• Nenhum resultado encontrado

A PEQUENA IMPRENSA RIO-GRANDINA AO FINAL DO SÉCULO XIX: A PRESE NÇA DO JO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "A PEQUENA IMPRENSA RIO-GRANDINA AO FINAL DO SÉCULO XIX: A PRESE NÇA DO JO"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

\

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~

A

A P E Q U E N A I M P R E N S A R I O - G R A N D I N A

A O FI N A L D O S É C U LO X I X :

A P R E S E N Ç A D O J O R N A L I S M O P O l Í T I C O - P A R TI D Á R I O

FRANCISCO DAS NEVES ALVES·

RESUM O

As três últimas décadas do século XIX representaram o período de maior desenvolvimento da imprensa rio-grandina e, nesse quadro, os pequenos jornais também passaram pela sua fase de apogeu. A diversificação e a especialização foram as características marcantes da pequena imprensa de então, onde o jornalismo político-partidário encontrou amplo espaço para se desenvolver, refletindo as disputas político-ideológicas e militares típicas da formação sul-rio-grandense de então. O objetivo deste trabalho consiste em abordar, na forma de estudos de caso, alguns dos grupos políticos que,

naquela época, fizeram-se representar através da pequena imprensa

rio-grandina.

PALAVRAS-CHAVE: imprensa, Partido liberal, positivismo, castilhismo, monarquismo,

anticastilhismo.

1 - I NT RO D Ã O

o

período que vai do final da década de 1860 até a virada do século XIX damarcou uma série de transformações no Brasil, refletindo o processo de transição da Monarquia

à

República. Essas mudanças se originaram a partir do fim da Guerra do Paraguai e o conseqüente desgaste material e humano de cinco anos de enfrentamento bélico, o endividamento externo e uma nova postura trazida por alguns dos militares que do conflito participaram, advinda do contato com os republicanos países platinos e da conscientização do papel por eles exercido na manutenção do Governo Monárquico. Entre as décadas de 70 e 80, a Monarquia sofreu profundo desgaste, perdendo alguns de seus pilares básicos de sustentação - a Igreja, o Exército e a escravidão. O agravamento da crise monárquica era diretamente proporcional ao crescimento do movimento republicano; no entanto, a proclamação da República surpreenderia os próprios republicanos, uma vez, que resultou de um golpe militar .

• Professor do Dep. de Biblioteconomia e História - FURG.

(2)

No Rio Grande do Sul, os últimos anos do Império foram de domínio político do Partido Liberal, que, nas décadas anteriores, crescera na

oposição, com um programa amplamente reformador, tornando-se

hegemônico, em âmbito provincial, entre 1872 e 1889. O movimento republicano rio-grandense apresentou significativas singularidades com relação ao restante do país, pois foi tardio e promovido por jovens sem vínculos políticos anteriores e não ligados às oligarquias tradicionais, as quais, inclusive, tiveram de combater. Além disso, houve o predomínio de uma doutrina positivista como base ideológica, diferentemente das ôutras unidades da federação, onde prevaleceram os princípios liberais.

Uma vez no governo, os republicanos rio-grandenses promoveram uma política de exclusivismo partidário, garantindo espaço político apenas àqueles elementos afinados com o ideário e submissos à liderança de Júlio de Castilhos, que, por sua vez, montou um aparelho político-institucional que visava garantir a perpetuação do Partido Republicano Rio-Grandense no poder. O alijamento dos elementos não ligados ao castilhismo levou a uma série de confrontos políticos, partidários e ideológicos e, vencidas as instâncias do debate, redundou na deflagração da Revolução Federalista, cujos efeitos se fizeram presentes na vida política sul-rio-grandense durante toda a República Velha.

Nesse contexto, os últimos trinta anos do século XIX foram caracterizados pela forte presença dos conflitos político-partidários através da imprensa. Desse modo, traduzindo as próprias disputas que marcaram o cenário político nacional e notadamente o regional, durante o processo de mudança da forma de governo, a "classe política transformou a imprensa em agente orgânico da vida partidária".'

Assim, praticava-se um jornalismo predominantemente opinativo, expressando os jornais seus "interesses e vínculos com grupos políticos", atividade essa "decorrente da militância política como elemento fundamental da estrutura argumentativa de seu discurso de convencimento ideológico e mobilização política?". Na cidade do Rio Grande, alguns dos principais

RÜDIGER, Francisco Ricardo.

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

T e n d ê n c ia s d o jo r n a lis m o . Porto Alegre : Ed. da

UFRGS, 1993. p. 24. Sobre o caráter marcadamente político da imprensa dessa época,

observar também: SODRÉ, Nelson Werneck. Ah is t ó r ia d a im p r e n s a n o B r a s il. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. p. 263 e 268. RÜDIGER, Francisco Ricardo. A imprensa: fonte e agente da Revolução de 1893. In:A n a is d o S e m in á r io F o n t e s p a r a aH is t ó r ia d a R e v o lu ç ã o d e

1893. Bagé, URCAMP, 1983. p. 34-5. FRANCO, Sérgio da Costa.

°

sentido histórico da

Revolução de 1893. In: F u n d a m e n t o s d a c u lt u r a r io - g r a n d e n s e . Porto Alegre: Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio Grande do Sul, 1962 (quinta série). p. 197. FRANCO, Sérgio da Costa. A evolução da imprensa gaúcha e o C o r r e io d o P o v o . R e v is t a d o I H G R S . n. 131, 1995. p. 36-7.

