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Rev. adm. empres. vol.14 número6

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culpa que é introjetado e leva o li-bertado a ser por sua vez o novo dominador. No nível social Marcu-se mostra como às revoluções Marcu-se. guiram-se restaurações (p. 92) .

Na

perspectiva marxista isto é histo-ricamente contestado. lsaac Deuts-cher, por exemplo, em A revolução inacabada, mostra que a Revolução Russa não sofreu restauração e que esse fato não tem preceden-tes na História das Revoluções (não nega , é claro, certos desvios e quebras na continuidade revolu-cionária) O processo. revolucio-nário russo, segundo ele, não foi revertido depois de 50 anos de lutas. A Revolução Chinesa tam-bém até agora, se bem que sua experiência seja curta, tem cami-nhado sem reversão. A perspec-tiva marxista enfatiza mais a con- . tradição entre os meios de pro-d ução e as relações pro-de pr<?pro-dução, enquanto a psicanálise coloca tal dinâm ica numa base instintiva

(biológica ). O marxismo propõe uma saída histórica para a liber-dade. As tra nsformações sociais são produ tos das contradições da própria sociedade que sofre a ação do homem ao mesmo tempo que o faz . A psicanálise, segundo Marcu se, coloca a libertação em processos inconscientes, de onde provém

a

fantasia (retorno do re-primido ) que criaria a utopia. Esta assume a dignidade da fiber-dade e é validada politicamente. Ora, o marxismo não aceita a uto-pia . Marcuse é então levado a con-dicionar o valor da utopia ao seu poder de transformação histórica. Só assim é que, a nosso ver, sua proposição adquire valor, uma vez . que interfere na história e na

po-Htica. O

Jorge Mitre

dos militantes, a organização e a ideologia.

lntegralismo (o fascismo

brasileiro na década de 30)

Na primeira parte, Hélgio apon-Por Hélgio Trindade . São Paulo, ta alguns elementos importantes Difusão Européia do Livro, 1974. da transformação econômica e

so-cial que resultam, de alguma

for-HÉLG!O TRINOAOE .

INTEGRALISMO

(o fasósmo brasileiro na década de 30) ·

ma, num movimento diversificado ao nível da ideolOgia. Uma gene-ralização é feita quanto ao cará-ter nacionalista deste movimento, na tentativa de criar um pensa·· menta nacional autônomo e tam· bém pela incorporação de uma análise mais sociológica em subs· tituição à corrente filosófica

do-minante no século passado. A problemática liga-se mais à reali-dade brasi leira: exal tação dvica, apareci mento de Ligas Nacionalis-tas, a projeção de autores como Monteiro Lobato e Alberto Torres . Ao estabelecer o vfnculo de Sal-gado com o modernismo, Hélgio t raça um paralelo entre os dois no sentido de que "ambos se dei-xa m impregna r pela polftica."

e

destacado o significado da O presente estudo sobre o movi- fundação do Centro Dom Vital e menta integra lista · visà responder da revista A Ordem no processo duas questões básicas colocadas de divulgação e centralização do pelo autor: "Que condições his- que o autor chama "renovação es-tóricas explicam o itinerário ideo- piritual" : uma autocrftica da si-lógico do nascimento do integra- tuação da Igreja no Brasil que' vai lismo e do seu chefe?" e "Qual resultar numa linha de pensamen-a npensamen-aturezpensamen-a deste movimento ideo- tos de grande importância na con-lógico que se torna, nos- anos 30, cepção filosófica do integralismo. o primeiro movimento de massa Jackson de fゥァオ・ゥイ・、ッセ@ Padre Leo-no Brasil?" . Para isso; Hélgio nei · Franca e Alceu Amoroso Lima Trindade uti liza-se de um mate- são algumas das figuras centrais rial empírico de dupla natureza: desta linha de pensa mento. Plr-por um lado, as obras dos princi- nio Salgado considerava Jackson pais ideólogos do movimento, os de Figueiredo como o inspirador documentos e órgãos de divulga- da concepção filosófica integra-ção da AIB e, por outro, os 、・ーッゥセ@ lista.

