Teto de Gastos. Assim, por meio da utilização do método hipotético dedutivo e das técnicas de revisão bibliográfica e análise dos dados orçamentários demonstrados pelo Portal Siga Brasil, que estão sendo disponibilizados os recursos da União, nota-se que a pandemia causada pela COVID 19 está impondo um iminente colapso sanitário.

Palavras chave: direito à saúde, direito fundamental, acesso à saúde, pandemia, COVID 19. ABSTRACT

The problematization adopted in this academic paper is how does the pandemic caused by the new coronavirus burden the Brazilian Unified Health System (SUS), from the budgetary point of view and the implementation of the fundamental right to health? The general objective is to demonstrate that SUS lived with an overload both for the number of cases and for the decrease of resources that

1 Frase do Deputado Federal Tiririca, para quem: - pior que tava não fica, inclusive, pesquisada por Bornemann; Cox,

2011.

2 Nas eleições 2010, ele (Tiririca) se candidatou, pelo Partido da República PR, ao cargo de Deputado Federal do estado

de São Paulo. No horário eleitoral, Tiririca se apresentava com o slogan: “Vote Tiririca, pior que tá não fica” (...) e se dirigia aos eleitores perguntando se sabiam o que faz um Deputado; logo em seguida, ele mesmo respondia: “Na realidade eu não sei, mas vote em mim que eu te conto”. Tais manifestações lhe valeram uma representação, posteriormente arquivada, no Ministério Público Eleitoral, mediante o argumento de que elas denegriam a imagem do Congresso Nacional e do poder público em geral Paulo (BORNEMANN; COX, 2011, p. 421).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 are proportionally available because of the PEC of the Ceiling of Expenses. Thus, using the hypothetical deductive method and the techniques of bibliographic review and analysis of the budget data shown by the Siga Brasil Portal, which are being made available by the Union, it is noted that the pandemic caused by COVID 19 is imposing an imminent sanitary collapse.

Keywords: right to health, fundamental right, access to health, pandemic, COVID 19.

1 INTRODUÇÃO

No ano de 2020, o mundo presencia o maior surto epidêmico do século XXI, uma doença ocasionada por uma nova variação do coronavírus que ficou conhecida pela sigla COVID 19. A Organização Mundial da Saúde demonstrou que a doença surgiu na China, no final do ano de 2019, e, em questão de semanas, espalhou-se para praticamente todos os países do mundo, devido à melhoria nos meios de transporte e, principalmente, pelo tráfego de pessoas, causando a decretação de pandemia mundial, acionando os protocolos internacionais para o combate à doença.

Por causa da proliferação da COVID 19, a sociedade está insegura e com medo. O número de pessoas infectadas já beira dois milhões de brasileiros; são contados, em média, mais de mil mortos por dia no Brasil, segundo as informações oficiais do Ministério da Saúde, a doença avança rapidamente para o cumprimento da nefasta previsão de mais de cem mil mortos no Brasil.

Frente a esta situação, este paper tem como problematização quais os efeitos orçamentários no acesso ao direito fundamental à saúde concretizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Para tanto, serão empregados o método hipotético dedutivo e as técnicas de revisão bibliográfica e análise dos dados primários do Orçamento Público. O objetivo geral é apontar que são necessários constantes investimentos públicos para a concretização do acesso ao direito fundamental à saúde.

A pesquisa se amparará nos documentos orçamentários disponibilizados, em tempo online, pelo portal Siga Brasil e o Portal de Transparência da União para que sejam elucidados dados primários sobre a situação financeira do Estado brasileiro, e as opções orçamentárias que foram feitas, possibilitando o exercício da cidadania fiscal.

Serão analisados os fundamentos jurídicos dos direitos fundamentais sociais, sua essencialidade, dimensões subjetivas e objetivas e a necessidade de investimentos estatais para se cumprir os preceitos constitucionais.

Após o assentamento das premissas de que o acesso ao direito fundamental à saúde é essencial para a manutenção da ordem social, buscar-se-á demonstrar que, por opção constituinte, o sistema de saúde brasileiro é hibrido, contanto com atendimento público e privado. Porém, há uma

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 predominância de noventa e nove por cento de atendimentos na rede estatal, demonstrando a necessidade de constantes investimentos financeiros no SUS.

Por causa do volume de atendimentos, o SUS estava em situação pré-colapso, primeiro devido à quantidade de casos atendidos e, em segundo, porque há uma escassez de recursos agravada pela PEC do Teto de Gastos e, paulatinamente todo o sistema de Seguridade Social brasileiro está sendo pauperizado.

Por meio desta pesquisa, demonstrar-se-á que o SUS não é um sistema perfeito, mas é muito necessário para o cumprimento do direito fundamental à saúde e que, neste momento de dificuldade, a sociedade brasileira deve ficar ainda mais atenta nas opções orçamentárias que concretizam todos os seus direitos.

Por fim, será demonstrado que, por causa da COVID 19, ocorre uma maior pressão no SUS, necessitando de um maior volume de recursos públicos para se fazer frente à pandemia. Sendo que neste tocante foi, inclusive, aprovada uma emenda à constituição, denominada de PEC de Guerra, destinando recursos para o combate ao novo coronavírus.

2 A EFICÁCIA IMEDIATA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E A SAÚDE: PERCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS E RECONHECIMENTO JURISPRUDENCIAL

Em momentos de crise, como a maior pandemia do século XXI, as pessoas tendem a ficar ansiosas, preocupadas e até com medo. Neste instante, as instituições e o próprio Direito devem cumprir o seu papel de garantidoras da estabilidade3 e tomarem ações que sejam eficazes, como por exemplo, a proteção e efetivação dos direitos fundamentais, mantendo-se a confiança da população de que as dificuldades podem ser superadas.

Uma noção propedêutica é que, no sistema jurídico europeu continental herdado das bases históricas romano-germânica, denominado de Civil Law, a Constituição é a lei com a máxima hierarquia no ordenamento jurídico4 de um país; elaborada com base no exercício do poder constituinte originário5, tendo como seu titular o povo e, ainda, por opção da sociedade, elenca-se um rol de direitos essenciais, por influência nacional ou internacional, que passam a ser conhecidos pela nomenclatura de direitos fundamentais6.

