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O VALOR DA MINA DE OURO: UMA ANÁLISE COMPARATIVA PELOS MODELOS DE FLUXO DE CAIXA DESCONTADO E DE OPÇÕES REAIS

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O VALOR DA MINA DE OURO: UMA ANÁLISE

COMPARATIVA PELOS MODELOS DE FLUXO DE

CAIXA DESCONTADO E DE OPÇÕES REAIS

ALEXANDRE DE CÁSSIO RODRIGUES - alexandrerodrigues.engprod@gmail.com

DEPARTAMENTO NACIONAL DA PRODUÇÃO MINERAL - DNPM

GEORGENES CLÁUDIO DIAS DE ALMEIDA - georgenes_almeida@yahoo.com.br

CENTRO UNIVERSITÁRIO IZABELA HENDRIX Resumo: A DECISÃO DE INVESTIR EM PROJETOS DE MINERAÇÃO É ESTRATÉGICA. EM GERAL, MODELOS DE AVALIAÇÃO ECONÔMICA, TAIS COMO O FLUXO DE CAIXA DESCONTADO (FCD), SÃO USADOS PARA ANALISAR A VIABILIDADE DESSES PROJETOS. SEGUNDO O FCD, AS ENTRADAS E SAÍDASS DE RECURSOS FINANCEIROS SÃO CONHECIDAS E A ESTRATÉGIA EMPRESARIAL CONCEBIDA NO INÍCIO DO PROJETO SERÁ MANTIDA ATÉ O TÉRMINO DELE. PORÉM, NA PRÁTICA, AS DECISÕES SÃO TOMADAS SOB INCERTEZA E OS

GESTORES DISPÕEM DE CERTAS FLEXIBILIDADES. NESSAS

CONDIÇÕES, A LITERATURA SUGERE QUE OS PROJETOS SEJAM AVALIADOS POR OPÇÕES REAIS. ASSIM, ESSE ESTUDO ANALISA, COMPARATIVAMENTE, OS VALORES DE UM PROJETO DE MINERAÇÃO DE OURO QUANDO AVALIADO POR ESSES DOIS MODELOS. AS INCERTEZAS DO PREÇO DO PRODUTO, DO CUSTO DE EXTRAÇÃO E DO TEOR RECUPERÁVEL SÃO IMPLEMENTADAS POR SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO. A OPÇÃO DE ABANDONAR O PROJETO APÓS O PRIMEIRO ANO DE OPERAÇÃO, QUANDO ESTE PODERIA SER VENDIDO POR VALOR PREDETERMINADO, É ADMITIDA COMO FLEXIBILIDADE GERENCIAL. OS RESULTADOS REVELAM QUE A INCORPORAÇÃO DA INCERTEZA E DA FLEXIBILIDADE GERENCIAL NA ANÁLISE ECONÔMICA AGREGA VALOR AO PROJETO. COM ISSO, O PROJETO ATÉ ENTÃO REJEITADO PELO FCD TORNOU-SE VIÁVEL PELA ANÁLISE POR OPÇÕES REAIS. CONSTATOU-SE AINDA QUE COM A PROXIMIDADE DO FIM DA VIDA OPERACIONAL DA MINA, EM VIRTUDE DA REDUÇÃO DA ESTIMATIVA DOS FLUXOS DE CAIXA FUTUROS, AUMENTA A PROBABILIDADE DE ABANDONO DO PROJETO.

Palavras-chaves: AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS DE MINERAÇÃO; FLUXO DE CAIXA DESCONTADO; OPÇÕES REAIS.

Área: 3 - GESTÃO ECONÔMICA

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THE VALUE OF GOLD MINE: A COMPARATIVE

