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Ci. Inf. vol.28 número1

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Academic year: 2018

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INTRODUÇÃO

Na década de 80, o cenário mundial sofreu significativas transformações tecnológicas, organizacionais, geopo-líticas, informacionais, comerciais e financeiras, institucionais, culturais, sociais inter-relacionadas. Objetivan-do entender as particularidades da nova ordem mundial em conforma-ção, autores de diferentes áreas vêm cunhando designações e desenvol-vendo formas de categorizá-la. Tais esforços tendem sempre a refletir as próprias preocupações e enfoques particulares das áreas a que tais au-tores pertencem. A diversidade da ca-racterização e interpretação desta nova ordem é proporcional à varieda-de varieda-de abordagens varieda-de autores varieda-de dife-rentes áreas. Assim, economistas vêm dando maior destaque à dimensão econômica, sociólogos à social e as-sim por diante. Como decorrência, também diversas designações e des-crições têm sido utilizadas para carac-terizar a atual nova ordem mundial, as quais têm sido impregnadas por tais influências. Dentre outras, destacam-se as destacam-seguintes: Era, Economia ou Sociedade da Informação ou do Co-nhecimento.

Este artigo parte do argumento de que, para melhor apreender a essência e alcance das atuais transformações, mostra-se oportuno conhecer como autores, utilizando diferentes aborda-gens teórico-conceituais, vêm discu-tindo a importância da informação e do conhecimento na nova ordem em conformação. Portanto, mesmo cen-trando a discussão nas características econômicas da nova era, a discussão aqui proposta visou a fazer uso da contribuição de autores de diferentes áreas do conhecimento, tais como economia, ciência da informação, co-municações, história, sociologia, filo-sofia, engenharia e geografia.

Informação e

conhecimento na nova

ordem mundial

Helena M. M. Lastres

Resumo

Este artigo discute o papel da informação e do conhecimento na nova ordem mundial. O foco central é o advento e a difusão da denominada economia da informação e do conhecimento, a qual vem induzindo novas atividades, conceitos de competitividade, estratégias organizacionais e formatos institucionais (que influenciam empresas, centros de ensino e pesquisa, governos etc. e até os próprios indivíduos) e exigindo novas capacitações.

Palavras-chave

Economia e sociedade da informação e do conhecimento; Tecnologias da informação; Informação e estratégias competitivas.

O artigo encontra-se estruturado da seguinte forma:

• a primeira seção analisa a denomi-nada revolução da informação e do conhecimento como marco de uma nova etapa de acumulação econômi-ca;

• a segunda aprofunda tal discussão, examinando a conformação da eco-nomia da informação e do conheci-mento e visando a identificar e discu-tir suas principais características;

• a terceira analisa algumas das prin-cipais estratégias e formatos organi-zacionais associados à atual era, en-fatizando particularmente a importân-cia da capacitação de recursos hu-manos como base do processo de criação e acumulação de conhecimen-tos para real aproveitamento das opor-tunidades disponibilizadas pela acele-rada difusão das novas tecnologias;

• a última encerra a discussão desta-cando a importância de enfoques mul-tidisciplinares e fusão de conhecimen-tos para melhor apreender a abran-gência e as características das trans-formações em curso.

Revolução da informação e do conhecimento

Grande parte das análises objetivan-do entender e caracterizar a nova or-dem mundial ressalta, por um lado, o esgotamento do padrão de acumula-ção anterior e, por outro lado, o ad-vento (e rápida difusão) de um novo padrão criando novas possibilidades de crescimento. Dentre outros, Har-vey1, ao discutir as origens de tais

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mi-cro, meso e macroeconômico, salien-tando os aspectos sociais, econômi-cos e polítieconômi-cos envolvidos:

“De modo mais geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade do fordismo (formato organizacional predominan-te associado ao padrão predominan- tecnoeconô-mico vigente na época) e do keynesi-anismo (forma predominante de inter-venção do Estado) de conter as con-tradições inerentes ao capitalismo. Na superfície, essas dificuldades podem ser mais bem apreendidas por uma palavra: rigidez. Havia problemas com a rigidez dos investimentos de capital fixo de larga escala e de longo prazo em sistemas de produção em massa que impediam muita flexibilidade de planejamento e presumiam cresci-mento estável em mercados de con-sumo invariantes. Havia problemas de rigidez nos mercados, na alocação e nos contratos de trabalho. .... Por trás de toda a rigidez específica de cada área, estava uma configuração indo-mável e aparentemente fixa de poder político e relações recíprocas que unia o grande trabalho, o grande capital e o grande governo no que pareceria cada vez mais uma defesa disfuncio-nal de interesses escusos definidos de maneira tão estreita que solapavam, em vez de garantir a acumulação do capital” (p. 135-6).

Assim, propõe que a nova ordem mun-dial seja entendida como:

• resposta encontrada pelo sistema capitalista para o esgotamento de um padrão de acumulação baseado na produção em larga escala de cunho fordista, utilização intensiva de maté-ria e energia e crescentes problemas ambientais;

• resultado da transição para um regi-me de acumulação relativaregi-mente mais flexível, ou melhor, que se apóia em novas bases, as quais oferecem alter-nativas e possibilidades de crescimen-to.

São diversas as contribuições que apontam para esta transição de regi-me (padrão ou paradigma) de acumu-lação, a qual se apóia em uma

revo-lução informacional. Tal revolução é vista como engendrando

transforma-ções comparáveis àquelas ocorridas em fases anteriores de mudanças ra-dicais no padrão de acumulação capi-talista e, em particular, à denominada Revolução Industrial do final do sécu-lo XVIII. No entanto, nota-se, com fre-qüência, que os impactos econômicos e sociais esperados da atual ordem mundial em conformação são consi-derados como até mais importantes que aqueles gerados pela Revolução Industrial, particularmente nos seguin-tes aspectos:

• “Em termos ideais, a Revolução da Informação repetirá os êxitos da Re-volução Industrial. Só que, desta vez, parte do trabalho do cérebro, e não dos músculos, será transferido para as máquinas”2 (p. 46).

• “Este fim de século acena com uma mutação revolucionária para toda a humanidade, só comparável à inven-ção da ferramenta e da escrita e que ultrapassa largamente a da Revolução Industrial... A Revolução Informacio-nal está em seus primórdios e é pri-meiramente uma revolução tecnológi-ca que se segue à Revolução Indus-trial. Mas é também muito mais que isto: constitui o anúncio e a potenciali-dade de uma nova civilização, pós-mercantil, emergente da ultrapassa-gem de uma divisão entre os que pro-duzem e os que dirigem a sociedade... A transferência para as máquinas de um novo tipo de funções cerebrais abstratas encontra-se no cerne da Revolução Informacional. Tal transfe-rência tem como conseqüência funda-mental deslocar o trabalho humano da manipulação para o tratamento da in-formação”3 (p. 11-3).

Portanto, trata-se – e como resumido por Gomez4 – de uma revolução que

agrega novas capacidades à inteligên-cia humana e muda o modo de traba-lharmos juntos e vivermos juntos. In-formação e conhecimento passam a assumir papel ainda mais visível e estratégico na nova ordem estabele-cida, baseando e alavancando as no-vas possibilidades de crescimento.

