• Nenhum resultado encontrado

O LIMIAR DA EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NO RIO DE JANEIRO EM 1850

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O LIMIAR DA EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NO RIO DE JANEIRO EM 1850"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

O LIMIAR DA EPIDEMIA DE FEBRE AMARELA NO RIO DE

JANEIRO EM 1850

Jorgemberg Braz dos SANTOS

1

;

Valéria Almeida Rodrigues

2

Acadêmico do Curso de Odontologia da Universidade do grande Rio - José de Souza Herdy (UNIGRANRIO) – Barra da Tijuca. Especialista em História da África e da Diáspora Africana no Brasil. Graduado em História pela Faculdade Simonsen, RJ.

Jorgemberg.uff@gmail.com

Enfermeira, Mestre em enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Especialista em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela FIOCRUZ/IPEC, docente na UNIGRANRIO.

INTRODUÇÃO

Até finais de 1849 o porto do Rio de janeiro recebia livremente qualquer navio que chegava à cidade. Os estrangeiros desembarcavam e se misturavam ao povo, dentre eles os que se destinavam à Califórnia (a participar da “febre do ouro”, ou “corrida do ouro”, que ocorria naquele estado1), que, segundo Pereira Rego2, vinham de países que sofriam ataques de diversas epidemias, não se preocupando as autoridades de saúde do Rio em estabelecer “barreiras” eficazes contra as ameaças de contaminação via “importação”. A explicação para isso está na confiança que os médicos tinham na aparente salubridade do ar atmosférico do estado, que retardava os efeitos nocivos dos “materiais combustíveis” provenientes da péssima condição sanitária da cidade. O diminuto número de doentes vitimados por moléstias graves internados nos hospitais reforçava a idéia de que qualquer epidemia só poderia surgir no outono, ou seja, a partir de 20 de março, se as “condições favoráveis viessem pôr em conflagração os elementos combustiveis há tanto tempo acumulados3”.

1

Correio Mercantil do Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1849, p.1 e 2. Disponível em

http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/correio-mercantil/186244 Acessado em 30/01/2014.

2

José Pereira Rego,Historia e descripção da febre amarella epidemica : que grassou no Rio de Janeiro em 1850, p.3. Disponível em

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.subject%3AFebre\+amarela\+\-\+S%C3%A9c.\+XIX. Acessado em 13/09/2012.

(2)

OBJETIVO

Evidenciar o aparecimento da doença na cidade do Rio de Janeiro, suas manifestações, origem, e consequências na sociedade em 1850, considerando os primeiros casos no Brasil antes daquele período.

METODOLOGIA

Foram usados periódicos, obras literárias secundárias e não-secundárias, disponibilizados pela Biblioteca Nacional e outros órgãos oficiais de pesquisas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O Brasil fora vítima da epidemia de febre amarela pela primeira vez na história no ano de 1685, sendo Pernambuco o primeiro estado a sentir os efeitos drásticos da doença, passando depois para a Bahia. Pela ausência de informação oficial sobre o que ocorria na Bahia setecentista, o comportamento religioso da população baiana foi acompanhado pelo medo, por conta da ansiedade, demonstrado nas procissões e nas muitas rezas - fatos que se repetiram na segunda aparição epidêmica de 1849/1850. As evidências científicas sobre o início da primeira epidemia de febre amarela no Brasil apontam com credibilidade a data de 1685 para Pernambuco e 1686 para o estado da Bahia, desaparecendo por dois séculos, sem mostrar qualquer sinal da mesma manifestação epidêmica até outubro de 1849, quando reaparece nos dois estados fazendo um sentido inverso, sendo também contaminado o Rio de Janeiro. Depois de atingir Pernambuco e Bahia na segunda metade do século XVII, (1685-1695) em sua primeira aparição, a epidemia de febre amarela demorou quase duzentos anos para reaparecer em solo brasileiro. Esse espaço de tempo sem a presença da epidemia ocasionou discussões na segunda metade do século XIX, acerca da espontaneidade do desenvolvimento da doença no país, pois, cria-se que a decadência da higiene e das obras públicas aqui encontradas mantinham continuamente a presença de “criadouros” dos verdadeiros agentes propagadores da doença. Para outros, não havia explicação razoável para o motivo de tão longo tempo de ausência da doença, a não ser a sua importação. As opiniões se dividiam. Pereira Rego era favorável à importação da febre amarela, baseado na falta de literatura do gênero que comprovasse sua contínua ação no país. Porém, pelo longo “silêncio”, estava claro para Rego, que ela se ausentou do nosso território por algum motivo maior que a combateu - os meios de oposição à doença, usados pelo governo naqueles momentos críticos. Seguindo a linha teórica de Pereira Rego, não há registros que informam a ação da doença no período do descobrimento do Brasil, mas é informado nos documentos que antes de 1850 a febre amarela