ANALYSIS BY MODELS DISCOUNTED CASH FLOW

AND REAL OPTIONS

Abstract: THE DECISION TO INVEST IN MINING PROJECTS IS STRATEGIC. IN

GENERAL, ECONOMIC EVALUATION MODELS, SUCH AS THE DISCOUNTED CASH FLOW (DCF) ARE USED TO ANALYZE THE VIABILITY OF THESE PROJECTS. ACCORDING TO THE FCD, THE INPUTS AND OUTPUTS ARE KNOOWN FINANCIAL RESOURCES AND BUSINESS STRATEGY DESIGNED EARLY IN THE PROJECT WILL BE HELD UNTIL THE END OF IT. HOWEVER, IN PRACTICE, DECISIONS ARE MADE UNDER UNCERTAINTY AND MANAGERS HAVE CERTAIN FLEXIBILITIES. UNDER THESE CONDITIONS, THE LITERATURE SUGGESTS THAT PROJECTS ARE EVALUATED BY REAL OPTIONS. THUS, THIS STUDY EXAMINES COMPARATIVELY THE VALUES OF A GOLD MINING PROJECT WHEN EVALUATED BY THESE TWO MODELS. THE UNCERTAINTIES OF THE PRODUCT PRICE, THE COST OF EXTRACTION AND CONTENT RECOVERABLE ARE IMPLEMENTED BY MONTE CARLO SIMULATION. THE OPTION TO ABANDON THE PROJECT AFTER THE FIRST YEAR OF OPERATION, WHEN IT COULD BE SOLD FOR PREDETERMINED VALUE, IS ADMITTED AS MANAGERIAL FLEXIBILITY. THE RESULTS REVEAL THAT THE INCORPORATION OF UNCERTAINTY AND MANAGERIAL FLEXIBILITY IN ECONOMIC ANALYSIS ADDS VALUE TO THE PROJECT. WITH THIS, THE PROJECT SO FAR REJECTED BY FCD BECAME FEASIBLE BY REAL OPTIONS ANALYSIS. IT WAS ALSO FOUND THAT WITH THE APPROACHING END OF THE OPERATIONAL LIFE OF THE MINE, DUE TO THE REDUCTION OF THE ESTIMATED FUTURE CASH FLOWS, INCREASES THE LIKELIHOOD OF ABANDONMENT OF THE PROJECT. Keyword: ECONOMIC VALUATION OF MINING PROJECTS; DISCOUNTED CASH

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3 1. Introdução

O setor mineral tem relevância estratégica para o Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística – IBGE (2013), em 2011, os produtos minerais representaram 25,3% das exportações e a soma do produto da extração mineral brasileira atingiu quase R$ 145 bilhões, correspondentes a 4,1% do Produto Interno Bruto nacional.

Nesse contexto, o ouro tem especial destaque. Em 2011, a produção brasileira desse bem mineral, que no setor joalheiro é usado como matéria-prima e no setor financeiro como ativo para proteção às crises internacionais, alcançou 65 toneladas, posicionando o Brasil como o 13º maior produtor mundial. Minas Gerais, em particular, foi o estado responsável por 56,8% dessa produção. Naquele ano, no país, foram concedidas 1603 autorizações de pesquisa, 30 concessões de lavra garimpeira e protocolados 258 requerimentos de lavra de ouro, dados que relevam o grande interesse em investir nesses projetos (DNPM, 2013).

Em geral, a tomada de decisão sobre esses investimentos é complexa e estratégica, requerendo, por isso, a adoção de modelos cuja aplicação a certos parâmetros permita avaliar a viabilidade econômica dos projetos. O Fluxo de Caixa Descontado é um desses modelos. Segundo essa abordagem, as entradas e saídas de recursos financeiros são bem conhecidas e a estratégia empresarial concebida no início do projeto será mantida inalterada até o término dele (GITMAN, 2002).

Contudo, na prática, o comportamento do mercado é incerto e os gestores dispõem de certas flexibilidades gerenciais. Assim, um projeto pode ser adiado até novas informações surjam, ou seja, a decisão de investir não precisa ser do tipo agora ou nunca. Além disso, dependendo das condições econômicas, a escala de produção pode ser aumentada ou um projeto pode ser contraído ou até mesmo abandonado, quando seus ativos poderão ser vendidos.

Logo, diante das incertezas, a presença dessas opções torna um projeto de investimento flexível, e, portanto, mais valioso que outros que não disponham dessas possibilidades (COPELAND, KOLLER e MURRIN, 2002). Esse é o caso dos projetos de mineração (ALVES et al., 2008). Nessa situação, a literatura tem sugerido que o valor do projeto seja avaliado pelo modelo de Opções Reais (TRIGEORGIS, 1996).

