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ANÁLISE DA INTEROPERABILIDADE NO ÂMBITO DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA: PROJETO DE ESTUDO

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ANÁLISE DA INTEROPERABILIDADE NO ÂMBITO DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA: PROJETO DE ESTUDO

Rodrigo Albuquerque Pereira (Doutorando)1 Prof. Dr. Humberto Lourenção (Orientador)2 Prof. Dr. Gunther Rudzit (Coorientador)3

RESUMO

A interoperabilidade é um conceito chave para a atuação militar, podendo desenvolver-se em operações conjuntas, interagências e combinadas. O predesenvolver-sente projeto tem por objetivo analisar a capacidade de interoperabilidade da Força Aérea Brasileira, almejando a criação de uma teoria militar que dê suporte ao desenvolvimento doutrinário. Para isso, o tema “interoperabilidade” é explorado sob diversas perspectivas, sendo investigados os aspectos operacional, organizacional, educacional e doutrinário, dentro dos níveis operacional e tático. Para que seja possível efetuar o estudo, será analisado o Complexo Regional de Segurança da América do Sul, de maneira a verificar quais devem ser os cenários nos quais a interoperabilidade deve se desenvolver. A partir de então, será possível efetuar a comparação das capacidades da Força Aérea Brasileira com outras forças de referência, ainda a definir.

Palavras-chave: Interoperabilidade; Força Aérea Brasileira; Complexos Regionais de Segurança.

1 Universidade da Força Aérea (UNIFA). rod003004@yahoo.com.br 2 Academia da Força Aérea (AFA). lourencao@hotmail.com

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ABSTRACT

Interoperability is a key concept for military action, and it can be developed in joint, interagency and combined operations. This project aims to analyze Brazilian Air Force’s capability for interoperability, with the goal to create a military theory that will be able to support further doctrinal development. Therefore, the subject of “interoperability” is explored by different angles, and the operational, organizational, educational and doctrinal aspects are investigated, within the operational and tactical levels. For the study to be carried out, the south American Regional Security Complex will be analyzed, so it can be verified the scenarios in which interoperability must be developed. From the on, it will be possible to compare the Brazilian Air Force’s capabilities with that of other reference point air forces (yet to be defined).

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INTRODUÇÃO

O presente projeto tem por objeto de estudo a capacidade de interoperabilidade da Força Aérea Brasileira (FAB), considerando-se que a interoperabilidade é “uma medida do grau em que várias organizações ou indivíduos são capazes de operar juntos para atingir um objetivo em comum” (HURA et al. 2000, p.7, tradução nossa). Assim, a pesquisa proposta tem como foco de estudo o emprego de aeronaves em operações Conjuntas, Interagências e Combinadas (CIC), conforme crescendo proposto por Paget (2016). O escopo do trabalho será limitado aos níveis Operacional e Tático, de acordo com Hura et al. (2000) e irá analisar os aspectos operacional, organizacional, educacional e doutrinário do espectro de interoperabilidade de Jackson (2018).

Evans (2018) faz uma distinção bastante pertinente entre pensamento militar (ideias individuais e abstratas), doutrina militar (conceitos institucionalizados), história militar (estudo de acontecimentos militares do passado) e teoria militar. Esta última é definida como sendo uma reflexão interdisciplinar explanatória, com o objetivo de aumentar a compreensão acerca das atividades militares e de combate. Construindo em cima desses conceitos, Jackson (2018) afirma que o estudo sobre uma teoria militar de operações conjuntas (às quais o presente projeto acrescenta as operações interagências e combinadas) permite uma compreensão mais profunda sobre a interoperabilidade e o porquê de seu desenvolvimento, ressaltando que é justamente de tal compreensão que se pode extrair ensinamentos para uma melhor normatização e condução dessas atividades. Objetiva-se, portanto, o desenvolvimento de uma teoria militar de interoperabilidade em âmbito nacional, visando ao futuro desenvolvimento e normatização da doutrina correspondente.

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que medida a FAB se mostra capaz de empregar aeronaves em operações Conjuntas, Interagências e Combinadas?

Este Projeto irá introduzir a relevância da interoperabilidade no cenário internacional, apresentando as teorias basilares para o seu estudo. A partir de então, será possível delinear uma metodologia que seja capaz de localizar as capacidades da Força Aérea Brasileira e de outras forças aéreas de referência (ainda a serem estabelecidas) nos três espectros de interoperabilidade (operações conjuntas, interagências e combinadas), fornecendo uma reposta ao problema de pesquisa.

