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RELATÓRIO DO ESTADO DA ECONOMIA DE CABO VERDE EM 2020

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RELATÓRIO DO ESTADO

DA ECONOMIA DE CABO VERDE EM 2020

(2)

RELATÓRIODO ESTADO DA ECONOMIA / 2020

Banco de Cabo Verde Cidade da Praia

2021

(3)

BANCO DE CABO VERDE

Avenida OUA, 2 CP 7954-094- Praia - Cabo Verde Tel: +238 2607000 / Fax: +238 2607197 http://www.bcv.cv

Edição Departamento de Estudos Económicos e Estatísticas Impressão Tipografia Santos, Lda.

Tiragem 200 Exemplares

(4)

Banco de Cabo Verde 3

Índice

Avaliação Global ... 5

Capítulo 1. Enquadramento Internacional ... 8

Capítulo 2. Políticas Macroeconómicas ... 13

2.1. Política Monetária e Condições Monetárias e Financeiras... 13

Caixa 1: A Performance do Sector Financeiro em 2020 ... 20

2.2. Política e Situação Orçamental ... 24

Capítulo 3. Oferta e Procura ... 30

Capítulo 4. Mercado de Trabalho ... 34

Capítulo 5. Inflação ... 39

Capítulo 6. Contas Externas ... 41

(5)

Índice de Figuras

Figura 1. Produto Interno Bruto e Desemprego ... 8

Figura 2. Preços no Consumidor e Preços das matérias-primas nos mercados internacionais 10 Figura 3. Taxas de Juro de Referência e Taxa Euribor e Câmbio EUR/USD ... 11

Figura 4. Indicadores Selecionados da Performance da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental ... 12

Figura 5. Moratória ao pagamento de Crédito Bancário ... 15

Figura 6. Linhas de Crédito Covid-19 ... 16

Figura 7. Performance das Contas Públicas ... 25

Figura 8. Dívida do Sector Público em 2020 ... 29

Figura 9. Indicadores selecionados do desempenho da economia ... 31

Figura 10. Evolução da inflação homóloga do país e dos principais parceiros comerciais ... 39

Figura 11. Principais Rubricas da Balança Corrente ... 41

Figura 12. Rendimentos e Transferências Unilaterais ... 43

Figura 13. Principais Componentes da Balança Financeira ... 44

Figura 14. Determinantes da Posição de Investimento Internacional ... 45

Índice de Quadros

Quadro 1. Principais Indicadores Macroeconómicos ... 7

Quadro 2. Situação Monetária ... 17

Quadro 3. Principais Indicadores Orçamentais ... 27

Quadro 4. Caracterização da Dívida do Estado (governo central) ... 28

Quadro 5. Índice de Preços no Consumidor ... 40

Quadro 6. Comércio Externo de Bens e Serviços ... 42

(6)

Avaliação Global

1

A economia cabo-verdiana, à semelhança de outras economias arquipelágicas dependentes do turismo, foi severamente afetada pela crise da pandemia da covid-19.

O produto interno bruto em volume do país caiu 14,8 por cento, recuando para níveis próximos do de 2016. A população ativa empregada reduziu de 206.344 para 186.627 e a taxa de desem- prego aumentou de 11,3 para 14,5 por cento. Por seu turno, depois de ter registado, em 2019, uma das melhores performances dos últimos 45 anos, a balança de pagamentos registou um défice de 80 milhões de euros, em larga medida devido à redução das receitas das exportações (em 525 milhões de euros). Igualmente, o défice e a dívida do Estado, com a queda da arreca- dação fiscal, inverteram a tendência de diminuição, fixando-se, respetivamente, em nove e 156 por cento do PIB.2

Os efeitos da crise de saúde pública global na economia nacional foram, entretanto, atenuados pela implementação de medidas monetárias, prudenciais e orçamentais excecionais, com vista a: garantir liquidez a empresas obrigadas a encerrar, ainda que temporariamente, as suas ativi- dades; compensar perdas de rendimento de entidades afetas a atividades recreativas, desportivas e culturais; salvaguardar postos de trabalho e a apoiar as famílias mais vulneráveis, cujo rendi- mento, de atividades eminentemente informais, foi desproporcionalmente atingido pelas regras de distanciamento social obrigatório para conter a propagação da doença.3 As remessas dos emigrantes, o apoio de individualidades e organismos não governamentais nacionais e estran- geiros e a redução da inflação contribuíram, igualmente, para mitigar os efeitos da perda de rendimento da população mais afetada.

O forte impacto do choque exógeno na economia nacional interpela a uma atuação mais incisiva das autoridades de política no reforço da sua resiliência.

No imediato, contudo, as autoridades de política nacionais são interpeladas a controlar a epide- mia da covid-19 no país, a atenuar os seus impactos económicos e sociais e a desenhar estraté- gias acertadas de saída das medidas excecionais financeiras e da segurança social.

1 Análise elaborada com estatísticas e indicadores disponíveis a 15 de junho de 2020.

2 O stock da dívida bruta do governo central calculado pelo Banco de Cabo Verde difere do Ministério das Finanças devido a uso de metodologias diferentes na contabilização dos passivos contratuais do Estado, bem como pela consideração nos cálculos, pelo banco central, de outras responsabilidades do governo junto aos bancos.

3 Incluem-se no conjunto das medidas orçamentais, os regimes de suspensão temporária de contratos de trabalho implementa- dos pelo Instituto Nacional de Segurança Social.

(7)

Num prazo relativamente curto, considerando que a procura turística internacional e a exporta- ção de serviços de transportes permanecerão condicionadas por algum tempo, o país está desa- fiado a identificar e explorar fatores de competitividade (preço e não preço) capazes de dina- mizar em alguma medida a economia nacional.

