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DAR A CONHECER A JUSTIÇA. Secção: A Judicatura e o Ministério Público na Reforma da Justiça

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Academic year: 2021

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DAR A CONHECER A JUSTIÇA…

Secção: A Judicatura e o Ministério Público na Reforma da Justiça

O nº 1 do artigo 202º da Constituição da República Portuguesa estatui que

“os tribunais são os órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do Povo”.

Sendo que, a sua soberania reside no Povo – artigo 3º da Constituição da República Portuguesa.

Da conjugação destas disposições constitucionais resulta que os tribunais são órgãos do povo, que actuam em nome do povo. E, por conseguinte, a Justiça radica no povo1, ou seja, o fundamental do sistema de justiça tem de ser o cidadão.

Acontece que, para o cidadão o mundo da justiça apresenta-se, ainda hoje, como desconhecido e complexo. E, é o próprio sistema de justiça e os seus operadores que fomentam essa desinformação.

Podemos afirmar que o edifício da justiça se tem mantido fechado em si mesmo, apresentando-se à sociedade e ao comum dos mortais como um mundo adverso2.

1 Sobre esta matéria acompanhamos de perto o pensamento do Juiz Conselheiro Laborinho Lúcio que de uma forma bem estruturado melhor explicita esta ideia da Justiça radicada no povo, para tanto vide transcrição das intervenções efectuadas sobre a “Teoria da Jurisdição e da Organização Judiciária” no âmbito do I Curso Avançado de Curta Duração em Direito Judiciário, Universidade do Minho, 2007.

2 “As pessoas iam ao tribunal psicologicamente com medo, porque estavam num mundo que lhes era adverso e que não conheciam, mas no qual acreditavam, porque, evidentemente, essa ignorância acerca do modo de

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Os cidadãos, de uma maneira geral, respondem-nos que nunca entraram num Tribunal e só lá entram quando a isso são obrigados e fazem-no a medo.

É certo que tempos houve em que foi possível que a justiça sustentasse a sua legitimidade na ignorância do cidadão o qual, quase numa atitude de fé acreditava no seu funcionamento e eficácia.

Mas na sociedade da comunicação em que vivemos, há toda uma capacidade e facilidade de acesso à informação que não se coaduna com atitudes de fé.

Aliás, com a mediatização da justiça os cidadãos são bombardeados diariamente com informação referente ao mundo da justiça, pondo, a maior parte das vezes, o assento tónico nos defeitos, problemas e mau funcionamento daquela.

E, por isso, a credibilidade da justiça já não se basta com atitudes de fé.

É, necessário que o cidadão seja informado sobre todas as matérias referentes à justiça, por forma, a que forme a sua convicção na racionalidade.

É, por isso, necessária toda uma mudança de paradigma na justiça por forma a que e fazendo uso das palavras do Juiz Conselheiro Laborinho Lúcio “em vez de uma justiça burocrática, sistémica e, portanto, marcada muito fortemente por uma concepção positivista, sobretudo do direito, podemos passar para uma justiça democrática, questionada de fora e organizada enquanto espaço de resposta funcional e estratégico aos interesses do cidadão”.

Esta mudança de paradigma remete-nos para a necessidade de termos um sistema de justiça transparente, vi rado para o cidadão a quem garante um efectivo direito ao conhecimento e à informação.

Temos, portanto, por assente que a descrença dos cidadãos na justiça tem na sua base um desconhecimento profundo do que é a realidade da justiça e que esse desconhecimento resulta da atitude do próprio sistema de justiça que, não estando habituado a abrir-se ao cidadão e à sociedade, acaba por, numa atitude de pouca transparência, fomentar a não transmissão de conhecimento e de informação à sua base de legitimação, o cidadão.

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Esta mudança de paradigma exige do sistema de justiça uma verdadeira revolução na atitude de relacionamento com o mundo exterior e, também, na forma como esse mundo exterior deve passar a relacionar-se com o próprio sistema de justiça.

Estas exigências de mudança abrangem todo o sistema judicial incluindo os seus habituais players – Magistrados Judiciais, Magistrados do Ministério Público, Advogados, oficiais e funcionários de justiça – mas também são extensíveis aos Jornalistas e ao cidadão.

