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A teoria da regulação e o novo estado social de Alain Lipietz – é possível manter o parco espaço de humanização sob o capitalismo global?

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Academic year: 2018

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EDUCAÇÃOhgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E M D E B A T EzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Enéas Arrais -eO·NMLKJIHGFEDCBA

A t e o r i a d a r e g u l a ç ã o

e o n o v o

e s t a d o

s o c i a l d e A l a i n L i p i e t z

- é

p o s s í v e l

m a n t e r o p a r c o

e s p a ç o

d e h u m a n i z a ç ã o

s o b o

c a p i t a l i s m o

g l o b a l ?

R e s u m ocbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E s t e a r t ig o a n a lis a c r it ic a m e n t e a o b r a de A 1 a in L ip ie t z (1993): T o w a r d s a n e w e c o n o m ic o r d e r , um t r a b a lh o dep r o f u n d id a d e q u e b u s c a ac o m p r e e n s ã o dan a t u r e z a dap r e s e n t e c r is e s o c ia l q u e s e d e s e n -r o la aolo n g o d o s ú lt im o s t r in t a a n o s n o m u n d o . O t e x t o v a lo r iz a ac o n t r ib u iç ã o de L ip ie t z p a r a oe s t u d o da n a t u r e z a d a s t r a n s f o r m a ç õ e s s o c ia is , o b s e r v a n d o s u a s r a iz e s n o m u n d o dap r o d u ç ã o , s o b af o r m a de c r is e doM o d o de R e g u ia ç ã o S o c ia l ( M R S ) F o r d is t a , ea p r e s e n t a n d o s u a s s u g e s t õ e s s e m p r e c o m u m a c o n o t a ç ã o b a s t a n t e c r í t ic a ea c u r a d a . A " p ie c e de f o r c e " de s u a a n á lis e s e s it u a na s ó lid a e s t r u t u r a ç ã o e c o n ô m ic a de

s e u p e n s a m e n t o en a g r a n d e c o m p le x id a d e d o s c e n á r io s s o c ia is c o m o s q u a is lid a . C o n s id e r a - s e q u e L ip ie t z ,

s it u a - s e e n t r e as m a io r e s c o n t r ib u iç õ e s p a r a oc a m p o dom a t e r ia lis m o h is t ó r ic o . P o r o u t r o la d o , ot e x t o t e c e ac r í t ic a à s lim it a ç õ e s p a t e n t e s de s e u p e n s a m e n t o , p e la f a lt a de c o n s id e r a ç ã o das c a t e g o r ia s da t o t a lid a d e

eda c o n t r a d iç ã o , p e lo e u r o c e n t r is m o a r r a ig a d o ems u a c o n s id e r a ç ã o da v a lid a d e do M R S F o r d is t a , ep e la p e r s p e c t iv a v o 1 u n t a r is t a c o m o s u g e r e a e s t r u t u r a ç ã o de um n o v o p a c t o s o c ia l- d e m o c r a t a p a r a o E s t a d o . O t e x t o , p o r f im , t e c e c o n s id e r a ç õ e s s o b r e op a p e l da e d u c a ç ã o n a c o n s t it u iç ã o d o s m o v im e n t o s s o c ia is t r a n s

-f o r m a d o r e s .

P a la v r a s - C h a v e : f o r d is m o , m o d o de r e g u la ç ã o s o c ia l, g lo b a liz a ç ã o c a p it a lis t a , m a t e r ia lis m o h is t ó r ic o , p r o

-c e s s o e d u -c a t iv o .

A b s t r a c t

T h e r e g u l a t i o n t h e o r y a n d A l a n L i p i e t z ' s n e w s o c i a l s t a t e . I s i t p o s s i b l e t o m a i n t a i n t h e e x i g u o u s s p a c e f o r h u m a n i z a t i o n i n t h e g l o b a l c a p i t a l i s m ?

T h is p a p e r d e v e lo p s a c r it iq u e ofA 1 a in L ip ie t z w o r k u p o n h is b o o k "Towards a new Economic Order ",R is ideas are u n d e r s t o o d a s a d e e p and c o m p r e h e n s iv e s t u d y a b o u t t h e s o c ia l crisis of t h e la t e t h ir t y y e a r s . T h e c o n t r ib u t io n ofL ip ie t z is s h o w n in it s im p o r t a n c e f o r t h e a n a ly s is oft h e e m b e d n e s s of

t h e s o c ia l a n d p o 1 it ic a 1 c r is is in it s 1 in k s w it h t h e e c o n o m ic s t r u c t u r e , o r g a n iz e d u n d e r R e g u 1 a t io n P a c t s

( M S R ) . L ip ie t z is c o n s id e r e d a m a jo r s o c ia l s c ie n t is t in t h e area ofh is t o r ic a 1 m a t e r ia 1 is m . O n t h e o t h e r

h a n d , t h e a r t ic 1 e e x p o s e s s o m e c o n s id e r a t io n s o n t h e 1 im it s ofL ip ie t z 's w o r k , main1yh is m is u s e of t h e

c a t e g o r ie s ott o t a lit y and c o n t r a d ic t io n , t h e E u r o c e n t r ic c h a r a c t e r ofh is t h o u g h t , and t h e v o 1 u n t a r y m a n -n e r of t h e s u g g e s t io n of t h e n e w s o c ia l- d e m o c r a t ic S t a t e . F in a lly , t h e p a p e r c o n s id e r s t h e h o 1 eofe d u c a -tioti in t h e c o n s t it u t io n ofs o c ia l r e v o 1 u t io n a r y m o v e m e n t s .