É relativamente urgente, também, a criação e a operacionalização de um quadro institucional que garanta margens para políticas macroeconómicas anti-cíclicas e potencializar ganhos de eficiência. No âmbito da política orçamental, em particular, considerando os riscos das respon- sabilidades contratuais e contingenciais do Estado e sua reduzida margem de intervenção, torna- se necessário a implementação de medidas apropriadas de otimização das despesas, controlo dos riscos orçamentais das empresas públicas e alargamento da base tributária de forma susten- tável.

Para expandir as bases do progresso económico e social do país é, também, imperioso o alinha- mento das políticas para a educação e saúde às necessidades da economia, o investimento em infraestruturas físicas e a implementação de reformas para potencializar fatores de competitivi- dade capazes de promover a diversificação horizontal e vertical da economia e de seus merca- dos, adequar os quadros de incentivos para potencializar a sua sofisticação (tecnológica) e pro- mover uma alteração suave do seu funding, da ajuda oficial e remessas dos emigrantes para captação competitiva de recursos.

A credibilidade da paridade do escudo face ao Euro, a solidez do sistema financeiro, finanças públicas sãs e quadro institucional que garanta o cumprimento de contratos são condições ne- cessárias para incentivar e sustentar o investimento privado (externo e nacional) na economia nacional, e a sua transição efetiva para uma economia com base em mercados, eficiente, equi- tativa e resiliente.

(8)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Quadro 1. Principais Indicadores Macroeconómicos

Unidades 2016 2017 2018 2019 2020

I. Sector Real

Produto Interno Bruto variação real em % 4,7 3,7 4,5 5,7 -14,8

Inflação Média dos Últimos 12 meses taxa variação em % -1,4 0,8 1,3 1,1 0,6

Taxa de Desemprego taxa variação em % 15,0 12,2 12,2 11,3 14,5

II. Sector Monetário Cambial

Ativo Externo Líquido do Sistema taxa variação em % 18,6 2,3 -6,5 24,8 -10,1 Reservas Internacionais Líquidas taxa variação em % 19,4 -4,3 2,0 25,2 -12,4

Crédito Interno Líquido taxa variação em % 3,7 6,3 2,9 -2,1 6,7

Crédito à Economia taxa variação em % 3,6 7,5 2,8 3,9 4,8

Massa Monetária taxa variação em % 8,4 6,6 1,7 8,1 4,1

Índice de Câmbio Efetivo Nominal 2015=100; valores médios 100,6 101,0 101,3 101,0 101,2 Índice de Câmbio Efetivo Real 2015=100; valores médios 98,3 97,9 97,7 97,2 97,8

III. Sector Externo

Balança Corrente + Balança de Capital em % do PIB -3,0 -6,9 -4,5 0,5 -14,8

Balança Corrente em % do PIB -3,8 -7,8 -5,3 0,0 -15,9

Reservas / Importações meses 7,2 6,0 5,6 6,9 7,8

Posição do Investimento Internacional em % do PIB -152,7 -153,3 -158,9 -151,2 -190,7

IV. Finanças Públicas

Saldo Global em % do PIB -3,5 -3,1 -2,7 -1,8 -9,1

Saldo Primário em % do PIB -1,0 -0,5 -0,1 0,7 -6,2

Dívida Pública excluindo TCMF em % do PIB 127,4 126,8 125,1 124,5 155,9 Fonte: Instituto Nacional de Estatística, Ministério das Finanças e Banco de Cabo Verde.

Dados provisórios, sujeitos à atualização e revisão. TCMF-Títulos Consolidados de Mobilização Financeira.

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Capítulo 1. Enquadramento Internacional

O enquadramento externo da economia nacional ficou marcado, em 2020, pela inversão do ciclo de crescimento que a economia mundial vinha observando desde 2009.

As medidas de confinamento da população, de restrição de viagens e de atividades desportivas e recreativas, adotadas, em maior ou menor escala, para conter a propagação da covid-19 e salvar vidas, determinaram a contração do produto interno bruto global (3,3 por cento), bem como dos do EUA (3,5 por cento), da Área do Euro (6,6 por cento) e do Reino Unido (9,9 por cento) - principais parceiros do país.

A queda do consumo privado, dos investimentos e das exportações líquidas determinaram a retração da procura agregada, a nível global. Do lado da oferta, o sector dos serviços (sobretudo os ramos de alojamento, restauração, transportes e serviços pessoais, culturais e recreativos) foi o mais afetado pelas medidas de contenção da pandemia.

As condições do mercado de trabalho também se deterioraram, tendo as taxas de desemprego na Área do Euro, no Reino Unido e nos EUA aumentado para, respetivamente, 8,1, 5,1 e 6,7 por cento, em finais de 2020 (7,4, 3,9 e 3,6 por cento em dezembro de 2019). O desemprego aumentou mais nos EUA dada a maior flexibilidade do seu regime laboral, por um lado, e, por outro, devido à implementação de medidas excecionais de proteção ao emprego na Europa, nomeadamente de regimes de layoff simplificado, entre outras medidas, das quais destaca-se os programas Coronavirus Job Retention Scheme e Self-Employment Income Support Scheme do Reino Unido.

Figura 1. Produto Interno Bruto e Desemprego

Fonte: Eurostat; US Department of Labor; Federal Reserve; Bank of England; Instituto Nacional de Estatísticas.

-36,0 -32,0 -28,0 -24,0 -20,0 -16,0 -12,0 -8,0 -4,0 0,0 4,0 8,0

-21,0 -16,0 -11,0 -6,0 -1,0 4,0

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20 Produto Interno Bruto (t.v.h. em %)

Produto Interno Bruto (t.v.h. em %)

EUA Área do Euro

Reino Unido

Cabo Verde (eixo dto.)

3,0 5,0 7,0 9,0 11,0 13,0 15,0

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20

Desemprego (% da população ativa)

EUA Área do Euro

Reino Unido

(10)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Medidas de Política Monetária e Orçamental implementadas pelos parceiros do país

A assertiva, oportuna e extraordinária intervenção das autoridades monetárias e orçamentais, compa- rativamente à sua intervenção aquando da última crise financeira global, foi fundamental para conter o agravamento da situação económica e social em termos globais e em especial nos principais parceiros do país.