3 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa

e solidária; (...) III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais (BRASIL, 2020, p.1)

4 KELSEN,2000. 5 HORTA, 2010. 6 BONAVIDES, 2019.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Portanto, os direitos fundamentais são aqueles que estão no topo do ordenamento jurídico, vinculam as ações do Estado e dos particulares, sem a imprescindibilidade de leis regulamentadoras porque “§ 1º as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata7”,

bem como a possibilidade de utilização dos direitos sociais sem a mediação de outras normas, também recebeu o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal8. Destarte, é inadmissível, pelo prisma jurídico e social, que as pessoas não tenham acesso às previsões consagradas na Constituição Cidadã, tais quais a saúde, educação e segurança.

“A categoria dos direitos de “status positivus”, também chamados de direitos sociais, ou a prestações, engloba os direitos que permitem aos indivíduos exigindo determinada atuação do Estado”9. Os direitos fundamentais sociais “se afiguram numa luz tênue (lumiere floue), pois a

substância vai depender de uma miríade de fatores, entre eles, o da época histórica da qual estivermos e perspectivá-los10”.

Estes direitos exigem “prestações positivas proporcionadas pelo Estado, direta ou indiretamente, enunciadas em normas constitucionais, que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos11”, buscando estabelecer um padrão de igualdade entre os cidadãos.

Bem como, toda a criação humana, os direitos fundamentais são produtos da história, nascendo como necessidades básicas e aceitas pela sociedade. Didaticamente, eles podem ser alinhados em individuais ou sociais. Avigora-se, esta é uma concepção meramente conceitual, haja vista que, todos os direitos formam uma rede de proteção às pessoas ou, em linguagem atual, uma coordenação multinível de proteção ao ser humano12, alinhada ao princípio hermenêutico denominado pro homine13 que induz o interprete para que, em caso de dúvidas sobre a aplicação entre normas possíveis em um caso concreto, seja aplicada a mais favorável ao ser humano.

O texto constitucional promulgado em 1988 entrou para a histórica como a Constituição Cidadã14 ao consagrar a transição de um período autoritário, que durou mais de vinte anos, em um ambiente democrático; ouviu grande parte da representação da sociedade brasileira na sua elaboração e, também, por ter reconhecido a necessidade de cristalização dos direitos sociais,

7 BRASIL, 2020, p. 9.

8 Direitos e garantias fundamentais devem ter eficácia imediata (cf. art. 5º, § 1º); a vinculação direta dos órgãos estatais

a esses direitos deve obrigar o Estado a guardar-lhes estrita observância. (BRASIL, STF, 2020, p. 417).

9 DIMOULIS; MARTINS, 2018, p. 52. 10 BOTELHO, 2015, p. 115.

11 SILVA, 2018, p. 183.

12 Varella; Monebhurrun; Gontijo, 2019. 13 MAZZUOLI, 2017.

14 A exposição panorâmica da lei fundamental que hoje passa a reger a Nação permite conceituá-la, sinoticamente, como

a Constituição coragem, a Constituição cidadã, a Constituição federativa, a Constituição representativa e participativa, a Constituição do Governo síntese Executivo-Legislativo, a Constituição fiscalizadora. (GUIMARÃES, 1988, p. 5).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 balizando a República para a construção de uma socialdemocracia, tendo como objetivo a inclusão das pessoas e a erradicação da pobreza15.

Ao se reconhecer em nível constitucional os direitos sociais, eles se espraiam em duas dimensões distintas, mas complementares; uma subjetiva, em que a pessoa pode requerer administrativamente ou judicialmente o seu acesso. Bem como ocorre a dimensão objetiva16, impondo ações aos poderes constituídos e, segundo a lição acadêmica da doutrina portuguesa, “os direitos sociais são direitos de libertação da necessidade e, ao mesmo tempo, direitos de promoção. O conteúdo irredutível daqueles é a limitação jurídica do poder, o destes é a organização da solidariedade17”.

Doutrinariamente Jorge Miranda (2011) distinguiu que não basta a positivação dos direitos sociais, sendo imprescindível a existência das condições econômicas para que estes produzam seus efeitos18, logo, o momento histórico da elevação destes direitos ao patamar constitucional

vincula-se à necessidade de alocação de recursos para que haja a supressão das necessidades da população, seja pelo acesso a serviços essências como educação e saúde, ou com uma rede de amparo tal qual ocorre com a assistência social19.

Os direitos sociais precisam de constantes investimentos públicos para atingir a sua finalidade, porém eles não são subordinados à economia, porque, ao serem positivados, exigem ações estatais, como a adoção de medidas legislativas20, tendo como parâmetro a adoção de um orçamento próprio para a Seguridade Social, composta pelo tripé constitucional da assistência social, saúde, e previdência social.

15 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa

e solidária; (...) III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; (BRASIL, p. 1).

16 As normas constitucionais consagradoras de direitos econômicos, sociais e culturais, modelam a dimensão objectiva

de duas formas: (I) imposição legiferante apontando para a obrigatoriedade de o legislador atuar positivamente, criando as condições materiais e institucionais para o exercício desses direitos. (2) fornecimento de prestações aos cidadãos. (CANOTILHO, 2018, p. 476).

17 MIRANDA, 2011, p. 4.

18 A efetivação dos direitos econômicos, sociais e culturais não depende apenas da aplicação de normas constitucionais

concernentes à organização econômica. Depende também e sobretudo, dos próprios fatores econômicas, assim como - o que nem sempre é suficientemente em conta – dos condicionalismos institucionais. Do modo de organização dos recursos financeiros. (MIRANDA, 2017, p. 392).

19 As prestações estatais (dimensão objetiva) que realizam os direitos sociais podem ser de duas espécies. Primeiro,

prestações materiais (na terminologia alemã “ações fáticas positivas” – positive Faktische Handlungen) que podem constituir tanto no oferecimento de bens ou serviços a pessoas que não podem adquiri-los no mercado (alimentação, educação, saúde etc.), como no oferecimento universal de serviços monopolizados pelo Estado (segurança pública (DIMOULIS, MARTINS, 2018, p. 53).

20 Há também uma eficácia dirigente ou irradiante, decorrente da perspectiva objetiva, que impõe ao Estado o dever de

permanentemente realização dos direitos sociais, além de permitir às normas de direitos sociais operarem como parâmetro, tanto para aplicação e interpretação do direito infraconstitucional, quanto para a criação e o desenvolvimento justo e eficaz que os assegure e a vedação de medidas de cunho retrocessivo (SARLET, 2019, p. 578).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 De forma fulgente, a falta de investimentos públicos empece a eficácia dos direitos sociais, mas não retira a sua aplicabilidade imediata.