Key w o r d s : f o r d is m , m o d e ot s o c ia l r e g u 1 a t io n , g lo b a 1 iz a t io n , c a p it a 1 is m , h is t o r ic a 1 mat e r ia 1 is m ,

e d u c a t io n .

1D o u to r e m E d u c a ç ã o p e la U F C P ro fe s s o r d o D e p a rta m e n to d e E s tu d o s E s p e c ia liz a d o s d a F a c u ld a d e d e E d u c a ç ã o d a U F C ; C o o rd e n a d o r d o L A B O R (L a b o ra o n o d e E s u d o s d o T ra b a lh o e Q u a lific a ç ã o P ro ü s s io n a l d a F A C E D -U F C .

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o

livro de Alain Lipietz (1993):cbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAT o w a r d s a n e w e c o n o m ic o r d e r , é um trabalho que avança

com profundidade na análise das mudanças de paradigmas sociais e na compreensão da natu-reza da presente crise social que se desenrola ao ongo dos últimos vinte a trinta anos no mundo. :'lpietz analisa as raízes e a natureza das

trans--: rmações globais observando suas raízes no

:::undo da produção, sob a forma de crise do _:odo de Regulação Social (MRS)Fordista, con-templando as soluções econômicas e políticas presentadas sob a perspectiva do neoliberalis-_o e tecendo suas sugestões sempre com uma conctaçáo bastante crítica e acurada.

A "piece de force" de sua análise se situa

na sólida estruturação econômica exposta em

-eu texto e na grande complexidade dos

cená-nos sociais com os quais lida. Indubitavelmente,hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

:=: a despeito da evidente importância teórica,

. litica e social das propostas de vários auto-res europeus que atualmente são referência nos estudos sociais e econômicos (GORZ, SCHAFF,

FFE, KURZ,JESSOP, LANE, De MASI, BONE-?ELD, HOLLOWAY,entre outros), a análise de • pietz, situa-se entre as de maior contribuição para o campo do materialismo histórico, conside-rando a complexidade de forças e instituições en-olvidas nos processos históricos, mesmo que a case de sua análise seja centrada na perspectiva

o regulacionismo nacional.

Reconhecer os elementos de limitação de ua análise, não significa desconhecer o bom embasamento teórico-analítico de Lipietz. Sua lei-tura econômica, que é sua perspectiva assumida

e trabalho, se faz no campo da Teoria Regula-ionista, surgida como tentativa de compreensão do enraizamento social do capitalismo, desenvol-VIda a partir da análise do estabelecimento do .ordismo como Modo de Regulação Social (MRS) prevalecente nas economias capitalistas centrais da Europa e Estados Unidos. A raiz marxista esta teoria é bastante visível em seu compro-misso com a idéia de progresso social, mais do que com a produtividade do capital. Esta raiz se apresenta, em Lipietz, já bastante diluída pela

necessidade de concessões políticas a grupos

não marxistas e anti-marxistas da "nova

es-querda" francesa.

A fragilidade da análise, centrada numa crítica do neoliberalismo se situa no fato de que, contraditoriamente, aceita a manutenção das re-ações capitalistas de produção como centro do

processo social. De fato, mistura uma socioeconômica com propostas SOClaIS,

e econômicas que tentam solucionar as

.:l-Ta-dições da produção capitalista e suas cnses pe ~

recurso à boa-vontade e ao humanitarismo

so-cial, deixando intocado o cerne das relações que estabelecem o capital como centro gravitacional da dinâmica social.

O aspecto mais importante do trabalho de Lipietz é sua análise socioeconômica da crise que, nos últimos trinta anos, põe em xeque o MRS Fordista. Iniciando com a descrição do "compro-misso" fordista, o autor enfatiza a batalha entre os diversos paradigmas regulacionistas que com-petiram pela hegemonia nas sociedades ociden-tais: o estalinismo, o fascismo e o fordismo. A pri-mazia do último é considerada por Lipietz como derivada de uma conjunção de fatores sociais e históricos e da luta de classes, numa espécie de "acaso histórico". Esta perspectiva se demons-tra mais complexa que os enfoques lineares que entendem um modo de produção como o desen-volvimento direto e necessário de tendências es-truturais econômicas sem considerar a atuação política e as pressões sociais de grupos e classes em conflito.

Um exemplo da complexidade assumida por sua análise pode ser encontrado na compre-ensão do caráter unificado da produção capitalis-ta na sociedade. Lipietz desconsidera a distinção do senso-comum entre empresas privadas e esta-tais, focando para além disso no processo comum de reprodução do capital sob uma determinada

forma de organização de trabalho: "Além do

mais, nacionalização no sentido legal não implica numa mudança das relações sociais. Os trabalha-dores da Renault perceberam isto desde o começo: tanto sob empregador público como privado, o Taylorismo prevaleceu" (LIPIETZ,1993, p. 7).

