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KINDLE E A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS VIRTUAIS

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KINDLE E A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DOS LIVROS VIRTUAIS

Lorena Ribeiro Ayres1

1. INTRODUÇÃO

O tema a ser abordado enfrenta grande discussão no meio acadêmico e entre os doutrinadores. As Cortes Superiores, porém, começam a discutir o assunto, diante do avanço tecnológico.

Saber se a imunidade concedida pelo artigo 150, VI, “d”, da Constituição Federal de 1988 alcança os softwares, CD-Rooms e similares, cujo seu conteúdo seja composto por arquivos de dados equivalentes ao conteúdo de livros (também conhecido como livros virtuais) e de suma importância.

O presente artigo tem por escopo demonstrar aos leitores que a imunidade tributária relativa aos livros, jornais e periódicos, bem como o papel destinado a sua impressão, disposta na alínea d, do artigo 150, VI, da Constituição Federal alcança, também, os livros eletrônicos e virtuais – Kindle, e-books (Eletronic books), CD-Rooms e disquetes - que possuem o mesmo conteúdo daqueles impressos.

Contudo, primeiramente cumpre esclarecer alguns elementos relevantes para o completo entendimento da matéria acerca da imunidade tributária.

Verifica-se que a própria Constituição Federal veda a instituição de impostos (imunidade tributária) pelos seus entes sobre os livros, jornais e periódicos. Assim, analisaremos nessa oportunidade, apenas a imunidade tributária relativa aos livros

Neste momento, é importante destacar dois questionamentos que sempre são formulados quando tratamos da imunidade em foco:

Qual a finalidade de referida imunidade?

Todos os livros são imunes?

Para o desenvolvimento desta dissertação, opta-se pela pesquisa bibliográfica, uma vez que ela procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas, buscando conhecer e

1 Advogada graduada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em 2008.

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analisar as contribuições culturais e cientificas existentes sobre determinado assunto, tema ou problema.

2. CONCEITO DE IMUNIDADE E SUA INTERPRETAÇÃO AMPLA

As imunidades, juntamente com os princípios constitucionais tributários são limitações ao poder de tributar. Enquanto a regra de competência delimita a parcela do poder de tributar, a imunidades estabelecem constitucionalmente o campo em que é vedado ao legislador tributar.

A doutrina conceitua imunidades tributárias como hipóteses de não-incidência constitucionalmente qualificadas, ou ainda, como regras negativas de competência tributária (Carrazza, 2006).

Conforme preceitua o art. 150, IV, “d” da CF/88, estão imunes de impostos os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. O escopo do legislador constitucional foi elevar a cultura, a liberdade de pensamento, a informação, a comunicação, a educação e o conhecimento como valores essenciais ao desenvolvimento nacional.

Além disso, ao tratar de imunidades, a interpretação deve ser feita de forma extensiva e não restritiva, de forma a estender o alcance da imunidade àquilo que seja similar ou equivalente. No caso, os livros virtuais seriam equivalentes aos livros impressos ou, na pior hipótese, ao papel destinado à sua impressão.

Ao tratar da interpretação extensiva das normas constitucionais, Hugo de Brito Machado esclarece:

“A melhor interpretação das normas da Constituição é aquela capaz de lhes garantir a máxima efetividade. Toda imunidade tem por fim a realização de um princípio que o constituinte considerou importante para a nação. A imunidade dos livros, jornais e periódicos tem por fim assegurar a liberdade de expressão do pensamento e a disseminação da cultura. Como é inegável que os meios magnéticos, produtos da moderna tecnologia, são hoje de fundamental importância para a realização desse mesmo objetivo, a resposta afirmativa se impõe” (MACHADO, p. 228).

A doutrina brasileira é pacífica no sentido de que essa imunidade foi concedida sem qualquer condição, sem qualquer interpretação que possa vir a limitá-la ou descaracterizá-la.

