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COMPETÊNCIA MATERIAL DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DA PENA

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 779/03.8PAGDM-A.P1 Relator: FRANCISCO MARCOLINO Sessão: 11 Novembro 2015

Número: RP20151111779/03.8PAGDM-A.P1 Votação: DECISÃO SINGULAR

Meio Processual: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA Decisão: AUSÊNCIA DE CONFLITO

COMPETÊNCIA MATERIAL DECLARAÇÃO DE EXTINÇÃO DA PENA

Sumário

I - Não há lugar à prolação de despacho a declarar extinta a pena pelo seu integral cumprimento.

II - Para o caso de se entender que tem de ser declarada extinta tal pena, a competência material é do juiz da condenação atendendo a que não se trata da declaração da extinção da pena na sua execução pela ocorrência de causas de extinção da responsabilidade criminal ou da pena.

Texto Integral

Processo 779/03.8PAGDM-A.P1

*

DECISÃO NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO

O arguido B…, solteiro, maior, residente, antes de preso, na Rua …, n.º .., …, Gondomar, foi condenado na pena de 9 meses de prisão, por acórdão de 20/11/2006, transitado, pela prática de um crime de condução perigosa de veículo rodoviário, p. e p. pelo art.º 291º, n.º 1, alínea b) do C. Penal.

Negada a liberdade condicional, foi libertado por ordem da Sr.ª Juiz titular do processo em 3/05/2015 (no termo da pena).

Em 13 de Maio de 2015 – seja, após a libertação - a Sr. Juiz do Tribunal da condenação (Porto – Instância Central – 1ª Secção Criminal – J15), lavrou o despacho de fls. 30, no qual determina se “solicite informação ao TEP sobre se

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foi proferido despacho a declarar a extinção da pena de prisão do arguido, em conformidade com o disposto 138°, n.º 2 e n.º 4 al. s) do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade e art.ºs 470º, n.º 1, parte final do C.Penal e art.º 91º, n.º 1da Lei n.º 3/99, de 13/1 (…)”.

Respondeu a Sr.ª Juiz do 2º Juízo do TEP do Porto:

“Entendemos que não tendo o TEP tido qualquer intervenção no cumprimento da pena e libertação do recluso não dispõe de competência para declarar extinta a pena aplicada no processo na 779/03.8PAGDM.

Contudo, também não se justifica suscitar qualquer conf1ito negativo de competências, porquanto o STJ tem entendido que em situações como a dos autos não ocorre conflito negativo de competências já que «uma pena

integralmente cumprida não demanda ... qualquer despacho que a declare extinta».

Notifique e comunique ao referido processo”.

Transitado este despacho (certidão junta aos autos), a Sr.ª Juiz do processo excepcionou a sua incompetência material para declarar extinta a pena, nos termos seguintes:

“Como se depreende do despacho já proferido a fls. 646, entendo que, face à Lei em vigor, este Tribunal não tem competência, em razão da matéria, para declarar extinta (pelo cumprimento) a pena de prisão efetiva em que o arguido foi condenado, sendo tal da competência do TEP, em conformidade com o

disposto 138°, n.º 2 e n.º 4 al. s) do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade e art.ºs 470º, n.º 1, parte final do C.Penal e art.º 91º, n.º 1 da Lei 3/99, de 13-01, na redação introduzida pela Lei n° 115/2009, de 12 de Outubro.

Tal entendimento, tem sido, segundo julgamos saber, unânime nos tribunais superiores, (…)

O mesmo entendimento mostra-se conforme com a alteração introduzida ao art 470º do C.P.Penal pela referida 115/2009, de 12-10 o qual assim estabelece que a execução das penas corre nos próprios autos perante o presidente do Tribunal de 1ª instância em que o processo tiver corrido, sem prejuízo do disposto no artigo 138º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade. (…)

O referido artigo 138º do Código de Execução dos Penas e Medidas Privativas da Liberdade estabelece expressamente no seu n.º 2 e n.º 4, alínea s) que

«compete aos tribunais de execução de penas, em razão da matéria: s) declarar extinta a pena de prisão efectiva».

