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DA (IM)POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DAS RELAÇÕES SUGAR NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO.

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¹ Graduanda em Direito pela Universidade Católica do Salvador

² Mestre em família na sociedade contemporânea (UCSal), especialista em Metodologia e Didática do ensino superior (CEPEX/UCSal), graduada em Direito (UCSal), professora em Direito Civil (UCSal), membro efetivo do Instituto dos Advogados da Bahia e advogada.

DA (IM)POSSIBILIDADE DO RECONHECIMENTO DAS RELAÇÕES SUGAR NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO.

Catarina Tavares Espinheira¹ Nícia Nogueira Diógenes Santos de Abreu²

Resumo:O presen te a r t i go tem como ob je t i vo ge ra l ana l i sar a poss ib i l i dade , ou não , do reconhec imen to das re lações sugar no âmb i to do D i re i t o de Famí l i a Bras i l e i r o Con temporâneo . A presen te pesqu i sa se jus t i f i ca d ian te do ca rá te r mu táve l da noção de f amí l i a e da necess idade de apon ta r fundamen tos teó r i co - ep i s temo lóg i cos que pe rm i t am a aná l i s e dos poss í ve i s desdob ramen tos j u r í d i cos dessa re lação no âmb i to do d i re i t o de f amí l i a . A metodo log ia u t i l i z ada fo i de nat u reza qua l i t a t i va baseada no método de rev i são de l i t e ra tu ra . Tomando como premissa o D i re i t o de Famí l i a Con temporâneo , conc lu i - se en tão que desde que v i s l umbrado na re lação os requ i s i t os da un ião es tável , o p r i nc íp i o da a f e t i v i dade e da boa - féé poss í ve l o reconhec imen to da re lação suga r no o rdenamen to ju r íd i co bras i l e i ro como uma en t i dade fam i l i a r .

Palavras-chave: Re lação Suga r –Famí l i a - D i r e i to de Famí l i a - Pr inc íp i os Const i t uc i ona i s de Famí l i a – Un ião Es táve l .

Abstract:Th isa r t i c l ehas the genera l

ob jec t i veo fana l yz ing theposs ib i l i t y , o rno t , o f the recogn i t i ono f suga r re la t i onswi th i n thescopeofCon tempora ryBraz i l i an Fami l y Law.

The p resen t resea rchi s j us t i f i ed i n

v iewo f thechang i ngcha rac te ro f th eno t i ono f fam i l y and theneed to po in t

ou t t heo re t i ca l -

ep i s temo log i ca l f ounda t i ons tha t a l l ow theana l ys i so f theposs ib l e l ega l consequenceso f t h i s re la t i onsh ipwi th i n thescopeof f am i l y l aw . The methodo logyusedwaso f a qua l i t a t i vena tu rebasedon the l i t e r a tu re

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rev iew method . Tak ing thep remi seo fCon tempora r y Fami l y Law as a p remise , i t i sconc luded tha t as long as the requ i rement so f a s tab leun ion a re seen in the re la t i onsh ip , t hep r i nc ip l eo faf f ec t i v i t yandgood fa i t h i sposs ibl e to recogn i ze the suga r re la t i o nsh ip in theBraz i l i an lega l sys tem as a f am i l yen t i t y .

Keywords:Suga r – Fami l y Re la t i onsh ip – Fami l y Law – Cons t i t u t i ona l Fami l yP r i nc ip l e s – S tab le Un ion .

SUMÁRIO: 1 INTRODUÇÃO2 A FAMÍLIA 2.1Evo lução h is tó r i ca da f amí l i a2.2 conce i to de famí l i a na con temporane idade3DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO 3.1 Evo lução h i s tó r i ca do D i re i t o de Famí l i a Bras i l e i ro 3.2 Cons t i t uc i ona l i zação do D i re i t o de Famí l i a 3.2.1 Pr inc íp i os Const i t uc i ona i s do D i re i t o de Famí l i a 3.2.2 En t i dades f am i l i a res con t emporâneas3.2.3A Un ião Es táve l em v igo r no D i r e i to de Famí l i a Bras i l e i ro4A RELAÇÃO SUGAR4.1 E lemen tos p resen tes na re lação sugar4.2 Aprox imações e d i s tanc iamen tos en t re a rel ação suga r e a un ião es táve l 4.3Da poss ib i l i dade de reconhec imen t o , ou não , da re lação suga r como en t i dade fami l i a r5 CONSIDERAÇÕES FINAIS. REFERÊNCIAS.

1 INTRODUÇÃO

O presen te a r t i go abo rda a re l ação sugar no âmb i to do Di re i t o de Famíl i a Bras i l e i ro con temporâneo . As re lações sugar já ex i s tem em out r os pa íses a ma is de uma década , ganhando v i s i b i l i dade no Bras i l nos úl t imos c inco anos .Essa re lação é p ropo rc ionada at r avés de p la taf o rmas d ig i t a i s , a ma is famosa no Bras i l é o ap l i ca t i vo “Meu Patroc ín io ” que foi desenvo lv ido pe la empresá r i a amer i cana Jenn i fe r Lobo e es tá a t i vo desde 2015 , con tab i l i zando em méd ia ma i s de do i s mi lhões de pessoas cadas t radas .

O re lac ionamen t o t i po suga r pode se r fo rmado por um Sugar Daddy e uma Suga r Baby . Os suga r dadd ies são homens ma is ve l hos e com um a l to pode r aqu i s i t i vo e buscam mu lheres ma is novas que possam lhe f aze r companh ia e es tão di spos tos a ar ca r

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f i nance i ramen te pa ra i sso ; enquan to as suga r bab ies são mu lheres mais novas em busca de homens que as propo rc ionem um es t i l o de v ida segu ro e l u xuoso ou es tão em busca de um pa t roc inado r, de f a to - se ja para a rca r com um pro je to p ro f i s s iona l ou com sua f o rmação acadêmi ca , po r exemp l o . Sa l i en ta -se que nessa re lação o d inhe i ro não é t r a tado de fo rma pe jo ra t i va , e s im o opos to , e le é o fa to r a t ra t i v o pa ra os envo l v idos , a lém d isso , a t ranspa rênc ia e hones t i dade são cons ide radas p i l a res na re l ação suga r .

A presen te pesqu i sa se jus t i f i ca d ian te da necess idade de se ana l i sa r a re lação suga r sob a pe rspec t i va do D i re i t o de Famí l i a Bras i l e i ro cont emporâneo , cons ide rando o ca rá te r mu tável e h i s tó r i co da p r óp r i a noção de f amí l i a , pa ra que se possa admi t i r , ou não , a poss i b i l i dade do reconhec imen to das re lações sugar como en t i dades fami l i a res . Com es ta inves t i gação , p re tende -se fo r nece r f undamen tos teó r i cos ep is temo lóg i cos que permi tam a adequada aná l i se dos poss í ve i s desdob ramentos ju r íd i cos das re lações sugar no âmb i to do d i re i t o de famí l i a .

Cons i s te no obj e t i vo ge ra l des ta pesqu i sa , por tan to , a aná l i se da possi b i l i dade , ou não , de reconhece r a re lação sugar como en t i dade f ami l i a r à l uz do d i re i t o de fa mí l i a con temporâneo .

São ob je t i vos espec í f i cos : anal i sa r a evo lução h is tó r i ca da f amí l i a ; ana l i s a r o conce i t o j u r í d i co de famí l i a na soc iedade con temporânea ; ana l i sa r os p r i nc íp ios cons t i t uc iona i s do D i r e i to de famí l i a ; ana l i sa r os requi s i t os lega i s para cons t i t u i ç ão da un ião es táve l e ana l i sa r se os e lemen tos presen tes na rel ação suga r quepodem ca rac te r i za r , o u não , uma un ião es táve l .

A metodo log ia u t i l i zada fo i de ca rá te r qual i t a t i vo com a f i na l i dade de ana l i sa r a poss ib i l i dade ou não da inc lusão da re l ação suga r como en t i dade f am i l i a r con temporânea , baseada no método de rev i s ão l i t e ra tu ra ,pe la le i t u ra de dou t r i na , a r t i g os e pe r i ód i cos c ien t í f i cos , que se rv i rão de fundamen to para o adequado desenvo l v imen to des ta pesqu i sa .

A presen te pesqu i sa fo ra d i v i d a em t rês seções , abo rdando a p r ime i ra sob re a famí l i a , sua evo lução h i s tó r i ca e o seu conce i to na con temporanei dade ; a segunda seção ve rsa sob re a o r ig em e evo lução h i s tór i ca do D i rei t o de Famí l i a Bras i l e i ro , os p r i nc íp i os const i t uc i ona i s do Di re i t o de Famíl i a e as en t i d ades f am i l i a res cont emporâneas , dando en foque à Un ião Es táve l ; a ú l t ima seção conce i tua a re lação sugar e es tabe l ece a

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poss ib i l i dade , ou não , de inse r i - l a como en t i dade f ami l i a r con temporânea .