Conformação da economia da informação e do conhecimento

Um aspecto que talvez explique a aten-ção que autores de diversas áreas vêm conferindo às mudanças discutidas anteriormente e relacionadas à con-formação do novo padrão econômico-social refere-se à constatação do fato exposto a seguir. Como vimos, a par-tir dos anos 70 e 80, evidenciou-se que o padrão baseado na produção em massa de bens e serviços intensivos em materiais e em energia estava atin-gindo limites para continuar seu cres-cimento. Como salientado em diferen-tes análises, tal padrão começou cla-ramente a denotar problemas de rigi-dez e esgotamento. Do ponto de vista do padrão produtivo dominante, a alta dos preços do petróleo, a alta genera-lizada dos preços de várias matérias-primas e as subseqüentes crises com reflexos mundiais, do início daquela década, são tidas como tendo contri-buído para expor claramente a vulne-rabilidade de um padrão tão depen-dente de tais insumos.

Novas possibilidades de crescimento foram mais intensamente buscadas a partir de então. Do ponto de vista eco-nômico, dentre as alternativas dispo-níveis, destacavam-se evidentemen-te aquelas que apresentavam as me-lhores perspectivas para retomada do processo de crescimento. Empresas, governos e demais instituições busca-ram explorar várias destas alternati-vas. Os esforços mais bem-sucedidos foram aqueles que lograram desenvol-ver e difundir o novo padrão tecnoe-conômico baseado na convergência dos avanços realizados nas chama-das Tecnologias de Informação e Co-municação (TICs)* , e outras das en-tão denominadas tecnologias das (biotecnologia, materiais avança-dos, química fina e mecânica de pre-cisão).

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Dentre as possibilidades prometidas na inauguração do novo padrão (mui-tas das quais ainda estão longe de ser realizadas), destaca-se uma de parti-cular importância para a discussão proposta neste artigo. Esta se relacio-na ao já referido fato de (i) a informa-ção e o conhecimento passarem a se constituir nos recursos básicos do crescimento econômico (em lugar dos tradicionais insumos energéticos e materiais) e (ii) tais recursos (não-materiais e, portanto, intangíveis) não serem esgotáveis. Além disso, o con-sumo dos mesmos não os destrói, e seu descarte geralmente não deixa vestígios físicos.

Assim, a nova configuração econômi-ca, mais fundamentalmente baseada na informação e no conhecimento, apresenta características extremamen-te importanextremamen-tes quanto soluções para alguns dos problemas relacionados ao referido esgotamento do padrão ante-rior, abrindo novas possibilidades de retomada do crescimento, nomeada-mente por oferecer formas que possi-bilitam a continuidade (e até expansão) da produção e consumo em massa de uma série de bens e serviços:

• sem esbarrar nos aspectos relacio-nados à existência de espaços de ar-mazenamento dos mesmos;

• sem sobrecarregar em ritmo expo-nencial as demandas de insumos materiais e energéticos;

• sem significar que o descarte – tam-bém em massa – de tais bens e servi-ços* continuará a incrementar o efei-to negativo ambiental;

• obtendo maior controle e significati-va redução da importância de dois fa-tores tradicionalmente influentes no custo e valor de todos os bens e ser-viços produzidos e comercializados no mundo: o tempo e o espaço;

• inaugurando expansão para novo conceito de infra-estrutura, nova dinâ-mica setorial, novas formas de insti-tuição, organização, produção, comer-cialização, trabalho, processo de aprendizado, políticas, em suma, novo padrão tecnoeconômico.

Um exemplo refere-se à prometida completa conversão para a forma ele-trônica das diferentes formas de in-formação impressa e gravada (sonora e/ou visual), a qual oferece a possibi-lidade de utilizar uma quantidade mí-nima de matéria* e assim reduzir sua alta dependência dos custos associa-dos tanto ao consumo de recursos fí-sicos, quanto a tempo e espaço. Nes-te caso, nota-se a Nes-tendência ao pro-gressivo entrelaçamento dessas dife-rentes formas de informação e ao ba-rateamento das condições de produ-ção e reproduprodu-ção das mesmas, pro-duzindo maior avanço relativo das in-formações sonoras e visuais. Assim, as novas tecnologias da informação permitem hoje, por exemplo, tratar as formas visuais e sonoras quase da mesma maneira que a informação escrita. Se tal tendência vier a se con-cretizar, isto levará a transformações ainda mais radicais sobre a atual po-sição relativa da informação escrita no conjunto das diferentes formas da in-formação. Possivelmente não no sen-tido de sua superação, mas sim na progressão do entrelaçamento entre todas as formas.