2 FÉLlX, Loiva Otero. Pica-paus e maragatos no discurso da imprensa castilhista. In: POSSAMAI, Zita (org.). R e v o lu ç ã o F e d e r a lis t a d e 1893. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Cultura, 1993. p. 51. FÉLlX, Loiva Otero. Mito e alegoria: o universal e o nacional na luta

46 BIBlOS, Rio Grande, 9: 45-58, 1997.

rupOS políticos que atuaram nessa época se manifestaram através do ~rnalismo, com de~ta~ue para o pratica~o pela p~quena imprensa, ~epresentada por periódicos normalmente ~,al.s abertos Naexpressão direta de opiniões, se comparados aos grandes diários de entao. Dessa maneira, liberais, positivistas, castilhistas, monarquistas e republicanos dissidentes utilizaram-se da imprensa para expressar suas idéias e práticas.

2 -

A

O S L I BE R A I S

Ao final da década de 1860, o Partido Liberal defendia uma série de reformas na sociedade brasileira, compreendendo elementos como a separação entre a Igreja e o Estado, o direito de voto aos acatólicos naturali-zados brasileiros, a soberania popular e o final da escravidão": Na cidade do Rio Grande, os liberais, à essa época, fizeram-se representar pelo jornal O

P a iz , que possuía uma "Parte Política", na qual publicava artiqos intitulados "Profissão de Fé Política", onde defendia suas convicções partidárias.

Na edição de 17 de fevereiro de 1870, o periódico publicava alguns desses pontos, como a "destruição do Poder Moderador", fator fundamental, segundo a folha, para o caminho da "democracia e das reformas". Defendia também o sufrágio universal e as eleições diretas como meio de "manifestação da vontade popular" e "purificação da representação pública, que, investindo o povo do direito imediato do sufrágio", iria habilitá-Io "para os grandes atos da vida pública", dando-lhe "uma recompensa para premiar os seus mandatários zelosos e uma pena para punir os seus mandatários perjúrios". Assim, afirmava:

A e le iç ã o d ir e t a

é

o

p o v o g o v e r n a n d o - s e

a

s i m e s m o , s e n t a n d o - s e

à

m e s a d o b a n q u e t e d a ig u a ld a d e , c a r r e g a n d o c o m

a

r e s p o n s a b ilid a d e

d e s e u s d e s t in o s , in d e p e n d e n t e , f o r t e ; b a r r e ir a in a c e s s í v e l à

c o r r u p ç ã o d o d in h e ir o o u ao t e r r o r d a s b a io n e t a s v e n d id a s .

O

s u f r á g io u n iv e r s a l

é

a

m e d id a q u e

o

p a t r io t is m o r e c la m a .

O

p o v o n ã o

é

n e n h u m a c r ia n ç a , n e m n e n h u m lo u c o , n ã o p r e c is a d a t u t e la d o s

e le it o r e s , d o c a d in h o d o s g r a u s d a e le iç ã o in d ir e t a p a r a e x p r im ir s e u

p e n s a m e n t o . C o r a jo s o

e

liv r e , e le e s c o lh e r á s e u s r e p r e s e n t a n t e s p o r

s i mesmo es u a s u r n a s f a la r ã o c o m a lin g u a g e m d o p a t r io t is m o .

federalista. In: ALVES, Francisco das Neves & TORRES, Luiz Henrique (orgs.). P e n s a r a

R e v o lu Ç ã o F e d e r a lis t a . Rio Grande: Ed. da FURG, 1993. p. 157.

3 PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. V id a p o lí t ic a n o s é c u lo 19. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1991. p. 60-2 .• PICCOLO, Helga Iracema Landgraf. A política rio-grandense no Império. In: DACANAL, J.H. & GONZAGA, S. (orgs.). R S : e c o n o m ia &p o lí t ic a . Porto Alegre: Mercado Aberto, 1979. p. 112.

(3)

A visão do Partido Liberal de ampliar os quadros eleitorais para angariar o voto das populações não-católicas, de expressivo número no Rio Grande do Sul, propondo a liberação dos cultos e a ampliação dos direitos

políticos para os acatólicos, também esteve expressa em

O

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P a iz :

A lib e r d a d e d e c u lt o s p e d e - s e t a m b é m . P o is , c o m o n o s é c u lo

d e z e n o v e , d e s e n t e r r a n d o - s e

o

f a n a t is m o d a in q u is iç ã o , d e g r a d a - s e

d o s d ir e it o s p o lí t ic o s os q u e t ê m

a

in f e lic id a d e d e n ã o a c r e d it a r n o

p e c a d o o r ig in a l o u n a p r e s e n ç a r e a l d a e u c a r is t ia ? ! ( . . . ) N ã o , n ã o s e

d ig a m a is q u e n o B r a s il

a

lib e r d a d e d e c u lt o s , c o n s e q ü ê n c ia ló g ic a d a

lib e r d a d e d e c o n s c iê n c ia ,

é

u m p r in c í p io c o n d e n a d o . ( . . . ) A c a b e - s e c o m

a

s u p e r s t iç ã o q u e e m a n a d o s c o n v e n t o s ; p r o c la m e - s e

o

r e g im e

r a d ic a l d a lib e r d a d e , p o r q u e , a s s im ,

o

B r a s il n ã o s e r á u m a e x c e ç ã o n a

A m é r ic a , u m b o r r ã o n a lis t a d o s p o v o s .

O

jornal ainda apontava, entre as "reformas urgentes" de que o país carecia, a temporariedade do senado, pois, para

O

P a iz , dois fatores estavam viciando a organização do senado, que eram a escolha feita pelo Imperador e a vitaliciedade, o primeiro afetando a origem, e o segundo deturpando a essência daquela instituição, uma vez que:

A e s c o lh a im p e r ia l

é

u m a r e s t r iç ã o n o d ir e it o d o s u f r á g io q u e

é

d o p o v o . A v it a lic ie d a d e

é

a

o r g a n iz a ç ã o d a o lig a r q u ia . I n d e p e n d e n t e s d o p o v o ,

os s e n a d o r e s v o lt a r - s e - ã o p a r a a d o r a r a f a c e d o t r o n o e b e ija r ( . . . ) o

m a n t o q u e p o d e s a c u d ir s o b r e e le s

a

p o e ir a d o u r a d a d a s g r a ç a s .