No âmbito da política monetária, destaca-se que o Banco Central Europeu (BCE) manteve inalteradas as taxas de juro das facilidades de depósito e de refinanciamento em -0,50 e 0,00 por cento, respetiva- mente, mas, a 12 de março de 2020, deliberou: o alargamento do seu programa de compra de ativos de 20 mil milhões para 120 mil milhões de euros; condições mais favoráveis de empréstimos ao sector bancário, nomeadamente através de operações adicionais de refinanciamento de longo prazo e do pro- grama Target Long-Term Refinancing Operations III, para incentivar o financiamento de médias e pequenas empresas; e um alívio das regras prudenciais. Adicionalmente, a 19 de março, lançou um programa emergencial de compra de ativos – Pandemic Emergency Purchase Programme- no valor de 750 mil milhões de euros, cujo limite foi aumentado para 1,85 biliões de EUR em dezembro de 2020.

A Reserva Federal dos EUA (FED), por seu turno, reduziu a fed funds rate duas vezes em março do ano passado, fixando-a no intervalo 0,00 – 0,25 por cento. Implementou, complementarmente, progra- mas de compras de ativos dos bancos, mormente de títulos governamentais e colaterais de empréstimos hipotecários, até 500 mil milhões e 200 mil milhões de USD, respetivamente. Ainda, criou o Main Street Lending Program, um conjunto de cinco facilidades de crédito para apoiar o financiamento de pequenas e médias empresas, bem como organizações governamentais, até ao limite de 75 mil milhões de USD.

Na mesma linha, o Banco de Inglaterra (BoE) cortou a sua taxa diretora em março de 2020 para 0,10 por cento, apoiou o financiamento da economia através de: compra de ativos do governo no montante global de 875 mil milhões de libras; lançamento do Term Funding Scheme para incentivar a concessão de crédito às pequenas e médias empresas; e, a nível prudencial, redução do counter cyclical capital buffer para zero por cento.

A nível orçamental, na Europa, o Eurogrupo aprovou, em abril de 2020, um pacote de 540 mil milhões de euros para: subsidiar as despesas incorridas pelos países com a saúde, através de uma linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade; financiar as pequenas e médias empresas, através do Banco Europeu de Investimento; e apoiar, através da Comissão Europeia, o mercado de trabalho. Adicional- mente, a União Europeia aprovou, em julho, o programa Next Generation EU, orçado em 750 mil milhões de EUR, para impulsionar a recuperação económica da região. No Reino Unido, destaca-se o apoio de 2,2 mil milhões de libras para os pequenos negócios, os programas Coronavirus Job Retention Scheme e Self-Employment Income Support Scheme e a redução do imposto sobre o valor acrescentado do ramo de atividade turística de 20 para cinco por cento. Por seu turno, nos EUA, refira-se ao pacote orçamental aprovado em finais de abril do ano passado para apoiar as famílias, as empresas do sector dos transportes aéreos e outros setores severamente afetados pela crise, além dos governos estaduais, cujo limite atingiu os 3,2 biliões de dólares em dezembro passado, após sucessivos reforços.

(11)

Não obstante, os planos orçamentais de apoio às famílias e aos desempregados implementados nos EUA, que ascenderam a 2,1 biliões de dólares em dezembro, superaram os auxílios euro- peus ao rendimento das famílias, ao consumo privado e, consequentemente, à produção de bens e serviços.

A redução da procura agregada e o aumento do output gap pressionaram no sentido descendente os preços no produtor (após a restauração de cadeias de produção e canais de distribuição que sofreram disrupção com o confinamento global de meados de março a finais de abril) e no consumidor, contribuindo, igualmente, para apoiar o poder de compra das famílias e a imple- mentação de políticas monetárias excecionalmente acomodatícias.

As taxas de inflação média anual da Área do Euro, dos EUA e do Reino Unido fixaram-se, respetivamente, em 0,3, 1,2 e 0,9 por cento em dezembro de 2020, o que compara às taxas de 1,2, 1,8 e 1,8 por cento em dezembro de 2019.

A redução da inflação nos principais parceiros, além de traduzir a contração da sua procura agregada, refletiu a significativa queda dos preços das matérias-primas energéticas nos merca- dos internacionais. Com efeito, em termos médios anuais, o preço das matérias-primas energé- ticas baixou 32,7 por cento em 2020, depois de ter diminuído 10,2 por cento em 2019. Os preços das matérias-primas não energéticas, entretanto, cresceram 6,7 por cento, em função, em boa medida, do encarecimento dos alimentos, numa conjuntura de aumento da procura de bens de primeira necessidade estimulada por receios de escassez e de condicionamento da oferta (de- vido às condições climatéricas adversas).

Em resultado das intervenções da autoridade monetária da Área do Euro e de idiossincrasias das maiores economias no combate à pandemia, no mercado monetário de maior relevância para Cabo Verde, as taxas de juro (Euribor) reduziram para -0,5 em média, no final do ano, e o euro apreciou 2,0 por cento face ao dólar dos EUA. Em termos efetivos nominais, o EUR apre- ciou 1,5 por cento em 2020, depois de ter depreciado 1,8 por cento em 2019.

Figura 2. Preços no Consumidor e Preços das matérias-primas nos mercados internacionais

Fonte: Eurostat; Federal Reserve; Bank of England; FAO; Bloomberg; Instituto Nacional de Estatísticas.

