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Constelações. História dos povos Indígenas

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Academic year: 2022

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História dos povos Indígenas

Constelações

As constelações indígenas diferem das concepções das sociedades exteriores ocidentais principalmente em três aspectos.

Primeiro, as principais constelações ocidentais registradas pelos povos antigos são aquelas que interceptam o caminho imaginário que chamamos de eclíptica, por onde aparentemente passa o Sol, e próximo do qual encontramos a Lua e os planetas. Essas constelações são chamadas zodiacais. As principais constelações indígenas estão localizadas na Via Láctea, a faixa esbranquiçada que atravessa o céu, onde as estrelas e as nebulosas aparecem em maior quantidade, facilmente visível à noite.

Segundo, os desenhos das constelações ocidentais são feitos pela união de estrelas. Mas, para os indígenas, as constelações são constituídas pela união de estrelas e, também, pelas manchas claras e escuras da Via Láctea, sendo mais fáceis de imaginar. Muitas vezes, apenas as manchas claras ou escuras, sem estrelas, formam uma constelação. A Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães são consideradas constelações.

O terceiro aspecto que diferencia as constelações indígenas das ocidentais está relacionado ao número delas conhecido pelos indígenas. A União Astronômica Internacional (UAI) utiliza um total de 88 constelações, distribuídas nos dois

hemisférios terrestres, enquanto certos grupos indígenas já nos mostraram mais de cem constelações, vistas de sua região de observação. Quando indagados sobre quantas constelações existem, os pajés dizem que tudo que existe no céu existe também na Terra, que nada mais seria do que uma cópia imperfeita do céu. Assim, cada animal terrestre tem seu correspondente celeste, em forma de constelação.

O céu indígena

As principais constelações reconhecidas pelos povos nativos encontram-se na Via Láctea, chamada por eles de “Caminho da Anta” ou “Morada dos Deuses”. No entanto, diferentemente das constelações do zodíaco convencional, para a formação das imagens representativas no céu, não é considerada apenas as estrelas, mas todos os demais corpos celestes. Para Germano Bruno, isto facilita a visualização das constelações pelos leigos em astronomia, já que é muito comum a dificuldade em visualizar as figuras do zodíaco convencional.

Dentre as constelações observáveis no Hemisfério Sul, o Cruzeiro do Sul é uma das mais importantes. Chamado de Beija-flor ou Colibri, ele é utilizado tanto como referencial para a localização do Sul geográfico, como para reconhecer as estações do ano. Isso é bastante importante para o calendário de atividades de plantio, colheitas e caça. Outro astro importante é a lua. Germano Bruno explica que, antes mesmo de Isaac Newton, afirmar em seus estudos, os indígenas brasileiros já conheciam a influência dos ciclos da lua sobre as marés.

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Assim na terra, como no céu

O curandeiro e líder da comunidade indígena Thá-fene, Waky Kariri-Xocó/ Funi-ô, falou sobre a importância dos céus para sua tribo. Bem diferente da astronomia convencional, que é baseada em cálculos e métodos teóricos, os Kariri-Xocó/ Funi-ô buscam analisar de forma prática os movimentos celestes e interpretar o que cada movimento pode estar representando. Segundo o líder indígena, é a partir dos

fenômenos celestes que seu povo compreende os fenômenos na Terra. Por isso, desde de cedo, os anciãos da tribo ensinavam a importância de estar atentos ao movimento celeste. “Nós somos um povo que gosta de trilhar livremente pelas estrelas. Nós não contamos as estrelas, apenas trilhamos entre elas. O universo, o cosmo celeste, o universo solar, tudo tem uma ação, tem um movimento. E tudo que muda, nós procuramos acompanhar, ter atenção”.

Ciência astronômica indígena pré-colonial

Em 1632, Galileu Galilei publicou o livro: “Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo; ptolomaico e copernicano”, onde afirmava que a principal causa do fenômeno das marés seriam os dois movimentos circulares da Terra: o de rotação em torno de seu eixo (diurno) e o de translação em torno do Sol (anual), desconsiderando a influência da Lua.