A s s im , a n iq u ila d o

o

p r in c í p io d a r e p r e s e n t a ç ã o ,

o

s e n a d o n ã o s a b e d o

p o v o ;

é

a p e n a s u m a f a n t a s m a g o r ia a r is t o c r á t ic a n a t e r r a a m e r ic a n a .

Desse modo, O P a iz , comportando-se político-partidariamente como "órgão genuíno do Partido Liberal", serviu à divulgação dos princípios desse grupo que crescia na oposição aos conservadores, através de um programa de amplas reformas. O periódico não sobreviveu, porém, para acompanhar a retomada do poder provincial por parte dos liberais, em 1872, pois sua circulação limitou-se aos anos de 1869 e 1870.

3 - O

A

P O S I TI V I S M O

A história do positivismo no Rio Grande do Sul foi "feita de omissões, compromissos, resistências, erosões e deslocamentos de ênfase", podendo-se considerar a existência de diferentes "positivisrnos'". Junto à pequena

4 BOEIRA, Nelson. O Rio Grande de Augusto Comte. In: DACANAL, J.H. &

GONZAGA, S. (orgs.). RS :c u lt u r a &id e o lo g ia . Porto Alegre: Mercado Aberto, 1980. p. 36.

48 BIBlOS. Rio Grande. 9: 45-58, 1997.

imprensa rio-~.randina, algun~ princípios positivistas foram expressos través do penodlco D e m o c r a c ia .

a No seu "Programa", publicado na primeira edição (14/1/1887), o jornal apresentava-s,~ como ~ma pequena folha "política:', a serviço dos princípios "democráticos. Refletindo o pensamento positivista daquele momento, o periódicO apresentava ~,5"operário como um .ci~adã.o chei? de virtudes", o que "devia ser protegido ; além diSSO,defendia ideais abolicionistas:

N ó s v is it a r e m o s

a

o f ic in a d o a r t is t a

e

ir e m o s

à

s e n z a la d o e s c r a v o : d a q u i p r o c u r a r e m o s a r r a n c a r e s t e h o m e m q u ee r a liv r e q u a n d o

f e t o ; a li, d e m o n s t r a r e m o s q u e

a

c la s s e o p e r á r ia , c o n s id e r a d a a in d a h o je n u m a e s f e r a a q u é m d a q u e la

a

q u e t e m d ir e it o ,

é

p o r n ó s v is t a n o

lu g a r q u e lh e c o m p e t e .

Ainda no "Programa", o periódico revelava sua postura republicana e positivista. Enaltecia o valor da 'Terra de Piratini" e prometia estender-se por toda "esta fração de terra a que uns homens denominaram de Brasil" para fazer a sua propaganda. Argumentava que "a superstição era o aniquilamentà dos povos" e garantia ser "o espectro da superstição". Anunciava também que seguiria "a doutrina de Augusto Comte", almejando a "nação universal".

Traduzindo as "doutrinas médicas positivistas'". a folha criticava as autoridades pelos poucos cuidados tomados com o " c h o le r a " e as possibilidades de a doença se alastrar, exigindo, assim, providências:

N ó s , p a is , f ilh o s , ir m ã o s

e

a m ig o s , em n o m e d o n o s s o d ir e it o ,

s o lic it a m o s os r e c u r s o s d e q u e c a r e c e m o s p a r a o s a n e a m e n t o d o

p e d a ç o d e t e r r a q u e o c u p a m o s . N ã o im p lo r a m o s

a

e s m o la d o g o v e r n o

e s im q u e r e m o s a s u a p r o b id a d e . É t e m p o d e e r g u e r m o - n o s c o n t r a os

a b u t r e s s o c ia is ! N ã o se e s p e c u le c o m as n o s s a s v id a s .

No contexto sul-rio-grandense, as idéias positivistas "afetaram o público em geral, leitor de jornais ou vítima de discursos e conferências"; nesse nível, "o comtismo chegou atrás de clichês, frases soltas, fórmulas grandiloqüentes ou simplesmente de conceitos a admirar (Humanidade, Ordem, Progresso, Ciência, etc.)'". Assim, o jornal D e m o c r a c ia defendia "máximas" contrárias ao "obscurantismo" e às formas de pensar "não-científicas", expressando frases como: "a ignorância é a noite do espírito, mas uma noite sem lua nem estrelas", ou ainda "a luz orna os pensamentos

5 BOEIRA, p. 36.

6 Op. cit., p. 53.

7 Op cit., p. 46.

(4)

profundos". Outro princípio de cunho positivista destacado pela folha foi o progresso, enaltecido como uma idéia de evolução em direção à "liberdade" e fruto da "civilização":

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P r o g r e s s o

é

a

p e r s o n if ic a ç ã o d e u m a id é ia q u e n a s c e e m t o d a s

as

p a r t e s , a s u a p á t r ia e s t á e m t o d a s as la t it u d e s e

o

s e u d e s t in o a c h a

-se e s c r it o n o c o r a ç ã o d e t o d o s os p o v o s . Q u a n d o d a p e r p é t u a e v o lu ç ã o d o s s é c u lo s b r o t a u m r a io d e lu z q u e se c h a m a p e n s a m e n t o ,

r e v e la - s e

o

p r o g r e s s o ; e i- lo , q u a n d o d o c h o q u e d e d u a s f o r ç a s

r e p u ls iv a s n a s c e esse f o g o e t e r n o q u e se c h a m a lib e r d a d e . Q u a n t o

m e is . a lt o f o r

o

g r a u d e c iv iliz a ç ã o d e u m p o v o , t a n t o m a io r

é

a

a m b iç ã o p o r essa c a u s a in f in it a q u e se c h a m a p r o g r e s s o .