-3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20

Taxa de Inflação Homóloga (em %)

Área do Euro EUA

Cabo Verde

-60,0 -45,0 -30,0 -15,0 0,0 15,0 30,0 45,0 60,0

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20

Preço de Matérias-Primas (t.v.h. em %)

Brent FAO Food Price Index

(12)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Em termos comparativos, a atividade económica da África Subsariana, sub-região a qual Cabo Verde pertence terá sido, contemporaneamente, menos afetada pelo choque exógeno, dada a sua estrutura sectorial, relativamente mais concentrada no sector primário. O seu produto in- terno bruto em volume contraiu 1,9 por cento, de acordo com as estimativas do FMI, depois de ter crescido cerca de quatro por cento, em termos médios anuais, desde 2009.4 A inflação média anual inverteu a tendência de declínio (fixou-se em 10,8 por cento em finais de 2020, mais 2,3 pontos percentuais que em 2019), refletindo as perturbações no abastecimento de alimentos localmente produzidos e importados, em resultado de secas em alguns países e restrições glo- bais para conter a pandemia. O peso relativamente elevado da dívida pública (57,8 por cento em 2020, o que compara com 51,5 por cento em 2019) e os parcos buffers condicionaram a capacidade de intervenção da região, a nível orçamental e monetário, para contrapor os efeitos da crise de saúde pública e limitar o agravamento das vulnerabilidades sociais.

4 A atividade económica da Comunidade dos Estados da África Ocidental, à qual o país pertence retraiu, 0,7 por cento, de acordo com o FMI. Apresenta-se na figura seguinte a evolução, nos últimos três anos, dos principais indicadores macroeconó- micos da Comunidade.

Figura 3. Taxas de Juro de Referência e Taxa Euribor e Câmbio EUR/USD

Fonte: Eurostat; Federal Reserve; Bank of England; Bloomberg; Banco de Cabo Verde.

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0

-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20 Taxas de Juro (em %)

Taxas de Juro (em %)

fed funds rate (FED)

refi rate (BCE) bank rate (BoE)

taxa diretora (BCV)- eixo dto.

1,0 1,1 1,1 1,2 1,2 1,3 1,3

-0,7 -0,5 -0,3 -0,1 0,1 0,3

mar-16 jun-16 set-16 dez-16 mar-17 jun-17 set-17 dez-17 mar-18 jun-18 set-18 dez-18 mar-19 jun-19 set-19 dez-19 mar-20 jun-20 set-20 dez-20 Euro (média mensal)

Taxas de Juro (média mensal em %) Câmbio Euro/Dólar (eixo dto.) Euribor 3 meses

(13)

Figura 4. Indicadores Selecionados da Performance da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental

Fonte: Fundo Monetário Internacional; Instituto Nacional de Estatísticas; Ministério das Finanças; Banco de Cabo Verde.

3,5% 3,5%

-0,7%

4,5% 5,7%

-14,8%

2018 2019 2020

Produto Interno Bruto em Volume (variação)

-4,3% -4,4%

-6,8%

-2,7%

-1,8%

-9,1%

2018 2019 2020

Saldo Orçamental em % do PIB

CEDEAO Cabo Verde 9,3%

8,2%

10,2%

1,3% 1,1%

0,6%

2018 2019 2020

Inflação Média Anual

-1,6%

-4,3% -4,4%

-5,2%

-0,4%

-16,5%

2018 2019 2020

Balança Corrente em % do PIB

4,2

5,4

4,5 5,6

6,9

7,8

2018 2019 2020

Reservas Oficiais em meses de importações

35,8% 37,1% 43,5%

125,1% 124,5%

155,9%

2018 2019 2020

Dívida Pública em % do PIB

(14)

Capítulo 2. Políticas Macroeconómicas

2.1. Política Monetária e Condições Monetárias e Financeiras

Antecipando severos efeitos do choque de saúde pública global na economia de Cabo Verde, um pequeno estado insular dependente de receitas de exportação de serviços, e projetando a manutenção de pressões inflacionistas e na balança de pagamentos comportáveis com o obje- tivo de garantir a credibilidade do regime cambial de peg do escudo ao euro, a autoridade mo- netária do país implementou, a partir de 1 de abril de 2020, um conjunto de medidas de carácter excecional de apoio, indireto, à tesouraria das empresas, obrigadas a cessarem as suas ativida- des, bem como ao rendimento das famílias, cujos salários e outros rendimentos foram larga- mente afetados.

Por conseguinte, para apoiar o país a enfrentar a crise despoletada pela pandemia da covid-19, o Banco de Cabo Verde (BCV):

i. reduziu as taxas diretora, das facilidades permanentes de cedência e de absorção da liquidez, para 0,25, 0,5 e 0,05 por cento, respetivamente;

ii. baixou o coeficiente das disponibilidades mínimas de caixa de 13 para dez por cento;

e

iii. criou um instrumento para financiamento dos bancos até três anos, à taxa de 0,75 por cento.5;6

As medidas visaram a diminuição dos custos da intermediação e incentivar, em consequência, o financiamento bancário em condições menos restritivas.

O instrumento de financiamento dos bancos até três anos – Operação Monetária de Financia- mento - foi criado, numa perspetiva precaucional, para prover liquidez aos bancos em caso de necessidade, em condições excecionalmente favoráveis, num contexto que lhes era requerido suspender a cobrança de créditos concedidos a empresas, famílias e outros agentes económicos em dificuldades. A sua criação e operacionalização requereu alteração da Lei Orgânica do

5 Através das Operações Monetárias de Financiamento (OMF) pretendeu-se financiar os bancos em stress de liquidez, até cerca de 5 mil milhões de escudos por mês, num montante máximo de 45 mil milhões de escudos. Em dezembro de 2020, deliberou- se a extensão da medida até finais de 2021, a redução dos limites mensais e anual para, respetivamente, três e 36 mil milhões, bem como a aceitação como colateral das operações, além dos títulos do Tesouro, os ativos dos bancos com aval de Estado.

6 Adicionalmente, o banco central baixou a taxa de redesconto de 5,5 para 1,0 por cento e considerou a possibilidade de compra de dívida pública, à taxa de redesconto, no evento extremo de necessidade de liquidez pelo Tesouro, o que não se materializou.