Considera-se, em sua análise, a

comple-xidade do paradigma societário: "Paradigma,

desta forma, traz consigo a idéia de um 'núcleo comum' que aceita variações, mas dentro de determinados limites" (ídem: p. 11), ao lado da ênfase sobre a constituição conflituosa das

situ-ações históricas: "Outro grande engano é

pen-sar que a rede de elementos regulacionistas foi

instituída c o m a in t e n ç ã o de fazer o fordismo

funcionar, apesar de que numa visãoàp o s t e r io r i,

eu tenha apresentado como se assim fosse. E n

-tretanto, os acordos coletivos e a seguridade s

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-pelos trabalhadores, conquistado pelo derrame de sangue em Adalen na Suécia, as batalhas da nova confederação sindical CI02 sob Roosevelt, o sangue de lutadores da resistência francesa e italiana, ou a tenacidade da classe trabalhadora britânica sob a Blitz" (Idem: p. 7-8).Por fim, queda identificada, pelo autor, a base "enxuta" do MRS Fordista que se torna hegemônico desde a Segun-da Guerra Mundial:

• Organização da produção fica melhor restrita aos grupos dominantes (empregadores, tecnocratas), pela extensão do modelo industrial Taylorista, que nega aos meros "operativos" qualquer envolvimento intelectual no processo de trabalho;

• Assalariados e, em verdade, toda a popu-lação, no curso normal das coisas, terão o retor-no dos ganhos de produtividade através de um conjunto de formas de regulação legislativa ou contratual, de tal forma que, com o crescimento do poder de compra pela maior produtividade, o pleno emprego fica virtualmente assegurado;

• As pessoas deverão receber isto direta-mento através dos salários ou através do estado

de serviços e seguridade públicoscbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA( w e lf a r e s t a t e ) ; mas em qualquer caso na forma de dinheiro,

dan-do acesso a bens e produtos comercializadan-dos; • Pleno emprego e o avanço no consumo de massa são os objetivos do progresso técnico e do crescimento econômico, e o papel do estado é assegurar que estes pontos sejam atingidos" (idem: p. 11).

A crise do MRSFordista é percebida como vinda "de todos os lados ao mesmo tempo", com expressão tanto no plano "menor" de conflitos e revolta contra a impessoalidade e insatisfação

com o trabalho, que levaram à produtividade

decrescente nas economias centrais do mundo capitalista, quanto no âmbito da internacionali-zação de mercados e da produção, que desman-telaram o modelo regulacionista estabelecido a partir de "pactos" nacionais. O terceiro lado da crise, na análise de Lipietz,se constituiu-se na rup-tura da estrurup-tura estatal de seguridade social, a fa-lência do Estado do bem-estar social, para o que o autor aponta a resistência contra" a onipotência da hierarquia" e "reservas acerca da solidariedade 'ad-ministrativa'" comoa motivaçãodas mudanças.

Este último ponto, diferentemente dos an-teriores, que derivam de uma sólida análise

eco-nômica e social, demonstra o equívoco em que se incorre ao desconsiderar os interesses da classe capitalista na privatização dos setores públicos e estatais. A incorporação destes espaços da pro-dução social pela dinâmica do capital privado, sob a forma de novos nichos de lucratividade e expansão, é determinante para todo o esforço de constituição de uma cultura hegemônica priva-tista, anti-estatizante e contrária aos serviços e instituições públicas.

A parte mais provocativa e interessante de seu livro, no entanto, é a exposição de suas su-gestões sobre como lidar com a crise, iniciando com uma profunda crença na constituição polí-tica e amplitude social de qualquer solução efi-caz, ao lado de seu caráter radical: "A questão de soluções para a crise é fundamentalmente uma

questão política, como o foi nos anoshgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA3 0 .

Entre-tanto, já não é mais uma questão de escolher a política econômica correta alinhada com regras básicas existentes, mas é uma questão de es-tabelecimento de novas regras - novos princí-pios para o processo de trabalho, novas normas e novas formas de regulação. Nós precisamos concordar em torno de novas propostas e novos projetos; precisamos inventar um novo 'grande compromisso" (1993, p.2 4 ).

Karl Marx considerava que um modo de produção social alternativo (socialismo, em seu caso) deveria ser desenvolvido nos países domi-nantes, para que conseguisse ter sucesso e esta-belecer uma base que lhe permitisse se expandir globalmente. Seguindo a mesma compreensão, Lipietz defende a idéia de que, para ser eficiente dentro do mercado mundial e da natureza inter-nacionalizada da produção, o novo modo de re-gulação social deverá ser desenvolvido: "(...) sob a influência de um ou mais países dominantes. Esta hegemonia precisará estar 'revestida' de coerção (para usar o termo grarnsciano), de for-ma que a potência líder do mundo também aja como polícia mundial" , ou "através de um acordo unânime, e desta forma, negociado, da maioria dos países" (ídem: p.2 7 ); e firma-se na segunda opção, reconhecendo entretanto a enorme com-plexidade daquele encaminhamento.

