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OFICINAS DE EXPERIMENTAÇÃO: LEITURAS DE IMAGENS E ESCRITAS

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Academic year: 2021

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OFICINAS DE EXPERIMENTAÇÃO: LEITURAS DE IMAGENS E ESCRITAS Alda Romaguera

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Alik Wunder Davina Marques Alessandra Melo Diego Alexandre de Souza Cláudio Camargo Angélica Brotto Guilherme Montenegro

Maisa Calazans Rodolfo Fordiani

Ler e dar a ler. Fotografar e dar a ver. Versar e doar versos. Criar e dar a pensar. Ler em alta voz, ouvir poemas por outras vozes. Encontrar pessoas, livros, fotografias, vídeos, instrumentos musicais ... tocar, cheirar e provar palavras, imagens e sons. Entrar em uma atmosfera de degustação, contaminar-se pelo gesto criativo e perder-se em uma experiência de criação coletiva.

Pelo desejo de multiplicar espaços inventivos de leitura e experimentação foi criado o Núcleo de Leitura Fabulografias, na Associação de Leitura do Brasil (ALB), ligado ao Movimento por um Brasil Literário

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(MBL). O Núcleo possibilita o contato de jovens de escolas públicas e de comunidades não escolares com as dimensões estéticas da literatura e das artes visuais - cinema e fotografia - e estimula a criação com palavras e imagens, em

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Coletivo Fabulografias. secretaria@alb.com.br

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Disponível em <http://www2.brasilliterario.org.br/pt/home>.

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especial, com a poesia e com a fotografia. Esse Núcleo propõe-se também a aproximar os jovens da literatura de países africanos de língua portuguesa, em seu íntimo diálogo com a literatura brasileira, a partir do contato com obras literárias e produções de cinema, articulando-se a grupos de pesquisa da Universidade Estadual de Campinas, com ações governamentais, de escolas, de associações civis e coletivos de artistas, na organização de encontros para experimentações com imagens e textos.

Há três anos o Núcleo, em parceria com o Projeto Fabulografias (projeto de pesquisa e extensão da Faculdade de Educação – Unicamp) debruça-se sobre o tema das africanidades, a partir da leitura de obras de poetas afro-brasileiros e africanos, de exercícios de fotografia, de criação de textos poéticos, de oficinas de criação de cartões postais, de exposições e saraus culturais. As imagens e escritas destas experimentações são compartilhadas em blog do próprio projeto

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O experimentar que buscamos dá-se no encontro com a palavra poética, com as fotografias e também com pessoas, espaços, gestos, sons, tensões, experiência de vida... Um experimentar que prevê uma atmosfera apta ao encontro, um preparo de espaços-tempos sensíveis a um silêncio que ecoa sem lugar no mundo das palavras e nas imagens conhecidas.

O experimentar como desejo de sensibilidades, como arte de produzir encontros e perder-se...

O grupo de universitários, pesquisadores e artistas convidados do projeto de extensão envolveu-se (e perdeu-se) em processos de criação conjunta, tendo como tema os ventos- áfricas que nos percorrem. A pergunta sobre que áfricas nos ventam foi um disparador para gerar encontros entre alunos de escolas públicas, artistas, grupos de música, danças e capoeira, movimentos culturais e sociais, pesquisadores... Apostamos no desejo e na potência do encontro ao desenvolvermos oficinas de fotografia e poesia, exposições, projeções, saraus e instalações. Esses movimentos lançaram o grupo a criar fotografias, vídeos, sons e composições entre palavras, imagens, notícias, artigos em diversos ambientes: centro de cidadania em bairro periférico da cidade, casas de cultura, escolas, seminários e congressos, moradia estudantil, praças públicas... Em cada espaço, de diversas formas, um convite a uma experimentação, à criação e à abertura de um espaço-tempo para composições coletivas.

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Disponível em <http://fabulografias-alb.blogspot.com.br/>

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As práticas de leitura envolvem o encontro com cartões-postais fotográficos, vídeo- postais e escritas poéticas produzidos durante as diversas oficinas realizadas pelo Núcleo em diferentes espaços, bem como com imagens – fotografias e ilustrações ‒ e textos ‒ poesia, contos ‒ de livros ligados ao tema das africanidades. O encontro e contaminação com as criações de outros tempos e espaços dispara a produção de imagens fotográficas, de escritas e a récitas em spoken word, um modo de dar a ler em voz alta que se apropria da aleatoriedade e enfatiza as sensações dos participantes, proporcionando encontros sonoros para além da significação dos textos lidos. Tanto na leitura como na produção de imagens e textos, apostamos na fugacidade, na contingência e no acontecimento singular; apostamos no caos, na imprevisibilidade e na surpresa dos encontros entre pessoas, entre versos, entre imagens.