(15)

Banco de Cabo Verde, n.º 10/VI/2002, de 15 de julho, para permitir empréstimos às instituições de crédito e parabancárias a prazo que exceda um ano.

Complementarmente, para facilitar a intermediação financeira, enquanto entidade reguladora e supervisora do sistema financeiro, o BCV decidiu:

iv. suspender, até 31 de dezembro de 2021, a dedução aos fundos próprios dos valores de bens recebidos em dação nos anos de 2013 a 2016; e

v. reduzir o rácio de solvabilidade de 12 para dez por cento (a vigorar até finais de 2021).

A par das medidas de política monetária e prudenciais, o BCV recomendou ao governo a im- plementação de um regime de atribuição, casuística, de moratórias ou carências de pagamento de crédito bancário.

As medidas de política monetária implementadas, a par das restantes medidas financeiras deli- beradas pelo Estado, designadamente o regime das moratórias e as linhas de crédito covid-19, traduziram-se numa redução dos juros dos empréstimos bancários, bem como em algum alívio nos termos e condições de novos contratos de crédito, pese embora a conjuntura de aumento de riscos macroeconómicos.

Com efeito, as taxas de juro aplicada nas operações de empréstimos reduziram 0,6 pontos per- centuais para 9,79 por cento, invertendo a tendência de aumento de 2018 e 2019. O crédito à economia cresceu, por seu turno, 4,8 por cento, o que compara ao crescimento médio de 2,8 por cento observado desde 2012.

No quadro da Operação Monetária de Financiamento, o BCV colocou junto às instituições de crédito, até 31 de dezembro, 4.956 milhões de escudos, 11 por cento do limite do primeiro programa (45 mil milhões de escudos). Subscreveram a facilidade quatro bancos com menores quotas de mercado, através de leilões ou de operações bilaterais.

(16)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Figura 5. Moratória ao pagamento de Crédito Bancário

Contratos de Crédito em moratória & Stock da Dívida em moratória

Tipo de Crédito em moratória & Atividade das Empresas com crédito em moratória

Fonte: Decretos-Leis n.º 38/2020, de 31 de março; n.º 45/2020, de 21 de abril; n.º 65/2020, de 1 de setembro; n.º 4/2021, de 15 janeiro.

Compilação e cálculos do Banco de Cabo Verde.

Regime das Moratórias Beneficiários Prazo original Prazo atual Observações

A. Suspensão de pagamento de juros, capital e prestação em dívida de créditos bancários

empresas não financeiras e famílias afetadas pelo confinamento e outras restrições para conter a propagação da epidemia no país

de 1 de abril a 30 de setembro/20

B. Suspensão de pagamento de juros, capital e prestação em dívida de créditos bancários

empresas não financeiras, famílias, câmaras municipais, instituições de solidariedade social, associações em fins lucrativos e demais entidades da economia social

de 18 de abril a 30 de setembro/20

de 1 de janeiro a 30 de junho/21

C. Suspensão de pagamento capital em dívida de créditos bancários

empresas não financeiras, famílias, câmaras municipais, instituições de solidariedade social, associações em fins lucrativos e demais entidades da economia social

de 1 de julho a 30 de setembro/21

D. Suspensão de pagamento de juros, capital e prestação em dívida de créditos bancários

empresas não financeiras e famílias dos sectores mais afetados pela pandemia e/ou cuja quebra na faturação, em termos homólogos, no mês de novembro de 20 foi pelo menos 60 por cento

de 1 de julho a 30 de setembro/21

extensão da maturidade do crédito em 1 ano

0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 140000 160000

Total Crédito às

empresas, famílias e instituições sem fins lucrativos

Crédito às Câmaras Municipais

milhões de escudos

stock em moratória stock total

Habitação 7,6%

Estudo 0,1%Automóvel

1,3%

Investimento 79,7%

Conta Corrente Caucionada

2,8%

Fundo Maneio e Necessidade de Tesouraria

3,3%

Outros fins 5,1%

Agricultura e Pesca

0% Indústria 13%

Construção 5%

Comércio 9%

Turismo (agências de turismo, rent- a-car, hotéis)

21%

Restauração 4%

Transporte 34%

Seviços de Telecomunica

ção 4%

Serviços de Saúde

1%

Outros serviços 9%

620 1118

20

5682 110780

22

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Empresas Particulares Câmaras Municipais contratos em moratória contratos ativos (total)

(17)

Desenvolvimentos Monetários e Financeiros

A oferta monetária, expressa pela evolução da massa monetária em sentido lato, moderou em 2020, com o agravamento da posição externa deficitária do país.

O agregado M2, constituído por moeda em circulação, depósitos à ordem, depósitos de pou- pança e a prazo, outros quase depósitos, bem como por títulos do Estado em poder do público, cresceu 4,1 por cento em 2020, menos quatro pontos percentuais que em 2019.

O aumento mais comedido da liquidez no mercado monetário foi determinado pela redução do stock das reservas internacionais líquidas do país, porquanto a posição externa líquida (defici- tária) dos bancos melhorou e o crédito interno líquido inverteu a tendência de queda do ano anterior.

Registe-se que a redução das reservas oficiais refletiu a significativa deterioração das contas externas, em particular da balança corrente, em larga medida devido à cessação de viagens internacionais não humanitárias. Entretanto, o aumento das aplicações externas por bancos com acesso a mercados mais competitivos e a redução de passivos externos por outros, resultou na redução dos passivos externos líquidos das sociedades de depósitos na ordem dos 1.874 milhões de escudos.

