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Processo

904-09.5TJLSB.L1-8

Data do documento 30 de abril de 2015

Relator

António Valente

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA | CÍVEL

Acórdão

DESCRITORES

Locação financeira > Terceiros > Registo de propriedade

SUMÁRIO

- Celebrado um contrato de locação financeira e vindo a verificar-se que a pessoa indicada como locatário nunca foi parte no negócio, tendo o seu nome sido usado graças a documentos que lhe haviam sido furtados, o contrato deve considerar-se como juridicamente inexistente na medida em que nunca existiu qualquer acordo de vontades entre os supostos contraentes.

- O locador, pelo contrato de locação financeira, não transmite o seu direito de propriedade sobre o bem locado, salvo em caso de opção de compra exercida pelo locatário no fim do período de locação.

- Não são terceiros, para efeitos do art. 291º do Código Civil, os intervenientes em negócios jurídicos sobre o bem locado, celebrados após a suposta aquisição da propriedade do bem pela locatária, aquisição que nunca teve lugar e que se baseou nos documentos furtados à mesma e em diversas falsificações.

- Tendo comprado o bem e registado a consequente propriedade, e nunca tendo transmitido a ninguém esse direito de propriedade, pode o locador reclamar o reconhecimento da mesma, com cancelamento dos registos posteriores.

- Após o registo da propriedade a favor da suposta locatária, fruto de uma compra e venda que nunca existiu, os intervenientes nos subsequentes negócios visando a transmissão do direito de propriedade nunca foram titulares desta, pelo que não podiam transmitir (ou adquirir) tal direito.

(Sumário elaborado pelo Relator)

TEXTO INTEGRAL

Acordam no Tribunal da Relação de Lisboa

RELATÓRIO:

B... intentou contra M..., J..., J..., L... SOCIEDADE DE ADVOGADOS RL, ora denominada L... Sociedade de

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Advogados R.L., e BANCO ..., a presente acção declarativa de simples apreciação pedindo que seja judicialmente reconhecida a propriedade da A. sobre a viatura de marca “Alfa Romeu", modelo “159”, de matrícula 79-FU-21, com carácter pleno, e,em consequência, determinado o registo de propriedade exclusivamente a seu favor, junto da Conservatória do Registo de Automóveis, eliminando-se a inscrição existente a favor dos 4º e 5° Réus, decorrente da apresentação nº 08264 de 08/04/2009, bem como todas as anteriores e referidas no art. 13° da PI.

Alegou, para tanto e em síntese, que no exercício da sua actividade comercial recebeu através de um stand de automóveis uma proposta de financiamento de uma viatura Alfa Romeo , a ser concretizado através de um contrato de locação financeira com M..., tendo a Autora adquirido a viatura em apreço com vista a dá-lo em locação financeira à mesma Ré, procedendo ao registo de aquisição a seu favor e de locação financeira à referida locatária, vindo porém a apurar que os seus documentos haviam sido anteriormente furtados.

Apurou igualmente que, sem que nunca tivesse vendido ou autorizado ou mandatado quem quer que fosse para tanto, o veículo veio a ser sucessivamente transmitido às pessoas que identifica, estando actualmente inscrito a favor da sociedade de advogados que identifica, com uma reserva de propriedade a favor do Banco ...

Contestou o Banco ..., impugnando os factos alegados por desconhecimento dos mesmos, referindo todavia que a nulidade da venda em apreço, a existir, não poderia ser oposta à sociedade de advogados ,compradora de boa-fé.

Contestou igualmente a sociedade de Advogados, por impugnação e deduziu reconvenção mediante a qual pretende que a Autora, caso a acção proceda, lhe pague o preço que a Ré despendeu com a viatura, ou seja, € 28.000,00.

Contestou também J..., por impugnação referindo designadamente que ainda que as falsificações e burlas que a Autora refere terem ocorrido se viessem a provar, o pedido formulado pela Autora não poderia proceder, já que a mesma não é proprietária do veículo.

Refere que sendo o registo da aquisição por parte deste Réu anterior ao registo da acção de nulidade, a mesma é inoponível a terceiro de boa-fé, como é o caso do Réu.

A Autora deduziu réplica mediante a qual entende que a reconvenção é improcedente por o art. 1301º do Código Civil não ter aplicação quando estão em causa bens móveis sujeitos a registo, como é o caso e não tem igualmente aplicação quando os bens saem da esfera jurídica do seu dono por via violenta ou fraudulenta, como também é o caso.

Foi convidada a Autora a deduzir o incidente de intervenção principal provocada da Sociedade J..., que

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também constava como titular inscrita no registo automóvel, o que a Autora fez.

A chamada aderiu à contestação do co-réu J...