De fato, o legislador constituinte teve a intenção de impedir a instituição de impostos sobre determinados bens ou atividades dada à sua relevância social. Desse modo não há como pretender aplicar essa norma de forma restrita. O STF já teve oportunidade de manifestar-se sobre o tema:

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“IMUNIDADE TRIBUTARIA. LIVRO. CONSTITUIÇÃO, ART. 19, INC. III, ALINEA 'D'. EM SE TRATANDO DE NORMA CONSTITUCIONAL RELATIVA AS IMUNIDADES TRIBUTARIAS GENERICAS, ADMITE-SE A INTERPRETAÇÃO AMPLA, DE MODO A TRANSPARECEREM OS PRINCÍPIOS E POSTULADOS NELA CONSAGRADO. O LIVRO, COMO OBJETO DA IMUNIDADE TRIBUTARIA, NÃO E APENAS O PRODUTO ACABADO, MAS O CONJUNTO DE SERVIÇOS QUE O REALIZA, DESDE A REDAÇÃO, ATÉ A REVISÃO DE OBRA, SEM RESTRIÇÃO DOS VALORES QUE O FORMAM E QUE A CONSTITUIÇÃO PROTEGE” (STF, Segunda Turma, RE 102.141/RJ, Min.

Carlos Madeira).

O próprio Supremo Tribunal Federal também reconheceu que a finalidade dessa norma é

"evitar embaraços ao exercício da liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação, bem como facilitar o acesso da população à cultura, à informação e à educação"

(RE 221239 - São Paulo).

Assim, não são necessárias grandes digressões para concluir que o legislador constituinte, ao tratar da imunidade sobre livros, jornais e periódicos, não limitou o benefício apenas àqueles elaborados em papel. Pelo contrário, pretendeu proteger os valores insertos nesses meios de comunicação.

Por outro lado, em se tratando do papel, somente aquele que for destinado à impressão desses produtos é que poderá gozar da imunidade constitucional. Mas jamais foi colocado (até porque o texto constitucional assim não está escrito) que somente os livros, jornais e revistas feitos de papel seriam imunes.

Admitir tal hipótese é restringir a interpretação das normas constitucionais, o que afronta uma interpretação literal ou teleológica dessa norma. De fato, se o legislador não fez qualquer distinção, não cabe ao intérprete fazê-la.

3. CONCEITO DE LIVRO

A questão que se coloca é: livro é apenas aquele produto em que textos são impressos em folhas de papel, ou ele pode existir sob outras formas?

O conceito de livro, frente aos novos recursos tecnológicos, evolui de livro-objeto (folhas impressas e encadernadas, com numero mínimo de páginas) para livro-valor, ou seja, como veículo de idéias, meio de difusão da cultura. Nesta concepção, tanto o livro digitalizado, como o livro virtual, o gravado e o livro tradicional são abarcados pela imunidade.

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A maioria dos juristas é unânime ao afirmar que o conceito de livro independe do meio em que estiver inserto o conhecimento ou as idéias. Ao tratar sobre o tema, Roque Carrazza define livro, para fins de imunidade:

“É livro, pois, para fins de imunidade, qualquer objeto que transmita conhecimentos (idéias, informações, comentários, narrações reais ou fictícias etc.), pouco importando se isto se faz por caracteres alfabéticos, por imagens, por sons, por signos Braille, por impulsos magnéticos.

A intentio constitucionis é desvendada com a desvinculação do papel em relação à propagação de idéias, sendo que o entendimento do respeitado tributarista merece integral guarida, pois o direito deve evoluir para alcançar o infinito avanço tecnológico e não involuir por se apegar a um arraigado formalismo despido de significado social na perquirição do espírito da Lei” (CARRAZZA, 2003, P. 688).

Por fim, acerca do conceito de livro, a razão parece estar com a maior parte da doutrina que sustenta ser livro, para efeitos de imunidade tributária, na clássica definição de Baleeiro:

todos os impressos ou gravados, por quaisquer processos tecnológicos, que tramitam idéias, informações, comentários, narrações reais ou fictícias sobre todos os interesses humanos, por meio de caracteres alfabéticos ou por imagens e, ainda, por signos Braile destinados a cegos”. (BALEEIRO, 2001, p. 198)

Assim, se os livros virtuais são a mais nova forma de livro, não configura integração por analogia nem interpretação extensiva a tese que defende sua imunidade. A constituição refere-se a livros, e livros virtuais são livros.

Restringir a imunidade constitucional aos livros de papel somente é fazer distinção onde o legislador não fez, prática condenada até pelos mais formalistas dos hermeneutas.

4. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE LIVRO NA JURISPRUDÊNCIA

O Art. 150, IV, “d”, foi redigido com fins de prestigiar a liberdade de informação, imprensa e desobstruir a difusão da cultura e educação ao povo brasileiro. Sacha Calmon (2002), nesta mesma linha de entendimento, ressalta “a imunidade filia-se aos dispositivos constitucionais que asseguram a liberdade de expressão e opinião e partejam o debate das idéias, em prol da cidadania, além de simpatizar com o desenvolvimento da cultura, da educação e da informação”.

Independentemente do meio em que a informação é apresentada, seja ele físico ou digital, a aplicação da imunidade aos livros virtuais está em inteira sintonia com o pretendido pelo legislador, restando evidente que, neste caso, deverá haver uma interpretação teleológica do dispositivo constitucional, adequando-o aos padrões tecnológicos atuais.

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A imunidade tributária da informação aposta em meios digitais não é estranha aos nossos Tribunais, como pode ser verificado nos precedentes a seguir:

“CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. LIVROS ELETRÔNICOS E

ACESSÓRIOS. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA E EVOLUTIVA.

POSSIBILIDADE. 1. Na hipótese dos autos, a imunidade assume a roupagem do tipo objetiva, pois atribui a benesse a determinados bens, considerados relevantes pelo legislador constituinte. 2. O preceito prestigia diversos valores, tais como a liberdade de comunicação e de manifestação do pensamento; a expressão da atividade intelectual, artística e científica e o acesso e difusão da cultura e da educação. 3.

Conquanto a imunidade tributária constitua exceção à regra jurídica de tributação, não nos parece razoável atribuir-lhe interpretação exclusivamente léxica, em detrimento das demais regras de hermenêutica e do "espírito da lei" exprimido no comando constitucional. 4. Hodiernamente, o vocábulo "livro" não se restringe à convencional coleção de folhas de papel, cortadas, dobradas e unidas em cadernos. 5.

Interpretar restritivamente o art. 150, VI, "d" da Constituição, atendo-se à mera literalidade do texto e olvidando-se da evolução do contexto social em que ela se insere, implicaria inequívoca negativa de vigência ao comando constitucional. 6. A melhor opção é a interpretação teleológica, buscando aferir a real finalidade da norma, de molde a conferir-lhe a máxima efetividade, privilegiando, assim, aqueles valores implicitamente contemplados pelo constituinte. 7. Dentre as modernas técnicas de hermenêutica, também aplicáveis às normas constitucionais, destaca-se a interpretação evolutiva, segundo a qual o intérprete deve adequar a concepção da norma à realidade vivenciada. 8. Os livros são veículos de difusão de informação, cultura e educação, independentemente do suporte que ostentem ou da matéria prima utilizada na sua confecção e, como tal, fazem jus à imunidade postulada. Precedente desta E. Corte: Turma Suplementar da Segunda Seção, ED na AC n.º 2001.61.00.020336-6, j. 11.10.2007, DJU 05.11.2007, p. 648. 9. A alegação de que a percepção do D. Juízo a quo ingressa no campo político não merece acolhida, haja vista que interpretar um dispositivo legal é exercício de atividade tipicamente jurisdicional. 10. Não há que se falar, de outro lado, em aplicação de analogia para ampliar as hipóteses de imunidade, mas tão-somente da adoção de regras universalmente aceitas de hermenêutica, a fim de alcançar o verdadeiro sentido da norma constitucional. 11. Apelação e remessa oficial improvidas” (TRF da 3ª Região, Sexta Turma, AMS 2000.61.04.005.281-4, Juíza Consuelo Yoshida, DJ 03/11/2008).

“TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. LIVROS. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. IPI.

IRRESTRINGÍVEL PELA CONSTITUIÇÃO. FIM MAIOR DE LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO. DESCABE INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA OU AMPLIATIVA. 1.

A imunidade tributária é princípio constitucional criado para proteger o contribuinte com o fim de demarcar a competência tributária. 2. O art. 150, VI, d, da Constituição Federal trouxe imunidade com o fim de resguardar as liberdades de pensamento e de comunicação para que a cultura, a informação e a educação estejam ao alcance da totalidade da população brasileira. Imunidade que se estende a qualquer espécie de livro, não havendo restrição constitucional. 3. Não há que se falar em interpretação restritiva ou ampliativa. Se o veículo traz algum tipo de informação e, constitui-se de papel, sendo insignificante a qualidade do papel, tamanho, cor, gramatura etc, é possível enquadrar-se no privilégio constitucional. 4. Precedentes do STF. 5. Apelação da União a que se nega provimento” (TRF da 3ª Região, Terceira Turma, AC n.