“Os direitos positivos colocam automaticamente sobre outrem o dever de providenciar o seu exercício, tais como o direito ao voto, o direito à educação ou à segurança social21”.

Neste tocante, o princípio da reserva do possível, ou seja, as limitações ao acesso dos direitos sociais só podem ser utilizadas pontualmente e com inequívoca fundamentação, porque estes direitos compõem o mínimo existencial22 que é garantido pelo texto constitucional, de modo inclusivo, para se proteger a dignidade da pessoa humana23.

Reafirma-se “o inimigo mortal do homem é a miséria. O estado de direito, consectário da igualdade, não pode conviver com estado de miséria. Mais miserável do que os miseráveis é a sociedade que não acaba com a miséria24”. Neste sentido, todas as pessoas devem ter acesso ao piso

mínimo de direitos, robustecendo, “deve ser garantido pelo Estado e pela sociedade para todos, mas o foco prioritário tem de recair sobre os segmentos mais vulneráveis da população25”, buscando pelo menos o básico vital para toda a população.

A ideia central é que todas as pessoas devem receber um básico de direitos, que lhes assegure as condições essenciais para uma vida que proteja a dignidade da pessoa humana, no contexto de uma determinada coletividade, abarcando elementos físicos, morais e sociais, tendo como exemplo, a impossibilidade jurídica e social que no Brasil, a sexta maior economia do mundo, conviva-se com centenas de milhares de brasileiros com fome.

No confronto jurídico da reserva do possível e do mínimo existencial, há uma questão mais profunda e pouco discutida, inerente à escolha sobre a alocação de recursos públicos, cada vez mais escassos. Dimensão que se inicia nas discussões sobre como se distribuir os recursos no orçamento público. Portanto, uma das extensões do exercício da cidadania encontrada na integração da comunidade na elaboração das leis orçamentárias, tal como já ocorreu nas experiências do

21 BOTELHO, 2015, p. 118.

22 O princípio da dignidade da pessoa humana compreende o direito de acesso às necessidades materiais básicos de vida

– o direito ao mínimo existencial –, que, na nossa ordem constitucional, constitui um piso para a justiça social, mas não um teto para a atuação estatal voltada à promoção da igualdade material e dos direitos sociais. A garantia do mínimo existencial é pressuposto para o pleno exercício das liberdades civis e da democracia, mas se justifica por razões autônomas, que independem desses objetivos. (SARMENTO, 2020, p. 1677)

23 Em face do exposto, importa reafirmar, no contexto da proteção dos direitos sociais na esfera de uma proibição de

retrocesso, que uma violação do mínimo existencial (mesmo em se cuidando do núcleo essencial legislativamente concretizado dos direitos sociais) significará sempre uma violação da dignidade da pessoa humana e, por esta razão, será sempre desproporcional e também inconstitucional, o que a evidência, não afasta a discussão sobre qual o conteúdo do mínimo existencial em cada caso e no contexto de cada direito social (SARLET, 2015, p.111).

24 GUIMARÃES, 1988, p. 3. 25 SARMENTO, 2020, p. 1678.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 orçamento participativo e nas decisões dos conselhos temáticos obrigatórios, como saúde e educação.

Fato que deve ser considerado é que o Orçamento Público é finito (o dinheiro acaba mesmo!26) e por força da PEC n°. 95, só pode ser reajustado pelo índice do IPCA, relativo ao ano anterior. Claro que, por este dispositivo conhecido como “teto de gastos”, gerou-se uma competição entre recursos para a consolidação dos direitos fundamentais e também a impossibilidade da realização de grandes investimentos públicos em áreas sociais.

Apesar do valor trilionário do Orçamento da União, há severas restrições à alocação de recursos, que devem ser manejados com zelo e métrica até porque já há um déficit, pelos dados oficiais, do atual orçamento, e espera-se que, no ano de 2020, a discrepância entre a arrecadação e os gastos da União será de mais de R$ 540,53 bilhões, segundo os dados oficiais27. Bem como o

descompasso entre as receitas e despesas da União fica evidente pelo gráfico abaixo, elaborado pelo Ministério da Economia.

Fonte: Portal da Transparência da União

O gráfico acima demonstra que a União gasta mais do que arrecada e que, por este motivo, os recursos destinados a ações específicas como saúde, educação e segurança pública são cada vez mais escassos, devendo ser utilizados com bastante cuidado.

26 De forma técnica, o Orçamento Público também tem limites e os recursos do erário são finitos. E um erro se fazer

uma comparação entre os orçamentos públicos e privados, tendo em vista, que o Estado é amparado por variadas medidas para cumprir a sua tarefa, até mesmo a possibilidade de impressão de mais dinheiro para atender determinada demanda nacional. Por este prisma a utilização da expressão acima, é feita como instrumento retórico.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Um resumo possível é que os direitos fundamentais estão no topo da hierarquia do ordenamento jurídico, podem ser divididos em individuais e sociais, todos dependem em algum patamar de investimento público, principalmente, os positivos, mas ambos possuem aplicabilidade imediata, segundo a Constituição, a doutrina e jurisprudência brasileira.

2.1 O DIREITO E O ACESSO À SAÚDE NO BRASIL

Alinhada ao constitucionalismo social28 que marcou o século XX, por se contrapor ao paradigma liberal; inspirada pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e balizada em documentos internacionais assinados pelo Brasil, como o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 196629, a Constituição Cidadã de 1988 elevou o direito à saúde30 à condição de fundamental, na atual ordem jurídica nacional.

Ainda no contexto internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS), no dia 07 de abril de 1948, determinou que “não apenas 31como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito

bem-estar físico, mental e social32”, reverberando com essa decisão a celebração do “Dia Mundial

da Saúde”, ou seja, a noção daquela entidade internacional, compreende mais do que a dimensão terapêutica e física.

Não se deve olvidar que o Brasil é membro da OMS e, por esta opção, soberana, deve acolher as decisões que são tomadas por aquele organismo especializado33. “Certo é que, num mundo cada vez mais cooperativo e integrado, o Brasil não pode se postar acima de tudo, à custa de uma razão indolente e soberba; não há de fazer tábula rasa de importantes recomendações”, das instâncias internacionais de saúde.

28 LOEWESTEIN, 1986.

29 O Brasil assinou o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais em 1966, porém só concluiu a

sua internalização em 1992, por meio do Decreto n° 591.