Hod ie rnamen te é poss íve l cons ta ta r a r e levânc ia das d i scussões ace r ca do D i re i t o de Famí l i a e os bene f í c i os soc ia i s ge rados com essa aná l i se como: o reconhec iment o cons t i t uc iona l da un ião es táve l e a p ro teção de novos a r ran jos fami l i a res . Sendo , po r esses fa to r es e tan tos out r os , i nd i spensáve l , a aná l i se e a re f l exão j u r í d i ca e soc ia l acer ca das novas en t i dades fam i l i a res .

2 A FAMÍLIA

A famí l i a é um fenômeno p resen teem todas as soc iedades . Con fo rme in fe re Nader (2015 ) , o ca rá te r mutáve l da famí l i a e com as mudanças cons tan tes que pe rmeiam a soc iedade , conce i tuá - l a de modo ob je t i vo é uma ta re f a cons ide rada po r mu i tos au to res i nexequ íve l . O au to r também a f i rma que apesa r da famí l i a surg i r como um fa to na tu ra l e espon tâneo , e la man tém uma conexão i n t r í nseca com a cu l t u ra , sendo esse fa to r par t e essenc ia l para a conce i tuação da f amí l i a .

Além dessa função , Fa r i as e Rosenva ld (2020 ) ev idenc iam que a famí l i a também assume o papel de fo rmadora da persona l i dade do i nd i v íduo , po i s cons ide ram que é a t ravés desse núc leo que os homens se d i f e renc iam perant e os dema is an ima is . Ev i denc iam t ambém, que a f amí l i a é o me io no qua l é ap r esen tado a d i ver sas poss ib i l i dades e caminhos que se rv i rão de base para o desenvo l v imen to da sua pe rsonal i dade .

Gag l i ano e Pamp lona F i l ho (2016 ) também apont am a famí l i a como propu l so ra no c resc imen t o do ind i v íduo, ao p ro fe r i re m que esse núc leo é capaz de impu lsi ona r as ma io res fe l i c i dades de um se r humano e , t ambém, p ropo rci ona r sen t imen t os como : t r i s t eza , angús t i a e f rust r ações . Em suma , cons ta tam a in t r ínseca re l ação en t re a famí l i a e o ind iv íduo ao pro fe r i rem que “Somos e estamos umbi l i ca lmen te un idos à nossa famí l ia . ” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2018 , p . 40 ) .

Consag rada , por t an to , a in f l uênc ia da famí l i a pa ra a evo lução da soci edade , bem como a sua magn i t ude como ob je to de es tudo , se faz necessá r i o en t ão compreender que ass im como cada momen to h i s tó r i co possu iu suas s ingu la r i dades a famí l i a também

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passou , e passa , po r inúmeras de f i n i ções e a l te rações ao longo dos tempos .

2.1 Evolução histórica da família

Enge l s (1884 ) ao esc reve r sob r e um per íodo da h is tó r i a ma is p r im i t i vo consi de ra que em t empos pr imórdi os os homens eram p ra t i can tes da po l i gamia bem como as mu lhe res e ram pra t i can t es da po l i and r i a . O au to r a f i rma t ambém que no deco r re r dos t empos essas re lações fo ram se af un i l ando e conve rg indo para a monogamia . Por f im , exp l i c i t a o au to r que todo esse p rocesso oco r reu pau la t i namen te , cons tat ando que : “ o c í rcu lo da un ião con juga l comum, que e ra mu i to amp lo , es t re i t a -se pouco a pouco a té que , f i na lmen te , compreende apenas o casa l i so lado que ho je predomina . ” (ENGELS, 1884 , p . 36)

Quan to às famíl i a s da an t i ga soc iedade Greco - romana ,Nader (2015 ) esc reve que e la só pode r i a se r fo rmada a t ravés do casamen to en t re o homem e a mu lhe r , ou se ja , a famí l i a naque la época e ra essenc ia lmen te ma t ron ia l i zada . Não hav ia ou t ra poss ib i l i dade de cons t i t u í - l a de fo rma l eg í t ima , senão pe lo casamen to . Ou t ro aspec to def i n i do r da famí l i a no momen to h i s tó r i co re fe r i do po r Nader (2015 ) e ra a f o r te in te r fe rênc ia e impo r tânc ia da re l i g i ão no se io fami l i a r , ev idenc iada pe la manu tenção da r e l i g i ão do la r e pe la pe rpe tuação das p rá t i cas dos cu l t os domés t i c os .

Passando pa ra uma breve aná l i se da famí l i a na soc iedade romana , Venosa (2020 ) a f i rma que em Roma a f i gu ra e o poder exe rc ido pe lo pa te r tan to sob re a mu lhe r quan t o sobre os f i l h os e os esc ravos e ra p ra t i camen te abso lu to . Comparando-o a inda com o Di re i t o Grego , ev idenc iando que a té pode r ia ex i s t i r uma re l ação de a fe to en t re os en tes fami l i a res , con tudo nem o a fe to nem o nasc imen to e ram e lemen tos de f i n i do res para a fo rmação do e lo f am i l i a r .

Out ro marco que a l te rou p ro fundamen te as concepções ace rca da famí l i a foi o adven to da revo lução i ndus t r i a l , con fo rme esc reve Venosa (2020 ) , ao a f i r mar que a indus t r i a l i zação foi um f a to r que a l te r ou de fo rma cont unden te a es t r u tu ra fami l i a r , e la de i xa de se r um me io de p r odução de r i quezas na qua l t odos

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es tavam subo rd i nados à f i gu ra do pa te r . Com essa rup tu ra do mode lo engessado de cons t i t u i ção da famí l i a e o novo pape l exe rc ido pe la mu lhe r a ide ia do casamen to como uma f igu ra sagrada e e te rna ab r i u espaço pa ra novas fo rmas de cons t i t u i ção . Quan to a i s so , Pe re i ra ( 2016 ) cons ide ra que com a conqu i s ta das mu lheres po r um luga r na soc iedade como um ser com d i r e i tos e dese jos, “ o pr inc íp io da ind isso lub i l i dade do casamento ru iu ” e com isso a manutenção da f amí l i a passou a sersus ten tada “ [ . . . ] no amor, no a fe to e no companhe i r i smo. ” (PEREIRA, 2016 , p. 26 ) .

Com essa nova concepção da famí l i a e os novos compor tamen tos soc ia i s fo i necessá r i o cons t r u i r um novo conce i to de famíl i a , agora com en foque nos sen t iment os e na evo lução dos ind i v íduos . Con fo rme a f i rma D ias (2013 ) , ao ind i ca r que o ca r inho e o amor são os sen t iment os que man tém os v íncu los fami l i a res e não devem se faze r p resent es só no começo do mat r imon i o , mas s im duran te t oda a re lação. Des ta fo rma , o a fe to passou a se r uma par te i n teg ran te e p r opu l so ra das rel a ções fami l i a r es , a famí l i a agora é a fe to .

2.2 Conceito de Família na contemporaneidade

Dian te das al t e rações e dos adven tos tecno lóg i cos , c ien t í f i cos e cu l t u ra i s deco r ren tes do sécul o XX , a es t rut u ra soc ia l sob a qua l es tava fundada a famí l i a b ras i l e i ra co lapsou . Con fo rme conce i t ua Fa r i as e Rosenva ld (2020 ) a cé lu la -ma ter da soc iedade ago ra é um s inôn imo de p lu ra l i dade , equ idade , abert a e mul t i f ace tá r ia , é um “ espaço pr i v i l eg iado’ ’ que v iab i l i za o c resc imen to e comp lemen ta o ind i v íduo , a famíl i a ago ra é o meio que poss ib i l i t a a p romoção do se r humano , tendo como pi l a r essenc ia l pa ra a sua fo rmação e ins t i t u i ção o a fe to . Quan to a essas a l te rações Far i as e Rosenva ld (2020) a f i rmam que a i n s t i t u i ção do casamen to também so f reu a l te rações , po i s passou a ocupa r um espaço de menor re ferênc ia pa ra a s oc iedade .

