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Reflexões acerca da abordagem qualitativa na pesquisa em educação em ciências / Reflections on the qualitative approach in science education research

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 62749-62758 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Reflexões acerca da abordagem qualitativa na pesquisa em educação em

ciências

Reflections on the qualitative approach in science education research

DOI:10.34117/bjdv6n8-636

Recebimento dos originais: 08/07/2020 Aceitação para publicação:27/08/2020

Paula Naranjo da Costa

Mestra em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia

Instituição :Secretaria de Estado de Educação e Qualidade Ensino do Amazonas -SEDUC Endereço: Avenida Maués – 656- Cachoeirinha. Cep: 69065070

E-mail: naranjo.paulac@gmail.com

Ronara Viana Cordovil

Mestra em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia

Instituição :Secretaria de Estado de Educação e Qualidade Ensino do Amazonas -SEDUC Endereço :Rua Benjamin Portal 3797, 69152016, Itaúna I.

E-mail: ronara.viana07@gmail.com

RESUMO

Os debates no campo da Educação em Ciências e as pesquisas voltadas para a área apontam para a

necessidade de mudanças teórico- metodológicas, principalmente em pesquisas no contexto escolar. No que tange a abordagem qualitativa, esta vem se configurando nas últimas décadas como uma tendência expressiva em pesquisas educacionais, e na área de ciências, em particular. Nesse sentido, o presente estudo, de cunho bibliográfico, propõe compreender as implicações da abordagem qualitativa de pesquisa no âmbito da pesquisa em Educação em Ciências. Para tanto, destaca um panorama histórico sucinto da abordagem qualitativa, identificando assim, suas principais características teórico-metodológicas, de forma a refletir acerca da contribuição no âmbito da pesquisa no Ensino de Ciências. As considerações aqui apresentadas apoiam-se, entre outros, nas reflexões de Laville e Dionne (1999), Creswell (2010), Triviños (1987) Chizzotti (2006), Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), Cachapuz, Praia e Jorge (2004) e Moreira (2004). De forma reflexiva, as pesquisas com cunho qualitativo no contexto da Educação em Ciências, acima de tudo, podem contribuir na reflexão de novos caminhos de pesquisas, que priorizem pressupostos teórico-metodológicos mais consistentes, considerando os sujeitos, os desdobramentos da realidade investigada e o papel ativo do pesquisador.

Palavras chave: Educação em ciências, Abordagem qualitativa, Pesquisa em educação. ABSTRACT

The debates in the field of Education in Sciences and the researches directed to the area point to the necessity of theoretical and methodological changes, mainly in researches in the school context. Regarding the qualitative approach, it has been configuring itself in the last decades as an expressive trend in educational researches, and in the area of sciences, in particular. In this sense, the present

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study, of bibliographical nature, proposes to understand the implications of the qualitative approach of research in the field of Education in Sciences. To this end, it highlights a brief historical overview of the qualitative approach, thus identifying its main theoretical and methodological characteristics, in order to reflect on the contribution in the field of research in Science Education. The considerations presented here are based, among others, on the reflections of Laville and Dionne (1999), Creswell (2010), Triviños (1987) Chizzotti (2006), Delizoicov, Angotti and Pernambuco (2011), Cachapuz, Praia and Jorge (2004) and Moreira (2004). In a reflexive way, researches with a qualitative nature in the context of Science Education, above all, can contribute to the reflection of new research paths, which prioritize more consistent theoretical-methodological assumptions, considering the subjects, the unfoldings of the researched reality and the active role of the researcher.

Keywords: Education in Science, Qualitative approach, Research in education.

1 INTRODUÇÃO

O campo de Educação em Ciências vem sendo pauta de debates nos últimos anos e pesquisas voltadas para a área pressupõem a necessidade de mudanças teórico-metodológicas, principalmente em pesquisas no contexto escolar, a fim de romper a barreira existente no ensino entre os conhecimentos científicos e os demais saberes apresentados nas realidades escolares (DELIZOICOV, ANGOTTI e PERNAMBUCO, 2011).

Assim, sabendo do caráter interdisciplinar da área de educação em ciências (CACHAPUZ, PRAIA & JORGE, 2004), cuja construção epistemológica se dá entre saberes de outras áreas disciplinares, a pesquisa neste campo demanda abordagens que contribuam para a visualização das inquietações emergentes do âmbito educacional, o que implica a necessidade de promoção de uma cultura científica aos cidadãos.