Lipietz critica o liberal-produtivismo, ana-lisando algumas das implicações sociais das po-líticas liberais de desmantelamento da

solidarie-dade societária, levandoàampliação da dicotomia

2CIO - Congress for Industrial Orgamzation é uma das centrais s ín d tc a is dos E U ANMLKJIHGFEDCBA

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social da distribuição de renda entre as classes, e à exclusão social pura e simples. Neste aspec-to particular, desenvolve urna crítica com grande autoridade, recorrendo a dados empíricos e indo além da mera aparência dos fatos e da superfície dos processos, corno na descrição de corno a alta tecnologia foi utilizada pelo capital visando a re-cuperar o controle sobre o processo de trabalho:

"Por que a tecnologia da informação foi utilizada desta maneira em vez de outras? Basicamente por razões políticas - a política da linha de pro-dução e do escritório. (...) O objetivo era resta-belecer a autoridade gerencial" (id. ibid: p. 38). Ele se mostra capaz, no entanto, de perceber as possibilidades contraditórias de re-incorporação do trabalho manual e intelectual, se algumas ten-dências específicas da organização do trabalho e do enraizamento social dos novos processos forem escolhidos e promovidos: "Em outras pa-lavras, há sinais nos dias e na época presente, de que podemos revolver a antiga tendência do ca-pitalismo, levada à culminância pelo Taylorismo. de separar os aspectos manuais do trabalho de seus aspectos intelectuais" (ídem: p. 39).

Da mesma forma, são percebidas contra-dições dentro dos modelos mais avançados de organização do trabalho, corno toyotismo, kal-marianismo, e o modelo de organização centra-do em pequenas firmas e terceirização. O autor distingue entre o que é socialmente progressista e realmente democrático dentro destes modelos gerenciais e organizacionais, e há elementos im-portantes que trazem melhorias para as condi-ções de trabalho e produção, ao lado de estabele-cer a crítica da manutenção do fordismo, quando este aparece em variados graus de conjunção com aqueles procedimentos organizacionais

ino-vadores. De maneira mais geral, Lipietz criticahgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAõ

paradigma do que ficou conhecido corno especia-lização flexível, denunciando-o corno aprofunda-mento da perspectiva capitalista da exploração do trabalho pela combinação e articulação de for-mas diversas de organização da produção visando o incremento da produtividade.

A análise da organização da produção, desenvolvida por Lipietz, aceita implicitamente a centralidade do trabalho humano na esfera da produção e na sociedade corno um todo, estabe-lecendo, ao mesmo tempo, a pedra angular de suas propostas e sugestões para políticas econô-micas e sociais. Estas propostas estão centradas na idéia de democracia e autonomia no local de

trabalho, expandindo-se gradativameme ~ a

sociedade corno um todo. Fica igualmente deter-minado, desta vez de forma explícita, o limite era que se aproxima e a fronteira que o separa da idéia de revoluções sociais: "Entretanto, corno um 'novo modelo' apresentado corno avanço, o compromisso social alternativo é herdeiro do li-beralismo do século dezoito e do radicalismo, socialismo e comunismo do século dezenove. (...) E neste sentido ( o sentido histórico), o com-promisso alternativo é urna 'nova esquerda'. De-vido a isto ele enfrenta problemas equivalentes àqueles enfrentados pelo socialismo e pelo comu-nismo durante a Terceira República Francesa". E continuando a explicar o caráter progressista e progressivode sua solução,o autor acrescenta: "Cla-ramente, qualquer aspecto novo, se ele emergir, será meramente um novo compromisso com a tendência inerente do sistema para evitar as ar-madilhas do liberal-produtivismo. A alternativa real no início do século vinte e um será me-ramente um reflexo, mas um reflexo real, dos sonhos, dos sonhos que a humanidade precisa conhecer antes de poder sonhá-tos plenamente" (Idem: p. 62-63).

O desenvolvimento das contradições do capitalismo, para que um novo modo de produ-ção surja "por dentro" das relações engendradas pelo capital, tem sido um aspecto negligencia-do pela esquerda tradicional ortonegligencia-doxa, tanto na academia quanto nos partidos políticos. A idéia de que a "revolução" construiria um mundo completamente novo, com relações sociais

ab-solutamente inovadoras (que não necessitaría

se desenvolver a partir de formas prefiguradas), prevaleceu de maneira quase que completa, sem deixar espaço para a compreensão que se baseia na idéia de transformações proçressivas e

suces-sivas, aceita como possível por arx.

De fato, o novo sis ema social sugerído por Lipietz, desenvolvendo-se a partir das contradi-ções do sistema anterior, pode ser considerado uma idéia plenamente marxista e dialética. Mais dialética, por exemplo, do que a compreensão de que as transformações econômicas e sociais possam ser engendradas a partir de idéias trans-plantadas de fora da realidade social, a partir, por exemplo, da ação de partidos vanguardistas. Sua idéia do efeito educativo da autonomia, democra-cia e participação no ambiente de trabalho sobre os trabalhadores, na prática da liderança social, é inegavelmente sensata.NMLKJIHGFEDCBA