O jornal, desse modo, refletia alguns dos ideais do movimento republicano rio-grandense, que se organizava político-partidariamente e arregimentava forças a partir de um modelo positivista; essas idéias tiveram a imprensa como importante órgão de difusão através da Província, o que, no caso da cidade do Rio Grande, deu-se em 1887 através da D e m o c r a c ia .

4 - O

A

C A S TI LH I S M O

A formação da República no Rio Grande do Sul caracterizou-se pelo predomínio absoluto do Partido Republicano Rio-Grandense, através de sua liderança máxima, Júlio de Castilhos, que organizou um aparelho de Estado voltado à manutenção dos republicanos no governo e ao afastamento completo de elementos ligados a outros grupos políticos. O castilhismo, embasado num modelo autoritário e conservadora, teve de enfrentar uma ferrenha oposição, representada pelos alijados do poder e, para isso, também lançou mão da imprensa como verdadeira arma ideológica e de combate aos inimigos.

Entre os pequenos jornais rio-grandinos, alguns defenderam o governo republicano, como o R io G r a n d e d o S u l, que adotou uma postura abertamente castilhista. Essa posição ficava bem demarcada na forma de tratamento que o periódico dava às diferentes partes no confronto entre republicanos e federalistas, como na edição de 2 de janeiro de 1893, quando, analisando o ano de 1892, defendia os primeiros.

Em princípio, o jornal fazia algumas referências à derrubada de Júlio de Castilhos (novembro de 1891) e à ascensão da oposição ao poder, no

8 Sobre o modelo castilhista, observar: RODRIGUES, Ricardo Vélez. O castilhismo. In:

C u r s o d e in t r o d u ç ã o ao p e n s a m e n t o p o lí t ic o b r a s ile ir o . Brasília : Ed. da UnB, 1982. p. 47-79.

LOVE, Joseph L. Or e g io n a lis m o g a ú c h o . São Paulo: Perspectiva, 1975. p. 29-112.

50

BIBLOS. Rio Grande. 9: 45-58, 1997

dominado período do "Governicho". Segundo o periódico, o Estado " e;ava funcionando (...) com toda a tranqüilidade", até o momento em que "~oi constrangido o governo republicano a deixar o poder". A partir daí, aracterizava o "Governicho" como uma época de "desorganização do serviço ~ÚbliCO",na qual ocorreu "uma aluvião de erros administrativos, que reduziram o Estado

à

completa anarquia". Para o R io G r a n d e d o S u l, a volta de Castilhos ao poder (junho de 1892) representava o "restabelecimento da legalidade".

Para a folha, os opositores do castilhismo organizavam-se contra a legalidade, "re~nindo gente nas ;ronteiras vizinhas, onde se armavam,. n~ intuito de invadir a sua terra natal', lançando-a "aos horrores da guerra CIVil'. Diante dessa circunstância, o jornal argumentava que os republicanos só haviam se armado para reagir a uma possível agressão:

É

a s s im q u e

o

g o v e r n o r e p u b lic a n o t e m s e v is t o o b r ig a d o

a

conservei

g e n t e a r m a d a , n ã oc o m o f im d e g a r a n t ir a v id a e a p r o p r ie d a d e

d o s r io - g r a n d e n s e s , c o m o p a r a

consetver

a

in t e g r id a d e d a U n iã o ,

a m e a ç a d a p e lo s m e s m o s e m ig r a d o s .

Assim, o R io G r a n d e d o S u l imputava toda a culpa pela instabilidade política estadual aos "emigrados" da oposição, e dizia que, por causa deles, "tudo estava sofrendo - a lavoura, as artes, as indústrias, o comércio", todos. enfim, segundo a folha, eram "vítimas do ato antipatriótico e irrefletido dos rio-grandenses emigrados". Na mesma linha, apontava os "incalculáveis (...) males causados ao Rio Grande por esses seus ingratos filhos, únicos responsáveis pelo seu atual estado".

O periódico acusava os "emigrados" de monarquistas, pretexto utilizado largamente pelos castilhistas para negar qualquer legitimidade ao movimento rebelde, acusando-o de lutar contra as instituições republicanas. Desse modo, afirmava:

I g n o r a - s e c o m p le t a m e n t e q u a is s e ja m os s e u s in t u it o s p o lí t ic o s ( . )

Q u e c o n f ia n ç a p o d e m t e r e n t r e s i os e m ig r a d o s , q u a n d o - u n s p o u c o s ,

p o r é m os h á - s ã o p e la c a u s a r e p u b lic a n a e o u t r o s , m a n if e s t a d a m e n t e

c o n t r á r io s a e la ? Q u e c o n f ia n ç a p o d e r ã o e le s , em s u a t o t a lid a d e ,

in s p ir a r a o s r e p u b lic a n o s r io - g r a n d e n s e s , a o s d e t o d a a U n iã o e ao

p r ó p r io G o v e r n o F e d e r a l, a q u e m c u m p r e e m p r e g a r os m e io s d e

conservei

a

in t e g r id a d e n a c io n a l?

Para o R io G r a n d e d o S u l, os republicanos castilhistas estavam legitimados no poder, num "Estado constituído", através da Assembléia dos Representantes. Diante dessa "legalidade" do governo republicano, o periÓdico reivindicava o apoio do Governo Federal aos castilhistas.

BIBLOS, Rio Grande, 9: 45-58. 1997.

U f { ' R "

eCIS~

0\8\JO\E.C~

(5)

indicando que cabia "ao Governo da União reprimir o abuso (...) de meia dúzia de chefetes" que estariam ameaçando a integridade nacional.

Desse modo, o

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

R io G r a n d e d o S u l afirmava acompanhar "os patrióticos e pacíficos intuitos do benemérito dr. Júlio de Castilhos", que eram "os do Partido Republicano", defendendo essas idéias durante os anos de fermentação, desenvolvimento e pacificação da Revolução Rio-Grandense de 1893.