Propõe-se avançar em tal discussão, analisando, primeiramente, uma exi-gência mais básica associada ao ad-vento e difusão da economia da infor-mação e do conhecimento, qual seja, a pressão para o aprofundamento das formas econômicas (e outras

correla-tas como jurídicas etc.) de privatizar estes recursos, conferir valor, assim como garantir a propriedade dos mes-mos. As atuais exigências dizem res-peito também às formas de definir, regular, cobrar, taxar e orientar a pro-dução, tratamento e disseminação dos mesmos. Uma alegada dificuldade para tal refere-se ao reconhecimento que tais recursos, conforme visto an-teriormente, ao contrário dos tradicio-nais, são regidos por diversas leis que tomam pelo avesso os conceitos e raciocínios econômicos clássicos* :

• informação e conhecimento são re-cursos intangíveis, não-materiais e, portanto, não esgotáveis. Seu consu-mo não os destrói, assim coconsu-mo seu descarte geralmente não deixa vestí-gios físicos. Cedê-los (mediante ven-da, por exemplo) não faz com que sejam perdidos;

• os novos bens e serviços (como, por exemplo, um novo software), uma vez produzidos ou criados, podem ser repro-duzidos a custos quase que irrelevantes;

Nota-se, no entanto, que pressões para readaptação de tal tipo fazem-se sentir particularmente nas épocas de mudanças tecnoeconômicas radicais, as quais acompanham a evolução da humanidade e que resultaram em uma série de outras transformações, inclu-sive jurídicas e legais. Assim é que, em geral, atualmente, aceita-se a pri-vatização e reconhece-se a proprie-dade (assim como os correlatos sis-temas de preços e normas jurídicas para utilização) de diversos bens que, em outras épocas, já foram conside-rados como públicos: a terra, água, os recursos minerais e até a informação e o conhecimento.

Nesta discussão, destaca-se a maior dificuldade relativa do sistema jurídi-co e ejurídi-conômijurídi-co em delimitar, rejurídi-conhe- reconhe-cer e garantir a propriedade de recur-sos intangíveis. No entanto, nota-se que o desenvolvimento de meios de privatizar algumas formas de conhe-cimento mais importantes para o sis-tema econômico, como a tecnologia, começaram a ser desenvolvidas há muitos anos** .

* Salienta-se, em particular, a tendência à ima-terialidade dos novos bens e serviços, tal como principalmente os softwares de diversos tipos; muitos dos quais podem ser desenvolvidos, pro-duzidos, comprados, distribuídos, consumidos e descartados sem necessariamente depender tanto de uma forma física. E, mesmo nos ca-sos em que existe uma forma física associada aos mesmos, destaque-se o pequeno valor adi-cionado quanto a tal aspecto e também o fato de estarmos ainda em um momento de transi-ção de padrões e hábitos de consumo.

* E, ao mesmo tempo, de poupar imensamen-te o consumo de meios energéticos. Um dos mais aludidos exemplos neste caso refere-se à perspectiva de passarmos crescentemente a produzir, tratar, disseminar e consumir es-tes tipos de informação na forma eletrônica; e, apenas se, quando e quanto necessário ma-terializá-los. Futurólogos estão sempre a lem-brar-nos que, daqui há alguns anos, talvez não estaremos mais a acumular, por exemplo, im-pressos (de todo o tipo), discos e vídeos em nossos ambientes de trabalho ou residências; faremos simplesmente um download daquela informação que, naquele momento, deseja-mos, sem que necessariamente utilizemos for-mas materiais para veiculá-la.

* Ver Levy5 e Baptista12.