Nesse contexto, essa pesquisa tem por objetivo analisar, comparativamente, os valores de um projeto de mineração de ouro avaliado pelos modelos de Fluxo de Caixa Descontado e de Opções Reais. Para tanto, as incertezas do preço do produto no mercado internacional, do custo de extração do minério e do teor recuperável do ouro contido no depósito mineral serão implementadas por simulação de Monte Carlo e a opção de abandonar o projeto após o primeiro ano de operação, quando este poderá ser vendido por um preço predeterminado, será considerada como flexibilidade gerencial.

A justificativa para realização dessa investigação reside na necessidade dos tomadores de decisão em avaliar o impacto das incertezas e flexibilidades gerenciais sobre a viabilidade econômica do empreendimento. Com isso, poderão ser revistas as estratégias definidas na etapa de planejamento, adaptando-as ao surgimento de novas informações e às mudanças no cenário econômico.

Esse artigo conta com quatro seções, além dessa introdução. A segunda aborda o referencial teórico, destacando as características e as aplicações dos modelos de avaliação econômica fundamentados no Fluxo de Caixa Descontado e em Opções Reais. Na seção três são apresentados os procedimentos metodológicos. A discussão dos resultados é realizada na seção quatro. Por fim, na seção cinco, são feitas as considerações finais.

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4 2. Referencial teórico

2.1 Avaliação econômica de projetos pelo modelo de Fluxo de Caixa Descontado

Nos últimos cinquenta anos, o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) tem sido a base para a tomada de decisões de investimentos em mineração (SOUZA, 2005). Esse modelo requer que, primeiramente, seja construído o fluxo de caixa do projeto, entendido como sendo

“[...] a diferença entre todas as entradas anuais de caixa (receita operacional, receitas não-operacioanais relativas aos valores dos salvados ou residuais, recuperação do capital de giro, entrada de recursos de terceiros etc.) e de todas as saídas anuais de caixa (investimentos fixos, injeção do capital de giro, aquisição de direitos minerários, despesas de posta em marcha ou start up, despesas com reposição e reforma de equipamentos e outros ativos do imobilizado operacional, pagamentos de imposto, amortização e juros de financiamento etc.) (SOUZA, 2005, p. 8 e 9)”.

Segundo Assaf Neto e Lima (2009), os principais métodos de avaliação econômica de projetos fundamentados no modelo do FCD são o Valor Presente Líquido (VPL), a Taxa Interna de Retorno (TIR) e o Payback. Lee (2004) aponta que 63% das corporações não financeiras adotam simultaneamente esses três métodos. Já, dentre as corporações financeiras, 71% utilizam, pelo menos, o VPL e a TIR.

De acordo com Wiesemann e Rustem (2010), o VPL consiste em trazer para o presente todos os fluxos de caixa do projeto ao longo do tempo (FCt), levando em conta uma

taxa de juros r, que é o custo de capital. Assim, o VPL é dado pela diferença entre aqueles valores presentes e o investimento inicial (I):

 

r

I

FC

VPL

n t t t

1

1

Logo, se o VPL for maior que zero, o projeto deve ser aceito, pois o seu retorno é maior que o custo de investimento. Por outro lado, se o VPL for negativo, o projeto deve ser rejeitado. Já, se o VPL for nulo, o tomador de decisão será indiferente em aceitar ou não o projeto de investimento (LIMA e SUSLICK, 2001).

A TIR do fluxo de caixa de um projeto é a taxa de desconto para a qual o VPL é nulo (SOUZA, 2005). Logo, a TIR representa a taxa de desconto que iguala o retorno ao custo do investimento:

1

0

1

I

TIR

FC

n t t t

Nesse contexto, a decisão de investir num projeto é feita pela comparação entre a TIR e a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) adotada pela empresa. Desse modo, um projeto deve ser aceito somente se a sua TIR for maior que a TMA (SOUZA, 2005).

O Payback é o intervalo de tempo necessário para recuperação do investimento inicial (SOUZA, 2005). Na visão de Ross et al. (2002), um investimento é considerado viável se o seu Payback for menor do que algum número de anos predeterminado. De acordo com Assaf Neto e Lima (2009), esse método é apropriado para decisões de investimentos de pequena escala, pois, ao valorizar projetos rápidos, reduz os riscos pela exposição a incertezas no tempo. Se a análise não admitir o valor do dinheito no tempo, tem-se o Payback simples; caso contrário, o Payback descontado (MOTA e CALÔBA, 2006).

