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O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC) COMO INSTRUMENTO DE CONVIVÊNCIA SUSTENTÁVEL COM O SEMIÁRIDO: A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE CACIMBAS NO MUNICÍPIO DE JAGUARIBE-CE

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA, CONTABILIDADE E SECRETARIADO EXECUTIVO – GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS ECONÔMICAS

HEITOR BEZERRA MOREIRA

O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC) COMO INSTRUMENTO DE CONVIVÊNCIA SUSTENTÁVEL COM O SEMIÁRIDO: A EXPERIÊNCIA DA

COMUNIDADE CACIMBAS NO MUNICÍPIO DE JAGUARIBE-CE

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HEITOR BEZERRA MOREIRA

O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC) COMO INSTRUMENTO DE CONVIVÊNCIA SUSTENTÁVEL COM O SEMIÁRIDO: A EXPERIÊNCIA DA

COMUNIDADE CACIMBAS NO MUNICÍPIO DE JAGUARIBE-CE

Monografia apresentada ao corpo docente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito para obtenção do Título de Bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Fabio Maia Sobral

FORTALEZA

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HEITOR BEZERRA MOREIRA

O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC) COMO INSTRUMENTO DE CONVIVÊNCIA SUSTENTÁVEL COM O SEMIÁRIDO: A EXPERIÊNCIA DA

COMUNIDADE CACIMBAS NO MUNICÍPIO DE JAGUARIBE-CE

Monografia apresentada ao corpo docente do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Ciências Economia.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________ ______ Prof. Dr. Fabio Maia Sobral (Orientador) Nota Universidade Federal do Ceará (UFC)

_______________________________________________________ ______ Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos Nota Universidade Federal do Ceará (UFC)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por tudo e, principalmente, por me dar força e saúde para continuar iluminando o meu caminho para buscar os meus objetivos.

Aos meus pais, José Maria Moreira e Ivoneide Bezerra da Silva Moreira, por toda força, dedicação e por acreditaram em mim todos os momentos.

Aos meus Irmãos Igor Bezerra e Reuber Bezerra, que sempre me apoiaram e me acompanharam nessa Jornada.

Aos meus familiares, em especial, minha tia Maroni Rosa Moreira, por todo apoio e pela força nos momentos mais difíceis dessa jornada.

A minha namorada, Sara Raquel, por todo apoio e paciência.

Aos amigos, Gustavo Albrecht, Alexandra Pedrosa, Eufrasina Barbosa, Luana Holanda, Rodrigo Bezerra, Raduan Bezerra, Jucelio Gomes, Robson Andrade, e os demais colegas de jornada que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a minha formação e para a consecução deste trabalho.

Ao professor Fábio Sobral, pela paciência, disposição e orientação na realização deste trabalho, que sem sua importante ajuda não teria sido concretizado.

Ao Secretário de Agricultura do município de Jaguaribe-Ce, Branquinho, pela atenção e pelas informações cedidas para realização do trabalho.

Ao Vereador Auricélio, pela atenção e toda ajuda.

A Francisco dos Santos Bento, líder da associação dos agricultores da comunidade Cacimbas, pela receptividade e todo o apoio na pesquisa de campo.

A todos os moradores da comunidade Cacimbas, pela atenção dedicada na realização da pesquisa de campo.

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RESUMO

Analisar se o Programa Um Milhão de Cisternas é um instrumento eficiente para a convivência sustentável com o semiárido no Município de Jaguaribe-Ce, na comunidade Cacimbas. O Programa, a partir da construção de cisternas rurais para as famílias mais pobres do sertão, tem uma concepção inovadora e com objetivos que buscam ajudar a construir uma nova visão da região, tendo a questão da sustentabilidade e os atores sociais locais como o eixo e a finalidade de suas ações. Contando com financiamentos do governo federal, da iniciativa privada, de agências de cooperação internacional e de ONG’s, o programa é conduzido exclusivamente por representantes de organizações da sociedade civil local (sindicatos de trabalhadores rurais, associações comunitárias, clubes de serviço, pastorais da igreja, etc.) reunidos em comissões, e suas ações implementadas de forma descentralizada e participativa. A escolha da localidade justifica-se por esta fazer parte do semiárido brasileiro e está dentro da área de atuação do P1MC. Foi feito um levantamento de dados através de documentos, relatórios e cadastros elaborados pelas entidades responsáveis pela sua execução do Programa no estado, bem como a realização de pesquisa de campo através de questionário, aplicado às 10 (dez) famílias que foram beneficiadas pelo Programa na comunidade Cacimbas. Através dos resultados obtidos, pôde-se analisar cinco aspectos importantes: convivência com o ambiente em que as famílias vivem; econômico da convivência com o semiárido; convivência com o semiárido com qualidade de vida; cultura e a convivência com o semiárido e, por fim; convivência como proposta de mobilização da sociedade e do Estado. Os resultados da pesquisa permitem concluir que o P1MC, de fato, é um instrumento eficiente para a convivência com o semiárido, mas que precisa de alguns ajustes no aspecto da economia da convivência.

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ABSTRACT

Analyze if the One Million Cisterns Program is an effective tool for sustainable coexistence with the semiarid in the city Jaguaribe/CE, in Cacimbas community. From the construction of rural tanks for the poorest families in the hinterland, the program has an innovative perception and objectives that seek to help build a new vision of the region and the issue of sustainability and local social actors as the axis and the purpose of their actions. Counting with funding from the federal government, the private sector, international cooperation and NGO agencies, the program is conducted exclusively by representatives of local civil society organizations (rural workers' unions, community associations, service clubs, pastoral church, etc.) gathered in committees and their actions implemented in a decentralized and participatory manner. The choice for this location is justified because this area belongs to Brazilian semi-arid and is within the P1MC working area. A data survey was done through documents, reports and records prepared by the entities responsible for their implementation in the state, as well as conducting field research through a questionnaire applied to ten (10) benefited families from the program in the Cacimbas community. Through the results, we could look at five important aspects: the coexistence with the environment in which families live; the economic coexistence with the semiarid; living in the arid region with quality of life; culture and living with the semi-arid and finally; living together as a proposal for mobilization of society and the state. The research results supports a conclusion that the P1MC, in fact, is an efficient tool for the living with the semi-arid region, but needs some adjustments to the aspect of living economy.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 - Ações que configuram a convivência com o semiárido ... 27

Figura 02 - Nova delimitação do semiárido ... 34

Gráfico 01 - Percentual de Cisternas por Unidade da Federação ... 41

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Metas do P1MC para cinco anos ... 38

Quadro 2 - Histórico orçamentário da Construção de Cisternas, de 2005 a 2010 ... 39

Quadro 3 - Cobertura do P1MC ... 40

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGEPISA Águas e Esgotos do Piauí

AMUPE Associação Municipalista de Pernambuco

ANA Agência Nacional de Águas

APRECE Associação dos Municípios do Estado do Ceará

AP1MC Associação do Programa Um Milhão de Cisternas

ASA Articulação no Semiárido Brasileiro

BNB Banco do Nordeste do Brasil

CAERN Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte

CAGECE Companhia de Água e Esgoto do Ceará

CAGEPA Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba

CASAL Segundo a Companhia de Saneamento de Alagoas

CEDEC Coordenadoria Estadual da Defesa Civil no Ceará

CGU Controladoria Geral da União

COMPESA Companhia Pernambucana de Saneamento

CNM Conselho Nacional dos Municípios

Data SUS Departamento de Informática do Sistema Único De Saúde

DESO Companhia de Saneamento do Sergipe

DNOCS Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

EMBASA Empresa Baiana de Águas e Saneamento

FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

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IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IES Índice de Exclusão Social

IOCS Inspetoria de Obras Contra as Secas

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MMA Ministério do Meio Ambiente

ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PBF Programa Bolsa Família

PNB Produto Nacional Bruto

PROHIDRO Programa de Recursos Hídricos do Nordeste

P1MC Programa Um Milhão de Cisternas

SIGA Sistema de Informação, Gestão e Auditoria

SIG. CISTERNAS Sistema de Informação Gerencial do Programa Cisternas

SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste

TCU Tribunal de Contas da União

UGC Unidade Gestora Central

UGE Unidades Gestoras Estaduais

UGM Unidades Gestoras Municipais

UMG Unidades Gestoras Microrregionais

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

1 MARCO CONCEITUAL ... 17

1.1 Crescimento e Desenvolvimento Econômico ... 17

1.2 Políticas Públicas e a Seca no Nordeste Brasileiro ... 19

1.3 A Convivência com o semiárido ... 24

2 O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC) ... 29

2.1 Contexto de criação do P1MC ... 29

2.2 Princípios Norteadores do P1MC ... 30

2.3 Componentes do P1MC ... 31

2.4 Objetivos do P1MC ... 32

2.5 Critérios de atendimento e público-alvo do P1MC ... 32

2.6 Foco e área de atuação do P1MC ... 33

2.7 Estrutura operacional do P1MC ... 35

2.8 Balanço geral do Programa até janeiro de 2013 ... 37

2.8.1 Resultados Quantitativos do P1MC ... 37

2.8.2 Mobilização Social e Processos Educativos ... 42

2.8.3 Cisternas de Placas x Cisternas de PVC ... 44

3 A EXPERIÊNCIA DA COMUNIDADE CACIMBAS NO MUNICÍPIO DE JAGUARIBE-CE... 47

3.1 Caracterização da área da pesquisa ... 47

3.2 Metodologia ... 51

4 RESULTADO DA PESQUISA... 53

5 ANALISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA ... 58

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REFERÊNCIAS ... 63

ANEXO A - Questionário da Pesquisa... 66

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INTRODUÇÃO

A seca é um fenômeno natural que tem registro histórico no Brasil desde 1552. Mesmo que tenha um caráter natural a seca ocorre em diferentes conjunturas sociais e incide, negativamente, nas condições de vida da população do semiárido brasileiro. Há décadas surgiram inúmeras ações de políticas públicas na tentativa de ajustar distorções conjunturais, devido ao fenômeno da seca. (VILLA, 2001)

Segundo a atual delimitação o semiárido brasileiro abrange 1.133 municípios com uma área de 969.589,4km², correspondente a quase 90% da região Nordeste (nos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia); e mais a região setentrional de Minas Gerais. (SILVA, 2010)

Segundo o FEBRABAN (2007), vivem nesta região aproximadamente 21 milhões de pessoas e estima-se que dos 8 milhões de pessoas morando na área rural, dois terços se encontrem a pelo menos 1 hora/dia do local onde há água disponível.

O semiárido é caracterizado pela deficiência hídrica, pela escassez, irregularidades e concentração das precipitações pluviométricas e pela presença de solos pobres em matéria orgânica.

As chuvas anuais vão de 400 mm a no máximo 800 mm ao ano. A pluviosidade é concentrada em um curto período de cerca de três a cinco meses, durante o qual ocorrem sob a forma de fortes aguaceiros, de curta duração. A água presente no subsolo apresenta alta salinidade devido ao solo cristalino da região, o que a torna impropria para o consumo humano. As chuvas são má distribuídas física e temporalmente, com elevado índice de evaporação devido às características climáticas da região.

Para suprir a deficiência de água para o consumo humano destaca-se a cisterna como uma tecnologia popular para a captação de água da chuva, onde a água que escorre do telhado da casa é captada pelas calhas e cai direto na cisterna, onde é armazenada. Com capacidade de aproximadamente 16 mil litros de água, a cisterna supre a necessidade de consumo de uma família de cinco pessoas por um período de estiagem de oito meses.

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cálculos científicos minuciosos, levando em consideração a pluviosidade, a dimensão dos telhados, o número de pessoas na casa, a educação dos usuários. (MALVEZZI, 2001)

Nesse sentido, o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), iniciativa de uma organização da sociedade civil que se tornou uma política pública, coloca-se como o início de uma nova interação sociedade-natureza, ou seja, se o semiárido não pode se transformar numa região úmida, pode-se mudar a forma de vida da população que nele convive. (CÁRITAS BRASILEIRA, 2001)

Assim, a partir dos fatos aqui apresentados, o estudo tem como objetivo principal analisar se o Programa Um Milhão de Cisternas é um instrumento eficiente para a convivência sustentável com o semiárido.

Os objetivos específicos são: analisar convivência com o ambiente em que as famílias vivem; analisar os aspectos econômicos da convivência com o semiárido; analisar os aspectos da convivência com o semiárido com a qualidade de vida; analisar os aspectos culturais da convivência com o semiárido e, por fim; analisar a convivência como proposta de mobilização da sociedade e do Estado.

A experiência do P1MC no Município de Jaguaribe, no estado do Ceará, se constitui no objetivo deste presente estudo. A metodologia utilizada para o levantamento dos dados foi a aplicação de questionários na comunidade Cacimbas no município de Jaguaribe-Ce, acompanhada de entrevistas com perguntas e o registro de imagens. Foram aplicados 10 (dez) questionários com famílias 10 (dez) famílias que foram beneficiadas com cisternas de placa do P1MC na Comunidade. Também foi adotada a observação de dados secundários seguida da revisão literária existente sobre o assunto. Foi feita uma pesquisa documental em diversos órgãos e instituições ligadas ao P1MC e também foram utilizados dados secundários originários do Sistema de Informação Gerencial do Programa Cisternas (SIG. CISTERNAS), do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), programa no qual são registrados dados sobre as famílias proprietárias das cisternas; da Controladoria Geral da União (CGU); e do Tribunal de Contas da União (TCU). Foram utilizados também informações do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), onde buscou-se dados referentes aos estados beneficiados pelo P1MC.

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oportunidade de ter uma cisterna de placa como depósito de água de chuva coletada pelo telhado de sua própria casa.

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1 MARCO CONCEITUAL

1.1Crescimento e Desenvolvimento Econômico

É de extrema importância diferenciar crescimento econômico de desenvolvimento econômico, pois é possível uma cidade, região ou país, crescer sem alcançar um estágio de desenvolvimento econômico. Em síntese, crescimento e desenvolvimento econômico são duas coisas ou situações distintas.

Crescimento é definido por Sandroni (1999), como o aumento da capacidade produtiva da economia e, portanto, da produção de bens e serviços de determinado país. É definido basicamente pelo índice de crescimento anual do Produto Nacional Bruto (PNB). O crescimento é indicado ainda pelo índice de crescimento da força de trabalho, pela proporção da receita nacional poupada e investida e pelo grau de aperfeiçoamento tecnológico.

O IPEA (2005) destaca o crescimento econômico deve ser visto como condição necessária para reduzir a pobreza e elevar a qualidade de vida no país, mas não suficiente.

Já o desenvolvimento é o crescimento econômico acompanhado pela melhoria do padrão de vida da população e por alterações fundamentais na estrutura de sua economia. De maneira geral, contudo, as mudanças que caracterizam o desenvolvimento econômico consistem no aumento da atividade industrial em comparação com a atividade agrícola, migração da mão-de-obra do campo para as cidades, redução das importações de produtos industrializados e das exportações de produtos primários e menor dependência de auxílio externo.(SANDRONI, 1985).

Pereira (2006, p. 18) afirma que:

Essencialmente o desenvolvimento econômico é o processo histórico de crescimento sustentado da renda ou do valor adicionado por habitante implicando a melhoria do padrão de vida da população de um determinado estado nacional, que resulta da sistemática acumulação de capital e da incorporação de conhecimento ou progresso técnico à produção.