Nesta matéria são inúmeras as mudanças necessárias e de que deixamos aqui e agora algumas notas:

- é necessário começar a pensar e executar os edifícios e a organização dos Tribunais na óptica do utilizador, pois de uma maneira geral, a sua organização por juízos e secções é já por si complexa e os próprios edifícios transmitem, tanto no plano exterior como interior, uma imagem hermética e austera, nada convidativa e simpática. Tudo isto dificulta a tarefa do cidadão no seu primeiro contacto com essa realidade e só agrava o sentimento de adversidade que ele já preconceituosamente nutre pela justiça.

- o ensino escolar tem de contemplar disciplinas que permitam aos alunos desde muito novos contactar e perceber a realidade dos tribunais e das profissões associados à vida do foro.

- haver uma efectiva preocupação na forma e terminologia utilizada pelos profissionais do foro quando comunicam com o cidadão, directamente ou através da comunicação social.

O cidadão que não está familiarizado com os tribunais mal recebe uma notificação, ainda não a abriu e já treme e depois de a abrir é possível que nem a consiga descodificar na íntegra. E, mais grave ainda é quando o Juiz lê a sentença/acórdão pois, seja pela forma como lhe é transmitida seja pelo

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conteúdo, o visado e o público não chegam a apreender a causa das coisas, mas tão só e apenas a decisão final.

Numa fase tão importante da actuação do tribunal, não basta que a decisão judicial esteja fundamentada, exige-se dos Tribunais que enquanto emissores de uma sanção que tem um fim punitivo mas também preventivo e correctivo o façam de forma a que o receptor a receba e compreenda3.

Sendo que, essa preocupação tem de ir além do receptor arguido/réu porquanto na sala de audiências e fora dela temos ainda outros cidadãos que também eles são receptores e, como tal, também eles têm de poder recebê-la em condições de a apreenderem.

-Por outro lado, não se pode permitir que os Juízes continuam sujeitos à pressão da comunicação social e que a informação relativa aos processos continue apenas a ser veiculada pelo Conselho Superior da Magistratura através de comunicados que têm o condão de serem imperceptíveis para o comum dos mortais.

O modelo actual não consegue dar em tempo, resposta às solicitações dos Jornalistas e, quando dá, fá-lo, normalmente de forma excessivamente jurídica.

Nesta matéria, somos da opinião que junto do Conselho Superior da Magistratura (CSM), preferencialmente, junto a cada Tribunal, deve existir um gabinete de imprensa, composto por jornalistas especializados na área da justiça e é a esse gabinete que compete transmitir, de forma facilmente perceptível, as informações referentes aos processos judiciais.

- E, como incentivo à qualidade das notícias em matéria de justiça os jornalistas que tiverem uma especialização na área deveriam ter acesso prioritário às informações a serem transmitidas pelo CSM.

3 “Técnica, forma e ritos, sobrepõem-se à comunicação, criando novos factores de distanciamento e incompreensão. E, nesta medida, essas marcas tradicionais e inerentes à lógica da justiça, acabam por se opor

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Finalmente, e no que diz respeito a noticias sobre qualquer matéria referente a processos em segredo de justiça, somos da opinião, que inspirados no regime inglês do contempt of court4, se deveria instituir um regime legal de proibição de divulgação pública de quaisquer matérias referentes a processos em segredo de justiça. Esse regime para além de prever um tipo de ilícito criminal que pune o jornalista também deve punir, seriamente, o próprio jornal ou televisão com sanções que poderiam chegar ao impedimento de publicar ou emitir noticias durante um determinado período.

CONCLUSÕES

1. A descrença dos cidadãos na justiça também tem na sua base um desconhecimento profundo do que é a realidade da justiça e que esse desconhecimento resulta da atitude do próprio sistema de justiça que, não estando habituado a abrir-se ao cidadão e à sociedade, acaba por, numa atitude de pouca transparência, fomentar a não transmissão de conhecimento e de informação à sua base de legitimação, o cidadão

2.Necessidade de termos um sistema de justiça transparente, virado para o cidadão a quem garante um efectivo direito ao conhecimento e à informação.

Porto, 20 de Outubro de 2010 O Advogado,

Francisco Vellozo Ferreira CP-6950p

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