2003.61.05.011435-0, Juiz Roberto Jeuken, DJ 10/02/2009).

“CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO - IPI E II - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA - ART.

150, VI, "D" DA CF/88 - MATERIAL DIDÁTICO DESTINADO AO ENSINO DA LÍNGUA INGLESA EM FORMATO CD-ROM, CD ÁUDIO, FITAS DE VÍDEO, FITAS

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CASSETE - POSSIBILIDADE DE EXTENSÃO A imunidade, como regra de estrutura contida no texto da Constituição Federal, estabelece, de modo expresso, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para expedir regras instituidoras de tributos que alcancem situações específicas e determinadas. O disposto no artigo 150, inciso VI, alínea "d", da Constituição Federal se revela aplicável, uma vez que novos mecanismos de divulgação e propagação da cultura e informação de multimídia, como o CD-ROM, aos denominados livros, jornais e periódicos eletrônicos. são alcançados pela imunidade. A norma que prevê a imunidade visa facilitar a difusão das informações e cultura, garantindo a liberdade de comunicação e pensamento, alcançando os vídeos, fitas cassetes, CD-ROM, aos denominados livros, jornais e periódicos eletrônicos., pois o legislador apresentou esta intenção na regra no dispositivo constitucional. Apelação provida” (TRF da 3ª Região, Terceira Turma, AMS n. 2001.61.00.022123-0, Juiz Nery Junior, DJ 27/10/2009).

“CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE. CD - ROM. LIVROS IMPRESSOS EM PAPEL, OU EM CD - ROM, SÃO ALCANÇADOS PELA IMUNIDADE DA ALÍNEA "D"DO INCISO VI DO ART. 150 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A PORTARIA MF 181/89 - NA QUAL SE PRETENDE AMPARADO O ATO IMPUGNADO - NÃO DETERMINA A INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO E IPI SOBRE DISQUETES, CD - ROM, NOS QUAIS TENHA SIDO IMPRESSO LIVROS, JORNAIS OU PERIÓDICOS. REMESSA NECESSÁRIA IMPROVIDA” (TRF da 2ª Região, Sexta Turma, AMS n. 2002.61.05.006148-1, Juiz Lazarano Neto, DJ 06.04/2009).

“MANDADO DE SEGURANÇA - TRIBUTÁRIO E CONSTITUCIONAL – IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DE CD-Rooms EDUCATIVOS – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 150, VI, d, DA CF. 1.O artigo 150, VI, d, da CF deve ser interpretado teleologicamente, observando-se a intenção do legislador de estimular a cultura e garantir a liberdade de expressão. 2.O CD-ROM possui a mesma finalidade dos livros, jornais e periódicos de difundir idéias e conhecimentos, motivo pelo qual está abrangido pela mesma imunidade tributária. 3.Remessa necessária e apelação improvidas” (TRF da 2ª Região, Terceira Turma, AMS n. 2002.02.01.033075-0, Juiz Paulo Barata, DJ 04/06/2003).

Tais julgados são plenamente aplicáveis ao caso aqui debatido, com exceção de que, ao invés de CD-Rooms, os livros e jornais são acessíveis através de leitores digitais, como é o caso do Kindle.

5. KINDLE

Kindle é um pequeno aparelho criado pela empresa americana Amazon, que tem como função principal ler e-books (livros digitais) e outros tipos de mídia digital. O primeiro modelo da plataforma foi lançado nos Estados Unidos em 19 de Novembro de 2007. Segundo o site da empresa americana:

“Amazon Kindle é uma plataforma de hardware e software desenvolvido pela Amazon.com Lab126 subsidiária para processamento e visualização de e-livros e outros meios digitais. Três dispositivos de hardware, conhecida como o "Kindle", "Kindle 2" e

"Kindle DX" suporte a essa plataforma” (Disponível em:

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http://www.amazon.com/Kindle-Wireless-Reading-Device-Display/dp/B00154JDAI.

Acesso em: 02/02/2010) (Traduziu-se).

Resumindo, Kindle nada mais é que um leitor de livros virtuais com capacidade de armazenar praticamente uma biblioteca inteira.

5.1. Imunidade Tributária do KINLDE

A juíza Marcelle Ragazoni Carvalho, da 22ª Vara Federal de São Paulo, garantiu a importação do aparelho Kindle, sem o pagamento de tributos.