Por outro lado, no que tange a abordagem qualitativa, esta vem se configurando nas últimas décadas como uma tendência dominante em pesquisas em educação, e na área de ciências, em particular, como exemplificados nos levantamentos em congressos feitos por Greca (2002) e Medeiros (2002). Nesse sentido, quais as implicações da pesquisa qualitativa no campo de pesquisa em educação em ciências visando o fortalecimento da pesquisa no contexto escolar?

As reflexões construídas, desse modo, objetivam compreender as implicações da abordagem qualitativa no âmbito da pesquisa em educação em ciências. Para tanto, destaca um panorama histórico sucinto da abordagem qualitativa, identificando assim, suas principais características teórico-metodológicas, de forma a refletir, por fim, a contribuição especificamente na pesquisa em educação em ciências.

Tal contexto implicou na necessidade de buscar subsídios teóricos para as incertezas metodológicas surgidas na construção do percurso da pesquisa em educação em ciências, apoiando

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as considerações aqui apresentadas, entre outros, nas reflexões de Laville e Dionne (1999), Creswell (2010), Triviños (1987) Chizzotti (2006), Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2011), Cachapuz, Praia e Jorge (2004) e Moreira (2004).

2 BREVES APONTAMENTOS DA ABORDAGEM QUALITATIVA EM PESQUISA CIENTÍFICA

As inquietações e buscas por respostas que possam resolver determinados problemas, partem da necessidade de conhecer e explicar a realidade em volta. São produtos histórico-sociais e se desenvolvem em determinado espaço e tempo. Assim o conhecimento científico teve sua gênese, advinda das transformações do homem pré-histórico na construção de saberes que pudessem garantir sua sobrevivência (LAVILLE E DIONNE, 1999).

Os autores acima mencionados, destacam aspectos importantes na construção do saber científico e em meio a vários tipos de saberes, o conhecimento científico, como construção histórica, é produto de rupturas e contestações. Foi, desse modo, diante da inquietação de saber e conhecer mais, a partir de métodos considerados mais confiáveis que surge o saber científico.

As concepções de pesquisa qualitativa nascem, da mesma forma, frente a contestação aos métodos da pesquisa quantitativa, com bases positivistas. De acordo com os princípios positivistas (CHIZZOTTI, 2006) na pesquisa quantitativa, a objetividade científica fundamenta-se no tratamento estatístico dos dados. O pesquisador parte da neutralidade, de forma a não influenciar a realidade observada, e deve medir relações entre os fenômenos, testar hipóteses, bem como estabelecer generalizações por meio de técnicas de amostragem, estudos experimentais controlados e mensurados para sua validação final.

O progresso da ciência ocorreu a partir do século XVI com o surgimento da pesquisa científica, composta por seus aportes teóricos e práticos citados anteriormente. O conhecimento filosófico que ficava no plano do pensamento reflexivo (LAVILLE & DIONNE, 1999), deu vez a abordagem positivista, de observação do real, explicada através da experimentação e mensuração. Nessa perspectiva, são nas transformações da ordem social oriundas da industrialização do século XIX que a ciência tem seu triunfo. As ciências humanas emergiram neste contexto, com raízes positivistas. Conforme Laville e Dionne (1999, p. 53) as ciências humanas se desenvolvem “com o objetivo de compreender e de intervir na ordem social da mesma forma que as ciências naturais tentavam dominar a natureza”.

Acreditava-se que enfoque positivista em pesquisas poderia ser aplicado tanto em objetos quanto em humanos, insurgindo as ciências humanas com esse mesmo espírito. Desconsiderava-se,

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por outro lado, a complexidade do ser humano, que é capaz de agir e reagir, a partir de suas próprias ideias, opiniões, valores, ambições e visão das coisas (LAVILLE & DIONNE, 1999).

São a partir dos questionamentos às inadequações da abordagem no estudo com seres humanos que as pesquisas fundamentadas no positivismo enfraquecem. As pesquisas em ciências humanas e sociais começam a contestar métodos, uma vez que era quase impossível quantificar dados em relação a seres humanos que possuíam. Nesta nova configuração social, os estudos qualitativos das ciências humanas adquirem seu caráter científico nascendo da contestação aos pressupostos das ciências da natureza.

Para Triviños (1987, p. 116) “os avanços das ideias facilitou o confronto de perspectivas diferentes de entender o real. Frente à atitude tradicional positivista de aplicar ao estudo das ciências humanas os mesmos princípios e métodos das ciências naturais”.