O processo seguiu os seus termos, procedendo-se a julgamento e vindo a ser proferida sentença que julgou a acção procedente por provada e em consequência declarou e reconheceu o direito de propriedade da A.

sobre a viatura de marca "Alfa Romeu", modelo "159", de matrícula “79-FU-21", com carácter pleno, e, em consequência, determinou o registo de propriedade exclusivamente a seu favor, junto da Conservatória do Registo de Automóveis, ordenando a eliminação de todos as inscrições subsequentes descriminadas em III C) posteriores ao registo da sua aquisição.

Foi julgada improcedente a reconvenção e em consequência foi absolvida a Autora do pedido reconvencional deduzido pela Ré L… Sociedade de Advogados R.L.

Foram dados como provados os seguintes factos:

A) A A., B..., é uma sociedade comercial anónima, cujo objecto social consiste, designadamente, na celebração de contratos de financiamento (locação financeira e mútuo), relativos a veículos automóveis.

B) Neste contexto, a A. recebe propostas de fornecedores (empresas dedicadas à comercialização de automóveis) com vista ao financiamento da aquisição de viaturas.

C) O veículo automóvel de matrícula 79-FU-21 mostra-se registado na C.R.A. de Lisboa, a favor de L...

Sociedade de Advogados RL , mediante registo efectuado em 8.4.2009, tendo estado registado anteriormente a favor de : F... ( registo de 19.6.2008), B... ( registo de 16.8.2008) , M... ( registo de 30.12.2008), J...( registo de 30.12.2008); J... ( registo de 8.1.2009) , J... registo de 30.1.2009), Banco ... ( registo de 8.4.2009) . Mais foi na mesma data registado a favor deste último o encargo “reserva” - certidão de fls. 116 dos autos.

D) J... dedica-se exclusivamente à compra e venda de automóveis e motociclos.

E) J... é gerente da sociedade referida em D).

F) Em 2008, a A. recebeu, através da sociedade M ..., uma proposta para financiamento de uma viatura de marca “Alfa Romeo", modelo "159";

G) O financiamento deveria ser efectivado mediante a celebração de um contrato de Locação Financeira, em que seria locatária M... (lª R);

H) Juntamente com a proposta foram enviadas, através do fornecedor, diversas cópias de documentação, pertencentes à lª Ré;

I) Em face da documentação recebida, a proposta mereceu o acolhimento da A, pelo que foi acordada com o fornecedor a compra da viatura por parte da A, para que fosse dado de locação à 1ª Ré, o que aconteceu;

J) Neste sentido, a A. recebeu daquele fornecedor toda a documentação contratual, (aparentemente) assinada pela mutuária, designadamente, o contrato de locação financeira;

K) A A. realizou o pagamento ao fornecedor da quantia de € 34.995.00, adquirindo assim a viatura Alfa Romeo, modelo "159", de matrícula "79-FU-21";

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L) Pago o valor da viatura ao fornecedor, a A. promoveu o registo de propriedade em seu nome e registou a locação financeira em, nome da "locatária", conforme resulta de C);

M) Na vigência do contrato de locação não foi paga à A qualquer renda;

N) Na sequência do incumprimento do contrato de locação financeira, a A veio a saber que a suposta locatária (1ª R) teria sido vítima de um furto em Junho de 2008, na sequência do qual ficou sem os seus documentos de identificação e que terá dado origem ao NUIPC 922/08.0 PCBRG do Ministério Público de Braga, por força da celebração de diversos contratos com financeiras em seu nome e que culminou na prolação do Acórdão de fls. 347 e seguintes dos autos, entretanto transitado em julgado.

O) Ao verificar a situação registral da viatura de matrícula 79-FU-21, na sequência do incumprimento contratual e da exigência da sua devolução, a A veio a tomar conhecimento dos registos entretanto efectuados a que se alude em C) ;

P) Sem que a Autora, por si ou por intermédio doutrem, tenha procedido à alienação do veículo;

Q) L...Sociedade de Advogados RL. adquiriu ao J..., o veículo referido;

R) Pagando à mencionada sociedade € 28.000,00 mediante o parcial financiamento concedido pelo Réu B..., desconhecendo da existência de "irregularidades" quanto à viatura;

S) No dia 5 (ou 6) de Janeiro de 2009, o 3° R (J...) recebeu no stand em que trabalha um telefonema de pessoa que se identificou com o nome do 2° R (J...) que lhe disse que tinha obtido o seu contacto através de anúncio publicado numa revista e que pretendia vender um veículo Alfa Romeo modelo 159 Tronic pelo preço de 27.000,00;

T) Ainda no mesmo telefonema, o 3° R respondeu que precisaria de ver o automóvel mas não daria por ele mais de 22.000,00 ou 23.000,00 admitindo que se encontrava em perfeito estado e pediu que fosse enviada via "SMS" a matrícula do veículo, o que o seu interlocutor fez, tendo combinado encontrar-se pessoalmente com o 3º R.