Pere i ra (2016 ) e luc ida , quant o à a rgumen tação f rág i l e equ ívoca de que a famí l i a est a r i a passando por um momento de desva lo r i zação ou deso rdem, em deco r rênc ia dessas novas f o rma tações e pa rad igmas , a f i rmando que todo esse processo cons i s te em uma evo lução h i s tór i ca , pe la qua l a soc iedade ai nda

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es tá passando . Todav ia , é e r rôneo o pensamen t o de decadênc ia da f amí l i a , o au t o r conc lu i que: “ As tu rbu lênc ias do caminho são decor rênc ias nat u ra i s . ” (PEREIRA, 2016 , p .24 ) .

Des te modo e de fo rma ina r r edáve l es tá del i neado que a f amí l i a con tempo rânea é um núc leo de af e to , p lu ra l i d ade e i gua ldade . Com essa nova con f i gu ração fami l i a r , o ques t i onamen to passa en tão a se r como o s i s tema ju r íd i co b ras i l e i ro i rá tu t e la r e o rgan i za r essa d i ve rs idade de famí l i as, sem inva l i d ar ou engessa r todas as en t i dades fami l i a res e os novos fundamen tos que as regem.

3 O DIREITO DE FAMÍLIA BRASILEIRO

Exp lanado o h i s tó r i co , bem como os fundamen tos que ca rac te r i zam a f amí l i a con tempo rânea é necessá r i o ana l i sa r al guns aspec tos do D i re i t o de Famí l i a Bras i l e i ro . É man i fes to que o Di re i t o de Famí l i a é cons iderado um dos ramos do d i re i t o com cunho ma is pessoa l , em v i r t ude da sua in t r í n seca re lação com os v íncu los e d i l e mas da pessoa humana . Pode -se i n fe r i r a inda , que o Di re i t o de Famíl i a é , também, um dos ramos mais comp lexos e de d iá logo i n te rd i sc ip l i na r com ou t ros ramos do Di re i t o .

Far i as e Rosenva ld (2020 ) conce i tuam como D i re i t o das Famí l i as , aque l e que “ d i sc ip l i na as re lações que se fo rmam no se io fam i l i a r , enquan to conce i t o amp lo , não l im i tado pe lo ba l i zamento nupc ia l ” (FARIAS, ROSENVALD, 2020, p .45) . Sendo que essas re lações podem se o r i g i n a r a t ravés do casamen to , da un ião es táve l ou da famí l i a monoparen ta l , a f i rmam a inda que podem deco r re r de ou t ros núc leos que possuam o a fe t o e a so l i da r i e dade como fundamen to.

Con tudo , é necessá r i o esc la rece r que as normas pos i t i vadas nem sempre es tão em consonânc i a com a rea l i dade . Con fo rme e l uc ida Dias (2013 , p . 27 ) : “ a le i sempre vem depo is do fa to e procura conge la r a real i dade ” . O que ev idenc ia o cará te r mutáve l da soc iedade e que as concepções da famí l i a que es tão ju r i d i camen te t u te l adas nem sempre co r respondem com a f amí l i a na tu ra l . Em deco r rênc ia d i s t o , Pe re i ra (2020 ) a f i rma que o D i re i to de Famí l i a é um ins t i t u to que es tá em cons tan te recons t rução , buscando o

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equ i l í b r i o en t r e o que a soc iedade en tende como cos tume e regra e a p rev i são que cons ta nos d ip l omas l ega i s .

3.1 Evolução Histórica do Direito de Família Brasileiro

O Di re i t o de Famí l i a fo i fundamen ta lmen te pensado sob a i n f l uênc ia das ide ias o r i u ndas do con t i nen te eu ropeu, e cons t i t u ído sobre uma es t ru tu r a pa t r i a rca l , pa t r imon ia l i s ta e com ca rá te r essenci a lmen te l i be r a l . Essas foram a lgumas das d i re t r i zes que no r tea ram a e labo ração do Cód i go C iv i l de 1916 , a p r ime i ra leg i s l ação b ras i l e i ra que d i sc ip l i n ou de fo rma ma is con tunden te sobre as re lações da famí l i a e sob re o ins t i t u t o do casamen to c i v i l .

Toda essa con jun tu ra na qua l se es tabe leceu o cód igo a lemão re f l e t i u de forma inc i s i va na cons t i t u i ção do Cód igo C ivi l de 1916 . Fa r i as e Rosenva ld (2020) ca rac te r i zam Cód igo C iv i l de 1916 como uma “ est ru tu ra exc lusi vamente mat r i monia l i zada ” (FARIAS, ROSENVALD, 2020, p .45 ) .

Os re fe r i dos aut o res t razem a i nda o conce i to dado po r C lóv i s Bev i l áqua ao Di r e i t o das Famí l i a s que e ra d i sc ip l i nado pe lo re fe r i do cód igo, como sendo um: “ Comp lexo de normas e pr inc í p ios que regu lam a ce leb ração do casamen to , sua val i dade e os e fei t os que de le resu l t am, as re lações pessoa i s e econômicas da soc i edade con juga l ” . (FARIAS e ROSENVALD, 2020 , p .45 )

Após o Cód igo C iv i l de 1916 , sob rev ie ram ou t ros marcos l eg i s l a t i vos que fo ram de consi de ráve l re levânc ia pa ra o D i r e i to de Famí l i a . Como exemp l i f i ca Pere i ra (2016, p .26 ) ao escreve r sob re a Le i do D ivó rc i o , de f i n indo -a como uma mudança pa rad igmá t i ca no D i re i t o de Famí l i a , po i s abandonou a idei a da f amí l i a como um núc leo “ econômico e de repr odução ” , con f i gu rando , po r tan to , uma ascensão p r i nc ip i o l óg i ca impor tant e , ao pe rm i t i r que o casa l , sem in te r fe rênc ia a l guma , v i s lu mbre , ana l i se e dec ida quan to à separação .

Vis lumbrado a lguns dos marcos leg i s la t i vos que permearam a evo lução do D i re i t o de Famí l i a , cons ta ta -se que es te D i r e i to t ende a se mod i f i ca r na med ida em que as concepções da função e o conce i to de famí l i a se a l te ram. Dessa fo rma as p rev i sões lega is e os fundamen tos aba rcados no Cód igo C iv i l de 1916 se t orna ram

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i nep tos pa ra a con f i gu ração con temporânea da f amí l i a . Com isso no ano de 1975 t rami t ou no Congresso Nac iona l um novo cód igo ci v i l , que fo i ap rovado somen te em 2001 . Gonça lves ( 2014 ) esc reve que o Cód igo C iv i l de 2002 buscou se adap ta r às evo luções soc ia i s bem como aos novos cos tumes e as al t e rações leg i s l a t i vas , passando a regu lamenta r o Di re i to de Famíl i a sob “ à luz dos pr inc íp ios e no rmas cons t i tu c iona is . ” (GONÇALVES, 2014 , p . 21)

3.2 Constitucionalização do Direito de Família

Dias (2013 ) comp reende a cons t i t uc i ona l i zação do D i re i to de Famí l i a , como um fenômeno que poss ib i l i t ou que a Cons t i t u ição Federa l de 1988 inc lu í sse g r ande pa r te do con teúdo do D i re i t o Civ i l em seu t ex to , ga ran t i ndo - l he e fe t i v i dade . A par t i r desse momen to en tão , o in té rp re te tem por ob r i gação ana l i sar os i n s t i t u tos que in teg ram o Di re to de Famí l i a sob à l uz da Cons t i t u i ção de 1988 bem como dos p r i nc íp ios cons t i t uc iona i s . A au to ra a f i rma a inda que a cons t i t uc iona l i z ação do d i re i t o de f amí l i a a fas tou concepções an t i gas , ind i v i dual i s t as e com cará te r

“ c onservador -e l i t i s ta ” que es t i ve ram presentes em códi gos an t i gos ; e l im i nando também as inúmeras d isc r im inações que pe rmearam as r e lações fam i l i a res , po i s não cab iam ma is em uma soc iedade democrá t i ca .

Somado a i s to , Gag l i ano e Pamplona F i l ho (2016) ev idenc iam que a cons t i t uci ona l i zação do Di re i t o de Famíl i a poss ib i l i t o u uma repe rsona l i zação da famí l i a , de modo que es ta passou a ocupar um pape l ma is n í t i do na soc iedade , não sendo ma is cons i derada somente como um f im de “ es tabi l i zação mat r imon ia l a todo cus to ” (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2016 , p .65 ) . Com o fenômeno da cons t i t uc iona l i zação do d i re i t o de famí l i a a “ p rópr ia pessoa humana, em sua d imensão ex ist enc ia l e famil i a r ” é a pr i nc ipa l

“ d es t i na tá r ia das normas do Di re i to de Famí l ia . ” . (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2016 , p .65 ) . Sendo essa nova compreensão um dos maio res re f l exos da cons t i t uci ona l i zação do D i re i t o C iv i l e do Di re i t o de Famíl i a na con temporane idade .

