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CAPÍTULO DÉCIMO ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO SOBRE A FORMAÇÃO SOCIAL DOS ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO PROBLEMAS PESSOAIS-SOCIAIS E PREVENÇÃO

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Academic year: 2021

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DOS ALUNOS DO ENSINO SECUNDÁRIO

PROBLEMAS PESSOAIS-SOCIAIS E PREVENÇÃO

0. Premissa

O enquadramento teórico, desenvolvido na II Parte deste estudo sobre a problemática social e pessoal que afecta a adolescência, vai-nos permitir uma análise detalhada sobre a vivência real dos alunos adolescentes do Ensino Secundário de Cabo Verde. Aliás, o estudo que pretendemos realizar acerca da vivência real dos estudantes adolescentes cabo-verdianos inseridos no seu contexto sócio-cultural é para demonstrar a necessidade urgente de uma for-mação social capaz de ajudá-los a ter uma maior consciência da sua pertença activa na socie-dade cumprindo as normas e exercendo o seu direito de cidadania cabo-verdiana.

Mais do que apontar os problemas sociais e pessoais, em si, toda a análise interpreta-tiva mira o desenvolvimento da sociabilidade dos alunos, uma das componentes essenciais para o equilíbrio da sua personalidade, a fim de poder contribuir para que a prevenção dos fenómenos anti-sociais e do mal-estar juvenil seja realmente um evento educativo e formativo da sua pessoa, enquanto ser social e indispensável para a construção de uma sociedade justa, sem droga, delinquência, prostituição e bulismo no seio escolar. É importante que as escolas secundárias compreendam que o adolescente é um ser social que precisa de apoio e cuidado para que possa chegar à sua verdadeira libertação, à efectiva capacidade de autodeterminação, eliminando do seu seio todas as formas de opressão, exploração, determinismo e condiciona-mentos desumanos presentes na sociedade actual1.

A inserção social do adolescente estudante não depende somente do seu “status de aluno e de filho menor”, mas, deve ser vista em termos de “relações” que ele consegue estabe-lecer com vários sectores sociais: laboral, grupos de pares, centro juvenil, grupos desportivos

1 Cf. L. MACARIO, Per una crescita ed una vita umanamente degna. La prospettiva antropologica ed etica della relazione educativa, in C. NANNI (Ed.), Disagio, Emarginazione e Educazione, Roma, Las, 1993, p. 34.

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e de diversão. Além desses sectores, é preciso ter em consideração todo o processo do desen-volvimento socio-económico e cultural que poderá influenciar os alunos na sua conduta moral e social. Portanto, é a partir dos laços sociais que se pode compreender os comportamentos e o mal-estar dos adolescentes. O estudo que se quer efectuar à volta dos problemas pessoais e sociais dos alunos debruça-se, necessariamente, sobre o desvio das normas sociais e mal-estar juvenil. São problemas que devem ser encarados a partir duma perspectiva sociológica.

Partindo dos pressupostos teóricos vistos na II Parte, debruçar-nos-emos, detalhada-mente, sobre os problemas sociais (droga, delinquência, prostituição) e pessoais (abandono familiar, escolar, mal-estar) que podem dificultar a inserção e a integração social dos estudan-tes do Ensino Secundário cabo-verdiano. O facto de os estudanestudan-tes adolescenestudan-tes viverem e agirem num determinado contexto sócio-cultural e estarem continuamente em relação com grupos de pares e outros sectores sociais, facilita uma análise das suas condutas face aos fac-tores desviantes. Tendo em consideração os problemas sociais e pessoais dos alunos, é possí-vel prever um plano preventivo que seja educativo e formativo dos alunos perante certas situações que tornam desumana a sua vivência social.

1. A inserção social dos estudantes cabo-verdianos

Não é descabido efectuar uma abordagem da inserção social dos estudantes do Ensi-no Secundário de Cabo Verde, sabendo que muitos aluEnsi-nos atravessam sérias dificuldades do ponto de vista económico, cultural e social. São dificuldades que as escolas, as famílias e seus agentes não podem negligenciar. Antes, são situações que prejudicam os alunos quer no ensi-no-aprendizagem quer nas suas relações familiares e interpessoais. Perante os problemas sociais e pessoais os alunos vão à busca de novas formas de adaptação que, muitas vezes, não correspondem com as normas, hábitos e costumes presentes na família e na sociedade, em geral. Se por um lado acontece o desvio dessas normas, por outro, a maioria dos alunos cabo-verdianos são constrangidos a enfrentar um conjunto de obstáculos, a renunciar os produtos do desenvolvimento tecnológico e cultural das sociedades modernas por não terem o poder de compra. Também, se por um lado essas incompatibilidades e contradições entre metas propos-tas e meios para atingi-las, vispropos-tas anteriormente, suscitam uma certa desorientação nas expec-tativas dos estudantes, doutro lado, exige maior auto-controlo e auto-domínio dos alunos ado-lescentes para que possam enfrentar os problemas com determinação e se sintam agentes acti-vos da própria sociedade. A formação social dos alunos deve mirar mais a pessoa do sujeito a ser educado e formado do ponto de vista moral e profissional do que os seus problemas e da sociedade.

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O aparecimento dos fenómenos anti-sociais em Cabo Verde, embora não seja alar-mante, constitui uma preocupação para todos os cidadãos. Perante eles, a sociedade cabo-verdiana está tentando organizar-se, a fim de proporcionar uma cobertura socio-política à camada juvenil, considerada como faixa etária mais vulnerável. Apesar da juventude ser des-tinatária de todo o serviço preconizado pelo Estado e pelos organismos não governamentais, do ponto de vista pedagógico, é importante que as entidades políticas e educativas compreen-dam que não são elas os agentes eficientes das actividades em prol da juventude, mas são os jovens, em si, que devem aprender a constituir-se como grupos protagonistas do seu desen-volvimento e da sua inserção e integração social, através do trabalho, da ocupação do seu tempo livre, e da convivência entre grupo de pares.

1.1 As prerrogativas do trabalho segundo os alunos

A defesa e protecção dos menores, sobretudo, no campo laboral continuam, ainda hoje a ser um problema muito debatido. E, pelos vistos, há muitos países que apostam forte-mente no mercado do trabalho aproveitando das crianças e adolescentes. Omitindo a proble-mática concernente ao mundo infantil, e permanecendo no nosso campo de estudo sobre os estudantes adolescentes, é bom que a sociedade cabo-verdiana tenha a consciência de que o adolescente é um indivíduo em crescimento que precisa de apoio material, moral, espiritual e cultural para desenvolver-se, independentemente daquilo que pode fazer como trabalho de subsistência contemplado pelas leis nacionais e internacionais. Na opinião de G. Sarchielli, a adolescência começará a ser um problema autónomo em relação ao trabalho precoce na medi-da em que a família se torna autónoma na sua subsistência e inserção social, e a sociemedi-dade toma consciência de que o trabalho produtivo dos adolescentes não é indispensável para a colectividade2.

Em princípio, a idade escolar dos adolescentes é incompatível com o sistema de um trabalho contínuo, sistemático e remunerado. Devida à extrema pobreza material dos familia-res, alguns alunos são obrigados a trabalhar em part-time a fim de poder satisfazer algumas necessidades mais urgentes para a sua subsistência e prosseguimento dos estudos. Embora a percentagem dos alunos que trabalham pouco expressiva (6,3%), é justo que façamos uma análise para compreendermos as razões e motivações dos alunos que exercem tarefas remune-radas e ver quais são, na opinião deles, as competências exigidas na sociedade actual, para

2 Cf. G. SARCHIELLI, L’incontro con il lavoro, in A. PALMONARI (Ed.) Psicologia dell’adolescenza, Bolog-na, Il Mulino, 1997, pp. 293-326, p. 294.

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que se possa encontrar um trabalho facilmente. Dos alunos que trabalham, a maioria (13%) pertence à fase final da adolescência (17-21 anos). Em relação ao género, os rapazes (8,6%), são mais do que as meninas (4,4%). A maioria dos que trabalham tem os pais separados e divorciados (7%), e com baixo nível de profissão (7,2%), e já teve relações sexuais, (9,1%). São números que explicam que esses alunos andam a trabalhar para sobreviver (Fig. 35).

Fig. 35: Os alunos do Ensino Secundário que trabalham segundo o sexo (em %)

1.1.1 As razões e os significados do trabalho

As razões que levam os estudantes a trabalhar são diversas. Antes de tudo, os dados apontam uma razão de natureza pessoal, isto é, a preocupação com o próprio futuro. De facto, os que trabalham (31%), afirmam que é uma forma mais fácil de construir o futuro. Neste ponto não há diferença entre os alunos. Há um outro elemento de cariz familiar: os estudantes trabalhadores (29,6%) indicam que a situação económica familiar é péssima e têm que cola-borar. Nesse caso, os dados indicam, antes de tudo, que os alunos de 15-16 anos (36,8%), sentem esse tipo de problema mais do que os de 17-21 anos (30,4%), e que as meninas (36%), fazem isso mais do que os rapazes (26,1%). Um terceiro elemento é mais subjectivo ou indi-vidual, isto é, temos 11,3% de alunos que trabalham para conseguir alguns objectos pessoais (instrumentos lúdicos e de diversão). Os alunos de 17-21 anos (15,2%), trabalham para con-seguir esses meios mais do que os outros de 15-16 anos (8, 5,3%). Também, nesse caso, os rapazes (13%), são mais individualistas do que as meninas (8%). Outras razões são menos significativas, como é o caso dos que trabalham para não ser de peso à família (7%), porque sentem que têm idade para trabalhar (4,2%) etc. (cf. Tab. 49).