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De acordo com Furtado (1974) o crescimento ocorre em termos eminentemente econômicos, detectado pelo aumento da quantidade produzida em um certo período de tempo, em um dado espaço territorial; enquanto o desenvolvimento se manifestaria pela distribuição equitativa dos resultados do crescimento para a população.

Porém as modernas teorias econômicas passaram a centrar-se mais nas pessoas e na qualidade de vida destas. O aspecto econômico, embora de fundamental importância, parece perder terreno frente as correntes que primam pelo bem-estar da população. Esse bem-estar, na medida em que for alcançado, deve perpetuar-se ao longo do tempo e fornecer subsídios mínimos para a sua manutenção no futuro. (PONTES, 2009)

Nasceu assim o conceito de desenvolvimento sustentável. Segundo Lemos (2008), o conceito de desenvolvimento sustentável se tornou mais difundido após a divulgação do Relatório de Brundtland (1987), pela Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. Segundo as sugestões do relatório, as entidades internacionais adotariam uma nova concepção de desenvolvimento, que tenta compatibilizar eficiência econômica, com justiça social e com prudência ecológica.

Desenvolvimento sustentável pertence ao campo da ecologia e da administração e que se refere ao desenvolvimento de uma empresa, ramo industrial, região ou país, e que em seu processo não esgota os recursos naturais que consome nem danifica o meio ambiente de forma a comprometer o desenvolvimento dessa atividade no futuro. (SANDRONI, 1999)

A gestão ambiental, a conscientização da sociedade para o seu papel como agente de transformação da realidade, bem como o fortalecimento da participação de cada um na tomada de decisão são os pontos que constituem a proposta de mudança inerente ao conceito. (CHACON, 2005)

Ainda segundo Chacon (2005), isto teria como consequência, a busca de um crescimento econômico eficiente, racional e que respeita os limites da natureza, alcançado por meio de ações que supririam as necessidades da humanidade no presente, sem tirar das gerações futuras o direito de também terem as suas necessidades supridas.

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objetivos do milênio estão em consonância com os princípios de equidade e da universalização dos direitos humanos, que reportam a um conjunto indivisível e interdependente de vários direitos universais.

Os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são: 1) Acabar com a fome e a miséria;

2) Educação básica de qualidade para todos;

3) Igualdade entre os sexos e valorização da mulher; 4) Reduzir a mortalidade infantil;

5) Melhorar a saúde das gestantes;

6) Combater a AIDS, malária e outras doenças; 7) Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; 8) Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.

Os ODM têm demonstrado para o mundo a importância de engajar os governos locais em ações para o alcance de um desenvolvimento mais equitativo. Junto a esse debate, somam-se questões fundamentais, como a intensificação da descentralização dos recursos.

Assim, não foi um governo que assumiu com o mundo o comprometimento dessas metas, mas sim as Nações como um todo. Membros da sociedade civil, governos, acadêmicos, iniciativa privada, organismos internacionais no mundo todo concordaram que as necessidades básicas dos cidadãos a serem priorizadas em políticas para o desenvolvimento sustentável humano.

1.2Políticas Públicas e a Seca no Nordeste Brasileiro

A seca não deve ser definida apenas como uma falta de absoluta de chuvas. A irregularidade na distribuição das chuvas é que define realmente o fenômeno da seca, provocando anormalidade no clima e constituindo-se como fato social de elevada importância. (KHAN, et al 2005)

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anos. Mais tarde, o jesuíta Fernão Cardim refere-se com detalhes aos efeitos da seca ocorrida no ano de 1583. (VILLA, 2001)

Segundo Alves (1953), os séculos XVII e XVIII registram-se várias secas, que provocam efeitos ainda mais devastadores do que as dos séculos anteriores. A ocorrência das secas do século XIX não apresenta novidade, quando comparadas às anteriores, porém se observa, a partir de então, a preocupação por parte do governo central com a ocorrência do fenômeno na região.

Desde então, as ações voltadas para o enfrentamento do problema vislumbram no armazenamento d’água a sua solução. Já em 1833, observa-se autorização para abertura de fontes artesianas e, em 1834, para a construção de açudes, cacimbas e perfurações de poços. (KHAN, et al 2005)

De acordo com Villa (2001), em 1856 foi criada a Comissão Nacional de Inquérito que tinha como objetivo estudar os problemas da região e produzir documentos com sugestões principalmente na área de construção de açudes e perfuração de poços. Neste âmbito surgiu a proposta da criação de um grande canal para transportar as águas do rio São Francisco para as áreas mais secas da região.

A intervenção do Estado no semiárido do Nordeste do Brasil foi sempre marcada pela concentração de políticas voltadas para combate à seca, sendo essas o principal fator que determinou o subdesenvolvimento da região. E isso é claro com a criação daInspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), em 1909, posteriormente Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), que mesmo tendo relevância pelos estudos pioneiros realizados no semiárido, suas ações se pautaram na construção principalmente de estradas e açudes. O DNOCS foi orientado pela ideia de que se deve combater a seca, que marca inclusive o nome do órgão. A ideologia por trás das ações do DNOCS era combater o ambiente “inóspito” do semiárido. Essas atuações expressavam o pensamento no qual o semiárido é inadequado para o trabalho rural e, para nele viver, é necessário intervir e modificá-lo. (GALINDO, 2008)

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A partir da década de 1960, com a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), a ideia era propor soluções econômicas que revertessem as diferenças entre o Nordeste e outras regiões do Brasil. Mas as ações não se voltaram para as áreas rurais, que ainda consideravam o semiárido como “muito vulnerável” aos fenômenos climáticos e os investimentos na agricultura familiar ficaram restritos às políticas emergenciais e compensatórias de ataque aos efeitos da estiagem. (PONTES, 2011)

Segundo Nascimento (2005), no início dos anos de 1970 os programas de desenvolvimento regional passaram a impulsionar a agricultura irrigada no país. Os principais foram: o Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo à Agricultura do Norte e Nordeste, e o Programa do Vale do São Francisco. No final da década de 1970 foi implementado o Programa de Recursos Hídricos do Nordeste (PROHIDRO), através de um acordo de cooperação com o Banco Mundial, para aumentar a oferta de recursos hídricos por meio da construção de açudes públicos e privados e perfuração de poços.

Nascimento (2005) ainda destaca o Programa Federal de Combate aos Efeitos da Seca, criado em 1998 e coordenado pela SUDENE, este tinha como objetivo ajudar os atingidos pela seca.

Mas recentemente aparece um discurso renovador, a possibilidade de um desenvolvimento sustentável com base na convivência com a seca. O semiárido passa a ser concebido enquanto um espaço na qual é possível construir ou resgatar relações de convivência entre os seres humanos e a natureza, com base na sustentabilidade ambiental e combinando a qualidade de vida das famílias sertanejas com o incentivo às atividades econômicas apropriadas. (SILVA, 2010)

Segundo o Conselho Nacional dos Municípios (CNM), o consenso básico que existe sobre a maneira de enfrentar esse fenômeno climático inevitável é que a convivência com a seca só será possível através de obras hídricas estruturadas: barragens, interligação de bacias, infraestrutura para a agricultura irrigada e gestão permanente da água.

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Os estados Nordestinos divulgaram, em 2013, um levantamento que foi publicado pelo CNM (2003), das companhias de abastecimento e saneamento que evidenciam a gravidade da situação, como se pode ver a seguir:

Pernambuco: é o Estado com maior número de municípios atingidos. Segundo a Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), dos 185 municípios do Estado, 151 estão com algum tipo de déficit no abastecimento. Desses, 16 estão em colapso, sendo abastecidos por carros-pipa. O prolongamento da estiagem fez com que Recife e Jaboatão dos Guararapes (região metropolitana da capital) entrassem em sistema de racionamento desde o dia 1º de março de 2013, assim como outras cidades próximas à capital. De acordo com a Associação Municipalista de Pernambuco (AMUPE), a seca já provoca prejuízos da ordem de R$ 1,5 bilhão na pecuária, com 72% de queda na produção de leite devido à mortalidade de mais de 168 mil animais afetando sobremaneira a economia da região.