Assim, nos termos do artigo 475º do Código de Processo Penal, o tribunal

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competente para a extinção da execução a que aí se alude é, por força daquelas disposições é no caso de pena de prisão efetiva, o Tribunal de Execução de Penas, não distinguindo a lei a competência desse Tribunal consoante tenha sido ou não concedida liberdade condicional, dado que,

mesmo que não tenha sido concedido, é ao Tribunal de Execução de Penas que compete o acompanhamento da execução da pena no respetivo processo

individual (artigo 144º e 145º do Código de Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade).

Do mesmo modo, o art.º 91º da Lei n° 3/99, de 13.01.

Assim e uma vez que considero este tribunal incompetente em razão da

matéria, para a prolação do despacho que declara extinta a pena de prisão do arguido, nos sobreditos termos, o que renovadamente declaro, considerando competente para esse efeito o TEP do Porto e que este mesmo tribunal, por despacho proferido a fls. 653, igualmente se declarou incompetente para esse efeito, importará suscitar o conflito negativo de competência, após o trânsito em julgado deste despacho”.

Transitado em julgado este despacho, foi extraída certidão e remetida a este Tribunal para resolução de eventual conflito negativo de competência.

Cumprido o disposto no ar.º 36º/1 do CPP, apenas o Ex.mo PGA referiu que estamos “em presença de um falso conflito negativo de competência, do qual não cumpre conhecer”. E isto porque “não haverá lugar a despacho de

extinção da pena de prisão”.

DECIDINDO

Prescreve o art.º 138º do CEPMPL, sob a epígrafe “Competência material”:

1 – (…)

2 - Após o trânsito em julgado da sentença que determinou a aplicação de pena ou medida privativa da liberdade, compete ao tribunal de execução das penas acompanhar e fiscalizar a respectiva execução e decidir da sua

modificação, substituição e extinção, sem prejuízo do disposto no artigo 371.º- A do Código de Processo Penal.

3 - Compete ainda ao tribunal de execução das penas acompanhar e fiscalizar a execução da prisão e do internamento preventivos, devendo as respectivas decisões ser comunicadas ao tribunal à ordem do qual o arguido cumpre a medida de coacção.

4 - Sem prejuízo de outras disposições legais, compete aos tribunais de execução das penas, em razão da matéria:

a) (…)

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b) (…) c) (…) d) (…) e)(…) f) (…) g)(…) h) (…) i) (…) j) (…) l) (…) m) (…) n) (…) o) (…) p) (…) q) (…) r) (…)

s) Declarar extinta a pena de prisão efectiva, a pena relativamente indeterminada e a medida de segurança de internamento;

t) (…) u) (…) v) (…) x) (…) z) (…) aa) (…)

Como é sabido, longe vão os tempos em que o Juiz se limitava a aplicar de forma automática (e cega) a lei, não lhe sendo permitido qualquer actividade interpretativa.

No Séc. XX a teoria hermenêutica impôs-se no campo jurídico; e a exegese é hoje imprescindível na aplicação do direito que, é bom realçar, não se

confunde com a norma e nem é apenas um somatório de normas.

Segundo Paulo Grossi[1], a essência do direito é a “ordenação da razão dirigida ao bem comum, proclamada por aquele que tem o governo de uma comunidade”.

Porque dirigido ao bem comum, nunca pode ser fruto da vontade de um ditador.

Também por essa razão a lei jamais será a única fonte do direito.

O direito tem de se conformar com princípios universais que, por definição, são limitadores do poder do Estado e delimitam, eles próprios, o âmbito da norma.

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Secundando o mesmo autor[2], também entendemos que “o único instrumento para retirar ao direito o repugnante esmalte potestativo e autoritário

tradicional era e é conceber a sua (da lei) produção como um procedimento que não termina com a aprovação da norma mas que tem um momento

subsequente, o interpretativo, como momento próprio da realidade complexa da norma, em suma, a interpretação como elemento essencial da positividade da mesma norma, condição necessária para a exactidão e precisão da sua positividade”.