U) Em 8 de Janeiro de 2009, o 2º R apresentou-se pessoalmente no stand do 3° R em Carnaxide, trazendo consigo o veículo referido;

V) O 3° R examinou o veículo e conferiu a sua matricula e número de quadro com o certificado de matrícula (Documento Único Automóvel) que o 2° R lhe exibiu, bem como o documento de identificação pessoal deste;

W) Tendo o 3° R verificado que o veículo e a documentação exibida pelo 2° R estavam em boa ordem (sem quaisquer sinais de adulteração), ofereceu pela compra do veículo o preço de 22.500,00 que o 2° R aceitou;

X) Deslocaram-se ambos, pessoalmente, à Conservatória do Registo Automóvel para aí apresentarem o pedido de registo de transmissão da propriedade do veículo e em seguida ao Banco para aí o 3° R lhe pagar o preço de compra do veículo em questão;

Y) Já na Conservatória do Registo Automóvel, o 3° R confirmou que a propriedade do veículo estava inscrita em nome do 2° R, conforme referido em C) pelo que ambos preencheram e entregaram (na referida data, 08.01.2009) a declaração de venda para registo de transmissão de propriedade do 2° para o 3° R;

Z) Seguidamente e ainda no mesmo dia 08.01.2009, o 2° e o 3° RR foram ao Balcão do M... onde o 3° R requisitou e obteve um cheque bancário pelo importância do preço da compra e venda do veículo (

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22.500,00) emitido à ordem do 2° R, que recebeu a quantia nele inscrita;

AA) Tendo o 2° R entregue ao 3° R o veículo vendido matrícula 79-FU-21 nesse mesmo dia (08.01.2009);

BB) O 3° R destinava o veículo adquirido a revenda, a promover através da sociedade de que é gerente ("J...) e no exercício da actividade desta;

CC) Logo em 12.01.09 a sociedade de advogados 4ª R, através do Sr. Dr. Linhares de Carvalho, mostrou interesse na aquisição do mesmo veículo pelo preço que o 3° R pediu de 28.000,00, tendo-lhe este enviado cópia do certificado de matrícula e uma factura pró-forma" por este valor em 20.01.09;

DD) A fim de efectuar a venda e para regularização contabilística da compra e posterior revenda, o 3° R transferiu a propriedade do veículo para a sociedade de que é gerente, J... em 30.01.09.

Inconformados, recorrem os Réus “J... e J..., concluindo que:

- A sentença recorrida no ponto N) dos factos provados deu como totalmente reproduzido o teor do Acórdão criminal transitado em julgado e proferido no processo nº. 922/08.OPCBRG da Vara de Competência Mista de Braga e necessariamente a factualidade aí provada nos termos do art. 623º do CPC, designadamente os factos 1, 2, 3, 4, 8, 9, 46, 47, 48, 49, 51, 53, 54, 55 a 62 do Acórdão a fls. 347 e ss.

- No nº 50 do Acórdão criminal deu-se como provado que "os arguidos efetuaram o pagamento da renda inicial estipulada no contrato de locação financeira no valor de € 9.770,83 não tendo pago qualquer uma das oitenta e três rendas subsequentes, no valor unitário de € 458,10", enquanto na alínea M) dos factos provados da sentença recorrida se diz que "na vigência do contrato de locação não foi paga à A. qualquer renda"., inexistindo adequada fundamentação para esta contradição que é relevante porque significa que o contrato entre a A. e a 1ª R chegou a ter inicio de execução. Embora a presunção a que se refere o art. 623 do CPC seja ilidível, o Tribunal recorrido tinha a obrigação de fundamentar a decisão diferente, o que não fez, motivo pelo qual deve ser aditado à matéria provada o ponto 50 do acórdão criminal (pagamento da 1ª renda).

- A alinea F) dos factos da sentença deve ser substituída pelo ponto 8 do acórdão criminal, que situa em Agosto de 2008 a apresentação ao Stand M... da proposta de financiamento em nome da 1ª, sob pena de contradição interna designadamente com a motivação da resposta da testemunha I...

- A alínea N) dos factos da sentença deve ser substituída pelo ponto 1 do acórdão criminal, que situa em 2 de Julho de 2008 a subtração dos documentos da 1ª R., sob pena de contradição.

- Os factos 46, 47, 48 e 49 do acórdão criminal, devem ser expressamente reproduzidos na matéria de facto da sentença recorrida, pois demonstram que, para aprovação do contrato de locação financeira. a A.

e o Stand seu intermediário se bastaram com cópias simples dos documentos da 1ª R, e que dispensaram a comparência pessoal desta, seja para assinatura do contrato de financiamento. seja para o levantamento do veículo.

- O Tribunal recorrido deveria ter considerado e não considerou que a A. e o Stand que interveio no financiamento e venda no veículo agiram sem a diligência e cuidados devidos permitindo ou facilitando dessa forma o cometimento dos crimes de burla e falsificação.