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5 2.2 Avaliação econômica de projetos pelo modelo de Opções Reais

Segundo Monteiro (2003), o modelo de FCD somente é adequado para avaliar projetos na ausência de flexibilidades gerenciais e de mudanças nas condições de mercado. Contudo, em situações reais, dependendo do cenário econômico, uma empresa poderá adiar o início de um projeto, expandi-lo, contrai-lo ou até mesmo abandoná-lo. A flexibilidade propocionada pela presença dessas opções tornam um projeto mais valioso que outro que não disponha delas (COPELAND, KOLLER e MURRIN, 2002).

Nesse contexto, uma opção real é entendida como sendo “[...] um direito, mas não a obrigação, de empreender uma ação tais como diferir, expandir, contrair ou abandonar um projeto” (COPELAND; ANTIKAROV, 2001, p. 6). Em função das flexibilidades gerenciais que oferecem, as opções reais podem ser classificadas em:

Opção real Flexibilidade gerencial

Adiamento Esperar para realizar um investimento até que as condições de mercado o justifiquem.

Abandono Encerrar um projeto sob condições de mercado ruins ou vendê-lo por um preço fixo.

Expansão Aumentar a escala de produção do projeto ao longo de sua vida útil caso as condições de mercado se tornem mais favoráveis do que o esperado. Contração

Retrair o investimento se as condições de mercado se tornarem piores do que originalmente esperado, diminuindo, assim, as perdas ocasionadas por projetos que venham se tornar inviáveis.

Ampliação ou redução do escopo Mudar o mix de produtos, criando flexibilidade no processo, diante de mudanças nos preços ou nas demandas dos produtos.

QUADRO 1 - Tipos de opções x flexibilidades gerenciais. Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em Copeland, Koller e Murrin (2002)

Copeland, Koller e Murrin (2002) sugerem um método para valorar as flexibilidades gerenciais de um projeto:

a. Calcular o valor presente do projeto por meio do FCD (sem flexibilidade); b. Simular a incerteza inerente às variáveis críticas do projeto;

c. Incorporar as flexibilidades gerenciais; d. Calcular o valor da opção real.

Com relação à simulação da incerteza, Copeland e Antikarov (2001) recomendam que seja utilizado o método de Monte Carlo, que é “[...] hoje uma das ferramentas mais populares como auxílio a tomada de decisão, dada a sua facilidade de implementação em planilhas eletrônicas”(CHWIF e MEDINA, 2006).

Segundo Hull (2002), a simulação de Monte Carlo tende a ser mais eficiente que outros procedimentos de simulação, sobretudo quando existem três ou mais variáveis estocásticas. Saraiva Junior et al. (2011, p. 152) esclarecem que “a Simulação de Monte Carlo envolve o uso de números aleatórios e probabilidades para analisar e resolver problemas”, sendo um método que consiste em:

i. Definir as variáveis de análise a partir de dados históricos;

ii. Construir as distribuições de frequência e intervalos de classe dessas variáveis; iii. Gerar números aleatórios e incidi-los nos intervalos de classe de cada variável; iv. Replicar a simulação do experimento o maior número de vezes possível a fim de aumentar a precisão da estimativa da variável de interesse.

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6 3. Metodologia

Quanto à finalidade, essa pesquisa é classificada como aplicada, pois tem como motivação básica a solução de um problema prático, concreto e operacional (APPOLINÁRIO, 2004). Com relação ao método, trata-se de um trabalho quantitativo, uma vez que são empregados instrumentos estatísticos na quantificação dos resultados (LAKATOS e MARCONI, 1991). Em se tratando do objetivo, a pesquisa é descritiva, pois visa descrever com exatidão os fatos de uma determinada realidade (APPOLINÁRIO, 2004). Quanto à coleta de dados, a investigação tem características documentais, já que suas fontes são dados apresentados a uma entidade pública federal ou divulgados por organizações privadas (LAKATOS e MARCONI, 1991). Nesse sentido, cabe ressaltar que a pesquisa é um estudo de caso. Logo, busca-se conhecer com profundidade apenas um objeto, de modo que os resultados do estudo não poderão ser generalizados (YIN, 2001).

