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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNICURITIBA FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA LUCIANA DE SOUSA CARBONI

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LUCIANA DE SOUSA CARBONI

A ATUAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL EM RELAÇÃO AOS CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES

CURITIBA 2021

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LUCIANA DE SOUSA CARBONI

A ATUAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL EM RELAÇÃO AOS CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, do Centro Universitário Curitiba.

Orientadora: Francielli Mores Gusso

CURITIBA 2021

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A ATUAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL EM RELAÇÃO AOS CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES

Monografia apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, do Centro Universitário Curitiba.

Curitiba, ___ de _______ de 2021

BANCA EXAMINADORA

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Aos meus tão amados pais, AMÉLIA e MÁRCIO, pelo eterno apoio durante a vida, e a jornada acadêmica, ainda que em tempos difíceis.

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Historicamente, a humanidade passou por grandes conflitos internacionais, os quais se desenvolveram por divergência de interesses entre as partes envolvidas. O conflito dentro do Oriente Médio, por muitos, é visto como atemporal, pois se estende pela história. Por sua vez, os conflitos desta região passaram a tomar proporções internacionais a partir do Século XIX, com a interferência da Europa, na nova divisão territorial do Oriente Médio, feita pelos ingleses e franceses. Os conflitos árabes- israelenses passaram a ocorrer, e a se intensificar, nos moldes que conhecemos hoje, desde então. As divergências principiológicas e os objetivos de Palestina e Israel fez com que o Direito Internacional intervisse assiduamente na situação desde 1947, com a atuação da ONU. Neste trabalho, ocorre a análise histórica dos conflitos árabe- israelense, bem como o papel do Direito Internacional no conflito desde sua exordial, e como ocorre a atuação do Tribunal Penal Internacional frente a um dos mais longos, e conhecidos, conflitos entre duas regiões que sucedeu diversos crimes contra a humanidade.

Palavras-chave: Direito Internacional. Tribunal Penal Internacional. Palestina. Israel.

Conflitos árabes-israelenses.

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Historically, the humanity went through huge international conflicts, which were developed by divergency in the goals between the parts involved. The Middle East conflict it’s seen as being atemporal once it is extended in the history. The conflicts in that region took an international path since Sec. XIX when Europe redistributed the Middle East’s states between European States and redesigned all the borders. The Arabic-israeli conflicts took place since then. The principledly divergence and the intent of Palestine and Israel suffered interference from International Law and the UN since 1947. In this project, there is a historical analysis of the Arabic-israeli conflicts, as well the action of the International Law since the beginning of the conflict, and the activity of the International Criminal Court in one of the most known conflicts in the humanity, in which occurred several crimes against humanity.

Keywords: International Law. International Criminal Court. Palestine. Israel. Arabic- Israeli conflicts.

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1. INTRODUÇÃO ... 7

2. PANORAMA HISTÓRICO ACERCA DOS CONFLITOS... 9

2.1 Antiguidade ...9

2.2 Idade Média: Os Domínios Romano e Otomano...13

2.3 Era Moderna e a Contemporaneidade ... 15

3. A FORMAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A DINÂMICA DOS CONFLITOS ATUAL... 30

3.1 As Nações Unidas e a Resolução 181: partilha territorial, criação de Israel e a internacionalização de Jerusalém...31

3.2 Cronologia dos Conflitos no Pós Segunda Guerra... 39

3.3 Os Acordos de Paz de Oslo e suas Repercussões... 46

4. VIOLAÇÃO HUMANITÁRIAS NOS CONFLITOS ÁRABES-ISRAELENSES: A ATUAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL... 51

4.1 As Regras de Direito Humanitário e o Estatuto de Roma ... 51

4.2 Contextos de Violação à Luz do Direito Humanitário... 55

4.3 Os Obstáculos à Atuação do Tribunal Penal Internacional...60

5. CONCLUSÃO ... 64

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1 INTRODUÇÃO

O Direito Humanitário surge antes mesmo da internacionalização desta área do Direito Internacional Público, através de ações como a não utilização de bandeiras brancas para emboscadas. A primeira tentativa de regulamentar a guerra ocorreu na Itália, 1858, na batalha de Soferino, a qual derivou a obra “Memórias de Soferino”, que foi a tentativa de um nobre empresário tentar regulamentar tal ação humana.

A obra abriu espaço para o surgimento da Convenção de Genebra de 1864, escrita por Henry Dunant, inspirando a inicialização e, internacionalização, do direito humanitário.

O direito humanitário proporcionou, de acordo com Cristophe Swinarski1, o surgimento das primeiras normas consuetudinárias. Tais normas são construídas através de uma prática geral aceita como lei, independentemente de aceitação por tratados. Então, como explicado por Michel Deyra2, mesmo que existam lacunas no direito ou que Estados não tenham ratificado alguma convenção, as regras consuetudinárias poderão ainda ser aplicadas em conflitos armados.

Neste sentido, os conflitos da região do Oriente Médio, que se registram a partir do antissemitismo europeu a partir do final do século XIX, se intensificaram com o movimento da criação de um Estado Judeu. Tal movimento em direção a Palestina ocorreu junto com a crise do Império Otomano, quando ocorria a disputa por territórios estratégicos por todo o mundo, território como o do Império Otomano, atualmente conhecido como Turquia.

Países poderosos como Inglaterra, a potência mundial do século XIX, e a Rússia, visavam o território otomano. Já a França, principal aliada a Inglaterra, visava os territórios da Síria, Líbano e Palestina. Assim, por serem aliadas, o acordo entre tais nações resultou no acordo de Sykes-Picot, o qual foi aprovado pela Rússia e gerou a partilha do Oriente Médio3. Apesar do entendimento entre os três países europeus, as fronteiras definidas por esses, foram contra o desejado pelos árabes.

1 SWINARSKI, Christophe. O Direito Internacional Humanitário como Sistema de Proteção Internacional da Pessoa Humana. Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos. n. 4, p. 33- 48, dez. 2003. p. 33.

2 DEYRA, Michel. Direito internacional humanitário. Lisboa: Procuradoria Geral da República, 2001.

p. 22.

3 REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. v. III. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 103.

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A região da Síria e Palestina, atualmente duas regiões com grandes guerras reconhecidas pela comunidade internacional, foram desconsideradas aos interesses dos árabes. A região da Palestina ainda era de mais complexidade, visto o interesse tanto da França quanto da Inglaterra.

Posteriormente, ao término da 1ª Guerra Mundial, o território árabe foi dividido entre ingleses e franceses, destruindo a formação original dos países árabes, surgindo as fronteiras artificiais criada por tal divisão. A consequência foi o surgimento de conflitos no Oriente Médio, principalmente por conta do compromisso estabelecido do “lar judeu”. Tal promessa do “lar judeu” é resultante do movimento da criação de um Estado Judeu. Uma vez estabelecido tal compromisso, os conflitos iniciaram, visto que os árabes entendiam que, se os judeus tinham direito a terra prometida da Palestina, que seria o Estado Judeu prometido, assim os árabes também o tinham visto que estavam lá há mais tempo.

A complexidade e profundida da origem dos conflitos árabes-israelenses é nítida. Portanto, o intuito deste trabalho é analisar o contexto histórico do surgimento de tais conflitos, o desenrolar destes atualmente e como a influência internacional, que inicialmente gerou a problemática da região, influencia politicamente a atuação do Tribunal Penal Internacional nos crimes de guerra que há tanto acontecem no Oriente Médio.