I l us t rando o expos to ac ima , Far i as e Rosenva l d (2020) um dos e fe i t os p ropo r c ionados com a cons t i t uci ona l i zação foi a dec la ração de i ncons t i t uc iona l i dade de “ t oda e qua lquer fo r ma de

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v io l ação da d i gn idade do homem, sob o p ret ex to de ga rant i r pro teção à famí l i a ” . (FARIAS; ROSENVALD, 2020 , p .43) . Res ta ev iden te , po r tan to , que a famí l i a con temporânea passou a se r amparada sob novos p r i nc íp i os, a l t e rando comple tamen te an t i gos en tend imen tos .

3.2.1 Princípios Constitucionais doDireito de Família

Como ou t ro ra menc ionado a cons t i t uc i ona l i zação da famí l i a poss ib i l i t ou a i n se rção de p r i nc íp ios cons t i t uc iona i s nesse ramo . Con tudo , an tes de ana l i sa r a lguns dos p r i nc ípi os no r teado res do Di re i t o de Famíl i a , é opo r tuno rea f i rmar a rel e vânc ia da inserção desses p r i nc ípi o s . Po i s , con fo rme esc la rece D ias (2013) a i n s t i t u i ção dos p r i nc íp ios cons t i t uc i ona i s fo i impresc i nd íve l pa ra que se pudesse chega r ma i s p róx imo da jus t i ça , a aut o ra a f i rma a inda que esses p r i ncí p i os passa ram a te r uma e f i c ác ia imed ia ta , ade r i ndo po r comp le t o ao s i s tema j u r íd i co b ras i l e i r o , cons t ru indo assim a “ nova base ax io lóg ica ” desse s i s tema.

Pos to i sso , pode -se ana l i sa r p r ime i ramen te o pr inc íp io da d ign idade da pessoa humana , que no r te ia não só o D i re i t o de Famí l i a , mas todas as re lações ju r íd i cas , sendo cons ide rado ass im um macrop r i nc ípi o . Lôbo (2020 ) esc reve que a d ign idade da pessoa humana é essenci a l a todas as pessoas , un i camen te po r in teg r arem o gêne ro humano, também quan to a un i ve rsa l i dade desse p r i nc í p io , Pamp lona e Gag l i ano F i l ho (2016 , p .78 ) , ac rescen tam que e le é um

“ p r i nc íp io so l ar ” ; ga ran t indo não só a sobrev ivênc ia da pessoa humana, mas o d i re i to “ de se v ive r p lenamente ” sem i n te r fe rênc ias do es tado ou de ou t ros pa r t i cul a res .

Nessa con jun tu r a , Sar l e t (2012 ) ao ana l i sa r a d ign idade humana enquan to p r i nc íp i o fundamen ta l d i sco r re que o con t eúdo t r az i do no a r t i go 1º , i nc i so I I I , da Cons t i t u i ção Federa l , não se re fe re somente a uma “ dec laração de con teúdo é t i co e mora l ” , somado a esse en tend imen to e l a a t i nge também uma compreensão de

“ n o rma ju r í d ico -pos i t i va ” cons t i t u indo um “ s ta tus cons t i t uc iona l fo rma l e ma te r ia l ” , sendo ass im dotada de e f i các ia . (SARLET, 2012 , p .109 ) O au to r cons ide ra que nessa pe rspec t i va de no rma-p r i nc íp io , a sua conc ret i zação dá -se “ c omo um mandado de o t im i zação , o rdenando a lgo (no caso , a p ro teção e

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p romoção da d ign idade da pessoa ) que deve se r rea l i zado na ma io r medida poss íve l . ” . (SARLET, 2012 , p .109)

Já no âmb i to do D i re i t o de Famí l i a , a f i rma Teped ino (2020) , o p r i nc íp io da d ign idade da pessoa humana age imped indo que a manutenção do núc leo fami l i a r se sobreponha “ à tu te la dos seus i n teg ran tes ” , cons ide ra que a f amí l ia agora é uma ins t i tu i ção com va lo r ins t rument a l que deve se r p ro teg ida desde que aux i l i e no

“ d esenvo lv imen t o da persona l id ade dos f i l hos , e com a promoção i sonômica e democrá t i ca da di gn idade de seus in teg ran tes na so l ida r iedade cons t i tuc iona l . ” (TEPEDINO, 2020 , p ,13 )

Jun tamen te com o p r i nc íp io da d ign idade da pessoa humana , há que se ana l i sar o p r i nc íp io da a fe t i v i dade , po is como ou t ro ra menc ionado não há como ana l i sar o D i re i t o de Famí l i a tampouco a f amí l i a con tempo rânea sem vi s l umbra r ta l pr inc íp io . Nesse sen t i do , Ca lde r ón (2017 ) cons t a ta que a Const i t u i ção Federal de 1988 fo i a responsáve l po r uma grande mudança parad igmá t i ca ao con fe r i r imp l i c i t amen te ju r i d i c idade ao p r i ncí p i o da a fe t i v i dade , po i s e la reconhece o pape l des te p r i nc í p io nas re lações f am i l i a res con t emporâneas . Dest a fo rma o s igni f i cado da famíl i a , o s ign i f i cado de en t idade famil i a r , “ [ . . . ] t odas as ca tegor ias , de Di re i t o de Famí l i a se rão a fe tadas pe lo p r i nc íp io da a fe t i v idade . ” . (CALDERÓN, 2017, p . 54 )

Também sob re o p r i nc íp i o da a f e t i v i dade ,Pe re i ra (2016 ) , que o p r i nc íp i o da af e t i v i dade aparece cons t ru ído , também, em out r as reg ras do o rdenamen to ju r íd i c o , como a Le i n .12 .318 / , sobre a a l i enação pa ren ta l , onde no a r t . 3 º ev idenc ia o a fe to como p r i nc íp i o . Adema i s , esc la rece o au to r que não é qua lque r a fe to que cons t i t u i uma en t i dade fami l i a r ; as re lações de amizade , por exemp lo , possuem uma re lação de a fe t i v i dade e não podem se r cons ide radas fa mí l i as .

Des ta fo rma , pa ra que o a fet o possa se r um fo rmador e

“ a u to r i zador de uma en t idade f ami l ia r deve es ta r acompanhado de ou t ros e lemen tos como so l i da r i edade , responsab i l i dade , cump l i c idade , vi vênc ia e convi vênc ia . ” (PEREIRA, 2016 , p . 218) . Sob esse aspec t o , Lôbo (2020 ) ac rescen ta a inda que é necessár i o a ex i s tênc ia da os tens i v i dade , ou se ja , que a en t i dade fami l i a r se ap resen te como ta l pa ra a soc iedade ; e da es tab i l i dade , que cons i s te na exc lusão de rel a c i onamen tos casua is ou que não possuam o ca rá t e r de comunhão de v i da .

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Out ro p r i nc íp io de g rande no t o r i edade é a boa - fé ob je t i va , cons ide rada po r Tar tuce (2020) um dos p i l a res do D i re i to de Famí l i a Con tempo râneo , rep resen ta a evo lução do conce i to de boa - f é por não es tá mais somente no p lano da “mera in tenção ” , esse pr inc íp io agora es tá consagrado no “ p lano da conduta de leal dade das par tes ” (TARTUCE, 2020 , p. 34 ) , con fo rme cons ta no Enunci ado n . 2 da I Jornada de D i re i t o C iv i l , que de f i ne o re f er ido pr inc íp io como “ a ex igênc ia de compor tamento l ea l das par tes. ”

Out ro p r i nc íp io que deve se r ana l i sado é o pr inc íp io da i n te r venção mínima do Es tado no D i re i t o de Famí l i a . Ace rca des te p r i nc íp i oGag l i a no e Pamp lona Fi l ho (2016 ) , cons ta tam que o Es tado não deve in te r f e r i r no amb ien te fam i l i a r , como in te r fe re nas re l ações con t r a tua i s , po r exemp lo . Inc lusi ve , essa rest r i ção encon t ra fundamento no p rópr i o p r i nc íp io da a fe t i v i dade , já menc ionado em momen to an te r i o r , que con f i gura como agressão a i n te r venção es t a ta l nas re lações fami l i a res . Não é cab íve l que o Es tado se ja o de l im i tado r e pe r tença a e le somen te o poder de de f i n i r e reconhece r o que é um núc leo fami l i a r . Nes te sen t i do , a i n te rvenção do Estado não pode an iqu i la r a “ base soc ioa fe t i va ” (GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2016 , p .108 ) pe r tencen te ao D i re i t o de Famí l i a . Po r tan to , o Es tado deve se r uma fon te de apoi o e ass i s tênc ia aos núc leos fam i l i a res .