Figura 6. Linhas de Crédito Covid-19

Utilização a 31 de dezembro de 2020

Fonte: Decreto-Lei n.º 38/2020, de 31 de março; Ministério das Finanças; bancos comerciais. Compilação e cálculos do Banco de Cabo Verde.

até 300 milhões de escudos com 80% de garantia A. Empresas de todos os sectores de atividade

B. Empresas do turismo, restauração, organização de eventos e sectores conexos, agências de viagens, transportes, animação e similares

C. Pequenas e Médias Empresas de todos os sectores

D. Micro Empresas

Condições

até mil milhões de escudos com 50% de garantia

até mil milhões de escudos com 80% de garantia

até mil milhões de escudos com 80% de garantia Linhas de crédito covid-19

Linha A. Todas as empresas

Linha B.Empresas de turismo, transporte e afins

Total concedido (CVE e % do limite)

106.0872.367 (106%)

585.285.829 (59%)

Linha C. Pequenas e médias empresas

Linha D. Micro empresas

Total concedido (CVE e % do limite)

991.134.685 (99%)

137.061.810 (46%)

(18)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Por seu turno, o crescimento do crédito interno líquido, em 8,9 por cento, foi impulsionado pelo crescimento do crédito à economia e do crédito ao governo central, respetivamente, em 4,8 e 14,4 por cento.

O adiamento do serviço da dívida dos contratos sob o regime das moratórias, por um lado, e a utilização, por outro, das linhas de crédito covid-19, explicam, em larga medida, o aumento do crédito à economia no ritmo mais rápido desde 2017. Com efeito, o valor do serviço do crédito bancário efetivamente suspenso (excluindo os juros capitalizados) no quadro do regime das moratórias e da utilização das linhas de crédito covid-19 ascendiam, em 31 de dezembro, a 7.493 milhões de escudos, o que compara ao crescimento do stock de crédito à economia e às autarquias locais de 5.623 milhões de escudos.

Num cenário de redução das receitas fiscais e de aumento das despesas com a saúde, segurança, proteção civil e proteção social, o endividamento interno do Estado complementou os apoios externos ao orçamento, determinando o crescimento do stock de bilhetes e obrigações do Te- souro, emitidos maioritariamente junto à banca nacional, de 65.371 para 72.001 milhões de escudos.

Quadro 2. Situação Monetária

2018 2019 2020 2020

Saldos em milhões de escudos

Contributos para a variação

do M2 (p.p.)

Posição Externa 56.649,2 70.714,2 63.569,2 -3,6

Ativos Externos Líquidos do Banco de Cabo Verde 58.241,6 72.813,7 63.795,2 -4,6

Crédito Interno Líquido 143.299,2 140.348,8 149.722,6 4,8

Crédito Líquido ao Sector Público Administrativo 32.342,4 25.097,0 28.898,3 1,9

Crédito à Economia 110.956,8 115.251,8 120.824,3 2,8

Massa Monetária 181.593,9 196.281,8 204.379,6

Base Monetária 57.908,3 68.710,2 70.519,0

Memo itens

Inflação (variação média anual do IPC, %) 1,3 1,1 0,6 Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real (var. média anual, %) -0,24 -0,44 0,53 Taxa Diretora do Banco de Cabo Verde (fim de período, %) 1,50 1,50 0,25 Taxas dos Bilhetes do Tesouro (a 91 dias, média em %) 1,00 1,00 1,00

Fonte: Banco de Cabo Verde.

Nota bem: Um aumento da taxa de câmbio efetiva real sinaliza uma perda de competitividade-preço do país e vice-versa. O Índice da Taxa de Câmbio Efetiva Real (TER) é calculado deflacionando o Índice da Taxa de Câmbio Efetivo Nominal (TEN), utilizando a inflação nacional e a dos principais parceiros. O TEN está definido como média geométrica das taxas de câmbio nominais bilaterais da moeda doméstica relativamente à moeda da Área do Euro, Reino Unido e Estados Unidos da América.

IPC-Índice de Preços no Consumidor.

(19)

Em termos de componentes, o aumento da massa monetária refletiu, principalmente, o cresci- mento dos depósitos à ordem dos emigrantes e dos depósitos a prazo dos residentes, respetiva- mente, em 18,3 e 4,3 por cento.7

Numa conjuntura que interpela à constituição de poupanças precaucionais e de investimentos comedidos, infere-se que eventuais condicionalismos na aplicação dos fundos, a par da contínua redução das taxas de juro dos depósitos dos emigrantes, justificam a estagnação dos seus depó- sitos a prazo e de poupança e o aumento dos seus depósitos à ordem muito acima do crescimento das suas remessas para apoio familiar.

Note-se que as taxas de juro das operações de depósitos mantiveram a tendência descendente que vêm apresentado desde 2013, tendo a taxa média se fixado em 1,25 por cento em finais do ano passado (1,7 por cento a 31 de dezembro de 2019). Pese embora os desafios da conjuntura, o excesso de liquidez no sistema bancário, a par das medidas de política monetária implemen- tadas, terá justificado a contínua redução dos juros dos depósitos dos residentes, dos emigrantes e de outros não residentes.

7 Em termos agregados, os depósitos das administrações públicas, das sociedades não financeiras, das famílias (incluindo emi- grantes) e das instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias cresceram 2,8 por cento em 2020, depois de terem au- mentado 9,0 por cento em 2019. Os depósitos constituídos junto à banca comercial, que excluem os depósitos do governo e de projetos no banco central, cresceram 1,5 por cento (10,0 por cento em 2019).

(20)

A Economia de Cabo Verde em 2020

A Política de Crédito dos Bancos em 2020

No quadro da análise dos desenvolvimentos no mercado de crédito, o Banco de Cabo Verde realiza, trimestralmente, um inquérito qualitativo aos bancos, com o objetivo de obter informações sobre as políticas seguidas e as condições no mercado de crédito.

De acordo com os resultados compilados dos quatro trimestres do ano, em 2020, face ao ano de 2019, registou-se um agravamento muito ligeiro dos critérios de aprovação de empréstimos a empresas, de- terminado pelas perspetivas (desfavoráveis) de determinados sectores de atividade económica, maior ponderação de riscos relacionados à qualidade de informação (inexistência de contabilidade organi- zada) e menor tolerância ao risco de crédito. Entretanto, os empréstimos aprovados foram beneficia- dos, regra geral, com menores níveis de spread, taxas de juro, comissões e outros encargos, bem como com menores exigências em termos de garantias. As medidas de política monetárias, prudenciais e orçamentais implementadas, aliadas à contínua pressão da concorrência, justificaram o alívio dos ter- mos e condições dos contratos. A procura por parte das empresas, sobretudo para custear existências e necessidades de fundo de maneio, bem como para refinanciamento, reestruturação e renegociação de dívidas, por seu turno, aumentou marginalmente.