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- A sentença recorrida devia ter dado como provado que os Recorrentes e os 4° e 5° RR foram adquirentes sucessivos, de boa fé e a título oneroso do veículo em questão, que desconheciam sem culpa o vício do negócio feito pela A. e que o adquiriram - cada um deles - com base em registos anteriores e anteriores ao registo desta ação, a qual até hoje não foi registada contra a interveniente J... - tudo com base nos Factos Provados Q) a DD), nos factos apurados na sentença criminal e nos documentos autênticos que constam dos autos, nomeadamente a certidão de registo automóvel emitida em 25.09.2012.

- A sentença recorrida não aplicou como deveria ter aplicado, o regime de inoponibilidade, seja do negócio nulo seja do negócio ineficaz aos terceiros adquirentes de boa-fé que reúnem os requisitos enunciados nos nºs 1, 2 e 3 do art. 291º do CC e art. 17 nº 2 do Código do Registo Predial, e socorreu-se para a decisão que erradamente tomou de doutrina e jurisprudência inapropriadas.

- A decisão citada na sentença recorrida do Tribunal da Relação de Guimarães é contrariada pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 16/11/2010 (relatado pelo Senhor Conselheiro Garcia Calejo) proferido no processo nº 42/2001.C1.S1 da 1ª Secção do STJ (in. www.dgsi.pt) o qual se reproduz e junta como Acórdão-fundamento nos termos do nº 2 do art. 637° do CPC. Esta jurisprudência do STJ impõe que, sem prejuízo da ineficácia das compras e vendas por quem não dispunha da titularidade do bem e quando o A.

peça o cancelamento de registos alegando a sua nulidade ou inexistência, se deverá indagar e aplicar o regime estabelecido nos artigos 291º do CC e 17º nº 2 do CRP.

- Este Acórdão do STJ, tendo presente a controvérsia em torno da aplicação do art. 17° nº 2 do CRP, considerou que o subadquirente de boa fé que regista um negócio oneroso com base na confiança e proteção dos registos anteriores, beneficia da proteção conferida pelo art. 291º do CC desde que a ação proposta não seja registada nos 3 anos após a conclusão do negócio.

- No caso dos autos a ação não foi registada relativamente à recorrente J... nos três anos subsequentes ao negócio - como acima se referiu e a recorrente salientou no requerimento e na certidão de registo junto aos autos em 08/10/2012 e por isso relativamente a ela verificam-se todos os pressupostos de prevalência e estabilidade do registo atributivo a que se referem o art. 291º do CC e art. 17º nº 2 do C.R.P. A sentença recorrida violou estas normas por ter recusado a sua aplicação ao caso em apreciação visto que o argumento da ineficácia em relação à A. das subaquisições de boa fé posteriores cede perante as exceções consignadas no art. 291 do CC.

- Não são atendíveis as razões de "segurança do comércio jurídico" invocadas na sentença recorrida porque essas razões são justamente aquelas que o art°. 291 visou acautelar: decorrido determinado tempo sem que o antigo titular registe a ação em que pede a declaração de inexistência dos registos, merecem tutela prevalente os direitos daqueles que, de boa fé, basearam a sua aquisição na regularidade registral.

- As razões de segurança do comércio jurídico fundadas na confiança que deve merecer o registo, são mais fortes no caso do registo automóvel do que o são no registo de imóveis porque os negócios subjacentes não têm quaisquer requisitos formais que protejam os sujeitos intervenientes, que não têm outro meio de se certificar da sua regularidade substantiva que não sejam o próprio registo automóvel e os elementos inscritos no veiculo (nº do quadro e nº do motor, matrícula etc).

- No caso em apreciação nos autos, provou-se que os ora recorrentes e os 4° e 5° RR não só verificaram e confirmaram os elementos constantes do registo automóvel e inscritos no veículo, como só depois disso

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pagaram os preços das compras e vendas que realizaram sem nada saberem sobre os direitos que a A. se arrogava sobre tal viatura.

- Perante os direitos conflituantes da A., dos recorrentes e dos demais RR. e, até pelas razões de segurança do comércio jurídico invocadas na sentença, o Tribunal recorrido deveria ter ponderado 'e decidido que os interesses dos recorrentes e dos 4° e 5° RR mereceriam maior proteção porque a A. pode ser ressarcida pelos agentes do crime (diversamente daqueles), e porque a A. não agiu com a diligência e cuidado a que estava obrigada ao dispensar cópia certificada do documento de identificação da 1ª Ré e a sua comparência pessoal, permitindo ou facilitando a consumação dos crimes.

- A A., como Instituição de Crédito, está obrigada a cumprir e fazer cumprir em quaisquer relações de negócio a totalidade dos requisitos de identificação e comprovação previstos, consoante os casos (presencialmente ou à distância), nos artigos 9º e 10º ou 11º e 12º do aviso do Banco de Portugal nº 11/2005" - cfr. ponto 3.1 da Instrução normativa do Banco de Portugal nº 26/2005.