Outro pequeno jornal governista foi a C id a d e d o R io G r a n d e , que circulou em 1897, apresentando-se como "órgão do Partido Republicano". Na edição de 18 de abril, o periódico diagnosticava as causas das dificuldades econômicas enfrentadas pelo país, localizando-as nas práticas do Governo Federal, eximindo o Governador gaúcho, e na ação dos rebeldes federalistas:

P o r o u t r o la d o ,

é

f o r ç o s o c o n f e s s a r , c a b e

a

r e s p o n s a b ilid a d e d a s it u a ç ã o a t u a l a o s m a u s b r a s ile ir o s , f ilh o s e s p ú r io s d e s t a g r a n d e

P á t r ia , os q u a is , t e n t a n d o s u b v e r t e r

a

o r d e m p ú b lic a p o r m e io d e u m a

r e v o lt a in c r u e n t a e s e m ju s t if ic a ç ã o , o b r ig a r a m , c o m o e r a n a t u r a l,

o

g o v e r n o d e e n t ã o

a

d e s p e n d e r s o m a s c o n s id e r á v e is p a r a q u e

o

p r e s t í g io d a a u t o r id a d e c o n s t it u í d a n ã o f o s s e c o n s p u r c a d o , n e m

e n f r a q u e c id o , p o r q u e se is t o s u c e d e s s e , [seria] o m a l d a s in s t it u iç õ e s

e o m a l d a R e p ú b lic a , q u e t e r ia d e s u je it a r - s e ao t r e s lo u c a m e n t o d e q u a lq u e r c a u d ilh o a r m a d o p a r a o c o m b a t e , [levando] ao d e s c r é d it o e

v e r g o n h a d o n o s s o n o m e .

Na edição de 15 de setembro de 1897, a folha demonstrava que as querelas entre os diferentes grupos partidários, através da imprensa, continuavam a se manifestar, mesmo encerrada a guerra civil:

O p ú b lic o t e m p r e s e n c ia d o a n o s s a a t it u d e t o d a s as v e z e s q u e , p o r d e v e r d e o f í c io , [tivemos] a n e c e s s id a d e in a d iá v e l, im p e r io s a m e s m o

d e le v a r ao a d v e r s á r io d e s le a l e s e m n o ç õ e s d e m o r a l p o lí t ic a , o

lá t e g o d a c r í t ic a e n é r g ic a , p o r é m , h o n e s t a . ( . . . ) A p e r v e r s id a d e q u e

p r e t e n d e n o s a g r e d ir , q u e in v e n t a ameaças, q u e p r o m e t e d iz e r m a l d e

t o d a s as c o is a s e d e t o d o s os c a r á t e r e s , p o r q u e t e m s id o e s t a a s u a

in v e já v e l c o n d u t a , e , p a r a e x e m p lo ( . . . ) b a s t a c it a r as

d e s c o m p o s t u r a s , os c o n c e it o s r e le s , o d e s p e jo d e s u a in v e ja , c o n t r a o

g r a n d e p a t r í c io q u e c h e f ia

o

E s t a d o ( . . . ) . E

é

p o r e s s e m o d o q u e q u e r e m d is c u s s ã o ? ( . . . ) De u m a c o is a f iq u e c ie n t e a o p o s iç ã o : ja m a is

d e ix a r e m o s d e c u m p r ir

o

e s p in h o s o e n c a r g o q u e n o s f o i in v e s t id o p e la c o n f ia n ç a r e p u b lic a n a e n e s s e s e n t id o n ã o t e m e m o s

a

c ó le r a d o a d v e r s á r io , p o r q u e

é

e s s e

o

ú n ic o r e c u r s o d o s f r a c o s .

52 SISLOS, Rio Grande, 9: 45·58, 1997.

Dessa forma, a C id a d e d o R io G r a n d e , como órgão castilhista, refletia ermanência do conflito entre as forças que se defrontavam desde o :d~ento da República no Rio Grande do Sul.

5 -

A

O M O NA R Q U I S M O

Após o advento da nova forma de governo, manifestaram-se idéias restauradoras no Brasil, de modo que as atividades dos monarquistas refletiam "os .ssforços de um grupo político minoritário que procurou, por todos os meios de que dispôs, promover a queda do novo regime", chegando a ser "responsabilizado pela maioria dos acontecimentos que abalaram os inícios da Republica'" . A imprensa também serviu à divulgação das idéias monarquistas, fenômeno que também se manifestou no contexto

rio-grandino.

Um desses jornais foi o C o m b a t e , que, na edição de 10 de abril de 1892, apontava os males trazidos pela República ao país, acusando os novos donos do poder de ocuparem-se de seus interesses pessoais, deixando de lado os da nação:

P é s s im a

é

a

s it u a ç ã o p o r q u e a t r a v e s s a e s t e , c o m o os d e m a is e s t a d o s d o B r a s il. A d e s o r ie n t a ç ã o p o lí t ic a ,

a

d ir e ç ã o d o s h o m e n s d o g o v e r n o f a z e m - s e s e n t ir em t o d o s os p o n t o s d a R e p ú b lic a . E s s e s

h o m e n s , o u p o r o u t r a , e s s e s r e p u b lic a n o s " e le it o s em n o m e d o p o v o " .

n ã o a d o t a r a m a t é a g o r a u m a ú n ic a m e d id a , p e la q u a l se v e ja o s e u

in t e r e s s e p e la c a u s a p ú b lic a . P o lí t ic a , t ã o s o m e n t e d e p o lí t ic a c u id a m

t o d o s ; p o s iç ã o s e g u r a , r e n d im e n t o s q u e I h e s g a r a n t a m u m a e x is t ê n c ia

f o lg a d a ,

a

p o s s e d e u m c a r g o ( . . . ) t e m s id o

°

le m a s e g u id o p o r a q u e le s q u e o u t r o r a t u d o p r o m e t ia m e a t u d o , in f e liz m e n t e , t ê m

f a lt a d o . A q u e e x t r e m o r e d u z ir a m

o

n o s s o c a r o B r a s il! É t e m p o d e p ô r

c o b r o

a

s e m e lh a n t e e s t a d o d e c o is a s .