Em sua decisão, afirmou que a norma de imunidade tributária dada aos livros se estende a publicações de qualquer gênero, sem qualquer classificação de “condição ou gênero”. “Trata-se de imunidade objetiva, não importando o conteúdo de tais veículos de informação”, assevera.

A juíza deixou claro que a norma nasceu para garantir a liberdade de expressão e o direito à educação e a cultura, conforme exaustivamente exposto neste artigo, e, por isso, os novos mecanismos de divulgação de informação, como o Kindle, também devem ter direito à imunidade.

Em sua decisão, a excelentíssima Juíza fez uma interpretação extensiva e teleológica da norma constitucional e foi firme em afirmar que “ainda que se trate de um aparelho a ser importado pelo impetrante de meio para leitura dos livros digitais vendidos na internet, aquele goza efetivamente de imunidade, assim como o papel para impressão também o é”.

Sem duvidas, este parece ser o posicionamento jurídico mais correto acerca da imunidade tributária dos livros virtuais.

6. ICMS, PIS E CONFINS NOS LIVROS VIRTUAIS

Diante de todas as considerações expostas anteriormente, é possível defender a tese da imunidade do ICMS sobre os livros virtuais sem muita dificuldade. Ademais, o próprio texto constitucional foi incisivo a imunidade dos impostos para os livros.

Porém, não pode ser ignorado que sobre os livros virtuais também incidem o PIS e a CONFIS, mesmo porque, para acessar o seu conteúdo, faze-se necessário a aquisição do aparelho KINDLE.

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A Lei n.º 10.865, de 30 de Abril de 2004, que instituiu a contribuição para o PIS e COFINS, prevê como fato gerador para o recolhimento das ditas espécies tributárias, a entrada de bens estrangeiros no território nacional. Entretanto, em seu Art. 8.º, § 12.º, inciso XII, reduz a zero as alíquotas das contribuições nas hipóteses da importação de livros, conforme definido pelo Art. 2.º da Lei n.º 10.753/03:

“Art. 2o Considera-se livro, para efeitos desta Lei, a publicação de textos escritos em fichas ou folhas, não periódica, grampeada, colada ou costurada, em volume cartonado, encadernado ou em brochura, em capas avulsas, em qualquer formato e acabamento.

Parágrafo único. São equiparados a livro:

VII - livros em meio digital, magnético e ótico, para uso exclusivo de pessoas com deficiência visual”.

Como se vê, a lei instituidora da Política Nacional do Livro expressamente dispõe que livros em meios digitais só são equiparados a livros quando utilizados exclusivamente por pessoas com deficiência visual. Por este motivo, o Kindle e outros livros virtuais não seriam contemplados com a alíquota zero referente ao PIS e COFINS incidentes sobre sua importação.

As inovações tecnológicas das últimas décadas modificaram radicalmente a forma com que temos acesso à informação. A redação do dispositivo citado anteriormente é anacrônica, não fazendo qualquer sentido, jurídico ou econômico, a isenção de PIS e COFINS apenas dos livros digitais direcionados exclusivamente para uso de pessoas visualmente deficientes.

Trata-se de um diploma legal que merece ser atualizado, retirando-se tal limitação e garantindo a mais ampla imunidade tributária ao Kindle e demais e-readers.

7. CONCLUSÃO

Procedidas estas considerações, a guisa de conclusão, pode-se afirmar que a interpretação da imunidade tributária dos livros, contida no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal, deve ser interpretada extensivamente, de forma a abranger os avanços tecnológicos dos livros.

Dessa maneira, o Kindle e os demais livros virtuais, estariam abarcados por tal imunidade, não incidindo sobre eles o ICMS, o PIS e a CONFIS. Possível, então pleitear a imunidade prevista na norma constitucional.

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Esse, contudo, parecer ser, conforme demonstrado, o entendimento que irá vigorar nas Cortes Superiores, diante da decisão vanguardista da Juíza Federal de São Paulo.

Espera-se, que nossos Tribunais consigam pacificar essa discussão, a fim de evitar que a cada nova tecnologia o tema volte à baila e novos conflitos entre os entes tributantes e os contribuintes sejam travados.

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9. BIBLIOGRAGIA

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Diário Oficial, Brasília, 2003.

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