4 3

(5)

o

equívoco de Lipietz encontra-se clara-mente exposto aqui e ali, dentro do texto: "En-tretanto, será apenas um passo, e somente um compromisso. Seria totalmente errado falar de

auto gestão , poder dos trabalhadores ou

demo-cracia operária. Por décadas, talvez séculos, ain-da por vir (Gorz diz" para sempre", mas eu penso

que isto é ir longe demaishgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI), o processo de tra-balho social tornará a forma de relações de

mer-cadorias entre firmas cuia administração (mesmo aquelas no setor estatal, ou aquelas dirigidas por trabalhadores) tornará decisões na base de mer-cados e previsão de lucro (...) Neste sentido, os trabalhadores estarão duplamente alienados de sua atividade - eles produzirão para o mercado, sob a direção da gerência. A associação livre das

comunidades, sistematicamente discutindo o

que é necessário produzir para elas próprias e precisamente corno, permanecerá para sempre um sonho utópico" (idem: p. 68). A sugestão de mudar a sociedade enquanto se mantém o nú-cleo das relações do capital, isto é, alienação e

reificação dos trabalhadores e mercantilização

das relações globais da sociedade (tanto faz

se sob a forma de direção privada ou estatal),

com a proeminência do trabalho abstrato

so-bre o trabalho concreto, é a falha fundamental de sua teoria.

A manutenção destas relações onde o va-lor de troca é preponderante sobre o vava-lor de uso somente faz sentido para a reprodução do capital e para a manutenção de seu controle sobre a pro-dução social, e significa que o dinheiro, a forma fetichizada do capital, continuará a regular todas as transações, relações sociais e valores huma-nos. Este equívoco básico se reflete sobre toda a proposta e compromete a análise de Lipietz. Não obstante, declarar-se que é impossível fazer avançar reformas sociais sem atacar a base de seus problemas é diferente de dizer que é impos-sível tentar e, temporariamente, atingir urna es-pécie de "coexistência". A Teoria da Regulação é urna tentativa de compreender estes" acordos" sociais temporários, ou "arranjos" sociais que fo-ram bem-sucedidos em conferir urna sobrevida ao sistema capitalista.

A sobrevivência de um modo de regula-ção social, entretanto, é sempre temporária, por causa de sua precariedade intrínseca, pela forma

como intenta "abafar" as contradições

essen-do sistema capitalista e sua conseqüente

.S:; íêr ela permanente para a crise. Além dessa

constatação derivada da análise da reprodução ampliada do capital, que leva ao permanente aprofundamento da exploração do capital sobre o trabalho, os processos históricos têm ensinado que qualquer tentativa de transformar a socieda-de, estabelecendo novas relações de produção, deve construir mecanismos e práticas de controle social autônomo e democrático sobre a produção

visando clara e objetivamente à destruição das

relações de produção capitalistas, ou têm visto seus encaminhamentos e resoluções serem pau-latinamente devorados pelo" deus" capital e seu sacerdote "mercado" corno sentido maior e de-finitivo da produção social, corno aconteceu no Leste Europeu.

De fato, no embate de dois modelos de or-ganização social dialeticamente opostos, aquele que se apresentar corno dominante ou hegemô-nico é o que prevalece. A tarefa de transformar a sociedade deverá perseguir claramente e desde

o início o desenvolvimento de práticas

antíca-pitalistas, estabelecendo urna oposição determi-nada contra a regra do capital, tanto reforçando as práticas de resistência quanto elaborando no-vas práticas e processos produtivos e sociais, em geral, centrados na produção de valor de uso, au-tonomia e autogestão dos coletivos de produção.

É claro que tal dinâmica necessita de um

permanente componente de força de vontade so-cial, vontade política - subjetividade, sob a forma

de solidariedade social, que se imponha à

objeti-vidade do caráter primitivo e bestial da cornpe-titividade individual que também existe no ser humano. Esta permanente tensão dialética de-mandará novas formas de compromisso social, mais altos níveis de educação para a solidarie-dade que estejam ancorados em práticas sociais diferenciadas, reforçando-as e criando novas res-postas para as novas necessidades e problemas sociais. Para dar suporte a este projeto societário novo, algumas das sugestões de Lipietz são de grande utilidade, desde que rearticuladas dentro de um quadro de ação política e social radicais.

Na perspectiva de Lipietz, o crescimento do tempo livre é o primeiro passo para a multi-plicação de postos de trabalho pela partilha am-pliada do quantitativo social de trabalho

neces-sário.É notável, ao longo de sua exposição, sua

preocupação com o desemprego, entendendo

corretamente que somente a redução das jorna-das individuais de trabalho poderá minimizar a exclusão social pelo desemprego, causada pelo

(6)

desenvolvimento tecnológico sob a lógica capi-talista de extração de sobretrabalho. Num outro aspecto de suas propostas, vinculado ao anterior, o autor defende a necessidade de amplo e sólido processo educativo que prepare as pessoas de for-ma perfor-manente para o trabalho. Acrescente-se, sob este aspecto, que Lipietz, contrariamente aos que defendem a Educação centrada na alta qualifi-cação profissional como o caminho para a solução da crise social e do desemprego, distingue o pa-pel real da educação e da qualificação profissional

numa sociedade capitalista:hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA"É criminoso, entre-tanto, prometer aos jovens que mais educação

e treinamento vai lhes conseguir um emprego. Para cada nível dado de educação e treinamen-to, quanto mais a pessoa adquire conhecimentos, maior a chance de conseguir um emprego; mas se o nível se eleva, isto não significa que mais em-pregos estão disponíveis" (1993, p. 82).