Mesmo que afirmasse não ter "credo político", nem "fazer questão de forma de governo", o C o m b a t e fazia pronunciamentos abertamente anti-republicanos, como no artigo "Pela Monarquia", no qual declarava que, junto da forma monárquica, foram "banidos do Brasil o crédito, a liberdade. os sentimentos de civismo dos homens políticos, a disciplina do Exército, a Vontade popular, a honra e probidade administrativa". O jornal também demonstrava todo o ressentimento para com aqueles que haviam "traído" a Monarquia, denunciando a pobreza do país, devida

9

B JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Os s u b v e r s iv o s d a r e p ú b lic a . São Paulo rasilien.se, 1986. p.11.

(6)

[aos]

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

a s s a lt a n t e s d o s c o f r e s p ú b lic o s , q u e , n ã o c o n t e n t e s d a s g r o s s a s q u a n t ia s c o m q u e se a r r a n ja r a m , a in d a a q u in h o a r a m os

s e u s p a r e n t e s

e

a d e r e n t e s

à

r e p ú b lic a ;

à

f a lt a d e p a t r io t is m o

e

a b n e g a ç ã o d o s h o m e n s q u e p o r lo n g o s a n o s a n d a v a m

a

e n g a n a r

a

n a ç ã o c o m p r o m e s s a s d e r e g e n e r a ç ã o d e c o s t u m e s ( . . . ) ; ao

E x é r c it o t r a id o r

ao

ju r a m e n t o p r e s t a d o d e d e f e n d e r

a

c o n s t it u iç ã o

lib é r r im a q u e t í n h a m o s ; ao p o v o , e n f im , q u e se d e ix o u ilu d ir p o r

a lg u n s b a c h a r é is v a d io s , e r g u id o s às c u lm in â n c ia s d o ! p o d e r n a

p o n t a d a s e s p a d a s d o s s o ld a d o s ig n o r a n t e s g u ia d o s p o r m ilit a r e s

s e m m é r it o o u v a lo r ( . . ) . É t e m p o p o r t a n t o d e d e s p e r t a r m o s

e

c o r r e r c o m e s s e s v e n d ilh õ e s .

Assim, o C o m b a t e propunha que todos se sacrificassem para "salvar

o país, guerreando a esses falsos governos, a essa República (...) incompatível com a índole, costumes, moralidade e liberdade" dos brasileiros. Seus pronunciamentos monarquistas, porém, durariam pouco, não circulando além do ano de 1892.

Outra folha monarquista que circulou no Rio Grande, a partir do segundo semestre de 1892, foi A A c t u a lid a d e . Esse jornal considerava que a partir do 15 de Novembro havia se iniciado um período de agruras para o país (5/2/1893), criticando a política externa brasileira no caso da disputa pelas "Missões"; as práticas econômicas republicanas, com o inflacionário "Encilhamento"; a forma de distribuição de terras; e os critérios empregados para as promoções militares:

T iv e m o s a q u e s t ã o d a s M is s õ e s e a v ia g e m " t r iu n f a l" d o s e n h o r

B o c a iú v a ; t iv e m o s

o

E n c ilh a m e n t o ( . . . ) ; t iv e m o s as d o a ç õ e s d e t e r r a s b r a s ile ir a s p a r a a lg u n s f e liz e s p r o t e g id o s d o G o v e r n o P r o v is ó r io ;

t iv e m o s , n ã o

o

t r á f ic o d e c o n d e c o r a ç õ e s , m a s as p r o m o ç õ e s e s p o n t â n e a s : c a p it ã e s d e

15

d e N o v e m b r o já s ã o b r ig a d e ir o s .

O periódico reclamava do "emudecer" da imprensa, do parlamento e da opinião pública, diante daquele "estado de coisas". Isso, segundo a folha, permitia que só o governo "falasse, pensasse e agisse", transformando o Brasil num "corpo inerte, atado à cauda deste ginete desenfreado", como descrevia o governo republicano.

Destacando a corrupção praticada na França, A A c t u a lid a d e

comparava a situação dessa República com a do Brasil; além disso, apontava para "rumores do sul", referindo-se às forças anticastilhistas que, na fronteira, preparavam-se para invadir o Estado e iniciar a Revolução, e apelava:

54 BIBLOS. Rio Grande, 9:45-58, 1997.

A t é q u a n d o d u r a r á e s t e e s t a d o d e c o is a s ? O u v im o s r u m o r e s

lo n g f n q u o s d o s u l . . .

O

q u e n o s r e s e r v a

o

d ia d e a m a n h ã ? E n q u a n t o n ã o v e m

a

a u r o r a d a r e d e n ç ã o , m e d it e m o s n o e x e m p lo d a F r a n ç a

r e p u b lic a n a e e x p ie m o s as nossas c u lp a s , a nossa in g r a t id ã o , a n o s s a

in d if e r e n ç a .

A

F r a n ç a r e p u b lic a n a e s t á d e s m a s c a r a d a .

D e s m a s c a r e m o s p o r ig u a lo B r a s il r e p u b lic a n o .