Segundo um retrospecto histórico, as transformações da pesquisa qualitativa marcam rupturas a modelos únicos de fazer pesquisa científica. Chizzotti (2006), em síntese, destaca cinco marcos que (re) significaram este campo de pesquisa, apresentados a seguir. O primeiro emerge quando a pesquisa qualitativa reivindica autonomia, rompendo com as exigências metodológicas das ciências da natureza.

Nesse processo consolida-se o segundo marco, proveniente da Antropologia que, enquanto campo de saber, começa a percorrer novos caminhos de investigação dos grupos humanos e suas culturas, através dos métodos etnográficos. O terceiro marco é a solidificação da pesquisa qualitativa como modelo de pesquisa, uma vez que reconhece a relevância do sujeito, dos valores, dos significados e intenções da pesquisa.

Os outros dois marcos fundamentam-se na ampliação dos investimentos na área, desenvolvidos dos centros de pesquisas, bem como a consolidação do capitalismo liberal, aflorando análises críticas das desigualdades sociais e colocando o pesquisador enquanto parte integrante da realidade social. Em resumo, para Chizzotti (2006, p. 54) “uma confluência de tendências, disciplinas científicas, processos analíticos, métodos e estratégias aportam à pesquisa qualitativa criando um campo amplo de debates sobre o estatuto da pesquisa”.

No que tange ao contexto nacional, segundo André (2000), o número crescente de pesquisas na área educacional deu-se pela expansão das pós-graduações, ganhando força na década de 80 e 90 a abordagem qualitativa, caracterizada como campo amplo, que não possui padrão único e seus aspectos teóricos-metodológicos surgem em diferentes enfoques nas alternativas de investigação, como se identifica a seguir.

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3 CARACTERÍSTICAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA ABORDAGEM

QUALITATIVA

De certo, grande parte das pesquisas no campo da educação desenvolvem-se a partir da abordagem qualitativa. Conceituá-la em uma definição única seria limitada, tendo em vista suas inúmeras abordagens de investigação. Neste sentido, corrobora-se com Chizzotti (2006) e Triviños (1987), uma vez que para eles a pesquisa qualitativa parte das teorias que as fundamentam e também pelo tipo/modalidade de pesquisa.

Segundo Chizzotti (2006) as tendências da pesquisa qualitativa configuram-se como um campo transdisciplinar, assumindo múltiplos paradigmas de investigações e métodos. Para o autor, “O termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2006, p. 28).

Conforme Triviños (1987), as características que embasam a pesquisa qualitativa são provenientes de bases filosóficas, onde destacam-se a fenomenologia e o materialismo dialético, questionadoras dos pressupostos positivistas, que são basilares à pesquisa quantitativa. A primeira base, fenomenológica, prioriza aspectos subjetivos dos atores, tendo o pesquisador, papel de interpretar a realidade vivida segundo os significados que os fenômenos se apresentam para o do sujeito. Para o autor (1987, p. 43) “a fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, tornam a definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo”. Tal enfoque filosófico apoia-se essencialmente nas ideias de Husserl, Heidegger, Dilthey entre outros.

A segunda, materialista dialética, “parte da necessidade de conhecer (através de percepções, reflexão e intuição) a realidade para transformá-la em processos contextuais e dinâmicos complexos” (TRIVIÑOS, 1987, p. 117). O pesquisador interpreta a realidade associando as partes com o todo, estabelecendo as relações sócio-históricas presentes. Como menciona o autor, fundamentam-se, principalmente nas ideias de Marx, Engels, Gramsci.

Nessa perspectiva, o teor de desenvolvimento da pesquisa qualitativa se dará pela natureza epistemológica que apoiará o pesquisador. Este possui, assim, um papel primordial em todo o processo de investigação. Como salienta Chizzotti (2006), o pesquisador qualitativo não é mero relator passivo e deve desprender-se de preconceitos, de modo a se predispor para assumir uma atitude aberta às manifestações observadas, a fim de alcançar um entendimento amplo dos fenômenos apresentados.

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Quanto as características gerais da abordagem qualitativa em pesquisa, Triviños (1987), tomando como base Bogdan (1982), elucida alguns pontos de natureza fenomenológica, tais como o ambiente natural como fonte de dados, o caráter descritivo, tendo como base a percepção de um fenômeno em um contexto; a preocupação dos pesquisadores qualitativos com o processo e não somente com os resultados e o produto; a análise dos dados feitas indutivamente e a base de interpretação fundamentadas nos significados que os sujeitos dão ao fenômeno.