1,5 1 6,3 92,7 8,6 89,9 4,4 0,5 95 0 20 40 60 80 100 SIM NÃO N.Resp.

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Tab. 49: As razões que levam os alunos a trabalharem segundo as faixas etárias e sexo (em %)

Faixa etária Sexo

Total 11-14 15-16 17-21 M F Situação económica é péssima, tinha que ajudar 29,6 0,0 36,8 30,4 26,1 36,0 Não queria ser considerado um peso na família 7,0 0,0 5,3 8,7 6,5 8,0 Trabalhando é mais fácil construir um futuro 31,0 33,3 31,6 30,4 32,6 28,0

Queria ter as minhas coisas 11,3 0,0 5,3 15,2 13,0 8,0

A idade de trabalhar 4,2 0,0 0,0 6,5 4,3 4,0

Outros 4,0 0,0 0,0 6,5 4,3 4,0

Não respondido 12,7 66,7 21,1 2,2 13,0 12,0

Para além das razões que acabamos de apontar no que diz respeito aos alunos que trabalham, os mesmos foram convidados a atribuir uma avaliação significativa acerca do seu modo de trabalhar. Os dados certificam um conjunto de respostas que fazem entrever o signi-ficado profundo que os alunos do Ensino Secundário dão ao trabalho. A consciência de que o trabalho exige uma componente ética é mais do que evidente no modo como 71,8% dos alu-nos afirmam que trabalham para ter mais responsabilidade. Apenas 11,3% são da opinião que essa modalidade não ajuda muito a ter mais responsabilidade. Conforme os dados, os alu-nos do sexo feminino (M.1.05) trabalham para esse critério moral mais do que os do sexo masculino (M.1.19). Sempre nessa perspectiva, os alunos vêem no seu trabalho um modo de ser solidário para com a sua própria família. Por isso, acham que é muito bom trabalhar (70,4%) para ajudar a família na sua despesa diária. Ao passo que 15,5% dos alunos acham que isso é pouco. Do mesmo modo, pode-se verificar que as meninas (M.1.09) são mais soli-dárias para com a família do que os rapazes (M.1.27). Nessa perspectiva económica 36,6% atribuem pouco valor do trabalho como meio para a independência e autonomia económica. Ao passo que 33,8% dos alunos acham que, trabalhando, contribuem muito para essa situação de vida pessoal. Os do sexo feminino (M.1.67) estão um pouco mais acima do que os do sexo masculino (M.1.79).

Por enquanto, o trabalho é visto pela maioria dos alunos como um meio utilitarista e não como um fim que suscita gosto, prazer e satisfação pessoal. De facto, 36,6% dos alunos que andam a trabalhar afirmam que isso dá pouco satisfação, 33,8% são da opinião que isso dá muita satisfação, ao passo que 11,3% acham que isso não dá absolutamente nada. Nessa forma de encarar o trabalho, nota-se uma diferença relativa a nível do género, em que os alu-nos do sexo masculino (M.1.78) são um pouco mealu-nos do que os do sexo feminino (M. 1.62). Entre os alunos que trabalham, constatamos que 52,1% avaliam muito o seu trabalho como meio para aprender uma profissão, havendo uma percentagem de alunos (21,1%) que

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conside-ra pouco esse tipo de tconside-rabalho. Somente 9,9% dos alunos pensam que essa forma de estar com os amigos conta muito. Nessa consideração as meninas (M.1.20) aparecem mais elevadas do que os rapazes (M.1.61). O facto de considerar o trabalho como ocasião para encontrar os amigos é relativamente significativo na visão dos alunos (42,3%). Mas, para 28,2%, isso não tem nenhum significado. Os alunos do sexo masculino (M.2.39) consideram um pouco menos essa ocasião do que os do sexo feminino (M.1.95).

Tab. 50: Os alunos do Ensino Secundário atribuem significado ao seu modo de trabalhar (em % - em M: média ponderada: máxima frequência = 1.00 e mínima = 3.00)*3

1 2 3 Sexo

N.

Resp. Muito Pouco Nada l

MP M F

Ter responsabilidade 16,9 71,8 11,3 0,0 1.14 1.19 1.05

Ajudar minha família 12,7 70,4 15,5 1.4 1.21 1.27 1.09

Independência e autonomia económica 16,9 33,8 36,6 12,7 175 1.79 1.67

Dá satisfação 18,3 33,8 36,6 11,3 1.72 1.78 1.62

Aprender uma profissão 18,3 52,1 21,1 8,5 1.47 1.61 1.20

Encontrar os amigos 19,7 9,9 42,3 28,2 2.23 2.39 1.95 Preocupação 16,9 31,0 29,6 22,5 1.90 1.97 1.76 Cansaço 14,1 23,9 39,4 22,5 1.98 1.98 2.00 Imposição 22,5 7,0 33,8 36,6 2.38 2.37 2.40 Exploração 22,5 8,5 23,9 45,1 2.47 2.46 2.50 Outros 73,2 11,3 5,6 9,9 1.95 2.23 1.33

Na perspectiva dos alunos que trabalham, os dados apontam algumas inconveniên-cias que devem ser tomadas em consideração. Antes de tudo, 31% dos alunos acham que isso causa muita preocupação, 29,6% são da opinião que causa pouca preocupação e 22,5% que isso não causa absolutamente nada. As meninas (M.1.76) são da opinião que causa preocupa-ção mais do que os rapazes (M.1.97). A conciliapreocupa-ção entre trabalho e estudo não é sempre fácil e causa um certo cansaço. Dos alunos que trabalham 39,4% admitem que isso comporta um pouco de cansaço e somente 23,9% dos estudantes acham que isso traz muito cansaço. Nesse aspecto não há uma diferença substancial entre o sexo masculino (M.1.98) e o sexo feminino (M.2.00). Também, uma percentagem dos que trabalham (33,8%), acha que o modo de traba-lhar comporta um pouco de imposição; 36,6% dos estudantes trabalhadores não sentem nada

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disso; apenas 7% são da opinião que o trabalho impõe muito. Pode-se afirmar que a diferença entre os rapazes (M.2.37) e as meninas (M.2.40) é irrelevante. Apesar de a maioria dos alunos trabalhadores (45,1%), não admitir nenhuma exploração no campo do trabalho, todavia, veri-ficamos que 23,9% afirmam um pouco de exploração e 8,5% dizem que há muito. A diferença entre os géneros mostra que os rapazes (M.2.46) concordam um pouco mais do que as meni-nas (M.2.50), conforme se pode ver na Tab. 50.

A partir dos dados observáveis, somos induzidos a afirmar que os alunos trabalhado-res do Ensino Secundário de Cabo Verde estão conscientes da importância do trabalho na sua vida pessoal e social. Isso de acordo com a relevância do nível de significado que atribuíram ao seu modo de trabalhar. Portanto, é significativa a sua atribuição, realçando a dimensão éti-ca, familiar e profissional. Daí a necessidade de uma formação pessoal e social dos alunos com vista ao trabalho e tendo em consideração esses três elementos basilares: a moralidade no desempenho de uma profissão, o bem-estar da família, e o aperfeiçoamento da sua profissão, exercitando-a.

O trabalho que os alunos exercem comporta, necessariamente, uma remuneração e a qualidade de serviço. Nesse caso, são interpelados a se pronunciarem sobre o grau da sua satisfação em relação ao salário que recebem. Sabendo que o trabalho é sempre encarado como um fim utilitarista, e a expectativa de uma gratificação é sempre maior daquilo que se recebe na realidade. De facto, os alunos trabalhistas, 36,6%, estão pouco satisfeitos do salário que recebem; 29,6% afirma que está bastante satisfeito; apenas, 12,7% é plenamente satisfei-to. Os dados apontam para o sexo feminino (M.2.38) um pouco mais satisfeito do que os de sexo masculino (M.2.47). O grau de satisfação depende do tipo de serviço que os alunos exer-cem. Nessa mesma perspectiva, identificamos que a maioria dos estudantes trabalhista, 35,2%, está pouco satisfeito com o serviço que exerce; assim como, 23,9% está bastante satis-feito; e 19,7% está plenamente satisfeito. Nesse caso os rapazes (M.2.28) aparecem satisfeitos mais do que as meninas (M.2.45).