30 Nota-se, portanto, que definir saúde é uma questão complexa, pois é um conceito difuso e multidisciplinar que não

resulta apenas de fatores biológicos e genéticos, mas também de fatores socioambientais, econômicos, filosóficos, culturais e do estilo de vida a que a pessoa é exposta (SILVA, 2016, p. 5)

31 MAZZUOLI, 2020, p. 5. 32 OMS, 2019, p.5

33 O Brasil é parte da OMS e, portanto, tem o compromisso de cumprir com as suas determinações ou

recomendações, notadamente as de base convencional, como as acima referidas, decorrentes do próprio instrumento constitutivo da Organização. Todas as recomendações de higiene (p. ex.: limpeza das mãos com sabão ou álcool em gel 70%) e distanciamento de pessoas (p. ex.: período de isolamento e quarentena em casa) são importantes para evitar maiores contágios da pandemia em curso, sem o que o número de infecções crescerá em progressão geométrica, como têm experimentado países como a China e a Itália (MAZZUOLI, 2020, p. 1).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 A saúde e o seu acesso são direitos fundamentais expressamente previstos na Constituição Cidadã, especialmente no artigo 6°34 e 19635, bem como conta com a lei nacional 8.080 de 1990, dispondo sobre “(...) as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências36”.

Na Constituição de 1988, foi especificada a relevância do direito à saúde e esse entendimento foi desdobrado pela doutrina e jurisprudência brasileira, com a proposição de que “a saúde é um direito fundamental do ser humano devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício37”.

Bem como o direito fundamental à saúde é uma competência constitucional comum38, ou seja, todos os entes federados (União, Estados-membros, Municípios e o Distrito Federal) devem atuar simultaneamente39 para se garantir o acesso da população à saúde40, de forma cooperativa e

complementar.

O direito fundamental social à saúde no Brasil tem entre as suas particularidades a universalidade e gratuidade. Por estes princípios, todas as pessoas, independentemente de origem, sexo, idade ou condição social podem acessar o sistema público, nomeado como Sistema Único de Saúde41 pela Lei 8.080 de1990.

Neste parâmetro constitucional, os mais necessitados passaram a ter ingresso ao tratamento médico-hospitalar e outras medidas de profilaxia social, tal qual determina, ainda, a jurisprudência

34 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,

a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 2020, p. 12).

35 Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem

à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal, e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 2020, p. 12).

36 BRASIL, Lei.8.080 de 1990. p.1. 37 SILVA, 2018, p. 767.

38 A competência material comum aos níveis da federação enseja uma corresponsabilidade entre elas, de modo que

atuem de forma cooperada para a consecução desses encargos atribuídos ao poder público. Se, por um lado, a competência comum admite a capacidade de ação de todos os níveis federativos nos domínios contemplados, de outro exige a participação deles no desempenho conjunto das competências (MOHN, 2010, p. 223).

39 O federalismo cooperativo acolhido pela Constituição Federal de 1988 consagrou, no tema da saúde pública, a

solidariedade das pessoas federativas, na perspectiva de que a competência da União não exclui a dos Estados e a dos Municípios (inciso II do artigo 23 da CRFB/88). É o que se extrai do disposto no art.196 e seguintes (SLAIBI, 2018, p. 13).

40 O direito à saúde é prerrogativa constitucional indisponível, garantido mediante a implementação de políticas

públicas, impondo ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a tal serviço. [AI 734.487 AgR, rel. min. Ellen Gracie, j. 3-8-2010, 2ª T, DJE de 20-8-2010.] Vide RE 436.996 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 22-11-2005, 2ª T, DJ de 3-2-2006. (BRASIL, STF, p. 1245).

41 No contexto brasileiro, a Constituição de 1988 considera a saúde direito de todos e dever do Estado. Para garantir

esse direito, criou o Sistema Único de Saúde (SUS), que se baseia em três pilares: universalidade, igualdade de acesso e integralidade no atendimento. A criação do SUS foi indiscutivelmente uma grande conquista democrática. Antes dele, apenas pessoas com vínculo formal de emprego ou que estavam vinculadas à previdência social poderiam dispor dos serviços públicos de saúde (MARQUES, et all, 2020, p.2).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 vinculante do Supremo Tribunal Federal42. “Por isso que o princípio da universalidade, enquanto direito fundamental à saúde, tem por significado a garantia estatal às condições necessárias para o exercício e acesso à atenção e à assistência à saúde43”, assim sendo, todas as pessoas que necessitem, sem qualquer restrição44.

Porém, há de se considerar que para manter um sistema universal, integral e gratuito, em que, independentemente do custo real do tratamento, o indivíduo não desembolsará nenhum valor financeiro, são necessários sistemas de financiamentos próprios que ocorrem por meio da tributação e, também, a alocação de recursos públicos45, pelo simples fato de não se exigir contrapartida direta dos cidadãos, sinteticamente, o acesso à saúde é gratuito para o cidadão, mas é oneroso para o Estado brasileiro.

Repetimos, é necessário que a academia e os cidadãos estejam atentos às formas de alocação de recursos públicos para a manutenção do SUS46, evitando-se a sua maior pauperização e, por

consequência, a sucateação de um modelo que cristaliza o direito fundamental à saúde47 para milhões de pessoas.

O dever estatal de promover o direito ao acesso à saúde é evidenciado no norteamento do “aspecto jurídico institucional, é subsistema de proteção social que integra a Seguridade Social,

42 (...) o tratamento médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado, porquanto

responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente. [RE 855.178-ED, rel. p/ o ac. min. Edson Fachin, j. 23-5-2019, P, DJE de 16-4-2020, Tema 793.]. (BRASIL, STF, p. 1243)

43 GEBRAN NETO, 2014, p. 5.

44 Desse processo de constitucionalização do direito à saúde no Brasil na perspectiva da seguridade social decorreram

desdobramentos jurídicos e político-administrativos relacionados aos seguintes aspectos: (i) fundamentalidade formal e material do direito à saúde enquanto direito (do cidadão) e dever (do Estado); (ii) atribuição jurídica de relevância pública ao direito à saúde; (iii) constituição do direito à saúde como cláusula pétrea22; (iv) processo de institucionalização normativa da universalização da saúde e configuração de uma “juridicidade em rede”23; (v) redimensionamento das responsabilidades dos entes federativos no que diz respeito às ações e aos serviços de saúde; e (vi) inclusão de diferentes atores e instituições no campo da tutela e proteção ao direito à saúde (ALMEIDA; FREIRE, 2018, p. 61).

