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O trabalho do assistente social na política de transplantes: uma experiência da Faculdade Dom Pedro II na produção do conhecimento no Serviço Social

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Academic year: 2022

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O trabalho do assistente social na política de transplantes: uma experiência da Faculdade Dom Pedro II na produção do conhecimento no Serviço Social

Liane Monteiro e Selma Mosquera1

lianemonteirosa@yahoo.com.br

selmamosquera@yahoo.com.br

Modalidad de trabajo: Apresentação de Experiências Profissionais e Metodologias de Intervenção.

Eje temático: Desafios Para a Formação Profissional na América Latina Palabras claves: Serviço Social, Transplantes, Produção de Conhecimento.

Introdução

Este trabalho é resultado da II Jornada Ação Social Com Ciência, realizado pelo Curso de Serviço Social da Faculdade Dom Pedro II, onde se discutiu o trabalho do Assistente Social na política de transplantes de órgãos e tecidos no Estado da Bahia. Seu principal objetivo é demonstrar os resultados obtidos durante esta iniciativa, destacando que a construção de parcerias inter e intra-profissionais, bem como, inter e intra-institucionais, pautadas no projeto ético-político da profissão, podem resultar numa ampliação do campo de atuação profissional do Assistente Social, bem como responder a demandas de consolidação de políticas públicas que integram este profissional na contemporaneidade.

Este evento foi uma iniciativa inovadora que reuniu estudantes; profissionais; pacientes transplantados e seus familiares; representantes da sociedade civil organizada; duas Escolas de Serviço Social (privadas), da cidade de Salvador-Bahia: a Faculdade Dom Pedro II e a UNIME; a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO); o Conselho Regional de Serviço Social da Bahia (CRESS-BA) e a Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes da Bahia (COSET/BA), da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB).

A referida Jornada teve como objetivos: refletir sobre o trabalho do Assistente Social na Política de Transplantes e suas perspectivas de ação para a formação da cidadania ativa, incentivar a produção de conhecimento de Assistentes Sociais inseridas neste contexto e

1Mestranda em Políticas Sociais e Cidadania. Universidade Católica do Salvador. Especialista em Educação. Assistente Social da Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes. Professora de Serviço Social da Faculdade D. Pedro II.

Doutoranda em Inovação Pedagógica, Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, Especialista em Gestão Organizacional e Desenvolvimento Humano,Assistente Social, Coordenadora do Curso de Serviço Social da Faculdade D. Pedro II. Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional.

Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009.

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iniciar o processo de observação direta do corpo discente e docente sobre o trabalho deste profissional na Política de Transplantes, no interior das Unidades Hospitalares, através de apoio à pesquisa e à extensão, estágio e atividades complementares.

Visando um ordenamento lógico, os debates foram divididos em dois blocos: um abordando a questão do transplante de órgãos na Bahia e o outro avaliando a relação entre família, saúde e contemporaneidade. Ambos, traziam como eixo comum a ação- reflexão-ação do Assistente Social nestes contextos. Adiante vamos nos aprofundar um pouco mais sobre tudo que foi semeado neste encontro e os frutos que, hoje, já estamos colhendo.

Desenvolvimento

O Curso de Serviço Social da Faculdade Dom Pedro II e a II Jornada Ação Social Com Ciência

A Faculdade Dom Pedro II completou quatro anos de existência. Mas, suas ações de ensino, pesquisa e extensão já são perceptíveis à toda comunidade soteropolitana.

Atualmente, a Instituição cuida da formação de profissionais da área de saúde como:

Enfermeiros, Farmacêuticos, Fisioterapeutas e Assistentes Sociais, e já está inaugurando o seu Hospital Universitário, onde a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) já começará a atender a população do subúrbio ferroviário no segundo semestre de 2009. Soma-se, ainda, à sua estrutura os Cursos de Direito, Administração, Letras e Pedagogia.

Hoje, o Curso de Serviço Social, com um ano e meio de existência, busca alinhar as suas ações de formação profissional às concepções da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS, pois reconhece esta entidade como coordenadora da construção do projeto de formação profissional dos Assistentes Sociais brasileiros, agregando neste processo as ações e posicionamentos ideo-políticos dos Conselhos Federal e Regional de Serviço Social, ou seja, do conjunto CFESS/CRESS, afirma a sua coordenadora, Profa. Msc Selma Mosquera.