Neste texto, desejamos dar visibilidade a fotografias e escritos produzidos pelos estudantes universitários, bolsistas atuantes nas oficinas, para o blog do Núcleo de Leituras.

Narrativas imagéticas e verbais que expressam os sentidos das diversas experiências de leitura e criação em praças, museus, escolas, universidades...

O encontro envolveu artistas, pesquisadores, universitários e público, reunidos para uma criação audiovisual coletiva. O espaço do Museu da Imagem e Som foi tomado por cachoeiras de pano, simulações digitais de mar/água, exposição de sons e sentidos. Criamos um rio que desembocava na rua, cheio de poemas, minicontos, livros e imagens produzidas e/ou selecionadas pelo Coletivo. Esse rio nascia de uma cabaça, utensílio muito utilizado no armazenamento e transporte da água e símbolo da criação do mundo e das águas na cultura ioruba. Começamos a declamação dos poemas. E ali havia uma composição de sentidos:

músicas, toques, leituras, e observações através dos rios, das imagens, das folhas, explorando imaginações que transbordam o tema. A participação do Núcleo na exposição foi inundada de sensações e reconstruções. O espaço incorporou o devir do momento, expresso através do rio que comungou poesia, imagens, cheiros e música: a voz virou o instrumento, o instrumento poesia, a poesia imagem, a imagem cheiro.

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Oficina-sarau Museu da Imagem e Som, Campinas, 2014 - Evento Afetos Nascentes, organizado pela Subrede

Divulgação Científica e Mudanças Climáticas da Rede CLIMA ligada ao Laboratório de Estudos Avançados em

Divulgação Científica ‒ Labjor – Unicamp

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Uma creche numa escola municipal, em Sorocaba, inaugurou minha participação no Núcleo Fabulografias - ALB. Diferentemente das minhas outras participações em projetos, neste percebo-me aconchegado num espaço em que os olhos de quem trabalha/convive com você estão no horizonte e não acima das cabeças. O que seria uma apresentação de trabalho novo logo se transformou, para mim num espetáculo de criação, experimentação e/em imagem no qual todos os presentes participavam da construção. O público reunia funcionários dessa escola e alunos de pós-graduação. Uma pluralidade de pessoas sem demarcações hierárquicas foram acolhidas com um café da manhã pelo diretor desta creche. Dividimos a turma em três grupos que se revezaram para que todos experimentassem as atividades das oficinas. Em uma das atividades, as pessoas trabalharam com a imagem enquanto sombra, cor e forma ‒ fotografando e observando esses elementos com seus olhos e dispositivos eletrônicos. Foram, assim, criando novas sensações, a partir desses aspectos que se encontram tão distantes da nossa mente (mesmo estando presentes o tempo todo). Outra atividade reuniu ao redor de uma mesa uma exposição de imagens em vários tamanhos construídas em outras oficinas do Núcleo Fabulografias, alguns instrumentos afro brasileiros, muitos poemas, minicontos e alguns livros. Perto dessa mesa organizamos uma exposição com os itens trazidos pelos convidados que variavam de livros a pó de café. Nesse espaço, houve tempo para observação e recepção ‒ as pessoas tocavam, liam, analisavam. Algumas se encantavam com o colorido de uns instrumentos, outras se deslumbravam com as imagens e os escritos. Para outras, parecia algo fútil ‒ muito estranho ou de compreensão distante de si. Abrimos um momento para criação escrita, produzindo poemas e pequenos textos. Alguns resgataram músicas criadas em outro momento de sua vida! Muitos versos sensíveis... E houve também quem perguntasse se aquilo ali não era coisa do diabo! Para finalizar, reunimo-nos ao redor da mesa e expusemos nossas expressões mais verbais/corporais:

lemos, falamos, cantamos, tocamos e escutamos. No decorrer da oficina, formou-se um grupo de

gente gingando capoeira (foi por pouco tempo, mas foi incrível essa expressão que ventava ali,

que muito retrata a resistência de um povo que sempre teve sua cultura em processo de

apagamento). Ainda havia dois espaços conectados para que as pessoas circulassem. Num deles

ocorria a criação com imagens, em que se exercitavam algumas formas de inventá-las com papel,

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tesoura, imagens, lã de aço e outras ferramentas. Lá foram produzidas muitas e ricas imagens/composições. Uma ciranda dançou as intensidades deste encontro que foi encerrado por um almoço carinhosamente preparado pelas cozinheiras da escola.