Seguindo essa mesma linha de argumentação, Creswell (2010), apoiando-se nas ideias de Rossman e Rallis (1998) demarca os atributos da pesquisa qualitativa. Destaca, também, o cenário natural que se desenvolve a pesquisa, o que permite ao pesquisador captar detalhes sobre os sujeitos ou sobre o local, bem como estar inserido nas experiências reais dos participantes.

Levanta ainda, considerações a respeito do pesquisador qualitativo, que geralmente pode adotar uma ou mais estratégias de investigação, exemplificando como possiblidades, a narrativa, fenomenológica, etnográfica, estudo de caso, e teoria baseada na realidade. Triviños (1987) e Chizzotti (2006), da mesma forma citam e suscintamente discorrem sobre algumas modalidades de pesquisas qualitativas, tais como a pesquisa-ação, participativa, história de vida entre outras.

Quantos aos procedimentos e técnicas de coleta de dados, Creswell (2010) esclarece que a pesquisa qualitativa se vale de múltiplos métodos, e geralmente se configuram em quatro tipos básicos: observações, entrevistas, documentos e materiais audiovisuais. Tais perspectivas se concretizam de formas diversas, dependendo de cada modalidade de pesquisa. Desenvolvem-se, frequentemente entre observação direta, do tipo participante; entrevista do tipo aberta e semiestrutura.

Ainda conforme o autor a pesquisa qualitativa caracteriza-se fundamentalmente na forma interpretativa onde “[...] o pesquisador filtra os dados através de uma lente pessoal situada em um momento sociopolítico e histórico específico” (CRESWELL, 2010, p. 186-187). O que significa dizer, que diferente da abordagem quantitativa, não há possibilidade de neutralidade, carregando cada pesquisador uma concepção acerca do objeto de estudo no processo de pesquisa.

A análise e interpretação dos dados, por sua vez, consistem segundo Creswell em um processo contínuo, que envolve um exercício de reflexão analítica sobre os dados e todo o caminho da pesquisa. Chizzotti (2006), por sua vez, enfatiza como possibilidades a análise de conteúdo, narrativa e do discurso.

Triviños (1987, p. 171) argumenta, por outro lado, que a coleta e a interpretação dos dados não se dão separadamente, principalmente nas pesquisas qualitativas de natureza fenomenológica,

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pois de forma flexível “[...] permite a passagem constante entre informações que são reunidas e que, em seguida, são interpretadas, para o levantamento de novas hipóteses e nova busca de dados”. Diante do exposto, destaca-se o campo amplo de investigação que a pesquisa qualitativa proporciona, considerando a construção de caminhos para a interpretação da realidade pesquisada. Tal abordagem em pesquisa, em seus diferentes enfoques permite alternativas teórico-metodológicas para investigação no campo da educação e, em especial, na educação em ciências.

4 IMPLICAÇÕES PARA A PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

As abordagens qualitativas em pesquisas na área de educação em ciências é uma realidade crescente. Conforme Moreira (2004) a pesquisa em educação em ciências, assim como no campo da educação de modo geral, tem suas origens metodológicas no enfoque quantitativo/estatístico, mudando nas últimas décadas para o enfoque qualitativa/ etnográfico e na atualidade percebe uma articulação entre os paradigmas, que denomina de triangulação pacífica.

A pesquisa em educação em ciências ainda, segundo o autor, dedica-se na busca de respostas a inquietações acerca do ensino, aprendizagem, currículo e formação de professores, no contexto educativo em ciências. (MOREIRA, 2004). Neste sentido, a abordagem qualitativa permite uma visão contextualizada do problema da pesquisa e nas lacunas presentes no caminho interpretativo do estudo, em particular do cotidiano escolar, uma vez que o ambiente da pesquisa é natural, possibilitando enxergar a realidade nas diversas nuances que se apresenta e não de forma isolada. Embora as abordagens qualitativas, por alguns críticos, sejam vistas com caráter permissivo, sem a preocupação excessiva em dados estatísticos, busca coerência entre o problema da pesquisa e os fundamentos teórico-metodológicos. Existe uma preocupação em interpretá-los e não em quantificá-los, bem como de perceber todo o processo e não somente os resultados (TRIVIÑOS, 1987).