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Adicionalmente e no que se refere às maneiras de conferir preço e cobrar os novos bens e serviços produzidos e ofertados no mercado, nota-se o desenvolvimento de meios tão revo-lucionários quanto os próprios. Como exemplo, cita-se o já mundialmente difundido formato de cobrar os servi-ços fornecidos particularmente (mas não exclusivamente) pelos meios de comunicação. Como no caso do teles-pectador que – ao assistir a progra-mas de televisão nos chamados ca-nais abertos – não paga os serviços que utiliza através das formas (an-teriormente) consideradas tradicio-nais, ou seja, utilizando dinheiro ou outro equivalente; mas sim pela expo-sição de sua atenção às informações publicitárias veiculadas por esse meio.

As novas formas de pagamento des-ses serviços, por não envolverem tro-cas físitro-cas diretas, são em muitos ca-sos imperceptíveis até mesmo para grande parte dos indivíduos que os consomem. Alguns serviços disponi-bilizados pela Internet (muitos dos quais anunciados como grátis) já vêm utilizando forma semelhante de co-brança, podendo-se prever o possível alargamento e maior sofisticação des-te meio de pagamento paralelamendes-te à difusão do novo paradigma das tec-nologias da informação e comunica-ções e atividades associadas. Assim, ressalta-se que quanto mais veloz-mente se acelera e aprofunda o pro-cesso de mudança, mais claramente destaca-se a importância das referi-das adaptações. Levy5 é um dos que

também vêm salientando tal aspecto: “Estamos diante da necessidade de dar um salto … porém ainda não dis-pomos de qualquer sistema de medi-ção, de qualquer contabilidade, repre-sentação, regulamentação jurídica digna deste nome, embora as mesmas estejam na origem de todas as formas contemporâneas de poder” (p. 87).

Conforme já destacado, a transição de um modelo baseado em produ-tos materiais industriais para outro, baseado nos serviços e em produtos imateriais (Sant’Anna* ) consiste em um dos aspectos mais importantes oferecidos pelo novo modo de acumu-lação capitalista. Isto incluindo as pos-sibilidades relacionadas às novas for-mas de teletrabalho, telereuniões, te-lecomércio e sem falar naquelas con-cernentes aos diferentes usos da rea-lidade virtual, tais como nas escolas virtuais, programas virtuais, cirurgias virtuais7.

Assim, processos de P&D, produtivos e outros, já em franca difusão particu-larmente nas economias capitalistas mais avançadas, deixam de apoiar-se tanto em bases e bens materiais in-dustriais em favor das atividades re-lacionadas aos serviços e, particular-mente, aquelas atividades mais inten-sivas em informação e em conheci-mento**.

Informação e conhecimento, ao assu-mir papel ainda mais importante e es-tratégico na nova ordem econômica estabelecida, transformam-se em fon-tes de maior produtividade e de cres-cimento econômico. Tal tendência geralmente é exemplificada por meio de indicadores sobre a participação dessas últimas atividades no Produto Nacional Bruto (PNB) e proporção da população empregada em tais ativida-des nos referidos países. Conforme apontado por diferentes autores, já em 1990, mais de 40% da população em-pregada nos países mais avançados desenvolviam atividades intensivas em informação6.

Nesta discussão, ressalta-se também que a parcela considerada “invisível” da dinâmica econômica vem aumen-tando em importância ao longo dos anos. Tal fato tem particular importân-cia nos tempos atuais quando os de-nominados produtos e serviços inter-mediários de informação representam uma parcela bem maior da economia, abrangendo, por exemplo, todas as tarefas administrativas que dão base à produção de todos os bens e servi-ços finais. Reflexões deste tipo é que já têm levado, há algum tempo, à con-clusão de que realmente vivemos uma nova era histórica em que a econo-mia está mais direta e fortemente en-raizada na produção, tratamento, distribuição e uso da informação e do conhecimento.