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Ao todo foram sete participantes nesta oficina, e o envolvimento foi inteiro. Montamos uma instalação na sala de atividades corporais na Faculdade de Educação da Unicamp, incluindo livros, imagens, produções de oficinas anteriores, poesias, tecidos, objetos que remetessem ao universo afro brasileiro: galhos, folhas secas e música. Os participantes entraram para a oficina em meio a esta atmosfera performática, curiosos, e um tanto reticentes. Conversamos em roda sobre o núcleo e suas ações e os convidamos a explorar os elementos que, ali expostos, compunham o cenário. Foi um momento de mergulho, cada um vivenciando internamente o que aqueles estímulos movimentavam e ecoavam. Aos poucos, estes movimentos e ecos começaram a sair do âmbito individual e a serem compartilhados por meio da leitura em voz alta de fragmentos de histórias e poesias que ali se encontravam.

Deste momento para a criação de imagens e textos foi um passo fluido. Mais uma vez o movimento partiu do individual para o coletivo, pois, inicialmente, cada um elaborou uma frase poética, um desenho, e essas criações, posteriormente, foram interagindo entre si naturalmente, havendo inclusive algumas consonâncias nas produções, fruto de uma sintonia sutil que se instaurou nesta tarde agradável e produtiva.

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Oficina na Escola E.M. "Profª. Maria Domingas Tótora de Góes" – Sorocaba – SP – 2014.

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Oficina realizada na Semana da educação, Faculdade de Educação, Unicamp, 2014.

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Fomos a VIII edição do Sarau no Bosque do DIC I, evento com agenda mensal. O banquete de imagens e palavras foi servido ao público que se deliciou participando com leituras e improvisações de poemas. As crianças presentes tiveram a oportunidade de desenhar e intervir nas imagens em um espaço constituído somente para elas. Dessa vez, além da tradicional mesa, foram testados outros suportes imagéticos como expositores, tais como árvores, folhagens e outros elementos da paisagem local. O público interagiu muitíssimo enquanto tambores ecoaram propiciando um clima adequado para a leitura e uma atmosfera ainda mais criativa e convidativa. Os resultados dessa intervenção foram a captação de diversas imagens e a consciência de novos suportes para a realização de exposições.

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“Pra que isso, moça?” pergunta, aparentemente inocente, que nos coloca diante do exercício da explicação. Ainda mais quando feita por uma criança. Perguntas formuladas com olhar imaginativo, esperando a cada piscadela estar diante do fantástico são as mais difíceis de serem respondidas. Brincar com imagens, cores, sons e palavras. Construções e desconstruções que perpassam uma África fabulada. Oficinas de criação coletiva de cartões- postais imagéticos em parceria com grupos artísticos dos mais variados transformam escolas, centros de cultura e os caminhos que atravessam. Palavras jogadas ao vento estilhaçam possíveis destinatários. As intervenções feitas pelo Fabulografias têm como

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Sarau-oficina na Casa de Cultura Andorinhas, Tear das Artes e Secretaria de Cultura de Campinas e Grupo Voz

Ativa, 2013.

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matéria-prima de trabalho a desconstrução de um imaginário de uma África estanque vinculada a um passado nacional escravista numa tentativa de reelaborar esse imaginário mediante oficinas através das quais são criados cartões-postais imagéticos e sonoros. Um rio leitoso de panos brancos transbordou o gramado ao lado do prédio do CIC naquele dia e dele borbulhavam imagens, poesias e cores em movimento. Uma caixa recheada de postai, convidava os que passavam distraídos a parar um momento, observar a exposição e escolher dois postais. Um seria levado para casa, o outro seria entregue ao vento, mandado para um destinatário desconhecido. Na mesa central, dançavam palavras e imagens, onde estavam depositadas as intervenções dos transeuntes de outrora e dos que estavam por ali, naquele mesmo espaço. Num turbilhão de memórias, crianças desenhavam e escreviam. Chegavam aos montes. Curiosas, mexiam os postais, intervinham neles com cores e formas. O grupo embalava o ambiente, misturando sua música e movimento as fábulas gráficas espalhadas pelo jardim. Intervimos neles e eles em nós. Estar naquele local foi um acontecimento que marcou o início de novas parcerias, novas propostas, novos caminhos e nos presenteou com uma pergunta que deixará sempre aberta a novas possibilidades os percursos por onde trilharemos: afinal, pra que tudo isso?

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Oficina- exposição no Sarau do Instituto Voz Ativa, CIC (Centro de Integração da Cidadania) do bairro Vida

Nova, em Campinas, 2013.

Referências

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