O objeto de análise dessa pesquisa foi um Plano de Aproveitamento Econômico (PAE) apresentado por uma mineradora do estado de Minas Gerais ao Departamento Nacional da Produção Mineral, que é a entidade pública federal responsável por analisar a viabilidade econômica de projetos de extração, beneficiamento e comercialização de reservas minerais. Ressalta-se que, conforme Art. 38, VII do Código de Minas – Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967, é obrigatória a apresentação do PAE para requerer a lavra de qualquer substância mineral. A fim de preservar a identidade da empresa, alguns dados foram alterados. Todavia, isso não compromete a eficácia da metodologia empregada.

A avaliação econômica do projeto pelo modelo do Fluxo de Caixa Descontado foi obtida por meio da utilização de funções financeiras do Microsoft Excel enquanto que o software @risk, que funciona de modo integrado com as planilhas daquele aplicativo, foi usado para realizar a avaliação pelo modelo de Opções Reais.

Como relação à avaliação por Opções Reais, realizou-se uma simulação com 10.000 iterações, na qual o preço de venda da onça troy1 de ouro, o custo de extração do minério e o teor recuperável de ouro contido no depósito mineral foram consideradas as variáveis estocásticas que mais impactam no resultado financeiro do projeto. A modelagem da incerteza do preço de venda do ouro levou em consideração a cotação desse bem mineral entre os anos de 2003 e 2012 na London Metal Exchange, que é uma bolsa de valores que concentra em torno de 95% do comércio ultramarino dos metais não ferrosos, sendo, por isso, referência para a definição dos preços desses metais em todo o mundo (DNPM, 2013).

A distribuição de probabilidade do preço de venda do ouro foi obtida por meio da ferramenta de ajuste de distribuição do @risk. Já o custo de extração do minério e o teor recuperável de ouro contido no depósito mineral foram modelados por uma distribuição de probabilidade triangular, haja vista que para defini-la são necessários apenas os valores mínimo, máximo e mais provável daquelas variáveis, que podem ser estimados com razoável grau de certeza.

A possibilidade de abandonar o projeto após o primeiro ano de operação e vendê-lo por um preço fixo foi considerada como a flexiblidade gerencial presente na análise. Assim, no início de cada ano a partir do segundo, o gestor, ao comparar o VPL estimado dos fluxos de caixa futuros e o valor de venda do projeto, deverá decidir se dá continuidade ou não às atividades de lavra do minério de ouro.

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7 4. Discussão dos resultados

4. 1 Parâmetros do modelo

A metodologia apresentada na seção anterior foi empregada na avaliação econômica de um projeto de mineração de ouro, para o qual está prevista a utilização de lavra em subsolo. As características técnicas e econômicas do projeto são destacadas a seguir:

TABELA 1 - Parâmetros do modelo

Investimento US$ 1.000.000,00

Custo de capital 12% a.a.

Reserva lavrável de minério de ouro 30.000 t

Vida operacional da mina 5 anos

Taxa de extração de minério 6.000 t/ano

Preço de venda do ouro Lognormal (1250; 200) US$/ onça troy

Custo de extração do minério Triangular (60; 75; 90) US$/t

Teor recuperável de ouro Triangular (2,5; 3; 4) g/t

Valor da venda do projeto em caso de abandono US$ 400.000,00

Fonte: Elaborado pelos autores a partir da alteração dos dados do PAE do projeto e do ajuste da distribuição de probabilidade do preço de venda do ouro.

4. 2 Valor da mina de ouro pelo modelo de Fluxo de Caixa Descontado

Na avaliação econômica do projeto pelo método do Fluxo de Caixa Descontado, os parâmetros relativos ao preço de venda do ouro, ao custo de extração do minério e ao teor recuperável de ouro foram admitidos como sendo, respectivamente, a média e os valores mais prováveis das distribuições de probabilidade. Assim, conforme mostrado na FIGURA 1, o VPL do projeto é menor que zero, o que implica na decisão de rejeitá-lo. Corroborando com isso, tem-se ainda que a TIR do projeto é menor que o custo de capital.

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Como ilustrado na FIGURA 2, ao admitir-se o valor do dinheiro no tempo, o capital investido no projeto não é recuperado até o término da vida operacional da mina. Por outro lado, se isso não for feito, o capital investido no projeto é recuperado em 3,66 anos.

FIGURA 2: Recuperação do capital ao longo do tempo. Fonte: Elaborada pelos autores.