Segundo Iamamoto (2006, p. 169),

[...] pensar a formação profissional no presente é, ao mesmo tempo, fazer um balanço do debate recente do Serviço Social, indicando temas a serem desenvolvidos, pesquisas a serem estimuladas para decifrar as novas demandas que se apresentam ao Serviço Social.

E, sobretudo, para que a categoria profissional se arme de elementos teóricos e de informações da realidade capazes de subsidiá-la na formulação de propostas profissionais, isto é, na construção de programáticas de trabalho, tanto no campo da formulação de políticas sociais como de sua implementação.

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A ação profissional, assim compreendida, exige que o Assistente Social, leve em conta as condições e relações sociais historicamente estabelecidas que condicionam o seu trabalho, considerando: a análise dos fenômenos e das políticas sociais; o estudo da dinâmica institucional; os elementos teórico-metodológicos; ético-políticos e técnico- operativos do Serviço Social, no momento em que for formular projetos de intervenção profissional, funcionem como respostas a tais demandas.

Sendo assim, o curso, agrega a promoção de debates, reflexões e ações, através do tripé: ensino, pesquisa e extensão, que resultem na construção de novas estratégias e encaminhamentos que contribuam para o aperfeiçoamento da formação profissional de Assistentes Sociais. Para isto, foi criada a Jornada Ação Social Com Ciência, evento que acontece durante a Jornada Científica que mobiliza, anualmente toda a Faculdade.

Na II Jornada Ação Social Com Ciência, o Curso de Serviço Social, estabeleceu uma parceria com a SESAB, através da COSET, e por afinidade, com a UNIME, e colocou a temática de transplantes na pauta de suas prioridades acadêmicas. E assim, o foco das discussões voltou-se para O trabalho do Assistente Social na Política de Transplantes, buscando reflexões sobre objetos, objetivos, atividades, resultados e temáticas geradoras da ação do Serviço Social no processo de trabalho que integra captação, doação e transplantes de órgãos e tecidos.

Pretende-se, então, ao discutir o trabalho do assistente social refletir criticamente os seus referenciais teóricos e metodológicos, bem como a afirmação de seus princípios ético- políticos voltados para a inclusão social e para a formação da cidadania.

A Questão do Transplante de Órgãos na Bahia: a parceria com a COSET-Ba

Na abertura da II Jornada, com a participação da Enfermeira Christina Lordello, coordenadora da Central de Transplantes/Ba, destacou-se que mais de 70 mil brasileiros estão cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes e a única esperança de sobrevivência destes cidadãos é através da doação de órgãos. O direito à continuidade da vida e a liberdade de optar pela doação e pela recepção de órgãos e tecidos vem constituindo uma tônica de discussão na Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes (COSET), da Bahia – coordenada pelo médico cirurgião Dr. Eraldo Moura - na perspectiva de consolidar mecanismos de Assistência Hospitalar, Educação e Mobilização Social na Política de Transplantes.

Para a assistente social da SESAB e representante do CRESS/Ba, Jamile Oliveira, o estudante deverá ser incentivado pelas instituições formadoras, a conhecer as

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normatizações que regulam o Sistema Único de Saúde, a significância da participação social e o que simbolizou a Reforma Sanitária em Saúde. Nessa perpectiva, mais do que instrumentalização, o SUS deverá ser apreendido em sua conformação política e esforço em superar o modelo médico-hegemônico através de ações de caráter multidisciplinar e de cunho usuário-centrada.

A Central de Transplantes da Bahia, ao lado das CIHDOTs, como organizações estratégicas da Política Nacional de Transplantes são responsáveis pela escuta direta da opinião e da decisão dos familiares do potencial doador para a autorização de retirada de órgãos. Como espaços de consolidação final desta política intermediam os processos de busca ativa, de relacionamento e acolhimento familiar, de manutenção do potencial doador e procedimentos cirúrgicos de transplantes com as equipes responsáveis.

A multidisciplinaridade confere ao trabalho da Central de Transplantes e das CIHDOTs, um processo de observação e atenção integral à complexidade que se coloca. O envolvimento de aspectos culturais e afetivos, mescla a subjetividade da morte de um ente familiar e a possibilidade de continuidade da vida de terceiros, aos desafios das rotinas hospitalares e às condições sócio-econômicas das famílias, envolvendo profissionais de Medicina, de Enfermagem, de Psicologia e Serviço Social.

