Uma breve discuss˜ ao sobre os poss´ıveis estados ligados para uma classe de potenciais singulares
(A brief discussion on the possible bound states for a class of singular potentials)
Douglas R.M. Pimentel, Antonio S. de Castro 1
Departamento de F´ısica e Qu´ımica, Universidade Estadual Paulista “J´ ulio de Mesquita Filho”, Guaratinguet´ a, SP, Brasil Recebido em 23/5/2013; Aceito em 19/7/2013; Publicado em 6/2/2014
Investiga-se a equa¸ c˜ ao de Schr¨ odinger unidimensional com uma classe de potenciais V ( | x | ) que se anulam no infinito e apresentam singularidade dominante na origem na forma α/|x|
β(0 < β ≤ 2). A hermiticidade dos operadores associados com quantidades f´ısicas observ´ aveis ´ e usada para determinar as condi¸ c˜ oes de contorno apropriadas. Dupla degenerescˆ encia e exclus˜ ao de solu¸ c˜ oes sim´ etricas, consoante o valor de β, s˜ ao discutidas.
Solu¸ c˜ oes expl´ıcitas para o ´ atomo de hidrogˆ enio e o potencial de Kratzer s˜ ao apresentadas.
Palavras-chave: potencial singular, degenerescˆ encia, ´ atomo de hidrogˆ enio unidimensional, potencial de Krat- zer, colapso para o centro.
The one-dimensional Schrodinger equation for a class of potentials V ( | x | ) which vanish at infinity and present dominant singularity at the origin in the form α/ | x |
β(0 < β ≤ 2) is investigated. The hermiticity of the ope- rators related to observable physical quantities is used to determinate the proper boundary conditions. Double degeneracy and exclusion of symmetric solutions, depending on the value of β, are discussed. Explicit solutions for the hydrogen atom and the Kratzer potential are presented.
Keywords: singular potential, degeneracy, one-dimensional hydrogen atom, Kratzer potential, collapse to the center.
1. Introdu¸ c˜ ao
O problema geral de espalhamento e estados ligados em potenciais singulares ´ e um tema antigo e recorrente em mecˆ anica quˆ antica (veja, e.g., a Ref. [1]). Recen- temente, o oscilador harmˆ onico singular foi esmiu¸cado nesta revista [2], e revelou-se uma opulˆ encia de concei- tos e t´ ecnicas que s˜ ao da maior importˆ ancia para os estudantes e instrutores de mecˆ anica quˆ antica e f´ısica matem´ atica.
O problema com o potencial V ( | x | ) = −| α | / | x | , co- nhecido como ´ atomo de hidrogˆ enio unidimensional, tem recebido consider´ avel aten¸c˜ ao na literatura por mais de cinquenta anos (para uma ampla lista de referˆ encias re- lacionadas com celeumas e aplica¸c˜ oes em f´ısica atˆ omica, f´ısica molecular e em f´ısica da mat´ eria condensada veja, e.g., Refs. [3, 4]). O problema tamb´ em tem sido objeto de investiga¸ c˜ ao em diversos contextos relativ´ısticos [5- 8]. O potencial da forma α 1 / | x | +α 2 /x 2 , com x ∈ [0, ∞ ) e α 1 < 0 e α 2 > 0, conhecido como potencial de Krat- zer, tem sido usado na descri¸c˜ ao do espectro molecu- lar [9], e tamb´ em no estudo de transferˆ encia de ener- gia vibracional de mol´ eculas poliatˆ omicas [10]. O pro-
blema de estados ligados da equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger com o potencial de Kratzer ´ e um problema analitica- mente sol´ uvel, e sua solu¸c˜ ao pode ser encontrada em livros-texto (Refs. [11, 12], por exemplo). O caso unidi- mensional, com parˆ ametros α 1 e α 2 arbitr´ arios, tamb´ em
´ e um problema analiticamente sol´ uvel, e tem sido inves- tigado no ˆ ambito de equa¸c˜ oes relativ´ısticas [6, 13].