Ainda que a lei pareça muito clara, importa fazer a sua interpretação de acordo com os critérios interpretativos que são comumente aceites, e que estão consagrados no art.º 9º do C. Civil. Sabendo-se que, conforme consta desse normativo, o intérprete tem de presumir que o legislador consagrou as soluções mais adequadas.

A interpretação está, naturalmente, cometida ao Julgador.

Tarefa de que nos ocuparemos de seguida.

O elemento base de toda a interpretação, o seu ponto de partida, mas também o limite, é a letra da lei, o texto da norma.

Importa, no entanto afirmar, categoricamente, que, apesar de a apreensão literal do texto ser a base de toda a interpretação e, por isso, ser já

interpretação, o certo é que nenhuma interpretação fica completa por recurso apenas à literalidade da lei.

Como refere Castanheira Neves “a leitura do texto legal como texto jurídico não poderá ficar-se nunca tão-só pelo «elemento gramatical», na sua

autonomia filológica, ou pela estrita significação comum, na sua autonomia lógico-linguística, pois que ficando por aí ou abstraindo da referência ao sentido jurídico não se faria uma leitura desse texto como texto jurídico: a leitura do texto como texto jurídico, ao exigir aquela referência jurídica há-de ser originalmente uma feitura jurídica”. Razão pela qual importa convocar os outros elementos de interpretação, os chamados elementos lógicos, seja as razões de ordem sistemática, histórica e teleológica que enformam a lei.

Segundo o elemento sistemático, o intérprete tem de ter em conta as restantes normas que integram o ordenamento jurídico, especialmente as que regulam a mesma matéria ou matéria análoga (contexto da lei).

Como refere Francesco Ferrara[3], “Um princípio jurídico não existe isoladamente, mas está ligado por nexo íntimo com outros princípios.

O direito objectivo, de facto, não é um aglomerado caótico de disposições, mas um organismo jurídico, um sistema de preceitos coordenados ou

subordinados, em que cada um tem o seu posto próprio. Há princípios jurídicos gerais de que os outros são deduções e corolários ou então vários

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princípios condicionam-se ou restringem-se mutuamente, ou constituem desenvolvimentos autónomos em campos diversos. Assim, todos os princípios são membros de um grande todo.

Desta conexão cada norma particular recebe luz. O sentido de uma disposição ressalta nítido e preciso, quando é confrontada com outras normas gerais ou supra-ordenadas, de que constitui uma derivação ou aplicação ou uma

excepção, quando dos preceitos singulares se remonta ao ordenamento jurídico no seu todo. O preceito singular não só adquire individualidade mais nítida, como pode assumir um valor e uma importância inesperada caso fosse considerado separadamente, ao passo que em correlação e em função de outras normas pode encontrar-se restringido, ampliado e desenvolvido”.

O elemento histórico manda ter em atenção o tempo de formação da norma, as forças sociais que “ditaram” a sua feitura; e tem de ter também em atenção os tempos de aplicação da norma (interpretação actualista). E isto porque, como bem refere Baptista Machado[4], “a sociedade pluralista de hoje assenta na ideia de uma modificabilidade do direito e postula um sistema jurídico aberto e dinâmico que resolva o problema de uma modificação e evolução ordenada (…)”.

Com propriedade afirma Oliveira Ascensão[5] que “a interpretação não se pode bastar nunca com o texto e o espírito da lei. Há um elemento essencial que é a base de toda a interpretação: é a própria ordem social em que o texto se situa.

De facto, a lei vigora numa ordem social. As palavras da lei são indecifráveis se não forem integradas naquela ordem social.”

Finalmente, há que apurar a razão de ser da norma, o fim visado pelo legislador ao introduzi-la no ordenamento jurídico[6].