DESENVOLVIMENTO

O trabalho está alinhado com a visão estabelecida no Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER): “uma Força Aérea de grande capacidade dissuasória, operacionalmente moderna e atuando de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais” (BRASIL, 2018, p.11, grifo nosso). Mais especificamente, a proposta se encaixa no objetivo estratégico M180600 (aprimorar a doutrina aeroespacial) e na seguinte diretriz prevista para o macroprocesso finalístico de preparo da Força: “desenvolver a capacidade de interoperabilidade nas operações conjuntas, combinadas e interagências” (BRASIL, 2018, p.31).

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países como Austrália e Canadá, que têm gastos militares menores que o Brasil (SIPRI, 2020), investem nesse aspecto, estando em patamar de interoperabilidade comparável ao dos EUA e Reino Unido (JACKSON, 2018), que gastaram, respectivamente, 35 e 2,7 vezes mais em defesa nos últimos anos (SIPRI, 2020). Por outro lado, no Brasil, as Forças Armadas têm dificuldades de coordenação evidentes, como observado na demora de cerca de duas semanas para que fosse solicitado apoio aéreo à FAB para evacuação aeromédica de um militar do Exército Brasileiro (EB) servindo em missão de paz (MARTINS, 2019). Conforme avaliação do Ten Brig Rossato (2020), as dificuldades de interoperabilidade entre as Forças também foram exemplificadas através do Decreto 10.386/20 (revogado pelo Decreto nº 10.391/20), que permitia ao EB operar aeronaves de asa fixa, evidenciando a competição por recursos no MD.

Esses exemplos empíricos são corroborados por estudos acadêmicos. Ao analisarem a atualidade das Forças brasileiras, Teixeira Júnior e Freire (2019) também reconhecem a importância da interoperabilidade em operações Conjuntas, Interagências e Combinadas (CIC), mas apontam para um panorama ainda incipiente desta atuação na realidade nacional. Em termos de operações conjuntas, os autores colocam fatores como a rivalidade entre as Forças e inadequação do Manual MD30-M-01 (Doutrina de Operações Conjuntas, BRASIL, 2011) como óbices para sua adequada execução. Segundo os autores, rivalidades semelhantes ocorrem entre as diferentes agências, o que, somado às indefinições de atribuições e ao despreparo dos atores envolvidos, faz com que as operações interagências também apresentem graus de integração aquém do esperado, com cada órgão executando as suas atribuições de forma isolada. Os autores não mencionam o nível combinado ao analisarem os desafios para a interoperabilidade no Brasil, mas é possível extrapolar os conceitos de rivalidade, inadequação doutrinária e despreparo demonstrados nas esferas conjuntas e interagências para as operações multinacionais.

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interoperabilidade apresentadas pelas Forças Armadas brasileiras. Aos fatores listados acima, a autora ainda acrescenta a previsão doutrinária para que o comando conjunto seja criado em uma base ad hoc, ao invés da utilização de instituições permanentes, o que evidencia um baixo grau de preparação das Forças para atuação em conjunto (exceção feita ao Comando de Operações Aeroespaciais, que se configura como um comando conjunto permanente).

Fica patente, portanto, a necessidade de melhor compreender as capacidades de interoperabilidade da FAB, para que a “tensão criativa” encontre sua resolução através do aprimoramento teórico e doutrinário da Força.

A depender do conceito adotado, é possível conceber que as operações conjuntas existem desde a antiguidade, com a atuação simultânea de forças em terra e em cursos d’água, expandindo-se em escopo até abarcar, no século XX, o poder aéreo (PESSOA; FREITAS, 2015). Essa noção, contudo, é contestada de forma eloquente por autores como Jackson (2018) e Murray (2002). Este último traz um apanhado histórico sobre as operações conjuntas, argumentando que seus primeiros exemplos significativos ocorreram na Segunda Guerra Mundial (IIGM), principalmente no teatro de operações do Pacífico. No pós-guerra, contudo, o autor coloca que as lições que fizeram com que tais operações fossem bem-sucedidas foram deixadas de lado, sendo favorecida a atuação de forças singulares, com foco, por exemplo, nos bombardeios estratégicos levados a cabo pela força aérea. O autor argumenta que campanhas como as do Vietnã (finalizada em 1973), Irã (1980) e Granada (1983) demonstraram que as forças buscavam objetivos distintos e sem visão global do conflito. Tanto é que tal realidade levou à aprovação do Goldwater-Nichols Act, em 1986, que reformulou as forças armadas dos EUA, dando ênfase à interoperabilidade.