Na esteira pedag´ ogica da Ref. [2], abordamos neste trabalho o problema de estados ligados no ˆ ambito da equa¸ c˜ ao de Schr¨ odinger unidimensional para uma classe de potenciais V ( | x | ) que se anulam no infinito e apre- sentam singularidade dominante na origem na forma α/ | x | β (0 < β ≤ 2). Visto que x = 0 ´ e um ponto singular da equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger, a determina¸c˜ ao de suas solu¸c˜ oes requer uma an´ alise cuidadosa na vi- zinhan¸ ca da origem. A hermiticidade dos operadores associados com quantidades f´ısicas observ´ aveis p˜ oe ` a mostra as condi¸c˜ oes de contorno apropriadas. Demons- tramos que o espectro do problema definido no semi- eixo ´ e n˜ ao-degenerado e que n˜ ao h´ a estados ligados se o potencial com comportamento dominante na origem do tipo inversamente quadr´ atico for fortemente atra- tivo. A extens˜ ao do problema para todo o eixo re-
1
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vela um espectro n˜ ao-degenerado se β < 2, e degene- rado se β = 2. Revela-se tamb´ em que somente auto- fun¸ c˜ oes antissim´ etricas ocorrem no caso 1 ≤ β < 2, e que autofun¸c˜ oes sim´ etricas e antissim´ etricas ocorrem no caso β < 1. A seguir investigamos as solu¸c˜ oes para V ( | x | ) com formas bem definidas. Come¸camos com o problema definido no semieixo, e depois de fatorar o comportamento da autofun¸c˜ ao na origem e no infi- nito, a equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger se transmuta em uma equa¸ c˜ ao diferencial hipergeom´ etrica confluente para a classe de potencias de interesse. Demonstramos que um conjunto infinito de estados ligados tem presen¸ ca no caso do potencial singular atrativo do tipo 1/ | x | , ainda que o potencial seja fortemente atrativo. Tamb´ em mostramos que no caso da adi¸c˜ ao de um termo sin- gular fracamente atrativo do tipo 1/x 2 n˜ ao h´ a cabi- mento em se falar em colapso para a origem (como afirmado na Ref. [11]) ou inexistˆ encia de estado fun- damental, e que h´ a um conjunto infinito de estados li- gados. Dentro da classe de potenciais investigados neste trabalho, demonstramos a inexistˆ encia de estados liga- dos com o potencial V ( | x | ) = α/x 2 , e apresentamos a solu¸ c˜ ao expl´ıcita dos estados ligados com o potencial V ( | x | ) = α 1 / | x | + α 2 /x 2 , com α 1 ̸ = 0.
2. Potenciais singulares na origem
A equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger unidimensional independente do tempo para uma part´ıcula de massa m sujeita a um potencial externo V (x) ´ e dada por
Hψ = Eψ, (1)
onde H ´ e o operador hamiltoniano H = − ~ 2
2m d 2
dx 2 + V. (2)
Aqui, ψ (x) ´ e a autofun¸ c˜ ao que descreve o estado es- tacion´ ario, E ´ e a autoenergia, e ~ ´ e a constante de Planck reduzida ( ~ = h/(2π)). A equa¸ c˜ ao de Schr¨ odin- ger tamb´ em pode ser escrita na forma
d 2 ψ dx 2 −
(
k 2 + 2mV
~ 2 )
ψ = 0, (3)