Bahia: o estado enfrenta uma grande diminuição do nível dos mananciais utilizados para abastecimento, o que fez a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA) adotar um racionamento em 53 municípios. A empresa lançou campanha recomendando que sejam instaladas caixas d'água com capacidade suficiente para atender as necessidades diárias de consumo.

Alagoas: 30 dos 102 municípios estão enfrentando rodízio por conta da seca. Entre eles a capital Maceió, onde cinco bairros da parte alta enfrentam rodízio desde novembro de 2012. Segundo a Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL), a situação mais crítica é na cidade Paulo Jacinto onde a barragem que abastece a cidade secou e toda população está sendo abastecida por carro-pipa. A empresa informou que, além da seca, problemas como furto de água e vandalismo também cooperam para que o problema seja agravado. A Companhia informou que já forneceu um bilhão de litros de água para os caminhões da Operação Pipa, com investimentos superiores a R$ 3 milhões.

O Estado tem um histórico de desastres naturais ligados à estiagem e à seca. As estiagens, se comparadas às secas, são menos intensas e caracterizam-se pela menor intensidade e por menores períodos de tempo. Já a seca, é caracterizada por longos períodos sem chuva e consequências severas para a região Nordeste. A seca que aflige dezenas de municípios alagoanos, matando animais e ameaçando a sobrevivência de milhares de famílias, é o problema mais grave que vem afetando a região.

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pessoas enfermas e 38 desalojadas. Estes eventos adversos não acontecem de maneira bem distribuída, mas concentrada em determinadas áreas. A estiagem e a seca favorecem a considerável diminuição da carga d’água dos rios e o aumento de problemas na agricultura, gerando assim, sede e fome; favorece, também, de modo negativo, na dinâmica ambiental.

Rio Grande do Norte: Segundo a Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte (CAERN), 14 cidades enfrentam colapso no Estado, todas ligadas à adutora Monsenhor Expedito. Segundo a empresa, a área urbana dessas cidades está sendo atendida por carros-pipa da CAERN, da Defesa Civil e do Exército. Em Carnaúba dos Dantas, os moradores estão sendo atendidos por chafarizes instalados. Existem, ainda, 18 cidades que passam por algum tipo de dificuldade e enfrentam rodízio. Segundo a Companhia, o rodízio foi iniciado em janeiro, com a chegada do verão, quando a Lagoa do Bonfim diminuiu a capacidade de armazenamento. A previsão é que o rodízio só termine quando a lagoa voltar à capacidade normal de vazão.

Ceará: a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE) afirma que seis cidades passam por rodízio ou são abastecidas por carro-pipa nos municípios de Itatira, Caridade, Quiterianópolis, Beberibe, Crateús e Pacoti. Uma cidade está em colapso: Beberibe, que fica no litoral cearense. Segundo a companhia, o abastecimento a partir da Lagoa da Uberaba está suspenso. Em Pacoti, uma área da cidade também está sem qualquer abastecimento. Até a entrega de faturas mensais foi suspenso.

A CAGECE informou que está perfurando poços, construindo adutoras, trazendo a água de mananciais alternativos, disponibilizando carros-pipa. Segundo informações da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (APRECE), 14 municípios do Estado do Ceará já se encontram em situação de colapso no que refere ao abastecimento nas sedes municipais. Outros 21 municípios entrarão em colapso até final de 2013, caso se confirme a ausência de chuvas.

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Paraíba: a Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) informou que nove cidades estão em racionamento e 22 em colapso total, sendo abastecidas por carros-pipa. Não há problema com os mananciais que abastecem João Pessoa e cidades litorâneas.

Piauí: a Águas e Esgotos do Piauí (AGEPISA) disse que passa por problemas de abastecimento pelo baixo nível dos poços ou açudes, de onde é feito o abastecimento. Por conta da seca, quatro cidades estão com dificuldade de abastecimento. Na cidade de Fartura, o açude que abastecia os moradores secou e a (AGESPISA) perfurou dois poços que ainda serão equipados e ligados à rede de abastecimento. No momento, o abastecimento é feito com dois poços perfurados pela prefeitura.

Sergipe: a Companhia de Saneamento do Sergipe (DESO) disse que as três cidades abastecidas pelo Sistema Integrado Piautinga enfrentam rodízio de 24 horas. As cidades com situação mais crítica são Boquim, Poço Redondo, Itabaianinha e Santo Amaro das Brotas, onde o nível dos rios está baixíssimo. Como forma de amenizar a situação, a DESO tem perfurado poços profundos e colocado carros-pipa a disposição dos moradores.

Ainda segundo o CNM (2013), em uma análise geral, a seca na região nordeste atinge 38% da população do semiárido, abrangendo em torno de 9 milhões de habitantes. As políticas públicas emergenciais do Governo Federal amenizam, mas não resolvem o problema. Auxílios como o bolsa-estiagem atendem em torno de 1,5 milhão de sertanejos o que, na análise de especialistas, tem evitado um grande êxodo rural como se viu na grande seca dos anos 80.

O ideal seria a aplicação de políticas de longo prazo voltadas a convivência com a seca, com investimentos em infraestrutura, como construção de barragens e cisternas. Com isso, buscam-se alternativas para o abastecimento de água.

Neste contexto foi criado o P1MC, dentro do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido, da ONG Articulação do Semiárido (ASA), criada em 1999. O P1MC passa a ser política pública do governo federal, ao ser firmado o Termo de Parceria nº 001/2003 com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

1.3 A Convivência com o semiárido

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indústria da seca. Esta estratégia gerou a concentração de terra, da água, do saber, do poder e o aumento crescente da fome e da miséria no semiárido. (CONTI E SCHROER, 2013)

Nas últimas décadas, entretanto, com a intervenção de diversos autores, governamentais ou não governamentais, vem sendo gerada outra concepção de ver, trabalhar e construir o semiárido, baseada na compreensão: que seu povo é cidadão; que seca não se combate; que a região é viável; que uma sociedade justa se constrói baseada na equidade de gênero, tendo as mulheres como protagonistas do seu destino; e que é essencial o desenvolvimento de um processo de educação para a convivência com o semiárido que valorize o conhecimento construído pelo seu povo. É no contexto que surge a proposta da convivência com o semiárido.

A convivência com o semiárido não é uma proposta de passividade e acomodação diante da pobreza existente na região, principalmente nos períodos de seca. Mesmo adaptados com a convivência permanente do clima, os trabalhadores do semiárido não podem conviver com a miséria, o desemprego, a fome e o drama familiar causado pelas secas prolongadas. (AB’SÁBER, 2003).

Silva (2010) apresenta cinco importantes pontos que configuram a convivência com o semiárido. O primeiro aspecto relevante é a convivência com o meio ambiente, mediante o manejo e uso sustentáveis dos recursos naturais num ecossistema, sem inviabilizar a sua reprodução, em vista do equilíbrio do espaço comum vivido. Deve ser dada uma atenção especial, diante das fragilidades hídricas, ao manejo sustentável dos mananciais e à valorização da captação, armazenamento e gestão da água da chuva para a produção apropriada. Um dos fundamentos desse processo é o reconhecimento das múltiplas necessidades de abastecimento hídrico: captação e distribuição de água para consumo, com a construção e manutenção de pequenas barragens e outros equipamentos de uso familiar e comunitário; uso de áreas úmidas para a produção de alimentos, visando à segurança alimentar da comunidade; produção de mudas para recuperação da mata ciliar; formação para manejo de recursos hídricos, evitando o desperdício e a poluição, e para o manejo do solo.

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permitir que a população disponha, nos períodos de secas, dos recursos necessários a eximi-la de se sujeitar ao flagelo que a mesma acarreta” (ANDRADE, 1973, p. 178).