45 A Constituição Federal de 1988 consagrou, no que diz respeito à saúde pública, a solidariedade das pessoas

federativas, de tal modo que a competência da União não exclui a dos Estados e a dos Municípios (art. 23, inc. II). Tanto é que, em seu art. 198, previu o legislador a criação de um sistema único de saúde e, em seu § 1º, dispôs que o financiamento ocorreria com recursos do orçamento da seguridade social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes (SLAIBI, 2018, p. 12).

46 (...) o Sistema Público de Saúde resultou de décadas de luta de um movimento que se denominou Movimento da

Reforma Sanitária. Foi instituído pela Constituição Federal (CF) de 1988 e consolidado pelas Leis 8.080 e 8.142. Esse Sistema foi denominado Sistema Único de Saúde (SUS). Algumas características desse sistema de saúde, começando pelo mais essencial, dizem respeito à colocação constitucional de que Saúde é Direito do Cidadão e Dever do Estado (CARVALHO, 2013, P. 6).

47 Além das medidas relativas ao desenvolvimento e à democracia, a luta pelo direito à saúde exige a adoção de

estratégias e táticas específicas para o aprimoramento do SUS. No âmbito das políticas de saúde, o primeiro desafio é reorientar o modelo de atenção à saúde. O SUS deve superar o domínio do modelo biomédico e mercantilista, fortalecendo as práticas de promoção da saúde, com a articulação de ações intersetoriais dirigidas aos determinantes sociais da saúde, ao tempo em que amplia a cobertura e melhora a qualidade das ações de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças e agravos (SOUZA; et all, 2018, p. 2787).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 conforme art. 194 da Constituição da República48”, neste diapasão, construiu-se um complexo sistema de prevenção e tratamento das necessidades essenciais das pessoas, em matéria de saúde, envolvendo todos os entes federados brasileiros, como anteriormente foi detalhado.

“Os serviços de saúde, a serem prestados e garantidos pelo Estado, devem ser divulgados à população, para que os titulares desse direito humano e fundamental tenham conhecimento e possam exerce-lo”49, não se olvidando que, atualmente, o Brasil tem milhões de pessoas na linha da pobreza extrema50 e mais de cem milhões de pessoas que não tem acesso à saneamento básico51 e, portanto, estão ainda mais expostos a necessidades de utilização deste serviço público.

Além disso, o reconhecimento feito pela Lei 8.080/1990, em seu “Art. 2º (de que) a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício52”, portanto, não é aceitável, dos pontos de vista jurídico e social, que não

ocorram ações para efetivar a concretização do direito ao acesso à saúde, por todas as instâncias públicas e, também, pela sociedade que deve sempre se manifestar por melhorias neste direito fundamental.

“Por fim, negar o direito à saúde é negar ao indivíduo a possibilidade do próprio direito à vida, já que a ausência de saúde também priva o indivíduo dos demais direitos fundamentais consagrados no texto constitucional53”, sendo este um dos motivos deste direito estar elencado em mais de uma previsão da Constituição Cidadã.

3 O DIREITO FUNDAMENTAL À SAÚDE NO BRASIL, DURANTE A PANDEMIA CAUSADA PELA COVID 19

Nesta parte, tratar-se-á dados sobre o sistema de saúde e orçamentários para que seja demonstrada a dificuldade de promoção do acesso ao direito à saúde no Brasil, especialmente sob o prisma da sobrecarga causada pelo novo coronavírus.

“O conceito de saúde (e também de doença) reflete a conjuntura social, histórica, econômica, política e cultural. Dessa forma, a saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas54”, destarte, cada país guardará as suas próprias referências sobre o que é o direito à saúde e, especialmente, como se procedimentaliza o seu acesso. Seja por opção privada como ocorre nos

48 GARCIA, 2020, p. 250.

49 ALMEIDA; FREIRE, 2018, p. 8. 50 IBGE, 2020, p. 23.

51 PORTAL SANEAMENTO BÁSICO, 2020, p. 2 52 BRASIL, Lei. 8.080/1990, p.1

53 FERREIRA, 2019, p. 67. 54 SILVA, 2016, p. 2.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Estados Unidos da América, público tal qual o paradigma francês ou hibrido preconizado na Constituição brasileira.

O sistema de saúde brasileiro é financiado por meio da tributação e fontes específicas como a alocação de recursos da União e de todos os outros entes federados. Em essência, há uma coparticipação das instâncias estatais e particulares para a manutenção das atividades médico-hospitalares que são compartimentalizadas em diversos níveis de atuação, indo de campanhas educativas até tratamentos intensivos especializados, todos gratuitos para a população devido ao aporte público.

Contextualizando, o sistema de saúde brasileiro é gratuito e universal. Como “todos os direitos tem custos55”, são necessários constantes aportes financeiros para a manutenção do acesso ao direito fundamental à saúde, protegendo “mais de 211 milhões de habitantes, aproximadamente 71 milhões de endereços (...), em 5570 municípios56”. Situação que seria um grande desafio para

qualquer sistema de saúde do mundo, especialmente para um país em desenvolvimento como o Brasil, sendo que o Ministério da Saúde dispõe para o ano de 2020 o seguinte orçamento.

Fonte: Siga Brasil/2020

O Ministério da Saúde detém o segundo maior orçamento individual do Poder Executivo Federal e executa ações em todo o território nacional, bem como coordena atuações com os demais entes federados, como determina a competência constitucional comum, que já foi descrita. O

55 Sustein; Homes, 2015. 56 IBGE, 2020, p. 2

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 orçamento de 162, 6 bilhões de reais, apesar de ser nominalmente relevante, é insuficiente para as demandas nacionais como se percebe fatidicamente.

O SUS foi uma revolução social e sanitária causada pela Constituição Cidadã57, com ela milhões de brasileiros passaram a ter acesso a atendimentos de qualidade na área da saúde. O sistema está longe de ser excelente ou perfeito, mas representa um enorme avanço frente o modelo anterior em que só poderiam ser atendidos os trabalhadores formais.