Também, o trabalho suscita um certo tipo de relacionamento com a empresa e com os colegas de serviço. Para 33,8% dos alunos trabalhadores entrevistados, a relação com a empresa onde trabalham é pouca satisfatória, 21,1% declaram que há uma relação bastante satisfatória, e 14,1% acham que isso é plenamente satisfatório. Não há nenhuma diferença entre os géneros. Ainda em termos de relação, os dados apontam que dos alunos trabalhado-res, 28,2% estão bastante satisfeitos com os colegas, ao passo, que 26,8% dizem-se pouco satisfeitos e somente 16,9% acham que a relação é plenamente satisfeita. Nesse modo de rela-cionar, os estudantes do sexo feminino (M.2.27) sentem-se mais satisfeitos do que os do sexo masculino (M.2.46), como confirma a Tab. 51.

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Tab. 51: O grau de satisfação dos alunos em relação ao salário e ao ambiente do trabalho (em %; em M: média ponderada: máxima frequência = 1.00 e mínima = 4.00)*4

1 2 3 4 Sexo N. Resp. Plenam/ Satisfeito Bastante Satisfeito Pouco Satisfeito Não Satisfeito MP M F

Salário que recebe 14,1 12,7 29,6 36,6 7,0 2.44 2.47 2.38

Tipo de serviço que exerce 14,1 19,7 23,9 35,2 7,0 2.34 2.28 2.45

Empresa onde trabalhas 19,7 14,1 21,1 33,8 11,3 2.53 2.53 2.53

Colegas de serviço 16,9 16,9 28,2 26,8 11,3 2.39 2.46 2.27

Outros 84,5 5,6 4,2 4,2 1,4 2.09 2.50 1.60

O grau de satisfação em relação ao salário e ao ambiente do trabalho não é muito satisfatório. Além dos dados que espelham essa graduação, é justo que se diga que a procura do trabalho nessa fase escolar não visa, tanto, a conciliação com a aptidão e habilidade dos alunos, quanto satisfazer algumas necessidades mais urgentes. Todavia, a satisfação mais ele-vada entre os alunos trabalhadores é, em primeiro lugar, o tipo de trabalho, com a prevalência para o sexo masculino; em segundo lugar, é a relação estabelecida com colegas, com preva-lência para o sexo feminino.

1.1.2 As competências exigidas para o trabalho

A busca do trabalho e do emprego na sociedade moderna exige aquisição de um con-junto de competências tecnológicas e linguísticas. O poder da tecnologia e da comunicação informatizada está a condicionar fortemente o sistema do ensino e da metodologia implemen-tados nas escolas e, por conseguinte, é preciso que se faça remodelação a nível do ensino para que seja compatível com a exigência do mercado do trabalho. Para termos uma ideia daquilo que os alunos sabem acerca disso, colocámos-lhes questões acerca das competências exigidas a quem deseja encontrar um trabalho na sociedade actual.

Os dados que analisaremos em seguida vão-nos permitir compreender os aspectos que devem ser investidos e reforçados no Ensino Secundário de modo a facilitar a inserção e a integração social dos alunos através do trabalho ou da profissão que realizarão no futuro. Segundo os alunos, as competências exigidas abrangem os seguintes aspectos: o

4 * Média ponderada: os valores da M em escala: 1 = Plenamente Satisfeito; 2 = Bastante Satisfeito; 3 = Pouco Satisfeito; 4 = Não Satisfeito

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to de línguas e autoformação; a utilização de meios informáticos e flexibilidades na aprendi-zagem; as relações comunicativas e o sentido do dever ético.

Os alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, duma forma geral, apontam algu-mas competências ligadas ao conhecimento de línguas (nacional e internacional) e predispo-sição para autoformação. Partindo dos dados apurado, verificámos que 61,8% dos alunos apontam a escrita e a conversação correcta do português. As meninas (64,2%) são mais nes-sa linha do que os rapazes (59,7%). Os alunos de Sotavento (65,4%), são também da mesma opinião do que os de Barlavento (58,6%). Temos também 42,4% dos alunos que indicam a competência de saber escrever e falar uma segunda língua estrangeira. Os estudantes do sexo masculino (44,4%), são ligeiramente mais do que os do sexo feminino (40,5%). Nesse ponto, os estudantes de Barlavento (47,6%), apresentam essa competência mais do que os de Sota-vento (36,5%). Uma outra condição que os alunos consideram importante para poder encon-trar um trabalho é a predisposição à autoformação (17,6%). A diferença é irrelevante entre os alunos de sexo masculino (18,2%) e de sexo feminino (17,3%), com os estudantes das ilhas de Barlavento, 19,8% a manifestarem-se um pouco mais nesse sentido do que os de Sotavento (15,3%).

Uma outra exigência para a busca de um trabalho é a competência na utilização de meios informáticos e flexibilidade na aprendizagem. Dos alunos que foram entrevistados, 38,7% apontam o saber utilizar os programas do computador mais conhecidos. Conforme os dados apurados, os rapazes (41%) reconhecem essa exigência um pouco mais do que as meni-nas (36,5%). Assim como os alunos de Sotavento (42,3%), estão mais convencidos da impor-tância dessa competência do que os alunos de Barlavento (35,5%). Sempre nessa linha de competência 23,3% dos estudantes admitem que se deve saber navegar na Internet.

Permanecendo nessa perspectiva de que a sociedade moderna impõe uma contínua transformação dos seus produtos e da sua tecnologia, 22,2% dos alunos apontam uma outra competência que está mais em consonância com o seu carácter, isto é, ser flexível às mudan-ças e à aprendizagem de novos conhecimentos. A diferença nessas duas modalidades de exi-gência é relativamente pouco significativa entre os grupos de alunos segundo o sexo e as ilhas.

Além do conhecimento e da aprendizagem dos meios informáticos para poder encon-trar um trabalho, emerge um outro grupo de competências ligado às relações comunicativas e o sentido do dever ético. São componentes indispensáveis para uma boa integração no ambiente do trabalho. Os dados indicam que 26,8% dos estudantes são da opinião que se deve possuir as capacidades comunicativas e relacionais para poder adquirir um emprego mais facilmente. Nesse modo de encarar o trabalho, os alunos do sexo feminino (29,9%)

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manifes-tam-se mais nesse sentido do que os rapazes (23,8%). Assim também, os alunos de Barlaven-to (31,2%), sentem essa exigência mais do que os de SotavenBarlaven-to (22%). Uma outra componen-te alistada pelos alunos é saber trabalhar em grupo (23,6%). Esse tipo de relacionamento é um pouco mais evidenciado pelos rapazes (26,4%) do que pelas meninas (20,5%), sendo que os estudantes de Sotavento (26%), apresentam essa exigência mais do que os de Barlavento (21,6%). Um outro elemento (menos indicado pelos alunos do que os outros) é o sentido do dever (12,4%). Nessa modalidade não há diferença muito consistente a nível do género e entre as duas regiões do arquipélago (Tab. 52).

Tab. 52: Os alunos apontam as competências exigidas para poder encontrar um trabalho Segundo o sexo e as ilhas de Cabo Verde (em %)

Sexo Ilhas de Cabo Verde Total M F Barlavento Sotavento Escrever e falar o português correctamente 61,8 59,7 64,2 58,6 65,4 Escrever e falar - segunda língua estrangeira 42,4 44,4 40,5 47,6 36,5

Disponibilidade à autoformação 17,6 18,2 17,3 19,8 15,3

Saber utilizar os programas do computador 38,7 41,0 36,5 35,5 42,3

Saber navegar na Internet 23,3 24,7 21,8 21,3 25,6

Ser flexível às mudanças e à aprendizagem 22,2 19,9 24,2 23,8 20,5 Capacidades comunicativas e relacionais 26,8 23,8 29,9 31,2 22,0

Saber trabalhar em grupo 23,6 26,4 20,9 21,6 26,0

Ter o sentido do dever 12,4 11,6 12,9 13,1 11,7

Outros 2,3 1,5 3,2 2,8 1,7

Não respondido 6,2 6,4 5,8 5,2 7,3

O quadro representativo das competências, segundo as expectativas dos alunos, demonstra claramente a importância da língua oficial e das línguas internacionais na aquisição de um emprego. Em segundo lugar, aparece o conhecimento adequado dos meios informáti-cos como instrumentos de trabalho indispensáveis em qualquer tipo de serviço. A necessidade de formação do carácter, em termos de comunicação e relacionamento, é uma exigência fun-damental para a busca de um trabalho. É importante que as escolas secundárias de Cabo Ver-de insistam na Ver-deontologia do trabalho e na formação do carácter para que o futuro trabalho dos alunos seja uma oportunidade para aperfeiçoar os seus conhecimentos e desenvolver sem-pre mais a sua sociabilidade.

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1.2 As dificuldades no desempenho do tempo livre

Embora o tempo livre tenha sido objecto de estudo no capítulo anterior, quando se falou da formação pessoal e profissional dos alunos, queremos verificar no presente estudo a dimensão social dessa questão. Pode-se dizer que o uso do tempo livre tem uma valência de socialização e contribui para o desenvolvimento da dimensão social da personalidade do ado-lescente. Portanto, as eventuais dificuldades que impedem os estudantes adolescentes de reali-zar algumas actividades durante o tempo livre comprometem o crescimento da sua sociabili-dade.

