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UNIDADES TONAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E EUROPEU: PADRÕES ENTOACIONAIS E FUNÇÕES

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UNIDADES TONAIS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO E EUROPEU:

PADRÕES ENTOACIONAIS E FUNÇÕES

Thiago Ribeiro Mendes

RESUMO

Este presente artigo inclui-se dentro do campo dos estudos fonológicos do português. Com objetivo principal deste trabalho apontamos à análise dos aspectos prosódicos no processo de comunicação, levando-se em conta as unidades tonais dentro da estrutura informacional bem como as suas funções. Dentro deste artigo é feita uma comparação entre o português culto do Brasil e do português culto de Portugal focando os aspectos prosódicos e funcionais das unidades tonais.

PALAVRAS-CHAVE: Estrutura da informação, aspectos prosódicos, unidades tonais, funções.

INTRODUÇÃO

No processo de comunicação entre dois falantes, observamos que a ordem assumida pelas palavras tende a obedecer a certos padrões pré-estabelecidos que atestem o percurso mental feito por tais indivíduos. Tal processo pode ser chamado de estruturação da informação, no qual o objetivo é chamar atenção para a idéia a ser transmitida pelos indivíduos envolvidos no processo de comunicação. Segundo Nasser (2009) “a estruturação da informação comanda no enunciado, por meio de normas e convenções nos tratos sociais, a relação entre as suposições do falante sobre o estado de conhecimento e a consciência do ouvinte formal de uma sentença”.

É digno de nota, que a estrutura informacional pode ser dividida em unidades menores reconhecidas por pausas que podem ter duas motivações: uma de caráter físico, onde há uma necessidade natural do falante de pausar para o ato de respirar; e outra de caráter funcional, ou seja, a transmissão de uma informação relevante. Tais unidades podem ser definidas, segundo a Teoria da Língua em Ato (CRESTI 2000), como unidades tonais, ou seja, segmentações do enunciado que trazem internamente uma unidade informacional. Raso (2000) descreve o reconhecimento dessas unidades tonais pelas interrupções prosódicas que podem ser terminais e não terminais. Mais a frente explicará

melhor, tais interrupções.

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As unidades tonais são os objetos de estudo do presente artigo. Devido ao tempo e as condições limitadas envolvidos, não é objetivo deste trabalho fazer uma consideração aprofundada dessas unidades tonais, mas apenas estabelecer uma discussão funcionalista sobre essas unidades, bem como as suas funções no Português culto do Brasil bem como no Português culto de Portugal. Alisaremos dentro das unidades tonais aspectos prosódicos1 de entoação, ou seja, alta proeminência tônica e baixa proeminência tônica, de forma perceptiva e qualitativa. Observaremos também como cada unidade tonal pode constar de diferentes tipos de funções. Serão levados em consideração para este artigo os seguintes tipos de funções: tópico e comentário, identificacional, reporte de evento e apresentacional. O que cada uma dessas funções representa será apresentado mais a frente.

UNIDADES TONAIS: INTERRUPÇÕES PROSÓDICAS TERMINAIS E NÃO TERMINAIS A quebra dos enunciados em unidades tonais foi apresentada na Teoria da Língua em Ato (CRESTI, 2000). De acordo com esta teoria os enunciados são entendidos devido às quebras prosódicas que podem ser terminais e não terminais. Tais quebras ou interrupções são entendidas por falantes e ouvintes, principalmente, pelos padrões entoacionais. A entoação pode ser descrita como uma melodia dentro da fala. É por intermédio da entoação que se observam as fronteiras das sentenças e das orações. A entoação pode ser também um marcador de contraste entre estruturas gramaticais como perguntas e afirmações.