Apontam-se ainda como importantes características correlacionadas desta era:

• a exploração mais intensa da dimen-são informacional do espaço, a qual vem apresentando progressivo cres-cimento particular, mas não exclusi-vamente, na esfera econômica. Com o objetivo de analisar tal dimensão, uma série de designações e concei-tos tem sido desenvolvida. Dentre es-tes, destacam-se o ciberespaço5, o

espaço dos fluxos8 e o espaço

infor-macional9.

• a inauguração de uma nova forma de infra-estrutura que sustenta o novo modo de produção. Neste último caso, ressalta-se, inclusive, o uso da expres-são “rodovias ou auto-estradas da in-formação” distinta (apesar de empres-tada) da tradicional infra-estrutura de transporte que baseou, deste seu ad-vento, os modelos de produção de bens materiais, desde os extrativos (agrícolas e minerais) até as formas mais sofisticadas de produtos indus-triais. Do mesmo modo que o vertigi-noso aumento da produção de bens possibilitado pela revolução industrial exigiu nova infra-estrutura de transpor-te condizentranspor-te, as atuais infovias são vistas como resposta ao, também ver-tiginoso, aumento da produção e flu-xo de informação10.

* Este autor discute as novas formas de se mensurar e classificar o setor de serviços (o qual passa a constituir-se no mais dinâmi-co do novo padrão); oferecendo também inte-ressante resenha das dificuldades que, na his-tória do pensamento econômico, diferentes autores manifestaram ao se deparar com o pro-blema de tratar deste setor geralmente consi-derado como improdutivo, particularmente devido à sua imaterialidade e, portanto, invisi-bilidade6.

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As novas estratégias e formatos organizacionais da economia da informação e do conhecimento

Como uma conseqüência das trans-formações discutidas anteriormente, reforçou-se o papel da gestão estra-tégica da informação econômica e do conhecimento como ferramenta funda-mental para o crescimento econômi-co. Conforme, por exemplo, apontado por Passos11, o desenho de sistemas

de inteligência econômica (ou inteli-gência competitiva) – tanto ao nível privado quanto público, global ou lo-calizado – ganharam destaque ainda maior nas estratégias de diferentes instituições. Tais sistemas procuram equacionar a necessidade de se pro-mover também a geração de conhe-cimentos que permitam utilizar as in-formações disponibilizadas, por meio de estratégias que se auto-alimentam. Novos modelos de gestão são desen-volvidos tanto aos níveis das esferas da pesquisa e desenvolvimento, pro-dução e comercialização de bens e serviços, quanto das esferas de pla-nejamento estratégico. Tais processos privilegiam a agilidade na tomada de decisões e na incorporação de mudan-ças e visam a adaptar as organizações à nova realidade7,11,13.

Como outra marcante característica associada a esta transição, as empre-sas e demais instituições vêm rees-truturando suas funções e atividades, assim como vêm definindo e imple-mentando novas estratégias de atua-ção, desenvolvendo e adotando novos desenhos organizacionais, novos ins-trumentos e metodologias operacio-nais. Esses novos formatos organiza-cionais enfatizam a descentralização, a terceirização e a interação interna e com parceiros de todos os tipos. Tais formatos – apoiando-se e benefician-do-se dos meios técnicos atualmente disponíveis para veiculá-los – igual-mente baseiam-se crescenteigual-mente em informação e conhecimento.

Portanto, não é de espantar o expo-nencial desenvolvimento e difusão de redes de diferentes tipos e formas reu-nindo atores espalhados pelo mundo inteiro*. Neste caso, salienta-se espe-cialmente que: (i) a constituição de redes é considerada como a mais im-portante inovação organizacional as-sociada à difusão do novo paradigma tecnoeconômico das tecnologias da informação; (ii) a competitividade das organizações passa a estar relaciona-da à abrangência relaciona-das redes em que estão inseridas, assim como a inten-sidade do uso que fazem das mes-mas12,13.