A Convivência com o Semi-árido é uma proposta de desenvolvimento que se pauta na lógica de um sistema de vida e de produção eficiente e sustentável, onde se busca, através da formação de uma consciência coletiva, constituir um equilíbrio ambiental e social, capaz de garantir melhor as condições de vida para as populações dessa região (IRPAA, 2002, p 11.).

O terceiro ponto é o da convivência com a qualidade de vida, expresso na possibilidade de se viver bem com os outros seres em um lugar. A convivência com o semiárido significa uma nova perspectiva do desenvolvimento, capaz de visualizar a satisfação das necessidades fundamentais como condição de expansão das capacidades humanas e da melhoria da qualidade de vida, concebida como redução das desigualdades, da pobreza e da miséria. O caráter includente do desenvolvimento sustentável é um pressuposto fundamental para viabilizar as alternativas econômicas apropriadas que possibilitam o aumento da produção e a distribuição da renda, as iniciativas públicas de melhoria ao acesso aos serviços sociais básicos de qualidade e a garantia de direitos como base para a realização da cidadania de todas as pessoas. A convivência exige a melhoria da qualidade de vida dos sertanejos, inclusive, como condição para estabelecer uma nova relação com o meio ambiente. A construção de novas perspectivas sobre meio ambiente junto a populações marcadas pela condição de pobreza exige a capacidade de articulação das iniciativas de gestão ambiental sustentável, com as iniciativas socioeconômicas orientadas para a melhoria da qualidade de vida da população local. (SILVA, 2006)

Além do acesso aos serviços sociais básicos de qualidade, a convivência implica realizar mudanças nas atuais relações sociais de dominação (de classe, étnicas, de gênero e de geração) fortemente enraizadas no semiárido.

De acordo com Silva (2010), a história do semiárido, como em outras regiões brasileiras, foi marcada pelo patriarcalismo machista. As desigualdades de gênero tornaram o ambiente social inóspito, inadequado para a realização das capacidades humanas com base na liberdade. As mulheres foram as principais vítimas de uma sociedade baseada na violência e na supressão da liberdade feminina. Além disso, foram destinadas tarefas às mulheres, como o cuidado com o abastecimento de água da casa, o provimento de alimentos para a família e a criação dos filhos, que se tornam mais difíceis e desafiadoras diante da dificuldade de acesso aos serviços básicos.

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sociais, respeitando as diferenças, é também uma forma de convivência. (SILVA, 2010, p. 248)

Um quarto fator diz respeito à dimensão da cultura da convivência. Esta requer a valorização e a reconstrução dos saberes da população local sobre o meio em que vive, suas especificidades, fragilidades e potencialidades. Os processos formativos, sistemáticos e participativos, são fundamentais para o resgate e a construção de práticas alternativas. Ou seja, a dimensão cultural no que tange à formação de uma consciência sobre a realidade local e sobre as formas apropriadas de conceber, compreender e incidir em uma determinada realidade socioambiental. (SILVA, 2003)

O quinto aspecto que corrobora o fortalecimento do sentido da convivência refere-se à dimensão política. A convivência emerge e se configura como uma proposta política de mobilização da sociedade e do Estado brasileiro para a implementação de políticas públicas apropriadas ao desenvolvimento sustentável na região semiárida. Conforme Carvalho (2012), essa “territorialização da convivência que está em construção é um processo de afirmação da ideia-projeto, que vai se manifestando através das ações para a água, terra, produção, educação e uma série de outras demandas”. E nesse âmbito há que se destacar as iniciativas de organização e mobilização da sociedade civil, por meio de redes de movimentos e organizações sociais, que propiciam a disseminação dos valores sociais da convivência com o Semiárido e pressionam pela melhoria de suas condições econômicas e socioculturais. Ao mesmo tempo aponta para a necessidade de políticas públicas permanentes e apropriadas que superem as estruturas legitimadoras de desigualdades, de concentração de terra, renda e água e favoreçam a expansão das capacidades humanas e dos grupos e organizações locais e regionais.

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Figura 1 - Ações que configuram a convivência com o semiárido.

Figura 1: Ações que configuram a convivência com o semiárido. Fonte: Conti e Schroer, 2013.

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2 O PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS (P1MC)

2.1Contexto de criação do P1MC

Segundo o IBGE (2010) a região semiárida do Brasil abrange uma área de 969.589,4 km² que integra o território de 1133 municípios dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe e o Norte de Minas Gerais. Sua população é estimada em 21 milhões de pessoas, o que corresponde a 11% da população brasileira, caracterizando-se como a região semiárida mais populosa do mundo.

Ao longo da história, prevaleceu no país a ideia de que o semiárido seria um local inóspito, sem possibilidades para o desenvolvimento. Hoje, está cada vez mais evidente que essa noção faz parte de uma ideologia falaciosa que tem sido útil para legitimar ações políticas. (ASA, 2010)

Segundo Malvezzi (2007), o semiárido brasileiro não há falta de água do ponto de vista quantitativo, mas sim um acesso desigual que penaliza particularmente os mais pobres.

O limitado acesso à água compromete a garantia da produção de alimentos, gerando impactos negativos na saúde das famílias, principalmente crianças e mulheres, essas são as principais responsáveis pela captação e gestão dos recursos hídricos nessas áreas.

No âmbito dos debates sobre sustentabilidade que vêm se intensificando, movimentos sociais têm discutido a viabilidade do semiárido brasileiro. Como resultado, mobilizaram-se para defender a ideia de que é possível viver e produzir com dignidade na região. Foi nesse contexto que ações de pressão sobre o Estado brasileiro passaram a ser realizadas por um conjunto amplo e diversificado de organizações da sociedade civil que acabou por se institucionalizar em 1999, com a criação da ASA.

A ASA, é uma rede formada por mil organizações da sociedade civil (na sua maioria organizações de base comunitária, sindicatos de trabalhadores rurais, entidades ligadas as Igrejas católica e evangélica, ONG’s e cooperativas de trabalho) que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida. Sua missão é fortalecer a sociedade civil na construção de processos participativos para o desenvolvimento sustentável e a convivência com o semiárido referenciado em valores culturais e de justiça social.

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Milhão de Cisternas Rurais (P1MC), cuja proposta visa a parceria com as famílias, comunidades e suas organizações, no sentido de criar um novo padrão no relacionamento do sertanejo com o seu ambiente. Para gerenciar este projeto, foi criada uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), a Associação do Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC).

Esse programa abriga tecnologias sociais populares de captação e armazenamento de água para consumo humano e para a produção de alimentos. Além disso, fortalece outras iniciativas de convivência com o Semiárido, como a construção do conhecimento agroecológico; as cooperativas de crédito voltadas para a agricultura familiar e camponesa; os bancos ou casas de sementes nativas, ou crioulas; os fundos rotativos solidários; a criação animal; a educação contextualizada; o combate à desertificação; etc.

2.2Princípios Norteadores do P1MC

Segundo a ASA (2010), a prioridade do P1MC é a família rural. Para tanto, o Programa nortear-se-á pelos seguintes princípios:

Gestão Compartilhada, que implica, desde a forma como o Programa foi concebido até sua execução e gestão totalmente feitas pela sociedade civil representada pelas entidades e organizações sociais que integrama ASA;

Busca de parcerias, ou seja, negociações e assinatura de convênios com o governo, instituições públicas, organismos multilaterais, ONG’s e iniciativa privada que venham dar aporte financeiro para a execução do programa, a partir de critérios pré-estabelecidos;

Descentralização e participação: o P1MC será executado através de uma articulação em rede, segundo o princípio de descentralização e participação;

Mobilização social: o Programa busca gerar a intenção voluntária de participar do projeto por parte dos cidadãos, organizações públicas, privadas das diversas esferas regionais e famílias para a convivência com o semiárido brasileiro;

Educação cidadã: o Programa busca a educação-cidadã, contribuindo para a formação continuada das equipes técnicas, dos pedreiros e das famílias, que situa criticamente a realidade histórico cultural, visando a convivência com o semiárido;

Direito Social: afirmação dos direitos da população de acesso e gestão dos recursos hídricos;

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Fortalecimento social: o programa deve ser uma ferramenta de fortalecimento e consolidação dos movimentos sociais;

Emancipação: o programa busca a construção de uma nova cultura política, rompendo com a dominação secular das elites sobre o povo, a partir do controle da água.