Algumas línguas naturais fazem uso desses recursos entoacionais ou melódicos como fator distintivo na compreensão da informação ou como fator importante para se desfazer mal entendidos. Cavaliere (2005) citando o exemplo do cantonês diz:

Em certas línguas a variação tonal tem efetivo valor distintivo. A seqüência [si] no cantonês, por exemplo, não só chega a ter seis significados distintos em face da simples mudança tonal, como também pode mudar de classe gramatical devido ao mesmo fato. (Cavaliere, 2005, p 44)

A entoação também estar relacionada a uma seleção de palavras que são pronunciadas de forma mais forte ou mais fraca pelo falante que visa primariamente transmitir uma idéia pela qual ele deseja chamar mais atenção para o entendimento de seu ouvinte. Interessante que uma mesma frase dita com diferentes picos de entoação, pitch, podem acarreta diferentes significados. Em algumas línguas como o inglês tais padrões de entoação são mais comuns. Vejamos nos exemplos a seguir:

1- I love you.

1 Para Crystal (1969) Aspectos prosódicos se caracterizam como todas as categorias supra-segmentais que incluem acento, tom, ritmo e velocidade de fala.

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2-I LOVE you.

3-I love YOU.

Quando o falante de língua inglesa enfatiza o pronome I (1), estará dando a entender que somente ele, e ninguém mais, ama o ouvinte. No que diz respeito ao exemplo (2), a pronuncia enfatizada do verbo LOVE significará a revelação de seus sentimentos para uma pessoa que não sabia desses sentimentos. Finalmente, com o pronome objeto YOU no exemplo (3) sendo pronunciado de forma enfática, dará a entender que o amor do falante é de propriedade do ouvinte. Portanto, padrões de entoação como estes estão intimamente ligados com a significação da informação.

Um enunciado simples, ou seja, com apenas uma unidade tonal, é visto como cumprido, quando a percepção desse enunciado é visto com um contorno entonacional de valor terminal. Em contra partida, quando lidamos com enunciados complexos,com mais de uma unidade tonal, a Teoria do Ato de Fala adota a posição de o que o interlocutor percebe os limites que separam as unidades tonais internas ao enunciado devido, principalmente, ao fato de haver uma percepção de um perfil entoacioanal não-terminal (RASO 2000).

Para o entendimento de padrões terminais e não terminais iremos observar como cada um pode ser definido na prática com exemplos. Tomemos como exemplificação o enunciado: Carla voltou ontem. Dependendo dos perfis prosódicos, esse mesmo enunciado pode ser executado com padrões diferentes:

1-A: Você sabe quando Carla voltou?

B: Carla voltou na ÚLTIMA SEGUNDA. //2

No exemplo 1, o enunciado é produzido com uma única unidade tonal terminal, ou seja, sem quebras prosódicas, e por sua vez, com apenas uma única unidade informacional.

Um enunciado simples. Porém, no exemplo 2 a seguir:

2-D: Quem voltou na ultima segunda?

C: CARLA / voltou na ultima segunda?//

Observamos nesse exemplo que duas unidades tonais foram usadas, isto é, houve uma quebra dentro do enunciado, por isso duas unidades informacionais foram expressas. A entoação na primeira unidade tonal CARLA tem a função básica de especificar uma informação não conhecida pelo interlocutor. Tal proeminência teria um papel focalizador de informação. Temos então um enunciado complexo.

A simples diferença entre esses dois enunciados está contido apenas na forma como certas palavras são pronunciadas com padrões melódicos diferentes e pelas quebras prosódicas de valor terminal (ex. 1) e de valor não-terminal (ex. 2), atestando mais uma vez

2 Como o aspecto prosódico fora representado neste artigo basta ler a metodologia.

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a importância dos aspectos prosódicos como essenciais na transmissão de informação relevante ou o foco do enunciado.

O foco na visão de Janckendoff (1972) vem sido designado como a descrição de proeminências prosódicas de pronuncia com funções semânticas ou pragmáticas. O foco poderia então ser uma partícula que possibilita reconhecer algo que seja importante para o ato de comunicação que geralmente é informação nova. BARBOSA (2000) também concorda que o foco possa ser um traço fonológico que tem como objetivo principal fazer um contraste com o restante do que foi dito dentro da frase usada no ato de comunicação.