mentos e entrevistas com antigos Trindade relata a seguir a tra-participantes da Ação, personali- · jetória polftica do "Chefe Nacio-.-dades não-militantes do perfodo nal", desde suas primeiras ativi-recorrendo, para a montagem

ele

dades em São Bento. do Sapucar, . uma escala de atitudes, a entrevis- seu local de origem, seu vfnculo tas com estudantes universitários com o PRP, o posterior rompimen-que vêm compor "o grupo de con- to com este e a gênese de sua

trote jovem". caracterização integralista . A

pre-0

livro divide-se em três gran- ocupação polftica é ressaltada a des partes. A primeira, examina a partir de sua atividade intelectual sociedade brasileira na década de como autodidata e jornalista que _ . . participa de diversos grupos

de

20 e a formaçao polfttca de Plfmo ェッセョウ@ intelectuais.

Salgado •. セ M ウ・ァオョ、。@ . エ・ョA。 セ@ 。ーッョエ。イ セ@ ·. Em. sua , participação no

movi-as 」ッョ、エ￧ッ・ウ N 、ッ NM 。ー。イZ・」エセエ」ᄏ\N、。 G@ ·mento. modernista lidera a

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étnico comum que seria o povo Tupi, único verdadeiramente bra-sileiro.

Na qualidade de preceptor do filho de Alfredo Egydio de Souza Aranha, vai, em 1930, à Europa e ao Oriente. Souza Aranha mais tarde financia o jornal A Razão, onde Salgado mantém um edito-rial diário. Na Europa, Plínio es-tabelece seu primeiro contato com o fascismo e com Mussolini, fi-cando vivamente impressionado, datando daí cartas a seus compa-nheiros onde vislumbra a possibi-lidade da criação de um movimen-to no Brasil em moldes similares. A análise da obra propriamente literária de Salgado traduz uma crescente polítização de sua temá-tica, elaborando em seus três ro-mances sociais uma crítica ao li-beralismo, ao caráter artificial do regime republicano, ao desenvolvi-mento industrial, à urbanização, que, pelo cosmopolitismo, afasta as pessoas de uma problemática interna . Hélgio analisa os perso-nagens dos romances de Salgado como intérpretes das posições de seu autor e onde se notam as pri-meiras formulações explicitamente fascistas.

Na segunda parte do trabalho, Hélgio procura situar, em meio ao clima político vigente nos anos 30, os primeiros elementos constitu-tivos da ideologia integra lista. Ainda, tendo Plínio Salgado em foco, vê-se o posicionamento deste frente à Revolução de 1930, ini-cialmente opondo-se, alegando que o movimento defendia "um fantas-ma, a liberal-democracia"; em se-guida mantém uma ligação tem-porária com a Legião Revolucio-nária, ressaltando o mérito da Re-volução no sentido de haver rom-pido com as antigas aparências políticas. Em 1931 rompe com a Legião através de um manifesto, considerado a base do Manifesto lntegralista de 1932. De sua ati-vidade como jornalista político o autor tenta apontar os temas que se mostram recorrentes a partir da análise que faz do editorial d'A Razão como, por exemplo, o nacionalismo, o antiliberalismo, etc. Trindade depreende que a concepção ideológica de Salgado organiza-se a partir de um huma-nismo espiritualista e, nesse mo-mento, uma posição mais simpá-tica ao fascismo é explicitada.

O aparecimento da Ação lnte-gralista Brasileira, em 1932, é co-locado como um catalizador de idéias e movimentos de tendência aut.oritária que vinham se expan-dindo no período. A literatura antiliberal, sob a influência de Al-berto Torres, Oliveira Vianna e Azevedo Amaral, o aparecimento de periódicos nos meios universi-tários, entre os quais se destaca Hierarchia e a Revista de Estudos Políticos, no Rio de Janeiro e Po-lítica, em São Paulo, dos quais participam futuros candidatos ao integralismo, são alguns indicado-res dessa tendência.

Entre os movimentos políticos autoritários temos a Ação Social Brasileira, liderada por J. Fabri-no, que propõe a fundação do Par-tido Nacional Fascista; a Legião Cearense do Trabalho, dirigida por Severino Sombra, que incorpora a Juventude Operária Cristã, consti-tuindo o movimento de maior pe-netração entre as camadas popu-lares; o Partido Nacional Sindica-lista, de Olbiano de Mello, consi-derado o precursor no piano da elaboração ideológica, também fundador da Milícia Sindicalista Nacional; a Ação Imperial Patrio-novista, marcada pelo catolicismo, orientada por Sebastião Pagano e Paim Vieira, autor da afirmação de que "sindicalismo sem Deus é absurdo".