“O elemento racional, ou teleológico, consiste na razão de ser da norma (ratio legis), no fim visado pelo legislador ao editar a norma, nas soluções que tem em vista e que pretende realizar. A propósito deste critério realça Ferrara que

«É preciso que a norma seja entendida no sentido que melhor responda à

consecução do resultado que quer obter. Pois que a lei se comporta para com a ratio iuris, como o meio para com o fim: quem quer o fim quer também os meios. Para se determinar esta finalidade prática da norma, é preciso atender às relações da vida, para cuja regulamentação a norma foi criada. Devemos partir do conceito de que a lei quer dar satisfação às exigências económicas que brotam das relações (natureza das coisas). E portanto ocorre em primeiro lugar um estudo atento e profundo, não só do mecanismo técnico das relações, como também das exigências que derivam daquelas situações, procedendo-se à apreciação dos interesses em causa»[7].

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Pois bem.

Segundo a transcrita alínea s) do n.º 4 do art.º 138º do CEPMPL, é da exclusiva competência material do TEP, “Declarar extinta a pena de prisão efectiva, a pena relativamente indeterminada e a medida de segurança de internamento”.

Fazendo a interpretação literal do preceito, fácil seria afirmar que compete ao TEP declarar extinta a pena de prisão integralmente cumprida pelo

condenado.

Só que tal interpretação não é consentida nem pelo elemento sistemático e nem pelo teleológico.

Demonstremos.

Como bem refere Germano Marques da Silva[8], “A responsabilidade penal consiste na adstrição do agente do crime a suportar a sanção que constitui o efeito jurídico necessário, a consequência jurídica da norma incriminadora”.

Segundo o mesmo autor, a sanção pode extinguir-se por duas formas distintas:

- “Pelo seu cumprimento, e será o caso normal”;

- Ou por outras causas a que, por contraposição, poderemos, por comodidade de raciocínio, apelidar de “anormais”, ou melhor, impostas pela própria lei, e que importam uma de duas consequências:

● “porque se verifica um impedimento de prossecução da procedimento para aplicar a sanção, e fala-se então em extinção do procedimento criminal, que acarreta a extinção da responsabilidade porque não pode aplicar-se uma sanção penal pela via do procedimento”; ou

● “porque se extingue a sanção aplicada e consequentemente não mais pode ser aplicada”[9].

É neste último sentido que a Lei atribui competência material ao TEP para

“Declarar extinta a pena de prisão efectiva”, ou seja, para declarar extinta a sanção aplicada na sequência da ocorrência de uma situação prevista na própria lei como causa de extinção da pena.

O elemento sistemático tem papel relevante na conclusão a que acabamos de chegar. Com efeito, o CEPMPL é um instrumento jurídico elaborado para regular o cumprimento de penas. Que são aplicadas por ordem de um tribunal penal. Em concordância com a lei penal (princípio da legalidade), que

Feuerbach viria a fazer concordar com a fórmula latina nulla poena sine lege, mas que os doutrinadores modernos restringem à expressão, mais completa, de nullum crimen nulla poena sine lege, scripta, praevia, stricta, et certa, e que está expressamente proclamado no n.º 1 do art. 29.º da CR: “Ninguém pode ser sentenciado criminalmente senão em virtude de lei anterior que declare punível a ação ou omissão (…)”.

Lei Penal que, naturalmente, é emanada ou autorizada pela Assembleia da

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República.

Será, pois, a este Diploma Legal que teremos de nos ancorar para solucionar a questão dos autos, em sede de interpretação sistemática.

Ora, o Código Penal, enumera no TÍTULO V, sob a epígrafe “Extinção da responsabilidade criminal”, como causas de extinção do procedimento criminal (e também, ou em consequência, de extinção da pena):

1. A prescrição (art.ºs 118º a 126º);

2. A morte (art.º 127º, n.º 1);

3. A amnistia (art.º 127º, n.º 1);

4. O perdão genérico (art.º 127º, n.º 1);

5. O indulto (art.º 127º, n.º 1):

6. A extinção de pessoa colectiva ou entidade equiparada (art.º 127º, n.º 2).

Mas enumera ainda uma outra causa de extinção da responsabilidade criminal, na sua parte geral:

7. Quando um facto punível segundo a lei vigente no momento da sua prática deixa de o ser se uma lei nova o eliminar do número das infracções (art.º 2º, n.º 2)

É nestas situações, e só nestas situações, que é necessária a intervenção do Juiz. Precisamente porque tem de declarar verificada a situação – típica - que impede o cumprimento da pena.