“A rede hospitalar disponível para o Sistema Único de Saúde (SUS) em 2017 era de 4.521 estabelecimentos hospitalares (públicos ou privados conveniados ao SUS), o que correspondeu a 78% do total de hospitais no país58”, apesar do dado se referir ao cenário de atraso de três anos, é possível inferir que, até o ano de 2020, a situação esteve em reiterado esgarçamento, primeiro por causa do agravamento da crise e, em segundo, pela aplicação da PEC do teto de gastos59,

anteriormente exposta.

Um fato que, às vezes, é esquecido é que o SUS brasileiro corrobora a existência do federalismo cooperativo, recursos da União são repassados cotidianamente para a gestão de conselhos próprios que representam a sociedade e, principalmente, contribuem para democratização do erário nos Estados-membros e Municípios.

Esse contexto ainda é agravado pelo reconhecimento de que mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso à saneamento básico, “a taxa de desemprego do país foi de 12,2% no primeiro trimestre de 2020, atingindo 12,850 milhões de pessoas60”, e 54,8 milhões de brasileiros estão abaixo da linha da pobreza, ou seja, 1/4 da população nacional tem renda domiciliar por pessoa inferior a R$ 406 por mês61, portanto a situação é muito séria e a sua solução é digna de um dos doze trabalhos de Hércules.

57 O acesso aos serviços de saúde, por sua vez, aumentou ao longo das três últimas décadas. Indicadores comumente

usados, que têm como fonte as PNAD e a PNS, tais como o percentual de pessoas que referem ter consultado médico e dentista, apontam que mais pessoas têm procurado e obtido serviços de saúde. A pergunta acerca da consulta a um médico nos últimos 12 meses foi respondida positivamente por 54,7% e 71,2% dos entrevistados, em 1998 e 2013, respectivamente19. Um aumento foi verificado em todas as Grandes Regiões. Em 2013, 72,8% das pessoas de 18 a 59 anos com 11 ou mais anos de estudo afirmaram ter consultado um médico, em comparação com 63,7% das pessoas no grupo de menor escolaridade (0 a 3 anos), sendo que a região Norte foi a que apresentou a maior diferença entre os dois grupos (razão de 1,3)19 (VIACAVA; et all, 2019, p. 1758).

58 PORTELA, 2019, p. 2.

59 No contexto descrito, e em meio a grande polêmica, promulgou-se a Emenda Constitucional nº 95/2016, que

estabelece como limite (teto) para as despesas públicas primárias (antes do pagamentos dos juros da dívida): (i) I – para o exercício de 2017, à despesa primária paga no exercício de 2016, incluídos os restos a pagar pagos e demais operações que afetam o resultado primário, corrigida em 7,2% (sete inteiros e dois décimos por cento); e (ii) para os exercícios posteriores, ao valor do limite referente ao exercício imediatamente anterior, corrigido pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou de outro índice que vier a substituí-lo, para o período de doze meses encerrado em junho do exercício anterior a que se refere a lei orçamentária (art. 105) (MACHADO SEGUNDO, 2017, p. 29).

60 IBGE. 2020. 61 NEVES, 2020, p. 2

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Bem como, setenta e cinco por cento da população brasileira utilizou, pelo menos uma vez, o serviço público de saúde, atingindo o total de 156 milhões de pessoas atendidas pela atenção básica62, ou seja, o atendimento feito pelo SUS é simplesmente imprescindível.

Dois exemplos indicam as dificuldades do SUS e a necessidade de acompanhamento orçamentário da saúde brasileira frente aos princípios da gratuidade e integralidade; o primeiro, no mês de julho de 2020, um estudante de medicina veterinária no Distrito Federal, foi picado por uma cobra naja, oriunda da Ásia, que ele criava e que entrou ilegalmente no país63. Em virtude desse fato, o paciente entrou em coma e foi necessário levar às pressas o soro especifico, de outro ente federado, para o tratamento do enfermo que estava na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).

O segundo caso é de Laura Ferreira Carvalho, uma criança de 5 meses, recebeu o medicamento Zolgensma, usado para tratar a atrofia muscular espinhal (AME) ao custo de 2,125 milhões de dólares64, ou, aproximadamente dez milhões de reais. O ponto de intercessão dos casos

é que, em ambas as situações, os pacientes não terão que desembolsar nenhum valor, mesmo que na primeira situação, aparentemente, o estudante deu causa ao ferimento e, no segundo, seja um medicamento experimental.

Em nenhum dos casos se faz um juízo de valor sobe o direito à vida ou à saúde dos envolvidos, porém busca-se evidenciar que a manutenção de um sistema gratuito, integral e universal tem um elevado custo para o Estado.

A singularidade do SUS pode ser dimensionada quando se verifica dos fatos de que apenas 1% da população Brasileira acessa exclusivamente o sistema privado de Saúde que, aliás, é uma concessão de serviços públicos, logo estabelece suporte ao próprio SUS, tal como determina a Agência Nacional Saúde (ANS) que trata especificamente da atuação do seguimento privado.

Pelos dados apresentados, também, é possível perceber que o SUS é um dos maiores sistemas de saúde públicos do mundo65, mas devido ao tamanho da população brasileira e a necessidade de

62 Não dá para imaginar o Brasil sem o SUS, pois, em dezembro de 2019, cerca de 156 milhões de brasileiros (nada

menos do que 75% da população de 208 milhões) eram assistidos pela atenção básica de saúde. Na região mais pobre do país, o Nordeste, essa cobertura compreendia 48 milhões (85%) de 57 milhões de nordestinos *SOUSA; BRIONES, MACAMBIRA, 2020, p. 66).

63 MELO, CASELA, 2020. 64 BASSETTE, 2017.

65 Nesse sentido, a atuação do MS tem se pautado, ainda, no fortalecimento da assistência à saúde. Ações têm sido

direcionadas à capacitação de recursos humanos e ampliação da cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da contratação de profissionais, especialmente médicos. Foram ofertadas 5.811 vagas para médicos atuarem nas Unidades Básicas de Saúde em 1.864 municípios, além de 19 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), em todo o país. Capitais e grandes centros urbanos foram contemplados, uma vez que possuem maior adensamento populacional, constituindo-se em locais mais propensos à propagação do coronavírus. Destaca-se também a ação estratégica “O Brasil conta comigo”, voltada à capacitação e ao cadastramento de profissionais da área de saúde, para o enfrentamento à COVID-19. Estudantes que cursam os anos finais dos cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia e farmácia, em instituições de ensino superior, públicas e privadas, também poderão atuar nesta ação (OLIVEIRA; et all 2020, p.2).