O jornal monarquista fazia constantes ataques à falta de liberdade de expressão predominante durante os primeiros governos republicanos, como na edição de 4 de setembro de 1892, na qual afirmava que a imprensa era -uma conquista da civilização", precisando "gozar da mais ampla liberdade", e considerava que "toda a tentativa de sufocá-Ia entrava no capítulo das grandes temeridades". Demonstrava também o saudosismo com relação aos tempos da Monarquia, argumentando que nessa época "era a imprensa uma instituição que dos poderes públicos merecia o maior acatamento", quando o "Velho Imperador era o primeiro a dar o exemplo de amor e de interesse a tudo quanto com ela se relacionasse".

O princípio da liberdade de imprensa, porém, não conseguiu garantir a continuidade da publicação de A A c t u a lid a d e , que, seguindo o caminho de uma série de jornais monarquistas pelo Brasil, teve de fechar as suas portas em setembro de 1893, com o desencadear da Revolução Federalista.

6 -

A

O A N TI CA S TI LH I S M O

A partir do exclusivismo político praticado pelos republicanos castilhistas, desenvolveu-se uma forte oposição, formada por liberais gasparistas, elementos do extinto Partido Conservador e dissidentes republicanos, representando as forças políticas excluídas do poder. Esses grupos oposicionistas "tentaram articular, juntos ou separadamente, em diversos momentos, frentes políticas visando" a combater os republicanos; "essas frentes reuniam grupos políticos com conceitos, idéias e objetivos diferenciados e, às vezes, até mesmo antagônicos; o único fator em comum que os unia era o anticastilhismo"."?

Junto à pequena imprensa rio-grandina, as forças anticastilhistas foram representadas por dois periódicos ligados às dissidências rep~blicanas, Um deles, a T r ib u n a F e d e r a l, apresentava-se como "órgão do Partido Republicano Federal", agremiação formada para abrigar os republicanos alijados do partido castilhista. Na edição de 10 de dezembro de

10 '

(18 ALVES, Francisco das Neves, Oposições e dissidências no Rio Grande do Sul

96-1908),: tentativas de rearticulação. B ib lo s , Rio Grande, v. 7,1995. p. 190.

818lOS. Rio Grande, 9:45-58, 1997.

(7)

1893 o jornal fazia críticas ao governo republicano, usando uma linguagem figurada. No artigo "Fora do Paraíso", o periódico realizava uma analogia entre a passagem bíblica da expulsão de Adão e Eva do Paraíso e a sua

visão sobre o momento político rio-grandense:

aZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

U m a t r e v a p e s a d a d e s c e u s o b r e

a

t e r r a . ( . . . ) F o i e n t ã o q u e c o m e ç o u

a

m ig r a ç ã o d o s a n im a is

fel

e n r o s c a d o n a á r v o r e d a c iê n c ia ,

o

p í t o n d o p e c a d o s ib ila v a d e g o s t o . V e n c e r a ! ( . . . ) E v a , v o lu p t u o s a , lâ n g u id a ,

a m o le c id a p e lo a m o r , e s c o n d e u - s e e n t r e os c a c t u s , o lh a n d o u m a

s o m b r a q u e a b r ia , n o f a c h o lu m in o s o d a lu a , a s a s n e g r a s e e n o r m e s

d e v a m p ir o e f u g ia s ib ila n d o v it o r io s a m e n t e . E r a

o

p í t o n d o p e c a d o q u e e s p a lh a v a p e la n a t u r e z a

a

n o v a d o d e s a b r o c h a m e n t o d a s

p r im e ir a s p e n a s .

Desse modo, o periódico lançava mão do recurso da linguagem simbólica para representar seu pensamento sobre o contexto rio-grandense de então, mostrando as "trevas" trazidas ao "Paraíso" (o Rio Grande do Sul), provocando uma "imigração" de seus habitantes (os rebeldes emigrados na fronteira); e a "Eva" (representando a população), que fora corrompida por um "vampiro", o "píton do pecado", que se encontrava enroscado na "árvore da ciência", referindo-se ao positivista Júlio de Castilhos.

Outra folha que representou as dissidências republicanas no Rio Grande foi a T r ib u n a d o P o v o , circulando após a Revolução Federalista (1897-8) e refletindo a permanência dos confrontos políticos, mesmo após a pacificação. Na edição de 15 de junho de 1898, a folha fazia amplas críticas ao governador Júlio de Castilhos e condenava ironicamente os castilhistas por julgarem-se inabaláveis no poder, tendo em vista a estrutura montada pelo seu líder máximo, pela qual não precisariam ter a mínima preocupação, nem mesmo quando a conjuntura política nacional não Ihes fosse favorável:

" N o s s o d it a d o r s u p r e m o é u m v e r d a d e ir o h o m e m d e E s t a d o , p o is

o r g a n iz o u d e t a l m a n e ir a

o

p a r t id o ,

a

p o lí t ic a e

a

a d m in is t r a ç ã o , a c u m u lo u t a n t o s e le m e n t o s d e f o r ç a e a u t o n o m ia , q u e

a

ú lt im a

t e m p e s t a d e p a r la m e n t a r ( . . . ) n ã o t e v e r e a ç ã o a p r e c iá v e l s o b r e

o

R io G r a n d e , o n d e c o n t in u a r e m o s

a

im p e r a r a b s o lu t a m e n t e , d e s d e n h a n d o

as v ã s in v e s t id a s d a o p o s iç ã o d e m o c r á t ic a " - e is , n u m a p r e s s a d o p o r é m f ie l r e s u m o ,

o

q u e b la s o n a m os c a s t ilh is t a s v e r m e lh o s .