com
k 2 = − 2mE
~ 2 . (4)
A quantidade
ρ = | ψ | 2 (5)
´
e interpretada como sendo a densidade de probabili- dade. Com condi¸ c˜ oes de contorno apropriadas, o pro- blema se reduz ` a determina¸c˜ ao do par caracter´ıstico (E, ψ) de uma equa¸ c˜ ao do tipo Sturm-Liouville (veja,
e.g., Ref. [14]). Todas as quantidades f´ısicas observ´ aveis correspondem a operadores hermitianos. Para auto- fun¸c˜ oes definidas no intervalo [x 1 , x 2 ], o operador O ´ e dito ser hermitiano se
∫ x
2x
1dx ( O ψ 1 ) ∗ ψ 2 =
∫ x
2x
1dx ψ 1 ∗ ( O ψ 2 ) , (6) onde ψ 1 e ψ 2 s˜ ao duas autofun¸c˜ oes quaisquer que fazem
∫ x
2x
1dx ψ ∗ 1 ( O ψ 2 ) < ∞ . Em particular, as autofun¸c˜ oes devem ser quadrado-integr´ aveis, viz. ∫ x
2x
1dx | ψ | 2 < ∞ . Neste trabalho focalizamos nossa aten¸c˜ ao nos esta- dos ligados com potenciais que tˆ em o comportamento
V ( | x | ) ∼
| x α |
β, 0,
| x | → 0
| x | → ∞ ,
(7)
com 0 < β ≤ 2, e consideramos autofun¸c˜ oes definidas no intervalo [0, ∞ ). Neste caso, a equa¸c˜ ao de Schr¨ odin- ger ´ e uma equa¸c˜ ao diferencial singular e a autofun¸c˜ ao pode manifestar algum comportamento patol´ ogico. Tal sequela poderia comprometer a existˆ encia de integrais do tipo ∫ ∞
0 dx ψ ∗ 1 ( O ψ 2 ), e assim comprometer a her- miticidade dos operadores associados com as quanti- dades f´ısicas observ´ aveis. Por isto, o comportamento das solu¸c˜ oes da Eq. (3) na vizinhan¸ca da origem exige muita aten¸c˜ ao. Visto que os estados ligados constituem uma classe de solu¸c˜ oes da equa¸ c˜ ao de Schr¨ odinger que representam um sistema localizado numa regi˜ ao finita do espa¸co, devemos procurar autofun¸ c˜ oes que se anulam
`
a medida que | x | → ∞ . Tamb´ em, neste caso podemos normalizar ψ fazendo ∫ ∞
0 dx | ψ | 2 = 1.
Na vizinhan¸ca da origem a Eq. (3) passa a ter a forma
d 2 ψ
dx 2 − 2mα
~ 2 | x | β ψ ≃ 0, (8) e no semieixo positivo podemos escrever a solu¸c˜ ao geral da Eq. (8) como
ψ ≃
A | x | s
++ B | x | s
−, para s + ̸ = s − C | x | 1/2 + D | x | 1/2 log | x | , para s + = s − ,
(9) onde A, B, C e D s˜ ao constantes arbitr´ arias, e s ± ´ e solu¸ c˜ ao da equa¸c˜ ao indicial
s ± (s ± − 1) − 2mα
~ 2 | x | β − 2 ≃ 0. (10) A equa¸c˜ ao indicial resulta da considera¸c˜ ao dos ter- mos de mais baixa ordem da expans˜ ao em s´ eries de potˆ encias. Note que esta equa¸c˜ ao faz sentido somente
2
A origem ´ e uma singularidade n˜ ao-essencial (ou regular) se x
2V ( | x | ) for finita no limite | x | → 0. Caso contr´ ario, a origem ´ e uma
singularidade essencial (ou irregular). No caso de singularidade n˜ ao-essencial, o teorema de Fuchs (veja, e.g. Ref. [14]) garante que a
solu¸ c˜ ao geral da equa¸ c˜ ao diferencial ´ e a combina¸ c˜ ao linear de duas solu¸ c˜ oes linearmente independentes c
1S
1(x) + c
2S
2(x), onde S
1(x)
e S
2(x) s˜ ao express´ıveis como s´ eries de potˆ encias em torno da origem, ou c
1S
1(x) + c
2(S
1(x) log | x | + S
2(x)).