(3)

era desconhecida pelos médicos brasileiros. Juntando essa teoria oitocentista às crônicas que favoreciam a idéia da importação da doença concluímos que ela foi importada, primeiramente da África, e que os meios de combate à doença em 1850, usados pelos governos, conseguiram controlá-la. Alguns autores afirmam que a aparição da febre amarela na cidade contribuiu muito para os maiores esforços do governo para a melhoria da saúde pública no Rio, causando o aceleramento das obras urbanas, do saneamento e a retomada da questão sobre o enterramento dos mortos. Todavia, em nosso estudo vimos um ponto interessante: no cenário dramático exposto encontramos no meio médico dois grupos teóricos: os que professavam a idéia do contágio entre pessoas e os que a rejeitavam, os chamados infeccionistas. O primeiro grupo era majoritário, revelando com isso o grau de temor que pairava sobre a opinião médica e o medo da epidemia ficar fora de controle, sob o risco de dizimar a população. Mediante essa observação vimos que o que motivou a aceleração da realização dos planos antigos do governo em sanear a cidade (e o país) foi a teoria do contágio e não apenas a presença da febre amarela. A crença no contágio proporcionou o melhoramento dos quesitos que impediam a manutenção da saúde da população; inclusive foi trabalhada a questão que hoje sabemos ser favorável à procriação do mosquito Aedes aegypti – transmissor da febre amarela urbana e da dengue – o acúmulo de água parada. Se não houvesse iniciativa do governo em conclamar os homens de ciência, a população religiosa dos estados acometidos pela febre amarela teria sido varrida da história. De acordo com Neves e Machado,

“A febre amarela de 1849 e 1850 infectou 90.658 pessoas, (...), provocando 4.160 óbitos, em uma população de 166 mil habitantes”4.

Alguns anúncios do Jornal do Cormércio (JC) de fevereiro demonstraram ser a doença um conjunto de febres que acometiam ao mesmo tempo o indivíduo. Motivo pelo qual o vocábulo era comumente colocado no plural: “febres”. Em primeira análise, o mais curioso foi verificar que o uso do termo nos anúncios verificados parece influenciar na nossa convicção de que é mais uma prova contundente da falta de conhecimento médico em diagnosticar corretamente a doença até aquele período, confundida pelas variedades de sintomas e pela similaridade com os diversos tipos de febres que acometia sazonalmente a cidade, quando pronunciada “febres amarelas” por políticos e médicos, por conta da icterícia. Essa pluralidade interligava a febre amarela principalmente com a febre intermitente e a biliosa. Em ambas eram constatadas a icterícia; a prmeira amarelava a pele no fim do segundo período, porém, a última, já no

(4)

primeiro dia. Os números estimativos de Pereira Rego para todo o período da primeira epidemia no Rio de Janeiro foi de 4.160 óbitos, diferente dos dados oficiais, que computavam 3.860 mortos5. Ele acrescentou aos dados oficializados 300 casos, todos ocorridos fora da corte, desde os que morreram à mingua (por falta de recursos), como aquelas vítimas nas freguezias do interior e as que eram registrados nos atestados de óbitos como vítimas de outras doenças. Segundo Chernoviz, a população da cidade em 1850 era de 250.000 habitantes e, de janeiro até agosto, foram afetadas pela epidemia mais de 100 mil pessoas, morrendo 3.827 vítimas6 - é claro que estes números não podem ser considerados como uma verdade absoluta, devido à falta de eficientes técnicas recensitárias da época, mas serve como um parâmetro científico-teórico, na comparação factual.