Em 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville passou quatro meses entre os tupinambá do Maranhão, da família tupi-guarani, localizados perto da Linha do Equador. Seu livro “Histoire de la mission de pères capucins en l’Isle de Maragnan et terres circonvoisines”, publicado em Paris em 1614, é considerado uma das mais importantes fontes da etnografia dos indígenas do tronco tupi. Nesse livro, publicado dezoito anos antes do livro “Diálogo” de Galileu, d’Abbeville escreveu: “Os tupinambá atribuem à Lua o fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas marés cheias que se verificam na lua cheia e na lua nova ou poucos dias depois”. Além disso, a maioria dos antigos mitos indígenas sobre o fenômeno da pororoca, que traz uma grande onda do mar para os rios volumosos da Amazônia, mostra que ele ocorre perto da lua cheia e da lua nova, demonstrando o conhecimento, por esses povos, da relação entre as marés e as fases da Lua.

Somente em 1687, setenta e três anos após a publicação de d’Abbeville, Isaac Newton demonstrou que a causa das marés é a atração gravitacional do Sol e, principalmente, da Lua sobre a superfície da Terra. Esses fatos mostram que, muito antes da Teoria de Galileu, que não considerava a Lua, os indígenas que habitavam o Brasil já sabiam que ela é a principal causadora das marés.

Além da orientação geográfica, um dos principais objetivos práticos da astronomia indígena era sua utilização na agricultura. Os indígenas associavam as estações do ano e

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as fases da Lua com a biodiversidade local, para determinarem a época de plantio e da colheita, bem como para a melhoria da produção e o controle natural das pragas. Eles consideram que a melhor época para certas atividades, tais como, a caça, o plantio e o corte de madeira, é perto da lua nova, pois perto da lua cheia os animais se tornam mais agitados devido ao aumento de luminosidade, por exemplo, a incidência dos percevejos que atacam a lavoura.

De acordo com Germano Afonso, entre os indígenas brasileiros o tipo mais comum de gnômon era constituído por um bloco de rocha bruta, pouco trabalhada artificialmente, com cerca de 1,5 metro de altura e com entalhes para os quatro pontos cardeais. Em volta dele há rochas menores, dispostas em forma de círculo com orientações tanto para os pontos cardeais quanto para os pontos colaterais (nordeste, sudeste, noroeste e sudoeste), formando a rosa-dos-ventos, comum nas cartas náuticas.

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Astronomia, crenças e mitos

Há muito tempo, contam os índios Tembé, da Amazônia, havia uma grande aldeia nas margens do rio Capim, no estado do Pará. Nessa aldeia vivia um cacique que tinha uma filha muito bonita, olhos negros e cabelos lisos e longos, chamada Flor da Noite. Ela gostava de ficar às margens do rio, observando o pôr-do-sol. Em uma noite de lua cheia, a índia adormeceu na praia e foi acordada por um grande barulho que vinha do rio.

Então, um rapaz saiu da água e eles passaram a namorar em todas as noites de lua cheia.

O rapaz, porém, era um boto cor-de-rosa e, depois de engravidar Flor da Noite, nunca mais voltou. A índia deu à luz a três botos e, embora triste, ela decidiu soltá-los nas águas do rio, para que eles não morressem. Assim, quando sentem saudades da mãe, os três botos unem-se à procura dela, saltando sobre as águas, sempre na lua nova e na lua cheia, fazendo uma grande onda que se estende até as margens do rio, derrubando árvores e virando barcos.

Essa fábula, na verdade, narra o fenômeno da pororoca, o estrondo provocado pelo encontro do rio com as ondas do mar, durante o período da maré alta, e mostra que esses índios já conheciam a relação entre as fases da lua e o ciclo das marés. "O conhecimento indígena sobre o movimento dos astros, as fases da lua e sobre as constelações é muito semelhante à astronomia de culturas antigas, ágrafas, que faziam do céu o esteio de seu cotidiano, tais como os sumérios e os egípcios, antes de criarem seus sistemas de

escrita", conta Germano Bruno Afonso, físico e etnoastrônomo do Museu da Amazônia.

Esse conhecimento era transmitido por meio de histórias e mitos, como o da pororoca.

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Bibliografia

O CÉU DOS ÍNDIOS DO BRASIL Germano Bruno Afonso (Musa - UNINTER)

ASTRONOMIA INDÍGENA Germano B. Afonso (CNPq/UEMS)

As Constelações Indígenas Brasileiras Germano B. Afonso

De olho na astronomia indígena

Giovanna Hemerly <http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/noticias/de- olho-na-astronomia-indigena/>

A astronomia e astrologia no Brasil indígena

Germano B. Afonso (https://espacoastrologico.com.br/a-astronomia-e-a-astrologia-no- brasil-indigena/)

Referências

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