Após a compreensão do p r i nc í p io da mín ima i n te rvenção do Es tado há que se ana l i sa r o p r i nc íp i o da au tonomia p r i vada . Mada leno (2019 ) a f i rma que es te p r i nc íp io vem garan t i r que o i nd i v íduo tenha “ o exerc íc io p leno da l iberdade ” den t ro das re l ações fami l i a res , exemp l i f i ca a amp l i ação e a fo r te inc idênc ia desse p r i nc íp i o no ro l do D i re i t o de Famí l i a ao c i t a r a poss ib i l i dade de sepa ração e di vó rc i o ex t ra j u d i c i a l . Po is nessas h ipó teses é ou t o rgado aos côn j uges (em s i tuações que não envo l vam f i l hos menores , nem em que a mu lhe r es te ja g ráv ida ) escol he r en t re “ a d isso lução da soc i edade (separação) ou do v íncu lo con juga l (d i vó r c io ) a t ravés de esc r i t u ra púb l i ca e o d ivór c i o d i re to . ” (MADALENO, 2019 , p .92)

Jun tamen te com os p r i nc íp ios an te r i o rmen te menc ionados , é imp resc ind íve l pe rpassa r pel o p r i nc íp io da p lu ra l i dade das en t i dades fami l i a res . Teped ino (2020) esc reve que em momen to an te r i o r a cons t i t u i ção da un idade fami l i a r es tava a t re lada ao casamen to e t i n ha como f im a manu tenção des te.Todav ia , a famí l i a

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passou a adqu i r i r novos con to r nos não ma is sendo exc lus i vamen te o r i g i nada pe lo casamen to .

Teped ino (2020 ) esc la rece a inda que a p ro teção e ga ran t i a da p lu ra l i dade fami l i a r deco r re da l i be rdade indi v i dua l amparada no p r i nc íp i o da di gn idade da pessoa humana , po is con f i gu ram as esco lhas do ind i v íduo . Con tudo , os requ i s i t os para va l i dar uma nova en t idade f ami l i a r : “Se r i edade , es tab i l i dade e propós i t o de cons t i t u i ção de famí l i a ” , não podem es ta r a t r e lados à compreensão de uma au to r i dade púb l i ca ou de uma en t i dade re l i g i osa , devendo se r ana l i sados e compreend idos com fu l c ro nos va lo res e lencados pe la cons t i t u i ç ão fede ra l . Para que en tão , ob je t i vamen te , de f o rma democrá t i ca e com o int u i t o de ga rant i r a d ign idade da pessoa humana si r vam de re fe rênc ia pa ra o reconhec imen to ou não de uma en t i dade f am i l i a r .

3.2.2 Entidades Familiares Contemporâneas

Con fo rme v i s to , o D i re i t o de Famí l i a Bras i l e i r o passou a es ta r inse r i do no ro l Cons t i t uc i ona l , i nco rpo rando ass im p r i nc íp i os const i t uc i ona i s , como cor robo ra Lôbo (2020) ao a f i rmar que com essa nova pe rcepção p r i n c i p i o l óg i ca do D i re i to de Famí l i a não é a famí l i a pe r se que é o ob je to de p ro t eção cons t i t uc i ona l e s im o locus cu ja f ina l idade é o “ desenvo lv imento da pessoa humana ” (LÔBO, 2020 , p .87 ) .

Em v i r t ude desses fa to res houveuma aber tu r a para novas compos i ções fami l i a res pau tadas na a fe t i v i dade e na pro teção à d ign idade da pessoa humana . Com isso , o Di r e i t o de Famíl i a Con temporâneo não possu i um ro l exp resso nem taxa t i vo dos t i pos de famí l i a e não sendo necessár i a a ins t i t u i ç ão do casamen to para que essas en t i d ades se jam reconhec idas como f amí l i a e tu te ladas j u r i sd i c i ona lmen te .

Merecemdes taque in i c i a l as famí l i a s monoparent a i s . Quan to a essa en t i dade fami l i a rPampl ona e Gag l i ano F i l ho (2013 ) ev idenc iamque exp ressamen te p r ev i s tas na Cons t i t u i ção , no t ex to do §4 do a r t . 226 da CF/88 é prev i s to que essa famí l i a é compos ta po r um dos pai s e os seus f i l hos ; sendo ma is um fa tor que con f i gu ra o reconhec imen to de um Di re i to pau t ado na garan t i a da d ign idade da pessoa humana .

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Out ro reconhec i mento de g rande no to r i edade e que con f i gu ra um romp imen to com os p rece i t os a rca i cos que no r teavam o D i r e i to de Famí l i a fo i o reconhec imen to da un ião homoa fe t i va . Ni g r i (2020 ) ana l i sa que , in i c i a lmen te , a un ião es táve l se r e fe r i a somen te a uma un ião a fe t i v a en t re um homem e uma mu lhe r . Con tudo ,após o es tado do R io de Jane i ro requere r a ap l i cação do reg ime da un ião es táve l nos casos de un i ão homoa fe t i va, em dec i são unân ime o Supremo Tr i buna l Fede ra l dec id iu pe lo reconhec imen to da un ião homoa fe t i va como en t i dade fami l i a r devendo se r ap l i cado à e la o reg ime da un ião es táve l . A deci são re fe r i da fo i tão s ign i f i can te , e não só pa ra o D i re i t o de Famí l i a , que no ano de 2018 a Organ i zação das Nações Un idas pa ra Educação , Ciênc ia e Cu l tu ra (UNESCO) consagrou a re fe r i da dec i são como um pa t r imôn io documenta l da humani dade .

Out ra fo rma de en t i dade fami l i a r con tempo rânea são as f amí l i as pa ra lel a s , D ias (2013) as conce i tua como aque las em que um dos côn juges (ge ra lmen te o homem) possui concomi tan temen te ou t ra en t i dade fami l i a r .A au to ra a f i rma t ambém, que não é p laus íve l negar ou desampara r j ud i c i a lmen te essa en t i dade f am i l i a r , sendo que es tas não vão desapa rece r da soc iedade , ao con t rá r i o , essas re lações es t ão p resen tes e con t i nuam a gera r e fe i t os j u r í d i c os , mesmo sem o r econhec imen to es ta ta l .

Para a lém desses núc leos v i s t os e d iscu t i d os há que se cons ide ra r uma nova fo rma de se re lac iona r em famí l i a :a famí l i a on - l i ne ou IFami l y ,Rosa (2013 ) a conce i tua como um grupo fami l i a r que se re laci ona a d i s tânc ia , u t i l i zando as fe r ramen tas t ecno lóg i cas, a f i rmando que “ v i venc iamos uma nova era da comun icação , novas fo rmas de re lac ionamentos ” . Em sín tese : é uma en t idade fami l i a r que pode ser “ exp ressa ou imp l i c i t amente prev is ta na leg is lação ” na qua l seus en tes não es tão j untos f i s i camen te e usam recu rsos tecno lóg i cos para man te rem os v íncu los fam i l i a res . De te r mina que a l ém daa fe t i v i d ade , es tab i l i dade e os tens ib i l i dade , deve ex i s t i r a von tade ; cons ide rando -a “ f undamenta l para a con f igu ração de ta l s i t uação enquan to agrupamento fami l i a r . ” (ROSA, 2013 , p . 101 ) .

Des ta fo rma , d i an te da ins t i t u i ção de novos pr inc íp ios no âmb i to do D i rei t o de Famí l i a Con temporâneo , e em consequênc ia , das novas en t i d ades fami l i a res ap resen tadas pe la d inâmica soc ia l , su rge en tão a indagação acer ca da poss ib i l i dade , ou não, do

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reconhec imen to da re lação suga r no o rdenamen to jur í d i co b ras i l e i ro como en t i dade fam i l i a r e sua equ iparação com o reg ime de un ião es tável , tendo em v i s t a os novos pa r ad igmas cons t ruí dos sob re o que é f amí l i a e qua l a sua função na soc iedade .