Esta monografia procurar responder a seguinte questão problema: em que medida se dá a aplicação do Direito Internacional Humanitário no âmbito dos conflitos árabes-israelenses, à luz dos obstáculos políticos à atuação do Tribunal Penal Internacional?

Através da análise histórica dos conflitos árabe-israelense, busca-se, em conjunto com a aplicação do Direito Internacional Humanitário, entender o bloqueio político que dificulta a atuação do Tribunal Penal Internacional nas situações de conflito árabe-israelense.

O procedimento a ser adotado será a pesquisa bibliográfica, por meio da pesquisa em bibliotecas, tanto físicas como digitais de livros, artigos científicos, publicações em periódicos, entre outros; por fim, a técnica a ser utilizada para sintetizar o conteúdo pesquisado será o fichamento.

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2 PANORAMA HISTÓRICO ACERCA DOS CONFLITOS

A temática desta monografia refere-se aos conflitos árabes-israelenses e a atuação do Tribunal Penal Internacional perante esses. Contudo, para uma melhor compreensão do tema a ser estudado, é necessário analisar a história da região, conhecida desde o século XX, como Oriente Médio4, que atualmente é composto por 16 países, contando com a Palestina.

2.1 ANTIGUIDADE

O período histórico da antiguidade é remitido ao lapso temporal entre o ano 4.000 A.C até 476 D.C, com a queda do Império Romano do Ocidente. A importância de retratar os fatos históricos deste período se relaciona com a própria construção histórica do que entendemos por Oriente Médio, como foi originado e o que levou a que posteriormente surgissem conflitos na região.

Na antiguidade, conforme explicado pelos autores Flavio de Campos e Regina Claro5, a Mesopotâmia era dividida em duas: Mesopotâmia alta, com características montanhosas, clima seco, vegetação escassa e a Mesopotâmia baixa, que continha muitos pântanos, bosques e solo fértil. Atualmente, o território da Mesopotâmia se encontra no Iraque, como direcionado pelos autores anteriormente citados.

Os sumérios foram os primeiros a povoarem e controlarem a região da Mesopotâmia baixa6, por volta de 4.000 A.C. e, apesar de terem origem desconhecida, fundaram o primeiro núcleo urbano (“Eridu”), que atualmente é a cidade de Abu Shahrein, no Iraque.

Os núcleos urbanos criados pelos sumérios foram totalmente criados por eles, visto que a região em que estavam era cercada por pântanos, criando então estruturas para que fosse possível contornar a abundância de água. As cidades criadas por eles, eram vistas como lugar de criação do mundo e dos humanos.

Os sumérios praticavam o trabalho coletivo, o que possibilitou o crescimento das terras cultiváveis, a expansão agrícola e a urbanização da região, junto com o

4 REIS FILHO; FERREIRA; ZENHA, 2002, p. 99.

5 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. São Paulo, Leya, 2012. p. 41.

6 Loc. cit.

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crescimento populacional, mas ainda se mantinha a propriedade das terras coletivas, como explicado pelos autores.

Por escassez de matéria-prima essencial à produção artesanal, os sumérios também desenvolveram a organização de rede de comércio e troca de longo curso7, para que ocorresse a rotação das matérias-primas e não acarretasse a falta dela.

Já por volta do ano 3.000 A.C, a escrita passou a ser utilizada para regrar a sociedade suméria, e tais conjuntos de decretos (“Me”), começaram a se espalhar pela cidade sagrada de Eridu, para que posteriormente se espalhasse pelo mundo8.

A Sumérias, ainda no ano 3.000 A.C, não havia se tornado um Estado.

Entretanto, havia desenvolvido diversas cidades-autônomas (cidades-estados), e nesse período possuía entre 15 e 20 cidades deste porte. Apesar de serem autônomas, possuíam em comum a língua e a religião, como explicado por Campos e Claro em sua obra.

Desde a época 3.000 A.C, os povos originados dos semitas haviam tomado rumo para a baixa Mesopotâmia. Estes eram advindos dos desertos da Síria. Em 2.800 A.C, quando ocorreu a queda da última dinastia suméria, pequenos reinos que lutavam por hegemonia política na região entraram em conflito, disputando as cidades de Isin e Larsa.

Enquanto por um lado havia a disputa dos últimos sumérios por poder, os acadianos expandiram-se no período de 2.350 A.C, fundando uma dinastia semita por Sargão I9, tendo por capital Acade, que estava entre os rios Tigre e Eufrates, se tornando o primeiro império mesopotâmico, do golfo Pérsico ao Mar Mediterrâneo.

Na época de 2.100 A.C, o Império dos acadianos caiu, através das disputas internas e invasões, bem como de conflitos. Tal fato possibilitou um momentâneo renascimento de cidades sumérias, o que acarretou o surgimento de um novo império com a terceira dinastia de Ur.10, que contava com 33 cidades-estado da Suméria e Acade.

7 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 42.

8 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 42.

9 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 45.

10 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 46.

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Posteriormente, ocorreu o declínio de tal Império com a volta de invasões na baixa Mesopotâmia, e os povos semitas constituíram outras cidade-estado, e dentro das disputas com buscas hegemônicas, Isin, Larsa e Babilônia 11foram destaques.

O Império Babilônico se ergueu após os amoritas (descendentes dos semitas), fundara no ano 3.000 A.C, a cidade de Babilônia, erguida no ponto em que os rios Tigre e Eufrates se encontram e tornou-se grandiosa nas rotas comerciais.

Após o período de disputas e conflitos, Babilônia conseguiu se expandir territorialmente e controlar as cidades vizinhas. Babilônia chegou ao seu ápice quando Hamurabi tomou poder, estendendo o Império para Assíria, alta Mesopotâmia, e Caldeia, baixa Mesopotâmia.12

Hamurabi foi um líder importante para o Império babilônico. O líder organizou códigos de leis (Código de Hamurabi), que foi conhecidamente relevante para o mundo jurídico e seu desenvolvimento. Entretanto, com as revoltas internas e a morte de Hamurabi (1686 A.C), houve a fragmentação do Império Babilônico e a tomada de poder da dinastia Cassita. A dinastia Cassita manteve as tradições babilônicas e governou até 1430 A.C.13

O Império Assírio, o qual foi fortemente influenciado pelo Império Babilônico, (iniciado em 900 a 800 A.C), já havia chegado na região em 3.000 A.C ao norte da Mesopotâmica, e haviam fundado Assur em 2.400 A.C. Em 2.000 A.C haviam se estendido até Anatólia (região que posteriormente se tornou o berço do Império Otomano), para espalhar seu comércio14.

Sob a formação de um Estado que se tornou forte e militarizado, os assírios conquistaram a Mesopotâmia, Palestina e Egito, tornando Assur a capital do Império.

O imperador Assurbanipal (668-626 A.C), como explicado por Campos e Claro, as comunicações do Império foram melhoradas, entretanto foi estipulada uma política de terror, para criar medo entre os vencidos durante as expansões. Apesar da tentativa, em 612 A.C, após a morte de Assurbanipal, junto com a colisão da heterogenia dos

11 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 46.

12 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 47.

13 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 48.

14 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 48.