Tal perspectiva de investigações com seres humanos, demanda que os considerem em suas características particulares, dentre sua subjetividade e interações que estabelecem socialmente (CHIZZOTTI, 2006), abrindo novos caminhos para interpretações dos problemas em educação em ciências, principalmente nas pesquisas que tratam da relação ensino e aprendizagem.

Sendo a educação em ciências um espaço de reflexão e de ação (CACHAPUZ, PRAIA & JORGE, 2004), objetivando a formação crítica dos cidadãos, a abordagem qualitativa também contribui, pois, sua preocupação central não reflete na busca por verdades absolutas, mas na inquietude de novos questionamentos, na ampliação de novas discussões, fatores essenciais para a construção de conhecimentos.

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Outro ponto de convergência das áreas gira em torno do pesquisador qualitativo enquanto ator no processo de pesquisa (CRESWELL, 2010). A caracterização da pesquisa qualitativa e seus fundamentos possibilita o aprofundamento do pesquisador em ciências em seu contexto de pesquisa, refletindo e questionando seu objeto de estudo, de modo a captar questões que talvez não fossem percebidas distanciadamente. Como argumenta André (2001) em relação ao pesquisador, nos últimos anos tem havido grande valorização do olhar de “dentro”, a fim de atenuar as lacunas existentes no processo de investigação.

Um desafio emergente da educação em ciências é articulação dos saberes científicos com a realidade exposta no contexto educacional, na procura de uma educação que propicie ciência para todos, sem distinção (DELIZOICOV, ANGOTTI & PERNAMBUCO, 2011). Assim, a aproximação com abordagens qualitativas, em pesquisas que priorizam as relações ensino e aprendizagem, contribui para a integração do sujeito com seu meio natural, o que viabiliza interpretações diante de toda sua complexidade.

As pesquisas com cunho qualitativo no contexto da educação em ciências, sobretudo, podem contribuir na reflexão de novos caminhos de pesquisas, que oportunizem pressupostos teórico-metodológicos mais consistentes, considerando os sujeitos, os desdobramentos da realidade investigada e o papel ativo do pesquisador.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a educação em ciências campo reflexivo relacionado com a crescente tendência em investigação das abordagens qualitativas nos últimos anos, compreende-se que esta articulação converge para a superação das debilidades teórico-metodológicas de ambos os campos. Foi percebido no panorama apresentado que as ciências e pesquisas tiveram seu desenvolvimento a partir das inquietações e busca por explicações da realidade vivida. Hoje entende-se, em especial no campo da pesquisa educacional, que a concepção de ciência enquanto verdade única e inquestionável está enfraquecida.

As contribuições que a abordagem qualitativa traz às pesquisas em educação em ciências, portanto, não são fixas e irrefutáveis. Cabe também salientar que as limitações em pesquisa em ciências e em educação em geral são oriundas do desconhecimento relacionados as questões metodológicas, sejam em suas perspectivas quantitativas ou qualitativas.

Dessa forma, a intencionalidade de compreender pressupostos teórico-metodológicos basilares para se fazer pesquisa em educação em ciências, implica necessidade de construir caminhos mais consistentes em pesquisas que demandam, em particular, o contexto escolar.

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A possibilidade de ampliação de debates das pesquisas em educação em ciências, também, são meios de aproximação da ciência e escola, sendo pautas emergentes em pesquisas. Tal contexto reflete em novas perspectivas de pesquisas a serem traçadas, promovendo a educação científica em todos os níveis de ensino.

Por fim, o intuito não foi aprofundar-se na descrição exaustiva das abordagens da pesquisa qualitativa, tampouco apontar o tipo de pesquisa que melhor a evidencia, mas identificar características importantes e pressupostos teórico-metodológicos, de modo a refletir analiticamente acerca dos caminhos de desenvolvimento, em especial, na pesquisa em educação em ciências e sua interface com o contexto educativo.

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REFERÊNCIAS

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http://nead.uesc.br/arquivos/Biologia/modulo_7_bloco_1/tcc/texto_2_pesquisa_em_educacao_bus cando_rigor_e_qualidade.pdf. Acesso em: 14/06/2016.

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UNESP, 2004. Disponível em:

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CHIZZOTTI, A. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.

DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J.A.; PERNAMBUCO, M.M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. – 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2011.

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LAVILLE, C. DIONNE, J. A construção do saber: Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. – Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999.

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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. – São Paulo: Atlas, 1987.

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