A dimensão social cresce na medida em que o adolescente instaura livremente rela-ções interpessoais de convivência com os amigos e grupos de pares que se realizam através das actividades no tempo livre. E para que esse relacionamento possa acontecer de forma equilibrada, é necessário que os estudantes adolescentes cultivem autênticas amizades e encontrem meios e tempo adequados para exercer as actividades que proporcionem e incre-mentem a sua dimensão social. Pelos vistos, os dados inqueridos demonstram sérias dificul-dades na realização das actividificul-dades no tempo livre. As dificuldificul-dades apontadas são de natureza pessoal, interpessoal e têm a ver também com os meios úteis para tal cumprimento.

Antes de tudo, os alunos acham que as dificuldades de relacionamento interpessoal prejudicam bastante na realização das actividades durante o tempo livre. A amizade é um sen-timento que nasce e cresce através de relações pessoais e interpessoais entre os indivíduos. Torna-se um valor interpessoal no sentido que ajuda e apoia a pessoa a crescer na sua dimen-são psico-afectiva e a ser criativa no grupo e na sociedade em geral. Entretanto, verificamos que 36,7% dos alunos apontam como dificuldade que não lhes permite realizar o tempo livre, a falta de amigos. A faixa etária com mais dificuldade nesse sentido é a de 11-14 anos (49,3%), em seguida da de 15-16 anos (34,7%) e 17-21 anos (26,8%). Os alunos do sexo masculino (41,8%) encontram mais dificuldades do que os do sexo feminino (32,7%). Às vezes, a amizade entre os adolescentes é fruto de cumplicidade. Por essa razão de fundo, é que a maioria dos estudantes adolescentes (57,2%) confirmam que há dificuldade de encontrar amigos verdadeiros. O mesmo se pode dizer para as faixas etárias: os alunos de 11-14 anos (60,9%) sentem mais esse problema do que os de 15-16 anos (57,3%) e de 17-21 anos (53%). Nesse sentido, a percentagem das meninas (63%) é mais elevada do que a dos rapazes (51,3%).

A dificuldade mais preocupante que identificámos é de índole pessoal. Isto é, 55,3% dos alunos indicam dificuldade por motivos pessoais. Trata-se de um problema que exige intervenção dos agentes educativos. É sintomático que essa dificuldade seja mais sentida

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pelos alunos de 17-21 anos (58,3%), do que pelos de 15-16 anos (54,3%), e de 11-14 anos (53,9%). Embora não haja diferença substancial entre os géneros, o sexo masculino (55,4%) aparece ligeiramente acima do sexo feminino (54,7%). Tendo em conta que são adolescentes estudantes e com tarefas escolares e familiares para cumprir, é quase um justificativo, porque 51,2% declaram que têm pouco tempo livre à disposição. Os alunos de 15-16 anos (53,6%), revelam essa dificuldade um pouco mais do que os de 17-21 anos (50,4%) e de 11-14 anos (49,3%). A razão indicada é confirmada, sobretudo pelo sexo feminino (55,6%), que é mais engajado nos afazeres domésticos do que os rapazes, segundo a mentalidade e a cultura cabo-verdiana.

A realização de actividades no tempo livre, sobretudo desportivas e culturais, exige meios e recursos financeiros. Conforme os dados, 47,4% dos estudantes dizem que não dis-põem de meios e iniciativas para o tempo livre. Essa carência é mais evidente nos alunos de 17-21 anos (53,5%) do que nos de 15-16 anos (47,4%) e de 11-14 anos (41,4%). Nesse senti-do, os rapazes (50,4%) sentem a necessidade mais do que as meninas (46,9%). Uma outra carência alvejada pelos estudantes (35,5%) é a falta de informação sobre as iniciativas exis-tentes. A diferença nessa dificuldade não é muito relevante nem entre as faixas etárias de 11-14 anos (33,8%), 15-16 anos (36,7%) e 17-21 anos (35,5%) nem entre os géneros, masculino (36,7%) e feminino (33,6%) (Tab. 53).

Tab. 53: As dificuldades que não permitem os alunos do Ensino Secundário realizar o tempo livre Segundo as faixas etárias e sexo (em %)

Faixa etária Sexo

Total 11-14 15-16 17-21 M F

Falta de amigos 36,7 49,3 34,7 26,8 41,8 32,7

Dificuldade de encontrar amigos verdadeiros 57,2 60,9 57,3 53,0 51,3 63,0

Motivos pessoais 55,3 53,9 54,3 58,3 55,4 54,7

Pouco tempo livre a disposição 51,2 49,3 53,6 50,4 46,8 55,6 Carência de meios-iniciativas para o tempo livre 47,4 41,4 47,4 53,5 50,4 44,2 Falta de informação sobre iniciativas existentes 35,5 33,8 36,7 35,5 36,7 33,6

Outros 5,6 5,8 6,0 5,1 6,4 5,1

Não respondido 1,3 0,9 2,5 1,1 1,7 1,1

A prática das modalidades recreativas pressupõe um clima amigável e fraterno entre os indivíduos e grupos. Se não houver essa condição, é normal que aconteçam dificuldades de carácter relacional, que dificulta enormemente as actividades no tempo livre. Os dados demonstram claramente a necessidade de formação social do indivíduo para que possa

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inte-grar-se no grupo e, por conseguinte, na sociedade. É urgente que as escolas secundárias estru-turem centros psico-pedagógicos capazes de apoiar os alunos na resolução dos seus problemas pessoais, sobretudo os ligados às relações familiares e de grupo.

Do ponto de vista pedagógico e educativo, é importante que os agentes contribuam para que os estudantes adolescentes aprendam a valorizar o tempo livre e que sejam criativos com os seus conhecimentos e habilidades. E devem ser precavidos contra aquilo que a socie-dade industrial ou tecnológica promove para fazer do tempo livre apenas uma ocasião de con-sumismo, diversão frenética, de hobbies. De facto, a sociedade moderna continua a martelar com a sua publicidade, manipulando os sentimentos, as tendências e as necessidades das pes-soas, sobretudo da camada juvenil mais vulnerável e dos que vivem à margem da sociedade e são constrangidos a viver o tempo livre não como opção, mas como uma imposição pela pró-pria sociedade consumista. Perante essas dificuldades pessoais e sociais, emerge a necessida-de necessida-de uma educação para o uso do tempo livre à disposição5 dos estudantes adolescentes cabo-verdianos.

1.3 As actividades entre os grupos de pares

As dificuldades apontadas em termos de relações interpessoais não impossibilitam os adolescentes estudantes de se reunirem e formarem grupos de pares. A importância que vimos no enquadramento teórico à volta da adolescência leva-nos a efectuar uma análise ponderada sobre a forma como os estudantes adolescentes cabo-verdianos exprimem a sua vivência no grupo de pares. Trata-se de uma análise que nos apresentará alguns pontos chaves para uma melhor compreensão da identidade psicossocial dos adolescentes e nos levará a entrever pos-síveis linhas de orientação pedagógica e educativa no seio das escolas secundárias de Cabo Verde.

Antes de entrarmos na análise dos dados, é bom sublinhar a importância das relações amigáveis que podem acontecer no seio do grupo de pares. E na opinião de M. L. Pombeni, essa condição juvenil foi concebido pelos estudiosos (M. e C Sherif (1964), U. Engel e K. Hurrelman - 1989), como um laboratório social, no qual, os rapazes e as meninas podem fazer escolhas e experimentar a própria autonomia; trata-se de uma ocasião que permite aos adoles-centes uma confrontação social para a construção da própria identidade psico-sexual. Ainda, o grupo de pares é ponto de referência normativa e comparativa importante para os

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tes, precisamente porque as relações amigáveis oferecem aos adolescentes oportunidade para conhecerem as estratégias que os outros usam para superar as dificuldades pessoais de nature-za emocional e psico-afectiva6. Portanto, o grupo de pares deve ser entendido e vivido como algo que proporciona aos adolescentes um apoio emotivo que lhes permite construir a própria reputação e visibilidade social. É nessa perspectiva que vamos analisar a importância de tudo aquilo que os adolescentes estudantes fazem e conversam em grupo de amigos.

1.3.1 O tipo de actividades entre grupo de amigos

As actividades mais realizadas no seio do grupo de amigos ou de pares são mais ou menos os seguintes: desportiva e cultural, entretenimento e voluntariado.

As actividades efectuadas no seio do grupo de pares ou amigos são, antes de tudo, a prática do desporto-cultural. Os dados que foram apurados demonstram que a maioria dos adolescentes estudantes (83%), se encontra para o jogo de futebol e outras modalidades des-portivas. Os alunos de 15-16 anos (88,3%), são mais dedicados à essa modalidade do que os de 11-14 anos (86,3%) e de 17-21 anos (74,1%). O jogo de futebol é mais praticado pelos rapazes (90,1%) do que pelas meninas (76,1%). Ainda, os alunos entrevistados (61,3%), par-ticipam noutras actividades culturais (danças, festas tradicionais, moda, festival de teatro e de música, conferências e palestras sobre os temas de actualidade). A diferença entre os grupos etários é insignificante: 11-14 anos (63,3%), 15-16 anos (60,8%) e 17-21 anos (61,7%), mas meninas (65,1%), frequentam essa modalidade mais do que os rapazes (57,5%).