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povos que compunham o Império, houve a queda, o que possibilitou uma segunda ascensão da Babilônia como centro do Oriente Médio15.

Através da nova ascensão da Babilônia, com o Imperador Nabucodonosor II, pelo Império Neobabilônico, os militares foram utilizados para novas conquistas, o que resultou na aquisição da Síria, Fenícia e Judá.

A conquista de Judá fez com que o Imperador iniciasse uma guerra entre 598 e 587 A.C, para que ocorresse a destruição de Jerusalém e a deportação de inúmeros judeus16, possibilitando riquezas para o Império, e a construção de grandes monumentos, como templos, palácios e muralhas.

Ainda referente a bacia do Mediterrâneo na idade antiga, o Império Romano, posteriormente conhecido como Império Bizantino, possuía algumas áreas da região, como o Egito, Antióquia (Síria) e Alexandria17.

Dentro desse império, existiam algumas situações as quais o diferiam de outros. O império era cristão, e praticava a conversão de sua população.18 Em relação a diferenças doutrinárias, a principal era referente à natureza de Cristo. O Concílio da Calcedônia, no ano de 451, definia Cristo como humano e divino, formulação aceita pela Igreja no Império bizantino.

No século III, o Império Romano começa a esgotar seus recursos, devido aos perigos externos que foram aumentados19. Assim, o sistema de defesa territorial do Império se tornou insuficiente para a proteção deste, que passou a procurar por uma linha fortificada e maciça, o que foi falho e contribuiu para a queda do Império Romano do Ocidente.

Em continuidade, em 476 D.C, o Império Romano do Ocidente chega ao seu fim. As invasões bárbaras atuadas pelo povo germânico, foi o que possibilitou o declínio do Império.

As invasões ocorreram de modo gradual, iniciando pelas fronteiras com os rios Danúbio e Reno. Desde a época do imperador César (100 A.C – 44 A.C), existia

15 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 49.

16 CAMPOS, Flavio de; CLARO, Regina. Oficina de História. Vol. Único. 1ª. Ed. São Paulo, Leya, 2012, pág. 49.

17 HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo, Companhia das Letras, 2006, pág 11.

18 HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo, Companhia das Letras, 2006, pág 11.

19 BERTONHA, João Fabio. Os Impérios e suas Guerras: Relações Internacionais Contemporâneas (Século XIX e XX). São Paulo: Pontocom, 2017, pág. 20.

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conhecimento dos germânicos. Apesar de que até certo momento a convivência era pacífica até o século IV, as invasões destes iniciariam devido à pressão que sofreram com o avanço do povo huno pelo ocidente.

O povo huno (hérulos), ao decorrer do seu avanço dentro do ocidente, saqueava as tribos e as destruindo. Quando chegaram em Roma, em 476 D.C, o líder deles, Odoacro, comandou a invasão e destruição da capital romana, desencadeando o fim do Império Romano do Ocidente.

2.2 IDADE MÉDIA: OS DOMÍNIOS ROMANO E OTOMANO

Entre os territórios dos grandes impérios, Bizantino e Sassânida, no início do século VII, nascia um movimento religioso na cidade de Meca (Arábia Ocidental), o qual, durante o percurso do tempo, viria a dominar metade do mundo ocidental, conforme ilustra o autor Hourani20.

No Século VII, o profeta Maomé fundou a religião muçulmana, que se disseminou por diversas regiões, as quais iam além do Oriente Médio. Ainda neste período, os árabes eram conhecidos por serem aqueles que ocupavam a Península Arábica. E, seguindo a religião de Maomé, passaram a adotar Meca como a capital religiosa dos mulçumanos, sendo a nova identificação daqueles que passaram a seguir a religião de Maomé.

A religião criada por Maomé, conforme explicado por Hourani, convocava tanto homens como mulheres à reforma, submissão e vontade de Deus. Entendiam que as vontades de Deus eram expressas no que ele e seus seguidores acreditavam, e entendiam como mensagens divinas, posteriormente tipificadas no Corão (livro sagrado da religião Islã).

Posterior a morte do profeta Maomé, como relatado no livro “O Século XX21”, as tropas árabes passaram a propagar a religião mulçumana por meio da expansão militar. O resultado da expansão militar foi a constituição do Império Árabe, o qual dominou a península Ibérica, o Norte da África, parte do Império Bizantino (continuação do Império Romano), Sassânida e Persa, chegando as fronteiras da

20 HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p.

10.

21 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 100

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Índia e China. No Império formado, a língua árabe e a religião mulçumana eram consideradas como oficiais, ainda que existisse a coexistência do judaísmo e cristianismo, que podiam administrar suas comunidades e do benefício da liberdade de culto, direito adquirido por meio do pagamento de impostos.

“(...) exércitos recrutados entre os habitantes da Arábia conquistaram os países vizinhos e fundara um novo Império, o Califado, que incluiu grande parte do território do Império Bizantino e todo o Sassânida, e estendeu-se da Ásia Central até a Espanha.”22

A diferenciação entre árabe e islã possui uma conotação importante, uma vez que árabe são os indivíduos que se identificam com a língua árabe, cultura e os valores desta região, enquanto mulçumanos são os que, por sua vez, seguem a religião mulçumana fundada por Maomé no século VII. Portanto, nem todo árabe é mulçumano, bem como nem todos os mulçumanos são árabes.

No Século XIII ocorreu a migração originada na Ásia Central em direção ao Oriente Médio e Europa. Em decorrência da migração, houve as invasões mongóis, as quais prejudicaram os árabes. Isso porque o Império Árabe passou a se dividir em diversas unidades políticas fragmentadas. Dentro dos emirados das unidades políticas, havia uma específica unidade na península de Anatólia. Tal região possuía fraca influência do Império Bizantino, favorecendo a propagação do islamismo e da língua turca. A península Anatólia era governada pela família Osmã, e posteriormente se tornaria o Império Otomano. O Império Turco Otomano foi fundado no ano 1258, século XIII e se prolongou até o século XX.

No século X, o Califado foi destruído, surgindo califados rivais no Egito e Espanha. Entretanto, a herança social e cultural do Califado permaneceu erguida. A população, em sua maioria, tornou-se mulçumana, mas as comunidades judaicas e cristãs continuaram a existir.23

A expansão do Império Otomano em direção ao oeste, proporcionou também a expansão a religião mulçumana (islã), fazendo com que a religião fosse um traço distintivo, e importante, perante a diferenciação entre o Império Otomano e o Império

22 HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo, Companhia das Letras, 2006, pág 10.

23 HOURANI, Albert. Uma História dos Povos Árabes. São Paulo, Companhia das Letras, 2006. Pág 10.

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Bizantino, o qual se encontrava enfraquecido diante de suas disputas contra Gênova, Veneza, Sérvia e Bulgária.

Devido a expansão territorial e religiosa do Império Otomano, os conflitos entre este e seus Estados vizinhos, eram justificados pela religião, pois os otomanos entendiam que a guerra deveria ser travada contra os infiéis. Deste modo, ao levar guerra aos infiéis, o Império Otomano estava buscando a legitimação de seu poder, com o intuito da criação de alianças.

Os otomanos se beneficiaram do regresso de força do Império Bizantino, causado pelas disputas com outros Estados da Europa, o que oportunizou vastas conquistas de terra até o século XVI. Dentro de tais territórios ocupados pelos turcos otomanos após a expansão territorial foi o do Oriente Médio.