A idéia de aumento do tempo livre, e seu excelente complemento sob a forma de um "salá-rio social", uma espécie de salá"salá-rio universal que permitiria a manutenção de um nível mínimo e decente de vida para todos, são propostas sociais positivas baseadas em argumentos humanistas: "Ele (o salário social) é a afirmação de que os

se-res humanos têm direitoàvida, precisamente por

serem seres humanos e não porque sejam velhos, ou mães de família, ou porque contribuíram com Impostos; porque a humanidade e a sociedade reconhecem que seus membros têm o direito

es-pecíficoà vida, a uma vida como a de todos os

outros. É um ato de reconhecimento, não de

cari-dade" (ídem: p. 96). O reconhecimento das con-tradições estabelecidas por este "salário social" num mundo regido pelas relações do capital é exposto por Lipietz num ensaio acerca da emer-gência do "terceiro setor". Este espaço, constitu-ído por organizações devotadas ao serviço social, diferentemente do setor privado, por não ter o lucro como objetivo, e paralelo ao setor estatal, por servir a sociedade sob organização e controle .ndependentes do Estado, seria um dos elemen-tos de inovação social que apontaria saídas para a questão do desempreço'.

A contradição, segundo Lipietz, se mani-festaria diretamente na impossibilidade de sus-tentar esta estrutura paralela, com seus custos conseqüentes, sob um quadro de competição

in-ternacional baseada emcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA" d u m p in g social":

bai-: A e s t e t e s p e it o . conient t a m b é m L e o n a r d o B o f f ( 1 9 9 4 )

xos salários e desmantelamento da segundade

social. A questão, entretanto, pode ser enfocada sob outro aspecto: o que significa realmente este tal "terceiro setor", supostamente, nem público nem privado? Numa análise mais concreta, que

inclua tanto o momento conjunturaIdo atual bloco

histórico, sob hegemonia neoliberal e a imposi-ção generalizada de sua lógica organizacional, como também as lutas e a resistência social e popular, a idéia do terceiro setor assume uma transparência elevada que merece uma análise própria e consistente.

Lipietz conclui com a idéia de um novo pacto internacional que ordene a produção mun-dializada. O grande papel deste pacto, além da regulação interna de produção, consumo e segu-ridade social, seria conter as distorções extremas

entre os diversoslo c u s produtivos, compensando o

" d u m p in g social" com impostos sobre consumo. Com isto fecha-se o círculo que leva, sob a lógica expositiva do autor, ao novo modo de regulação social, desta vez estabelecido no plano mundial.

O aspecto central de questionamento das idéias de Lipietz é a manutenção das relações de produção e reprodução de capital ao lado da mu-dança de eixo e foco para a questão da

sobrevi-vência social com elevação da qualidade de vidaNMLKJIHGFEDCBA

p a r a t o d o s , o que implicaria a superação da

so-ciedade de classes antagônicas engendrada pelo capital. Ao lado disto, também se põe a possibili-dade de construção da vontade política que teria sucesso em impor, além do salário social, o acor-do internacional que levaria ao moacor-do de regula-ção social internacional, com todos os aspectos de estruturação econômica, social e política que englobassem um largo espectro de culturas em diferentes momentos e condições históricas.

R e f l e x õ e s c o n c l u s i v a s - a

p o s s i b i l i d a d e d e u m n o v o M R S

É necessário observar as contradições da

forma atual da reprod ção do capital. procurando compreender as diversas possIbilidades de desen-volvimento abertas a ação social-coletiva que possa encammhar as transformações num sen-tido progressista. Por um lado, a internacionali-zação da produção e dos mercados, a liberdade do capital produtivo e financeiro de moverem-se sem fronteiras, a condição mundializada de

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pioração da força de trabalho e de matérias-pri-mas, a hegemonia do capital financeiro sobre os setores produtivos, são fatos concretos e objeti-vos que definem a presente forma da reprodução do capital em sua nova fronteira mundial.

No entanto, a escolha sobre qual caminho seguir entre os vários possíveis, inclusive o refluxo do processo de globalização, é opção que envolve escolhas políticas marca das pela subjetividade que, mesmo não se impondo como definitiva, redirecionará a objetividade daquela dinâmica histórica. O desenvolvimento das propostas eco-nômicas, sociais e políticas liberais, submetendo

as sociedadeshgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAàregra geral da lucratividade, mer-cantilização de todas as relações e competição

so-cial, é resultado também de políticas deliberadas de governos no embate com a resistência explí-cita ou velada dos setores subalternos.

O argumento da objetividade da globali-zação, dos caminhos que esta tem seguido e da lógica do capital que lhe subjaz, com seus aspec-tos centrais da mercantilização generalizada da sociedade, da competição excludente, do indivi-dualismo exacerbado, da destruição da estrutura de serviços públicos, entre outros aspectos, é verdadeiro, mas parcial. Sua apresentação como caminho único a seguir, como direcionamento

natural-histórico, determinação contra a qual

resistir é não somente absurda, mas contrapro-ducente, é um discurso ideológico no sentido estrito do termo: reflete uma intenção política

classista de estabelecer como hegemônicas

idéias que interessam somente a determinados setores e grupos sociais. De fato, a objetividade é elemento determinante dos encaminhamentos históricos, mas o que define a fronteira da socie-dade humana, separando-a do mundo animal, é a possibilidade de superação da mera objetividade dos fatos e processos naturais e sociais.