CONCLUSÃO

O combate à febre amarela na cidade do Rio naquele período ocorreu por conta do medo do contágio, fazendo com que o governo, finalmente, colocasse em prática uma medida que estava sendo protelada desde à primeira aparição da doença no país: o saneamento da cidade. Todavia, a Bahia foi a primeira a iniciar os esforços.

DESCRITORES

Febre amarela, epidemia, Rio de Janeiro, doença, contágio, atenção primária.

REFERÊNCIAS

Correio Mercantil do Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1849, p.1 e 2. Disponível em http://hemerotecadigital.bn.br/acervo-digital/correio-mercantil/186244 Acessado em 30/01/2014.

José Pereira Rego,Historia e descripção da febre amarella epidemica : que grassou no Rio de

Janeiro em 1850, p.3. Disponível em

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.subject%3AFebre\+amarela\+\-\+S%C3%A9c.\+XIX. Acessado em 13/09/2012.

5

José pereira Rêgo, Memória histórica das Epidemias da febre amarela e da Colera Morbus que têm reinado no Brasil, p.40. Disponível em http://www.archive.org/stream/memoriahistorica00rego#page/n3/mode/2up. Acessado em 01 de janeiro de 2012.

6

CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Diccionario de Medicina Popular e das Sciencias Accessarios para uso das Familias (Volume 2: G a Z), p.1088.

(5)

CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Diccionario de Medicina Popular e das Sciencias Accessarios para uso das Familias (Volume 1: A a F), 1812-1881. Disponível em http://www.brasiliana.sp.br/bbd/handle/1918/00756310#page/1/mode/1up. Acessado em dezembro de 2010.

________________________________(Volume 2: G a Z).

REGO, José Pereira. Memória histórica das Epidemias da febre amarela e da Colera Morbus que têm reinado no Brasil. Disponível em http://www.archive.org/stream/memoriahistorica00rego#page/n3/mode/2up Acessado em janeiro de 2012.

__________________. Historia e descripção da febre amarella epidemica : que grassou no

Rio de Janeiro em 1850 Disponível em

http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.subject%3AFebre\+amarela\+\-\+S%C3%A9c.\+XIX. Acessado em 13/09/2012.

Referências

Documentos relacionados

Em função do atraso da entrada em operação de determinados parques do Complexo Eólico Alto Sertão III que atenderiam aos contratos no mercado livre, a controlada Renova

O outro exemplar pertencente a esta fase de ocupação é um fragmento de bordo de uma taça-trípode exumada da Unidade Estratigráfica [1299] (Fig. 6), cujos os materiais

However, in C2, hand thinning had the same behavior as chemical thinning with the different metamitron concentrations for fruit yield per plant in 2016 and 2017 and for number

O Sítio Riacho do Salgado está situado no Município de Ibimirim, na Unidade Rural do Salgado, sob as UTMs 661427E e 9059728N, com abertura a Sudeste e orientação Norte/Sul. O

1º - DESIGNAR Jaqueline Telis de Oliveira, jornalista, matrícula SIAPE nº 1904681, para em substituição a servidora Valdirene Nascimento da Silva Oliveira, Docente, matrícula SIAPE

Les diplômés de 3 ème cycle ont plus souvent que les diplômés de 1 er et 2 ème cycles un contrat de travail stable, une position de cadre dans l’entreprise et un salaire plus

PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIANA – INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Nº 019/2016 – Fica ratificada a inexigibilidade de licitação para apresentação artística do grupo “Quem

CÓDIGO PRODUTO DESCRIÇÃO DO PRODUTO / SERVIÇO NCM/SH O/CST CFOP UN QUANT VALOR UNIT VALOR TOTAL B.CÁLC ICMS VALOR ICMS VALOR IPI ALÍQ. fisco: Documento Emitido por ME ou EPP