2.3Componentes do P1MC

Os recursos do P1MC, segundo a ASA (2010), são alocados nos seguintes componentes: Mobilização Social: Busca gerar a intenção voluntária de participar no projeto por parte dos cidadãos, organizações públicas, privadas das diversas esferas regionais através da formação de comissões (municipais, executoras e comunitárias), na seleção e cadastro de famílias que conquistarão as cisternas.

Controle Social: Compreende os ciclos de eventos que promovem a participação de pessoas e instituições, garantindo a legitimidade dos processos da ASA e o fortalecimento da sociedade civil, em todos os níveis: microrregional, estadual e Nacional.

Capacitação: Compreende as seguintes ações: Formação continuada das equipes técnicas das Unidades Gestoras Municipais (UGM); Formação de agentes multiplicadores em gestão de recursos hídricos; Formação continuada de pedreiros; Capacitação das famílias em gestão de recursos hídricos, cidadania e convivência com o Semiárido; Capacitação de jovens em confecção e instalação de bombas manuais.

Comunicação: Alocação de recursos para possibilitar a troca de informações entre a população e as instituições parceiras, disponibilizando informações relevantes que contribuam para o processo de formação de opinião e integrando escola e comunidade, aí envolvendo líderes comunitários e participantes de movimentos sociais, na perspectiva da utilização da comunicação educativa como processo de formação cidadã, tendo como contexto a convivência com o semiárido.

Fortalecimento Institucional: Compreende a alocação de recursos financeiros para a manutenção das Unidades Gestoras Microrregionais (UMG) e Unidade Gestora Central (UGC) compreendendo: Custeio de pessoal e manutenção; Investimento em infraestrutura e a manutenção e aprimoramento do Sistema de Informação, Gestão e Auditoria (SIGA)

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manuais, placas de identificação, calhas, tampas e cadeados e o pagamento da força de trabalho dos pedreiros.

2.4 Objetivos do P1MC

O objetivo maior do P1MC é beneficiar cerca de cinco milhões de pessoas em toda região semiárida com água potável para beber e cozinhar, através das cisternas de placas. Juntas, elas formam uma infraestrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para 16 bilhões de litros de água, desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável com o ecossistema do semiárido, através do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com uma proposta de educação processual. (ASA, 2010)

Na sua concepção está implícito o objetivo de convivência do sertanejo com o meio ambiente em que vive, fundamentada numa relação sustentável e harmônica da população ali residente com o semiárido, por meio da mudança de enfoque das políticas de desenvolvimento: as “políticas públicas de combate às secas” sendo substituídas por “políticas de convivência com o semiárido”. (LOPES, 2005)

Os objetivos específicos do Programa são: Contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população do semiárido brasileiro por meio da construção de cisternas; propiciar o acesso descentralizado à água potável para um milhão de famílias, aproximadamente cinco milhões de pessoas; mobilizar e capacitar um milhão de pessoas; construir um milhão de cisternas para captação e armazenamento de água da chuva; e implementar um processo de formação, calcado na educação para a convivência com o semiárido e na participação das pessoas e grupos na implantação de políticas públicas. (ASA, 2010)

2.5 Critérios de atendimento e público-alvo do P1MC

Os critérios de prioridade de atendimento do P1MC foram definidos a partir de um consenso das diversas reuniões da ASA durante a elaboração do Programa. A prioridade de atendimento, segundo a ASA (2010) segue os seguintes critérios:

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deficientes e maior carência de água, crianças e adolescentes em situação de risco, mortalidade infantil, etc.

Famílias: Mulheres chefes de família; número de crianças de zero a seis anos; adolescentes na escola; adultos com idade igual ou superior a 65 anos; deficientes físicos e mentais.

A análise dos critérios para definição das famílias selecionadas dar-se-á considerando: as famílias que preencherem o maior número de critérios, em relação ao total de cisternas disponíveis para cada comunidade; em caso de empate a definição se dar através do preenchimento dos critérios na ordem que se apresentam; e persistindo o empate, a escolha poderá ser por sorteio ou outro critério acordado pela comunidade.

Será realizada uma reunião na comunidade para a apresentação dos critérios e resultados da seleção, elaboração do cronograma das cisternas em referência à capacitação de pedreiros, introdução da necessidade de capacitação em gestão de recursos hídricos, com definição de data para a realização desse processo e a apresentação da proposta de construção solidária das cisternas, para garantia da total implementação do programa. (ASA, 2010)

2.6 Foco e área de atuação do P1MC

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Figura 02 - Nova delimitação do semiárido

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2004.

O semiárido tem a maior parte do seu território coberto pela Caatinga, rico em espécies endêmicas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo. A composição florística da Caatinga não é uniforme em toda a sua extensão. Apresenta grande variedade de paisagens, de espécies animal e vegetal, nativas e adaptadas, com alto potencial e que garantem a sobrevivência das famílias agricultoras da região. (ASA, 2010)

O Semiárido é marcado por grandes desigualdades sociais. Segundo o Ministério da Integração Nacional mais da metade (58%) da população pobre do país vive na região. Estudos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) demonstram que 67,4% das crianças e adolescentes no semiárido são afetados pela pobreza. São quase nove milhões de crianças e adolescentes desprovidos dos direitos humanos e sociais mais básicos, e dos elementos indispensáveis ao seu desenvolvimento pleno. (SILVA, 2003)

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devendo incluir em tais critérios a inserção no Programa Fome Zero e outros conforme deliberação da diretoria da AP1MC. (SANTOS, 2003)

Segundo Lemos (2007), pelo menos 46 municípios do Maranhão era para fazer parte do Semiárido brasileiro. De acordo com sua pesquisa, existe uma interface entre pobreza, exclusão social e clima árido, semiárido e sub-úmido seco. Ele comparou indicadores econômicos e sociais de 46 municípios maranhenses que foram comparados com os demais municípios situados nos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais, que estão já caracterizados como pertencentes ao Semiárido brasileiro. Segundo sua pesquisa, as evidências encontradas mostram que todos os indicadores sociais e econômicos dos 46 municípios maranhenses, são piores do que os observados nos municípios dos demais estados. Além disso, nesses 46 municípios, estão situados aqueles cujos indicadores sociais e econômicos os posicionam como aqueles de situações mais difíceis, em todo contexto do Semiárido

Assim os municípios dos outros estados estão sendo beneficiados com as ações de políticas públicas, tais como o P1MC, justamente por já serem reconhecidos como pertencentes ao Semiárido, isso pode ser uma das causas responsáveis pelos diferenciais para melhora dos seus indicadores sociais e econômicos em relação aos 46 municípios maranhenses. (LEMOS, 2007)

2.7 Estrutura operacional do P1MC

Conforme a ASA (2010) a estrutura operacional do Programa é dividida da seguinte forma:

1)Nível regional:

 A ASA, que constituiu um espaço de articulação política da sociedade civil no semiárido brasileiro é formada por mil organizações da sociedade civil organizada, tem como principal objetivo fortalecer a sociedade civil na construção de processos participativos para o desenvolvimento sustentável e a convivência com o semiárido.

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ligadas as Igrejas católica e evangélica, ONG’s e cooperativas de trabalho que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas de convivência com a região semiárida.

 A AP1MC é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que compõe a ASA. Foi criada em 2002 com o objetivo de gerenciar o Programa. A ela cabe firmar convênios com o governo, agências multilaterais, iniciativa privada, etc. Os recursos obtidos são repassados às Unidades Gestoras Estaduais (UGE) para que elas coordenem a execução das metas e construção de cisternas.