se β ≤ 2, i.e., se a origem for uma singularidade n˜ ao- essencial. 2 Assim sendo, os estados ligados em poten- ciais com singularidade mais forte que 1/x 2 est˜ ao ex- clu´ıdos de nossa considera¸c˜ ao. A equa¸c˜ ao indicial tem as solu¸c˜ oes
s ± = 1 2
( 1 ±
√
1 + 8mα
~ 2 )
, para β = 2, (11) e
s + = 1 e s − = 0, para β < 2. (12) Na vizinhan¸ ca da origem, o comportamento do termo
V ˜ nn = ψ ∗ ˜ n α
| x | β ψ n
amea¸ ca a hermiticidade do operador associado com a energia potencial. Para β = 2 e s + ̸ = s − , podemos escrever
V nn ˜ ≃ α
| x | β [
A ∗ n ˜ A n | x | 2 Re s
++ B n ∗ ˜ B n | x | 2 Re s
−(13) + A ∗ n ˜ B n | x | s
∗++s
−+ B n ∗ ˜ A n | x | s
++s
∗−]
,
e para β = 2 e s + = s − V nn ˜ ≃ α
| x | β
[ C n ∗ ˜ C n + D n ∗ ˜ D n log 2 | x |
(14) + (C n ∗ ˜ D n + D n ∗ ˜ C n ) log | x | ] .
Vemos destas ´ ultimas rela¸c˜ oes que a hermiticidade do operador associado com a energia potencial ´ e verificada somente se Re s ± > 1/2, o que equivale a dizer que o sinal negativo defronte do radical da Eq. (11) deve ser descartado e α deve ser maior que α c , com
α c = − ~ 2
8m . (15)
Note que a solu¸c˜ ao expressa pela segunda linha da Eq.
(9), correspondente ` a raiz dupla da equa¸c˜ ao indicial, perde sua serventia. Para β < 2 temos que V nn ˜ ´ e in- tegr´ avel somente se ψ na primeira linha da Eq. (9) tiver B = 0 para 1 ≤ β < 2. Porque a equa¸c˜ ao de Schr¨ odin- ger ´ e linear e sua solu¸c˜ ao pode envolver apenas uma constante de integra¸ c˜ ao multiplicativa, a ser determi- nada por interm´ edio da condi¸c˜ ao de normaliza¸ c˜ ao, de- vemos ter A = 0 ou B = 0 para β < 1.
Diante do exposto, podemos afirmar que ψ se com- porta na vizinhan¸ca da origem como
F | x | s , (16)
onde F ´ e uma constante arbitr´ aria, e s ´ e uma quan- tidade real com os valores poss´ıveis segregados como
segue:
s =
1 2
( 1 +
√
1 + 8mα ~
2)
,
1, 0 ou 1,
para β = 2 e α > α c
para 1 ≤ β < 2 para β < 1.
(17) O crit´ erio de hermiticidade do operador associado com a energia potencial ´ e l´ıcito e suficiente para descartar solu¸c˜ oes esp´ urias. A ortonormalizabilidade das auto- fun¸c˜ oes (relacionada com a hermiticidade do operador hamiltoniano) e a hermiticidade do operador momento s˜ ao crit´ erios mais fr´ ageis porque envolvem o comporta- mento de ψ n ∗ ˜ ψ n e ψ ∗ ˜ n dψ n /dx na vizinhan¸ca da origem, respectivamente. O requerimento da hermiticidade do operador energia cin´ etica ´ e t˜ ao r´ıgido quanto o reque- rimento da hermiticidade do operador energia poten- cial para β = 2, por´ em ´ e mais fr´ agil para β < 2. A bem da verdade, a hermiticidade do hamiltoniano tem sido usada com sucesso na descri¸c˜ ao do espectro do
´
atomo de hidrogˆ enio unidimensional [3] tanto quanto para desmascarar o hidrino (estado estramb´ otico do hi- drogˆ enio com energia mais baixa que aquela de seu es- tado fundamental normal) [7]. ´ E instrutivo notar que o comportamento da autofun¸c˜ ao na vizinhan¸ca da ori- gem independe da intensidade do potencial, caracte- rizada pelo parˆ ametro α, no caso em que o potencial
´ e menos singular que 1/x 2 , e que a condi¸c˜ ao de Diri- chlet homogˆ enea (ψ (0 + ) = 0) ´ e essencial sempre que 1 ≤ β ≤ 2 (s > 1/2), contudo ela tamb´ em ocorre para β < 1 quando s = 1 mas n˜ ao para s = 0. Estes resul- tados est˜ ao sumarizados na Tabela 1.