O jornal analisava essa posição dos castilhistas como prova "das graves mutações da política republicana nacional", onde "aqueles degenerados olhavam logo e exclusivamente o utilitário" e colocavam-se "a calcular, num materialismo grosseiro, os resultados práticos da vitória deste

56

BIBLOS, Rio Grande. 9' 45-58. 1997

u daquele grupo, com relação à ditadura sulista".

o A T r ib u n a d o P o v o criticava as ações do Governo Central por não 'ntervir na política rio-grandense, permitindo a continuidade da "fidalguia ~omtista" no poder, e declarava que bastaria uma atitude por parte do presidente da República, qual fosse "não atender mais a indicação alguma de Castilhos em favor de seus afilhados", para desmontar "a terrível máquina" montada pelo Governador, que compreendia "os correios até as estradas de ferro". Argumentava quanto ao acerto dessa possível intervenção, apontando as próprias atitudes de Júlio de Castilhos, que, segundo o jornal, iludia "a boa fé dos ministros do Centro" e fingia-se, "até a última hora, soldado da política governista", traindo o Governo Federal. Considerava que o fim do apoio presidencial significaria a derrocada do

castilhismo:

R e s o lv a - s e

o

d r . P r u d e n t e d e M o r a e s

a

r e t ir a r t o d o e q u a lq u e r a p o io

a

C a s t ilh o s , p o n h a - o a p ã o e á g u a , c ir c u n s c r e v a o t ir a n e t e

r ig o r o s a m e n t e ao d o m in io lo c a l e n ã o le v a r e m o s d o is m e s e s s e m v e r

o

in v e n c iv e l p a r t id o d e r é d e a n o c h ã o e c a b is b a ix o .

Quanto às oposições rio-grandenses, a T r ib u n a d o P o v o considerava-as perenes, tendo em vista que "as agremiações políticas, criadas e mantidas pelo ardor de elevados princípios e dirigidas por homens cuja capacidade proporcionava a vastidão das simpatias populares", tendiam a ser estáveis e de longa duração.

As críticas ao castilhismo eram ferrenhas, de modo que o jornal imaginava-o como "um libertino", que praticava "toda a sorte de devassidões e crimes" e que "tão grandes males vinha causando ao Rio Grande". Simbolicamente, destacava que o "casamento" entre a República e Júlio de Castilhos era inviável, bem como este não tinha as mínimas condições de "salvar" aquela:

E

o

v e lh o D . J u a n c a s t ilh is t a , c o r r o m p id o a t é

a

m e d u la d o s o s s o s

c a r ia d o s ; v e n a liz a d o p o r t o d a s as t r a f ic â n c ia s im a g in á v e is e p o r

im a g in a r , ju lg a - s e a in d a c a p a z d e s a lv a r

a

R e p ú b lic a . ( . . . )

N e m é lim p o e s c r e v e r

o

q u e

o

e s p ir it o s e n t e . . . O c a s a m e n t o e m t a is

c o n d iç õ e s

é

im p o s s iv e l, a g o r a e s e m p r e . ( . . . )

S e r á r a p t o

o

q u e

o

c a s t ilh is m o e s t á q u e r e n d o e f e t u a r ?

S e é, e n g a n a m - s e , n ã o

o

d e v e m : f a lt a

a

b o a v o n t a d e d a p a r t e m a is

in t e r e s s a d a .

, Desse modo; a d e f e s a de práticas e idéias amplamente antlcastilhistas e a auto-intitulação de "folha republicana" aproximavam a

(8)

T r ib u n a d o P o v o

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

das dissidências republicanas. Coincide a publicação do jornal com um dos momentos de rearticulação dessas dissidências, pois

formara-se, em julho de 1896, o Partido Republicano Liberal!", composto por "dissidentes históricos" e recém-egressos do Partido Republicano Rio-Grandense. A identidade entre os pronunciamentos do periódico e os das dissidências é notória, principalmente quanto ao ataque contra os republicanos castilhistas, acusados de terem se desviado do pensamento republicano original.

Demarcavam-se, assim, as diferentes vertentes republicanas quanto aos rumos da nova forma de governo. Para a T r ib u n a d o P o v o , não eram os castilhistas os defensores da "verdadeira república", e sim

n ó s o u t r o s , q u e p r o c u r a m o s ( . . . )

o

in t e r e s s e m o r a l p a r a

a

f e lic id a d e

e

c r é d it o d a R e p ú b lic a .

Dessa maneira, diversos dos partidos e tendências políticas que atuaram no complexo quadro político rio-grandense, durante o processo de transição

à

nova forma de governo, fizeram-se presentes no Rio Grande, através de sua pequena imprensa. Com uma prática jornalística predominantemente opinativa, os periódicos político-partidários desse período possuíam um papel de representação direta/indireta daqueles agrupamentos, como órgãos de partido e/ou atendendo aos interesses de seus responsáveis.

11 Sobre essa agremiação partidária, observar: ALVES, p. 195-7.

Referências

Documentos relacionados

Assim, constroem-se metas coletivas, com trabalhos capazes de (re)significar o ensino superior na atual sociedade tecnológica, sem esquecer o envolvimento e o

Tendo em vista as importantes revisões a respeito da eficiência das macroalgas como biofiltros no tratamento de efluentes aquícolas, o presente estudo fez uma avaliação do

técnico pela execução das obras, os quais assinarão uma declaração (que estará descrita no quadro padrão das pranchas de desenhos) que a obra será executada de

Os resultados que foram obtidos em campo mostraram que as avaliações realizadas no sistema de irrigação foram satisfatórias, visto que, apresentou uma excelente uniformidade de

9.2.4 O candidato que não encaminhar os documentos elencados nas alíneas “a” e “b” do item 9.2.1 do edital ou que não encaminhar a documentação no prazo estabelecido

Quer dizer, já há mais de três anos a gente vem investindo em melhorar as nossas práticas nesse segmento, fizemos grandes projetos em pequenas empresas, fizemos grandes

Nosso escopo é examinar que significados são produzidos para os objetos financeiro- econômicos diante de situações-problema de consumo, como são feitas as escolhas e tomadas

4.3. Objetivos do Módulo IV: ao final do curso os alunos deverão ser capazes de se apresentar em ambientes formais e informais, fornecer informações pessoais, apresentar