3.2.3 A união estável em vigor no Direito de Família Brasileiro

Como expos to e ana l i sado em momento an te r i o r des ta pesqu i sa , compreend ia -se , como famí l i a l eg í t ima , aque l a ins t i t u ída somente pe lo casamen to . Con tudo , a Const i t u i ção Federal de 1988 , po r te r como uma das suas ga ran t i as f undamen ta i s : a p ro teção da famí l i a passou a reconhece r e p ro tege r a Un ião Es táve l , ao p ro fe r i r no ar t i go 226 que: “ §3 º Para e fe i to da pro t eção do Estado, é reconhec ida a un ião es táve l en t re homem e mulhe r como ent i dade f am i l i a r [ . . . ]” . A lém de es t ar no tex to cons t i t uc iona l a un ião es táve l se encon t ra exp ressamen te p rev i s ta no Cód igo C iv i l de 2002 no a r t i go 1 .723ao p ro fer i r como requ i s i t os pa ra a un ião es táve l a : “ conv ivênc ia púb l i ca , con t ínua e duradoura e es tabe lec ida como ob je t i vo a c ons t i t u i ção de f amí l i a ” .

Con tudo , in fe re Venosa (2020 , p .43 ) que o conce i to da un ião es táve l é “ dúct i l e f lex íve l ” , não sendo , por tan to , cab íve l uma de f i n i ção po r le i ; a f i rmando des ta fo rma que a leg i s lação es tabe lece requi s i t os sub je t i v os que no r te iam essa conce i tuação . A con t i nu idadeé um pr ime i ro e l emen to que Venosa (2020) t raz para que ha ja o reconhec imen to da un ião es táve l , si gn i f i ca d i ze r que o re l ac ionamen to p rec i sa se r de fa to con t ínuo, não podendo have r i n te r rupções nessa re l ação .

Além da con t i nui dade , a re lação deve te r no tor i edade , quan to a essa ca rac ter í s t i ca Gonça l ves (2014) a f i r ma que a un ião não pode es ta r em si g i l o ou em segredo , sendo assim é necessá r io que e la se ja conhec ida no âmb i t o soc ia l , os companhe i ros devem ap resen ta r -se “ à co le t i v idade como se fossem mar ido e mulher (more uxó r i o) . “Re lações c landes t inas, desconhec idas da soc iedade , não cons t i t uem un ião es táve l . ” (GONÇALVES, 2014, p .626 )

Out ra ca rac te r í s t i ca con t i da em le i pa ra o reconhec imen to da un ião es táve l é a es tab i l i dade. Quan to a esse p razo , Lôbo (2020) exp lana que in i c ia lmen te a Le i n . 8 .971 /1994 es t i pu lava um mí n imo

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de c inco anos pa ra reconhece r a un ião , todav i a essa p rev i são fo i revogada e essa dec i são fo i man t i da no a tua l Cód igo C iv i l , não havendo ass im um per íodo es t i pu lado pa ra con f i gu ra r a uni ão es táve l

Ana l i sadaa : con t i nu idade , not o r i edade e es tab i l i dade ; é i nd i spensáve l ana l i sa r a inda o in tu i t u fami l i ae ( i n tu i t o de cons t i t u i r famíl i a ) . Esse é cons ide rado po r Far ias e Rosenva ld (2020 ) o p r i nci pa l e lemen to pa ra que ha ja o reconhec imen t o da un ião es táve l . Cons ide ram a inda , que não há poss ib i l i dade al guma de admi t i r uma re lação como un ião es táve l , ou se ja , consagrá - l a como uma en t i dade fami l i a r sem que esse núc l eo tenha a in t enção de es tabe lece r v íncu los fami l i a res .Fa r i as e Rosenva ld (2020) exp lanam a inda que o in tui t u fam i l i ae ser ve como e lemen to d i fe renc iado r en t re a un ião es táve l e um namoro p ro longado, po r exemp lo . Po i s , se t ra ta de um e lemen to sub je t i vo p resen t e na re l ação , é a int enção que o casa l possu i de vi ve r como se casados f ossem, é uma “ comunhão de v idas no sen t ido mater ial e ima te r ia l ” . (FARIAS; ROSENVALD, 2020 , p . 495)

Conce i tuado o i n tu i t u fam i l i ae , esc la rece D ias (2013) que de f a to é á rduo d i s t i ngu i r e de f i n i r ob je t i vament e quando a re l ação é um namoro ou un ião es táve l e i sso deco r r e de a lguns fat o res como a ce le r i dade com que os v íncu los a fe t i v os se mod i f i cam na soc iedade , se ja em deco r rênc i a de um ou out r o fa to r , consagra Dias (2013 ) que é indub i táve l que “ a un ião es táve l se in ic i a de um v íncu lo a fet i vo . O envo l vimen to mú tuo acaba t ransbo rdando o l im i t e do p r i vado , e as duas pessoas começam a se r iden t i f i c adas como um par . ” ( DIAS, 2013 , p .181) .

Somado a esses requ i s i t os ,N igr i (2020 ) esc larece que não é ob r i ga tó r i o a el abo ração de um con t ra to pa ra que um casa l conv i va em un ião es táve l , con tudo se op ta rem por f aze r es te deve se r reg i s t rado em ca r tó r i o med ian t e esc r i t u ra públ i ca que pode ser de dec la ração de un ião es tável ou de um con t ra to par t i cu la r .A esco lha pe la f o rma l i zação a t r avés de um con t ra to ga ran te uma maio r segu rança ju r íd i ca ao casa l , a f i rma N ig r i (2020) , e menc iona a inda que essa fo rma l i zação é pos i t i va porque permi t e a esco lha do reg i me de bens da un ião es táve l , v i s to que quando os companhe i ros opt am por não faze r a dec la ração de un ião es t áve l , ou se f i ze ram e ne la não es tá desc r i t o qua l é o reg ime esco l h ido , é des t i nado a r e lação o reg ime de comunhão par c i a l de bens .

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Con fo rme v i s to , o D i re i t o de Famí l i a Con temporâneo ap resen ta um per f i l p l u ra l e democrá t i co .Des ta f orma , d ian te da mutab i l i dade e dos novos pa rad igmas fami l i a res , há que se ana l i sa r se os e lemen tos cons t i t u t i vos da un i ão es táve l podem ser ap l i cados em um re lac ionamen to sugar , ref l e t i ndo ass im na poss ib i l i dade do reconhec imen t o dessa re lação como uma en t i dade f am i l i a r .

4 A RELAÇÃO SUGAR

É incon tes tável que as re lações con temporâneas são , em mui tos aspec tos, i n f l uenc iadas e a té in i c i adas a par t i r de uma i n te ração v i r t u a l . Ab reu ; E isens te in e Es te fenon (2013 ) apont am que as tecno log ias v i r t ua i s , como compu tado res , ce lu la res e o acesso ma is fáci l à in te rne t são fa to res que vem revo luc ionando a mane i ra com que as pessoas se comun icam, “ se soc ia l i zam, buscam, t rocam in fo rmações e adqu i r em conhec imen t o . ” . (E ISENSTEIN ; ESTEFENON, 2013, p . 20 )

É nes te un i ve rso v i r t ua l que se encon t ra a re l ação sugar , nome dado a um re l ac ionamen to f o rmado por uma Sugar Baby e Sugar Daddy . Pe re i ra (2019 ) in fe re que essa exp ressão da l íngua ing lesa t eve in í c i o na Ca l i f ó rn ia , no ano de 1908 , pa ra nomear o re l ac ionamen to en t re A lma de Bre t tev i l l e , de 27 anos, com Ado lphSprecke l s , de 51 anos , e com o deco r re r dos anos esse t e rmo passou a conce i t ua r jus tamen te a re lação de uma mu lhe r ma is nova com um homem mai s ve lho .

No Bras i l , esse re lac ionamen to é p ropo rc ionado a t ravés de um s i t e : Meu Pa t roc ín io ; o s i t e i n fo rma que o obj e t i vo do ap l i c a t i vo é fac i l i t a r o encon t ro de homens r i cos e l i ndas mu lhe res . O s i te Meu Pa t roc ín i o de f i ne a Suga r Babycomo uma mul he r jovem, boni t a , que se p reocupa com a aparênc ia e que est á em busca de uma re l ação com um homem ma is ve lho e bem suced ido que lhe p ropo rc ione uma v ida so f i s t i cada , com mimos como jo ias e roupas e uma rede de cont a tos de pessoas pode rosas . Para te r esse re t orno , as Suga r Bab iesdevem o fe rece r be leza e jov ia l i dade , expe r iênc ias l e ves e que t i r em o seu Suga r Daddy da ro t i na a lém de lhes p ropo rc iona r um re lac ionamen to sem es t resse . Enquan to o Sugar Daddy , conce i tua o s i te , é um homem generoso, “ con f ian te , bem-

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suced ido ” ep róspero que “ gost a de compar t i l ha r suas r iquezas , conhec imen tos e momentos com sua Sugar Baby ” (S i te Meu Pa t roc ín io , 2020 ) .