No caso do Serviço Social, pautando-nos nas concepções de Silveira et all (2006, p. 108), podemos dizer que por ser uma profissão que tem a dimensão educativa como um traço constitutivo da sua intervenção na realidade entendemos que a inclusão de assistentes sociais na política de transplantes,

[...] tende a contribuir para a construção de um projeto interdisciplinar que fortaleça a educação em saúde e o estreitamento das relações entre profissionais e usuários(as) numa abordagem compartilhada do enfrentamento das questões que perpassam o processo saúde/doença, possibilitando o planejamento das ações de saúde a partir das necessidades expressas pela realidade da população adscrita.

Um dado alarmante, largamente sinalizado pela equipe de transplantes é a recusa familiar ao consentimento da doação, o que gera elevado tempo de espera dos pacientes na fila de transplantes na Bahia. Em estudos realizados pela COSET com as CIHDOT's, nota-se que influências negativas da mídia, bem como a qualidade do atendimento hospitalar constituem dois fatores centrais desta recusa. Daí advém o empenho da COSET na educação continuada das equipes de saúde de transplantes, sua articulação com as equipes hospitalares e o desenvolvimento de programas de educação e mobilização social que atuem na produção de conhecimento, na informação através de rádio e televisão e na parceria com a sociedade civil e instituições educacionais.

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As representações sociais trazidas pelos sujeitos, que hora estão no hospital como familiares do potencial doador poderão, através das informações previamente recebidas, alimentar riscos de elevar ou diminuir círculos viciosos de negação à doação. Em pesquisa sobre Qualidade de Vida em famílias de pacientes transplantados, em andamento desde 2008, verifica-se que familiares e pacientes nunca pensavam ou conheciam muito pouco sobre o tema antes de precisar de doações. (COSET, 2008).

O aumento da estatística das doações está, então, atrelado diretamente a uma mudança das representações sociais sobre Transplantes na Bahia e à elevação massiva de informações sobre o tema. Com base nessa premissa a COSET desenvolve ações complementares ao trabalho hospitalar: o Programa Educatransplantes, sob coordenação compartilhada da assistente social Liane Monteiro e a Frente de Mobilização Social, que envolve atores diversos da equipe de saúde, através de parcerias afins à difusão cultural em Transplantes.

Para contribuir com a alteração desse quadro, através do trabalho do Assistente Social, promoveu-se, nesta II Jornada, o debate sobre a necessidade da inclusão de conhecimentos e atividades na formação do Assistente Social, para que este se torne capacitado a integrar a equipe multidisciplinar que atua na área de transplantes, como campo profissional contemporâneo, de recente implantação regulamentada no Brasil.

Compartilhando o pensamento de Iamamoto (2006, p. 169),

[...] para se gestar um novo projeto de formação profissional há que estar atento aos ‘silêncios’, aos ‘ vazios’ do debate contemporâneo do Serviço Social para antecipar problemáticas e propostas, preenchendo lacunas e somando forças para o enfrentamento da voga neoliberal em suas características conservadoras e privatistas, que reduzem o cidadão à figura do consumidor ao erigir o mercado como eixo regulador da vida social, obscurecendo as funções públicas do Estado a favor de sua privatização.

A assertiva da referida autora torna-se pertinente a este contexto que prima pela universalização do direito ao transplante de órgãos e tecidos, com plena cobertura e gratuidade pelo SUS, porém com indicativos claros de desconhecimento da população.

Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), o Brasil possui hoje um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo, com 555 estabelecimentos de saúde e 1.376 equipes médicas autorizados, através das Centrais Estaduais de Transplantes (CNCDO's), em 25 estados da federação, e em breve, todas as unidades da federação serão partes funcionantes do sistema.