Diferenciamos, portanto, noção de tópico e foco. O tópico será referido neste artigo como informação velha e o foco serão referidos como informação nova. O exemplo 1 anteriormente citado demonstra claramente o que dissemos. O tópico, ou informação velha, pode ser apontado com o sujeito da oração no exemplo 1, CARLA, informação que os dois interlocutores têm em comum. Porém, a informação nova seria a segunda parte do enunciado, ÚLTIMA SEGUNDA, a informação nova ou foco do enunciado, que não é compartilhada pelo interlocutor A.

A unidade tonal traz consigo uma relação entre proeminências e unidades de informações. Tais unidades tonais bem como suas respectivas significações serão entendidas pelos participantes no ato da comunicação. O objetivo deste artigo é observa como o Português do Brasil bem como o Português de Portugal fazem uso destes padrões melódicos ou entoacionais, e, por sua vez, observar a relação deles com as funções da estrutura da informação.

FUNÇÕES DA ESTRUTURA DA INFORMAÇÃO

No trabalho de Lambrecht (1994) é apontado que o fluxo informacional está alicerçado em três funções essenciais: Tópico-comentário, identificacional, reporte de evento e apresentacional. Quando falamos de tópico-comentário dizemos que a sua função é predicar algo sobre um dado tópico. Tomemos como exemplo a seguinte situação:

A: Onde está Maria?

B: Maria foi EMBORA.

Observamos que a resposta do interlocutor B trata-se de um enunciado simples que tem como objetivo primário reportar algo sobre um objeto ou pessoa que já é de conhecimento de ambos participantes. Nasser (2000) aponta que esse tipo de função é mais comum no português pela sua simplicidade.

Outra função muito comum no português é a com foco em toda a sentença, que segundo Nasser (2000) traz atrelada a si a idéia básica de algo novo. Esse tipo de função pode ser dividido em duas funções: apresentacional e a de reportar um evento. A apresentacional pode ficar exemplificada da seguinte forma:

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A: O que aconteceu?

B: A MARIA caiu no saguão.

Nesse tipo de oração, o referente é mencionado como um sintagma nominal que não é tópico pelo simples fato de não ter sido mencionado anteriormente.

A função de reportar um evento pode ser descrita como um tipo de sentença que demonstra certa independência do contexto, já que, como afirma Nasser (2000), pode ser enunciado a partir do nada. A função de reportar pode ficar exemplificada como se segue:

Era uma vez uma menina chamada Maria.

Finalmente, a função identificacional, tem como função primaria identificar o argumento faltante em uma proposição ou expressão de pensamento. Como exemplificado a seguir:

a- Quem foi embora?

b- MARIA.

Para a identificação dos tipos de funções será essencial também levar em consideração o estatuto informacional do sintagma nominal, o que queremos dizer é se o sintagma tem status de informação nova, inferível e, finalmente, velho.

METODOLOGIA

Como dito anteriormente esse trabalho trata-se de uma análise de percepção, de caráter qualitativo e de caso. Queremos dizer com isso que os resultados apresentados neste artigo podem não se tratar de uma verdade absoluta dentro da língua.

Definidos os aspectos a serem percebidos neste artigo agimos da seguinte forma:

primeiramente foram escolhidos dois informantes nativos, falantes de língua portuguesa do sexo masculino, na faixa etária de trinta anos de idade. Um sendo brasileiro, da região do Rio de Janeiro e o outro de Portugal, da região de Lisboa. O corpus trata-se de duas gravações e transcrições disponibilizadas na internet por intermédio do VARPORT com duração máxima de seis minutos cada, com temas variados, onde os falantes expressam-se livremente sobre temas propostos.

Em seguida, as gravações foram ouvidas inúmeras vezes. Primeiro, com o intuito de separar os enunciados em unidades tonais. A seguir foram observados os aspectos prosódicos recorrentes. Foi levantado um corpus de quarenta sentenças, aonde sendo vinte do português do Brasil (PB) e vinte do Português de Portugal (PP). Destes enunciados tentamos reconhecer os aspectos prosódicos mais recorrentes, que ficaram representados seguindo alguns modelos estabelecidos por Raso e NASSER:

1) Alta proeminência tônica será representada com letras maiúsculas e em negrito.