Assim é que autores, como Castells,8

vêm inclusive denominando a nova ordem como sociedade rede (network society): resultante da revolução das tecnologias da informação e da rees-truturação do capitalismo. A nova or-dem é então caracterizada pelo for-mato organizacional interativo pela transformação das bases materiais da vida, do espaço e tempo, bem como pela cultura da realidade virtual cons-truída por um sistema de mídia per-vasivo, interconectado e diversificado.

Adicionalmente e tendo em vista as características específicas do novo padrão baseado nas TICs, aponta-se para a intensificação da complexida-de dos novos processos produtivos e para a aceleração dos novos desen-volvimentos, implicando uma taxa de mudança mais rápida tanto em pro-cessos quanto em bens e serviços. Portanto, além de conter um compo-nente importante e transitório de ajuste às novas exigências, o padrão atualmente em difusão implica maior necessidade de capacitação e, ao mesmo tempo, vem exigindo dinâmi-ca redinâmi-capacitação para que os indiví-duos e instituições mantenham-se constantemente atualizados14.

Nesta discussão, ressalta-se que, para que um determinado país, insti-tuição ou indivíduo possa identificar e implementar, com sucesso, as infor-mações que gera e monitora, não bas-ta uma estrutura moderna, sofistica-da, flexível e um excelente sistema de informações. Mostra-se primordial contar com uma base de conhecimen-tos que envolva um processo de aprendizado contínuo. Assim, em face dos novos desafios apresentados e re-conhecendo a necessidade de inves-tir constantemente em inovação, pas-sam a ter relevo ainda maior os obje-tivos de promover e gerar processos que estimulem o aprendizado e a acu-mulação de conhecimentos. Neste sentido e como principalmente (mas não exclusivamente) as análises de autores das áreas de negócios e ad-ministração indicam, verifica-se maior preocupação das empresas e outras organizações com as novas exigênci-as de capacitação de recursos huma-nos.

Nesta linha, advoga-se, como nos lembra Arruda7, que, na era virtual,

quando a desmaterialização encontra-se no cerne da nova dinâmica econô-mica, as estratégias competitivas sus-tentáveis passam a cultuar não tanto o parque industrial e os tradicionais insumos produtivos, mas sobretudo o potencial humano especializado e sua capacitação, como fator de agregação real de valor duradouro às organiza-ções, e, assim, aos bens e serviços que produzem. Em tal quadro, o in-vestimento na capacitação e na atua-lização de funcionários deixa de ser visto como uma despesa e passa a ser visto como uma forma de agregar valor à organização e formar o capital humano que vai transformar o conhe-cimento produzido dentro e fora da or-ganização em conhecimento produti-vo/competitivo, contribuindo assim para a transformação da mesma em uma organização voltada para o aprendizado e para o conhecimento.

Seguindo linha semelhante, alguns autores vêm argumentando que as empresas japonesas tornaram-se extremamente bem-sucedidas no ce-nário competitivo dos anos 70 e 80, devido à capacidade das mesmas em captar informações estratégicas e criar novos conhecimentos

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do ao máximo os processos de inter-conexão e colaboração como base do aprendizado. Neste sentido, ante-põem: (i) as bases tradicionais do que consideram como “filosofia competiti-va das organizações ocidentais” – ênfase no indivíduo como agente prin-cipal da acumulação de conhecimen-tos; (ii) o desenvolvimento e adoção de práticas eficientes de “criação de conhecimentos em nível das organi-zações” (organizational knowledge creation). A partir das análises das características básicas da capacida-de das empresas japonesas em fazer uso dos formatos organizacionais in-terativos que objetivam estimular os processos para criação de novos co-nhecimentos coletivamente, Nonaka e Takeuchi14 propõem as bases de uma

nova teoria da criação e gestão de conhecimentos em organizações.