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em todos os elementos, com todas as forças, em um único esforço concentrado”. Apesar de tal lacuna temporal, a fala do General e ex-presidente norte-americano ainda era válida em 1986 e continua válida quase trinta e cinco anos depois. Afinal, as atuações Conjuntas, Interagências e/ou Combinadas (CIC) agem para evitar que cada força lute uma guerra distinta e desconectada dos objetivos políticos e estratégicos (MURRAY, 2002).

Em termos globais, a interoperabilidade evoluiu sobremaneira desde a IIGM, atingindo até mesmo o estado em que duas unidades de países diferentes (82nd Airborne Division, dos EUA, e a britânica 16th Air Assault Brigade) são capazes de formar uma unidade combinada e perfeitamente integrada (PERNIN et al., 2019). Contudo, os autores não deixam de ressaltar que esse exemplo de “interoperabilidade objetiva” (targeted interoperability) é raro, devendo ser construída para aplicações específicas, com possibilidade de expansão conforme necessário. Para situações mais abrangentes, os autores sugerem passos em direção a uma “interoperabilidade geral” (general interoperability). Tal divisão vai ao encontro da análise de Brunsting (2012), que afirma que a capacidade de operar juntos não é um fim em si mesmo, mas sim uma forma de atingir um certo objetivo, o que justifica a construção da “interoperabilidade geral”, com a possiblidade de seu aprofundamento caso seja identificado uma necessidade para tal. Em todo caso, Pernin et al. (2019) ressaltam que a interoperabilidade se coloca como uma habilidade perecível, devendo ser permanentemente cultivada para que se mantenha no grau de efetividade desejado, pensamento ecoado por Sukman e Davis (2020).

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não convencionais por parte de ameaças não-Estatais requer uma adequada coordenação entre todas as esferas governamentais. Como afirmou Gompert (2003), se todos os demais fatores forem iguais, forças operando em conjunto sempre superam forças atuando de forma singular. Portanto, a adequada compreensão do tema “interoperabilidade” apresenta relevância vital para a atuação militar na atualidade.

A definição mais antiga e predominante de interoperabilidade é a estabelecida pelo documento DoDD 4630.5, cuja primeira versão data de 1967: “a habilidade de sistemas, unidades ou forças de prover serviços para e de aceitar serviços de outros sistemas, unidades ou forças e de usar esses serviços para que possam trabalhar juntos de forma efetiva” (KIM, MCDANIEL, 2020, p.6, tradução nossa). Tal enunciado foi mantido nas demais versões do DoDD 4630.5 e no documento que o substitui, o DoDI 8330.01, atualizado em 2019, sendo igualmente adotada pela Estratégia Nacional de Defesa (END; Brasil, 2016). Essa definição possui também aceitação acadêmica, sendo corroborada por estudos encabeçados, por exemplo, pela RAND Corporation (HURA et al., 2000; PERNIN et al., 2020). Enquanto Kim e McDaniel (2020) afirmam que sua falta de detalhamento acaba por fornecer pouca orientação para a comunidade internacional, Pernin et al. (2020) colocam a natureza ampla dessa definição como um de seus pontos fortes. Estes últimos sustentam que ela ganhou visibilidade justamente pela sua capacidade de ser utilizada tanto em contextos técnicos como em operacionais e estratégicos, sendo possível aplicá-la a qualquer função a ser desempenhada em guerra.

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Os níveis operacional e tático, conforme os autores, dizem respeito à realidade do militar em combate, sendo o ponto em que o estratégico e o tecnológico se encontram e estando relacionados com o melhor modo de cumprir a missão com os recursos disponíveis. Isso pode significar tanto a utilização de aeronaves de diferentes países em uma mesma formação para atingir um certo objetivo, como também, em um grau menor de integração, a alocação de missões específicas para cada país, cada uma dentro de uma correspondente porção do espaço aéreo. Entre os desafios para a interoperabilidade nesses níveis, os autores destacam a menor agilidade no processo de tomada de decisão devido à necessidade de consenso entre os participantes, ou ainda o aumento no risco de erros como fratricídio e danos colaterais.

Seguindo em seu estudo, Hura et al. (2000) afirmam que o nível tecnológico está relacionado à capacidade dos sistemas trabalharem em conjunto, tendo em mente o apoio aos níveis estratégico, operacional e tático. Isso significaria, por exemplo, a necessidade de compatibilidade entre sistemas de data link, ou de comunicação segura entre aeronaves. Caso tal compatibilidade não seja possível, reduz-se a capacidade de interoperabilidade entre as forças, sendo necessária a alocação de missões diferentes para cada participante, de acordo com as limitações de seus sistemas.