Com a expansão territorial do Império Otomano no século XIV, o Império voltou sua atenção para a região da Arabia que continha diversas unidades políticas, como Anatólia. Assim, o Império conquistou a parte da região que faltava, sendo que tal possuía características heterogêneas, como diversas religiões, ainda que a mulçumana fosse a maioria. Posteriormente, a região toda da Anatólia ficou conhecida como “Bálcãs”.

A conquista da região supramencionada, favoreceu o Império Otomano em sua missão de tomar Constantinopla, uma vez que o proporcionou a oportunidade de cercar a capital. A conquista da tão importante Constantinopla, no ano de 1453, que anteriormente já havia sido capital dos Impérios Romano e Bizantino, foi possível através da modernização da força bélica do Império Otomano, o que levou a Constantinopla ser o centro de todo o Império turco.

As diversas vitórias do Império Otomano proporcionaram a formação de diversas alianças entre os países europeus em uma tentativa para conter o avanço do Império turco.

2.3 ERA MODERNA E CONTEMPORANEIDADE

O período dos anos de 1512 a 1574, ocorreu o ponto culminante do Império Otomano em suas expansões territoriais, com a conquistas de Estados como a Síria, Palestina, Egito, Mesopotâmia, parte da Arábia Saudita (Hejaz), Crimeia, Polônia,

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Hungria, dentre outros. Tal amplificação do Império apenas foi contida em Viena, em 1529 e, posteriormente, em 168324.

A rápida e consistente conquista territorial do Império se deu, principalmente, pela criação das tropas de janízaros (novos exércitos), que consistia no ato das famílias cristãs dos Balcãs que se tornaram submissas ao Império, entregavam seus filhos (como uma analogia ao pagamento de tributos). Tais meninos quando recolhidos, eram treinados e ensinados sob a fé islâmica, para então se tornarem a elite do exército do Império Otomano.

No aspecto econômico, ainda no século XVI, no clímax do Império Otomano, estavam presentes características que iriam propiciar o declive do Império nos séculos seguintes, como a não produção bens que suprissem o mercado interno, bem como a falta de produção de metais para a demanda do Império. Tais características, junto com a diminuição da expansão de terras, e o custo para sustentar as grandes porções territoriais já conquistadas, proporcionaram um problemático déficit financeiro.

No Século XVII, em decorrência do avanço das técnicas militares das potências europeias, o Império Otomano começou a decair no campo de batalha, visto que não haviam acompanhado as mudanças tecnológicas de conflito, e a manutenção do exército se tornou demasiadamente cara para o molde administrativo-financeiro do Império25.

Ao final do século XVIII, por ser um Império que não havia representação diplomática, a relação do Império com a França estava bastante abalada, devido a Revolução Francesa, sendo que era o Estado que o Império mantinha de fato uma relação. Em relação a Grã-Bretanha, Estado que estava se tornando a principal potência mundial, apesar de o Império possuir uma embaixada em Londres, a Grã- Bretanha possuía grande interesse nos territórios otomanos.

O aspecto diplomático para o Império Otomano, que é compreendido por ser o período entre o século XVI ao final do século XVIII, foi considerado como um peso importante para que a queda do Império ocorresse posteriormente. Pois, a partir da diplomacia que foi negociada, fazendo com que os países europeus também estabelecessem embaixadas em Constantinopla.

24 SANTOS, Ana Carolina dos. Percepção do Império Otomano na Obra de Arnold J. Toynbee.

Dissertação (Mestrado em Direito). 107f. Universidade de São Paulo. São Paulo, 2018. p. 25.

25 Ibid., p. 31.

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A partir do século XIX iniciou o declínio do Império Otomano, junto com a ascensão de novos Estados-Nação. Apesar de que, ao analisar a história deste Império, sua coexistência com diferentes comunidades, inclusive aquelas que faziam parte do Império, eram consideradas boas. Entretanto, com a expansão do idealismo de independência das nações, o convívio dos otomanos com os grupos minoritários de religiões diversas, passou a ser mais debilitado.

Dentro deste período, até o século XX, o Império Otomano, teve sua força militar diminuída, bem como a sua política e econômica, inclusive em relação à diplomacia perante as potências europeias. Tal fato ocorreu devido a soberania enfraquecida do Império, em defluência das grandes potências e da sua própria sociedade heterogênea, em um ambiente internacional que visava a filosofia nacionalista.

Dentro do Império, as disputas internas sobre o governo imperial, gerou uma ruptura dentro do Império, o qual contribuiu para um maior desgaste deste. Os governos provinciais, uma vez que eram formados por uma elite da dinastia otomana, concentraram o poder político e financeiro, gerando as disputas com o governo imperial, pois, enquanto o governo das provinciais buscava um poder oligárquico, o governo imperial, do sultão, visava o poder autoritário.

O declínio do poder militar do Império provocou a constante, e crescente, perda de territórios dos otomanos, enfraquecendo-o como um todo, visto a perda de recursos e recolhimento de impostos, dificultando a situação financeira do Império Otomano, devido ao não acompanhamento deste perante a Europa ocidental, como França e Grã-Bretanha. Por consequência, o exército ficou em uma situação ainda mais defasada, prejudicando a defesa da, ainda vasta, territorialidade total do Império Otomano.

Novos tempos chegaram para o Império Otomano, a partir de 1798 e 1799, com a invasão napoleônica no Egito. Como o Egito era parte do Império Otomano, o Império passou a se tornar alvo de disputa entre as Grandes Potências europeias.

Assim, a expedição napoleônica teve um grande papel ao tornar o Oriente Médio e o Norte da África, ambos territórios otomanos, como alvo da França e Grã-Bretanha, em suas disputas territoriais expansionistas.

Com o objetivo de tentar impedir a intervenção estrangeira, o governo otomano tentou reorganizar o Império, com o intuito de tornas mais eficientes a burocracia e o exército, visando conter o avanço econômico e político das Grandes Potências.

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Entretanto, a tentativa de reorganizar o Império com a tentativa de criar uma identidade em comum, em um Império heterogêneo, foi falha.

Assim, movimentos locais por emancipação surgiram no Império Otomano, principalmente na região dos Bálcãs, onde havia um grande interesse das Grandes Potências, como a Rússia e Hungria. Tais movimentos tomaram proporção internacional, devido as disputas das grandes potências, que desejam patrocinar os movimentos. Tal disputa entre os Estados, gerava rivalidade, que era visto por outras potências como um problema de poder, gerando a “Questão Oriental”.

A “Questão Oriental” surgiu no final do século XVIII e perdurou até o início do século XX. O Império Otomano começava a ser observado como um “iminente colapso”, como descrito por Ana Carolina dos Santos26. Por um lado, apesar de que tal fato possibilitaria grandes ganhos, estratégicos e econômicos, também representaria uma grande probabilidade de disputas pela divisão dos territórios otomanos.

Entretanto, existia outra questão que as Grandes Potências consideravam. As manifestações internas das minorias heterogêneas dentro do Império Otomano, ganham força e, por conta dos interesses conflitantes dentro das potências, surgiram momentos pontuais da defesa da integridade do território otomano.

A vasta complexidade da “Questão Oriental”, resultou em uma constante tensão internacional, a qual foi a possibilitadora da sobrevivência do Império Otomano até o início do século XX.