2) Baixa proeminência tônica será representada com letras minúsculas e em itálico.

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3) Quebra prosódico terminal será representado com dupla barra //.

4) Quebra prosódica não-terminal será representado pó barra simples /.

Em seguida tentamos organizar os exemplos e categorizá-los de acordo com estatuto informacional do sintagma nominal, com os tipos de enunciados e com as suas respectivas funções.

RESULTADOS: PORTUGUÊS DO BRASIL

No informante brasileiro foi percebido um maior uso de enunciados com contorno entoacional de valor terminal. Portanto, os enunciados são mais simples, isto é, são pronunciados com uma única unidade tonal, sem quebras prosódicas e realizados com uma única força ilicucionária. Tal fator pode ser exemplificado como se segue:

(1) A gente jogava de bola o ano INTEIRO. //

(2) Eu freqüentava os clubes todos os FINS DE SEMANA. //

Como podemos observar, os exemplos acima citados trazem um referente que já foi previamente estabelecido dentro do contexto, sendo então considerado tópico ou informação velha, por já ser de conhecimento dos interlocutores. Sendo assim, foi observado que não foi dado nenhum tipo de entoação mais proeminente ao tópico em comparação com o resto do enunciado. Contudo, a informação nova, foco, foi declarada com um valor ascendente ou de alta proeminência tônica, que visa primariamente fazer um contraste com o restante do enunciado já que contem a informação mais relevante no ato de comunicação.

É importante também enfatizar que foi observada a estreita relação dos enunciados de valor terminal e a função tópico-comentário. Como dito anteriormente, a função tópico- comentário tem a função de predicar algo sobre o tópico.

1- A gente Jogava bola o ano INTEIRO. //

2- Eu

Freqüentava os clubes todos os FINS DE SEMANA. //

Tópico

Foco (informação nova)

Uso de alta proeminência tônica

Tópico

Comentário (Predicação do tópico ou sujeito)

Em relação aos enunciados de valor não-terminal, podemos dizer que foram usados em número menor pelo falante de PB. Porém, quando usados, demonstram ser bem complexos, compostos de diferentes unidades tonais. Como ilustrado nos exemplos a seguir:

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(3) A gente tinha período ESPECÍFICO de soltar pipa / que em geral eram as férias de MEIO de ano e / de FINAL de ano. //

(4) As crianças de classe se divertem mais com Vídeo Games / coisas desse TIPO / do que jogando FUTEBOL. //

No que diz respeito aos padrões de entoação usados nos enunciados de valor não- terminal foram constatados a preferência por Alta proeminência tônica, para cada informação nova que o falante desejava chamar atenção. Porém, no exemplo 3 foi percebido um caso de baixa proeminência tônica, mas diferente da proeminência alta não se trata de uma informação nova, já que foi citada previamente no contexto do dialogo.

Contudo essa baixa proeminência transmite a sensação de que uma outra informação ainda vai ser proferida pelo interlocutor. Outro fator interessante sobre a baixa proeminência foi o fato de certas palavras serem pronunciadas com essa característica antes de marcadores discursivos que, por sua vez, sempre são pronunciados com alta proeminência nos exemplos coletados. Mas diferentemente do exemplo 3, as palavras pronunciadas com baixa proeminência nos exemplos que se seguem trazem a característica de informação nova dentro do enunciado, quando se leva em consideração o contexto em que aparecem.

(5) Antigamente a princípio é tempo mítico, NÉ?//

(6) Antigamente as opções de brincadeira em geral não eram muitas, NÉ?//

Alta proeminência tônica Usada na enfatização de informações novas.

Baixa proeminência tônica Usada em enunciados não finalizados.

Usada na enfatização de informações novas

Outros tipos de funções da estrutura da informação também foram encontrados.