. Finalmente, a 12 de março de 1932, realiza-se a Assembléia de fundação da Sociedade de Estudos Políticos, quando Plínio reat iva a articulação com intelectuais e, em maio de 1932, propõe a criação de uma nova comissão técnica sob a denominação de "Ação Integra-lista Brasileira", que só começa a existir como tal em outubro quan-do é publicaquan-do o Manifesto lnte· gralista.

Na última parte do trabalho, Hélgio Trindade estuda a natureza do movimento manipulando os dados colhidos através de entre-vistas semidiretivas, principalmen-te o capítulo I, onde se estabelece a composição social do movimen-to. Compara a estrutura social da AIB com a dos fascismos euro-peus, onde se confirma a hipótese aventada de uma predominância de elementos de classe média. No Brasil, a composição dos órgãos diretivos é dominada pela média burguesia intelectual urbana. O

recrutamento para os outros ní-veis é feito · entre a média e pe-quena burguesia: profissionais li-berais, oficiais das Forças Arma-das, pequenos proprietário-s urb-nos, rurais e os burocratas do se-tor público privado . A participa-ção de membros das camadas po-pulares se dá ao nível de 1

I

4 na base do movimento. Estes dados coincidem com a 。オエッセ。カ。ャゥ。￧ ̄ッ@ de origem social dos ex-militantes e é constatado セ。ュ「←ュ@ que estes grupos se encontram em ascensão social.

A faixa etária dos componentes di! AIB é bastante baixa. Em 1933, 3/ 4 dos , dirigentes nacionais regio-nais tinham menos de 30 anos. A maioria dos militantes é cató-lica, há alguns protestantes entre os descendentes de alemães e não há nenhum judeu. Há predomi-nância de membros de origem ru-ral e a orige .-,1 "iuso-brasileira" é mais 」ッセオュ@ entre os dirigentes ao passo que os elementos de as-cendência alemã existem em maior número ao nível ·da base.

Entre as " motivações" de ade-são ao mov imento, Hélgio monta uma esca la pe la freqüência rela-tiva de cada motivo, levando em consideração a distorção sofrida por respostas dadas em 1970, qua-se 40 anos d istanciadas da ação. O principal motivo alegado é o anticom un ismo. Em seguida é de-monstrada simpatia pelo fascísmo europeu, pelo nacionalismo em terceiro lugar, oposição ao sistema ·político pelo combate ao retorno ao sistema liberal em quarto lugar e os outros motivos são

secundá-イゥッウLセ・ョ、ッ@ que pouca 'importância se çlá ao anti-semitismo, a despeito da influência de Gus tavo Barroso no interior do movimento.

A organização da AIB caracteri-za-se: por seu modelo pré-estatal,

marcado por uma estrutura extre-mamente hierarquizada, burocrá-tica e totalitária. A posição do chefe é central e sua função per-pétua . Ela define-se num primei-ro momento como um movimen-to cultural e cívico, recusando-se a ser tomada por um partido pa-I ítico, o que só vem acontecer em 1934, coincidindo com a passa-gem de sua fase "revolucionária" para uma outra, onde disputará o poder pelos canais eleitorais.

Os processos ritualísticos de so-cialização ideológica são

funda-Resenha bibliográfica

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mentais para o estimulo de valo-res de lealdade, obediência e na incorporação de valores fascistas, exaltação à luta, à virilidade, à juventude. Os ritos abrangem desde o batismo até o funeral, além de um ritual de iniciação, juramentos, etc., amalgamados com cerimônias de origem cató-lica.

O capítulo 111 é dedicado à ideo-logia, onde os fundamentos dou-trinários do integralismo são reti-rados dos escritos de Salgado. O manifesto de outubro apóia-se em dois postulados centrais: humanis-mo espiritualista e a harhumanis-monia da vida em sociedade.