No que se refere ao financiamento dos particulares, tanto os critérios de aprovação de pedidos, como os termos e as condições dos novos contratos de empréstimos à habitação e outros fins mantiveram-se inalterados em 2020, comparativamente a 2019. Os termos e as condições dos novos contratos foram influenciados, positivamente (no sentido de algum alívio da restritividade), pelas medidas de política monetária e financeiras e pressões da concorrência e, negativamente, pela qualidade creditícia (menos favorável) do mutuário e expetativas (desfavoráveis) quanto à evolução da atividade económica. A procura dos particulares manteve-se, em 2020, sem alterações significativas face à evolução do ano anterior.

Índice de Difusão do Sistema Bancário 2020

Fonte: Banco de Cabo Verde.

Nota bem: O índice de difusão é calculado com as respostas dos bancos, ponderadas pela sua quota de mercado, e pode assumir valores entre -100 e 100. Quando o índice assume o valor 0 significa que nenhum dos bancos reportou alterações, quando atinge os valores 50 ou -50 significa que todos os bancos reportaram uma ligeira alteração (favorável ou desfavorável, respetivamente) e quando atinge os valores 100 ou -100 significa que todos os bancos reportaram uma significativa alteração na variável analisada (favorável ou desfavorável, respetivamente). Valores diferentes de -100, -50, 0, 50 e 100 surgem quando as respostas dos bancos não convergem todas num único sentido.

-100 -50 0 50 100

-100 -50 0 50 100

Oferta (y)

Procura (x)

Particulares

Apreciação Geral Empréstimo à Habitação Empréstimo ao Consumo Outros Empréstimos - Procura

+ Oferta

- Procura - Oferta

+ Procura - Oferta + Procura + Oferta

-100 -50 0 50 100

-100,0 -50,0 0,0 50,0 100,0

Procura (x)

Oferta (y) Empresas

Apreciação Geral Empréstimos de Curto Prazo Empréstimos de Longo Prazo

- Procura + Oferta

+ Procura + Oferta

- Procura - Oferta

+ Procura - Oferta

(21)

Caixa 1: A Performance do Sector Financeiro em 2020

Num ano marcado pela contração da atividade económica, o sector financeiro registou uma perfor- mance comparativamente menos favorável que a de 2019, ainda assim francamente melhor que a mai- oria dos ramos dos três sectores da economia. O valor acrescentado bruto dos serviços financeiros cresceu 1,3 por cento em volume (9,1 por cento em 2019) e o contributo do ramo para a produção nacional fixou-se em 0,1 pontos percentuais, apenas aquém dos contributos da administração pública (1,5 pontos percentuais) e da construção (0,3 pontos percentuais). Registe-se que o sector dos serviços contribuiu em cerca de 58 por cento para a contração de 14,8 por cento do produto interno bruto em volume.

Considerando o peso dominante das sociedades de depósitos, em particular dos bancos comerciais, no ativo do sector e no financiamento da economia, o seu desempenho continuou a determinar a perfor- mance do sistema financeiro.

Estrutura do Sector Financeiro Nacional

Fonte: Banco de Cabo Verde.

Nota Bem: O peso das sociedades financeiras no total do sector foi calculado com base no valor total dos seus ativos em finais de 2020.

ICAR-Instituição de Crédito de Autorização Restrita.

De notar, com efeito, um marginal decréscimo do produto bancário (em cinco milhões de escudos ou de 0,05 por cento), depois do assinalável crescimento de 2019 (de 12,0 por cento). O aumento da margem financeira, impulsionada sobretudo pela redução dos juros e custos equiparados, foi mais que compensado pelo decréscimo da margem complementar, em função de perdas cambiais e diminuição das comissões líquidas.

As peculiaridades da conjuntura explicam a evolução da atividade bancária. Com efeito, o aumento comedido dos juros e proveitos equiparados (em um por cento, que compara ao crescimento de oito por cento de 2019) e a redução das comissões líquidas refletem, em larga medida, o diferimento do pagamento dos créditos sob regime das moratórias, as taxas de juro relativamente mais baixas, o perí- odo de carência dos empréstimos concedidos no âmbito das linhas de crédito covid-19, bem como a redução de outros custos não associados à taxa de juros dos novos contratos, além da isenção de co- missões nas transferências interbancárias recomendadas pelo banco central.

ICAR 16%

Seguradoras 2%

Outros intermediários e auxiliares financeiros

1%

Banco central 18,6%

Bancos comerciais

62,7%

Sociedades de depósitos

81%

(22)

A Economia de Cabo Verde em 2020

Por seu turno, a redução dos juros e custos equiparados ficou a dever-se à contínua diminuição das taxas de juros dos depósitos e ao acesso a recursos do banco central em condições excecionalmente favoráveis.

A componente mais importante da carteira de ativos dos bancos, o crédito, registou um crescimento de 4,5 por cento, ligeiramente inferior ao de 2019 (4,8 por cento), traduzindo a contínua queda do crédito com imparidade (-12,3 por cento em 2019 e -6,6 por cento em 2020) e o aumento mais come- dido do crédito sem imparidade (5,8 por cento, contra 7,3 por cento).8 No que se refere à evolução do funding, passivos dos bancos, também a excecionalidade da conjuntura justificou o recurso a fundos disponibilizados pelo banco central (através da Operação Monetária de Financiamento, no montante global de 4.962 milhões de escudos) numa proporção superior ao aumento dos depósitos (em 2.658 milhões de escudos).