A disputa entre franceses e britânicos sobre o domínio da influência do Egito foi um passo importante para o primeiro fim da dominação otomana sobre uma região importante, pois era banhado pelo Rio Nilo, e era uma terra fértil.

A Grã-Bretanha, com as expansões das grandes potências, também possuía preocupações com a expansão russa, devido ao direcionamento russo para a região do Afeganistão e Pérsia, ambas do Império Otomano. Tal expansão se revelava como uma preocupação aos britânicos, devido a política externa britânica do período, que visava suas colônias e os Estreitos, que revelava a questão do poderio naval.

Visando seus próprios interesses, a Grã-Bretanha entendia que manter a integralidade de terras do Império Otomano era essencial, pois assim existiria uma

26 SANTOS, Ana Carolina dos. Percepções Sobre o Império Otomano na Obra de Arnold J.

Tonybee. SÃO PAULO, 2018, pág. 44.

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área neutra em que a Rússia não poderia transgredir dentro de suas expansões territoriais.

Dentro da Rússia, no ano de 1814, século XIX, iniciava uma movimentação dos gregos que emigraram para lá com o intuito de formar um Estado nacional grego, e liberar, o que estes indivíduos consideravam como pátria, do Império Otomano.

Assim, foram reunidos gregos e apoiadores de diversas localidades, para que a independência grega fosse possível, como o influente inglês Lord Byron, peça principal parte despertar interesse do público inglês para ajudar a causa.

Em decorrência do alarde público que Lord Byron trouxe para a questão, a população inglesa começou a cobrar o governo para que este intervisse em favor dos gregos. Diante de tal, a Grã-Bretanha interveio no caso a favor dos gregos, ainda que fosse contra o entendimento da necessidade de preservar o Império Otomano para seu próprio interesse, para assim evitar um possível fortalecimento da Rússia. Em 1822 o Império Otomano já havia perdido 40% de seu domínio territorial27.

Com a integração da Grã-Bretanha junto com outras Grandes Potências em favor da independência grega, fazendo com que os otomanos, incluindo o Egito, fossem derrotados na batalha de 1827, conhecida como Batalha de Navarino.

O conflito desenvolvido pelos gregos em decorrência do Império Otomano, viabilizou uma resposta, ainda que efêmera, para a “Questão do Oriente”. Para as questões de perda territorial do Império Otomano, não poderia existir uma bilateralidade na solução, mas deveria envolver negociações e o ajuste de poder pelas Grandes Potências.

Deste modo, dentro da sociedade inglesa, as extremidades políticas, liberais e conservadores, passaram a discordar sobre como proceder com o Império Otomano.

Os conservadores acreditavam que seria de bom entendimento manter a integralidade do Império, criando uma barreira entre o aumento de influência da Rússia, bem como do equilíbrio europeu. Já os liberais acreditavam que era inconcebível manter um Império que mantinha desigualdade entre grupos e sujeitavam a minoria não-mulçumanas ao intolerável. O último grupo passou a pressionar o governo britânico, para que este intervisse no Império Otomano.

27 HABIB, Professor Doutor Mohamed. A Queda do Império Otomano e a Formação dos Países Árabes. UNICAMP.

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Em 1846 ocorreu uma interferência crítica das grandes potências em relação as minorias cristãs e Jerusalém. A Rússia interveio em favor dos ortodoxos, enquanto a França assumiu o papel de protetora das minorias católicas. Tal rivalidade tomava forma não apenas pelo que ocorria no Império Otomano, mas também pelo que ocorria dentro da Europa.

Dentro da Europa desconfiava de quem Luís Napoleão, sobrinho de Napoleão Bonaparte, poderia desafiar o equilíbrio construído pelo Congresso de Viena, e a Rússia temia que a influência francesa desequilibrasse a posição russa no Império Otomano. Entretanto, em 1853, quando a Rússia atacou o Império Otomano, visto que a França havia saído vitoriosa do entrepasse religioso na defesa das minorias, o que chamou negativamente a atenção da Grã-Bretanha, fazendo com que essa se aliasse a França.

Tal aliança propiciou no Congresso de Paris de 1856 o compromisso de manter a integralidade territorial do Império Otomano. Este inclusive chegou a fazer parte como membro do Concerto das Nações, mas tal fato não era diretamente correlacionado com a soberania do Império.

Entre esse período, em 1854, ocorreu ainda a Guerra da Criméia, em que Inglaterra e França se aliaram para apoiar o Império Otomano em sua vitória contra a Rússia. Em decorrência de tal, o movimento de nacionalismo árabe, dentro do território do Império, também contribuiu para o declínio deste.28 Eram movimentos fortes que originaram da mesma espécie de pensamento que fez com que o sionismo surgisse, buscando autonomia e independência.

“(..) Embora o declínio do império tenha começado ainda em meados do século XVII, quando o exército otomano foi barrado às portas de Viena, foi só no século XIX que ele realmente entrou em crise, com o interesse das potências europeias em expandir-se naquela direção. Era a época da disputa por áreas estratégicas no mundo inteiro (...)”.29

Em 1879 o governo do Império Otomano decretou falência. A crise financeira do Império havia sido intensificada pelo empréstimo dos anos anteriores que foram feitos no exterior, como uma tentativa de evitar a persa territorial pelo avanço russo

28 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 103.

29 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 102.

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na Guerra da Criméia. Para tentar reerguer o Império, em 1881 foi instituído a Administração da Dívida Pública Otomana, que foi o conselho formado por membros das Grandes Potências das quais o Império tinha adquirido dívidas. Esses Estados enviaram conselheiros para que o Império se mantivesse em pé para o pagamento de suas dívidas, bem como para fornecer patrocínios para as empresas destes países, as quais poderiam produzir dentro do Império Otomano.

O fato de que as Grandes Potências pudessem empreender dentro do Império Otomano fez com que progredisse a rivalidade entre esses, principalmente pelo rápido e eficaz crescimento da Alemanha no contexto internacional.

A Administração Pública Otomana se tornou como um espaço de disputa e rivalidade entre as Grandes Potências, fazendo com que o Império Otomano se tornasse um local em que as Grandes Potências disputavam por influência, sendo definido por Malte Fuhrmann30 (2011 apud DOS SANTOS, 2018) como semicolonial:

“Como um todo, a região constituía um espaço intermediário em uma época que dividiu o mundo entre colonizadores e colonizados, um espaço que (...) deve ser denominado “semicolonial”.

“Semicolonial” nesse sentido não é usado para descrever simplesmente dominação por governo indireto. Antes, ele se refere a um espaço onde as velhas hegemonias se tornaram incertas e as novas ainda deveriam ser postas à prova; (...) no final do período otomano não havia nenhum centro de poder único que estimulasse e dirigisse os processos políticos, sociais e culturais.”.31

Ao final do século XIX, o Império Otomano sofria com o seu orçamento e com o seu controle interno. O território dos Bálcãs já havia sido emancipado, o que dificultou ainda mais a situação do Império. Tal fato fazia com que o Império se tornasse dependente, o que era uma situação de extremo oportunismo para a Grã- Bretanha, visto que essa tinha como objetivo adquirir partes dos territórios otomanos para seu próprio território, ainda que de maneira não-oficial, sendo as regiões de maior interesse as árabes.

