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ECLI:PT:TRE:2007:

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ECLI:PT:TRE:2007:1152.07.3

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2007:1152.07.3

Relator Nº do Documento

Fernando Bento

Apenso Data do Acordão

12/07/2007

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público

Meio Processual Decisão

Agravo Cível provido

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

arresto; justo receio de extravio ou dissipação de bens;

(2)

Sumário:

O justo receio de extravio ou dissipação de bens há que basear-se em dados objectivos e não em meras conjecturas ou juízos subjectivos do requerente/credor.

Decisão Integral:

*

PROCESSO Nº 1152/07 - 3

ACORDAM NO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

*

RELATÓRIONo Tribunal Judicial de … foi requerido por “A” procedimento cautelar de arresto contra

“B” com quem fora casado, alegando ser credor desta no montante de, pelo menos, € 72.812, 02 euros, proveniente de desvios de fundos comuns do casal e próprios do requerente em seu proveito e benefício exclusivo e com prejuízo do requerente.

O requerimento foi liminarmente indeferido com fundamento na falta de alegação de factos concretizadores do justo receio da perda da garantia patrimonial do seu crédito.

O requerente, porém, não se conformou e agravou de tal decisão, finalizando a sua alegação com a seguinte síntese conclusiva:

1- A douta decisão recorrida, por erro quer de aplicação, quer de interpretação, violou o estipulado pelos artigos 406º e o nº 1 do art. 234º-A do CPC, ao indeferir liminarmente a petição de arresto.

2 - Porquanto alegou o aqui recorrente factos bastantes para justificar perante o tribunal recorrido, quer a provável existência do crédito, quer o justo receio da perda da garantia patrimonial.

3 - O requerente na sua petição de arresto não só alega como fundamenta o fundado receio da perda da garantia patrimonial do seu crédito, alegando em suma que:

- A requerida durante o matrimónio se foi apropriando ilegitimamente e repetidamente de montantes provenientes de bens próprios do aqui recorrente, à revelia do mesmo, recorrendo a expedientes moralmente e legalmente condenáveis, a fim de se apoderar e fazer seus esses montantes, como se os mesmos lhe pertencessem na meação ou na totalidade.

- O recorrente quando saiu de casa não dispunha de quaisquer economias pois havia sido ludibriado pela então sua esposa.

- Sendo que o bem de maior valor é, sem dúvida, o prédio urbano que o aqui recorrente pugna pelo arresto e que foi licitado e adjudicado à referida.

- Pelo exposto, assalta o recorrente um fundado e legitimo receio de que a requerida efectuado o pagamento das tornas, o que neste momento já sucedeu, e adquirida a propriedade plena dos bens que lhe foram adjudicados e pagos com os montantes que a mesma arrecadou em seu proveito à custa do recorrente os aliene.

- Ficando o aqui recorrente privado de toda e qualquer garantia de ser ressarcido o seu crédito.

- Pois a requerente, durante os trinta anos que durou o matrimónio nunca exerceu outra actividade que não a de dona de casa,

- não lhe sendo conhecido qualquer trabalho desde a data da separação, de que lhe advenha rendimentos suficientes para pagar a dívida perante o aqui recorrente.

- A requerida vive numa casa arrendada que era a casa-de-morada de família.

4- Para além do alegado, teve o recorrente o cuidado de juntar prova documental e testemunhal para suportar o por si alegado, nomeadamente o documento Nº. 18, certidão emitida pela

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Rua Mouzinho da Silveira, n.º 10 | 1269-273 Lisboa Telefone: 213 220 020 | Fax: 213 47 4918 http://www.csm.org.pt | csm@csm.org.pt

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Repartição de Finanças de …, comprovativa de que não é conhecida a existência de quaisquer bens imóveis inscritos nas matrizes prediais, em nome de “B”, o que foi verificado, através do terminal informático do Sistema do Património.

Tendo sido igualmente arroladas quatro testemunhas para comprovarem o alegado pelo recorrente e bem assim o seu receio.

Protestou o aqui recorrente a junção à Petição de Arresto de Certidão do Processo de Inventário N". 160/05.4 …, do 1º. juízo do Tribunal de Família e Menores de …, a qual não chegou a ser junta aos autos, e que se junta cópia ao presente recurso, porquanto, a douta sentença foi proferida em 07/03/2007 e a referida Certidão foi emitida em e remetida em (não constam as datas no original).