O autor analisa o conteúdo dos dois primeiros documentos ideoló-gicos oficiais do integralismo: o Manifesto de 1932, redigido por Plínio e o Abecedário de · 1933, redigido por Miguel Reale, e cons-tata "uma defasagem entre o grau de elaboração da teoria do Estado e o papel que lhe é atribuído na sociedade integralista . ( ... ) No Manifesto, redigido por Salgado, o Estado integralista ocupa um lu-gar secundário e sua caracteriza-ção é bastante vaga, enquanto que no Abecedário, cujo relator é Rea-le, a concepção de Estado é o nú-cleo central do discurso ideológico e · seu conteúdo mais jurídico e

preciso" (p. 226).

Enquanto no Estado fascista

a

moral está subordinada ao eウセ。、ッL@

no Estado integralista o Estado se submete ao imperativo moral.

Os principais inimigos dos inte-gralistas são o liberalismo, o so-cialismo, o capitalismo internacio-nal, não no sentido de uma nega-ção deste, mas no sentido de um ataque ao capitalismo financeiro internacional, instrumen-to de so-ciedades secretas vinculadas ao ju-daísmo e à maçonaria.

Quando tenta perceber se há um reconhecimento explícito de uma influência fascista européia, Hélgio conclui que "o integralismo aceita do fascismo o conteúdo 're-volucionário, o nacionalismo, a orientação superior do Estado', a base '>indicai-corporativa, o prin-cípio da solidariedade social, mas impõe-lhe uma restrição: não deve desrespeitar os direitos fundamen-tais da pessoa humana. A origi-nalidade reivindicada pelo integra-lismo é de ser, enquanto movi-mento e doutrina, mais

'espiritua-lista' do que 'vitalista"' (p. 261). A norma geral é que os princíJ)tos universais do fascismo devem ser adaptados às condições do meio, o que parece concordar com a ambição de Salgado de criar uma doutrina poHtica original.

N.a última parte deste capítulo, Hélgio pretende medir o grau de identificação dos integralistas com o fascismo e o grau de radicalis-mo ideológico dos militantes da AIB. A relação é estabelecida em termos dos principais temas, カセᆳ

lores e préconceitos associados à ideologia fascista, onde o naciona-lismo aparece como elemento prin-cipal, identificando-se um senti-mento generalizado de solidarie-dade face aos modelos fascistas europeus.

O grau de homogeneidade ideo-lógica é bastante alto, sendo que os militantes de base tendem a ser mais radicais que os dirigen-tes . A comparação das atitudes dos militantes da AIB com as dos grupos de controle vem confirmar a hipótese de que os integralistas são mais radicais.

O livro contém ainda anexos com dados sobre o movimento, os questionários, as escalas de atitu-des ideológicas e uma cronologia. A pesquisa empreendida pelo autor é de grande valia para o es-tudo do movimento, parecendo por vezes perder-se em meio ao volume de dados levantados, mas também revelando um tratamento cuidadoso e científico dos mes-mos.

Na introdução, Hélgio reconhe-ce que seu trabalho responde às questões colocadas inicialmente mas que dimensões significativas para a análise do movimento nã? foram abordadas, como, por exem-plo, seu vínculo com o movimento católico, com as Forças Armadas, com a imigração européia no sul do país e uma análise comparativa com outros movimentos de inspi-ração fasdsta européia na Amé-rica Latina, objetos prováveis de trabalhos futuros.

A análise do autor, parece-nos, prende-se muito ao exame interno do movimento, onde as relações deste com a realidade brasileira no período aparecem ao nível de tendências gerais e não da sua atuação específica, seja na sua re-lação com o poder constituído, seja nas alianças estabelecidas

pa-Revista de Administração de Empresas

ra a disputa do poder; são ele-mentos que aparecem de forma complementar em sua análise.

Da mesma forma, o estudo da ideologia integral ista restringe-se, num primeiro momento, à traje-tória de Salgado e a uma análise das atitudes de antigos militantes. A organização dos e lementos dou-trinários básicos da ideologia ofi-cial integralista é muito intesante, porém corre o risco de res-tringir-se a uma descrição, onde as contradições entre este discurso e a atuação histórica da AIB não

são estabelecidas .

o

Referências

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