- Nas relações à distância, a que se reporta o contrato de locação financeira feito no stand M... esses procedimentos exigiam a entrega de cópia certificada do documento de certificação (art°s. 11° e 12° do Aviso do BdP 11/2005).

- Por outro lado a disciplina do crédito ao consumo - aplicável à locação financeira em 2008, cfr. DL 359/91 - inculca que "o contrato de crédito deve ser reduzido a escrito e assinado pelos contraentes, sendo obrigatoriamente entregue um exemplar ao consumidor no momento da respetiva assinatura" (nº 1 do artigo 6) o que pressupõe a assinatura presencial pela primeira R. sob pena de nulidade.

- A omissão pela A. - ou pelo stand que colocou o financiamento - destas exigências impostas por lei deveria ter tido como consequência que a sentença recorrida, na ponderação dos interesses conflituantes, desse prevalência aos subadquirentes de boa fé (recorrentes e 4° e 5° RR.)

- Finalmente, tendo-se comprovado que a A. apenas registou o veículo a seu favor para celebrar com a 1ª Ré uma suposta locação financeira que é nula por não ter sido subscrita por esta, tal nulidade arrastaria consigo a nulidade do registo do veículo a favor da A. porque estes dois atos são interdependentes entre si:

sem o financiamento a A. não teria registado a seu favor, ou seja, sendo nulo o contrato de crédito é nula a compra e venda subjacente ao mesmo.

A Autora contra alegou defendendo a bondade da decisão recorrida.

Cumpre apreciar.

A questão aqui em debate é a de saber se deve ser reconhecido à Autora o direito de propriedade sobre o veículo 79-FU-21 e determinado o registo de propriedade exclusivamente a seu favor, eliminando-se as inscrições posteriores.

Cabe dizer, desde já, que a acção foi registada em 21/02/2011, ou seja, menos de três anos após a celebração do negócio entre os recorrentes e a sociedade de advogados acima identificada. Mais, o registo da acção foi efectuado antes de decorridos três anos sobre a data do suposto negócio celebrado entre

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Autora e M... e os que subsequentemente foram celebrados.

No tocante à situação da Autora, existem duas realidades jurídicas a considerar:

Primeira, o contrato de compra e venda do veículo Alfa Romeu celebrado pela Autora com a empresa M...

Independentemente de o propósito da Autora ser o de efectuar um contrato de locação financeira do veículo com (supostamente) a M..., o contrato de compra e venda transmitiu a propriedade do dito veículo para a Autora, que o registou em 16/08/2008.

Segunda, o contrato de locação financeira propriamente dito. Este é definido, nos termos do art. 1º do DL nº 149/95 de 24/6, como aquele “pelo qual uma das partes se obriga, mediante retribuição, a ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado (...)”.

Há que sublinhar, de novo, que este tipo de contrato pressupõe a aquisição do bem pelo locador, que integra o respectivo direito de propriedade na sua esfera jurídica, como resulta claramente dos artigos 7º e 9º nº 1 a) e 2 a) do mesmo diploma.

Ora, no caso dos autos, não está posto em causa este negócio jurídico, ou seja, a compra do veículo pela Autora. Independentemente de a aquisição ser feita com o objectivo de ceder o gozo do veículo ao locatário do contrato de locação financeira isso em nada contende com o direito de propriedade da Autora, até porque, como se sabe, são inúmeras as situações em que as rendas não são pagas, gerando incumprimento que se reflectirá na locação financeira mas sem abranger o direito de propriedade que permanece na esfera jurídica do locador.

Insistimos neste ponto já que, como está assente, a Autora celebrou o contrato de locação financeira vindo a apurar que a suposta locatária nunca teve qualquer participação ou conhecimento do negócio, tendo os seus documentos sido furtados e através de falsificação de assinatura usados para a celebração do contrato pelos próprios agentes da actividade criminosa.

Ou seja, no contrato de locação financeira em apreço, um dos contraentes não o é nem nunca o foi, desconhecendo o negócio e, obviamente, não tendo emitido qualquer declaração de vontade relativamente ao contrato.

Ora, um tal contrato nem sequer é nulo, já que não se pode falar de contrato quando um dos contraentes foi indicado falsamente, nada tendo a ver com a declaração negocial e desconhecendo-a. O contrato é pura e simplesmente inexistente.

Isto, contudo, não afecta a aquisição do veículo pela Autora e o seu consequente direito de propriedade

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sobre o mesmo.

Passando agora aos diversos pontos da apelação, e quanto à questão de os arguidos terem efectuado o pagamento da renda inicial estipulada no contrato de locação financeira no valor de € 9.770,83 não tendo pago qualquer uma das oitenta e três rendas subsequentes. Esta matéria foi dada como provada no ponto 50 do acórdão proferido no processo crime. Nos presentes autos, o Mº juiz a quo deu como provado que

“na vigência do contrato de locação não foi paga à Autora qualquer renda”. Por outro lado, referiu, na fundamentação das respostas à matéria de facto que a convicção do Tribunal se alicerçou essencialmente no teor do aludido acórdão no processo crime, nomeadamente os factos nºs 1 a 4, 8, 9, 46 a 49, 51, 53 a 62.