Entre eles podemos citar a de tipo apresentacional, cujo referente não é um tópico pelo simples fato de não ter sido mencionado anteriormente dentro do contexto.

(7) MINHA FILHA tem opções hoje de lazer/ que eu NÃO tinha na MINHA ÉPOCA.

//

No exemplo acima citado, o sintagma nominal MINHA FILHA não pode ser considerado tópico do enunciado, pois não foi citado anteriormente no contexto apresentado, é, portanto, uma informação nova. Curiosamente o falante pronuncia esse novo elemento com alta proeminência tônica, confirmando assim mais uma vez a relação alta proeminência-informação nova.

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MINHA FILHA Tem opções hoje de lazer/ que eu NÃO tinha na MINHA ÉPOCA. //

Novo referente Predicação sobre o novo referente

Alta proeminência tônica Informação nova

Quanto à função de reportar um evento podemos dizer que foi encontrado apenas um enunciado com esse tipo de função, que pode ser descrito como construções autônomas do contexto e poderiam ser enunciadas a partir do nada. Como característica da função de reportar um evento pode ser dito que o sintagma nominal é posposto ao verbo. Foi observada no exemplo identificado uma alta proeminência tônica no sintagma nominal.

(8) Faltou falar da JUVENTUDE. //

Não fora encontrados no informante brasileiro nenhum exemplo de enunciado com função identificacional.

RESULTADOS: PORTUGUÊS DE PORTUGAL

No informante brasileiro foi percebido um maior uso de enunciados com contorno entoacional de valor terminal. Portanto, os enunciados são mais simples, isto é, são pronunciados com uma única unidade tonal, sem quebras prosódicas e realizados com uma única força ilocucionária. Tal fator pode ser exemplificado como se segue:

(1) Nós tivemos um bolseiro AMERICANO. //

(2) A Universidade de Assores tem departamento que são os MELHORES. //

Como podemos atestar, os exemplos trazem, quando levado o contexto em consideração, um referente já estabelecido, sendo, portanto, informação velha ou tópico.

Somente as informações novas e foco receberam maior ênfase por intermédio de alta proeminência tônica, fazendo assim um contraste com o resto do enunciado.

É importante também enfatizar que assim como foi observada a estreita relação dos enunciados de valor terminal e a função tópico-comentário no português brasileiro, o mesmo pode ser dito do português de Portugal. Como dito anteriormente, a função tópico- comentário tem a função de predicar algo sobre o tópico.

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1- nós Tivemos um bolseiro AMERICANO. //

2- A Universidade de Assores

Tem departamentos que são os MELHORES. //

Tópico

Foco (informação nova)

Uso de alta proeminência tônica

Tópico Comentário (Predicação do tópico ou

sujeito)

Em relação aos enunciados de valor não-terminal, podemos dizer que foram também pouco usados pelo falante do português de Portugal. Observamos uso de enunciados bem complexos, compostos de diferentes unidades tonais. Como ilustrado nos exemplos a seguir:

(1) Temos SEMPRE audiência entre/ o habitual é/ entre TRINTA A CINQÜENTA pessoas. //

(2) São bolsas com montante FIXO, / que cobrem no caso das bolsas para MESTRADOS E DOUTORAMENTOS/ cobrem PARTE dos estudos. //

No que diz respeito aos padrões de entoação usados nos enunciados de valor não terminal foram constatados a preferência por Alta proeminência tônica, para cada informação nova que o falante desejava chamar atenção. Porém, no exemplo 3 foi percebido um caso de baixa proeminência tônica, na palavra entre e é que acarreta apenas a idéia de um enunciado não concluído ou de uma outra informação a ser transmitida. O mesmo fenômeno de informação nova com baixa proeminência antes de marcadores discursivos também foi observado no informante de Portugal.

(5) É um desequilibrio bastante grande, /NÃO É?//

Entre outros tipos de funções da estrutura da informação pode ser citada a de tipo apresentacional, cujo referente, como dito anteriormente, não é um tópico pelo simples fato de não ter sido mencionado anteriormente dentro do contexto.