Entre os amigos realizam-se muitos momentos de entretenimento ou diversão. A percentagem é mais alta entre os alunos que se encontram para escutar a música, participar no videogame e ver a televisão (81,8%). A diferença é irrelevante quer para as faixas etárias (11-14 anos (81%), 15-16 anos (80%) e 17-21 anos (83,9%), quer a nível do género: masculi-no (80,7%) e feminimasculi-no (82,7%). Os dados apontam que 44,1% dos estudantes frequentam juntos a discoteca. Os alunos de faixa etária 17-21 anos (52,7%), fazem uso desse tipo de diversão mais do que os de 15-16 anos (41,7%), e 11-14 anos (37,3%). Nota-se, entretanto, uma determinada preocupação para a fase inicial e média da adolescência, sobretudo, quando se trata de frequência nocturna. O grupo de rapazes (50%) frequenta a discoteca mais do que o grupo de meninas (38,6%). Sempre nessa onda de divertimento, realçamos 35,7% dos estu-dantes adolescentes que frequentam o cinema em grupo de amigos. E alunos de 11-14 anos

6 Cf. M. L. POMBENI, L’Adolescente e i gruppi di coetanei, in A. PALMONARI (Ed.) Psicologia dell’adole-scenza, Bologna, Il Mulino, 1997, pp. 251-270, p. 251.

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(43,4%), fazem uso dessa actividade, mais do que os das faixas etárias de 15-16 anos (33,7%) e de 17-21 anos (29%). A frequência entre os géneros (35,6%) é idêntica.

Um outro aspecto importante que caracteriza a dimensão social do grupo de amigos, é o voluntariado. Nesse tipo de acção social, identificamos 57% dos estudantes adolescentes que participam nas actividades sociais (ajuda material aos idosos, limpeza das praias do mar, visitas aos doentes e presos). A fase inicial da adolescência é mais maleável e se deixa facil-mente contagiar pelos bons hábitos como também pelos maus hábitos. Todavia, os alunos de 11-14 anos (60,3%), participam nesse tipo de actividade mais do que os da faixa etária dos 15-16 anos (54,6%) e de 17-21 anos (56,3%). A diferença a nível do género é inconsistente, masculino (56%) e feminino (57,9%).

Segundo os dados do inquérito, 32,6% fazem serviço de voluntariado em grupo de amigos (escuteiros, cruz vermelha, Caritas e outras associações de cariz não lucrativa). Trata-se de uma actividade organizada e com finalidades bem definidas. Nessa forma de Trata-serviço colectivo e gratuito, a faixa mais elevada é a de 17-21 anos (36,6%) seguida das de 15-16 anos (32,5%), e de 11-14 anos (28,6%). Muitas vezes, nesse tipo de actividade o grupo de rapazes (35,4%), é mais disponível do que o grupo de meninas (29,4%).

Tab. 54: As actividades entre os amigos ou grupos de pares Segundo as faixas etárias e sexo (em %)

Faixa etária Sexo Total 11-14 15-16 17-21 M F Jogar futebol, outras modalidades desportivas 83,0 86,3 88,3 74,1 90,1 76,1 Participar em actividades culturais 61,3 63,3 60,8 61,7 57,5 65,1 Escutar músicas e ver televisão ou videogame 81,8 81,0 80,4 83,9 80,7 82,7

Ir à discoteca 44,1 37,3 41,7 52,7 50,0 38,6

Ir ao cinema 35,7 43,4 33,7 29,0 35,6 35,6

Participar em actividades sociais 57,0 60,3 54,6 56,3 56,0 57,9 Fazer actividades de voluntariado 32,6 28,6 32,5 36,6 35,4 29,4 Encontrar num lugar sem actividade específica 49,4 54,8 47,6 45,4 47,8 50,6

Outras 14,3 12,2 16,1 14,9 12,4 16,3

Não respondido 0,8 0,0 1,7 0,6 0,7 0,9

Para além dessas actividades, aparecem outros dados que apontam 49,4% dos ado-lescentes estudantes que se encontram com os amigos no mesmo lugar e sem uma actividade específica. Esse tipo de encontro, sem uma orientação, pode ser um factor que pode levar a desvios comportamentais. De facto, os estudantes adolescentes de 11-14 anos (54,8%)

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encon-tram-se nessa condição vulnerável um pouco mais do que os da faixa de 15-16 anos (47,6%) e de 17-21 anos (45,4%). A diferença entre os géneros não é muito expressiva: masculino (47,8%); feminino (50,6%) (cf. Tab. 54).

As actividades acima apresentadas evidenciam alguns aspectos importantes para a solidificação da dimensão social dos alunos adolescentes durante o seu relacionamento com grupo de pares. Se por um lado, as actividades desportivas contribuem para o desenvolvimen-to psico-físico dos adolescentes, doutro lado, podem despertar outras atitudes comportamen-tais que são importantes para o desabrochamento da dimensão psicossocial: confrontação, competência, autoconfiança, auto-estima, aceitação das próprias limitações.

O entretenimento através da música, televisão e vídeogame é uma oportunidade que os adolescentes têm na sociedade actual para desenvolver as capacidades intelectuais, senti-mentais e emocionais. Na realidade dos factos, sabe-se que essas actividades mexem com a estrutura da personalidade do indivíduo em fase de crescimento. Por isso, exigem que os edu-cadores compreendam a utilidade daquilo que os adolescentes escutam, vêem e jogam, para que possam acompanhá-los, de modo a não caírem num mundo extremamente virtual. O que se deve apoiar e incrementar sempre mais no grupo de pares – alunos adolescentes – é activi-dade altruísta ou de voluntariado em benefício dos outros, especialmente, dos mais carencia-dos. Trata-se de uma actividade que pode despertar nos adolescentes estudantes o verdadeiro sentido dos valores sociais: solidariedade, democracia, cidadania, tolerância, justiça, fraterni-dade, liberfraterni-dade, parifraterni-dade, paz, concórdia.

1.3.2 O tipo de conversação entre grupo de amigos

Se, por um lado, as actividades realizadas no grupo de pares trazem consequências positivas e outras menos positivas, por outro, pode-se dizer o mesmo dos argumentos da con-versação entre os amigos adolescentes. Como já vimos em teoria, o grupo de pares é sempre um ponto de confrontação e de comparação, e é bom que seja verificada na vida prática dos adolescentes a congruência entre o seu pensar e o seu agir. O tipo de conversa e os argumen-tos utilizados, podem ou não conduzir facilmente a desvios comportamentais, se os adolescen-tes não forem devidamente acompanhados pelos educadores adultos e responsáveis. Os argu-mentos que os adolescentes conversam, em geral, abrangem as seguintes áreas: sócio-cultural e política; problema de escola e religião; problema psico-afectivo e social.

No encontro dos amigos adolescentes, a tonalidade da conversa aponta quase sempre sobre a dimensão sócio-cultural e política. Na realidade dos factos, os dados inqueridos

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indi-cam que 65,2% dos alunos fala muito de argumentos ligados ao desporto, música e moda. 27,9% falam pouco desses assuntos. De acordo com os dados, os rapazes (M.1.26) falam des-ses argumentos nas suas conversações mais do que as meninas (M.1.49). Na opinião de 49,1% dos alunos, os argumentos que envolvem a política e as vicissitudes da sociedade são pouco conversados entre os grupos de pares. Somente 11,5% dos estudantes concordam que isso se faz muito entre os amigos. A diferença entre os géneros é relativamente pequena: masculino (M.2.22) e feminino (M.2.25).

Pelo facto que os adolescentes estarem na fase de escolaridade e de catequização é normal que se debrucem sobre problemas ligados à vida escolar e religião. No que se refere à experiência pessoal, 48,7% dos alunos afirmam que se fala muito no grupo de amigos sobre os problemas ligados à escola e ao trabalho, ao passo que 35,1% dos estudantes acham que esse argumento é pouco falado entre os amigos. Nesse caso, as meninas (M.1.50) fazem uso desse argumento na conversação com as amigas mais do que os rapazes (M.1.72). Nessa pers-pectiva, os problemas ligados à religião são pouco conversados entre os grupos de pares, na opinião de 40,6% dos alunos, ao passo que 32,4% acham que esse argumento não é por nada tratado; somente 17,7% afirmam que é muito falado entre os amigos. Partindo dos dados apu-rados, verificamos que o sexo feminino (M.2.09) conversa sobre esse assunto mais do que os rapazes (M.2.25).