Vale salientar a conquista do Assistente Social em ocupar este espaço no grupo multiprofissional que desenvolve a Política de Transplantes no Brasil e na Bahia, no interior dos hospitais, nos programas de gestão, educação e de mobilização social, haja vista, seu preparo teórico e científico que proporciona ao profissional o perfil necessário

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para atender às diversas demandas colocadas. Assim sendo, em regime multidisciplinar na Política de Transplantes, cabe ao Assistente Social: acompanhar a família do potencial doador para esclarecer suas dúvidas, refletir sobre a importância da doação de órgãos e permitir a ela a escolha voluntária em doar ou não os órgãos de seu ente, através do trabalho das CIHDOTs (atualmente supervisionadas pela Assistente Social Sílvia Bandeira); elaborar e desenvolver projetos de educação e de mobilização social em escolas públicas e universidades e contribuir com a supervisão e a gestão do Sistema Estadual de Transplantes.

É nesse contexto que a II Jornada Ação Social com Ciência, proposta pelo curso de Serviço Social da Faculdade D. Pedro II vem consolidando a missão do Programa Educatransplantes, como ação situada em meio a outras iniciativas que compõem o seu quadro operacional, também com os cursos de medicina, enfermagem e psicologia, através da celebração de protocolos de intenção, inaugurada em agosto de 2008.

Neste artigo destacamos a reciprocidade efetiva para o desenvolvimento de política pública de saúde em Transplantes, através de ações que qualificam a formação profissional do Assistente Social num campo recente de atuação e, ao mesmo tempo, o empenho desta unidade de ensino superior em constituir campos de pesquisa e extensão em espaços contemporâneos.

O recorte proposto no trabalho do Assistente Social, quando integrado à totalidade do programa Educatransplantes consolida a assertividade da COSET na eficiência e eficácia de estabelecer mecanismos de contribuição com a formação profissional em Saúde e Transplantes, lacuna esta reconhecida historicamente, mas que, a médio prazo, tornar-se- á instrumento fundamental para a produção de benefícios sociais, superando divisas cientificas e tecnológicas, aporte de recursos para o estado e municípios, através da redução de custos com o tratamento fora de domicílio (TFD), como afirma o coordenador da COSET, Dr. Eraldo Moura.

No decorrer da Jornada Ação Social com Ciência notamos um processo construtivo, onde princípios da formação profissional do Assistente Social convergiram para o significado e para possíveis contribuições deste profissional para a consolidação de uma política social urgente e recente, que se situa em pleno processo de maturação no país. Especialmente, no Estado da Bahia, onde as estatísticas são muito diminutas no que tange à doação de órgãos e tecidos, é necessário realizar esse movimento de pesquisa no processo de trabalho de saúde em transplantes.

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Foi com esse intuito que a Faculdade D. Pedro II convocou profissionais de Serviço Social atuantes nas diversas frentes de ação desta política na cidade de Salvador, buscando, na problematização das temáticas trabalhadas e das ações desenvolvidas por profissionais e alunos, contribuições relevantes para o processo de formação profissional. Tal direcionamento ratifica o pensamento de Nunes e Ramalho (apud RAMOS, 2007, p. 151).

[...] a formação de competências não deve significar um retorno ao tecnicismo, pois ser competente não se limita a executar programas na atividade profissional, mas exige reflexão crítica, pesquisa, avaliação dos conhecimentos produzidos em seu campo profissional, para que os mesmos sejam incorporados de forma consciente, ao repertório de seus saberes, sempre construídos e reconstruídos.

Saúde, Família e Contemporaneidade: olhares do Assistente Social e suas contribuições na política de Transplantes.

Destacamos, então, dentro da programação desenvolvida, na II Jornada Ação Social com Ciência, quatro pontos centrais de reflexão e de possíveis contribuições do trabalho do assistente social para o aprimoramento da política de transplantes na Bahia. Os contextos da assistência hospitalar, através das CIHDOTs e a Educação em saúde, através do Programa Educatransplantes, já abordados no item anterior, bem como, a mobilização social, através das Comissões de pacientes renais e o trabalho com famílias, como eixo de ação do Serviço Social, que serão discutidos a seguir:

1. Mobilização Social e organização de pacientes renais na luta pela recepção do órgão

Ocupar a fila de espera por órgãos para transplantes constitui, também, um exercício de organização social e intervenção política de pacientes e familiares. É com este sentido que as associações de pacientes representam um empenho na efetividade dos direitos de saúde. Nesta perspectiva a ACREBa (Associação dos Renais Crônicos da Bahia), recebe e orienta pacientes e familiares sobre a doença, presta serviço de transporte para a unidade de diálise, acolhe pacientes vindos do interior do Estado e auxilia nos fatores educacional e psicológico que envolvem a patologia. Presidida por Gerson Barreto, essa associação esteve presente na Jornada, ao lado de familiares de pacientes renais transplantados, relatando suas histórias de vida com o advento da necessidade dos transplantes, com destaque para a relevância da família nesse processo. Segundo o mesmo:

[...] enquanto partícipe "transplantado" , me coube o papel de delinear o pré e o pós transplante, ou seja a vida antes e depois do transplante, bem como a melhoria do relacionamento dentro da própria família, aclarando para aqueles que não ainda se

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debruçaram sobre o tema de que a questão da Doação de órgãos é uma via de mão dupla. Quando a gente acorda em ser doador - tanto a gente pode ser doador quanto receptor.

A sessão da Jornada, intitulada Serviço Social/SESAB na comunidade: Círculo de Diálogos entre famílias e pacientes transplantados trouxe o relato da assistente social Luciene Macedo, da Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (HEMOBA), sobre sua experiência pessoal, como paciente transplantada de córnea, que sofreu os impactos deste transplante fora do domicílio e seus reflexos na sua atuação profissional, através de parcerias com a política de transplantes no Estado da Bahia.

No corpo de relatos contamos com a presença de discente do curso de direito desta faculdade, que no dia da Jornada comemorava 03 anos de sucesso de transplante renal.

Segundo a mesma, o processo exaustivo da espera na fila de transplantes é superado mediante o apoio coletivo das famílias, das equipes de saúde, do auxílio mútuo entre os pacientes que, aguardando doadores compatíveis, comungam dores e esperanças de elevação da qualidade de vida e de superação dos riscos decorrentes que, de forma geral, comprometem o seu futuro pessoal, profissional e sua cidadania.

A interação da platéia de alunos e professores com os pacientes e familiares e a temática desenvolvida atingiu níveis intensos de reflexão, tendo o direito à vida e a organização de pacientes como pano de fundo. A interrelação do trabalho do assistente social com o quadro exposto é ratificado pelo pensamento de Iamamoto (apud SILVEIRA et all, 2006, p. 107):

[...] atuando em organizações públicas e privadas dos quadros dominantes da sociedade, cujo campo é a prestação de serviços sociais, o Assistente Social exerce uma ação eminentemente ‘educativa’, ‘organizativa’ nas classes trabalhadoras. Seu objetivo é transformar a maneira de ver, de agir, de se comportar e de sentir dos indivíduos em sua inserção na sociedade.

Assim, a relação entre profissionais e usuários nas atividades educativas em saúde estende-se à relação no pré-transplante e no pós-transplante. A visão do trabalho com famílias torna-se um campo relevante para a política de transplantes, que integra contribuições relevantes, tanto de assistentes sociais, como de psicólogos, que também vem integrando comissões de pacientes. Tal aspecto ratifica a saúde como processo social que supõe a organização e o enfrentamento político. E, ao mesmo tempo, como espaço educativo pautado no diálogo entre saberes científicos e populares, o que representa uma ampliação da noção do cuidado em saúde.

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2. O trabalho com famílias: perspectivas a partir de um estudo com famílias de pacientes transplantados.

Tendo como objetivos construir mecanismos de acompanhamento familiar e de reabilitação de pacientes no Pós-Transplantes e ampliar o campo de formação profissional, foi iniciada, pelo Programa Educatransplantes, em 2008, a Pesquisa Qualidade de Vida em famílias de pacientes transplantados. De cunho exploratório, o estudo pauta-se na visita domiciliar, mediante aplicação de roteiro de entrevista semi estruturado e conjugado, focalizando os seguintes itens: identificação sócio-econômica, avaliação do serviço de saúde e representações sobre transplantes e suas repercussões no projeto de vida do paciente e da família.

A pesquisa em andamento foi iniciada com uma turma de 20 alunas da UNIME, como atividade complementar, mediante supervisão de assistentes sociais, enfermeiros e médicos da COSET. Em 2009 a pesquisa tem continuidade com alunos do curso de Serviço Social da UCSal, em sistema de atividade complementar e, a partir das diretrizes da II Jornada, tornou-se campo de trabalho acadêmico da Disciplina Pesquisa em Serviço Social, do curso de Serviço Social da Faculdade D. Pedro II. Dessa forma, a aliança proposta potencializa uma sistemática de controle e avaliação desta política, garantindo o aprimoramento do serviço e a qualidade do atendimento dos usuários.