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Assim, tendo sido estabelecida a importância da interoperabilidade e os níveis a partir dos quais se pode analisá-la, é preciso efetuar as delimitações necessárias para que seja possível estudar esse tema no âmbito da Força Aérea Brasileira (FAB). Primeiramente, observa-se que os níveis político-estratégico (harmonização de visões de mundo e vontade de trabalhar em conjunto) e tecnológico (sistemas informacionais e capacidades técnicas) propostos por Hura et al. (2000) envolvem decisões que podem extrapolar a capacidade de decisão do Alto Comando da FAB, como alinhamento político do governo federal com outros países, compra de equipamentos, entre outros. Assim, tais níveis não serão objeto do trabalho proposto para um Doutorado em modalidade profissional. Adicionalmente, o primeiro estágio do crescendo proposto por Paget (2016) se refere ao emprego da força singular, abaixo, portanto, do conceito de interoperabilidade, que se inicia a partir das operações conjuntas. Dessa forma tal estágio também será descartado nesta proposta de estudo.

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É relevante salientar que nenhum autor trata de forma distinta a interoperabilidade em aplicações das forças militares voltadas a situações de beligerância e aquelas com foco em assistência humanitária ou qualquer outra atribuição subsidiária (warlike ou non-warlike). De fato, todos os pontos levantados são aplicáveis em todo o espectro de atuação das forças armadas, visto que problemas de coordenação, incompatibilidade entre itens de hardware, enfim, qualquer falha na atuação conjunta, interagências ou combinada tem potencial de impacto negativo nas operações, sejam elas de qualquer natureza. Assim, o presente trabalho não fará qualquer distinção nesse sentido.

A partir dos conceitos explicitados, serão construídos os quatro aspectos da interoperabilidade (JACKSON, 2018) para cada uma das três etapas de Paget (2016), sendo avaliados somente os níveis operacional e tático (HURA et al., 2000).

Para que isso seja possível, é necessário estabelecer alguns pontos para efetuar o link entre a interoperabilidade a ser estudada e seus objetivos. Assim, deve-se retomar a definição adotada por Hura et al. (2000), Pernin et al. (2020) e pela END (Brasil, 2016), buscando nela as diretivas adequadas para a continuidade do estudo. Conforme citado anteriormente, o enunciado é colocado como “a habilidade de sistemas, unidades ou forças de prover serviços para e de aceitar serviços de outros sistemas, unidades ou forças e de usar esses serviços para que possam trabalhar juntos de forma efetiva”. Nesse sentido, Pernin et al. (2020) afirmam que a frase acima envolve a articulação de três elementos: o cenário em que a interoperabilidade deve ocorrer, as funções a serem compartilhadas e os parceiros envolvidos. Com isso, o planejamento inicial pode até ser feito com base em apenas uma dessas variáveis, como o desejo de estabelecer melhor interoperabilidade com um parceiro em específico, mas as outras duas devem ser inseridas no contexto para que sejam maximizados os objetivos da parceria.

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Constituição) e às Forças Armadas (Lei Complementar nº 97/1999). Contudo, o Programa de Proteção Integrada de Fronteiras (PPIF) expande a análise desse cenário, identificando como parceiros adicionais os órgãos de segurança pública, de inteligência, da Receita Federal, entre outros, além dos países vizinhos em sua respectiva região da fronteira (PEREIRA, 2020).

Pernin et al. (2020) colocam que também é possível iniciar a análise a partir de alguma função específica a ser compartilhada. Como exemplo, é possível citar o fomento à cooperação na área de inteligência ocorrido durante a intervenção federal na área de segurança pública no estado do Rio de Janeiro. Segundo o General. Braga Netto (2019), havia a necessidade de um compartilhamento adequado das informações obtidas por meio de inteligência para que se obtivesse maior eficiência nas atividades de combate ao crime. Assim, foi incentivado o trabalho interagências entre os órgãos de inteligência das Forças Armadas e das Polícias Civil e Militar, resultando em incremento de interoperabilidade entre esses órgãos a partir de uma função específica.