Os adolescentes estão numa fase de busca de identidade, por isso, deparam com pro-blemas de natureza psico-afectivo e social e tornam-se, facilmente, objectos de conversação entre os amigos. Os dados apontam que os alunos (52%) debruçam-se muito sobre os proble-mas e experiências pessoais de amor e sexo com os amigos. Mas 28% dos entrevistados são da opinião que esse argumento é dialogado pouco no grupo de amigos, e 16,3% consideram que isso não é nada objecto de conversação. Os dados apontam que os rapazes (M.1.59) fazem isso com mais facilidade do que as meninas (M.1.66). Na linha dos problemas sociais que afectam a camada juvenil, 33,2% dos estudantes adolescentes do Ensino Secundário de Cabo Verde, falam muito dos problemas de droga e álcool entre os amigos. Os que acham que esse problema é pouco falado são 24,2% e os que são de opinião que isso não é por nada falado no grupo de amigos são 31,9%. Sobre esse argumento, verificamos que o sexo femini-no (M.1.91) fala com os amigos mais do que os rapazes (M.2.06), conforme se pode ver na Tab. 55.

A formação social no Ensino Secundário implica a compreensão do tipo de percep-ção do mundo fenomenal que os estudantes adolescentes têm de si e da realidade externa. Precisamente porque os argumentos de que se fala entre os amigos reflectem o seu mundo interior (sentimentos, vivências ou experiências pessoais) e seu modo de ver e relacionar com

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o mundo exterior. Os comportamentos dos adolescentes são sempre consequências do seu modo de percepcionar a realidade, partindo dos seus interesses e inclinações. Compreendendo o seu campo perceptivo é mais fácil para os educadores orientá-los para a vida social.

Tab. 55: Os argumentos da conversa entre os amigos ou grupo de pares (em % - em M: média ponderada: máxima frequência = 1.00 e mínima = 3.00)*7

1 2 3 Sexo

N.

Resp. Muito Pouco Nada MP M F

Sobre o desporto, a música e moda 2,3 65,2 27,9 4,5 1.38 1.26 1.49 Sobre factos de política e sociedade 6,1 11,5 49,1 33,3 2.23 2.22 2.25 Problemas de escola e trabalho 5,2 48,7 35,1 11,1 1.60 1.72 1.50 Problemas e experiências religiosas 9,3 17,7 40,6 32,4 2.16 2.25 2.09 Problemas pessoais de amor e sexo 3,7 52,0 28,0 16,3 1.63 1.58 1.66 Problemas de droga e álcool 10,7 33,2 24,2 31,9 1.99 2.06 1.91

Outros 97,1 1,9 0,2 0,8 1.63 1.94 1.33

Segundo aquilo que acabamos de evidenciar, os argumentos de conversação entre os amigos ou grupo de pares espelham os interesses mais ligados aos sentimentos e vivências pessoais no tempo presente, sobretudo no que concerne à diversão (desporto, música, moda (M.1.38) e à dimensão psico-afectiva e emocional (amor e sexo = M.1.63). Os dados revelam que os alunos são um pouco menos preocupados com a vida social (crónica sobre política e sociedade = M.2.23) e aspectos ligados às experiências religiosas (M.2.16). É papel das esco-las secundárias cultivar nos alunos um maior sentido para com tudo aquilo que se passa na sociedade.

2. As condutas dos alunos face aos factores desviantes

Se observarmos o contexto social cabo-verdiano que envolve a acamada juvenil, é fácil deduzir uma relação interactiva entre os adolescentes, jovens e adultos. Em muitas zonas das ilhas o relacionamento é de tipo solidário, e os indivíduos se conhecem mutuamente. Por-tanto, é fácil que uma zona venha a ser estigmatizada por causa da delinquência, do tráfico de droga e de prostituição. O mesmo rotulamento pode acontecer com os indivíduos que são

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turos e vulneráveis. De facto, acontece que o comportamento desviante é algo que se constrói, socialmente, mediante relações de adesão, intimidade e contactos com grupos e indivíduos que adoptam comportamentos não condizentes com normas vigentes na sociedade. Essa ideia está bem patente na posição de H. E. Sutherland quando disse que: o desvio das normas sociais é um processo de que se constrói no tempo e no seio das relações8.

Apesar dessas relações serem significativas, como já dissemos, o desvio das normas não depende somente das pressões externas, do rotulamento ou estigmatização, mas também da forma como o indivíduo se sente interiormente e da sua visão, convicção e percepção do ambiente que o circunda. Por isso, a compreensão do desvio das normas socialmente partilha-das deve ser interpretado e visto a partir do sujeito que o experimenta e o vive interiormente9. Do ponto de vista pedagógico, é o sujeito que deve ser recuperado através da educação e for-mação que se quer efectuar no seio dos estabelecimentos escolares e centros reeducativos. O estudo analítico das condições juvenis no seio das escolas secundárias cabo-verdianas tem como objectivo, precisamente, efectuar uma intervenção que seja educativa e preventiva em prol dos adolescentes estudantes das referidas escolas.

A abordagem empírica sobre os aspectos desviantes que analisaremos sucessivamen-te não é um estudo, em si, dos problemas sociais, mas a apresentação da maneira como os alunos adolescentes encaram esses fenómenos anti-sociais como se comportam perante os mesmos. Portanto, o objectivo principal é a compreensão da percepção que os alunos têm dos comportamentos desviantes; as condições que induzem ao uso da droga; a avaliação da gravi-dade dos desvios comportamentais; as reacções dos adolescentes perante o seu mal-estar. Tudo isso vai permitir-nos uma visão real da condição dos estudantes do Ensino Secundário de Cabo Verde e, ao mesmo tempo, encontrar elementos necessários para a elaboração de conteúdos e metodologia para a sua formação social.

2.1 A percepção dos comportamentos desviantes

Hoje fala-se muito de fenómenos anti-sociais, comportamentos e atitudes não condi-zentes com normas sociais, convicções religiosas, que podem directa ou indirectamente influenciar os comportamentos dos adolescentes e jovens na idade escolar, sobretudo, se esses comportamentos são demasiado relativizados pelas instituições educativas, pelos adultos e

8 H. E. SUTHERLAND, White collar crime, New York, Holt Rinehart and Winston, 1961, citado por G. DE LEO – P. PATRIZI, Psicologia della devianza, Roma, Carocci, 2004, p. 14.

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legitimados pelo Estado. Partindo desse pressuposto bastante visível no contexto social cabo-verdiano, pode-se verificar o posicionamento dos alunos em relação aos comportamentos dos outros e perante um conjunto de situações que podem acontecer com as pessoas. Em segundo lugar, efectua-se uma análise interpretativa sobre os seus próprios comportamentos em rela-ção às mesmas situações. Enfim, analisam-se os desvios e as inclinações dos estudantes em relação ao grupo de pares ou entre os amigos.

2.1.1 A posição perante os desvios comportamentais

Os fenómenos anti-sociais são situações no território nacional tão evidentes que não se pode negligenciar. Embora alguns fenómenos não sejam alarmantes no seio dos estudantes, uma reflexão pedagógica e uma intervenção educativa deve ser feita pontualmente para o seu desbaratamento, a fim, de conseguir contribuir para o desenvolvimento sadio e equilibrado da personalidade dos adolescentes estudantes. É bom saber a opinião que os alunos têm acerca das situações de comportamentos desviantes. E para sermos mais concisos, colocamos a ques-tão de fundo: será que os alunos adolescentes aceitariam que as pessoas efectuassem compor-tamentos desviantes?

Essa forma de abordar o problema revela, num certo sentido, a convicção e o nível de informação que os alunos têm a respeito dos fenómenos anti-sociais. E os dados que retratam as atitudes dos alunos perante os desvios comportamentais das pessoas podem ser analisados segundo estes critérios: o uso que as pessoas fazem da droga e álcool; formas de delinquência; irresponsabilidade perante o próprio dever; problemas e imoralidade sexual. Nessa análise teremos em consideração a faixa etária e o sexo dos alunos do Ensino Secundário.

O problema mais pertinente e que afecta as famílias cabo-verdianas e a camada juve-nil, em particular, é o uso de droga e álcool. Segundo os dados, 10,5% dos alunos aceitam que as pessoas usem a droga. A diferença entre os alunos que concordam e não concordam com esse tipo de comportamento não é elevada, todavia, os estudantes de 15-16 anos (12,2%), aceitam esse procedimento um pouco mais do que os de 17-21 anos (11,5%) e de 11-14 anos (8,2%). Entre os géneros não há diferença: masculino (10,9%) e feminino (10,4). Sempre nes-sa linha de consumo de substância inebriante, atestamos que 11% dos estudantes aceitam que as pessoas usem o álcool e se embriaguem. A mesma faixa de 15-16 anos (13,6%), aponta mais do que as outras de 17-21 anos (12,1%) e de 11-14 anos (6,4%). Apesar de a diferença ser irrelevante nesse caso, os rapazes (11,4%), são ligeiramente mais do que as meninas (10,8%).