Os indicadores de solidez da banca permaneceram num patamar relativamente confortável. O rácio de solvabilidade cresceu de 17,7 para 19,4 por cento, permanecendo bastante acima do mínimo regula- mentar de dez por cento, em vigor até finais de 2021. O reforço dos capitais próprios, em cumprimento da recomendação do supervisor de não distribuição de dividendos do exercício de 2019, e a não con- sideração dos créditos em moratória nos cálculos dos ativos ponderados pelo risco explicam o fortale- cimento da capacidade de os bancos suportarem choques nos seus balanços patrimoniais.

A qualidade dos ativos também foi fortalecida, conforme indiciam o perfil descendente dos créditos com imparidade e em incumprimento, muito à custa, também, do diferimento do pagamento de juros, capital e/ou prestações dos empréstimos bancários no âmbito do regime das moratórias e da carência outorgada pelo Protocolo Tripartido (assinado por Ministério das Finanças, bancos comerciais e Proempresa/Progarante) que estabelece as condições de financiamento das linhas de crédito covid-19.

A par da redução do rácio do crédito em incumprimento de 10,4 para 9,5 por cento, o aumento da cobertura do crédito com imparidades pelas imparidades de 77 para 86 por cento, bem como a dispo- nibilidade de funding, conferem condições adequadas para intermediação financeira.

Os resultados, entretanto, diminuíram, pese embora a redução dos custos operacionais (em particular dos gastos gerais administrativos, cuja queda, de quatro por cento, superou o aumento, de um por cento, dos custos com pessoal). A rendibilidade dos ativos -ROA e a rendibilidade do capital próprio- ROE após impostos fixaram-se, respetivamente, em 1,1 e 13,3 por cento, menos 0,12 e 3,32 pontos percentuais que os valores de 2019.

Os indicadores de liquidez também permaneceram robustos, apesar de ligeira redução da cobertura do ativo líquido por ativo total e por passivos de curto prazo, respetivamente, em 0,3 e 0,6 pontos. Fi- xando-se, respetivamente, em 32,3 e 38,5 por cento, os rácios ativo líquido por ativo total e ativo líquido por passivos de curto prazo, os indicadores de liquidez sugerem que a banca nacional terá condições adequadas de fazer face às suas responsabilidades.

8 Nesta análise o crédito referido corresponde ao total de crédito concedido pelos bancos comerciais e não ao crédito à eco- nomia concedido por todas as instituições de crédito, incluindo o banco central, a entidades residentes e emigrantes.

(23)

Principais Indicadores da Performance do Sistema Financeiro

Unidades 2018 2019 2020

I. Sector Bancário

Produto Bancário variação em % 12,8 12,0 -0,1

Rácio de Solvabilidade em % 16,1 17,7 19,4

Crédito em Incumprimento em % do crédito total 12,2 10,4 9,5

Imparidades/Crédito com Imparidade em % 71,0 77,0 86,4

Rentabilidade dos Ativos (ROA) em % 0,3 1,3 1,3

Rentabilidade dos Capitais Próprios (ROE) em % 4,1 17,8 15,4

Ativo Líquido/Passivo de Curto Prazo em % 25,5 28,3 38,5

II. Mercado de Capitais

Emissão no Mercado Primário em % do PIB 8,6 7,7 9,2

Transações no Mercado Secundário em % do PIB 0,4 0,7 0,0

Capitalização Bolsista em % do PIB 39,6 39,1 49,3

III. Sector Segurador

Produto Segurador (carteira de prémios) variação em % 5,8 10,5 -6,2

Rácio de Solvência em % 378,4 364,9 450,6

Grau de Cobertura das Provisões Técnicas em % dos ativos repre-

sentativos 125,7 127,2 128,5

Fonte: Banco de Cabo Verde.

Crédito em incumprimento definido de acordo com a Instrução Técnica n.º 150/2009 de 28 de dezembro. Dados sujeitos a atualização.

Os mercados de capitais registaram, por seu turno, uma menor dinâmica no financiamento à economia em 2020.

O volume de transações de ações e obrigações empresariais, tanto no mercado primário como no mer- cado secundário, reduziu face ao ano anterior. Não obstante, o montante transacionado no mercado primário cresceu 1,1 por cento, devido ao aumento de emissões da dívida pública. No mercado secun- dário, só foram transacionadas ações de entidades cotadas nos anos anteriores e obrigações do Tesouro, enquanto que, no mercado primário, além de se transacionar dívida pública, emitiu-se obrigações de uma sociedade não financeira participada pelo Estado.

A intensificação do recurso ao endividamento interno pelo Estado determinou o aumento da capitali- zação bolsista, que passou a representar 49,3 por cento do PIB. O aumento da capitalização bolsista em dez pontos percentuais, em 2020 face a 2019, ficou a dever-se, entretanto, em boa medida, à redu- ção do produto interno bruto a preços correntes em 15,5 por cento.

A atividade seguradora contribuiu, por seu turno, negativamente para a performance dos serviços fi- nanceiros. Em termos globais, o volume de prémios reduziu 6,2 por cento, contrariando a tendência de crescimento dos últimos anos, com o decréscimo dos prémios do ramo Não Vida na ordem dos nove por cento. A evolução da atividade económica e o efeito da implementação do regime excecional de pagamento de prémio do seguro (estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 43/2020, de 16 de abril e renovado pelo Decreto-Lei n.º 85/2020, de 18 de dezembro) justificam a queda dos prémios Não Vida, em par- ticular dos seguros de acidente de trabalho e transportes.

(24)

A Economia de Cabo Verde em 2020

As garantias financeiras das empresas de seguros que operam no mercado nacional, porém, continua- ram a ser fortalecidas. Com efeito, o grau de cobertura das provisões técnicas por ativos aumentou de 127,2 para 129,0 por cento e o rácio de solvência fixou-se nos 450,6 por cento, 67 pontos percentuais acima do valor de 2019.

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