Vale ressaltar que o referido estudo constitui uma provocação para a ampliação do trabalho com famílias para além das fronteiras hospitalares, situando a política de transplantes, numa esfera social que ultrapassa o modelo biomédico. Desta forma, afirma- se o caráter mobilizador e educativo em parceria com a assistência hospitalar. Como destaca Silveira:

[...] faz-se necessária a construção de novas práticas e de novas concepções que rompam com a concepção biomédica do saber/poder tradicionalmente presente nas ações de saúde, possibilitando assim a participação da população no planejamento das ações e no controle social, bem como a criação de vínculos de compromisso e co-responsabilidade entre profissionais, individuo, família e comunidade. (SILVEIRA et all, 2006, p. 104).

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Conclusões

Diante dos fatos apresentados, concluiu-se que as Escolas de Serviço Social possuem um papel fundamental, não só na formação do educando e na produção de saberes, mas, também, na construção de uma identidade laborativa da categoria de elevada auto- estima, bem como no reconhecimento e valorização da profissão do Serviço Social, por parte da sociedade como um todo. Papel este que o Curso de Serviço Social da Faculdade Dom Pedro II vem assumindo desde a sua criação.

Torna-se premente, então, intensificar o debate sobre esta política social e gerar documentos que contribuam com o seu aprimoramento global e nos campos de ação profissional da equipe de saúde. Deste fórum acadêmico resultou um relatório técnico- científico que expressa o posicionamento da categoria estudantil e profissional do Serviço Social, frente a tais demandas, como por exemplo: inserção do Assistente Social como gestor das políticas públicas de transplantes; como formador de cuidadores de pacientes nas fases de: pré-transplante, transplante e pós-transplante, como pesquisador e articulador das ações intersetoriais da saúde com a Educação e Assistência Social.

Este documento, em fase final de elaboração, será entregue à SESAB e vislumbra a assinatura de um Protocolo de Intenções entre o Governo do Estado e as Instituições de Ensino Superior envolvidas, cujo objeto é o compromisso destas unidades de Ensino em incluírem, em suas estruturas curriculares, disciplinas e/ou conteúdos transversais que permitam o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para a atuação profissional nesta área, bem como a abertura de campos de estágio e de atividades complementares nas frentes de trabalho de assistência hospitalar, de educação para a saúde e de mobilização social.

Soma-se a isto, o comprometimento dos docentes em produzir grupos de estudo, pesquisa e materiais didáticos, técnicos e pedagógicos que serão compartilhados com a SESAB para que seja possível capacitar os Assistentes Sociais da Rede Pública da Saúde do Estado da Bahia. Já a SESAB, em contrapartida, disponibilizará espaço para campo de pesquisa, estágio e atividades complementares e dará incentivos materiais e financeiros para a produção dos materiais supracitados, identificando na articulação com as Instituições de Ensino Superior de Serviço Social, uma aliança simultânea de formação profissional e de ratificação do Sistema Único de Saúde (SUS) como uma Escola de Cidadania, regida pela tríplice união do ensino, da pesquisa e da extensão.

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Referências:

BARBOSA, Mário da Costa. O Serviço Social como Práxis. In: Serviço Social &

Sociedade. – ano III, n. 6, São Paulo: Cortez, 1981.

SESAB/COSET-Ba. Relatório de Pesquisa: Qualidade de Vida em Famílias de Pacientes Transplantados, 2008.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 10 ed, São Paulo: Cortez, 2006.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. Renovação e Conservadorismo no Serviço Social: ensaios críticos. São Paulo: Cortez, 1992.

RAMOS, Sãmya Rodrigues. A prática na Formação Profissional em Serviço Social:

tendências e dificuldades. In: Temporalis / Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Diretrizes Curriculares de Serviço Social:

sobre o processo de implementação. – ano VII, n. 14. 2007.

SILVEIRA, Sandra Amélia Sampaio et all. A Dimensão Educativa do Serviço Social: uma análise da prática do(a) assistente social na educação em saúde. In: Temporalis / Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Serviço Social: temas sobre fundamentos e práticas. – ano VI, n. 11. 2006.

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