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Os alunos são um pouco mais ponderados em aceitar os actos que induzem às formas de delinquência. Uma percentagem não muito expressiva dos alunos (8,8%), concorda que uma pessoa possa roubar coisas dos outros. Os estudantes de 15-16 anos (11,4%), estão mais de acordo do que os de 17-21 anos (7%), e de 11-14 anos (7,4%). Os do sexo feminino (6%), concordam ligeiramente mais do que os do sexo masculino (8,2). Nessa linha de roubo, há também um aspecto que se fala muito e que é a corrupção no seio das pessoas que se ocupam da política. Apenas 7,8% dos alunos admitem que as pessoas podem roubar na política. A diferença entre a posição dos alunos nesse tipo de comportamento é insignificante. Um com-portamento bastante visível entre os estudantes adolescentes é o caso da pichagem nas pare-des da escola e dos edifícios públicos. Dos alunos que foram entrevistados, apenas 11,9% aceitam que as pessoas se comportem desse modo. A faixa etária que marca essa diferença é sempre a de 15-16 anos (14,4%), em relação aos de 17-21 anos (11%) e de 11-14 anos (10,5%). Nesse tipo de conduta, os rapazes (14,4%) concordam mais do que as meninas (9,9%). O comportamento de cumplicidade é mais elevado nessa ordem de questão, isto é, na aceitação de que uma pessoa entre na briga para defender um amigo: 53,5%. Os alunos que mais apontam para essa modalidade de comportamento são sempre os da faixa de 15-16 anos (58,6%), seguidos dos da faixa de 17-21 anos (2,1%) e de 11-14 anos (49,3%). Os alunos do sexo masculino (55,6%), são mais inclinados para esse tipo de comportamento do que os do sexo feminino (51,5%).

Uma pequena percentagem dos alunos aceita que as pessoas sejam irresponsáveis em relação aos seus compromissos. De facto 11,4% dos inqueridos admitem que o indivíduo pos-sa faltar aulas sem necessidade. As faixas dos alunos de 15-16 anos (12,4%) e 17-21 anos (12,1%), são um pouco mais elevadas do que a de 11-14 anos (9,3%). As meninas (12%), opinam nesse sentido um pouco mais do que os rapazes, 10,9%. Também, 14,1% dos alunos apontam que uma pessoa pode faltar serviço sem estar doente. No que se refere à idade, os dados apontam que os alunos de 15-16 anos (15,4%), aprovam esse comportamento um pouco mais do que os de 17-21 anos (14,6%) e de 11-14 anos (12,2%). Embora não haja diferença relevante, os alunos do sexo feminino, 14,9%, estão mais de acordo com esse comportamento do que os do sexo masculino (13,5%).

Os comportamentos relacionados com os problemas de imoralidade sexual parecem um pouco mais aprovados pelos alunos do que os outros. Conforme os dados apurados, 15,8% dos alunos admite que uma pessoa pode ter relação sexual com prostitutas. As faixas etárias de 17-21 anos (17,7%) e 15-16 anos (17,1%), aprovam esse comportamento mais do que a de 11-14 anos (12,2%). A percentagem entre os rapazes (18,2%), é superior à das meninas (13,8%). Um outro problema que se está tornando visível no seio da sociedade é a

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homosse-xualidade. Os dados indicam que 20,1% dos alunos concordam que uma pessoa possa manter relações homossexuais. A diferença entre as faixas não é muito consistente, sendo que os alu-nos de 17-21 aalu-nos (23,1%), aprovam esse comportamento um pouco mais do que os outros de 15-16 anos (20,1%) e de 11-14 anos (17,2%). É surpreendente a percentagem dos alunos do sexo feminino (25%) que admitem esse comportamento, bem superior a do sexo masculino (14,8%).

Nota-se que os alunos cultivam uma mentalidade liberal em relação ao sexo. Os dados mostram que 66,4% dos alunos aprovam que uma pessoa possa ter relações sexuais com o(a) namorado(a). A faixa etária dos alunos de 17-21 anos (78,6%), é mais relevante do que as de 15-16 anos (65,5%) e de 11-14 anos, (52,5%). Os rapazes (72,1%), aprovam esse comportamento mais do que as meninas (61,2%). Um outro comportamento não em conso-nância com a lei moral é a mancebia. 54,8% dos alunos inqueridos, aprovam que uma pessoa possa juntar-se com outra sem casamento. Os alunos de 11-14 anos (49%), aprovam esse comportamento um pouco menos do que os outros de 15-16 anos (57,6%) e 17-21 anos (57,7%). Os alunos do sexo feminino (59,1%), concordam com esse procedimento mais do que os do sexo masculino (50,4%).

Tab. 56: Os alunos aceitam que as pessoas ponham em acto comportamentos desviantes: Segundo as faixas etárias e sexo (em %)

Faixa etária Sexo

Total 11-14 15-16 17-21 M F

Usar droga 10,5 8,2 12,2 11,5 10,9 10,4

Beber até ficar embriagado 11,0 6,4 13,6 12,1 11,4 10,8

Roubar coisas dos outros 8,8 7,9 11,4 7,0 8,2 9,6

Roubar na política 7,8 6,7 9,7 6,5 7,7 7,8

Fazer pichagens nas paredes 11,9 10,5 14,4 11,0 14,4 9,9

Entrar numa briga para defender um amigo 53,5 49,3 58,6 52,1 55,6 51,5

Faltar aulas sem necessidade 11,4 9,3 12,4 12,1 10,9 12,0

Faltar serviço sem estar doente 14,1 12,2 15,4 14,6 13,5 14,9 Manter relação com prostitutas 15,8 12,2 17,1 17,7 18,2 13,8 Manter relação com um homossexual 20,1 17,2 20,1 23,1 14,8 25,0 Ter relação sexual com o(a) namorado(a) 66,4 52,5 67,5 78,6 72,1 61,2

Ajuntar-se sem casar 54,8 49,0 57,6 57,7 50,4 59,1

Usar contraceptivos 63,7 52,8 61,0 76,9 62,0 65,7

Praticar o aborto 19,1 15,7 18,9 23,1 18,2 20,2

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A publicidade dos meios contraceptivos parece ter o seu efeito a nível de informação. Na verdade, 63,7% dos alunos aprovam o uso de contraceptivos. Os alunos de 17-21 anos (76,9%) são em maior numero nessa aprovação do que os de 15-16 anos (61%) e de 11-14 anos (52,8%). A diferença entre os géneros não é muita expressiva, sendo a percentagem entre os do sexo feminino (65,7%), ligeiramente superior à do sexo masculino (62%). O aborto foi legalizado em Cabo Verde. Entretanto, é considerado um atentado à vida humana. Dos alunos que foram entrevistados, 19,1% aprovam que uma pessoa possa praticar o aborto. Mais uma vez a faixa dos alunos de 17-21 anos (23,1%), manifesta-se um pouco mais nesse sentido do que os de 15-16 anos (18,9%) e de 11-14 anos (15,7%) e as meninas (20,2%) ligeiramente mais do que os rapazes, 18,2% (Tab. 56).

Os comportamentos que foram evidenciados acima fazem parte de um quadro bas-tante visível no território cabo-verdiano. A forma como os alunos aprovam esses comporta-mentos demonstra, por um lado, uma determinada resistência ao uso de substâncias estupefa-cientes, prática de violência e roubo que vai contra a justiça social, por outro lado, é significa-tivo como os alunos aprovam a libertinagem em matéria de desvios sexuais. Essa forma de aprovar os comportamentos desviantes manifesta a necessidade de uma intervenção educativa que seja eficaz e transparente para que os alunos compreendam o sentido de responsabilidade dos seus próprios actos humanos. Esse modo de olhar para fora de si mesmo e de se opinar pode ser algo real e que reflecte o estilo de pensar e de agir dos alunos.

2.1.2 Os desvios comportamentais dos alunos

Os comportamentos são agora postos à consideração dos alunos, a fim de eles opina-rem sobre os mesmos. Isso vai-nos permitir uma melhor compreensão dos desvios comporta-mentais dos estudantes do Ensino Secundário, sobretudo no que tange ao uso de droga e álcool, às formas de delinquência, à irresponsabilidade defronte os seus compromissos e aos problemas de imoralidade sexual. Se, por um lado, aparecem alguns desvios menos significa-tivos, por outro, constatamos alguns que são um pouco mais preocupantes no seio da popula-ção estudantil. Tomaremos em análise a faixa etária, o sexo e alguns dados cruzados.

2.1.2.1 O uso de substâncias inebriantes

Os dados colhidos sobre uso de droga e álcool no seio dos alunos das escolas secun-dárias não são muito significativos. Antes de tudo, os alunos que se drogam, de vez em

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quan-do, são apenas 1,2% e os que usaram uma vez ou raramente são 3%, ao passo que 95,3% nun-ca fizeram uso de droga. A faixa que tem mais contacto com a substância tóxinun-ca é a dos alu-nos de 17-21 aalu-nos (M.2.91), seguindo-se a dos 11-14 aalu-nos (M.2.95) e dos 15-16 aalu-nos (M.2.97). Esse comportamento é mais visível no sexo masculino (M.2.91) do que no sexo feminino (M.2.98). Além desses dados, podemos apontar outras situações de consumo de droga, segundo dados cruzados: os alunos das Cidades (M.2.90); alunos de pais com uma pro-fissão alta (M.2.91); alunos que gostam de ver filmes pornográficos (M.2.90); alunos indife-rentes à religião e ateus (M.2.88); alunos que não gostam do próprio sexo (M.2.85).