A re lação suga r é um exemp lo n í t i do das re lações con temporâneas , onde a l i be r dade de esco lha e o respe i t o à d ign idade do ind i v íduo são e lementos fundament a i s . Des ta fo r ma, pa ra ana l i sa r se esse re lac i onamen to pode se r cons ide rado como uma en t i dade f am i l i a r deve se r ana l i sada , p rev iamen te, as ca rac te r í s t i cas que l he são i n e ren tes .

4.1 Elementos presentes na relação sugar

O pr ime i ro fa t o rque conso l i da a re lação sugar es tá nas van tagens econômicas que o Sugar Daddy pode o fe rece r a Sugar Baby , sendo esse o fa to r mais a t raen te e chamat i vo nesse re l ac ionamen to . Pere i ra (2019 ) reconhece que casamen tos e uni ões es táve i s pau tadas no in te resse econômico sempre ex i s t i r am e sempre ex i s t i r ã o , a f i rma a inda queo s i s tema pa t r i a rca l , ana l i sado no in t ro i t o dest a pesqu i sa , in cen t i vou e ap rovou no decor re r dos anos re lac ionamen tos que t i nham como ob je t i vo somen teas van t agens econômicas . Também esc la rece que o p róp r i o casamen to é um me io con t ra tua l que regu la r i za , sobre tudo , o pa t r i môn io do casa l .

Somado a essa ca rac te r í s t i ca , os re lac ionamen tos sugarsão i den t i f i cados pe la t ranspa rênc ia . De aco rdo com o s i t e Meu Pa t roc ín io nesse re lac ionamen t o os in te resses de cada um são bem de f i n i do e i sso não é t ra tado de fo rma pe j o ra t i va . Não há ma l en tend idonessa re lação , a Sugar Baby fa la aber tamen te o que dese ja e o que pode o fe rece r na re lação , bem como o Sugar Daddy ; e todas essas i n fo rmações são a l i nhadas e sedimen tadas a t ravés de um aco rdo en t re as par tes . Não há que se fal a r em cu lpa ou em i n te resses ocul t os nessa r e lação . Segundo S imão (2017 ) ,a t r anspa rênc ia nas re lações suga r é um re f l exoda pós -modern idade ; o re fe r i do au tor cons ide ra a inda que o in te r esse não possu i nem uma cono tação nega t i va nem pos i t i va é a lgo que todos os i nd i v íduos possuem em toda e qua lque r re l ação.

Há que se consi de ra r também a poss ib i l i dade da a fe t i v i dade es ta r p resen te no re lac ionamen to sugar . É pos to c la ramen t e no s i t e o f i c i a l Meu Pa t roc ín io (2020 ) que os que es tão a l i não

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buscam compromet imen to ou um re lac ionamen to convenc iona l , con tudo mesmo com essa p remissa não há como a f i rmar que a re lação ent r e o Sugar Daddy e a Sugar Baby não possua v íncu los a fe t i vos . V ist o a p ro fund idade desse e lemen to e a sua in te r fe rênc ia nas re l ações i n te rpessoa i s pós -modernas , como ev idenc ia Cal de rón (2017 , p. 23 ) ao a f i rmar que é um re f l exo dessa modern i dade l íqu ida que a a fe t i v i dade tenha passado a assumi r um pape l re levan t e na soc iedade , tendo se d isseminado progress i vamente “ nos mais var iados re lac i onamentos . ” .

Out ra marca p resen te no re lac i onamen to sugar é a busca por novas expe r i ênci a s , po r um novo mode lo de se re lac iona r . Simão (2017 ) cons idera que o mode lo desenvo l v i do pa ra os casa is he te rossexua is e que fo i ap l i c ado “ pe las famíl i as homoafe t i v as de casamen to ou un ião es táve l é um mode lo decaden te e em f r anca mudança ” (S IMÃO, 2017 , sp) , consagra a inda que o sécu lo XXI abr iu margem para novas pe rcepções e ques t i onamen tos sobre os mode los de famí l i a já ins t i t u ídos que possuem pouca ou quase nenhuma

“ e f e t i v idade e a fe t i v idade ” .

Des ta fo rma , o re lac ionamento sugar su rge como um mode locon temporâneo de re lação e como in fe re Tar tuce (2017) “ os re lac ionamentos com açúcar podem gera r e fe i tos fami l ia res . ” , com i s so é necessá r i o a aná l i se dos e lemen tos que podem aprox imar ou d i s tanc ia r a rel a ção suga r da compreensão de en t i dade fami l i ar no Di re i t o Con tempo râneo B ras i l e i ro .

4.2 Aproximações e distanciamento entre a relação sugar e a união estável

Como compreendi do p re l im ina r mente há a lguns requ is i t os l ega i s que aux i l i am no reconhec imen to ou não da re lação como uma un ião es táve l . Traçado esses pa râme t ros se to rna possí ve l v i s l umbra r em qua i s aspec tos a re lação sugar se aprox ima ou não desse en tend imen to .

Groen inga (2017) a f i rma que ap róp r i a d i vu lgação fe i ta pe lo s i t e Meu Pa t rocí n i o , envo l ve casa i s se d i ve r t i ndo em púb l i co, em momen tos em que os do is es tão “ f e l i zes em s i tuações leves de j an ta res , v iagens e p resen t es , com a mul he r ves t i da como p r i ncesa ” . Par t i ndo desse aspec to da re lação sugar é

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poss í ve l susc i t a r que a pa r t i r de a lgum momen to nessa re lação a conv i vênc ia públ i ca passe a ser uma carac te r í s t i ca , dando margem a uma aprox imação com a un i ão es táve l . Poi s , como esc larece Sca lque t te (2020 ) a pub l i c i dade ou no to r i edade , ca rac te r i z adora da un ião es tável , cons i s te na na tu ra l i dade da un ião , ou se ja, no compor tamen to em púb l i co como se fossem de fa t o um casa l .

Quan to a se r con t ínua e du radoura (e lemen tos ca rac te r i zado res da un ião es t áve l ) é poss íve l ou não que essas ca rac te r í s t i cas venham a se r i den t i f i cadas em uma re lação sugar . Po is , como fundamen ta Pamp lona e Gag l i ano Fi l ho (2016 , p . 432 ) t an to a con t i nu idade quan t o se r du radoura são e lemen tos ana l i sados no caso conc re t o , que pe rm i t em d i fe renc ia r , po r exemp lo : um l ongo namoro que não possu i o “ an imus de permanênc ia ” da un ião es táve l . In fe rem a inda que a even tua l i dade não é compa t í v e l com a un ião es táve l , es t a re lação p ressupõe

“ c onv i vênc ia con t ínua ” pa ra que se possa produz i r e f e i tos j u r í d i cos .

O re lac ionament o suga r não possu i como premissa que a re l ação não se j a con t ínua , ao con t rá r i o , em depo imen tos con t i dos no s i t e o f i c i a l Meu Pa t roc ín io há re la tos de Sugar Bab ies que já possuem meses de re lac ionamen t o com seu Sugar Daddy , onde es tes a rcam com o pagamen to da facu ldade e do a l ugue l , po r exemplo , como fo rma de ca r i nho com a sua Sugar Baby . Com isso , os e lemen tos , o ra menc ionados , que ca rac te r i zam a un ião es táve l não se a fas tam po r comp le to de um re l ac ionamen to suga r .

Con tudo , a in t enção de cons t i t u i r famí l i a ou o an imus f am i l i ae é o e lemen to que ma i s se d is tanci a da l i nha de um re l ac ionamen to suga r .Quan to a esse e lemento Azevedo (2018) cons ide ra se r o ma io r fundament o da un ião es t áve l , nesse sent i do Monte i ro e S i l v a (2016) a f i rmam que uma re lação somen te com um ca rá te r a fe t i vo ou re lações sexua i s mesmo que du radouras , por exemp lo , não podem ser compreend idas como uma un ião es táve l ; “ a un ião es táve l , que é man i f es tação apa ren te de casamen to , ca rac te r i za -se pe la comunhão de v idas en t re duas pessoas ” (MONTEIRO; S ILVA, 2016 , p .70) . Com essa percepção a re l ação suga r , que ga ran te um re lac ionamen to leve , com t ranspa rênc ia, sem j ogu inhos e que foge do idea l de re lac ionamen tos comuns não coaduna com o an imus fam i l i ae i ne ren te a un ião es táve l .

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Des ta fo rma a assoc iação ent r e o re lac ionamen to suga r e a lguns aspec tos ev idenc iados na un ião est áve l não pode se r a fas tada po r comp le to . E po r se r essa re lação um re f l exo dos t empos modernos , com novos p r i nc íp ios i ns t i t u ídos e novas concepções ace r ca da famí l i a , e como consag ra Tar tuce (2017) por se r o D i re i t o de Famíl i a “mu t áve l por na tu reza , pe las cons t antes mudanças dos cos tumes e do modo de v ida das pessoas ” é possí ve l , po r tan to , a re f l exão ace rca da poss ib i l i dade ou não do reconhec imen to da re lação sugar como en t i dade f am i l i a r .