Entendendo os movimentos da Grã-Bretanha, França e Rússia, o Sultão Otomano entendeu que, por estratégia, seria necessária uma aproximação da Alemanha, visto que esta não possuía colônias nas regiões mulçumanas, podendo ser considerado como um Estado imparcial.

30 SANTOS, Ana Carolina dos. Percepções Sobre o Império Otomano na Obra de Arnold J.

Tonybee. SÃO PAULO, 2018, pág. 55.

31 SANTOS, Ana Carolina dos. Percepções Sobre o Império Otomano na Obra de Arnold J.

Tonybee. SÃO PAULO, 2018, pág. 55.

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Quando a Questão Oriental foi novamente trazida à tona pelos nacionalistas Bálcãs, que haviam se emancipado do Império, e pela Rússia, Bismark (chanceler da Alemanha), ofereceu uma nova tentativa de reequilíbrio europeu que resolvesse tal questão. Assim, no Congresso de Berlim, 1878, a Administração das Dívidas Públicas Otomanas, acordo formado em Paris em 1856, foi abandonado. O Congresso de Berlim firmou a interferência estrangeira no Império Otomano, o que criou movimentos separatistas e nacionalistas entre a população do Império Otomano.

O Tratado de Berlim, que suscitou na intervenção das Grandes Potências, incentivou a reação dos Jovens Otomanos. Este grupo defendia a valorização do elemento turco, e acabaram por articular a tomada de poder do Sultão, através do Comitê pela União e Progresso (CUP), que os jovens criaram. O Sultão renunciou em 1909, e seu irmão, que entrou no poder, promoveu uma política de modernização das Forças Armadas e da valorização dos turcos, através da CUP.

Em 1890 foi marcante o surgimento do sionismo32. Tal movimento, como explicado pelos autores do livro “Século XX”, preconizava a volta de Sion (colina de Jerusalém que simbolizava a Terra Prometida), foi marcado pelo sentimento antissemitismo advindo da Europa.

O continente europeu em sua esfera política passou por uma falência em relação a integralização dos judeus na sociedade europeia durante todo o século XIX, e em diversos países da Europa. Conforme abordados pelos autores previamente mencionados33, a prática anti-semitista ficou evidente após os massacres de comunidades de judeus (“pogroms”), que ocorreram na Rússia e provocou reações contrárias ao sionismo na França.

Em contrapartida ao movimento antissemitismo que foi gerado na Europa, nasceu a ideia de construção do Estado Judeu, que foi ganhando força, como explicado no livro “Século XX”.34 É necessário, e importante, esclarecer que o sionismo entendia o judaísmo como uma nação, e, portanto, deveriam ter o seu próprio Estado-Nação.35

32 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 101.

33 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 101.

34 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 101.

35 HUGUENIN, Ana Carolina; LIMONCIC, Flávio; GRIN, Monica. História do Oriente. Vol. I. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013. Pág. 52.

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O sionismo entende o judaísmo não como uma religião ou como uma tradição cultural, mas como uma nação. Em outras palavras, para o sionismo os judeus formam uma nação específica, assim como os franceses, alemães ou poloneses e, como estes, devem ter o seu próprio Estado-Nação. Como todos os movimentos nacionais, o sionismo teve de construir uma memória nacional que o legitimasse perante os próprios judeus e os demais povos.

Tal memória foi relacionada à narrativa bíblica [...].36

O sionismo pregava a criação de um Estado laico para que os judeus tivessem segurança, e possuíam um viés influenciado pelo socialismo europeu. Diversos sionistas acreditavam que deveria existir uma comunidade coletiva que permitisse a criação de uma nova sociedade, com valores igualitários.37 Entretanto, não foi um movimento que houve uma forte aderência dos judeus, pois estes ainda acreditavam que ocorreria uma integração socialista dos judeus à comunidade europeia.

Quando os judeus sionistas começaram a emigrar para a Palestina, o Império Otomano estava em crise. Turcos originários da Ásia Central e convertidos ao islamismo, os otomanos reunificaram o mundo mulçumano no século XVI, constituindo um império que duraria até a Primeira Guerra Mundial [...].38

Entretanto, os judeus passaram a sofrer preconceito racial no século XIX, por serem associados aos semitas como uma raça inferior, produzindo violência contra estes na Europa, mesmo em países que eram reconhecidos como cidadãos. 39

Em 1897, na Basiléia, ocorreu o I Congresso Sionista40, a qual pedia, em nome do povo judeu, a criação de um lar na Palestina para eles, garantido por lei pública.

Foi posta expressamente na resolução de tal congresso, as aspirações dos novos judeus, que advinham da Europa Central e Oriental.

Neste ponto, em relação aos Congressos Sionistas que perduraram pelo tempo e ainda ocorrem atualmente, o rabino Theodor Herzl (1860-1904) é considerado como o pai do sionismo político.41

[...] Muito embora ele (sionismo) fosse em sua origem um movimento de caráter liberal – Theodor Herzl, seu fundador, pensava em um Estado para os judeus nos moldes da monarquia constitucional austro-húngara -, logo

36 HUGUENIN, Ana Carolina; LIMONCIC, Flávio; GRIN, Monica. História do Oriente. v. 1. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2013. p. 52.

37 REIS FILHO; FERREIRA; ZENHA, 2002, p. 102.

38 Loc. cit.

39 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, op. cit., p. 54.

40 HOURANI, 2006, p. 168.

41 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, op. cit., p. 56.

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diversas correntes ideológicas – socialistas, religiosos, direitistas – aninharam-se em seu seio e buscaram definir o desenho do futuro Estado”.42

Theodor Herzl acreditava que para solucionar a questão judaica, era necessário que a questão fosse transformada em uma questão política universal, de modo que a sua regularização ocorresse por meio de conselhos43.

Deste modo, Herzl visualizou a instituição “Society of Jews” (sociedade de judeus) e “Jewish Company” (companhia judaica) para direcionar os judeus ao novo território, sendo a primeira com o objetivo de negociar politicamente o território, e a segunda seria para liquidar os bens e fortunas dos imigrantes judeus e para organizar a vida econômica na nova localidade. Por serem instituições que demandava de grande confiança, acabou por não vigorarem44.

Ainda neste aspecto, como para Herzl a localidade geográfica do novo território dos judeus era irrelevante, foram pensados em localidades como Uganda, Egito (El- Arish) e, até mesmo, na Argentina. Para o último país, o pai do sionismo político entendia que a Argentina seria um país naturalmente rico pelas abundâncias que a Terra lhe oferecia, de imensa superfície e com população escassa, possibilitando um maior interesse deste em ceder-lhes territórios45.

Ao final do século XIX, a influência da Alemanha no Oriente Médio, cada vez mais crescente, passava por preocupar os governos da Grã-Bretanha, França e Rússia. O rápido crescimento industrial da Alemanha, aumentou sua presença no Oriente Médio, o que provocou os britânicos, devida a sua presença majoritária na localidade.

Em decorrência da preocupação com a gradação da presença da Alemanha no Oriente Médio, no início do século XX, Grã-Bretanha, França e Rússia formaram uma aliança, visto que a preocupação com o avanço alemão se demonstrava mais grandioso do que a rivalidade entre tais Estados.

Diante da aliança, a Grã-Bretanha, que já havia assegurado seu controle sobre os Estreitos, poderia conceder Constantinopla à Rússia, para que esta mantivesse seu apoio contra os alemães. Por outro lado, também seria necessário respeitar as

42 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, 2013, p. 52.