A matéria de facto dada como provada em sede de processo crime constitui presunção no tocante à existência dos factos que integram os pressupostos da punição e os elementos do tipo legal – art. 623º do CPC. Contudo, tal presunção é ilidível.

Na fundamentação da matéria de facto, nos presentes autos, o Mº juiz a quo não mencionou o nº 50 da factualidade provada no processo crime, certamente por entender que a aludida presunção havia sido ilidida na produção de prova nos autos em apreço. E mais adiante, refere, no tocante ao depoimento da testemunha I... ter esta referido que “as rendas nunca foram pagas”.

Como se constata não só não existe nenhuma contradição na resposta em apreço, M) da factualidade atrás descrita, e está fundamentada com um depoimento testemunhal a resposta de teor diverso da dada no processo crime.

Logo, não assiste, neste ponto, razão à recorrente.

Quanto ao ponto F) da presente sentença, e na medida em que o tribunal recorrido menciona na fundamentação das respostas o nº 8 do processo crime, não vemos problema em aderir à tese da recorrente, para harmonização dessa alínea da matéria de facto e da sua fundamentação, e assim a alínea F) passa a ter o seguinte teor:

“Em Agosto de 2008 a A recebeu, através da sociedade M ... uma proposta para financiamento de uma viatura de marca Alfa Romeo modelo 159”.

Do mesmo modo, entendemos que a data da subtracção dos documentos da Ré M... deve ser situada em 02/07/2008, como consta do nº 1 da matéria de facto do acórdão proferido no processo crime, já que o Mº juiz a quo menciona tal nº 1 como fundamento das respostas dadas na sentença agora em crise.

Assim, na alínea N) acima referenciada, rectifica-se a data em que a M... foi vítima do furto, passando a constar dessa alínea a data de 02/07/2008.

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Quanto aos pontos 46 a 49 da factualidade dada como provada no processo crime e que são mencionadas na presente sentença enquanto fundamentação da decisão factual, entendemos que a matéria relevante para a questão aqui em debate está já plasmada na decisão factual nas alíneas F) a L).

Poder-se-á contudo acrescentar uma alínea que reproduza o teor do nº 47 da matéria de facto dada como assente no acórdão proferido no processo crime:

EE)

“Após aprovação do financiamento referido em I), invocando a impossibilidade de M... se deslocar ao Stand M.... com vista à assinatura do contrato de locação financeira, os arguidos S... e S... solicitaram os documentos para depois colher a assinatura daquela, o que lhes foi permitido”.

No entanto, entendemos que estes factos não são verdadeiramente relevantes para a questão em apreço.

Se a Autora, ou o Stand M... não tomaram todas as precauções devidas para a celebração do contrato, permitindo a consumação da burla por S... e S..., tal apenas respeita ao contrato de locação financeira de que, quer a Autora quer M... foram vítimas. E já vimos que tal contrato deve ser entendido, pura e simplesmente inexistente, já que não existiu nunca qualquer acordo de vontades entre a Autora e a M..., a qual desconhecia até tudo o que se estava a passar.

Logo que efectivado o negócio, objecto da actuação criminosa dos aludidos S... e S..., a propriedade do veículo foi registada em nome da Autora e a locação financeira em nome da mencionada M....

O processo pelo qual os aludidos indivíduos vieram a obter o registo da propriedade do veículo a favor de J... – igualmente arguido – está descrito na factualidade ínsita no acórdão proferido no processo crime, nºs 53 a 58, através da qual se constata que esse registo veio a ser obtido com base em sucessivas falsificações, a que foram inteiramente alheias a Autora e M..., tendo-se provado que na sequência de actos visando obter a venda do veículo da Autora à M... não teve intervenção qualquer pessoa com poderes para representar a B..., nem a M....

É a partir daqui que se desencadeiam os actos que constituíam o verdadeiro propósito dos arguidos, ou seja, obter uma falsa documentação de venda do veículo da Autora à M... e depois, desta a um dos burlões, J..., que obteve assim o registo de propriedade do veículo.

Ora, nem a Autora nem a M... participaram em qualquer contrato de compra e venda do veículo da 1ª à 2ª, nem na compra e venda supostamente efectuada entre M... e J... É com o registo de propriedade em nome de J... que se tornam possíveis e vêm a ocorrer os contratos com os ora recorrentes.

Há que ter em conta que, no caso em apreço, não se verifica propriamente uma nulidade do contrato de locação financeira entre a Autora e a M.... A nulidade decorre da existência de um determinado vício no

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negócio jurídico, o que, obviamente, pressupõe ter existido tal negócio jurídico. Mas na situação dos autos não se pode falar de um negócio jurídico (bilateral) já que nunca existiu um acordo de vontades entre a Autora e a M..., sendo que esta última, repete-se, ignorava inteiramente o que se estava a passar, mediante o uso fraudulento dos documentos que lhe haviam sido furtados, enquanto a Autora julgava estar a contratar com a M... quando na verdade estava a contratar com os autores do furto.