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 constantes investimentos são exigidos constantes ajustes para se promover a efetivação do direito à saúde no Brasil.

Antes de se falar propriamente da pandemia da COVID 19, lembra-se que “no Brasil, em 2018, foram diagnosticados 72.788 casos novos de TB (tuberculose), o que corresponde a um coeficiente de incidência de 34,8 casos/100 mil hab66”, um dos maiores índices do mundo. Convive-se com uma epidemia de dengue que, em 2019, apreConvive-sentou o número de “54.777 registrados de casos prováveis de dengue no país, com uma incidência de 26,3 casos/100 mil hab”67; foram ainda

reconhecidos pelas autoridades sanitárias federais “(...) para influenza 17,8% (5.714/32.048) do total de amostras processadas, com predomínio do vírus Influenza A (H1N1) pdm09. Entre as notificações dos óbitos por SRAG, 22,5% (1.109/4.939)68” e, até curiosamente, falecem aproximadamente cinquenta e oito pessoas por ano por picada de abelha no Brasil, segundo os dados oficiais do Ministério da Saúde69, ou seja, o SUS é um sistema que já trabalhava no limite do seu

pré-colapso, mesmo antes da pandemia causada pela COVID 19.

O SUS é um sistema presente em praticamente todos os municípios brasileiros, atendendo de forma gratuita à população. Em um país continental como o Brasil, ele enfrenta diferentes dificuldades, sendo até referência mundial em alguns procedimentos, como a vacinação infantil, o tratamento da AIDS e doenças tropicais como malária.

66 Secretaria de Vigilância em Saúde, 2019, p. 7.

67 Dengue, chikungunya e Zika são doenças de notificação compulsória e estão presentes na Lista Nacional de

Notificação Compulsória de Doenças, Agravos e Eventos de Saúde Pública, unificada pela Portaria de Consolidação nº 4, de 28 de setembro de 2017, do Ministério da Saúde. As informações apresentadas neste boletim são referentes à Semana Epidemiológica (SE) 5 (30/12/2018 a 02/02/2019), comparando-se com o mesmo período para o ano de 2018. Os dados de Zika são os disponíveis até a SE 4 (30/12/2018 a 26/01/2019) (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 05, 2019, p. 1).

68 Até a SE 49 de 2019 foram notificados 39.190 casos de SRAG, sendo 81,8% (32.048/39.190) com amostra processada

e com resultados inseridos no sistema. Destas, 17,8% (5.714/ 32.048) foram classificadas como SRAG por influenza e 23,6% (7.556/32.048) como outros vírus respiratórios. Dentre os casos de influenza 59,5% (3.399/5.714) eram influenza A(H1N1)pdm09, 13,5% (772/5.714) influenza A não subtipado, 12,1% (694/5.714) influenza B e 14,9% (849/5.714) influenza A (H3N2), Entre os outros vírus respiratórios pesquisados (Vírus Sincicial Respiratório, Para influenza e Adenovírus), em 69,9% (5.283/7.556) dos casos foi identificado o VSR – importante ressaltar que o diagnóstico para este vírus é um diferencial desenvolvido dentro da vigilância da influenza, não existindo vigilância específica para estes casos (BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 28,P. 5) .

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Outro dado que, neste momento, chama bastante a atenção é o investimento feito na vigilância sanitária, que tem entre os seus escopos a precaução contra a entrada de patógenos estrangeiros no Brasil, tarefa que não é nada simples em um país continental e que tem pouca segurança em suas fronteiras terrestres e marítimas, mas muito relevante para se evitar situações como a disseminação do novo coronavírus.

Fonte: Siga Brasil/2020

Como se comprova acima, o valor de quinze milhões e novecentos mil reais é um valor pequeno para a tarefa que se impõe e é um fator que demonstra como o Brasil pode estar suscetível à entrada de doenças em território nacional, por falta de investimentos nesta área muito sensível da saúde brasileira, tal qual ocorreu com a COVID 19.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Diante de todos os problemas que o SUS experimentava, acreditava-se que a frase do parlamentar Tiririca70 “pior que tá não fica”, estava incorreta, e o advento da pandemia, de escala global, causada pela COVID 19, demonstrou que, infelizmente, esse quadro pode se deteriorar muito e rapidamente.

O filosofo italiano Giorgio Agamben, no auge da pandemia na Itália, escreveu um texto publicado pelos jornais daquele país e reproduzido no Brasil em que ele alertou “o medo é um mal conselheiro, mas faz aparecer muitas coisas que até então se fingia não ver71”, no caso brasileiro, a sociedade convivia sem grandes alarmes com epidemias localizadas (dengue, chicungunha, H1N1, etc), déficit de leitos, dificuldades de acesso a medicamentos, intensa disputas judiciais pelo acesso ao atendimento médico-hospitalar, mas foi necessário que uma grave crise sanitária motivada pela COVID 19 para que houvesse uma maior preocupação com o sistema de saúde nacional.

Especificamente para a COVID 19, uma doença que surgiu na China,72 no final do ano de

2019, espalhando-se rapidamente (como indica o quadro abaixo), para quase todos os países do mundo, causando medo, uma vez que, tem um alto grau de transmissão entre as pessoas e é uma moléstia que não tem um tratamento cientificamente eficaz.

Fonte: Monitorizador da COVID-19/2020

70 Francisco Everardo de Oliveira Silva, 45 anos, nascido em Itapipoca-Ceará (1965), ficou conhecido pelo nome

artístico “Tiririca”, em virtude de sua trajetória no campo humorístico desde os oito anos de idade, quando iniciou sua atuação em apresentações circenses. É cantor, compositor, humorista e, hoje, também deputado por São Paulo (BORNEMANN; COX, 2011, p. 420).

71 AGAMBEN, 2020, p.2.

72 Ressalvamos que foi mantida a identificação do surgimento na China, por fidelidade aos fatos. Contudo, consideramos

equivocada a postura de hostilizar pessoas orientais, inclusive, os chineses pela proliferação da COVID 19. Mais importante do que se buscar culpados, é a necessidade de se estabelecer melhorias nos sistemas nacionais e internacionais de proteção contra transmissão de patógenos.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 A disseminação da COVID 19 foi impressionante, em pouco mais de seis meses, o número de contaminados já são contados nas dezenas de milhões, situação que não teve precedentes na história humana recente e fato que deve ser objeto de análise para que não ocorra novamente.