Ou seja, é necessária a sua intervenção para julgar verificado o pressuposto legal e, na sequência, para declarar extinta a pena.

Cavaleiro de Ferreira[10] expressamente afirma que o Código Penal apenas contém “causas extintivas do direito de acção em processo penal, e que a extinção da responsabilidade penal, no significado do Código Penal, abrange a extinção da punibilidade. Isto é, do direito de punir, e a extinção da pena na sua execução”.

De resto, sabendo-se, e repetimos, que o intérprete tem de presumir que o legislador consagrou as soluções mais acertadas, então também é verdade que a lei penal distingue as situações de cumprimento da pena das situações de extinção da pena, da medida de segurança ou do procedimento criminal.

Às situações de cumprimento se refere, por exemplo, nos art.ºs 6º, n.º 1, 43º, n.º 5, 45º, n.º 1, 48º, n.º 1, 56º, 59º, 67º, 78º, n.º 1, 80º, n.º 1, 89º, 90º-D, n.º 4, 90º-E, n.º 4 e 125º, n.º 5, todos os preceitos do C. Penal.

Já às situações de extinção da pena, da medida de segurança ou do

procedimento criminal, com sentido e alcance bem distintos, se refere nos art.ºs 11º, n.º 8, 49º, n.º 3, 57º, 61º, 94º, 103º, n.º 2, 115º, 118º, 122º, 127º, n.º 2, 128º e 206º, também estes preceitos do C. Penal

Ora, sabendo-se:

- Que a harmonização legislativa não é palavra vã;

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- Que o legislador usou os vocábulos “cumprimento” e “extinção” em sentidos não coincidentes;

- Que o CPP se aplica subsidiariamente ao CEPMPL;

- Que este Diploma “está ao serviço”, passe a expressão, do Código Penal;

- Que o CEPMPL, de forma expressa, consagra, no art.º 2º, como finalidades da execução das penas e medidas de segurança privativas da liberdade a reinserção do agente na sociedade, preparando-o para conduzir a sua vida de modo socialmente responsável, sem cometer crimes, a protecção de bens jurídicos e a defesa da sociedade, ou seja, reproduz as finalidades das penas consagradas no C. Penal (art.º 40º), em completa harmonização legislativa, o que foi pretendido,

Então tem de entender-se, em conformidade com a unidade dos sistema jurídico, que a competência do TEP para “Declarar extinta a pena de prisão efectiva”, está restringida aos casos em que é necessário declarar extinta a sanção e não já aos casos em que ocorreu o seu integral cumprimento.

O que só ocorre, como supra referimos, na sequência da constatação de uma situação prevista na lei (leia-se, no Código Penal) como causa de extinção da pena.

Até porque, como deixamos vincado, o integral cumprimento decorre da naturalidade da situação e concretiza-se com a libertação na sequência de mandado de libertação emitido pelo Juiz.

De nada mais carecendo, pois.

Se o elemento sistemático ainda não fosse suficiente para se alcançar a

conclusão referida – e é, seguramente –, o certo é que o elemento teleológico imporia a mesma conclusão.

O CEPMPL tem na sua génese a Proposta de Lei 252/X, em cujo ponto 15 da exposição de motivos, se pode ler: “No plano processual e no que se refere à delimitação de competências entre o tribunal que aplicou a medida de efectiva privação da liberdade e o Tribunal de Execução das Penas, a presente

proposta de lei atribui exclusivamente ao Tribunal de Execução das Penas a competência para acompanhar e fiscalizar a execução de medidas privativas da liberdade, após o trânsito em julgado da sentença que as aplicou.

Consequentemente, a intervenção do tribunal da condenação cessa com o trânsito em julgado da sentença que decretou o ingresso do agente do crime num estabelecimento prisional, a fim de cumprir medida privativa da

liberdade. Este um critério simples, inequívoco e operativo de delimitação de competências, que põe termo ao panorama, actualmente existente, de

incerteza quanto à repartição de funções entre os dois tribunais e, até, de sobreposição prática das mesmas. Incerteza e sobreposição que em nada

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favorecem a eficácia do sistema”.