Ou seja, nunca existiu um contrato de locação financeira entre a Autora e a M.... Mas existiu a compra do veículo feita pela Autora ao Stand M ... e o subsequente registo de propriedade a favor da Autora.

A inexistência do contrato de locação financeira não afecta a validade da aquisição do veículo pela Autora, num negócio em que existiu um normal acordo de vontades, pagamento do preço e transferência da propriedade do veículo.

Na petição inicial da presente acção é pedido, além do mais, que seja determinado o registo de propriedade do veículo exclusivamente a favor da Autora, na Conservatória do Registo de Automóveis, eliminando-se a inscrição existente a favor dos 4º e 5º RR bem como todas as anteriores.

A Autora não é vendedora do veículo em nenhuma das transacções efectuadas. Logo, as restrições mencionadas no art. 892º do Código Civil, ou seja, a proibição de oposição de nulidade por parte do vendedor ao comprador de boa fé ou do comprador doloso ao vendedor de boa fé, não se lhe podem aplicar.

Como se observa no Acórdão do STJ de 13/02/1979 - in BMJ nº 284, pág. 176 - “é nula a venda de coisa alheia sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar. Tal nulidade não se estabelece, porém, em relação ao dono da coisa, pois aplica-se apenas nas relações entre alienante e adquirente.

Perante o verdadeiro proprietário aquele contrato não tem qualquer valor, assumindo o cariz de inter alios acta, operando-se a ineficácia ipso jure, razão por que não lhe é aplicável o artigo 291º”.

Não tendo o proprietário do veículo - a Autora - vendido o mesmo, todas as transacções operadas posteriormente são ineficazes em relação à mesma Autora. A protecção da boa fé do terceiro adquirente, prevista no art. 291º do Código Civil, pode aplicar-se entre compradores e vendedores posteriores ao registo da aquisição do veículo pela Autora, mas não é invocável perante esta.

De resto, a Autora não vem pedir a declaração de nulidade dos negócios jurídicos que envolveram o veículo posteriormente à aquisição deste pela Autora e respectivo registo de propriedade. Nem tinha de o fazer.

Como refere Inocêncio Galvão Telles - “Manual dos Contratos em Geral” pág. 405 - “fazendo-se a venda de bens alheios sem legitimidade conferida pelo titular deles, este não necessita sequer de promover a declaração judicial dessa nulidade. Pode limitar-se a dizer que o acto é, para ele, ineficaz, visto se tratar de res inter alios”.

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Ainda em relação com o focado art. 291º, cite-se o recente Acórdão desta Relação de Lisboa, de 26/02/2015 – in www.dgsi.pt:

“É entendimento aceite que o disposto no art. 291º do CC, ao regular as consequências decorrentes da nulidade ou anulação de negócio jurídico sobre imóveis, se aplica apenas e tão-só nas relações entre o alienante e o adquirente, sendo que o conceito de “terceiro” aludido neste preceito, não se confunde com o conceito restrito de “terceiro” para efeitos do registo predial.

gComo se sumaria no Acórdão do STJ de 21/06/2007, relatado pelo Conselheiro Salvador da Costa: “O conceito de terceiro a que se refere o art. 291º do Código Civil, motivado pela ideia de estabilidade nas relações jurídicas, pressupõe a sequência de nulidades e o conflito entre o primeiro transmitente e o último sub-adquirente e é diverso do conceito de terceiro para efeitos de registo a que se reporta o art. 5º nº 1 do Código do Registo Predial.”

gO terceiro adquirente de boa fé, plasmado no art. 291º, apenas fica protegido da eficácia retroactiva da nulidade ou anulabilidade de um negócio anterior àquele em que ele, terceiro, interveio.(...)

gEsta protecção do art. 291º não se estende, assim, ao direito invocado pelos AA, não lhes sendo oponível, porque os AA são alheios a toda esta cadeia de transmissões, feridas de nulidade”.

Cabe acrescentar que no caso dos presentes autos, a Autora nunca vendeu o veículo, sendo inteiramente inexistente a suposta compra e venda entre a Autora e a M... – tal como era inexistente o contrato de locação financeira.

Aqui nem se pode falar de nulidade já que a suposta compra e venda da viatura entre a Autora e a M... – nº 54 a 56 da sentença proferida no processo crime – que viria a originar o registo de propriedade em nome da M..., foi efectuada com base em falsificações numa elaborada burla, não tendo nem a Autora nem a M...

tido qualquer intervenção nessa “compra e venda”. Trata-se de um negócio jurídico que, pura e simplesmente, nunca existiu.