4. 3 Valor da mina de ouro pelo modelo de Opções Reais

Considerando-se a incerteza do preço de venda do ouro, do custo de extração do minério e do teor recuperável de ouro, o VPL esperado do projeto passa a ser de US$ 130.687,14 (FIGURA 3). Logo, nesse caso, o tomador de decisão deverá aceitá-lo. Os resultados ainda revelaram que a probabilidade do VPL ser maior que zero é de 68,5%.

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Admitindo-se as incertezas e a flexibilidade de abandono, o VPL esperado do projeto sobe para US$ 194.813,62 (FIGURA 4). Nessa situação, a probabilidade de que o VPL seja positivo aumenta para 79,1%. Esses resultados, assim com aqueles apresentados anteriormente, vão de encontro à literatura, que aponta que a incerteza e a flexibilidade gerencial promovem aumentos no VPL de um projeto (DIXIT e PINDYCK, 1994).

FIGURA 4: Histograma do VPL sob incerteza e com opção de abandono. Fonte: Elaborada pelos autores.

De acordo com a FIGURA 5, a probabilidade de que o projeto seja vendido em algum momento da vida operacional da mina é de 82%. Essa probabilidade aumenta a cada ano, sendo pouco significativa no início do segundo e terceiro anos de operação. Entretanto, no início do quinto ano de operação, a probabilidade de que o projeto seja vendido é de 57,1%. Isso se deve ao fato de que ao se aproximar do fim da vida operacional da mina a estimativa do VPL dos fluxos de caixa futuros decresce.

FIGURA 5: Probabilidade de abandonar do projeto durante a vida operacional da mina. Fonte: Elaborada pelos autores.

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10 4. 4 Análise comparativa dos resultados

Na FIGURA 6 compara-se o valor da mina de ouro pelos modelos de FCD e de Opções Reais. Tem-se que a incerteza do preço de venda do ouro, do custo de extração do minério e do teor recuperável de ouro somada à flexibilidade gerencial de abandonar o projeto após o primeiro ano de operação e vendê-lo por um preço fixo agregam quase US$ 210.000,00 ao VPL do projeto avaliado pelo modelo de FCD. Isso tem efeito direito na decisão de investir, já que pelo modelo de FCD o projeto dever ser rejeitado enquanto que pelo modelo Opções Reais o projeto deve ser aceito.

FIGURA 6: O valor da mina de ouro pelos modelos de FCD e de Opções Reais. Fonte: Elaborada pelos autores.

5. Considerações finais

Enquanto os métodos de avaliação econômica fundamentados no FCD admitem que as entradas e saídas de recursos financeiros são bem conhecidas e que a estratégia empresarial concebida no início do projeto será mantida inalterada até o término dele, o modelo de Opções Reais incorpora as incertezas e as flexibilidades gerenciais do projeto.

Nesse contexto, esse estudo teve por objetivo analisar, comparativamente, os valores de um projeto de mineração de ouro avaliado pelos modelos de FCD e de Opções Reais. As incertezas do preço do produto, do custo de extração do minério e do teor recuperável do ouro contido no depósito mineral foram implementadas por simulação de Monte Carlo. Além disso, admitiu-se como flexibilidade gerencial a opção de abandonar o projeto após o primeiro ano de operação, quando este poderia ser vendido por um preço predeterminado.

Os resultados encontrados revelaram que a incorporação da incerteza das variáveis críticas e da flexibilidade gerencial na análise econômica agrega valor ao VPL do projeto. Com isso, o projeto até então rejeitado segundo o modelo do FCD tornou-se viável a partir da análise por Opções Reais. Além disso, constatou-se que com a proximidade do fim da vida operacional da mina, em consequência da redução da estimativa do VPL dos fluxos de caixa futuros, a probabilidade de abandonar o projeto aumenta.

A incorporação da incerteza de novas variáveis, tais como taxa de câmbio ou mudanças no Código de Minas, bem como a consideração de outras flexibilidades gerenciais

Investir Não investir

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(adiamento, expansão, contração etc.) são alternativas interessantes para dar continuidade a essa pesquisa.

Referências

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DIXIT, A.K.; PINDYCK, R.S., Investment under uncertainty. Princeton University Press, New Jersey, 1994.

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Referências

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