No Brasil, a COVID 19 causou duas pandemias, uma sanitária e outra legislativa, com a criação de leis específicas e declarações de calamidade pública em todos os entes federados. Até o mês de julho de 2020, o Brasil contabilizou mais de um milhão e oitocentos mil infectados pelo novo coronavírus e caminha acelerado para o nefasto cumprimento da expectativa de mais de cem mil mortes de pessoas no país, exigindo investimentos públicos urgentes para minimizar seus efeitos.

No mês de julho de 2020, há pelo menos dois grandes problemas ocasionados pela pandemia de COVID 19 no Brasil, por um lado, os sistemas de saúde das capitais estão sobrecarregados e, por outro, a doença espalha-se rapidamente pelo interior do país, gerando insegurança, medo e muitas mortes, como demonstra o gráfico elaborado pelo ministério da Saúde.

Fonte: Ministério da Saúde

Para fazer frente a essa epidemia sem precedentes no século XXI, o Brasil aprovou uma emenda à Constituição com um orçamento específico para as ações estatais de combate ao novo coronavírus. A situação é tão grave que este instrumento jurídico é conhecido como PEC de Guerra, indicando o espírito deste momento no Brasil, tendo o seguinte orçamento.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Fonte: Siga Brasil/2020

A contextualização necessária é que, no ambiente de crise global causada pelo novo coronavírus, todos os países precisaram se equipar rapidamente, situação que elevou consideravelmente o preço de equipamentos médico-hospitalares e de medicamentos.

Percebe-se o esforço estatal para o combate a COVID 19 pelo envolvimento interministerial e a realocação de recursos entre os entes federados, viabilizando o federalismo cooperativo no tocante ao acesso à saúde para os milhões de brasileiros que necessitam de atendimentos neste momento de incerteza, tal qual aponta o quadro abaixo.

Fonte: Siga Brasil/2020

A exata utilização dos investimentos no combate a COVID 19 também pode ser acompanhada em tempo online, no Portal Siga Brasil, indicando que, apesar das flagrantes deficiências que o SUS acumulou, estão sendo tomadas medidas concretas para o enfrentamento do novo coronavírus.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Ainda pelos dados apresentados, o SUS já estava sobrecarregado e, devido à COVID 19, enfrenta sérios riscos de colapso, em razão de uma alta demanda. Infelizmente a frase do Deputado Federal Tiririca estava errada e a situação sanitária brasileira piorou consideravelmente.

Neste tocante, é necessário que a academia se debruce de forma transdisciplinar para apresentar soluções factuais, mais do que críticas, esse é um momento em que se espera o afunilamento de esforços públicos. Também a sociedade, em geral, tem o seu papel no dever de acompanhar o desenvolvimento da utilização dos recursos públicos, exigindo que haja transparências e efetividade das ações tomadas.

Por fim, almeja-se que, neste momento, o direito fundamental à saúde receba ainda mais atenção e que este movimento se transforme em ações que possam continuamente melhorar o acesso à saúde pública no Brasil, pelo simples fato de que ele é um direito fundamental, procedimentalizado essencialmente pelo SUS.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo enfrenta a maior pandemia do século XXI gerada pelo novo coronavírus, denominada de COVID 19. O Brasil foi atingindo com ainda mais severidade e são dezenas de milhares de mortos e, o mais grave, os números não param de subir rapidamente. Na segunda semana de julho, espera-se que haja mais de dois milhões de pessoas contaminadas e, também, um crescente número de óbitos.

Com este quadro, perseguiu-se a problematização de qual é o impacto orçamentário e de efetivação do direito fundamental ao acesso à saúde no Brasil por causa da pandemia gerada pela COVID 19? O objetivo geral foi demonstrar que o Sistema Único de Saúde está sob stress e em um momento pré-colapso que, caso seja confirmado, interromperá o atendimento a milhões de brasileiros.

Para se alcançar os resultados, foi utilizado método hipotético dedutivo e as técnicas de revisão bibliográfica e análise dos dados primários sobre o Orçamento Público da União, que são disponibilizados no Portal Siga Brasil, mantido pelo Senado Federal, e da Transparência do Executivo Federal.

A trilha seguida neste paper passou pela demonstração da essencialidade dos direitos fundamentais, a demonstração de que os direitos fundamentais sociais têm aplicabilidade imediata, não necessitando da intermediação de normas infraconstitucionais.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Apontou-se que os direitos fundamentais sociais necessitam constantemente de recursos financeiros para que sejam eficazes. Porém, não estão subordinados à economia, uma vez que têm uma dimensão objetiva que impõe o dever estatal de realizar suas exigências estatais.

Dentro da percepção de que os direitos fundamentais sociais necessitam de alocação de recursos, detalhou-se que especialistas e a sociedade em geral devem observar, com mais atenção, a elaboração das leis orçamentárias, pois nelas estarão previstas as condições financeiras para o estabelecimento das condições necessárias para concretização de todos os direitos essenciais.

Em seguida, demonstrou-se que a Constituição Cidadã recepcionou expressamente o direito à saúde, inclusive, estabelecendo que ela é um serviço público, integralizado de forma híbrida por agentes públicos e privados. Os atores envolvidos são coordenados pelo Sistema Único de Saúde que se baliza pelos princípios da gratuidade, integralidade e universalidade.

No Brasil, tal como demonstrado, milhões de pessoas são atendidas em suas necessidades sanitárias de maneira gratuita pelo usuário, porém por consequência lógica, todos os entes federados (União, Estados-membros, Municípios e o Distrito Federal) custeiam todo o sistema. Sendo o SUS custeado pelo erário, deve-se ter em mente que os recursos públicos são cada vez mais escassos e devem ser tratados com grande zelo.

Avançando, foi confirmado que, por causa da COVID 19, foi aprovado pelo Congresso Nacional um orçamento bilionário específico que está sendo utilizado no combate à epidemia, bem como, o instrumento orçamentário está sendo distribuído para os demais entes da federação.

Frente a estas constatações, duas considerações destacam-se, uma o SUS é o principal ator de acesso ao direito à saúde dos brasileiros, a segunda, em meio a COVID 19, há que se cuidar das alocações orçamentárias para que o sistema público atue de forma preventiva e, principalmente, mantenha-se como o ponto central de acesso ao direito fundamental à saúde do Brasil.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 58529-58552 aug. 2020. ISSN 2525-8761

REFERÊNCIAS

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