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Portanto, segundo os autores, esses três elementos (o cenário, as funções e os parceiros) devem ser estabelecidos para que seja possível avaliar os benefícios a serem obtidos através da interoperabilidade, o que dirigirá os investimentos a serem feitos. Nesse sentido, a limitação do estudo aos níveis operacional e tático dá liberdade para que toda a análise do presente trabalho seja feita sem restrições político-estratégicas nem técnicas na seleção de cenários, funções e parceiros.

Inserindo ainda tais conceitos às etapas da interoperabilidade apresentadas anteriormente (CIC), fica claro que a definição de um cenário é fundamental para a subsequente definição de quais parceiros serão inseridos na análise, principalmente nas operações interagências e combinadas. A limitação do estudo a uma função também é relevante, visto que, em qualquer uma das três etapas, há inúmeras possibilidades nesse sentido, desde alternativas convencionais como a utilização de tropas e o compartilhamento de materiais, até a prestação de serviços de inteligência e atuação cibernética, o que aumentaria em demasia o escopo do trabalho.

Naturalmente, esses recortes também são imprescindíveis para a análise do aspecto operacional, já que esse está ligado diretamente à condução de campanhas e operações. O aspecto doutrinário é afetado em menor intensidade, visto que não apenas os procedimentos podem ser comuns a diversos cenários e funções, mas também o são os órgãos responsáveis pela produção de tal conteúdo. Os demais aspectos são menos dependentes da delimitação de cenário e funções, visto que as estruturas administrativas, logísticas etc. (organizacional) e a educação profissional militar (educacional), não estando diretamente ligadas ao combate, podem possuir aplicação a variados tipos de cenários.

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(2003), isso significa analisar o contexto do Brasil, da região da América do Sul e também inter-regiões/global, utilizando um conceito de “segurança nacional” que abarca tanto o entendimento mais tradicional de sobrevivência do Estado como a abordagem mais contemporânea de proteção dos cidadãos (LIMA; SILVA; RUDZIT, 2020; BRASIL, 2016). A ressalta a ser feita por força de aderência ao tema proposto é que, apesar dessa visão levar o conceito para além do campo meramente militar, o presente trabalho procurará manter a discussão dentro do limite de atuação das Forças Armadas, ainda que sem restringir-se a aplicações tradicionais.

Parte-se então do geral para o específico para investigar quais são as principais ameaças à segurança nacional brasileira dentro de seu RSC. Segundo Buzan e Waever (2003), o nível global se coloca como uma análise da interação entre as grandes potências e sua relação com a segurança nacional e regional. Para iniciar a discussão sobre potências, é conveniente utilizar como ponto de partida o fim da guerra fria e, subsequentemente, da bipolaridade no sistema global. Keersmaeker (2015) afirma que, a partir de então, a forma de compreender a polaridade se divide entre aqueles que veem os Estados Unidos como sendo predominante no palco das relações internacionais, em contraste com os que acreditam que a relação entre os Estados é por demais complexa para que seja caracterizada essa predominância, ou seja, uni ou multipolaristas. Apesar de defender abertamente que o próprio conceito de polaridade não é tão relevante assim, os argumentos da autora sustentam uma visão multifacetada do cenário das relações internacionais, sendo necessário incluir as grandes potências para qualquer análise global.

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Nacional de Defesa e Estratégia de Nacional de Defesa (BRASIL, 2016). Onde cabível, serão inseridos os blocos regionais como o MERCOSUL, a UNASUL e o PROSUL. Dessa forma, objetiva-se construir uma visão das ameaças que possa balizar os cenários para avaliação da interoperabilidade, conforme Pernin et al. (2020).

CONCLUSÃO

A interoperabilidade é um campo de estudos que permanece “imaturo” (EVANS, 2018), ou em “estado teórico embrionário”, conforme palavras de Jackson (2018). Em âmbito nacional, Teixeira Júnior e Freire (2019, p.39) corroboram tal visão, apontando que, nesta área, “os estudos ainda são escassos”. Dessa forma, o presente projeto busca uma análise aprofundada da atuação da FAB sob as óticas conjunta, interagências e combinada, nos níveis operacional e tático, explorando os limites do que se conhece sobre o assunto.

As possibilidades de aplicação desse conhecimento são inúmeras, indo desde o desenvolvimento de manuais doutrinários de operações conjuntas, interagências e combinadas, até eventuais propostas de criação de órgãos centrais para o gerenciamento de doutrinas de interoperabilidade. Em termos de ensino profissional militar, é possível buscar a inserção do tema de forma progressiva nos cursos de carreira, ou ainda dar ensejo ao aumento de intercâmbios entre as Forças, outros órgãos governamentais e/ou outras forças aéreas.

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