5- ao indeferir liminarmente a petição de arresto, violou o Mmº. Dr. juiz a quo" o estipulado no art.

408°. do C.P.C.

6- Nesse sentido, o Acordão da Relação de Lisboa de 27-5-1999 (R 3224/99, B.M.J. 487, 352, que estabelece, em suma, que: "O requerente do arresto deve afirmar, a título de causa de pedir, os factos reveladores da probabilidade da existência, na sua titularidade, do direito de crédito e do receio da perda da respectiva garantia, sendo que o cumprimento do referido ónus pressupõe, necessariamente, a articulação de factos susceptíveis de sobre eles ser produzida prova, ou seja, factos na acepção do artigo 511°, nº 1, do C. P. C. "

7 - Ora, face ao exposto, e atentas as atitudes anteriores ao divórcio e bem assim as atitudes no decurso do processo de Inventário, em que a aqui requerida praticamente só licita, os bens que se encontravam em poder do requerido, aqui recorrente, em que a requerida sempre pretendeu obter vantagens para si que lhe não eram devidas, cabe questionar se o sentir do homem como homem comum, colocado perante o mesmo circunstancialismo, se conformaria com receio idêntico."

8- Ora, das regras da experiência comum, e atento o quadro, circunstancialismo expresso na Petição de Arresto, dúvidas não restam de que se encontra mais que justificado o receio do requerente de que a requerida já esteja a endividar esforços para delapidar os únicos bens, que podem servir de garantia patrimonial para o crédito que o requerente reclama na acção em que o presente arresto foi apensado.

9- No mesmo sentido o Acordão da Relação de Évora de 4-11-97 (R. 983/96), BMJ 471, 482 e o Acordão da Relação de Coimbra de 2-3-1999 (R. 1755/98, BMJ 485, 491), que estabelecem em suma que o requerente não tem que demonstrar o perigo de dano invocado, bastando-lhe

demonstrar ser compreensível ou justificado o receio da sua lesão e bem assim que o justo receio é subjectivo e apurar se o mesmo é fundado, justificado ou relevante é questão a sondar com inteira objectividade, se o sentir do homem comum, colocado perante o mesmo circunstancialismo, conformaria receio idêntico." .

10- Face ao exposto, não restam dúvidas de que a petição de Arresto tinha de ser liminarmente recebida e consequentemente examinadas as provas e decretado o Arresto, sem audiência da parte contrária.

Remetido o processo a esta Relação, após o despacho preliminar, foram corridos os vistos legais.

Nada continua a obstar ao conhecimento do recurso.

FUNDAMENTAÇÃOA 1ª instância indeferiu liminarmente o requerimento de providência por omissão de alegação de factos concretizadores de um dos requisitos do decretamento do arresto, qual seja o justo receio de perda da garantia patrimonial do crédito.

Tal entendimento é rebatido pelo agravante.

O art. 406º nº 1 CPC enuncia como fundamento do arresto o justificado receio do credor de perder

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a garantia patrimonial do seu crédito e o art. 407º nº 1 impõe-lhe o ónus de alegação dos factos que justificam o receio invocado.

Mas a avaliação deste justo receio deve basear-se em factos ou circunstâncias que, de acordo com as regras da experiência aconselhem uma decisão cautelar imediata com factor potenciador da eficácia da acção declarativa; quer dizer, em dados objectivos e não em meras conjecturas ou juízos subjectivos do credor.

Assim, o "justo receio" é equivalente ao "fundado receio" referido no artº 381º, nº 1 CPC; tem-se por justificado e, logo, fundamentado, o temor desde que apoiado em factos que permitam afirmar, com objectividade e distanciamento, a seriedade e actualidade do perigo de perda da garantia

patrimonial e a necessidade de serem adoptadas medidas tendentes a evitá-la, não bastando simples dúvidas, conjecturas ou receios meramente subjectivos ou precipitados, assentes numa apreciação ligeira da realidade.

O fundado receio pressuposto no arresto não se fica, pois, pelo mero temor, quer do eventual incumprimento, quer da eventual superveniente impossibilidade de efectivação do cumprimento coercivo através do património do devedor; é mais do que isto, porque fundado em factos concretos que, à luz da razoabilidade comum da generalidade das pessoas, o legitimam.