43 FAINGOLD, Reuven. O legado de Theodor Herzl. Morashá. set. 2010. Disponível em:

<http://www.morasha.com.br/biografias/o-legado-de-theodor-herzl.html>. Acesso em: 14 out. 2021.

44 FAINGOLD, Reuven. O legado de Theodor Herzl. Morashá. set. 2010. Disponível em:

<http://www.morasha.com.br/biografias/o-legado-de-theodor-herzl.html>. Acesso em: 14 out. 2021.

45 FAINGOLD, Reuven. O legado de Theodor Herzl. Morashá. set. 2010. Disponível em:

<http://www.morasha.com.br/biografias/o-legado-de-theodor-herzl.html>. Acesso em: 14 out. 2021.

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exigências da França sobre a Síria, para que assim a aliança fosse de fato formada, para que estas pudessem estar lado a lado contra um possível ataque da Alemanha.

Em relação ao Comitê pela União e Progresso do Império Otomano, uma parte deste era pró-britânico, pois acreditavam que poderiam unir as forças do Império com a Grã-Bretanha, fazendo com que o Império Otomano estivesse seguro das investidas russas e francesas. Entretanto, a outra parte do CUP, a parte militar, acreditava que a melhor aliança que poderia ser feita seria com a Alemanha.

Como a proposta de fazer uma aliança com a Grã-Bretanha foi rejeitada pelos ingleses, visto que estes já haviam formado uma aliança com a França e Rússia, e a necessidade de unir o Império com uma Grande Potência era urgente, o Império Otomano formou aliança com a Alemanha.

Em 1914 iniciou a 1ª Guerra Mundial, a qual perdurou até 1918. Considerando as alianças anteriormente formadas, de um lado havia Grã-Bretanha, França e Rússia, sendo a última até 1917, e do outro lado a Alemanha, o Império Austro- Húngaro e o Império Turco-Otomano.

A Grã-Bretanha, tendo conhecimento dos movimentos nacionalistas que até então ocorriam dentro do Império Otomano, negociou com estes que, em troca do apoio dos árabes contra a Alemanha e o próprio Império, eles ganhariam a independência, incluindo a Palestina.

E, decorrência do movimento sionista, havia ainda a pretensão de criar o Estado judaico na região da Palestina, mesmo com os árabes naquela região, como explica Márcio Scalercio 46 em sua obra. Para os judeus sionistas alcançaram seus objetivos, o autor explica que os líderes europeus destes tentaram negociar de maneira exclusiva com o colonizador, majoritariamente britânico, não considerando estabelecer ligações consistentes com os colonizados.

Assim, em 1917, o banqueiro Rothschild, judeu, adquiriu uma declaração, a qual continha a promessa do apoio britânico à criação de um Estado judaico na Palestina, pelo ministro das relações exteriores da coroa britânica. A declaração passou a ser conhecida por Declaração de Balfour.47

46 SCALERCIO, Márcio. ORIENTE MÉDIO: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Pág. 30

47 KNELL, Yolande. DECLARAÇÃO BALFOUR, as 67 palavras que há 100 anos mudaram a história do Oriente Médio. 6/11/2017. BBC News.

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A Declaração de Balfour, apesar de ter sido acusada de não ser uma lei internacional obrigatória, e muito menos de ter efeito legal, pensamento o qual foi decorrente de ter sido feita por uma potência europeia a respeito de território não- europeu48, mas de ter apenas expressado a opinião do povo inglês desconsiderando a vontade da maioria que residiam naquela localidade. Foi, na verdade, uma declaração que, por conta da Liga das Nações ter a tornado parte de seu mandato, foi reconhecida como um assunto de lei internacional obrigatória49.

A motivação para que os líderes sionistas recorressem aos ingleses e não aos próprios árabes, foi uma decisão de caráter político50. Os sionistas alegavam seu direito histórico sobre a posse das terras de Palestina, uma vez que, no passado, foram forçados a se espalharem pelo mundo para sobreviver.

Entretanto, apesar dos acordos supracitados, a Grã-Bretanha também havia realizado um acordo com os franceses, que os prometerá a dominação do mundo árabe. Após a guerra, a promessa de acordo que fora cumprida foi a da França.

Todos os países árabes, que anteriormente havia sido do Império Otomano, foram ocupados por ingleses e franceses, com exceção da Líbia, devido a partilha feita do Oriente Médio. Em 1918, britânicos e franceses invadiram Constantinopla, e em 1923 o Império Otomano cai, sendo proclamada a República da Turquia.

“Quanto à falta de coesão interna no Império Otomano, cabe observar que ele havia se mantido, apesar dos conflitos e diferenças, durante séculos, mesmo que não dispusesse de “uma raça comum, religião, linguagem, cultura, geografia e economia”. Talvez fosse mais correto afirmar que não seria possível mantê-lo, sem essas características, em uma era em que a ideia de nacionalismo inspirou tantos movimentos a reivindicarem a autodeterminação (...)”.51

Com o desmembramento do Império Otomano após a 1ª Guerra Mundial, novos países e regiões foram criadas e controladas por ingleses e franceses, através

48 DERSHOWITZ, Alan. EM DEFESA DE ISRAEL: uma visão mais ampla dos conflitos no Oriente Médio. São Paulo: Nobel, 2004. Pág. 52

49 DERSHOWITZ, Alan. EM DEFESA DE ISRAEL: uma visão mais ampla dos conflitos no Oriente Médio. São Paulo: Nobel, 2004. Pág. 53.

50 SCALERCIO, Márcio. ORIENTE MÉDIO: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Pág. 31

51 SANTOS, Ana Carolina dos. Percepções Sobre o Império Otomano na Obra de Arnold J.

Tonybee. SÃO PAULO, 2018, pág. 65

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do acordo Sykes-Picot, iniciado ainda em 1916, o qual foi supervisionado pela Liga das Nações.52

A Turquia, antigo Império Otomano, passou a ser dominada como República da Turquia (“República Nacional Independente”), a Síria se tornou “Mandato Francês”, e no Iraque e Transjordânia, os britânicos nomearam os descendentes do líder Hussein como reis.53

O acordo de Sykes-Picot, o qual partilhou o Oriente Médio distribuindo o seu controle entre Grã-Bretanha e França, desencadeou o início da Revolta Árabe, liderada por Xarife Hussein de Meca.54

Em 1929, durante o Mandato Britânico, ocorreu o conflito entre judeus e árabes e o acesso ao Muro das Lamentações em Jerusalém. Neste conflito, gerado por rumores de que judeus tomariam o Monte do Templo em Jerusalém, árabes assassinaram 69 pessoas, queimara casas, comércios e sinagogas. Isso fez com que as autoridades britânicas precisassem retirar os 400 judeus sobreviventes. O episódio foi o prenúncio da Rebelião Árabe de 1936 e foi considerado como um ponto sem volta entre as relações de árabes com judeus55.

Em 1930, como relatado no livro “Século XX” (FILHO, FERREIRA e ZENHA 2002), viviam cerca de 840 mil árabes na Palestina, sendo destes apenas 75 mil cristãos. Quando havia sido colonizada pelos judeus, eram consideradas como raras a violência entre árabes e judeus sionistas. 56 Até este momento não existia pelos palestinos reinvindicação territorial nacionalista.