Tabela 1 - Autofun¸ c˜ ao e sua primeira derivada na vizinhan¸ ca da origem em fun¸ c˜ ao dos parˆ ametros do potencial.
ψ|
x=0+ dψ dxx=0+
β = 2 e α > 0 0 0
β = 2 e α < 0 0 ∞
1 ≤ β < 2 0 < ∞
β < 1 e s = 0 < ∞ 0 β < 1 e s = 1 0 < ∞
A equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger independente do tempo para o nosso problema, Eq. (3), tem o comportamento para grandes valores de | x | dado por d 2 ψ/dx 2 − k 2 ψ ≃ 0, e da´ı sucede que a forma assint´ otica da solu¸c˜ ao quadrado-integr´ avel ´ e dada por
ψ ≃ e − k | x | , k ∈ R , (18) onde k est´ a definido pela Eq. (4). Portanto, podemos afirmar que os poss´ıveis estados ligados tˆ em espectro negativo.
3. Solu¸ c˜ ao no semieixo
As condi¸c˜ oes de contorno impostas sobre a autofun¸c˜ ao
nos extremos do intervalo nos permite tirar conclus˜ oes
acerca da degenerescˆ encia. Com esta finalidade, segui- mos os passos da Ref. [12]. Sejam ψ 1 e ψ 2 duas auto- fun¸ c˜ oes correspondentes ` a mesma energia. A equa¸c˜ ao de Schr¨ odinger (3) implica que
ψ 1
d 2 ψ 2
dx 2 − ψ 2
d 2 ψ 1
dx 2 = 0. (19)
Nesta circunstˆ ancia, a integral da Eq. (19) resulta em ψ 1
dψ 2
dx − ψ 2
dψ 1
dx = W (ψ 1 , ψ 2 ) = W 0 = constante, (20) onde W (ψ 1 , ψ 2 ) designa o wronskiano de ψ 1 e ψ 2 . O comportamento assint´ otico de ψ 1 e ψ 2 faz W 0 = 0, e assim o wronskiano ´ e nulo em todo o semieixo, tendo como consequˆ encia imediata a dependˆ encia linear en- tre ψ 1 e ψ 2 . Conclui-se, ent˜ ao, que o espectro ´ e n˜ ao- degenerado. No entanto, tal conclus˜ ao ´ e fidedigna so- mente se a Eq. (19) for integr´ avel. Na vizinhan¸ ca da origem, cada parcela do lado esquerdo de (19) ´ e pro- porcional a s (s − 1) | x | 2s − 2 , sendo integr´ avel somente se s = 0 ou s > 1/2. Destarte, a ado¸ c˜ ao do bem- afortunado crit´ erio de hermiticidade do operador asso- ciado com a energia potencial garante a inexistˆ encia de degenerescˆ encia ainda que os potenciais sejam singula- res.
Note que para o problema definido no semieixo mas limitado por uma barreira infinita no semieixo comple- mentar, a solu¸ c˜ ao com s = 0 deve ser banida por causa da continuidade da autofun¸ c˜ ao em x = 0.
4. Solu¸ c˜ ao em todo o eixo
Com potenciais pares sob a troca de x por − x, as auto- fun¸ c˜ oes em todo o eixo, com paridades bem definidas, podem ser obtidas das autofun¸c˜ oes definidas no semi- eixo por meio de extens˜ oes sim´ etricas e antissim´ etricas.