A subjetividade, levando à emergência

social dos valores humanos (humanistas), tem poder de intervenção, modifica o curso objetivo dos acontecimentos pela ação social, sendo este o caráter distintivo da sociedade humana. O re-sultado da dinâmica histórica será sempre uma unidade complexa e dialética entre a subjetivida-de humana e a objetividasubjetivida-de estrutural (das "leis" naturais e sociais). A submissão completa das

in-tenções humanizadoras à política do capital é o

resultado, também, de projetos políticos e ação social de seus representantes. Esta ação, social-mente parcial, classista ou grupal, foi bem-suce-dida em estabelecer uma visão de senso comum que inclui também as idéias de inevitabilidade e irreversibilidade da globalização capitalista.

Estes dois pontos são o centro gravitacio-nal em torno do qual giram a compreensão e as propostas de Lipietz: a objetividade do momento atual da reprodução do capital, e a questão do papel possível para o Estado neste novo quadro estrutural. Sobre eles teceremos algumas consi-derações críticas. Em primeiro lugar, é necessário refletir sobre o papel historicamente

desempe-nhado pelo Estado, como representante da

es-fera pública, sendo o organizador e promotor dos serviços públicos.

A existência de valores e práticas de soli-dariedade social entre as classes subalternas, ao lado da existência de instituições sociais públi-cas voltadas para o "cuidado" dos mais pobres, é um fato histórico já reportado por Engels, em

sua obra clássicacbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAA C o n d iç ã o da c la s s e t r a b a lh a -d o r a n a I n g la t e r r a . Refletindo as condições de

exploração dos trabalhadores no século XIX,e as correlações de força daquele momento, segundo os testemunhos arrolados, o montante desta so-lidariedade autônoma e informal excedia aquele da "caridade oficial" burguesa institucional. Ora,

com o avanço das lutas, organização e

mobilí-zação social, o Estado foi assumindo mais e mais o espaço de provedor de serviços sociais que garantissem um padrão mínimo de dignidade

à massa dos assalariados, prevenindo o

aguça-mento extremo da miséria e suas conseqüências, sob a forma de inquietação social e política.

Ao longo do século XX, após décadas de expansão dos serviços e instituições públicas vol-tados para o estabelecimento do Estado do bem-estar social, o (neo) liberalismo retomou como ideologia hegemônica das classes dominantes, premidas pela crise do Modo de Regulação Social Fordista. Com o liberalismo de volta, os setores dominantes encetam um grandioso esforço de propaganda para justificar o real ataque ao es-paço de riqueza representado pelo setor público, ataque .que assumiu e ainda assume as formas mais variadas, mas que, por qualquer delas, seja através da privatização d íre ta ", seja pela via da

3Eaqui esta mos considerando o processo de forma genérica, sem nos atermos às constantes fraudes que marcaram a venda das estatais no

Brasil

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quidação de instituições e órgãos governamen-taís, tem sempre a mesma finalidade: aumentar a lucratividade social do capital.

Na verdade, ambos os procedimentos im-plementados têm este fim comum: no primeiro, pela redução de custos "sociais" com os seto-res subalternos cria-se, além da cultura geral de

desproteção e desregulamentação" dos

traba-adores e das relações de trabalho, a

possibih-ade de redirecionamento dos anteriores gastos sociais para os setores comercial, industrial e fi-nanceíro do capital; pela privatização direta se

~ ansfere abertamente patrimônio público para

lsos particulares, num processo perverso que emandaria, por si, uma exposição completa que aão é a intenção deste trabalho.

Ora, num quadro assim, a nova cultura he-emônica define uma opinião de senso comum contráriahgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà instituição pública, ao passo em que se mantém, de forma agravada, a situação que en-gendra a miséria e a exclusão sociais crescentes. _ eforça-se, desta forma, a necessidade premente o assistencialismo e do provimento de serviços

básicos à população mais pobre, que vai

encon-~ ar no serviço autônomo e na auto-organização ocial, comunitária, grupal, etc., seus caminhos e realização. Estas novas formas disfarçadas do serviço público apenas traem a permanência da necessidade da intervenção do Estado no

provi-ento das necessidades básicas das classes tra-

.

balhadoras, expostas à ganância do capital, ao

mesmo tempo em que determinam uma forma . erenciada em sua gestão: o trabalhador não adquire os direitos de servidor público que, mes-o apresentandmes-o aspectmes-os pmes-ositivmes-os e negativmes-os, epresentam em nossos dias uma cota razoável da produção social que é apropriada por um seg-mento da classe trabalhadora em detriseg-mento dos ca pítalistas.

É também importante observar que toda

grande obra gerada pela necessidade social, ao longo da história, foi sempre tarefa coletiva e, as-sim sendo, pública, pela impotência individual no provimento destes serviços. Instalação de infra-estrutura social de água, esgotos, eletricidade e gás, por exemplo, é sempre fruto de um trabalho coletivo, mesmo quando exercido sob controle e apropriação privados. Já alguns outros serviços continuam coletivos na execução, mas não se configuram como campo de apropriação privada

de lucros, sendo assim desinteressantes para o

capital. Eis como se dá a definição capitalista do

que, na estrutura do Estado, deve ser pnvanza ou extinto.