O uso do álcool parece um problema mais vivido entre os estudantes do Ensino Secundário. Apenas 2,9% dos alunos usam o álcool de vez em quando e 14,5% dos entrevis-tados usaram uma vez ou raramente. Os que nunca fizeram uso dessa substância são 80,5%. O inquérito revela também que os alunos de faixa etária de 17-21 anos (M.2.65) são mais incli-nados do que os outros de 15-16 anos (M.2.83) e de 11-14 anos (M.2.83). Assim como, os rapazes (M.2.71) usam álcool mais do que as meninas (M.2.87). Entre os estudantes que já experimentaram o álcool, conforme dados cruzados, a Média apresenta os alunos que habitam nas Vilas (M.2.72); que têm pais com uma profissão média (M.2.74); que gostam de ver fil-mes violentos (M.2.69) e pornográficos (M.2.65); que são indiferentes à religião e ateus (M.2.63); que tiveram relações sexuais (M.2.69).

2.1.2.2 As formas de delinquência e falta de compromissos

Os actos que induzem a formas de delinquência são, também, inconsistentes do pon-to de vista numérico. Antes de tudo, verificamos que somente 2,3% têm o hábipon-to de roubar de vez em quando, ao passo, que 12,5% já roubaram uma vez ou raramente. 81,4% dos alunos nunca roubaram. Esse comportamento é mais presente nos alunos de 17-21 anos (M.2.77) do que nos de 15-16 anos (M.2.82) e de 11-14 anos (M.2.87). Também, a percentagem dos alu-nos do sexo masculino (M.2.77) excede um pouco os do sexo feminino (M.2.87). Os dados apontam mais para os alunos que não moram com os pais (M.2.72) e que não gostam do seu sexo (M.2.74). Nessa linha de comportamento, a resposta acerca do roubo na política é insig-nificativa para os alunos.

Além disso, o comportamento de fazer pichagens nas paredes é mais praticado pelos alunos do Ensino Secundário, verificando-se que 6,2% dos alunos fazem isso de vez em quan-do e 16,9% uma vez ou raramente. Entretanto, a maioria (73,5%), nunca fez esse acto. Os adolescentes estudantes de 15-16 anos (M.2.64) são mais inclinados do que os de 17-21 anos

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(M.2.71) e de 11-14 anos (M.2.74). Também, nesse caso, os dados apontam mais para os rapazes (M.2.62) do que para as meninas (M.2.76). Sobre esse tipo de comportamento, os dados apontam mais para os alunos de Barlavento (M.2.67); os que moram nas Cidades (M.2.63); os gostam de ver filmes violentos (M.2.62) ou filmes pornográficos (M.2.55); os que são indiferentes e ateus (M.2.62) e os têm relações sexuais (M.2.64).

O comportamento, aparentemente, de cumplicidade, isto é, que têm a ver com brigas para defender um amigo é mais elevado entre os estudantes. De facto, 24,4% dos entrevista-dos admitem ter feito isso de vez em quando, e 33,2% fizeram isso uma vez, ou raramente. Somente 40,4% dos alunos nunca praticaram esse acto. Os alunos de 11-14 anos (M.2.09) envolvem-se mais nesse tipo de situações do que os de 15-16 anos (M.2.13) e de 17-21 anos (M.2.27). Assim também, os alunos do sexo masculino (M.2.02) são mais propensos para esse tipo de comportamento do que os do sexo feminino (M.2.29). Evidenciamos ainda esse mes-mo comportamento é mais expressivo entre os alunos que mes-moram na Cidade (M.2.07); têm pais com uma profissão média (M.2.08); gostam de ver filmes violentos (M.2.06); têm rela-ções sexuais (M.2.09).

Nota-se no seio dos alunos alguns comportamentos que exprimem irresponsabilida-de perante os seus compromissos. Antes irresponsabilida-de tudo, iirresponsabilida-dentificamos 13,5% dos alunos que faltam as aulas, de vez em quando, sem necessidade, e 28% que faltam uma vez ou raramente. Os alunos de 17-21 anos cometem esse tipo de comportamentos mais dos que os de faixa etária (M.2.25), aparecendo a seguir os de 15-16 anos (M.2.48) e de 11-14 anos (M.2.58). Entre os rapazes (M.2.39), a prática desse acto está mais presente do que entre as meninas (M.2.47) Os dados apontam mais para os alunos que não moram com os pais (M.2.28) e indiferentes à religião e ateus (M.2.19). Um outro aspecto que configura irresponsabilidade tem a ver com a falta ao serviço sem estar doente. Dos alunos que foram entrevistados, 4,7% fazem esse tipo de comportamento de vez em quando, e 12,1% uma vez ou raramente. A diferença entre os alunos nesse modo de comportar-se é irrelevante, precisamente porque a maioria não trabalha.

2.1.2.3 A imoralidade sexual dos alunos

Posto isso, passamos agora a analisar alguns dados ligados à imoralidade sexual dos alunos. Embora alguns sejam menos pertinentes do que os outros, esses dados apontam alguns casos preocupantes. Antes de tudo, 2% admitem ter tido, de vez em quando, relações sexuais sexual com prostitutas e 6,2% afirmam ter feito isso uma vez ou raramente. Entretanto, 88,7% nunca tiveram esse comportamento. A diferença entre as faixas etárias é insignificante, mas o

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sexo masculino (M.2.82) é mais propenso para esse tipo de relações do que o sexo feminino (M.2.96). Esse comportamento é mais visível nos alunos que gostam de ver filmes pornográ-ficos: (M.2.83).

Um outro tipo de comportamento imoral pouco expressivo no seio dos estudantes tema ver com relações com homossexuais. De acordo com os dados, apenas 2% mantêm esse tipo de relação de vez em quando, 4,5% dos alunos já tiveram uma vez ou raramente, e 89,7% afirmam nunca ter tido esse tipo de comportamento. Nota-se que os alunos de 11-14 anos (M.2.88) são mais inclinados do que os de 15-16 anos (M.2.91) e de 17-21 anos (M.2.93). A diferença entre a nível do género é inconsistente: masculino (M.2.90) e feminino (M.2.92). É bastante evidente nos alunos que não gostam do seu sexo (M.2.84).

O comportamento mais liberal e praticado pelos adolescentes estudantes cabo-verdianos é a relação sexual com namorado(a). Partindo dos dados apurados, verificamos que 36,4% dos alunos admitem ter esse comportamento de vez em quando, 13,8% fizeram isso uma vez ou raramente, enquanto que 45,7% nunca tiveram essa relação. Os alunos de 17-21 anos (M.1.73) são mais elevados nessa prática do que os de 15-16 anos (M.2.08) e de 11-14 anos (M.2.49). Esse comportamento é mais evidente nos rapazes (M.1.81) do que nas meninas (M.2.36). Os dados revelam ainda que essa prática está mais presente entre os alunos que não moram com os pais (M.2.03); não consideram o tempo livre importante (M.2.02); gostam de ver filmes violentos (M.1.87); filme pornográfico (M.1.79); não gostam do seu sexo (M.1.99). Existe também o relacionamento sexual de indivíduos que se juntam formal ou informalmente sem casamento. 13,5% dos alunos praticam tal comportamento de vez em quando, 12% fazem isso uma vez ou raramente. A faixa etária um pouco mais inclinado é a de 15-16 anos (M.2.53) seguida da de 17-21 anos (M.2.61) e de 11-14 anos (M.2.63). O sexo masculino (M.2.55) é mais propenso para essa prática do que o sexo feminino (M.2.63). Par-tindo dos dados, presenciamos que os alunos mais propensos para esse tipo de comportamen-tos são os que têm pais separados ou divorciados (M.2.54); gostam de ver filmes violencomportamen-tos e pornográficos (M.2.53); não gostam do seu sexo (M.2.50).

Há em Cabo Verde uma intensa campanha publicitária sobre o uso de contraceptivos. Os dados evidenciam que 39,2% dos alunos fazem uso desses meios de vez em quando, e 11,1% admitem ter feito uma vez ou raramente. Dos entrevistados, 46,3% afirma que nunca tem tido feito uso dos contraceptivos. A faixa de 17-21 anos é a que mais utiliza esses meios (M.1.98) se comparados com as de 15-16 anos (M.2.22) e de 11-14 anos (M.2.56). Os dados dizem-nos também que os rapazes (M.1.98) utilizam os contraceptivos mais do que as meni-nas (M.2.39). Os mesmos dados indicam que uma forte inclinação entre para os alunos que gostam de ver filmes violentos e pornográficos (M.1.99) e os que são indiferentes à religião e

Referências

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