A autofun¸c˜ ao definida para todo o eixo X pode ser es- crita como
ψ (p) (x) = [θ (x) + p θ ( − x)]ψ ( | x | ) , (21) onde p = ± 1 e θ (x) ´ e a fun¸c˜ ao degrau de Heaviside (1 para x > 0, e 0 para x < 0). Estas duas autofun¸ c˜ oes linearmente independentes possuem a mesma energia, ent˜ ao, em princ´ıpio, existe uma dupla degenerescˆ encia.
Observe que, apesar da nulidade do wronskiano de ψ (+) e ψ ( − ) , como pode ser inferido pelo comportamento as- sint´ otico, est´ a claro que ψ (+) n˜ ao pode ser expressa em termos de ψ ( − ) , e vice-versa. Entretanto, temos de con- siderar as condi¸c˜ oes de conex˜ ao entre a autofun¸c˜ ao, e tamb´ em sua derivada primeira, ` a direita e ` a esquerda da origem.
A autofun¸c˜ ao deve ser cont´ınua na origem, do contr´ ario o valor esperado da energia cin´ etica n˜ ao seria finito. ´ E assim porque
ψ ∗ d 2 ψ dx 2 = d
dx (
ψ ∗ dψ dx
)
− dψ ∗ dx
dψ
dx , (22) e uma descontinuidade de salto de ψ em x = 0 faria dψ/dx ser proporcional ` a fun¸c˜ ao delta de Dirac δ (x).
Portanto, a ´ ultima parcela do lado direito da Eq. (22) contribuiria para o valor esperado da energia cin´ etica com uma parcela proporcional ` a
ε lim → 0
∫ +ε
− ε
dx δ 2 (x) = ∞ . (23) Note que a demanda por continuidade da autofun¸c˜ ao em x = 0 exclui a possibilidade de uma extens˜ ao antis- sim´ etrica no caso de β < 1 e s = 0.
A conex˜ ao entre dψ/dx ` a direita e dψ/dx ` a esquerda da origem pode ser avaliada pela integra¸ c˜ ao da Eq. (3) numa pequena regi˜ ao em redor da origem, e para um potencial com o comportamento ditado pela Eq. (7) pode ser sumarizada por
ε lim → 0
dψ dx
x=+ε
x= − ε
= 2mα
~ 2 lim
ε −→ 0
∫ +ε
− ε
dx ψ
| x | β . (24) Adotando o valor principal de Cauchy 3 como prescri¸ c˜ ao l´ıcita para atribuir significado ` a representa¸c˜ ao integral cujo integrando ´ e singular no interior da regi˜ ao de in- tegra¸ c˜ ao, pode-se concluir que a derivada primeira de uma autofun¸c˜ ao ´ımpar ´ e sempre cont´ınua. Entretanto, a autofun¸c˜ ao par requer aten¸c˜ ao. Nesta ´ ultima cir- cunstˆ ancia, temos
dψ dx
x=0
+− dψ dx
x=0
−=
0,
∞ ,
para β = 2 e α > 0, ou β < 2 para β = 2 e α < 0,
(26) resultando na exclus˜ ao das extens˜ oes sim´ etricas dos ca- sos 1 ≤ β < 2, e β < 1 com s = 1.
Um resumo das extens˜ oes poss´ıveis est´ a transcrito na Tabela 2.
Tabela 2 - Poss´ıveis extens˜ oes sim´ etricas e antissim´ etricas em fun¸ c˜ ao dos parˆ ametros do potencial.
Extens˜ oes poss´ıveis
β = 2 par e ´ımpar
1 ≤ β < 2 ´ımpar
β < 1 e s = 0 par β < 1 e s = 1 ´ımpar
3
Para f (x) singular na origem, pode-se atribuir um sentido proveitoso ` a representa¸ c˜ ao integral ∫
+∞−∞
dx f (x) por meio da receita que se segue:
P
∫
+∞−∞
dx f (x) = lim
δ→0
(∫
−δ−∞
dx f (x) +
∫
+∞ +δdx f (x) )
. (25)
Tal prescri¸ c˜ ao ´ e conhecida como valor principal de Cauchy de ∫
+∞−∞