 A Comissão Executiva Nacional, com sede Recife, é responsável pelo monitoramento do P1MC e pelo comprimento das diretrizes estabelecidas pela ASA.

2) Nível estadual:

 As ASA’s estaduais exercem o mesmo papel da ASA regional, só que com o raio de ação menor, visto que a articulação política que se deve fazer com as entidades/segmentos organizados da sociedade Civil se restringe aos limites do estado.

 Unidade Gestora Microrregional – UMG, é a responsável pela gestão dos recursos alocados para a construção das cisternas nas comunidades e famílias rurais selecionadas. Tem como principal função atuar como animadora, dando suporte técnico e operacional para garantir a eficiência e a eficácia do programa.

3) Nível municipal:

 As Comissões Municipais do P1MC, podem iniciar com três, cinco ou sete membros de organizações que atuam no município. Entretanto, no decorrer do processo, podem agrega-se a elas outras organizações da sociedade civil, ampliando o número de representantes. Cabe a elas indicar à Comissão Estadual as comunidades e as famílias que serão atendidas pelo programa. Também tem como responsabilidade o acompanhamento das atividades relacionadas à execução do programa, devendo as mesmas manter sempre informada a UGE sobre o andamento das obras, principalmente quanto aos aspectos relacionados aos atrasos na chegada dos materiais, insuficiência de areia e cimento, etc.

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2.8 Balanço geral do Programa até janeiro de 2013

Segundo o MDS ao longo de dez anos (2003-2013) o P1MC Construiu cerca de 563.678 cisternas, beneficiando cerca de 2.279.129 pessoas nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espirito Santos, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Nesta subseção serão apresentados dados quantitativos obtidos através de relatórios apresentados por instituições participantes do programa e pelo TCU. Também serão apresentados dados sobre quais os Estados mais beneficiados pelo programa.

Por fim será exposto pontos relevantes sobre a substituição das cisternas de placas por cisternas de PVC, uma vez que essas, ao contrário das cisternas de placas, excluem a população local, não permitindo a sua participação no processo de reaplicação da técnica, criando dependência das empresas responsáveis pela produção das cisternas de PVC.

2.8.1 Resultados Quantitativos do P1MC

Após a concretização da proposta de construção de cisternas criada em 1999, encampada pela ANA em 2001, a parceria entre o Governo Federal e a ASA firmada em 2003 passa a ser conduzida pelo MDS, por meio de uma parceria com AP1MC. Com isso, a ação de construção de cisternas fica instituída enquanto alternativa para fornecimento de água potável à população como parte da política pública de segurança alimentar e nutricional.

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Quadro 1 – Metas do P1MC para cinco anos.

UF ANO TOTAL POR UF

2003 2004 2005 2006 2007

AL 1.100 6.000 9.700 9.700 13.400 39.900

BA 9.500 30.000 83.800 109.200 104.500 337.000

CE 6.600 18.000 53.000 53.000 44.400 175.000

ES 600 1.500 1.500 2.000 2.000 7.600

MG 1.200 3.000 6.000 6.700 5.300 22.200

PB 7.800 24.000 38.700 39.700 4.800 115.000

PE 6.700 24.000 38.700 39.700 36.900 146.000

PI 4.000 10.000 15.000 19.000 14.000 62.000

RN 6.400 16.000 24.000 15.400 12.000 73.800

SE 1.100 6.000 5.000 4.700 4.700 21.500

TOTAL POR

ANO 45.000 138.500 275.400 299.100 242.000 1.000.000

Fonte ASA, 2003. Com adaptações

A análise do cumprimento das metas e do emprego dos recursos destinados ao programa foi realizada por meio de relatórios apresentados pelas instituições executoras e principalmente por auditorias feitas pelo TCU para, além de verificar a realização dos objetivos mensurem sua eficiência e eficácia no cumprimento dos seus propósitos. De acordo com o Relatório de Avaliação do P1MC realizado pelo TCU, o programa recebeu verba orçamentária específica, no valor de R$ 68.712.702, apenas na lei orçamentária de 2005. Nos anos anteriores, a construção das cisternas recebeu dotações financeiras que atingiram o montante de R$ 24,5 milhões em 2003; e R$ 63,6 milhões em 2004.

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Quadro 2 – Histórico orçamentário da Construção de Cisternas, de 2005 a 2010. Ano Créditos Consignados¹ R$ Execução Orçamentária² R$ Execução Financeira³ R$ % Execução Orçamentária4 R$ % Execução Financeira5 R$

2005 68.712.702 64.259.916 63.258.790 93,50% 98,40%

2006 63.511.266 62.027.103 60.997.398 97,70% 98,30%

2007 65.996.734 65.847.176 55.522.102 99,80% 84,30%

2008 54.027.915 53.931.273 52.670.722 99,80% 97,70%

2009 114.825.093 57.367.814 54.572.728 50,00% 95,10%

2010 122.246.916 49.296.829 49.296.826 40,30% 100,00%

1 Créditos consignados = crédito inicial (LOA) +- créditos adicionais / remanejamentos / anulações

2 Os valores referem-se à Execução Orçamentária Efetiva = valor liquidado no exercício “X” - restos a pagar

cancelados no exercício “X+1”.

3 Execução financeira no exercício = valores pagos (no ano ou posteriormente) referentes às despesas liquidadas

do exercício.

4 ((Valor da coluna “execução orçamentária”) / (valor da coluna “créditos consignados”)) x 100

5 ((Valor da coluna “execução financeira”) / (valor da coluna “execução orçamentária”)) x 100

Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Secretaria de Fiscalização de Avaliação de Programas de Governo 2010.

Apesar dos valores liquidados e pagos ao longo dos cinco anos terem permanecido estáveis, o valor do orçamento da ação em 2009 e 2010 praticamente dobrou. Contudo, mesmo havendo maior previsão orçamentária no ano de 2009, ela não foi acompanhada de aumento nas execuções orçamentária e financeira. Portanto, o aumento na previsão orçamentária da ação não foi refletido em uma maior execução.

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Quadro 3 - Cobertura do P1MC

UF Quantidade de

Cisternas

Quantidade de

Pessoas %

AL 26.925 124.005 4,78%

BA 134.122 547.811 23,79%

CE 131.829 546.226 23,39%

ES 386 1.818 0,07%

MG 23.719 103.069 4,21%

PB 61.978 230.222 11,00%

PE 78.403 314.654 13,91%

PI 46.070 177.426 8,17%

RN 46.837 183.922 8,31%

SE 13.409 49.976 2,38%

TOTAL 563.678 2.279.129 100,00%

Quadro 3: Cobertura do P1MC 2003 - 2013 Fonte: MDS, 2013. Elaboração própria

As metas ainda estão distantes de serem atingidas, até dezembro de 2013 foram construídas 563.678 cisternas, beneficiando aproximadamente 2.279.129 pessoas nos 10 estados que o programa abrange, isso significa que o programa alcançou em 2013, 55,96% de sua meta, prevista para ser atingida em 2008.

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Gráfico 1 – Percentual de Cisternas por Unidade da Federação

Fonte: MDS – SIG CISTERNAS, 2014. Elaboração propria.

Segundo a PNAD de 2002, 34% da população rural do Nordeste tinha o abastecimento de água precário (abastecimento por outras fontes de água). A Bahia, o Ceará e Pernambuco, estados que foram mais beneficiados pelo P1MC, eram os estados com abastecimento de água mais precário do Nordeste, eles tinham respectivamente 34,5%, 37,5% e 43,3% da população rural abastecida por outras fontes de água, tais como, cacimbões, barreiros, açudes, córregos, poços, etc.