Acrescenta-se no ponto 17 da mesma Proposta de Lei 252/X que “a presente proposta de lei defere ao Tribunal da Execução das Penas não só o controlo das questões estritamente respeitantes à execução (…).

Adita-se no item 19 da mesma exposição de motivos:

“A presente proposta de lei optou pela organização, no Tribunal de Execução das Penas, de um processo único para cada recluso, a cujos autos principais (os que deram origem à abertura do processo) são depois apensados todos os demais processos e incidentes. Procurou assegurar-se a unidade de critério decisório, a continuidade do processo de reinserção social e a avaliação do mesmo, através do imediato acesso à «história» integral do recluso, por parte do juiz do Tribunal de Execução das Penas chamado a decidir sobre a sua situação”.

Ou seja, o legislador quis, de forma inequívoca, por um lado, que a

intervenção do tribunal da condenação cesse com o trânsito em julgado da sentença que decretou o ingresso do agente do crime num estabelecimento prisional, a fim de cumprir medida privativa da liberdade; e, por outro, que no Tribunal de Execução das Penas se organize “um processo único” no qual se decidam todos os incidentes relativos à execução da pena.

Incidentes relativos á execução da pena, repete-se. Nos quais se inclui,

fazendo uso das citadas palavras de Cavaleiro de Ferreira, a “extinção da pena na sua execução”.

Em conformidade com os pressupostos definidos na Lei Penal, que deixamos transcritos.

E só nestes casos.

Sob pena de, se assim se não entender, se subverter o espírito do legislador que quis que o TEP acompanhasse e fiscalizasse a execução de medidas privativas da liberdade, após ter considerado o recluso como sujeito de direitos.

Mas não lhe atribuiu outras competências para as quais não está vocacionado.

Como sucederia se vingasse a interpretação da Sr.ª Juiz titular do processo.

Descendo ao caso dos autos.

O arguido B… foi condenado na pena de 9 meses de prisão, pela prática de um crime de condução perigosa de veículo rodoviário, p. e p. pelo art.º 291º, n.º 1, alínea b) do C. Penal.

Negada a liberdade condicional, foi libertado por ordem da Sr.ª Juiz titular do processo em 3/05/2015.

A libertação ocorreu no termo da pena por ordem do Juiz do processo.

Porque assim, não há lugar à prolação de qualquer despacho a declarar

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extinta a pena.

Ainda que assim não fosse – e é – sempre a competência material para prolatar tal despacho (desnecessário e tautológico na medida em que foram emitidos mandados de libertação) seria da competência do Juiz do processo pois que a competência do Juiz do TEP, que é residual, está restringida à declaração de extinção da pena na sua execução, seja, quando ocorram as causas de extinção da pena tipificadas na Lei Penal.

DECISÃO

Termos em que se entende que não há qualquer conflito negativo a dirimir porque não há lugar a despacho a declarar extinta a pena pelo seu

cumprimento.

Cumpra, de imediato, o disposto no n.º 3 do artigo 36.º do Código de Processo Penal.

Sem tributação.

Porto, 11-11-2015 Francisco Marcolino _____________

[1] Mitologia Jurídica de La Modernidade, Editorial Trota, Madrid, 2003, pg.

28

[2] Ob. Citada, pg. 59

[3] Interpretação e Aplicação Das Leis (2ª edição – 1963), 143, tradução de Manuel de Andrade, publicada em conjunto com a sua tese de doutoramento, Ensaio Sobre A Teoria Da Interpretação Das Leis (2ª edição), citado pelo AUJ 16/2014.

[4] Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, 223 [5] R.O.A., 1997, n.º 3, 915

[6] Conforme ao sentido do texto, Baptista Machado, obra citada, 182 [7] AUJ 8/2015

[8] Direito Penal Português, Parte Geral, Editorial verbo, 1999, vol. III, pg. 224 [9] Germano Marques da Siva, ob. e loc. citados

[10] Lições de Direito Penal, Edições Almedina 2010, Parte Geral, II vol., pg.

196

[11] Realce nosso [12] Realce nosso

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