E é a partir dessa compra e venda obtida através de meticulosas falsificações que se iniciou a cadeia de actos, que redundariam nas inscrições no registo, desde o registo de propriedade a favor de M....

Quanto à aplicação do art. 17º nº 2 do Código do Registo Predial, quando aqui se refere que a declaração de nulidade do registo não prejudica os direitos adquiridos a título oneroso por terceiro de boa fé.

Quanto ao conceito de terceiro, nesta sede, vigora o disposto no art. 5º, que define “terceiros” como aqueles que tenham adquirido de um autor comum direitos incompatíveis entre si.

Sucede que, como vimos, não se pode falar de aquisição de quaisquer direitos já que a inscrição da propriedade a favor de M... decorre de uma compra e venda fictícia, em que os supostos contraentes nela não intervieram e os verdadeiros intervenientes não detinham qualquer direito sobre o veículo. E, como dissemos, é com essa inscrição no registo, da propriedade do veículo em nome de M... que se desencadeia a posterior série de negócios jurídicos, incluindo aquele em que interveio a ora recorrente.

Tal significa, a nosso ver, que a ora recorrente não se pode considerar terceira relativamente à Autora,

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mesmo no conceito de “terceiro” do CRP porque não houve qualquer aquisição de direitos. Quem não detém quaisquer direitos sobre uma coisa não pode, como é óbvio, transmiti-los a outra pessoa, e, do mesmo modo, esta não pode adquirir o que não existia na esfera jurídica do vendedor.

A Autora, repete-se, proprietária da viatura nunca a vendeu, nunca transferiu os respectivos direitos de propriedade para ninguém.

Refira-se ainda que os vícios invocados pela recorrente quando ao modo como a Autora celebrou o contrato de locação financeira, tendo nomeadamente em conta o disposto no art. 6º do DL 359/91, apenas poderiam conduzir à nulidade daquele, o que acaba por ser irrelevante pois a suposta locatária M... nunca foi parte no negócio nem dele teve conhecimento, sendo usado o seu nome apenas porque foi com base nos documentos que lhe haviam sido furtados que os agentes do crime de burla lograram celebrar a locação financeira.

Sendo este contrato juridicamente inexistente nem sequer faz sentido falar de vícios intrínsecos do negócio.

E a inexistência jurídica da locação financeira não implica, contrariamente ao pretendido pelos recorrentes, a nulidade (ou inexistência) da compra e venda do veículo celebrada entre Autora e o stand M ...

É certo que no contrato de locação financeira, a compra do bem pelo locador – muitas vezes por indicação do locatário – se destina a proporcionar a este o gozo de tal bem mediante uma renda mensal. Sendo que terminado o período acordado para a locação, o locatário poderá adquirir o bem pagando o valor residual.

Contudo, findo ou extinto o contrato, por qualquer causa - incluindo a resolução contratual por incumprimento do locatário, por exemplo, falta de pagamento das rendas – nem por isso fica comprometida a propriedade do bem pelo locador, como decorre claramente do art. 7º do DL nº 149/95 de 24/06.

Como se refere no Acórdão do STJ de 20/01/1999, “na locação financeira, o locatário, por força do contrato, não adquire, ipso facto, a propriedade do bem. Entra na sua esfera jurídica, sim, o direito de aquisição futura. O interesse fundamental do contrato não se conexiona com a propriedade, mas antes com o uso.”

Conclui-se assim que:

- Celebrado um contrato de locação financeira e vindo a verificar-se que a pessoa indicada como locatário nunca foi parte no negócio, tendo o seu nome sido usado graças a documentos que lhe haviam sido furtados, o contrato deve considerar-se como juridicamente inexistente na medida em que nunca existiu qualquer acordo de vontades entre os supostos contraentes.

- O locador, pelo contrato de locação financeira, não transmite o seu direito de propriedade sobre o bem locado, salvo em caso de opção de compra exercida pelo locatário no fim do período de locação.

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- Não são terceiros, para efeitos do art. 291º do Código Civil, os intervenientes em negócios jurídicos sobre o bem locado, celebrados após a suposta aquisição da propriedade do bem pela locatária, aquisição que nunca teve lugar e que se baseou nos documentos furtados à mesma e em diversas falsificações.

- Tendo comprado o bem e registado a consequente propriedade, e nunca tendo transmitido a ninguém esse direito de propriedade, pode o locador reclamar o reconhecimento da mesma, com cancelamento dos registos posteriores.

- Após o registo da propriedade a favor da suposta locatária, fruto de uma compra e venda que nunca existiu, os intervenientes nos subsequentes negócios visando a transmissão do direito de propriedade nunca foram titulares desta, pelo que não podiam transmitir (ou adquirir) tal direito.

Termos em que se julga a apelação improcedente, confirmando-se a sentença recorrida.

Custas pelos recorrentes.

LISBOA, 30/4/2015

António Valente Ilídio Sacarrão Martins Teresa Prazeres Pais

Fonte: http://www.dgsi.pt

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