4.3 Da possibilidade de reconhecimento, ou não, da relação sugar como entidade familiar

A par t i r dos p r i nc íp i os cons t i t uc iona i s do D i re i t o de Famí l i a Con tempo râneo , da conce i tuação da re l ação sugar , da un ião es táve l e dos seus e lemen tos , e da compreensão da p lu ra l i dade das en t i dades fam i l i a res con temporâneas é poss ível cons ide ra r que o reconhec imen to da re lação sugar como en t idade fami l i a r é s im uma poss ib i l i dade nos tempos a tua i s .

Tendo em v i s ta , in i c i a lmen te , a conso l i dação no D i re i t o de Famí l i a de p r i nc íp ios cons t i t uc iona i s , como oda d ign idade da pessoa humana que a l te rou não só esse campo espec í f i co do Di re i t o , mas todos os pa rad igmas que a té en tão es tavam presen tes na soc iedade e na leg i s l ação . Con fo rme , co r robo ra Sar l e t (2012 )esse p r i n c íp ioé ine ren te da “ p róp r ia cond ição humana, a d ign idade pode (e deve ) se r reconhec ida , respe i tada , p romov i da e pro teg ida ” (SARLET, 2012 , p . 45) , sendo assim , descons ider ar e marg ina l i za r a re l ação suga r r e f l e t i r i a numa exc lusão do própr io i nd i v íduo e da sua esco lha , o que i r i a de encon t ro com ta l p r i nc íp i o .

Também háque se cons ide ra r o p r i nc íp i o da a f e t i v i dade para essa a rgumen tação . Como a f i rma Ca lde rón (2017 , p .162) é i ndub i táve l que a famí l i a con t emporânea é regi da “ pe lo parad igma da a fe t i v idade” e com isso o conce i to de f amí l i a fo i rev is to passando a te r uma de f i n i ção p lu ra l pa ra abarca r as re l ações con temporâneas , que ho je , são en tend i das como en t i dades f am i l i a res . Des ta fo rma , po r ma is que os envo l v id os no re l ac ionamen to suga r não possuam o in tu i t o de cons t i t u i r uma

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f amí l i a não há como es tabe lecer p rev iamen te que ambos não possam cons t ru i r na r e lação laços de a fe t i v i dade que possam v i r a sus ten ta r uma poss íve l equ ipa r ação a un ião est áve l , po r exemp lo .

Somado a i s to, ou t ro fundamento que pode aux i l i a r no poss í ve l en tendimen to da re lação suga r como uma en t i dade fami l i a r é a ide ia de p lu ra l i dade i n se r i da no ordenamen to ju r í d i co con temporâneo .Quan to a essa nova concepção Alme ida e Rodri gues J r . (2012 ) conso l i dam que a famí l i a é fundada no a fe to e o af e to pode se ap resent a r de d i fe ren t es fo rmas , sendo ass im não pode se res t r i ng i r a f amí l i a à uma es t ru tu ra ou à uma “ o r i gem s ingu la r ” .Com i sso , ho je “ não cabe mais fa l ar em famí l i a ún ica . A famí l i a con temporânea compreende uma p lu ra l i dade de f o rmações . ” . (ALMEIDA; RODRIGUES JR. , 2012 , p. 44 )

Disco r r i do a lguns dos fundamen t os que podem vi ab i l i za r esse poss í ve l reconhec imen to da re l ação suga r , é necessá r i o , po r f im , ev idenc ia r a necess idade da p resença da boa - f é no re lac ionamen to en t re o Sugar Daddy e a Sugar Baby . Como sa l i en ta Pere i ra (2019) é poss í ve l que se o r i g i nem das re lações de a f e to “ consequênc ias pa t r imon ia i s , o impor tan te é que as pessoas se jam l i v res para es tabe lecê -las . ” (PEREIRA, 2019) . A inda sobre o re lac ionamento suga r e seu poss í ve l reconhecimen to ,o re fe r i do au to r a f i rma que não é e r rôneo i n i c i a r um re l ac ionamen to de i xando os in te r esses c la ros e em ev idênc ia , esc reve: “ o amor pode nascer desses i n te resses . Cada um dá o que t em, e o que se quer do ou t ro pode ser exa tamente o que não se tem ” (PEREIRA, 2019) . Por f im , ev idenc ia que o que não pode have r nessa re l ação amorosa ,e que pode se t ransf o rmar em uma re lação con j uga l é o “ engodo, enganação” , po i s i sso poder ia carac te r i za r um go lpe do baú .

Dian te o expos t o , a re lação suga r vem comprovar a soc iedade p lu ra l e d inâmica que se tem a tua lment e , ev idenc iando a ce le r i dade e a mutab i l i dade das re lações a fe t i vas con temporâneas . Quan to a essas re lações cé leres Bauman (2012) esc reve que: “ os hab i tan tes des t e l íqu ido mundo moderno [ . . . ] de tes ta tudo o que é só l ido e duráve l , tudo que não se a jus ta ao uso ins tan tâneo ” (BAUMAN, 2012 , p .33 ) , sendo ass im essas novas fo rmas de se re l ac iona r se rão cada vez ma i s comuns e como esc la rece Pere i ra (2016 ) cabe rá a soc iedade aprende r a ag i r d ian te dessa nova rea l i dade onde v íncu los amorosos , c ibe respaço, o on - l i ne e o o f f - l i ne se en t re la çam.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dian te dos a rgumentos ap resen t ados é poss íve l a f i rmar que a pa r t i r das evo luções soci a i s , p r i nc ipi o l óg i cas , com a cons t i t uc i ona l i zação do D i re i t o de Famí l i a abarcando assim os p r i nc íp i os const i t uc i ona i s , como o da d ign idade da pessoa humana , a Famí l i a passou a se r um si nôn imo de p lura l i dade , equ idade e a fe t i v i dade vo l t ada pa ra o c resc imen to e rea l i zação do i nd i v í duo .

Com essa nova concepção ace rca da famí l i a e os pr inc íp ios vo l t ados pa ra a p ro teção e ga ran t i a do bem es ta r do ind i v íduo houve uma amp l i a ção das en t i dades fami l i a res reconhec idas pe lo Es tado , com isso novas fo rmas de se re lac ionar e do que é es ta r em famí l i a ganha ram espaço na soc iedade moderna . Concomi tan tement e com esses novos pa rad igmas , as re lações não t r ad i c i ona i s foram ganhando vi s i b i l i dade , no caso em aná l i se a re l ação suga r .

O presen te a r t i go buscou ana l i sa r , por tan to , as ca rac te r í s t i cas s ingu la res do re lac ionamen to sugar e se es ta re l ação poder i a reconhec ida como uma en t i dade fami l i a r . Tendo como pressupos t o todo o ro l dos p r i nc íp i os cons t i t uc iona i s e do Di re i t o de Famí l i a , bem como a p róp r i a conce i t uação da f amí l i a con temporânea pa ra e luc ida r es se ques t i onament o .

Com isso , e u t i l i zando como f undamen tação o pr inc íp io da a fe t i v i dade , da d ign idade da pessoa humana e da boa - fé ob je t i va e a lguns requ i s i t os da un ião es t áve l é poss íve l susc i ta r que sim , o re l ac ionamen to suga rpode v i r a se r reconhec ido como uma en t i dade f am i l i a r con temporânea . Tendo em v is ta que não cabe ao Es tado nem as no rmas a té en tão em v i go r , d i s tanc iar ou censu ra r um re l ac ionamen to a fe t i vo , como o que oco r re en t re o Sugar Daddy e a Sugar Baby .

Sa l i en ta -se também que essa aná l i se co r robo ra pa ra assegu ra r e rea f i rmar o quão é impresc ind íve l a cons t rução de um Di re i t o de Famí l i a cada vez ma is vo l t ado pa ra a pro teção da d ign idade do i nd i v íduo e que aba rque cada vez ma is a a fe t i v idade como e lemento f o rmador das rel a ções fam i l i a r es .

Por f im , conc lu i - se en tão que não é imposs íve l o reconhec imen to da re lação suga r no o rdenamen to jur í d i co

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b ras i l e i ro como uma en t i dade fami l i a r , com fu l c ro nas novas acepções no D i re i t o de Famí l i a Con temporâneo e nos p r inc í p ios consag rados pe l a Cons t i t u i ção Federa l .

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