Como destacado, por exemplo, por Cassiolato15,as atuais mudanças

con-tribuem para a transformação da eco-nomia no sentido de colocar o conhe-cimento como o recurso mais estraté-gico e o aprendizado como o proces-so mais importante. Devido particular-mente a essas novas exigências e ao papel desempenhado pelo conheci-mento e pelo aprendizado no dinamis-mo do novo padrão, é que alguns au-tores vêm inclusive preferindo deno-minar a atual fase de Economia do Conhecimento ou do Aprendizado.

Tal ressalva mostra-se ainda mais importante quando se consideram os riscos associados à grande virada da informação impressa para a eletrôni-ca e à conseqüente possibilidade de hiperinformação resultante do maior volume de informação produzida e em circulação. Além disso e como apon-tam Aun16 e Arruda7, entre os mais

dis-cutidos desafios associados à econo-mia da informação, inclui-se o proble-ma relacionado à pobreza de inforproble-ma- informa-ções substanciosas em conteúdo em face da enorme quantidade de infor-mações insignificantes difundidas* .

A premência em equacionar tais ques-tões evidencia-se ainda mais quando lembramos, como nos recomenda Al-bagli17 que o controle de informações

e conhecimentos – particularmente aqueles mais estratégicos – tende a definir, cada vez mais, a posição rela-tiva dos países no cenário internacio-nal, assim como dos diferentes seg-mentos sociais dentro de cada país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura disponível sobre a Econo-mia da Informação e do Conhecimen-to tem salientado que importantes mudanças já estão em curso. Tais transformações são vistas como im-plicando importantes readaptações e reestruturações, afetando, entre ou-tros: (i) setores produtivos; (ii) institui-ções transnacionais e nacionais, pú-blicas e privadas, suas formas de or-ganização, assim como suas estraté-gias e políticas; (iii) indivíduos, uma vez que novas bases de conhecimen-to e capacitação passam a ser exigi-das no novo cenário.

Faz-se necessário identificá-las e en-tendê-las, ainda em tempo de contri-buir para orientar seus desenvolvi-mentos. Neste sentido, propõe-se ter-minar este artigo resgatando uma con-sideração final derivada da discussão realizada anteriormente: em uma épo-ca em que a importância do conheci-mento mostra-se ainda maior e suas características de cumulatividade e in-teratividade mostram-se ainda mais salientes – aponta-se para a necessi-dade de:

• superar as atuais fronteiras do co-nhecimento disponível para sua pró-pria análise, visando a minimizar as dificuldades inerentes à compreensão das atuais transformações;

• compreender que, ao invés de anta-gônicos (ou rivais), os diferentes pon-tos de vista e bagagens teórico-con-ceituais sobre temas como os abor-dados anteriormente podem oferecer a complementaridade necessária ao melhor entendimento dos mesmos;

• maximizar a sinergia que enfoques multidisciplinares podem produzir em termos de alcance e profundidade no processo de geração do conhecimen-tos nas áreas humanas e sociais, da mesma forma que nas chamadas áreas exatas. Alude aqui particular-mente a anteriorparticular-mente referida con-vergência de conhecimento nas áre-as de computação, eletrônica, siste-mas, comunicações, etc., a qual for-ma a base técnica das atuais trans-formações.

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Information and knowledge in the new world order

Abstract

This article discusses the role of information and knowledge in the new world order. The main focus is on the advent and diffusion of the so-called Information and Knowledge Economy which is inducing new activities, concepts of competitiveness, strategies and institutional formats, as well as requiring new skills.

Keywords

Information and knowledge economy; Information and communication technology; Information and competitiveness strategies.

Helena M. M. Lastres

Ph.D. em ciência, tecnologia e industrializa-ção, SPRU/University of Sussex, mestre em Engenharia da Produção, Coppe/UFRJ e economista FEA/UFRJ. Professora e pesqui-sadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, PPCI/UFRJ (Convê-nio CNPq/IBICT-UFRJ/ECO).

Referências

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