Outro ponto importante a se destacar é a seleção das famílias beneficiárias do programa. São observadas quatro variáveis para a definição do público prioritário, quais sejam: ser domiciliado em município do semiárido; ser domiciliado na zona rural do município; não possuir acesso à rede pública de abastecimento de água e ter o perfil de elegibilidade ao Programa Bolsa Família (PBF), ou seja, pessoas que não disponham de fonte de água ou meio suficientemente adequado de armazená-la para o suprimento das suas necessidades. De acordo com o MDS, eram consideradas elegíveis ao PBF as famílias com renda per capita inferior a R$ 60,00 e aquelas com renda per capita entre R$ 60,01 e R$ 120,00 com filhos entre 0 e 16 anos incompletos. Atualmente, os referidos limites estão em R$ 70,00 e R$ 140,00.

Segundo o Relatório de Avaliação da Execução de Programas do Governo divulgado pela CGU, com base em inferências realizadas com intervalo de confiança de 95%, não menos que 81,5% e não mais que 93,9% das famílias beneficiárias atendem aos critérios de

AL; 4,78%

BA; 23,79%

CE; 23,39%

ES; 0,07% MG; 4,21%

PB; 11,00% PE; 13,91%

PI; 8,17%

RN; 8,31% SE; 2,38%

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elegibilidade do Programa, com padrão de renda e perfil compatíveis com o público-alvo da Ação.

Dessa forma, pode-se concluir que as Unidades Executoras estão observando os critérios de seleção do público-alvo, elegendo como beneficiárias famílias que se enquadram no perfil traçado, fazendo com que a Ação alcance os objetivos a que se propôs.

Os resultados alcançados pelo P1MC demostram as dificuldades para o cumprimento da meta de construir um milhão de cisternas. A meta inicial do programa era de beneficiar cerca de cinco milhões de pessoas em toda região semiárida, com água potável para beber e cozinhar. Juntas, as cisternas formariam uma infraestrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para 16 bilhões de litros de água. Até dezembro de 2013, o sistema de captação de água descentralizado soma pouco mais de 9 bilhões de litros de água, isso representa pouco mais de 56% de sua meta que é de 16 bilhões de litros de água.

De acordo com a ASA (2013) a meta inicial não foi alcançada pois a construção das cisternas em uma região extensa e com baixa infraestrutura como o semiárido do Nordeste do Brasil é uma tarefa complexa. Outra razão para o não cumprimento da meta inicial são os frequentes atrasos de repasses do governo federal, parceiro fundamental do programa.

2.8.2 Mobilização Social e Processos Educativos

O P1MC é uma ação do Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido da ASA. Entre os fundamentos do P1MC está o desenvolvimento de um processo educativo e de mobilização social para ampliar a compreensão e a prática de convivência sustentável com o semiárido. O programa vem desencadeando um movimento de articulação, por meio do fortalecimento da sociedade civil, da mobilização, envolvimento e capacitação das famílias, com a proposta de educação processual.

Segundo a ASA (2010), a capacitação dos beneficiados é parte indispensável para o sucesso do projeto. A experiência indica que somente o envolvimento das famílias, com a devida orientação, garante o adequado uso das cisternas e a maximização dos benefícios trazidos por elas.

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como um direito básico e a cisterna como uma conquista. Cidadania, fazendo uma reflexão sobre a dimensão das relações políticas entre a Sociedade Civil e o Estado, com ênfase nos modelos de desenvolvimento implantados na região semiárida, ao longo da história. Complementa-se o conteúdo abordando a convivência com o Semiárido, com uma reflexão sobre as características naturais da região e as possibilidades que influenciam nas práticas de convivência sustentável. (ASA, 2009)

Todas as alternativas hídricas, se não forem acompanhadas de processos sistêmicos de sensibilização e de formação para o manejo dos recursos hídricos e tratamento adequado água, podem fracassar. Segundo a pesquisa até dezembro de 2013 o P1MC capacitou 386.536 pessoas, que além do uso da água armazenada, os participantes são incentivados ao manejo sustentável dos recursos hídricos existentes nas comunidades.

De acordo com dados apresentados pelo MDS no SIG Cisternas, até dezembro de 2013, o programa também capacitou 16.508 pessoas que participaram diretamente na construção das cisternas. Os cursos são realizados com agricultores e moradores que tenham interesses em aprender uma nova profissão e aumentar a possibilidade de geração de emprego e renda. Nestes são discutidos as técnicas e práticas da construção de cisternas de placas, bem como novos materiais e estratégias de trabalho nas comunidades. Com mobilização para a construção das cisternas as famílias e comunidades passam a integrar um processo participativo de formação comunitária que se inicia com a articulação e fortalecimento das comissões municipais e comunitárias, e está presente em todas as etapas do desenvolvimento do programa, desde a seleção e cadastramento das famílias até a formação de pedreiros.

A tarefa de carregar água para abastecer as famílias foi, e ainda é, atribuída às mulheres e crianças das áreas rurais. Com a construção das cisternas ao lado dos locais de residência, essa situação vem mudando, diminuem os esforços físicos dessas mulheres e crianças, na busca de água em locais distantes, com isso eles terão mais tempo disponível para a realização de outras atividades produtivas, culturais e de lazer. Como consequências da capacitação, para o tratamento e o manejo adequado da água armazenada, houve também avanços significativos na saúde da população beneficiada com o programa, tanto pela qualidade da água das cisternas e manejo adequado, quanto pela diminuição das caminhadas em busca de água.

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residentes em domicílios sem cisterna, de 24,5%. Esses dados revelam que a chance de ocorrência de episódios diarreicos é 79% maior entre os residentes em domicílios sem cisternas.

2.8.3 Cisternas de Placas x Cisternas de PVC

Desde 2003 a Articulação do Semiárido com apoio de algumas empresas privadas e recursos do Governo Federal vem desenvolvendo uma ação sistêmica e complexa para levar um milhão de cisternas para o semiárido do Nordeste do Brasil.

O P1MC segue a ideologia do envolvimento total das comunidades beneficiadas. As cisternas são construídas por pessoas das próprias comunidades beneficiadas, capacitadas pelo programa. O objetivo é que a família e a respectiva comunidade recebem as cisternas como algo que lhes pertence e pelo qual trabalharam na sua construção, com isso aumentando o poder de participação da comunidade.

A cisterna custa, em média, R$ 1.600,00, havendo variações de preços nas diferentes regiões e municípios. Esse valor visa cobrir, com exceção da escavação do buraco onde será construída, todos os custos de construção de cada cisterna, incluídas, nessa quantia, despesas com matéria-prima, mão-de-obra e capacitação em técnicas de construção e em gerenciamento de recursos hídricos. A escavação do buraco e a alimentação dos pedreiros é contrapartida das famílias, sendo estimuladas quando da mobilização. (ASA, 2010)

Como dito anteriormente, foram construídas 563.678 cisternas, beneficiando cerca de 2.279.129 pessoas, alcançando aproximadamente 56% da meta inicial do programa. Visto que a meta do programa ainda estava distante de ser atingida, o governo federal, em 2011, através do Programa Água para Todos, resolve entregar mais de 300 mil cisternas de polietileno, com o objetivo de levar cisternas a 750 mil famílias até o final de 2014.

Segundo a ASA (2013), o processo de fabricação das cisternas de PVC ficou nas mãos de poucas empresas. Os beneficiários do programa reclamam que tais cisternas estragam com facilidade, já que não tem a mesma qualidade e durabilidade das feitas de placas de alvenaria. As mesmas são afetadas pelo extremo calor do Nordeste, ocasionando a contaminação da água acumulada em seu interior devido aos componentes químicos do polietileno.

Imagem

Figura 1 - Ações que configuram a convivência com o semiárido.
Figura 02 - Nova delimitação do semiárido
Gráfico 1  –  Percentual de Cisternas por Unidade da Federação
Figura 03  –  Território Municipal de Jaguaribe
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Referências

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