Tal disputa apenas iniciou após a invasão das potências europeias no Oriente Médio e após a divisão artificial dos países árabes para outras áreas, e firmando um compromisso em relação a criação de um lar judeu. Assim, decorreu a criação do movimento nacional dos palestinos, alegando que se os judeus tinham direito aquela terra, eles também o tinham, pois estavam há mais tempo lá do que os sionistas.57

52 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 104.

53 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 104.

54 SCALERCIO, Márcio. ORIENTE MÉDIO: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Pág. 9

55 MANUEL, Maurício; FRAIDENRAICH, Verônica. Palestina e Israel: entenda as origens do conflito. 23/05/2021, Revista Super Interessante On-line.

56 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 105.

57 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 105.

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Iniciou-se assim uma disputa que ainda não houve fim, visto que os seus objetivos eram semelhantes, mas, ao mesmo tempo, excludentes, como relatado no livro “Século XX”.58 Por conta de tal fato, em 1921, em Yafo (Jafa), ocorreu o primeiro conflito entre os palestinos e judeus, o qual foi explorado pelo governo inglês, sendo que esse revessava contribuição entre palestinos e judeus, fazendo com que cada vez mais violência fosse utilizada, para beneficiar os interesses britânicos.59

Os judeus, com o objetivo de conseguirem o seu próprio Estado, trabalhavam visando tal acontecimento, e procuravam criar uma rede de imigração. Já os palestinos, fecharam-se aos contatos com os britânicos, não possuíam apoio de outros países árabes e tal situação foi agravada com a imigração judaica para a Europa, visto que esses estavam impedidos de entrarem no continente pela maioria dos países europeus.60

Por consequência de tudo o que foi anteriormente relatado, em um período antecedente da 2ª guerra mundial, existia um impasse entre os britânicos, judeus e palestinos. Uma vez que os judeus estavam proibidos de ingressarem na Europa, tinham como única solução irem para a Palestina. O último temia não ter controle sobre a situação, e perder os poucos recursos que tinham para os sionistas, enquanto os britânicos não sabiam se apoiavam os judeus, em relação a obrigação do apoio a esses, e temiam provocar uma aliança entre Árabes e o Eixo, devido ao sensível contexto mundial.61

Entre 1936 e 1939 a revolta da população árabe explodiu, tendo como inimigos os colonizadores britânicos e os colonos judeus. Grupos árabes armados promoveram ataques a postos ingleses e nos assentamentos dos judeus, tal período ficou lembrado como a Revolta Árabe (1936-1939).62

Durante o episódio da Revolta Árabe, Mahammed Amin al-Husseini (mufti de Jerusalém), teve grande destaque por ser asido opositor dos britânicos e sionistas.

Através da grande revolta por ele fomentada, teve como resultado, por parte dos

58 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 106.

59 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 106.

60 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 106.

61 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 107.

62 SCALERCIO, Márcio. ORIENTE MÉDIO: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Pág. 33

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ingleses, a proibição da entrada de novos imigrantes judeus na Palestina. Já ao lado dos judeus, a figura predominante era David Ben Gurion, que era a favor da partilha ofertado por intermédio do Lord Peel, pois imaginava que seria o ponto inicial para que os colonos judeus pudessem tomar o país de maneira integral63.

De modo complementar a Revolta dos Árabes, em 1937, a Comissão Peel, propõem de maneira inédita, a partilha da região da Palestina, através de um relatório.

Entretanto, foi veemente recusada pelos árabes que estavam na Síria, apesar de ter sido aceita pelos sionistas. Entretanto, a jogada diplomática que visava a melhoria da situação, fez com que o oposto ocorresse, aumentando os conflitos na Palestina, fazendo com que os ingleses restringissem por completo a entrada de judeus no Estado da Palestina em 1939.64

A consequência da grande agressividade gerada pelos grupos de revolta árabes foi um levante esmagado por 25 mil soldados britânicos, com aviões bombardeiros, e milicianos judeus. Nesta tentativa falida de intifada, 5 mil árabes da Palestina foram mortos. Hajj Amin al-Husseini (o mufti, cargo de natureza política e religiosa65), que já era simpatizante do Eixo, foi para Berlim, onde recebeu asilo de Hitler66. A intenção de Husseini era conquistar a simpatia dos nazistas por conta de seu objetivo de criar um Estado Árabe independente67.

Ben Gurion entendia que ambas as comunidades desejavam o mesmo objetivo, por isso seria uma situação em que as chances de serem resolvidas diplomaticamente eram perto de nulas, e por fim entendeu que a construção de Israel deveria ocorrer por armas, devendo os judeus se preparar para tal. Ainda que os árabes haviam saído vitoriosos da Revolta Árabe68.

63 SCALERCIO, Márcio. ORIENTE MÉDIO: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. Pág. 45.

64 FILHO, Daniel Aarão Reis; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O Século XX. Vol. III. 2ª.ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, pág. 107.

65 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, 2013, p. 68.

66 SCALERCIO, Márcio. Oriente Médio: Uma análise reveladora sobre dois povos condenados a conviver. Rio de Janeiro: Campus, 2003. p. 33.

67 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, op. cit., p. 68.

68 SCALERCIO, op. cit., p. 45.

(31)

3 A FORMAÇÃO DO ESTADO DE ISRAEL E A DINÂMICA DOS CONFLITOS ATUAIS

Ao final da Segunda Guerra Mundial o mundo estava frágil. A verdadeira dimensão sobre o que havia, de fato, sido o holocausto começou a ser disseminada pela sociedade e a opinião pública de que os sobreviventes do holocausto e seus campos de concentração deveriam encontrar refúgio em sua própria pátria se fortaleceu69.

As potências vencedoras (URSS, França, Inglaterra e Estados Unidos) tentavam organizar para que os mais de 300 mil judeus sobreviventes pudessem voltar para suas casas. Entretanto, estas não existiam mais, principalmente as localizadas ao leste europeu70.

Desta maneira, uma vez que os judeus, recuperados dos centros de concentração nazistas, não possuíam mais para onde ir visto que nenhum país estava disposto a recebê-los, para onde estes deveriam ir?71

Como maneira de tentar solucionar o impasse, o movimento sionista, que havia sido fortalecido, defendia que os judeus resgatados deveriam ser transferidos para a Palestina, a qual ainda se encontrava sob o Mandato Britânico, e que também ainda mantinha a restrição da entrada de judeus, desde a Revolta Árabe, pois os ingleses receavam outro episódio como o anterior72, o que acarretou a entrada de judeus sobreviventes de maneira ilegal na Palestina73.

Em paralelo, no ano de 1945, ocorria a proposta pelos Estados Unidos, e devidamente a criação, da Organização das Nações Unidas (ONU), como maneira de evitar que novas tragédias humanitárias, como o nazismo, voltassem a acontecer futuramente, bem como era uma forma de compartilhar as responsabilidades pela desejada estabilidade internacional pós Segunda Guerra, sendo uma tentativa de unir as forças dos Estados, para que então fosse criado um compromisso internacional pelos Estados74.

69 BARD, Mitchel G. Mitos e Fatos: a verdade sobre o conflito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer, 2004. p. 37.

70 HUGUENIN; LIMONCIC; GRIN, 2013, p. 75.

71 Loc. cit.

72 Loc. cit.

73 Ibid., p. 76.

74 Ibid., p. 77.

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