(6) vários bolseiros são da Universidade de açores. //

No exemplo acima citado, o sintagma nominal minha vários bolseiros não pode ser considerado tópico do enunciado, já que não foi citado anteriormente no contexto, é, portanto, uma informação nova. Curiosamente o falante pronuncia esse novo elemento com alta proeminência tônica, confirmando assim mais uma vez a relação alta proeminência- informação nova.

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VÁRIOS BOLSEIROS São da Universidade de ASSORES.//

Novo referente Predicação sobre o novo referente

Alta proeminência tônica Informação nova

Alta proeminência tônica em outra informação julgada importante pelo informante

Foi constatado um exemplo com a função identificacional, ou seja, tem como função primaria identificar o argumento faltante em uma proposição ou expressão de pensamento. Como exemplificado a seguir:

a-A Fullbright d a partir da licenciatura, NÃO É?//

b- SÓ PÓS-GRADUAÇÃO.//

Como visto no exemplo acima, a resposta do informante conta de uma unidade tonal com alta proeminência tônica, que visa chamar a atenção para a informação faltante ou requerida.

Quanto à função de reportar um evento não foi encontrado nenhum exemplo no corpus analisado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossa pesquisa propusemos fazer uma pequena consideração que respondeu questões formuladas a respeito do que são unidades tonais, bem como alguns aspectos prosódicos; e como tais aspectos estão ligados à transmissão da informação. Percebemos que a alta proeminência tem uma estreita relação com a questão de expressar informação nova bem como a baixa proeminência tônica. Porém, perguntas surgiram como até que ponto vai à relação proeminências baixas e marcadores discursivos dentro do português falado. E, finalmente, vimos às funções da estrutura da informação, na qual a mais encontrada foi a de tópico-comentário. Porém, desejamos mais a frente, com um corpus maior, ver todas as funções em uso dentro da língua falada das duas variações português bem como outras variações.

Esse presente trabalho não tem a pretensão de ser estabelecer como uma verdade absoluta. Como dito anteriormente, foi um trabalho feito apenas com a percepção de um falante de português e suas impressões baseadas em outros trabalhos. Fica desde já o desejo sincero de em trabalhos futuros fazer um mesmo estudo com o uso de programas de computador para a observação dos mesmos fenômenos aqui abordados. Observamos que a abordagem funcionalista no campo da fonologia pode ser um campo vasto para os amantes deste ramo da lingüística. Esperamos que esse trabalho tenha contribuído de alguma forma.

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REFERÊNCIAS

BARBOSA, Joaquim. Foco e tópico: algumas questões terminológicas. Diss. Mestrado, Porto, Faculdade de Letras da U. do Porto. 1997

CAVALIERE, Ricardo. Fonologia e morfologia na gramática científica brasileira. Rio de Janeiro, Eduff, 2005.

CRESTI, E. Corpus di italaino parloto. Introduzione v. 1. Firenze: Presso L” Accademia della Crusca, 2000

CRYSTAL, David.. Prosodic Sistems and Intonation in English. Cambridge: The CambridgeUniversity, 1969.

JANCKENDDOFF, Ray. Semantic interprattation in generative grammar. MIT press.

Cambridge University, 1972.

LAMBRECHT, K. Information structure and sentence form, topic, focus and the mental representations of discourse referents. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

NASSER, Juliana Antunes. A estruturação da informação no português brasileiro: um estudo em narrativas orais. Dissertação (Mestrado em lingüística). São Paulo: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2009.

RASO, Tommaso, MELLO, Heliana, JESUS, Andréa Ulisses, ALVES DE DEUS Luciano.

Uma aplicação da teoria da língua em ato ao português do Brasil. Rev. Est. Ling., Beli Horizonte, v. 15, p 147-166, jul/dez 2001.

VARPORT. Variedades do Português. Disponível em: <http://www.letras.ufrj.br/varport/>.

Acesso em: 28 out. 2010.

Referências

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