Logo, e entre outros, como exemplo de factores que tornam o receio de perda de garantia patrimonial "justo" e, como tal fundamentam o arresto, podem apontar-se a maior ou menor solvabilidade do devedor, a forma da sua actividade, a sua situação económica e financeira, a natureza do seu património, a dissipação ou extravio de bens ou de fundos e as circunstâncias que os rodearam, a ocorrência de procedimentos anómalos que revelem o propósito de não cumprir, o próprio montante do crédito, etc.

Basta, pois que o credor requerente mostre ser fundado, compreensível ou justificado o receio da lesão do crédito, através de uma averiguação e análise sumária desses factos, sem necessidade de um juízo de certeza.

O justo receio de perda da garantia patrimonial ocorre sempre que o devedor adopte, tenha o propósito de adoptar ou seja de presumir que venha a adoptar (presunção esta baseada

designadamente na sua conduta antecedente, eventualmente reveladora da forma como reage em situações concretas) conduta indiciada por factos concretos, relativamente ao seu património susceptível de fazer recear pela sua solvabilidade para satisfazer o direito do credor.

O justo receio da perda de garantia patrimonial previsto no art. 406.º nº 1 do Código de Processo Civil e no art. 619º do Código Civil, pressupõe a alegação e prova, ainda que perfunctória, de um circunstancialismo fáctico que faça antever o perigo de se tornar difícil ou impossível a cobrança do crédito. Este receio é o que no arresto preenche o "periculum in mora" que serve de fundamento à generalidade das providências cautelares. (Cfr. Abrantes Geraldes, Temas da Reforma do

Processo Civil, IV vol. p. 175).

O STJ em ac. de 20.01.2000 entendeu que "no requerimento de arresto deve o credor alegar factos tendentes à formulação de um juízo de probabilidade da existência do crédito e justificativos do receio invocado. Tal «receio», para ser considerado «justo» há-de assentar em factos concretos que o revelem à luz de uma prudente apreciação, não afastando o receio meramente subjectivo,

porventura exagerado do credor, de ver insatisfeita a prestação a que tem direito. Na fórmula

genuína do «justo receio de perder a garantia patrimonial» cabe uma variedade de casos, tais como os de receio de fuga do devedor, de sonegação ou ocultação de bens e de situação deficitária, não bastando que o requerente se limite a alegar meras convicções, desconfianças ou suspeições de tais situações."

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Posto isto, consideremos o caso em apreço.

O requerente alegou os factos de que, no seu entender, decorre o seu crédito, mas não está em causa a probabilidade de existência do crédito.

Relativamente ao justo receio de perda de garantia patrimonial, para além da alegação de desconhecer à requerida quaisquer outros bens diversos daqueles cujo arresto requer, o

requerente alegou factos praticados pela requerida e dos quais se pode concluir uma propensão desta para desviar em seu proveito (directo ou indirecto) e se apoderar, ocultando-os, de fundos que eram comuns (dela e do requerente) ou só deste, prejudicando-o na partilha dos bens do casal que foi constituído por ela e pelo requerente (cfr. art.s 9º, 10º, 11º, 12º, 13º, 14º, l5º, 18º, 24º, 25º, 26º, 27º, 28º, 29º, 30º, 31º, 32º, 33º).

Não custa admitir que, existindo o crédito do requerente e demonstrando-se estes factos, a requerida inviabilize a efectivação do crédito do requerente através do seu património, alienando este e ocultando o respectivo preço; é sabido que o dinheiro é bem mais fácil de esconder que os bens, sobretudo imóveis e alguns móveis; afinal, se desviou fundos em prejuízo do requerente, é de presumir (e de recear ... ) que não hesitará, na eventualidade de ver o seu património responder pelas suas dívidas perante aquele, se desfazer dele.

Eis porque, a nosso ver, entendemos terem sido alegados factos integradores do justo receio da perda da garantia patrimonial, razão pela qual não acompanhamos o douto despacho recorrido.

ACORDÃOPelo exposto, acorda-se nesta Relação em conceder provimento o agravo e em revogar o despacho recorrido que deverá ser substituído por outro. designando data para a produção de provas ou ordenando qualquer outra diligência tida por adequada à tramitação do procedimento cautelar de arresto.

Sem custas.

Évora e Tribunal da Relação. 12.07.2007

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