Por outro lado, ao romper com o imo

-lismo, lentidão e burocratização do serviço p ú

-blico conforme estruturado e organizado pela po-lítica burguesa ao longo do século XX, a gestão descentralizada, mais ágil e menos hierárquica do chamado "terceiro setor", aponta para a ne-cessidade de que se refaça o serviço público sob outras formas de organização menos hierarqui-zadas, mais democráticas em seu funcionamento interno, e sujeitas ao permanente controle po-pular. Este novo "modelo" permitiria superar os

problemas inerentes àestrutura pública anterior,

que tende ao corporativismo pela incorporação das contradições do sistema social capitalista. Esta forma democratizada, ao mesmo tempo, não se configuraria como "tampão" de contradições sociais, mas como espaço de aprendizado de ci-dadania política e consciência de classe.

Fica claro, sob este enfoque, que o espaço dos serviços públicos é necessário e inevitável em qualquer sociedade, apenas ampliando-se pelo provimento de necessidades decorrentes da exclusão social determinada pelo capitalismo. O trabalho necessário aos serviços sociais será sem-pre social-coletivo, e assim, sob uma organização mercantil-monetária das relações sociais, como é o caso das sociedades do capital, será pago pela sociedade. A questão de que estas tarefas sejam exercidas por instituições públicas, ou por orga-nizações do "terceiro setor" , é a de decidirmos se a este montante ou valor necessário, queremos acrescentar outro montante destinado a saciar a voracidade lucrativa do capital privado.

Quanto aos outros aspectos levantados por

Lipietz, referentes à questão da instauração de

um novo MRS ou novo pacto social que

reinsta-laria o controle social (púb ico) s e ocesso

de produção e reprod çã de ca _- _- as do

aspecto de prole o poa CDco po to

que é ecessán es ecer e r: s

fundamen s es

Odese v

con-tra- ege . ca en o

de salário so al para odos os membros da

SOCIedade,encammhe a redução da jornada de trabalho e a ampliação do tempo livre, estabeleça as bases de um novo pacto internacional para o desenvolvimento social em todos os países, na-ções e culturas do mundo, bem como estabeleça solidamente uma série de outras práticas sociais

47

(9)

anticapitalistas, será uma tarefa hercúlea somente

possível com o concurso de pessoas, grupos e

classes comprometidos com a superação do

ca-pitalismo. Esta construção coletiva deverá, além

disto, estar enraizada de forma prefigurada ou

embrionária na práxis de resistência dos setores

subalternos de hoje, desenvolvendo-se a partir

delas e reforçando-as no sentido do

estabeleci-mento de processos de desenvolvimento social

anticapital.

A dificuldade concreta é que ninguém sabe

de antemão, ou exatamente, como e quais serão

estes processos, nem como instaurá-los ou

defla-çrá-Ios. Estas práticas serão engendradas pela

dinâmica dos processos de luta e organização

anticapitalista dos próprios setores subalternos.

Esta é a grande dificuldade e, ao mesmo tempo,

a riqueza histórica da nova sociedade ainda

utó-pica, mas enraizada nas contradições da

reali-dade atual. Desta forma, deverá ser descoberta,

construída, desenvolvida, por dentro e contra a

atual ordem estabelecida e o senso comum que a

coteja. Deverá estar articulada e engrenada com

suas contradições. Esta tarefa somente se tornará

possível com a construção de uma nova

perspec-tiva política e social que inclua o papel central

para a educação política.

As contradições do sistema capitalista,

por si mesmas, levando permanentemente à

crise em níveis cada vez mais globais e

aprofun-dados, contribuirão com o cenário em que novos

paradigmas societários se farão necessários para

motivar a ação dos grupos, classes e indivíduos.

Contradições, no entanto, e seu produto direto,

as crises, apontam para o esgotamento de um

determinado modo de produção, não para a nova

forma social-produtiva que deverá sucedê-lo. E

este ponto foi mal compreendido pelos

movimen-tos políticos marxistas por demasiado tempo. O

novo modo de produção ou, num nível mais

aca-nhado, o novo modo de regulação social, deverá

ser engendrado pela práxis dialética cotidiana

de uma maioria politicamente educada da

socie-dade. Esta educação deverá se basear num

enfo-que humanista radical que inclua a compreensão

crítica do atual modo de produção sob controle do capital e das formas e caminhos de sua superação.

O processo educacional e político

necessá-rio a que se atinja este patamar de consciência

social deverá levar para além do sindicalismo

burocrático e pragmático vigente atualmente e,hgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

• Ç 1 ente irá além do modelo educativo atual

centrado na escola. Vinculando escola e

movi-mentos sociais, trabalho e educação, estudando

os processos sociais e aprendendo em suas

prá-ticas, a Educação se tornará uma prática social

efetivamente articulada com a produção e

re-produção da vida social, desenvolvendo o que

Gramsci chamava de "Teoria da P rá x ís ".NMLKJIHGFEDCBA

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Referências

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